Transando com o inimigo
No exato momento em que seu olhar, mesmo que fugaz, cruzou com o meu eu soube que ele era um daqueles machos com os quais eu havia sonhado desde a adolescência. Eu ainda estava sendo apresentado aos convidados que estavam mais próximos da varanda larga que formava um L e, estava repleta de samambaias que pendiam do teto ao chão, do casarão em estilo colonial no ponto mais alto da chácara nos arredores de São Paulo. Cheguei um pouco tímido, pois havia pouco tempo que eu conhecera o Fabrício e o Felipe, além de constatar, assim que desci do carro, que eu era provavelmente o mais jovem dos convidados. Para piorar, estava desacompanhado, uma vez que terminara o namoro de um ano com o Jorge, havia menos de um mês. Foi o Felipe que veio ao meu encontro debaixo de uma imensa figueira onde estacionei o carro ao abrigo do sol escaldante. Ele parecia surpreso e feliz ao me abraçar, momento que aproveitei para felicitá-lo pelo aniversário, já que não pôs muita fé no dia em que ele e o marido me fizeram o convite.
- Prometi que vinha, não foi? Eis-me aqui! – exclamei.
- Preciso te confessar que achei que você não viria. Até comentei com o Fabrício que um cara bonito como você não iria se sujeitar a vir até tão longe para um encontro onde praticamente todos têm, no mínimo, uns dez anos mais do que você. Mas, estou imensamente feliz com a sua presença! O Fabrício e eu te achamos um encanto. – revelou.
- Bem! Então me prometa uma coisa, nada mais de galanteios por hoje, OK? Pelo pouco que nos conhecemos você já deve ter reparado que eu fico todo sem graça quando começam a me elogiar. – pedi, constrangido.
- Bobagem sua! O que é bonito precisa ser enaltecido e, apreciado! E, quando você fica assim todo encabulado, fica ainda mais sedutor! – respondeu, caçoando da minha timidez.
Eu já me sentia nu dentro da bermuda e da polo com aquele olhar que não parava de me secar. Não estava nem conseguindo assimilar os nomes de quem o Felipe me apresentava no trajeto até pergolado, ao lado da varanda e da piscina, sob o qual se concentrava a maioria dos convidados, tanto aquele olhar me desconcentrava. Ele vinha daquele sujeito imenso sem camisa, tronco musculoso e peludo, de cabelos molhados indicando que estivera na piscina e, trajando unicamente um short molhado agarrado às coxas grossas e peludas que deixava ver o contorno da rola enorme debaixo dele. Durante todo o tempo fingi não tê-lo visto. Distribuía um sorriso aqui, um ‘oi, muito prazer’ acolá, trocava um abraço com aqueles a quem já conhecia e recebia cantadas disfarçadas de elogios. A cada passo eu ia me aproximando dele ali parado com um copo na mão, como se eu fosse uma presa hipnotizada pelo olhar de uma serpente pronta para dar o bote no momento exato. A sensação era aterradora e, ao mesmo tempo, excitante. Faltando uns poucos metros até chegar nele e dos poucos convidados aos quais eu ainda não tinha sido apresentado, o Fabrício surgiu de dentro da casa vindo me abraçar logo após ter deixado uma bandeja de petiscos ao lado da churrasqueira.
- O Felipe te contou que nós achávamos que você não viria? Que alegria você ter aceitado o convite! O que achou da chácara? É aqui que gostamos de dar as festas. Primeira vez que te vejo com essas coxonas de fora, uma delícia! O Felipe que não me ouça, senão estou enrascado! – exclamou rindo, enquanto me apertava em seus braços e me dava um beijo despudorado.
- Vocês são homens de pouca fé! Repetindo o que já disse ao Felipe, eis-me aqui! E, o lugar é lindo. Não dá para imaginar que exista algo tão selvagem e intacto a tão poucos quilômetros de São Paulo. – respondi, sentindo que mais olhares estavam a me encarar depois do Fabrício fazer alusão às minhas coxas.
- Pessoal! Para quem não sabe, esse pedaço de mau caminho tem o par de coxas mais sexy e gostoso que eu já vi! Quem quiser conferir pode procurar em revistas as propagandas de cueca e vai confirmar o que estou afirmando. Ele pousou de modelo para um bocado delas. Não fica com ciúmes amorzão, as tuas continuam a me dar um tesão danado! – brincou, passando a mão no rosto do marido e, me fazendo corar.
- Pelo amor de Deus! Quer me matar de vergonha? – murmurei próximo a ele.
- Bobinho! Deixa a timidez de lado, você está entre amigos. – revidou. – Venha comigo, quero que conheça uma galera que está me dando uma força lá na cozinha. – acrescentou, passando um braço pela minha cintura e me levando para dentro da casa.
No fundo fiquei aliviado por não ter que encarar o sujeito depois do vexame de ter minhas coxas alardeadas como um objeto de desejo. Seria ainda mais embaraçoso sentir aquele olhar lupino me escrutinando em detalhes, uma vez que já me sentia abalado só de estar próximo daquele macho sensual.
Eu havia conhecido o Fabrício e o Felipe no último Reveillon na casa de um amigo do meu ex, Jorge. Ambos estão na casa dos trinta e poucos anos, são médicos e, estão casados há oito anos, quando foram a Amsterdã oficializar a união que já durava uns cinco anos. Desde então, eu os encontrei mais algumas vezes em casas de shows, barzinhos e, uma ou outra festa de amigos comuns. Acabamos por fazer uma amizade apesar de eles serem quinze anos mais velhos do que eu. O que me levou a admirá-los foi a cumplicidade que construíram a partir da paixão que os uniu. Muito diferente do que acontecia com a maioria dos gays que eu conhecia, eles pareciam manter-se incólumes às tentações carnais que costumam atrair os homossexuais para o primeiro cacete ou bunda que seja mais apetitoso do que aquele com quem estão. Era dessa forma que eu sonhava viver uma grande paixão quando, aos dezessete anos, me inspirava no namorado da minha irmã, como o homem dos sonhos para viver essa paixão.
Sou o caçula dos três filhos que meus pais trouxeram ao mundo. Acho que além de muito inspirados, eles também contaram com a providencial ajuda da genética, pois os três filhos se tornaram pessoas muito bonitas. Meu irmão mais velho é um tesão de macho que, não fossem meus princípios avessos ao incesto e, seu infinito amor fraternal por mim, já teria me levado a cometer um sacrilégio. Minha irmã é cobiçada desde que seu corpo de menina começou a adquirir as formas do pecado. Acabou por conhecer o Carlos que é outro pedaço de mau caminho. Ele entrou em nossas vidas e em nossa casa quando eu completei dezessete anos. Ele, aos vinte e quatro, estudante de engenharia, me deixou sem folego, pela primeira vez, quando minha irmã o levou para passar um final de semana em nossa casa de praia. Parrudo, cara de enfezado, mas de sorriso aberto e sincero, é dono de um físico com o qual sonhei perder a minha virgindade. Quando o via todo cheio de cuidados e atenções com minha irmã, desejei encontrar um macho daqueles que me fizesse sentir num porto seguro toda vez que me refugiasse em seus braços. Mas, isso nunca aconteceu.
Aos vinte anos conheci o Jorge na universidade, ele cursando a FEA e eu a Poli. Eu estava no segundo ano de engenharia de sistemas e ele no quarto de administração. Foi seu porte atlético, os braços peludos e, um cavanhaque bem aparado que acenderam em mim a chama do desejo. Na virginal inocência da minha inexperiência homossexual, eu achei que tinha encontrado meu príncipe encantado, uma vez que homens peludos se afiguravam na minha cabecinha como o ideal de macho que eu havia concebido. Até então, eu não conseguia entender, quando via dois carinhas indiscretamente afeminados, mantendo uma relação afetiva. Quem come quem? Eu pensava e, achava estranho. Dentro do conceito que eu imaginava, os papéis tinham que, necessariamente, estar bem definidos. Tinha que haver um passivo, passivo e, um ativo, ativo. E, foi com isso em mente, que comecei a namorar o Jorge. Ele era galante, quase sempre era o centro das atenções onde quer que estivesse. As pessoas o ouviam por que ele tinha um jeito de dominar a conversa, na maioria das vezes por meio de suas piadas sempre muito engraçadas. Na primeira vez que senti seu pau entrando em mim, achei que nada nesse mundo podia ser mais maravilhoso do que aquela sensação. Eu tinha, enfim, encontrado o macho que me faria descobrir todas as possibilidades de amor que meu corpo podia dar a alguém, pensei comigo. E, isso foi uma realidade por algum tempo. Depositei minha virgindade e esperanças nele achando que aquilo bastaria para eu ser feliz a seu lado. Em poucos meses comecei a constatar que talvez isso não fosse verdade, que ele não era aquele macho dos meus sonhos que, aliás, ele podia estar bem distante dessa imagem. O que me levou a concluir isso foi o fato de, ao final de uma transa, me parecer que ele já não estava completamente satisfeito, como se o gozo que acabara de ejacular não tivesse lhe proporcionado todo o prazer que almejava. Comecei a ficar angustiado. Eu me sentia culpado por não conseguir satisfazer meu parceiro. Afinal, minha inexperiência devia ser a grande culpada por essa situação.
- Querido, eu quero que você faça o que quiser comigo. Quero te proporcionar todas as alegrias e prazeres a que você tem direito. Diga-me e, me ensine a fazer isso. – dizia eu, incomodado por notar que ele se mostrava mais uma vez irrealizado com o sexo que acabáramos de fazer.
- Eu sei! Não se preocupe, está tudo bem. Acho que sou eu que não estou num bom dia. – costumava responder, sem me revelar a verdade.
De tanto eu insistir, ele me levou a uma sexshop onde se abasteceu de uma porção de brinquedinhos. Eu, particularmente, não me sentia fascinado por nada daquilo. O que me realizava era um bom cacete de um macho que sabia exatamente o que fazer com o que carregava entre as pernas. E, que sabia como tirar todo o prazer de um cuzinho apertado que lhe entregavam sem reservas e com muito carinho. De fato, eu até me sentia atemorizado diante daqueles caralhões de borracha, daqueles vibradores com múltiplos formatos, daqueles plugues anais imensos e, de toda sorte de dildos que mais me pareciam instrumentos de tortura da Idade Média. Só de imaginar o Jorge enfiando aquilo em mim eu sentia calafrios. Mas, para minha surpresa, era ele quem queria sentir toda aquela parafernália dentro do cu, enquanto seu cacete produzia uma comichão indelével nas minhas entranhas. No dia em que a ficha caiu por completo, eu percebi que o prazer que o fez delirar foi produzido por aquele vibrador entalado no rabo e, não pelo meu cuzinho que o acalentava cheio de tesão e amor. Foi como se um castelo de areia de desmanchasse com a subida da maré. Naquele dia uma nova espécie de homossexual se afigurou para mim, o tal do versátil. O macho que eu havia idealizado até então, podia levar a cabo uma penetração, mas não era dela que vinha sua satisfação e, sim, do cuzinho tão ávido por uma rola quanto o meu. Positivamente, não era esse o tipo de homem capaz de me fazer feliz. Desde então, eu já não me importava mais se transávamos ou não e, aquela paixão inicial foi dando lugar a um sentimento de companheirismo. O mesmo que eu podia ter com qualquer outro homem, sem nenhuma atração sexual. Dizem, acertadamente, que a paixão cega. Foi o que confirmei quando essa nuvem de desfez diante dos meus olhos. Aquilo que eu não via antes começou a ficar mais evidente. Havia momentos em que o Jorge deixava transparecer sua identidade sexual, fosse num trejeito que lhe escapava na euforia do momento, fosse quando sua postura colocava em dúvida sua masculinidade. Aquilo nunca me incomodou dentro círculo de pessoas com as quais eu convivia, mas me incomodava no homem que eu havia escolhido para ser o meu macho. Preconceituoso? Talvez. Porém, cada um sonha com um ideal e, positivamente, o meu não era aquele. E, foi assim, que nos separamos após um ano de namoro. Não foi nenhuma surpresa para mim, quando encontrei o Jorge num shopping com outro carinha, três semanas depois de havermos terminado. Foi o que me motivou a aceitar o convite do Fabrício e do Felipe, pois a máxima de que a fila anda também haveria de valer para mim.
