Entregue ao anônimo

Um conto erótico de Helo Camargo
Categoria: Heterossexual
Contém 1599 palavras
Data: 16/10/2018 04:37:21
Última revisão: 16/10/2018 04:45:45

ENTREGUE AO ANÔNIMO

Lá pelas 4 da tarde decidi convida-lo para sair, demorei para encontra-lo na agenda porque me esqueci de perguntar seu nome na primeira vez que o vi e salvei seu número de forma aleatória, só lembrava dos últimos dígitos. Quando encontrei, mandei uma mensagem de texto, ao que ele respondeu que estava do outro lado da cidade e que talvez não chegasse a tempo, mas que faria de tudo para estar em casa antes das 7 da noite. Eu sinceramente me senti estranha, não só por fazer um papel que não era meu, o papel de convidar, e sim por também receber um “talvez”, algo totalmente incomum para mim desde que me separei daquele traste do meu ex-marido. Aceitei a incerteza, convidei mais uma amiga e depois deixei o celular de lado. Iria sim sair naquela noite.

Eu estava atrasada outra vez, nada diferente dos outros domingos em que eu abria mão do marasmo da noite assistindo TV para enfrentar as ruas movimentadas do centro, já passava das 20 quando o avisei que iria passar para pegá-lo, ele apenas confirmou que estava aguardando, mas sua voz no áudio não demonstrava muito entusiasmo. Me perguntei o que ele tinha para me fazer querer sua presença, havia gostado da companhia dele pelos breves minutos em que pudemos conversar no primeiro dia em que nos vimos, seu senso de humor era algo que ultrapassava as barreiras da timidez com a qual eu já estava habituada, mas não o deixei saber disso. Queria que ele percebesse.

Parei no portão de sua casa perto das 21h, buzinei e o avisei pelo celular que já estava a sua espera, ele saiu calmamente, abriu a porta de trás do carro, se sentou, cumprimentou minha amiga e passou a mão no meu braço, dizendo baixinho ao pé do meu ouvido: “você é e está incrível”. Foram as únicas coisas que ele me disse na viagem inteira até o centro, tinha uma audiência no dia seguinte e estava conversando com sua advogada, não questionei e deixei as coisas como estavam, naquela noite, ele não estava tão interessado assim na mulher a quem chamou de incrível. Apenas aceitei e segui. No estacionamento, ele desligou o celular e disse que agora estava pronto para aproveitar a noite, arrumou a gola da camisa, passou a mão entre os cabelos e ajustou os óculos no rosto, me olhou dos pés à cabeça, disse que eu ficava ainda mais linda quando vestia branco e que o batom vermelho combinava perfeitamente com as linhas da minha bochecha. Nenhum homem me elogiava com tamanha delicadeza, e isso, nele, me atraía ainda mais.

Chegamos ao bar e ele tratou de pedir uma garrafa de vinho, a amiga que levei se enturmou na dança com outras pessoas dali e eu fiquei apenas mexendo os pés no ritmo da música que tocava, na esperança de ser chamada para dançar. Não demorou e fui mesmo, mas não por ele e sim por um cara alto e bonito que estava me olhando desde a hora que chegamos, tomei a taça de vinho e aceitei a dança com o estranho, afinal, eu estava ali para me divertir.

Uma música lenta começou a tocar e foi então que ele se levantou do seu lugar, pediu licença ao estranho e me tirou para dançar. Clichê, eu sei, mas confesso que adorei ter meu corpo colado ao dele por longos minutos enquanto ele pisava em meus pés porque claramente não sabia nenhum passo de dança e me convidou apenas para não deixar que um estranho qualquer ficasse tão próximo dos meus lábios como ele estava agora.

Depois da dança, confesso que só lembro de ser colocada no banco do passageiro e de vê-lo ligar o carro e me levar de volta para a casa. No caminho, ainda tonta pela quantidade excessiva de álcool, vi que ele, a todo tempo, me olhava com cuidado esperando que eu melhorasse logo dos efeitos da boemia. Deixou minha amiga na casa dela e seguimos para a minha. A medida que nos aproximávamos do fim da noite, minha lucidez voltava a morar em meu corpo e as coisas paravam de rodar. Quando chegamos, eu já estava completamente sã, mas me fiz de bêbada para que ele entrasse e ficasse. Ele não ficaria se eu estivesse bem.

Assim que colocou o carro na garagem, abriu a porta para mim e me abraçou, eu apenas correspondi e levantei para irmos para dentro. Seu respeito por mim era admirável, em nenhum momento aproveitou da condição que eu estava (ou fingia estar) para “tirar uma casquinha”. Chegamos ao meu quarto e eu, ainda abraçada a ele, o puxei para a cama, caímos como fruta madura e ele disse que eu estava muito bêbada, foi então que eu tive a ideia de pedir para ele me ajudar a tomar um banho, quem sabe assim o efeito do álcool fosse embora. Ele hesitou, mas logo cedeu, afinal, não havia outro alguém ali que pudesse me curar.

