Que Deus o ajudasse, mas Addan gostava do que Michael estava fazendo. Addan estendeu a mão e encontrou os cabelos de Michael. Com um grunhido de satisfação, enredou os dedos nos sedosos e espessos fios, agarrando-os em grandes mechas, sentindo sua mão tocar-lhe o couro cabeludo.
Quando Michael ficou imóvel, ele aquietou-se e sentiu o tremor que lhe atravessava o corpo. Esperou para ver se Michael continuaria. E ele continuou. Quando passou a beber de Addan novamente, o quarto começou a girar, mas Addan não se importou. Afinal, ele agora podia agarrar-se a Michael.
Pelo menos até que se separassem rapidamente e ele o deixasse na cama. Retirando-se para o canto escuro, com apenas as correntes para registrar seus movimentos, Michael praticamente desapareceu.
Addan voltou a si. Quando sentiu a umidade entre seus peitos, baixou os olhos. O sangue corria por seu peito e era absorvido pela blusa branca. Praguejou e lutou para cobrir as incisões que ele tinha feito.
Instantaneamente, Michael estava à sua frente, afastando suas mãos.
– Sinto muito, não fechei o ferimento adequadamente. Espera. Não, não lutes contra mim. - Disse - Devo fechá-lo. Deixa-me fechá-lo para que cesse o sangramento.
Ele segurou os punhos de Addan com uma mão, afastou o cabelo dele para trás e colocou novamente a boca sobre sua garganta. Com a língua, acariciou-lhe a pele. E voltou a acariciá-la outra vez. E outra vez.
Não passou muito tempo antes que Addan se esquecesse da ideia ridícula que lhe ocorrera sobre sangrar até a morte e tal. Michael soltou as mãos dele e tomou-a no colo. Addan abandonou-se nos braços fortes dele e deixou a cabeça cair para trás enquanto Michael o lambia e o acariciava com o nariz.
Então, começou a diminuir o ritmo. Mais devagar, mais devagar, mais devagar. Até que finalmente parou.
– Deves dormir agora – ele sussurrou.
– Não estou cansado– o que, ambos sabiam, era uma mentira.
Quando ele o deitou sobre o travesseiro, Addan sentiu a cortina de seu cabelo cair para frente e tocar-lhe a pele. Quando ele ia afastar-se, Addan agarrou-lhe as mãos.
– Seus olhos, vai me deixar vê-los. Se nos próximos dias vai continuar fazendo o que acaba de fazer, deve-me pelo menos isso.
Depois de um longo instante, Michael afastou os cabelos e levantou lentamente as pálpebras. Suas pupilas eram de um azul vívido e flamejavam como neon. Cintilavam, a bem da verdade. Contornando-as, uma tênue e maravilhosamente bem desenhada linha negra. Os cílios eram espessos e largos, o olhar de Michael era hipnótico, de outro mundo.
Extraordinário... Assim como todo o resto dele. Ele baixou a cabeça.
– Dorme, provavelmente precisarei de ti antes do café da manhã.
– E quanto a você? Você não dorme?
– Sim – ele respondeu, quando Addan olhou para o outro lado da cama, ele murmurou: – Não o farei aqui esta noite, não te preocupes.
– Onde, então?
– Não te preocupes – disse, antes de desaparecer repentinamente na escuridão.
Abandonada à luz da única vela que permanecera acesa, Addan sentiu-se como se estivesse flutuando na enorme cama, à deriva no que era tanto um deleitável sonho quanto um assombroso pesadelo.
Addan despertou-se com um ruído da ducha. Empurrando-se para fora da cama, pôs os pés no chão e decidiu explorar um pouco o ambiente enquanto Michael estava ocupado. Levantou a vela e caminhou na direção da escrivaninha, ou pelo menos na direção de onde acreditava estar o maldito móvel.
Sua canela foi a primeira a encontrá-lo, esbarrando contra um pé de madeira maciça. Praguejando, Addan inclinou-se e esfregou o que sem dúvida se transformaria em uma enorme mancha roxa. Malditas velas! Avançando com mais cuidado, seguiu em busca da cadeira em que Michael se sentara e baixou a luz quase completamente imprestável para ver no que ele estivera trabalhando.
– Santo Deus... – sussurrou. - Era um retrato dele. Um assombroso, preciso e sensual retrato dele olhando diretamente para fora da página.
Mas ele nunca o tinha visto, como sabia...
– Por favor, afasta-te disso – disse Michael do banheiro.
– É bonito – ele inclinou-se mais sobre a mesa e observou uma grande quantidade de diferentes desenhos, todos contemporâneos. O que o surpreendeu. – Todos eles são bonitos – completou.
Havia bosques e flores distorcidos. Vistas panorâmicas da casa e dos jardins dos Leeds, todas surreais. Representações dos quartos da mansão, todas elas um pouco livres em seu estilo, mas de igual forma visualmente belas. O fato de ele ser modernista a surpreendeu, dada sua formalidade ao falar e seus modos... arcaicos. Estremecendo, Addan voltou a olhar seu desenho. Era um retrato clássico.