- Foi imperdoável terem interrompido as apresentações a poucos passos de onde eu estava. Acabei sendo privado desse prazer, da mesma forma em que uma iguaria acaba antes de sermos servidos, deixando a gente com água na boca! – nem precisei me virar para saber de quem era aquela voz tronante que praticamente sussurrava rente ao meu ouvido. No entanto, precisei disfarçar o calafrio que percorreu minha espinha. – Então vou eu mesmo me apresentar! César, um curioso por descobrir por que o Felipe, sendo comprometido, teve direito a um abraço todo afetuoso?
- Certamente porque é um amigo muito querido! – respondi, girando meu tronco na direção da voz.
- Preciso descobrir como entrar para esse rol de privilegiados! – exclamou ele, estendendo-me sua mão grande, onde tufinhos de pelos sobressaíam nas falanges.
- Não me constrangendo com tantas lisonjas já é um bom caminho! – devolvi, deixando minha mão deslizar para dentro da dele. Não só o calafrio se intensificou, como a sensação de um choque subiu pelo meu braço.
- Com tantos predicados, a modéstia não deveria ser mais um deles. – retrucou.
- Acho que você está tomando o atalho errado! Dessa forma não vai conseguir chegar ao seu destino. – afirmei.
- Você diz isso por que já adivinhou qual é o destino que escolhi. – sentenciou ele. Precisei puxar minha mão para que ele a soltasse.
- Oi benzinho, quer um pedaço? Então você também está conhecendo o Ricardo? – era um dos convidados que o Felipe havia acabado de me apresentar quando me levou até a cozinha, onde uma rodinha animada mais atrapalhava do que ajudava as três senhoras que terminavam os acompanhamentos do churrasco.
- Depois. Estou sem fome por enquanto. – respondeu o César, meio sem graça por ter sido interrompido em plena azaração pelo namorado. - Vocês já se conheciam?
- Não! O Felipe acaba de me apresentar o Ricardo. – respondeu o Leonardo, no mesmo instante em que procurava no namorado algo que me pareceu ser uma autorização para estar ali.
Mas ele não arredou pé, embora o César o tenha encarado, umas duas vezes, visivelmente contrariado. Durante toda a conversa que tivemos e, a qual o César procurava prolongar injetando novos temas, notei que o sujeito mais parecia um bichinho acuado pelo seu dono. Havia em seu olhar assustado, algo de receoso em cair nas desgraças do companheiro, algo como fazer ou dizer algo errado e saber que seria punido por isso. Ele se mantinha calado a maioria o tempo, apenas concordando, laconicamente, com o namorado quando este se lembrava de inclui-lo na conversa. Eu cheguei a me sentir constrangido por ele, tanta era a dominação que o César exercia sobre aquela pobre alma. É certo que cada casal cria seu próprio modo de convivência, isso acontece tanto nos hétero quando nos homossexuais, mas aquilo tinha algo de mórbido que minha compreensão não alcançava.
Passei a comemoração toda me esquivando do César, embora o achasse tremendamente atraente e, seria capaz de cair numa cama com ele assim que me levasse a isso. A razão, desse desvario, era uma só, aquele macho transpirava sua virilidade através de feromônios que mexiam com todo meu corpo. Ele certamente percebeu o quanto havia me impressionado e, tentava a todo custo, garantir que eu estaria enredado em sua teia até o final da festa. Não fosse aquele namorado frágil tentando segurar seu homem com todas as suas forças, suportando resignadamente seu amor dando descaradamente em cima de mim, eu talvez tivesse deixado uma abertura. No entanto, eu me colocava no lugar dele e me comovia com seu sofrimento. Eu jamais seria capaz de construir algo na vida sobre o infortúnio alheio. Por isso, neguei-me a aceitar o convite do César para um café durante a semana seguinte, bem como a dar-lhe meus contatos.
Quase duas semanas depois, num sábado pela manhã, eu soube que o encontro aparentemente casual com o César num shopping center nada tinha de circunstancial. Aquela impressão que tive, logo após deixar a garagem de casa, de ter visto pelo menos umas cinco vezes o mesmo Audi sedã branco no meu retrovisor durante o trajeto até o shopping, não foi uma coincidência. Ele havia conseguido meu endereço com alguém naquele churrasco, isso era certo. Bastante aborrecido com o estratagema do qual ele se valeu, não me mostrei receptivo quando ele me abordou num dos corredores.
- Ora, ora! Quem diria que o encontraria tão cedo? Isso só pode ser o destino conspirando a meu favor. – disse ele abrindo um sorriso, no momento em que me apertou em seus braços.
- Para você ver como a vida, às vezes, nos prega algumas peças! – exclamei com pouco entusiasmo, fingindo acreditar na casualidade.
- Veio encontrar o namorado? – questionou, como se já não tivesse feito um dossiê da minha vida.
- Creio que você sabe que não tenho namorado. – diante da minha resposta seca, ele assumiu que talvez alguém houvesse comentado a respeito, mas ele havia se esquecido.
- Então não vou deixar alguém incomodado e com ciúmes se eu o acompanhar. – revidou. Apesar de tudo, eu não conseguia deixar de admirar sua capacidade de perseguir o que queria, nem a segurança que demonstrava ao fazê-lo. Ele era um macho destemido, isso eu precisei aceitar. Mais uma vez ele me impressionou, o que me deixava vulnerável a ele.
- Estou com um pouco de pressa, mas se não se incomodar de perder seu tempo comigo, por que não? – respondi, pois aqueles pelos que saíam da sua camisa, próximo ao colarinho, já estavam influenciando meu raciocínio.
- Nenhum segundo ao seu lado é perda de tempo! Aonde quer ir? – revidou com naturalidade.
- Vim à procura de um jeans, os meus estão deploráveis. – retruquei, caminhando ao seu lado, enquanto as pessoas com as quais cruzávamos nos observavam com o que classifiquei de curiosidade. Muito embora eu já estivesse acostumado a esses olhares, uma vez que eu sabia que minha aparência era a responsável por eles.
O vendedor da loja na qual entrei, um rapagão da minha idade, nada sutil, ainda afirmou que qualquer modelo cairia bem sobre um corpo como o meu, quando hesitei entre dois que havia provado. Apesar de ter feito uma cara ameaçadora para o vendedor, o César se divertiu com a situação, depois que ele se afastou.
- Sou obrigado a concordar com esse folgado! Obviamente nada fica ruim sobre uma bunda e um par de coxas como as tuas, uma vez que ninguém vai se preocupar em olhar para a roupa enquanto puder se deliciar com o que está por baixo. – sentenciou.
- A minha disposição para ouvir galanteios continua a mesma do dia da festa. Portanto, se não quiser tirar meu bom humor, é bom esquecê-los. – afirmei.
- Perdão! Não quero melindrá-lo. Mas, fica difícil resistir quando se está cativado por você. – devolveu ele, sem se mostrar arrependido.
- Você deveria guarda-los para o seu namorado! Aliás, era dele que deveria estar cuidando agora. – afirmei. Ele não gostou da minha observação.
- As coisas entre nós já não são mais as mesmas! Talvez seja por isso que não me sinta mais preso a nada. – respondeu ele. Propositalmente evitei fazer qualquer pergunta ou mesmo dizer algo que levasse esse assunto adiante.
Acabei me demorando muito mais do que o planejado, ciente de que foram aqueles olhos verdes expressivos e, mais uma vez, aquele transbordar de testosterona que me prendera junto dele. Ele fez questão de me acompanhar até onde estacionei o carro, esperou que o destrancasse e colocasse as compras no porta-malas e, num rompante, puxou-me contra o peito e colou sua boca na minha. No início, esbocei uma reação que não durou mais que alguns segundos, espalmando minhas mãos sobre aquele tronco enorme e quente procurando afastá-lo de mim. Mas, pouco depois, minha língua já se entrelaçava com a dele, num beijo carregado de tesão. Parcialmente ocultos atrás de uma coluna, ele me empurrou contra ela e, deslizou as mãos pelo meu torso, numa lascívia torturante, antes de agarrar minhas nádegas e amassá-las vigorosamente. Eu tremia como que apossado de uma febre terçã. Sentia o desejo exacerbado daquele macho como se eu estivesse no cio. E, capitulei ante aquela pegada que parecia ser a realização dos meus sonhos. Dava para sentir meu cuzinho convulsionando de tanto tesão. Quando nos despedimos, prometendo um novo encontro para o qual eu não pretendia comparecer, levei o carro até um corredor próximo, acompanhei-o até vê-lo entrar no Audi branco estacionado perto de onde eu estava estacionado e, deixei-o ganhar a rua antes de sair. O sujeito é um malandro sedutor, concluí e, mais, não ia dar sossego enquanto não enfiasse aquela verga enorme no meu cuzinho. Fiquei puto a caminho de casa, quando, de repente, da minha seleção de músicas no multimídia do carro, começou a tocar a faixa Naked do James Arthur, pois isso me excitava como nunca nada havia me excitado antes. E, era exatamente como diz a canção, eu estava ali fingindo que não precisava daquele homem, enquanto ele se dizia nu esperando que meu orgulho caísse para que me pudesse dar tudo. Seria essa a promessa que aquele beijo voluptuoso atrás da coluna do estacionamento carregava, ou tudo não passava de um desejo íntimo que eu trazia no meu peito?
Enquanto eu lutava com meus próprios sentimentos, tentando tirar o César comprometido dos meus pensamentos, fui surpreendido por uma ligação no celular quando voltava da faculdade no final da tarde.
- Oi Ricardo! Como você está? – não havia identificado o número que surgiu no display e, agora, nem a voz. – Está podendo falar?
- Oi! Quem é?
- O Leonardo, do churrasco do Fabrício e do Felipe, está lembrado? Namorado do César! – fiquei sem saber o que responder.
- Oi, tudo bem? Me dá uns segundos, vou conectar o celular ao Bluetooth do multimídia.
- Desculpe te incomodar. Não sabia qual o melhor horário para te ligar e resolvi arriscar. – a voz do outro lado começou a ganhar aquela insegurança que eu havia presenciado antes.
- Não, tudo bem! Como vão as coisas? – eu não saberia explicar por que, subitamente, me senti cheio de culpa.
- Será que podemos nos encontrar? Talvez no café do St. Marché da avenida São Gualter, é perto da sua casa, não é? – o que poderia estar por trás desse convite, era tudo o que eu queria saber?
- Tudo bem! Estou a caminho de casa. Dentro de meia hora, está bem para você?
- Combinado! Até daqui a pouco.
Tamborilei o volante do carro e senti a inquietude aumentando dentro do peito. Será que ele ficou sabendo daquele beijo no estacionamento do shopping? Delírio, é seu sentimento de culpa, me fiz acreditar. E, se o César falou alguma coisa? Nunca trinta minutos demoraram tanto a passar.
- Oi, obrigado por ter vindo! – disse o Leonardo, acomodando-se na cadeira do outro lado da mesa.
- Oi! Senti-o um tanto quanto aflito na ligação, aconteceu alguma coisa? – respondi, embora não estivesse nem um pouco interessado nos problemas daquele sujeito.
- Lamento estar te incomodando, mas eu não quis envolver outras pessoas nesse assunto. – devolveu ele. Nesse instante tive certeza de que se tratava do namorado e eu. Instintivamente assumi uma posição defensiva, chegando mesmo a me ajeitar na cadeira e alargar os ombros, como se fossemos ter um embate.