Fomos para o banheiro e ele ligou o chuveiro, tirou minha roupa com a maestria de um agricultor que recolhe delicadamente cada fruta boa do pé, fez-me arrepiar dos pés à cabeça apenas com o simples toque e eu não me preocupei em esconder o tesão que havia invadido meu corpo, deixei a encenação de lado e disse que o plano havia enfim dado certo, ele me olhou com uma devassidão que eu nunca tinha visto em olhar algum e, sem nem mesmo tirar sua roupa, me puxou para perto dele me fazendo estremecer, beijou meus lábios com vontade e fez da sua boca, instrumento para conhecer cada palmo do meu corpo, desceu pelo pescoço, parou no busto, encheu as mãos com meus seios e, com os lábios, acariciou os mamilos que há muito já estavam rígidos. Suas mãos agora passeavam pelo meu corpo fazendo com que cada pelo arrepiasse, não demorou para seus dedos encontrarem meu sexo e me levarem a loucura, eu nunca antes quis me entregar a alguém como naquele momento e ele parece ter percebido isso porque prolongava ainda mais a tortura fazendo-me implorar pela penetração. Tirou a bermuda e nem precisou me pedir, abaixei e peguei seu sexo com avidez, coloquei na boca como se estivesse sedenta e segui fazendo os movimentos que o enlouqueciam, quando eu olhava em seus olhos, percebia que ele estava viajando para um outro mundo, o mundo do prazer sem limites, e fiquei feliz por ser eu a motorista daquela viagem insana.

Desliguei o chuveiro e o convidei para ir para a cama, ele esticou a mão para que eu fosse primeiro e quando deitei, logo veio entre as minhas pernas e quando eu menos esperava, senti sua língua me penetrando, subindo e descendo, em movimentos ora calmos, ora frenéticos na intenção de me levar ao paraíso que eu esperava visitar, era incansável e persistente, sua boca parecia querer morar entre as minhas pernas e para isso percorria todos os lugares a fim de conhecer cada detalhe, não demorou para que eu a inundasse com meu prazer enquanto cravava minhas unhas imensas nas costas dele que parecia nem sentir dor alguma. Aquela foi a minha primeira viagem ao céu.

Com as pernas ainda trêmulas, pedi que ele deitasse e sentei com gosto sentindo fundo a penetração, ele gemeu e com as mãos me conduzia para cima e para baixo em movimentos ordenados, a expressão de prazer em seu rosto era gratificante e fazia meu tesão aumentar ainda mais, o que me induzia a ir cada vez mais rápido nos movimentos enquanto meu corpo chegava a temperaturas inimagináveis. 5 minutos depois eu havia gozado de novo, mas ele continuava firme e eu que não sou mulher de deixar o serviço pela metade, escolhi uma posição que eu sabia que o tiraria qualquer resquício de sanidade. De quatro.

Seus olhos arregalaram, como se não acreditasse no que estava vendo, mas isso não o inibiu, posicionou seu corpo atrás do meu e, de uma só vez, penetrou bem fundo fazendo-me sentir até mesmo um pouquinho de dor, mas nada que me fizesse parar. Eu rebolava meu corpo contra o dele fazendo com que não existisse espaço vago entre nós, os nossos gemidos já haviam virado a trilha sonora da noite enquanto nosso suor regava os desejos da luxúria, a velocidade dos movimentos aumentava freneticamente e comecei a sentir novamente o tremor nas pernas. Gozei de novo, mas dessa vez, não sozinha. Ele havia chegado o ápice do prazer enquanto se deixava entregar ao meu corpo que tanto havia o desejado. Caímos juntos, exaustos, satisfeitos.

Depois de longos minutos largados na cama, levantamos e fomos juntos para o banho, ele queria mais, mas eu não tinha mais condições físicas para continuar, estava esgotada, e muito mais que isso, realizada.

Voltamos para a cama e nos entregamos ao cansaço que nos consumia. Acordei tendo aquele homem como espectador, achei que a noite anterior havia sido um sonho, mas não por ele ser um Deus Grego ou um ator de Hollywood, e sim por ele ser, literalmente, o homem dos sonhos, cuidadoso, incrível e bom de cama.

Tomamos café juntos e prometemos nos ver mais vezes, ele beijou minha testa e saiu pela porta da frente me deixando com uma vontade inconsequente de ficar a vida inteira deitada naquela cama fazendo amor e falando besteiras. Um homem que, desde o início, me chamou a atenção por não ser só um homem e sim por ser aquele homem.

O homem do qual eu nunca esquecerei e de quem nem mesmo sei o nome.

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Belíssimo conto, redigido com um misto de libido, desejo, elegância, estilo e alma. Elementos muito raros de se encontrar juntos nas narrativas eróticas! Relato que delineia a natureza simultaneamente romântica, sedutora e hedonista de sua narradora - com certeza, mulher com "m" maiúsculo.

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