De um realismo clássico, as outras obras de Michael não tinham um estilo, na verdade. As representações eram distorcidas porque ele não via o que estava desenhando há mais de cinquenta anos. Fazia tudo recorrendo unicamente a uma memória que não era renovada há décadas.
Addan levantou seu retrato. Fora executado com amor e cuidado. Uma homenagem a ele.
– Gostaria que não olhasses nada disso – disse novamente, agora ao ouvido dela. Addan ofegou e virou-se com agilidade, quando seu coração se acalmou, um pensamento surgiu em sua mente: Inferno! Como ele cheira bem.
– Por que não quer que eu os veja?
– São pessoais. - Houve uma pausa enquanto algo lhe ocorrera.
– Você desenhou as outras mulheres ou homens?
– Deverias voltar para a cama.
– Desenhou?
– Não. - Aquilo, de qualquer forma, era um alívio. Por razões que Addan não sabia como (ou não queria saber como) precisar.
– Por que não?
– Elas(es) não... não me eram agradáveis aos olhos.
Sem pensar, Addan perguntou:
– Esteve com alguma delas(es)? Teve relações sexuais com elas(es)? - Michael tinha deixado a ducha aberta e o som de água correndo e chocando-se contra o mármore quebrava o silêncio.
– Responda – insistiu Addan.
– Não.
– Você disse que não teria relações sexuais comigo? E porque não... é por que não pode se relacionar com humanas?
– É uma questão de honra.
– Então os vampiros... fazem sexo? Quer dizer, eles... vocês... podem fazer, não podem? – certo, por que diabos ele estava levantando esse assunto? Cale essa maldita boca, Addan...
– Posso ficar excitado. E posso... me masturbar. - Addan teve de fechar os olhos quando o imaginou deitado na cama, gloriosamente nu e com os cabelos soltos. Viu uma daquelas mãos largas e magras envolta em seu mastro, acariciando- o para cima e para baixo, arqueando o corpo no colchão e... Ouviu-o inspirar profundamente e dizer:
– Por que isso te atrai? Jesus, ele tinha os sentidos aguçados demais. E como poderia ser de outra maneira? Embora, na realidade, ele não precisasse saber os pormenores do que a excitava.
– Já esteve alguma vez com uma mulher ou homem? - A cabeça dele moveu-se de um lado para o outro.
– A maioria delas(es) tinha medo de mim. O que lhes era um direito. Recuavam em minha presença. Especialmente enquanto eu me... quando me alimentava delas(es).
Addan tentou imaginar como seria ter contato apenas com pessoas que o veem como um monstro. Não era de se espantar que ele fosse tão reprimido e tímido.
– E aquelas(es) que não me achavam... repugnante... – continuou – Com aquelas(es) que se acostumavam com minha presença, que não se negavam... faltava-me vontade, não as achava atraentes.
– Alguma vez beijou alguém?
– Não, agora, responda minha pergunta, Por que pensar em mim... aliviando-me, te deixa excitada?
– Porque eu gostaria de... – assistir. - Acho que você deve ser lindo fazendo isso, Acho você... lindo.- Ele ofegou.
Quando, durante um longo momento, não se ouviu mais do que o som do chuveiro, Addan disse:
– Desculpe-me tê-lo horrorizado.
– Sou agradável aos teus olhos?
– Sim.
– Sinceramente? – sussurrou.
– Sim.
– Sinto-me abençoado – as correntes arrastaram-se pelo chão quando Michael deu a volta e retornou ao banheiro.
– Michael? - Os elos de metal continuaram se arrastando.
Addan voltou para a cama e sentou-se, segurando a vela com ambas as mãos enquanto ele tomava banho. Quando a água deixou de correr e Michael finalmente saiu do banheiro, ele disse:
– Também gostaria de tomar um banho.
– Fique à vontade – a água voltou a correr, como se ele a fizesse correr apenas com a vontade. – Asseguro-te de que terás privacidade.
Addan entrou no banheiro e deixou a vela sobre o balcão. O ar estava quente e úmido por conta do banho recente; a atmosfera cheirava a sabonete e estava impregnada com os cheiros enternecedores de Michael.
Addan tirou a blusa e e seu short e entrou debaixo da ducha. A água caía-lhe sobre o corpo, umedecia-lhe os cabelos e limpava-lhe a pele.
Addan estava chocado com a falta de compaixão que Michael recebera nas últimas cinco décadas. Com a crueldade do fato de seus únicos companheiros terem de ser sequestrados, terem os direitos violados para que ele pudesse sobreviver.
Com aquele encarceramento que continuaria a menos que ele fosse libertado. Com o fato de que ele nem mesmo soubesse que era tão lindo.
Addan odiava o fato de ele ter vivido sozinho toda a vida. Saiu da ducha, secou-se, vestiu novamente a camisola e colocou a calcinha e o sutiã no bolso. Quando saiu do banheiro, disse:
– Michael, onde você está? – caminhou pelo aposento. – Michael?
– Estou na escrivaninha.
– Poderia acender algumas luzes?
As velas flamejaram instantaneamente.
– Obrigado – ele olhou-o fixamente enquanto ele se mexia para ocultar o que estivera desenhando. – Vou levá-lo comigo – Addan falou.
Continua....