- Pena eu não ter muito tempo. Como disse ao telefone, estava indo para casa, tenho um compromisso esta noite. Mas, diga em que posso te ajudar se é que está precisando de alguma coisa. – tudo que eu queria era sair dali o quanto antes.
- Nem sei por onde começar! Isso é tão constrangedor. Trata-se do César e você. – começou ele.
- Como assim do César e eu? Não estou entendo aonde você quer chegar! – ele só podia estar sabendo daquele beijo.
- Calma, não estou te acusando de nada! Sei que a culpa não é sua. – minha agressividade o tinha intimidado.
- Não existe César e eu, que fique bem claro! – insisti.
- Sim, eu sei! É sobre o que aconteceu no churrasco. O César é um cara impulsivo, e eu sei que você mexeu muito com ele. Você deve ter me achado um tolo ouvindo meu namorado tecer elogios a seu respeito e, vendo-o paquerar você na cara dura.
- Em nenhum momento eu o incentivei a ter essa conduta! Não sei qual é o tipo de relação que vocês dois mantêm e, isso também não me interessa. Não tenho o hábito de julgar a vida dos outros. – afirmei.
- Torno a repetir, não estou te acusando de nada! Mas, desde aquele dia nosso relacionamento piorou muito. Ele anda agressivo comigo, me insulta por qualquer coisinha, me acusa de estar vendo coisas que não existem, mas eu sei que ele se encantou por você.
- Então resolva isso com ele! Não vou me meter nesse assunto.
- Você não entende. Ele pode ser muito cruel quando quer. O César é o amor da minha vida, não sei viver sem ele. Eu não estou mais aguentando a pressão. Tenho medo que ele me abandone. – sentenciou, começando a chorar. Era tudo que me faltava. As pessoas nas mesas próximas começavam a lançar olhares curiosos e, eu tive vontade de deixa-lo ali sentado tendo seu chilique sozinho.
- Não sei no que posso te ajudar. Se vocês estão se desentendendo, o melhor que podem fazer é sentar e ter uma conversa franca. – afirmei. Eu me sentia ridículo sentado ali com um sujeito que mal conhecia ouvindo suas lamurias amorosas.
- Eu sei que ele vai te procurar, se é que já não o fez. Eu te imploro pelo que há de mais sagrado, não aceite que ele te corteje, nosso amor não resistirá a isso. – implorou, tentando pegar na minha mão. Por um instante tive receio que ele fosse se ajoelhar na minha frente.
- Faça-me um favor, Leonardo! Ouça o que você está dizendo. Não existe amor se ele fica dando em cima de outros. Veja o que você está fazendo com a sua autoestima! Pare de se humilhar dessa maneira! – aquilo estava me dando nos nervos.
- Eu não me importo mais, só quero que ele não me abandone! – ele estava chorando tão alto que chamava a atenção de todos que passam por ali.
- Bem! Eu já me demorei demais. Lamento não poder te ajudar. Aliás, acho que ninguém pode. Só você.
- Jure que não vai deixar ele te assediar, por favor! Sei que estou abusando, mas vou te pedir mais uma coisa, não comente esse encontro com o César. Eu nem sei do que ele é capaz de fazer se souber que eu tive essa conversa com você. – o que eu temia aconteceu, assim que me levantei, ele se atirou aos meus pés, na cena mais bizarra que eu já vi.
- Pare com isso! É constrangedor o que está fazendo! É você mesmo quem não está se dando o devido valor. Não espere que outros o façam! Fique bem e, não se preocupe, pois eu não pretendo rever o seu namorado, é tudo que posso te dizer. – disparei porta afora como um raio. Desferi alguns socos no volante do carro que chegaram a machucar minha mão. Estava furioso comigo mesmo por ter aceitado aquele encontro.
Que babaca, pensei comigo mesmo a caminho de casa. Se ele sabe que o César não o quer mais, por que se sujeita a passar pelo vexame que passou no churrasco e, a implorar a um desconhecido que mantenha distância do namorado. O incrível é que fiquei remoendo essa questão durante os dias seguintes. Nem o drama do Leonardo e, nem aquele beijo cheio de tesão do César me deixaram em paz.
Dois amigos daquela mesma galera que conhecia o Fabrício e o Felipe me ligaram durante a semana. Tinham um convite extra, dado pela empresa onde um deles trabalhava, para a peça Natasha, Pierre e o Cometa de 1812 e, me convidaram para assistir o espetáculo numa sexta-feira. Um deles ficou de passar em casa para seguirmos até o teatro. A semana tinha sido tão atribulada que não tive tempo para ler a sinopse da peça, portanto, ao entrar no carro do meu amigo eu não fazia a menor ideia do que se tratava.
- Você sabe do que trata a peça? – perguntei, enquanto ele tentava se livrar do trânsito pesado que ainda imperava àquela hora.
- Não sei ao certo. Sei que é um musical e, que tem relação com o romance Guerra e Paz do Tolstói. – esclareceu.
Faltava pouco para o início do espetáculo, o primeiro sinal já havia soado há algum tempo quando o César apareceu e se juntou a nós no saguão lotado. Não me faltava mais nada para encerrar aquela semana fatídica. Puxei o amigo com o qual tinha vindo de carona pelo braço e o questionei quanto à presença do César. Ele me garantiu que os convites eram da empresa do outro colega e, que ele não sabia que também o tinha convidado.
- Oi! Que grata surpresa encontra-lo por aqui! – disse o César quando me abraçou. Deve ter sido o mesmo tipo de coincidência que me fez encontra-lo no shopping, pensei com meus botões.
- Oi! É muita coincidência mesmo! – retruquei, pressentindo que aquela seria uma noite com muita história.
Tentei me sentar numa poltrona no extremo oposto ao dele. Tudo deu certo até segundos antes do espetáculo começar. Uma das mulheres da fileira de trás pediu a gentileza do César trocar de lugar, uma vez que teria que fazer um contorcionismo para driblar seus ombros largos e altos tapando sua visão. Ele a atendeu com uma presteza gentil e providencial, vindo alojar-se ao meu lado. Aquele risinho que estava na cara dele não era outra coisa senão a ironia de ter percebido minha artimanha para ficar a uma distância segura dele. Eu soube que seria incapaz de me concentrar na peça com aquele corpão de macho me distraindo. De nada valeu eu procurar manter a naturalidade quando dentro de mim tudo se convulsionava. O sabor de sua boca não me saía do pensamento. A imagem dele com a bermuda molhada colada as coxas peludas e ao cacetão, no dia do churrasco, vagavam diante dos meus olhos. As luzes se apagaram, o espetáculo começou, as coxas dele roçaram as minhas, ele discretamente pegou a minha mão dentro da dele. Senti o suor da minha mão e, o frenesi do meu cuzinho fazendo de mim um ser apavorado. Ele virou o rosto na minha direção e abriu um sorriso, parecia feliz como um garotinho que acaba de ganhar um sorvete. No palco, foi-se desenrolando uma estória que envolvia um triângulo amoroso, muito propício para a situação na qual eu estava entrando sem saber. Ao final do musical fomos os quatro à procura de algo para comer, apesar do adiantado da hora, o que acabou sendo um momento muito descontraído e prazeroso. Enquanto estávamos comendo, surgiu a ideia de esticar a noite numa balada. Muito cansado e, com uns trabalhos da faculdade para terminar no dia seguinte, recusei a proposta deixando o colega que havia me dado a carona livre para seguir para a balada.
- Não se preocupe! Chamo um Uber e você vai para a balada. Amanhã me conta como foi. – afirmei, deixando-o livre para se divertir.
- Eu te dou uma carona. Também não estou a fim. Foi uma semana bem puxada no trabalho, não teve um dia em que não fui dormir depois da meia noite! – afirmou o César. Aquilo tinha um quê de emboscada, mas resolvi aceitar a carona como uma espécie de desafio. O que e a quem eu estava desafiando nem eu mesmo sabia.
Rodamos alguns quarteirões quando notei que o César não estava tomando o rumo da minha casa.
- Que caminho você pretende fazer? – questionei. Ele fingiu que não me ouviu e continuou a falar sobre o assunto que havíamos começado.
A cada conversão nós ficávamos cada vez mais distantes do caminho de casa. Questionei-o mais uma vez. Ele disse que queria me mostrar algo e que não levaria muito tempo. Fiz de conta que acreditei. Embora eu não soubesse onde ele morava, quando piscou os faróis diante da portaria de um edifício em Moema e, o portão começou a se abrir, eu tive a certeza de que ele me levara ao seu apartamento. A caminho do apartamento, ele parou o elevador no térreo e apanhou umas correspondências com um porteiro sonolento. Foi apenas diante da porta do décimo oitavo andar, enquanto ele metia as chaves na fechadura, que meus sobressaltos começaram. Desde a garagem não havíamos trocado uma única palavra.
- Fique à vontade! – disse, ao abrir a porta e me fazer entrar. Como eu poderia ficar à vontade se estava entrando no covil do lobo? Questionei-me intimamente.
- Lindo seu apartamento! Muito bom gosto! – exclamei. Ele me devolveu um sorriso.
- Obrigado! Se o elogio foi sincero, fico feliz de saber que temos gostos parecidos. – retrucou.
- É claro que é sincero! – devolvi, um tanto quanto ultrajado. Por que haveria de usar subterfúgios para agradá-lo àquela hora da madrugada?
- Naquele dia do churrasco você não acreditou nos meus elogios. Achou que eu só estava te adulando! – revidou.
- É diferente! Eu estou enaltecendo seu bom gosto, você estava me bajulando na frente do seu namorado. – afirmei.
- Mas eu também fui sincero!
- Falando no seu namorado, por que não levou o Leonardo ao musical? – questionei.
- Porque terminamos. – aquilo caiu como uma bomba nos meus pensamentos. Uma vez livre, ele já estava se engraçando para o meu lado.
- Que pena! Lamento. Vocês fazem um belo par. – agora eu não estava sendo sincero. Torci para que ele não desse valor à minha mentirinha. O constrangimento e a submissão do Leonardo no dia do churrasco e, depois, aquela humilhação, à qual se sujeitou na cafeteria, não me saíam da cabeça. Enquanto casal, não havia química alguma entre eles.
- Eu não te trouxe aqui para falarmos disso!
- Ah! Claro! Me perdoe.
- Não é o caso! Eu te trouxe aqui para falarmos sobre nós! – subitamente eu não sabia o que fazer com as minhas mãos e, elas estavam suadas outra vez.
- Nós? – ri de nervosismo. Saí de perto dele e fui me sentar num canto do sofá que me permitia olhar para o terraço e, para a vista que se descortinava pela porta, repleta de edifícios que brilhavam como caixas de luz.
- Eu sei que você não é indiferente a mim! Assim como eu, você sente o potencial que existe entre nós dois! – ele afirmava com tanta certeza que cheguei a acreditar nele.
- De onde você tirou isso? Eu não sou indiferente a você, é claro! Você é simpático, engraçado, tem um papo legal. Eu não teria porque ser indiferente a você.
- Você sabe que não me refiro a isso! Você é muito atraente, sedutor, lindo! E, sei que você também vê algo assim em mim. – era incrível a segurança que esse sujeito tinha de saber o quanto ele havia me impressionado.
- Como pode saber o que eu sinto? Alguém já caiu nessa sua lábia de conquistador? – ri nervosamente outra vez.
- É só olhar para você! Está ansioso, aposto que suas mãos estão frias e úmidas, que seu corpo está sentindo o mesmo frenesi de a pouco no teatro, quando rocei minha coxa na sua. Se eu te beijar agora como naquela manhã no estacionamento do shopping, seu coração vai disparar e seus mamilos vão ficar durinhos. Não tente negar! – exclamou. Parecia que eu estava numa sessão de tortura.
- Sua imaginação é bem fértil!
- Fértil é isso aqui! – devolveu, sentando-se ao meu lado e me tomando em seus braços. Um beijo muito mais avassalador do aquele primeiro se prolongou por uma eternidade, enquanto suas mãos passeavam pelo meu corpo. Ao final dele, ele me fez encarar sua ereção. Meu desejo primal queria colocar aquela verga imensa na boca.
- Não há como uma coisa assim não mexer com a gente, não vou negar! Mas, não sei se é conveniente. – desde quando o desejo carnal tinha algo de conveniente? Sua mão continuava a apertar minha bunda.
- Hoje não vou me contentar em apenas ter essa delícia nas minhas mãos, eu a quero toda para mim. – exclamou, voltando a se aproximar para um novo beijo.
Eu parei de ficar na defensiva. Meu corpo pedia desesperadamente por ele. Comecei a retribuir aquele beijo com o ímpeto renovado, permitindo que ele desabotoasse minha camisa e mergulhasse de cabeça nos meus mamilos. O perfume de seus cabelos entrava nas minhas narinas e aumentava meu tesão. A uma mordida no meu peitinho reagi com um gemido, tomando sua cabeça em minhas mãos e cedendo à sua investida. Meu pau começava a endurecer dentro das calças. Sem parar de chupar meus mamilos, ele começou a tirar a minha calça, eu me contorcia de lá para cá, de cá para lá, facilitando seu intento. A cobiça estampada em seu olhar e, a avidez em se apossar da minha bunda eram algo que eu nunca tinha vivido. O César não era como o versátil Jorge, macho e ativo por força da circunstância. Ele era um ativo restrito, voraz, predador, aquilo que vivia nos meus sonhos. Toda a pegada dele denotava esse caráter másculo. Era com o uso exclusivo da pica que ele procurava a satisfação. Não se percebia a menor intenção de que ele fosse a qualquer momento pedir um dedo no cu, ou buscar o reforço de brinquedinhos entre as pregas para consumar a cópula. Até aquele momento era isso que eu tinha vivido com a tal versatilidade do Jorge. O que eu queria era aquilo, um macho que me fizesse sua fêmea, um macho que me desse tudo aquilo que um passivo espera do sexo.
Ele me pegava com força, girava, torcia meu corpo a seu bel prazer como se eu fosse um boneco, abria minhas coxas para facilitar o acesso de sua mão predadora aos glúteos musculosos e firmes. O que me diferenciava de um boneco eram as carícias com as quais eu devolvia sua arremetida, o que o deixava ainda mais excitado. Era tamanha a urgência que tinha em ver meu cuzinho que me debruçou sobre o braço do sofá e abriu meu rego. Delirando de desejo, fazia o ar que expirava sibilar entre os dentes cerrados, ao contemplar pela primeira vez meu cuzinho rosado no fundo do reguinho liso e alvo como a pele imaculada de um bebê. Tocou-o com um dedo impudico, admirando sua capacidade de resposta aquele estímulo, contraindo-se e multiplicando a quantidade de preguinhas que o circundavam. O César se despiu afoito, colocando a descoberto a rola gigantesca, muito mais atraente e sedutora do que eu havia imaginado. Um mastro pomposo, reto e pesado, do qual sobressaia uma glande arroxeada e úmida, ainda mais calibrosa que a pica nutrida por veias saltadas que se multiplicavam como o delta de um rio próximo a desembocadura. Se ainda havia um resquício de resistência de minha parte, ele evaporou quando fitei aquele cacete. Postando-se ao meu lado, com um joelho sobre o sofá e um pé no chão, ele pincelou o caralhão pelo meu rosto. Um perfume afrodisíaco penetrou minhas narinas e eu abocanhei a rola movido pelo tesão que me consumia. Ele gemeu quando meus lábios se fecharam ao redor do pau. Fui palpando sua virilha até pegar aquele membro cheio de vontades. Ergui meu olhar para encará-lo, havia ansiedade e necessidade em seus olhos verdes sensuais. Comecei a lamber e chupar sua verga quente, sentindo-a latejar na boca. Ele gemeu e não tirou mais o olhar do meu rosto jubiloso, acompanhando cada movimento que eu fazia. Não demorei a sentir o pré-gozo salgado estimulando minhas papilas linguais. Sorvi-o suave e delicadamente.
- Chupa a cabecinha do meu pau! Isso, devagarinho, assim. Caralho, que tesão! – grunhiu, tomando meu rosto em suas mãos.
Mordisquei carinhosa e lentamente toda a extensão da pica, aproximando minha boca sedenta do sacão peludo que pendia acintoso entre as coxas vigorosas e peludas. Ergui-o apenas com a língua, fazendo cada uma das bolonas ingurgitadas pender para um lado. Ele grunhiu. Abocanhei uma delas e a chupei voluptuosa e carinhosamente. O tesão e a cobiça dele só faziam aumentar. Depois de chupa-lo por um bom tempo, ele me puxou para um abraço, passou a mão nas minhas nádegas e, colocou um beijo molhado na minha boca. Passei meus braços ao redor de seu pescoço e me pendurei nele, deixando que tateasse libidinosamente meu cuzinho voluntarioso. Aos poucos ele foi me girando, apertando meus mamilos por trás e esfregando aquela verga impaciente entre as minhas nádegas, que o prendiam quando eu as contraía. Soltei um ganido quando ele abruptamente me penetrou, guiando seu mastro para dentro do meu cu. Minha rosquinha se contraiu com aquilo entalado nela. A dor se espalhou pelas minhas entranhas, ele me estocou brutalmente mais duas ou três vezes, enfiando o caralhão até o talo na maciez receptiva do meu ânus. Pensei que não fosse suportar aquilo e gritei, colocando as mãos espalmadas em suas coxas tentando evitar que ele me estocasse novamente.
- Está doendo, meu tesãozinho? – gemeu, junto ao meu ouvido, numa pergunta da qual já sabia a resposta. No momento, ele só queria ouvir a confirmação saindo dos meus lábios trêmulos, mesmo não pretendendo modificar nada em relação aquilo.
- Você é enorme, César! – gani, deixando-o exultante.
- Quero que caminhe lentamente até o quarto, naquela direção, sentindo minha pica todinha no seu cu. – orientou, apontando-me uma porta nos fundos de um pequeno corredor.
Enquanto ele me chupava a nuca e me fazia promessas de deixar meu cuzinho todo arreganhado, eu dava um passo titubeante e inseguro atrás do outro, caminhando lentamente até o quarto como um condenado caminha até o cadafalso. O cacetão se movia de um lado para outro dentro de mim, onipotente e devastador, me fazendo gemer. Ao chegar junto à cama, coloquei um joelho sobre o colchão e intentava engatinhar sobre ele, mas o César me puxou pela cintura e começou a me foder, obrigando-me a aguentar sua investida. Eu nunca tinha sido fodido daquela maneira. Meu cuzinho tinha se transformado no que de mais desejado o César queria. Eu o entreguei a ele, bem como todo o meu ser, feliz por ter um macho como aquele engatado no meu rabo. Ele me fodeu em diversas posições, deixando para o final a de frango assado, pois sabia que não resistiria por muito tempo quando meu rosto cândido estivesse sob sua mira. A pica entrou mais uma vez firme e insaciada, naquele buraquinho macio e quente, eu me contorci e gozei sobre meu ventre, ele a enfiou até que o sacão batesse no meu rego. Eu gemia, ele arfava. Enlaçando meus braços ao redor de seu tronco, trouxe-o para perto de mim. Beijei-o com tanta doçura que ele não conseguiu mais controlar aquele furor que maltratava sua pelve. Ela se contraía involuntariamente, fazendo crescer um prazer indescritível e obrigando-o a urrar para extravasar toda aquela energia. O gozo veio farto em jatos que fluíam de sua pica e me encharcavam com seu sumo viril. Nossas bocas se procuravam num desespero insano e, ao se encontrarem, selavam-se em beijos ardentes e prolongados. Quando eu acariciei suas costas, com ele deitado sobre mim arfando e suado, tive a certeza de estar com um macho pela primeira vez. E, não com um que podia fazer esse papel. O César não me deixou partir. Reteve-me em seus braços quando disse que ia para casa em plena madrugada.
- Não vou deixar meu tesouro andando por aí há essas horas! Essa bundinha agora é minha, vou cuidar dela com todo zelo. – ronronou, enquanto me fazia apoiar a cabeça em seu peito.
Típico de um machão, pensei. Lembrei-me da minha irmã e, de como o namorado dela era cheio de cuidados. Eu estava vivendo um sonho. Para que quebrar esse encanto e sair desses braços e desse peito acolhedor, se foi isso que procurei a vida toda? Aninhei-me ali, ouvindo sua respiração embalar meu sono. Começamos a namorar a partir daquela noite. Eu percebi ao longo dos meses seguintes, que ele também estava realizando um desejo antigo, embora nunca tivesse conseguido arrancar dele que desejo era esse. O César é um cara fechado quando se trata de expor seus sentimentos. Tudo que consegui extrair de sua personalidade reservada foi por meios pouco ortodoxos. Quando o via relutar com alguma coisa, eu o seduzia até ele me revelar o que eu desejava, em contrapartida de ele ter meus favores amorosos e sexuais. Não falhava nunca.
- Deveria ser proibido existir um carinha como você! Você é um perigo ambulante, uma cilada para corações carentes e picas sedentas! – exclamava, depois de despejar sua gala no meu cu e me desvelar àquilo que não abria para ninguém. Eu costumava lhe dirigir um beijo e uma piscadela safada que tinham o poder de amolecer seu coração.
Por quase um ano tudo parecia um mar de rosas. Ele começara a insistir para eu ir morar com ele, dizia que já não aguentava mais se despedir de mim toda vez que passávamos um tempo juntos. Não queria sentir o vazio que eu deixava nele durante as horas em que não me tinha sob seu olhar. Tornou-se possessivo e reclamava que eu não tinha dó ao deixa-lo. Nada que eu fizesse ou dissesse o demovia desses argumentos. Também se ofendia quando eu queria pagar alguma conta, ou tomasse uma decisão sem consulta-lo. Tudo estava bem conquanto ele gerenciasse a situação, caso contrário, procurava provar que eu sempre estava errado. Zangava-se quando eu tentava contra-argumentar, chegando por vezes, a expor uma fúria que me assustava. Depois, quando ele se acalmava, eu procurava demonstrar e explicar que não tinha gostado da atitude dele, mas ele começava a fazer charminho e, eu notava que não se importava com o que eu dizia.
Por ocasião do aniversário de casamento dos pais dele, fomos passar um final de semana no condomínio em Sorocaba onde eles moravam e, fizeram uma festa para comemorar a data. Logo percebi que ninguém sabia do nosso relacionamento. Ele me apresentou aos familiares e parentes como um amigo, embora eu duvidasse que eles tivessem engolido a estória. Os dois irmãos dele eram casados e provavelmente nunca desconfiaram dos desejos secretos dele. Esse era o outro lado da moeda no caso dos machões exclusivamente ativos, tinham dificuldade de lidar com essas suas necessidades, ocultando seus relacionamentos ou, travestindo-os como uma amizade insuspeita. Ignorando que essa atitude abria caminho para que outros se aproximassem de seus parceiros e, menosprezando a quantidade de homens interessados em provar desse campo obscuro que se afigurava o relacionamento com outro homem. Eu reconheci um desses homens num de seus primos. O sujeito, também casado e com dois garotinhos em idade pré-escolar a exigirem constantemente sua atenção, não se furtou ao prazer de me paquerar. Atraente ele não era, mas a impetuosidade de um garanhão estava em cada olhar e palavra que me dirigia.
- Dê um toque no seu primo, pois o fulano está me devorando com os olhos. Estou há horas tentando me esquivar dele. – pedi, quando vi que já não conseguia controlar a situação.
- Tem certeza de que não contribuiu para isso? Sei muito bem como você é capaz de ser sedutor. – afirmou.
- Não acredito que você esteja me dizendo isso! Será que nesse tempo todo que estamos juntos você não conseguiu ver como eu sou? A sua insensibilidade chega a me machucar! – devolvi irado.
Apenas os filhos permaneceram após o final da festa. Eu estava arrasado com a atitude do César e, me retraí como um caramujo dentro da concha. Dei a desculpa de uma indisposição para me recolher ao quarto pouco depois do jantar. Senti o olhar de censura do César me penetrando como um punhal. Pouco depois, ele veio ter comigo. Descarregou sua raiva com ofensas e críticas, não me deixando argumentar. Quando eu disse que não ficaria mais nenhum minuto ali, ouvindo seus insultos e, comecei a pegar minha bagagem ele perdeu a cabeça. Tentou me segurar dentro do quarto e me ameaçou caso eu o expusesse diante da família, obrigando-me a sentar numa poltrona por meio de um empurrão.
- O que você pensa que está fazendo? Eu não vou me submeter aos seus desmandos! – afirmei, levantando e seguindo em direção à porta. A bofetada acertou meu rosto antes de eu tocar na maçaneta, tão violenta e potente que me deixou atordoado. Eu o encarei perplexo. Ele levou as mãos à própria cabeça.
- Está vendo no que dá me desafiar? – rosnou colérico.
- Nunca mais levante a mão para mim! Ouça bem, você está me ouvindo? Jamais faça isso novamente! Eu não vou admitir que isso se repita! Agora saia daqui! Não quero mais ver a sua cara! – berrei exaltado. Assim que ele fechou a porta atrás de si, desabei num choro convulsivo.
Contei as horas, sentado na cama, esperando o alvorecer. Tão logo todos estivessem acordados eu o faria me levar para casa. Enquanto relembrava a discussão e a bofetada, me lembrei da expressão assustada e submissa do Leonardo. Ele certamente havia sido agredido como eu e, se resignado a aceitar a dominação férrea do César, até se tornar um animalzinho assustado e subserviente. Decidi que ficaria uns dias sem encontrar o César, depois de voltarmos para São Paulo. Eu precisava de um tempo, de deixar a raiva e o impacto daquela atitude se assentar para tomar uma decisão racional e lúcida. No trajeto de volta, enquanto dirigia, ele tentou jogar seu charminho para dissipar minha raiva. Não conseguiu. Não nos falamos e, não permiti que me levasse até seu apartamento antes de me deixar em casa. Ele tentou me beijar na porta de casa, eu me esquivei descendo do carro sem convidá-lo a entrar.
- Passivo sim, capacho nunca! Se você puder compreender isso, tudo bem. Do contrário, não me procure mais! – afirmei.
Recusei-me a encontra-lo por quase um mês. Toda vez que ouvia sua voz ao telefone meu rosto se ressentia daquela bofetada. Quando resolvi abrir a guarda e ouvir suas desculpas, elas não vieram, apenas aquele joguinho de palavras para amolecer meus sentimentos. Voltamos a namorar, mas a relação assumiu para mim a mesma aparência de um vaso que se quebrou e foi remendado. Os cacos juntados exibiam os traços do estrago. Aquela segurança que eu sentia quando aquele cacetão estava entalado nas minhas entranhas desapareceu. Estar com ele e deixa-lo entrar em mim já não era tão prazeroso. Fazer sexo com ele doía por ele ser enorme, por manejar aquela verga gigantesca com atrocidade, por me subjugar sem amor.
Nesse interim, eu soube por colegas que o Leonardo tinha levado uma surra do César e estava na casa da família no interior do Estado. O relato me deixou abismado, especialmente, por que ao expulsá-lo de seu apartamento, o César tinha machucado tanto o Leonardo que este precisou de atendimento médico. Os familiares vieram resgatá-lo em São Paulo, pois somente uns poucos colegas o auxiliaram durante a hospitalização.
Ainda levei um tempo, após ter decidido terminar o namoro, para contar a ele sobre a minha decisão. Temi pela reação dele. Esperei por uma oportunidade que parecia nunca surgir. Quando enfim ela surgiu, foi catastrófica. Tínhamos ido a uma balada com a galera de sempre na Bubu Lounge. Assim que foi me buscar em casa o César quis que comer.
- Você está super cheiroso! Vamos dar uma passada no apartamento antes da balada, quero meter nesse cuzinho só para saber que quando você estiver dançando minha porra vai estar no meio das tuas coxas. – insistiu ele.
- Não! O pessoal já está a nossa espera, acabei de receber uma mensagem do Camilo perguntando onde nos enfiamos. – retruquei. Eu sabia que não ia me divertir tanto com as pregas todas doloridas. Ele ficou emburrado e só desanuviou a cara amarrada quando encontramos a galera.
Na balada ele me abordou mais duas vezes, queria ir para casa e me enrabar. Eu não estava a fim e, ia protelando a saída. Quando a galera começou a ir embora não tive mais como protelar o inevitável. Mesmo assim, a caminho do estacionamento aleguei não estar legal e pedi para que me deixasse em casa.
- Você está tentando me fazer de otário? Que burrice é essa? Você perdeu a noção, que porra é essa? Deixa de ser idiota! Você não aceita homem que tem mais dominância do que você! Que é que você está pensando? Quem é que você acha que é o macho da relação? Você é um veado! Não é você quem manda, sua bicha! Você tem que aceitar que o macho sou eu, simples assim! Ou você prefere que eu te ensine quem é o macho aqui? – disse, sem mensurar o tom elevado da voz e as barbaridades que estava proferindo, eu me recusei a entrar no carro.
- Não vou discutir isso com você! Não vou me desgastar com algo que já não existe mais. Nosso relacionamento termina aqui e agora! A partir de hoje seguimos caminhos diferentes. – anunciei, deixando-o plantado ao lado do carro.
- Isso não é você quem decide! Nossa relação termina quando e como eu quiser! Volte aqui veado, ou vai se arrepender!
Ele me alcançou ainda dentro do estacionamento. Entramos num enfrentamento corporal e eu não queria me deixar arrastar até o carro. O funcionário do estacionamento saiu correndo ao perceber que o pau ia quebrar. Embora muito mais corpulento do que eu, não me deixei intimidar e, acabei levando alguns socos. Já caído no chão com o peso do César debruçado sobre mim, prestes a desferir um soco no meu rosto eu ergui as mãos para protegê-lo. Subitamente, o soco não veio e o peso dele saiu de cima de mim. Quando tentei ver o que estava acontecendo, vi um sujeito musculoso dando uma gravata no pescoço do César e o imobilizando com golpes de alguma arte marcial. Ele o obrigou a entrar no carro e sair dali. Sob protestos e palavrões o César partiu, fazendo os pneus do carro chiarem no asfalto. O sujeito caminhou na minha direção e me estendeu a mão para que me levantasse.
- Você está bem? Ele te machucou! – disse, ao constatar que meus lábios estavam sangrando, pois tinham sido comprimidos contra os meus dentes por um violento soco.
- Obrigado! Ele ia acabar comigo se não fosse por você. – respondi, apoiando-me nele até conseguir ficar em pé sozinho.
- Você precisa ir a um Pronto-Socorro, sua boca está sangrando muito. Venha! Eu levo você. – sentenciou, ajudando-me a chegar até o carro. A caminho do Pronto-Socorro, ele me sugeriu que eu fosse a uma delegacia registrar um Boletim de Ocorrência.
Foram necessárias oito suturas para fechar meu lábio dilacerado, além da desinfecção dos esfolados no meu rosto, que o César esfregou contra o piso do estacionamento. Eu não tinha me visto no espelho, mas pela expressão das pessoas que olhavam para mim, fiz uma ideia do estrago que ele havia provocado. No entanto, foi o estrago emocional que mais estava me abalando. Aquele homem que eu deixei entrar em mim, a quem dediquei o que de mais puro há na minha alma, a quem fiz carinhos e, a quem tantas vezes beijei com uma devoção quase divina, tinha me espancado sem dó nem piedade por não ter satisfeita a sua vontade. O desprezo de suas palavras e do seu olhar quando me agrediu não saíam da minha cabeça. Seriam assim os machos ativos quando se relacionavam com gays, autoritários e violentos? Eu já não sabia mais o que pensar, os versáteis não eram homens de verdade e, os machos convictos nos tratam como seres inferiores. Naquele momento eu me transformei num descrente.
Eu não quis ir a uma delegacia depois de receber os cuidados médicos, embora o Eduardo, é assim que se chama meu salvador, continuasse a insistir para eu denunciar a violência sofrida.
- É constrangedor demais. Vou ter que expor minha relação com o César, assumir diante de um montão de estranhos que sou homossexual. Vou ter que passar pelo constrangimento de ter minha condição julgada por pessoas que provavelmente estão cheios de reservas quanto aos homossexuais. – argumentei.
- Se você se esconder por medo ou vergonha, jamais as coisas vão mudar. Esses caras vão continuar achando que podem fazer o que bem entendem, sem que isso traga consequências. Eu vou com você, fico ao seu lado e dou meu testemunho. Não tenha medo! – retrucou o Eduardo.
- Você já fez muito por mim. Nem sei como te agradecer! Mas, eu também nunca abri essa questão com a minha família. De uma hora para outra, tudo vai ficar exposto. Não sei se consigo lidar com isso. – respondi.
- Sei que é difícil. Mas, você vai conseguir, acredite nisso. – ele falava com tanta segurança que me deixava em dúvida.
- Se eu chamar o meu pai aqui agora e, ele me ver nessa situação, com a cara toda arrebentada e, ainda por cima, tendo que ir a uma delegacia....não. É coisa demais para um só momento. Sem nenhuma prévia, como é que ele vai digerir isso? Não, eu não consigo!
- Não precisa chamar sua família. Eu já disse, levo você e te dou todo o apoio que precisar. – garantiu.
- Você não precisa passar por isso! Devia estar cuidando de você, devia estar em casa, já está quase amanhecendo.
- Venha! – ele mais uma vez me estendeu a mão e, não sei por que, eu confiei nele, no momento em que mais estava descrente da humanidade.
Eu me surpreendi com a atitude do delegado, um sujeito de mais ou menos trinta e poucos anos, de expressão amistosa, cuja liderança sobre os subordinados parecia tão natural quanto um papo informal. Ele me ouviu sem aquele olhar acusador e, sem interromper minha exposição dos fatos. Pediu que eu esclarecesse um ponto ou outro e me perguntou se mais alguém, além do Eduardo, havia presenciado a surra. Diante da minha negativa ele pegou os dados do Eduardo. Depois, pediu o endereço do César, determinando que dois agentes fossem imediatamente busca-lo no endereço que forneci. Isso me deixou ainda mais inquieto. Qual seria a estória que ele ia inventar para se safar dessa? Eu estava arrependido de estar ali.
- Não tenha receio! Não vou confrontá-los. Vou ouvir a desculpa que ele vai inventar e, depois, veremos como agir. – disse o delegado. Só o fato de ele cogitar que o César ia inventar uma desculpa, já me deixou menos preocupado. Ele havia acreditado em mim, isso era evidente.
Cerca de uma hora depois, o César veio escoltado pelos dois agentes. Fuzilou-me com um olhar de puro ódio. Ficou uma meia hora na sala do delegado e, saiu ainda mais possesso. Ele havia sido indiciado por agressão, homofobia e tentativa de homicídio, algo que eu jamais imaginei que fosse acontecer. Ia ficar preso até a audiência de custódia com um juiz. Agradeci o delegado e elogiei sua atitude para comigo, ele me retribuiu com um aperto de mão.
- Viu, não foi tão ruim assim, não é? – disse o Eduardo
- Diante de tudo que já ouvi em noticiários, eu diria que o que aconteceu naquela delegacia foi um verdadeiro milagre. Foge de todos os fatos que os gays contam quando precisam da polícia. – argumentei.
- Não tenho dúvida de que o delegado se encantou por você. Não o culpo. – devolveu o Eduardo.
- De onde você tirou isso? Eu atribuo a sua atuação ao caráter dele, deve ser um cara muito íntegro e sem preconceitos. – retruquei. – Imagina! Eu com essa cara toda arregaçada e alguém vai se encantar comigo, só pode ser piada! – o Eduardo me olhou de um jeito estranho e sorriu. Fiquei sem entender o que isso significava.
O mais difícil foi mentir para os meus pais. Eu nunca havia reparado nisso antes, mas aquela foi a primeira mentira que contei a eles. Uma briga na saída da balada acabou sendo a estória que inventei para justificar aquele beiço imenso, as escoriações no rosto e nos braços, os hematomas horríveis com os quais eles se depararam. A família ficou em polvorosa, minha mãe ligou para uma dúzia de amigas e conhecidas perplexa com a violência que não poupava mais ninguém nos dias atuais, meu pai ficou indignado aventando a possibilidade de nos mudarmos para outro país, enfim aquilo mobilizou a todos por mais de uma semana. Diante dessas reações eu tive a certeza de que se tivesse dito que apanhara de um namorado para o qual recusei dar meu cuzinho naquela noite, uma tragédia podia ter acontecido. Eles jamais entenderiam o que aconteceu, como eu até agora também não compreendia. Pelos primeiros três dias não fui à faculdade, meu rosto estava horrível demais e, eu já estava cansado de repetir a mesma mentira por centenas de vezes. No entanto, nesse período, recebi um telefonema do Eduardo, perguntando como eu estava. Ele queria me ver.
- Não me importo, mesmo parecendo um monstrengo pode ter certeza de que não vou me assustar. – brincou ele, insistindo diante da minha recusa em marcar um encontro.
- Prometo que ao retomar minha rotina eu marco um café. Mesmo porque preciso te agradecer pessoalmente pelo que fez por mim. Se ainda me sobraram alguns ossos inteiros devo isso a você! – afirmei. Ele riu do outro lado.
Acabamos combinando um almoço alguns dias mais tarde, quando eu só tinha aulas no período da manhã. O local, o Aragon, foi sugerido pelo Eduardo, pois eu não o conhecia. Não o encontrei nas mesas do terraço de aspecto praiano nem nas do pequeno salão de piso com ladrilhos hidráulicos num composé branco e preto. O garçom me encarou curioso, ante os hematomas que ainda persistiam no meu rosto. Das duas mesas que ele me apontou, optei pela mesa mais ao canto do terraço, que me pareceu a mais ventilada naquele início de tarde abafado e, de onde eu podia ver o Eduardo chegando. Eu estava quase terminando meu suco de abacaxi, maçã e gengibre quando ele desceu do Touareg cinza chumbo com o qual me acompanhou após a surra que levei do César e, pegou o ticket do valet da mão do mesmo manobrista que levou meu carro. Eu não havia reparado nele naquela noite catastrófica, estava escuro no estacionamento onde ele me acudiu e, tanto no pronto-socorro quanto na delegacia eu estava tão atordoado que mal sabia onde estava. De camisa branca, um pouco apertada ao redor dos bíceps, da qual ele havia desabotoado o colarinho e enrolado as mangas até próximo aos cotovelos e, uma calça social cinza, também ligeiramente apertada ao redor das coxas grossas, tinha uma aparência clássica chique, a qual uma barba cerrada por fazer e, um corte de cabelo estiloso davam um ar despojado e jovial. Era sem sombra de dúvida um homem muito bonito e viril. Naquele dia isso não passou de uma simples constatação, uma vez que o meu trauma com homens desse naipe ainda não estava superado. Contudo, eu me arrependi de não ter caprichado mais no visual, ao escolher as roupas naquela manhã, antes de ir à faculdade. Eu era o típico garotão universitário vestido daquela maneira descontraída e, isso me deixou um pouco inibido diante dele. O restaurante não estava muito movimentado, apesar do horário do almoço. Ele logo me avistou e abriu um sorriso caminhando até mim, enquanto numa mesa próxima, três moças o examinaram com vivo interesse.
- Perdão pelo atraso! Acabei ficando retido na empresa com um assunto de última hora. – justificou-se.
- Não há do que se desculpar. Ao contrário de você tenho toda a tarde livre, enquanto imagino, você precisou interromper seu trabalho para estar aqui. – respondi.
- Esperei ansioso por essa oportunidade de te reencontrar. Pensei que talvez você não estivesse a fim. Mas, estou contente de estarmos aqui e, de ver que você já está quase recuperado. Também reservei esta tarde para você, temos todo o tempo do mundo. – disse, examinando os hematomas que ainda persistiam.
- Como você pode ver, a cara continua deplorável. Numa pensei que isso fosse demorar uma eternidade para sumir.
- Não seja tão impaciente, faz pouco mais de uma semana e, você está ótimo. À luz do dia e com essa descontração fica ainda mais bonito. – afirmou, me fazendo corar.
- Você não veio aqui para me deixar sem graça, não é?
- Muito pelo contrário! Só estou sendo sincero e tentando levantar o seu astral.
Enquanto comíamos os pratos escolhidos que, por sinal, não me atraíram no cardápio e também não me apetecia agora, ele me falou um pouco de sua vida, após eu ter perguntado. Depois de formado, ele passou uma temporada nos Estados Unidos, chegando a trabalhar numa empresa em sua área. Depois, voltou e, com um colega de faculdade, montou uma empresa de desenvolvimento de softwares. Há pouco tempo, o amigo se casou e deixou a empresa indo morar em Campinas, cidade da esposa e na qual acabou montando uma empresa com as mesmas características. Eles ainda desenvolviam projetos em conjunto só que separados fisicamente. Também relatou que estava contente com os resultados que a empresa vinha tendo e que, pelo menos no quesito profissional, não tinha do que reclamar. Sem que eu fizesse qualquer menção de estar curioso quanto aos demais aspectos de sua vida, ele me confidenciou que no plano privado ainda residia com os pais, o que o estava inquietando ultimamente, sem que uma razão o justificasse. E, no plano amoroso, podia se considerar um desastrado.
- Então somos dois! – retorqui imediatamente, antes de fazê-lo conhecer um pouco da minha trajetória nesse campo.
Só reparei no horário quando faltava pouco para as quatro da tarde, tão envolvente estava sendo a conversa. Ele propôs que fossemos ver a exposição de Hitchcock – Bastidores no Museu da Imagem e do Som. Eu topei por gostar desse tipo de filmes e, pela companhia que se mostrava mais agradável a cada minuto.
- Eu gostaria de passar mais tempo ao seu lado. Fazia tempo que não tinha uma tarde tão incrível. – disse ele, quando nos despedimos.
- Foi muito legal, mesmo. Também gostei do tempo que passamos juntos. – devolvi. Eu tinha comprado um jogo de caneta e lapiseira para presenteá-lo como forma de agradecer pelo que ele tinha feito por mim naquela noite, mas, repentinamente, fiquei sem graça de dar uma coisa tão sem importância, diante do que ele era enquanto pessoa.
- Eu só não entendo como um sujeito como aquele foi capaz de machucar esse rosto lindo e sedutor, quando há tantas outras possibilidades de interagir com ele. – disse, tocando meu rosto suavemente com sua mão vigorosa. Eu corei mais uma vez.
- Bem! Eu preciso ir agora. Obrigado por essa tarde maravilhosa. – agradeci, começando a procurar as chaves do carro na mochila, momento no qual o presente que havia comprado para ele caiu dela. Antes que eu pudesse apanhá-lo do chão ele o fez e, viu seu nome no cartão que acompanhava o pacote.
- Tem um xará meu que pelo visto vai receber uma lembrança sua. – disse, estendendo o pacote na minha direção. Fiquei sem ação, não sabia se pegava o pacote e fingia que a conjectura dele estava correta ou se lhe entregava o presente.
- Comprei para você, mas confesso que fiquei com vergonha de te dar algo tão sem importância. – revelei.
- Posso abrir?
- Pode, é seu. Me perdoe se não fui mais criativo!
- Obrigado! – disse ele, tocando mais uma vez no meu rosto e aproximando-se tão cautelosa e perigosamente dele com o seu que minhas pernas começaram a bambear. No crepúsculo daquele final de tarde, encostado ao meu carro, ele tocou sua boca na minha sem se incomodar em sermos vistos. Após o beijo, eu fiquei estático por alguns instantes, sem saber o que fazer ou dizer.
- Tchau! – balbuciei. Algo no meu peito fervia como uma chaleira d’água sobre o lume.
Ao mesmo tempo em que iam desaparecendo as marcas da crueldade do César, iam se tornando mais constates os meus encontros com o Eduardo, apagando da minha memória aquelas lembranças amargas. Comecei a reparar que com ele o entrosamento acontecia de uma maneira gradual e tranquila, sem aquela curiosidade ansiosa que havia marcado minha relação com o Jorge e, sem aquele afobamento desesperado de provar do sexo com um macho como o César. No entanto, a cada dia eu achava o Eduardo mais sensual. Eu gostava de olhar para seus braços peludos, para os detalhes de sua mão potente, para o contorno arrebatador de sua boca quando sorria ou fazia certas expressões, para o porte de seu tronco de ombros largos e, certamente, para o descarado volume entre suas pernas, sempre bem separadas quando caminhava, como se aquilo que pendia entre elas o obrigasse a caminhar daquela maneira. Eu também sentia a necessidade que ele tinha de me tocar, fosse um discreto roçar de braços quando caminhávamos lado a lado, fosse o pretexto para afastar algo aderido à minha roupa ou, fosse o momento quando nos despedíamos e a oportunidade de tomar as minhas mãos entre as suas, apertar-me contra seu peito num abraço demorado ou um beijo terno no canto da boca se faziam adequados.
Numa manhã, resolvi contar aos meus pais que estava interessado nele. Ensaiei algumas frases para iniciar a conversa, mas todas me pareceram diretas demais, avassaladoras demais, objetivas demais. Teria que haver um meio de fazer isso sem produzir um choque neles de consequências imprevisíveis. Não encontrei solução alguma. Tinha que ser na lata, como se diz. Providencialmente, o namorado da minha irmã contou que um primo estava indo morar com um amigo, depois de se descobrirem apaixonados um pelo outro. No mesmo instante encarei meus pais para ver como reagiam ao fato.
- Isso vem se tornando cada vez mais comum. Antigamente as pessoas o faziam as escondidas, hoje já não choca mais a sociedade, embora ainda haja muito preconceito. – disse minha mãe.
- Há uma certa tendência da mídia em banalizar esses relacionamentos, mas as pessoas ainda recriminam muito uma união desse tipo. Não sei até que ponto vale a pena sofrer tanta discriminação para viver uma vida a dois. – sentenciou meu pai.
- Sabem aquilo que o Lucas contou do primo durante o almoço, eu também estou começando a gostar de um cara. O nome dele é Eduardo, tem trinta anos e trabalha com desenvolvimento de softwares. A gente está se encontrando. – pareceu-me que seu enaltecesse esses aspectos do Eduardo ficaria mais fácil de eles não criarem caso.
- Do que é que você está falando? Como assim se encontrando? – havia assombro na voz do meu pai, porém não repulsa.
- Você está indo para a cama com outro homem? Um homem mais velho do que você? – questionou minha mãe, incrédula e perturbada com a possibilidade de seu filho estar mantendo relações sexuais com outro homem.
- Encontrando. Encontrando como se costuma encontrar as pessoas, indo ao cinema, indo comer alguma coisa num restaurante, indo para uma balada, coisas assim. Eu não acho que um carinha de trinta anos possa ser chamado de velho. Eu tenho vinte e três o que não faz dele um velho. Eu não estou indo para a cama com ninguém, mãe, se é essa a sua preocupação. – respondi. Eles se entreolharam e eu não fui capaz de compreender o que aquilo significava.
Ouvi uma porção de senões que eles iam descortinando ao falarem comigo. Não havia nenhuma censura explícita, nenhuma proibição proclamada, tão somente uma preocupação com o que meu pai chamou de crueldade da sociedade. Mal sabendo ele que eu já tinha provado dessa sua preocupação.
- Posso trazer ele aqui um dia desses para um churrasco de domingo? – questionei, depois que percebi que eles não tentaram encerrar a conversa como um assunto proibido e definitivamente sem acordão.
- Eu não sei! Não sei se estou preparada para isso. Preciso pensar a respeito. O que você acha? – afirmou minha mãe, procurando a anuência do meu pai.
- E como você vai apresenta-lo, como seu o quê? Isso me parece muito estranho. – questionou meu pai.
- Como meu amigo, só isso. Afinal, somos apenas amigos. Eu já trouxe outros amigos aqui para casa, não vai ser diferente disso. – respondi, sabendo que eles não estavam conseguindo digerir aquilo tudo tão repentinamente.
- Mas, se ele é seu amigo como fica a questão ..., bem, como fica esse negócio de se relacionarem? – aventou minha mãe.
- Não chegamos lá ainda! A gente se curte, mas eu sinto que gosto muito dele e, que a recíproca também é verdadeira. Então é isso! – respondi.
- Espere um pouco para trazê-lo aqui, ok? – disse meu pai.
- Tudo bem! Se vocês preferem assim.
- É só um tempo. Não deve haver tanta pressa para nos apresentar um simples amigo, não é? Ninguém aqui está grávida para que tudo tenha que ser feito numa correria desatada. – sentenciou meu pai, jocoso. Aquilo foi um bom sinal. Se ele estava conseguindo fazer piada com a situação é por que não encarou o assunto como uma catástrofe. Eu ri da observação dele.
Quando contei o episódio ao Eduardo ele também riu. Disse, no entanto, que também tinha dúvidas quanto à reação dos pais. Embora muito independente, ele não queria magoá-los e, sabia da expectativa que nutriam para ter netos e vê-lo bem casado, nos moldes da normalidade. Até então, ele havia levado apenas duas garotas para conhecê-los e ambas não causaram boa impressão. Mencionou que, numa brincadeira, um dia havia dito que o tal colega de faculdade com o qual montou a empresa o deixava de pau duro e, ambos fizeram troça do que chamaram de uma asneira sem tamanho, típica de um tarado feito ele.
- E, ele te deixava de pau duro? – perguntei ao fim da explanação dele.
- Deixou, algumas vezes!
- O que fizeram em relação a isso?
- Nada! Eu fui até o banheiro, bati uma punheta, me aliviei e ele nem desconfiou de nada.
- Todas às vezes?
- É impressão minha ou está rolando um ciúme aí?
- Só estou querendo saber.
- Tem certeza?
- Claro! Fica difícil acreditar que ele não tenha reparado em você e no seu tesão.
- Você repara?
- Não mude de assunto!
- Faz tempo que eu torço para você reparar. – ele tocou meu rosto com aquela mão cuidadosa e, eu já não conseguia mais disfarçar que ela me deixava enternecido e atraído por ele.
- É, reparei sim! É isso que você queria ouvir?
- Sim. Você vai ficar apenas reparando ou vai tomar uma atitude?
- Que atitude você quer que eu tome?
- Essa! – nisso ele me puxou para junto de si e me beijou com sofreguidão e desejo. Eu retribuí com o mesmo ímpeto e tesão.
Esse chove não molha durou mais alguns meses. Pelo Eduardo o namoro já estaria rolando e oficializado, ele verbalizava isso o tempo todo. Porém, aquela surra havia me feito perder a confiança nas pessoas, especialmente em relação a me envolver emocionalmente. Desde aquele episódio eu havia perdido as esperanças e desacreditado das relações homoafetivas. Mesmo assim, eu me sentia cada vez mais envolvido com o Eduardo. No fundo da minha alma eu queria me entregar a ele e àquela paixão, mas o medo falava mais alto.
- Como andam as coisas entre você e o tal Eduardo, que não deixa de ser mencionado a cada meia dúzia de frases suas? – quis saber minha mãe. Meu pai espichou disfarçadamente o olhar por cima do notebook interessado na resposta.
- Não andam! Por quê?
- Estou pensando em fazer um jantarzinho aqui em casa, só para nós, o Lucas e a namorada do seu irmão. Você podia convidar o Eduardo, assim ficamos conhecendo ele. – sentenciou ela.
- Não sei se é uma boa! Logo de cara com todo mundo em cima, pode ser uma furada. – retruquei.
- Ninguém aqui vai pisar na bola! Em todo caso, fica ao seu critério! Será na próxima quinta-feira, algo bem simples e familiar. – emendou ela. Aquilo já devia estar combinado entre os dois há algum tempo, minha mãe não dava ponto sem nó.
O Eduardo topou na hora, disse que já estava na hora de conhecer os sogrinhos, com aquele seu jeito brincalhão de encarar os desafios.
- Não vá criando expectativas! É só para você conhecer a minha família. – assegurei, temendo que ele encarasse aquilo como uma forma de assumir um namoro.
- Claro! Para que mais seria? – devolveu, adivinhando meus temores.
Poucas semanas depois, ele me fez o mesmo tipo de convite. Alegou que, devido a ele viver me mencionando, seus pais estavam curiosos em me conhecer. O que eu desconhecia era que ele falava de mim como alguém por quem estava sentimentalmente envolvido e, que resolvera abrir o jogo tanto com os pais quanto comigo. Caí na armadilha feito um pato, mas sobrevivi ileso. Um pouco zangado com ele, é certo, contudo, feliz por constatar que ele estava realmente gostando de mim.
Eu já vivia xeretando na empresa do Eduardo quando na faculdade, ora por que tinha chegado cedo para uma programação após o experiente, ora por que estava entediado com algum tempo ocioso e, também por que a dinâmica que acontecia ali me deixava entusiasmado. Após a formatura, passei a ir lá quase todos os dias. Dava uma força aqui outra acolá enquanto tentava conseguir meu primeiro emprego. Um final de tarde, depois dos funcionários terem saído, ficamos ele e eu aguardando um telefonema dos Estados Unidos de uma empresa interessada na aquisição de um dos produtos do Eduardo. Uma chuva torrencial desabou sobre a cidade nos deixando às escuras pela falta de energia e, ilhados pela enxurrada que descia cobrindo a calçada e boa parte da rua. Enquanto o Eduardo fazia suas explanações para o interlocutor no outro hemisfério, eu fiquei postado diante da janela observando o vendaval derrubar uma árvore sobre a construção do outro lado da rua e, atingindo, simultaneamente, dois veículos estacionados em frente. Os bombeiros haviam chegado logo, bem antes do Eduardo terminar a ligação, e interditaram o trecho da rua para a remoção da árvore e do telhado destruído. Eu havia feito sinal para ele se aproximar da janela durante a ligação, porém ele só se aproximou de mim ao final dela.
- Foi agora? – questionou. Eu confirmei e, ficamos a observar a movimentação lá embaixo.
Trocamos mais algumas frases sobre o incidente, quando senti o calor de sua respiração roçando minha nuca. Ele aspirava discretamente o perfume da minha pele, que dizia capaz de deixa-lo maluco. Não demorei a sentir essa maluquice na forma de uma ereção com a qual ele me encoxou algumas vezes. As primeiras foram bastante sutis, à medida que o tesão o inflamava elas se tornaram mais presentes. Há tempos que eu não era mais indiferente ao calor que o corpo dele emanava. Todo tipo de frisson e frenesi se apoderava de mim quando eu o sentia muito próximo. Ele colocou suas mãos sobre os meus ombros e, afastando o colarinho da camisa, depositou um beijo sensual no meu pescoço. Foi a primeira vez que não fugi dele. Franqueei ligeiramente o pescoço para desfrutar daquele beijo alvoroçado. Ele desceu as mãos pelo meu tronco e me envolveu pela cintura. Puxou-me para junto de sua virilha, fazendo-a encaixar na minha bunda. A ereção estava em plena ascensão e, eu pude senti-la cutucando na nádega, firme e impetuosa.
- Quero você! – sussurrou no meu ouvido. Eu tomei uma de suas mãos e beijei.
Deixei que ele me despisse diante da pouca luz que ainda se infiltrava pela janela, até ficar completamente nu. Em seguida, ele me rodopiou e me beijou atiçado pela volúpia. Suas mãos deslizavam sobre as minhas nádegas e pareciam incendiá-las. Desabotoei sua camisa, após tirar a gravata e acariciei seu peito, deslizando as pontas dos dedos entre os pelos grossos. Ele abriu a calça, pegou uma das minhas mãos e a levou braguilha adentro. Seu membro estava duro e pulsava ao meu toque. Ele me encarava cheio de desejo, enquanto deslizava suavemente os dedos pelo meu rosto. Afastei ainda mais a sua calça e expus o cacetão impetuoso. Constatei que era imenso, grosso, cabeçudo e obscenamente tentador. É bom que o Eduardo venha a ser meu último e definitivo homem, pois nessa progressão, onde um é maior do que o outro, vai chegar o momento em que meu cu vai se transformar num túnel, pensei comigo mesmo.
- No que está pensando? – questionou ele.
- Em como você é gostoso! – respondi, fechando a minha mão ao redor daquele caralhão grosso e quente. Ele soltou um suspiro profundo.
Ele me pegou no colo e caminhou desengonçadamente comigo pendurado em seu pescoço até a mesa de trabalho, pois as calças arriadas o impediam de dar passos mais abertos. Enquanto ele se sentava na beira da mesa, me soltava sobre sua cadeira. Eu puxei suas calças até os joelhos e, deslizando as mãos sobre suas coxas peludas, segui rumo à virilha. Afundei os dedos nela e peguei a pica. Acariciei-a antes de beijar a glande úmida e lustrosa. Ele soltou um gemido. Coloquei-a na boca e comecei a chupar, delicada e carinhosamente. Ele se contorcia e me agarrou pelos cabelos. Eu não soltei aquele brinquedão até ter chupado, lambido e beijado cada pedacinho daquela carne voluntariosa e temperamental. Seus cheiros e seu sabor pareciam uma droga que desenfreava a libido e faziam meu tesão me ensandecer. Ele me puxou contra si e beijou minha boca, enfiando lentamente um dedo no meu cuzinho. Deitou-me de costas sobre sua mesa e abriu minhas pernas, sentou-se na cadeira onde eu estivera até então e lingou o meu cu. Eu gemia e me contorcia sem conseguir me firmar em algo para que aquela sensação não me fizesse levitar. Enquanto lambia e mordiscava ao redor das minhas preguinhas ele se livrou da calça, postou-se de pernas abertas diante das minhas pernas abertas e apoiadas em seus ombros e fez deslizar sua jeba ao longo do meu rego. O pré-gozo que fluía abundante do cacetão excitado molhou toda a extensão daquela fenda estreita, no fundo da qual, o cuzinho piscava alucinado e cheio de desejo. Ele forçou a cabeçorra contra a portinha do meu cu pressentindo, a cada investida, que ia me arregaçar. Ele quis a minha anuência para isso e, inclinando-se sobre mim, beijou minha boca enfiando nela a sua língua ávida como desejava fazer com o cacete. Eu abracei seu tronco, chupei sua língua e, logo senti a pica entalada nos meus esfíncteres. Foi inevitável liberar aquele ganido que aflorou aos meus lábios, pois a dor lancinante rasgando minhas pregas contraiu toda minha pelve, travando a rosquinha ao redor daquele intruso colossal. Ele se mostrou mais uma vez paciente e compreensivo para comigo, aguardando que eu relaxasse para prosseguir a penetração. A cada bombada ele crescia dentro de mim, imenso, ocupando cada espaço que eu liberava para aconchega-lo. Gemendo sem parar, eu me entregava aquele macho que, depois de todos os meus receios, estava me tornando novamente a pessoa mais feliz desse mundo. A maneira como ele olhava para mim não ocultava o prazer que estava sentindo ao ter seu falo apertado com tanta firmeza e carinho. Ele o fazia deslizar lentamente, num vaivém cadenciado que massageava sua rola. Seu semblante cobiçoso e libertino me encarando me fez gozar. Segundos depois, ele sacou a pica do meu cu, me colocou de bruços sobre a mesa, abriu minhas pernas com uma das suas e voltou a meter o pauzão esfomeado no buraquinho alargado e ferido. Agora ele bombava agarrando meus flancos, fazendo a pica socar minha próstata e extraindo ganidos de luxúria e dor. Ele gemia, movendo sua pelve para frente e para trás encaixado nas curvas polpudas da minha bunda. Após uma cravada profunda, senti-o estremecer, sua pelve se contraiu e ele começou a ejacular. A porra tépida e viscosa escorria para dentro das minhas entranhas e me dava a certeza de ter reencontrado a felicidade.
- Ah Ricardo, como eu preciso de você! – sussurrou ele, chupando minha nuca.
Depois de nos limparmos fomos deitar no sofá de couro que havia na sala dele. A chuva, menos intensa, ainda batia contra as vidraças, trazida pelo vento. Eu me deitei sobre o corpo dele, encaixando minha perna entre as dele. Não voltamos a vestir as roupas que continuavam espalhadas pelo chão próximo de onde fizemos amor. Continuávamos mergulhados na escuridão, pois a energia ainda não fora restabelecida. De início, conversamos sobre o que havia acabado de acontecer entre nós, depois falamos sobre anseios, lembranças do passado, possibilidades futuras, esquecendo-nos das horas e, deixando nossas mãos passearem livremente sobre nossos corpos nus. Faltava pouco para a meia noite quando o escritório se iluminou com a volta da energia. Não sentimos o tempo passar. Despedimo-nos ainda marcados pelo sexo e, com o acordo de empreendermos um cruzeiro marítimo pelas ilhas gregas, partindo do porto de Roma, dali a oito semanas.
O transatlântico Celebrity Reflection de 319 metros de comprimento e 15 deques deixou o porto de Civitavecchia na Itália numa tarde nublada de sexta-feira para um cruzeiro de 10 dias, com escalas nos portos da Sicília, Valletta em Malta, até chegar às ilhas gregas de Mykonos, Rhodes, Santorini e Piraeus e, depois retornar por Nápoles e finalmente Roma. Escolhemos uma cabine com varanda no décimo deque no navio através das fotografias do prospecto da agência de viagens, lembro-me particularmente de uma, na qual aparecia em destaque uma enorme cama dupla, pois o Eduardo me encarou com aquele olhar safado de quem iria se valer bastante daquela amplidão.
Acordávamos tarde todos os dias, quase sempre o cacetão do Eduardo ainda estava dentro de mim e, quando não ele, seu esperma espesso e pegajoso. Invariavelmente, estávamos encaixados um no outro, os corpos nus se roçando e instigando a volúpia. Quando um resolvia, finalmente, levantar, provocava o outro com carícias, beijos e apalpadas sedutoras. Abríamos as portas para a varanda, deitávamos numa só espreguiçadeira e contemplávamos aquela imensidão azul do Mediterrâneo que se descortinava diante de nossas vistas.
- Quando você vai casar comigo? – perguntou o Eduardo, numa daquelas manhãs, quando a leseira do sono noturno ainda não saíra de nossos corpos e, ele passava os dedos sobre meu mamilo excitado.
- Quando você me pedir! – exclamei, contendo gentilmente aqueles dedos, pois meu cuzinho também começava a se contrair de desejo.
- Sério?
- Sério! Acho que vou eu mesmo fazer o pedido, que tal?
- Acho justo! Afinal, levou meses para você se entregar para mim. – argumentou, enquanto eu acariciava sua nuca, o que costumava provocar uma ereção nele.
- Senhor Eduardo Jacomassi Carpentier, o senhor me daria a honra de desposar sua amantíssima, queridíssima, desejadíssima e diletíssima pessoa? – murmurei rente ao seu ouvido.
- Há uma possibilidade! – respondeu, fixando seu olhar no horizonte para poder controlar seu tesão.
- Que barbaridade! Eu aqui praticamente implorando e você me diz nessa frieza toda que, há uma possibilidade. Que possibilidade seria essa? – retruquei indignado.
- A de você, senhor Ricardo Mitchel Luján Sanders jurar solenemente que vai deixar todo esse seu carinho somente para mim, que vai me deixar meter nesse cuzinho todos os dias até ficarmos bem velhinhos, que nunca vai sair do meu lado e, que vai me fazer esse cafuné que está fazendo toda vez que quiser ver meu pau duro como agora. – sua mão já apalpava solicitamente uma das minhas nádegas.
- Juro! Prometo, faço tudo que você quiser, contanto que jure me amar e nunca judiar de mim. – retorqui.
- Eu jamais machucaria você! Olhe bem para mim, jamais, entendeu? – garantiu, segurando meu queixo em sua mão. Enquanto meus olhos se marejavam de amor e confiança naquele homem.
Ao som das ondas que se abriam a partir do costado do navio formando um imenso triângulo de espuma na popa, eu me ajoelhei entre suas pernas, as quais ele abriu e esparramou ao lado da espreguiçadeira, comecei a chupar sua ereção até que a pica estava tão rija que eu mal conseguia movê-la. Ele não tirava os olhos da minha boca trabalhando ao redor de seu mastro. Soltava uns grunhidos de vez em quando, ao sentir o tesão a lhe contrair o sacão. Por duas vezes tirou o caralho da minha boca, prevenindo-me que acabaria gozando. Eu tornava a enfiá-lo até a goela, sugando lentamente e afastando-me, desde onde ele cabia na minha garganta até o orifício uretral na cabeçorra, onde sorvia seu pré-gozo. Aquilo lhe dava tanto prazer que mal podia se controlar, erguendo o tronco a cada nova chupada. Foi durante uma delas que ele acabou gozando, mas ao invés de afastar minha cabeça como das outras vezes, ele simplesmente a segurou entre as mãos e deixou a porra fluir em jatos abundantes diretamente na minha boca. Eu os engoli, um a um, com um olhar ladino fixo em sua expressão de prazer e assombro. Homens são movidos pelos estímulos visuais e, nada podia ser mais significativo para ele do que me ver engolindo sua porra, num indubitável reconhecimento aceitação de sua dominância. Quando terminei de lamber a última gota viscosa de seu néctar viril, abri um sorriso doce de quem acaba de provar uma iguaria. Pensei que ele se daria por satisfeito com aquela gozada farta logo ao amanhecer, mas ele mal me deu tempo de ficar de pé, tomando-me pela cintura, deitou-me sobre a espreguiçadeira ao lado, fazendo cada uma das minhas pernas pender para fora, o que abriu meu rego. Antes de conseguir me ajeitar eu já senti a pica trespassando minhas pregas rotas, determinada e progressivamente, me fazendo gemer de dor e prazer.
- Vou ratificar uma das minhas promessas que fiz há pouco! Jurei que jamais te machucaria, mas nisso não está incluído esse cuzinho apertado, pois significaria abrir mão de todo prazer que você me dá. – sentenciou ele, arfando na minha nuca.
- Amo você Eduardo Carpentier! – gemi.
- Amo você Ricardo Sanders! – devolveu ele, quando seu membro já pulsava completamente entalado nas minhas entranhas e, suas bolas roçavam meu reguinho apartado.
Ao regressarmos ao Brasil, percebemos o quão difícil estava sendo ficar separados, embora eu continuasse a trabalhar com ele na empresa todos os dias. Havia sido um pedido dele durante a viagem. Como também havia imposto a condição de contar a todos na empresa do nosso envolvimento.
- Conheço muito bem aquela galera. Jogo futsal com eles uma vez por semana e, pelo menos dois deles já andaram fazendo comentários sobre o seu corpo, sua bunda e o jeito afetuoso com o qual trata as pessoas. Quer dizer, tem malandro só esperando a chance para te dar uma cantada. Eu quero que todos saibam que você é meu! – argumentou na época.
- Tudo bem! Concordo. Assim eles acabam dando um toque para aquele tal sujeitinho da empresa de manutenção de computadores, de que não adianta ele ficar se derretendo todo para o seu lado, de que você já tem quem cuide das suas necessidades. – afirmei.
- Quem? Aquele Henrique? Não sabia que ele se derretia por mim! – exclamou, disfarçando.
- Esse mesmo! Não se faça de sonso que não tem viva alma naquela empresa que não tenha notado com ele se desmancha para cima de você. É Eduardo para cá, Eduardo para lá, claro Eduardo eu mando meu pessoal verificar isso agora mesmo. Fora quando ele perde o fio da meada quando está falando alguma coisa e fica com o olhar fixo na sua rola. – afirmei.
- Meu ciumento gostoso, pega aqui, pega! É todinha sua, não se preocupe. – devolveu libidinoso.
Sempre havia aquele momento no qual cada um seguia para sua casa, o que significava deitar-se sem ter quem abraçar, sem sentir os afagos que suprimiam o cansaço do dia, sem ter um corpo quente onde se encaixar, sem ter com quem aplacar aquele tesão que surgia pela simples imaginação do que o outro estaria fazendo naquele mesmo instante. Havia sido com a ausência do Eduardo que eu descobrira que o amava. Acho que ele havia descoberto isso em relação a mim muito antes de eu me dar conta de que aquele sentimento que ardia em meu peito não era simples atração, um tesão passageiro, era amor verdadeiro.
- Estou ligando só para te desejar boa noite! – disse, recostado aos meus travesseiros.
- Deixa a janela aberta, vou aí, escalo a parede como um cavalheiro medieval só para cair nos teus braços.
- É tentador! Mas, não quero ver meu namorado estatelado lá embaixo.
- Então vem para cá, aqui não precisa escalar nada. Estou de pau duro!
- Meu cuzinho não para de piscar.
- Quero te comer!
- Quero sentir você dentro de mim. Eu te amo!
- Também te amo! São duas da madrugada, você não vai dormir?
- Desliga o telefone!
- Desliga você primeiro, foi você quem ligou.
- Desliga você. Queria estar nos teus braços.
Isso se estendia por horas, todas as noites, e só terminava quando um usava um pouco de bom senso e desligava o telefone, não sem que ambos continuassem a sentir aquele vazio dentro do peito que não se completava. A cada dia crescia essa necessidade de estarmos definitivamente juntos, termos nosso próprio canto, onde pudéssemos expressar livremente aquele amor que já não se conformava mais com essa distância.
Estamos dedicando algumas horas dos finais de semana procurando um lugar para morar. Aqui em casa a ideia ainda está sendo difícil de digerir. Na casa do Eduardo as coisas estão mais assimiladas. Não vejo a hora de ficarmos juntos, aninhados um no outro, deixando nosso amor dar sentido às nossas vidas. Eu, enfim, havia encontrado o macho dos meus sonhos, aquele macho cuidadoso, protetor, desejoso dos meus afagos, tarado pelo meu cuzinho, fissurado pelos meus beijos. Quando aquele seu olhar, transbordando de paixão, me encarava com a alma sorridente, eu me sentia um privilegiado, o ser mais abençoado desse mundo.