O movimento do Volkswagen 1300, de 1969, de um vermelho brilhante, com seus acessórios cromados, reluzentes à luz do sol daquele inicio de tarde, distante já na memória, idos dos anos de 78, impecavelmente obrigava-lhe a segurar sua irmã menor no colo para que não tombasse sobre os demais passageiros naquela viagem ao Sítio Capoeira, dos tios de sua mãe e de sua irmã mais velha, Tia Dita, como era chamada por ele e suas irmãs. Entretanto, numa viagem onde seu pai ao lado do motorista, sua mãe e as quatro irmãs, no banco traseiro, mais ele, de cerca de 80 quilômetros numa estrada insinuosa, de altos e baixos, curvas bem fechadas, com uma velocidade assustadora obstante toda a perícia no volante do chofer do táxi, já esgotara toda a paciência e sua capacidade de dissimular o desconforto que era sua irmã dois anos mais nova, de vestido, roçando a bunda sobre seu membro. Não conseguia fazê-lo sossegar, ereto, extremamente dolorido. Propositalmente, percebia que sua irmã remexia a encaixar o volume entre as coxas. Com oito passageiros dentro do veículo, tremiam-lhe todos os poros temendo ser percebido na sua situação anômala. Quando sozinho com a irmã, não tinha pudor de ficar roçando por trás dela, nem mesmo de abaixar-lhe a calcinha e ficar encostando o pinto na carne macia e quente. Afinal de contas, sua mana era a única por perto que atendia passivamente seus ensejos sexuais. Era com ela a realizar os “aprendizados” dos amigos na escola. Toda a inocência nos primórdios da adolescência numa era bem mais simples que a atual.
Finalmente, chegaram ao sítio. Cido, abreviatura de Aparecido, ficou por último deixando todos saírem do Volks. Sua artimanha para que o volume no calção abaixasse. Por medo, colocou a mochila à sua frente ao sair do interior. Assim que teve certeza da sua normalidade, foi só festa a recepção. Os Tios-avôs, a irmã de sua mãe, Tia Dita, e um primo, filho da prima mesmo, filha da Tia Dita, Carlinhos. Como tradição da família, na segunda semana de dezembro, ficavam vários dias na roça, aproveitando a vida pacata do sítio, a vida junto a uma fazenda de engenho de cana, um alambique, o prazer das frutas no pomar, do caldo de cana, da pesca e da gostosa presença roceira dos parentes.
Final da tarde todos já tinham sido acomodados aos seus cantos para dormirem. Uma regra da casa justamente era dormir bem cedo, acordar mais cedo ainda. Quanto a dormir, muito, mas muito difícil mesmo. Cedo, com cheiro de café, de bolo no forno de lenha, do próprio fogão de lenha, indescritível o prazer. Os pais e as irmãs, as quatro, foram alojadas no quarto da Tia Dita. Essa na presença de todos ficaria junto a um quartinho improvisado na entrada da porta do banheiro. Os “velhos”, os tios avós, no quarto dele mesmo. Quanto aos jovens rapazinhos, na sala, em um colchão de casal. Sem poder manifestar-se, Cido acatou com a fisionomia carrancuda. Em seu íntimo, dormir cedo, colchão de casal, o primo junto, não agradou. Para completar, quando do banho, pela constante queda de energia elétrica e precariedade d’água, eis que Carlinhos e Cido juntos na ducha. Os dois pelados, ensaboando-se, na ducha. Com certeza foi o banho mais rápido e constrangedor do adolescente.
Como não deveria ser ao contrário a turma de criança algazarraram ao que podiam, sempre com as represálias dos pais e da tia pouco antes da janta e logo após essa, ainda na sala, assistindo televisão na Rede Globo, na novela das sete da noite, depois o Jornal Nacional e a novela das oito horas. O casal patrono da casa, na bagunça, sentiam mais felizes do que normalmente. Realmente tornavam as balbúrdias infantis um motivo de alegria quebrando o rigor da casa, do silêncio da roça, da calma vida de sitiante.
Algo em torno das nove da noite, um vento forte em um taquaral próximo a casa, fez um sussurro gostoso ao que assustador. Assemelhava-se a um pio de coruja prolongado e mais grave. Como a não dar sinais de medo, estufou o peito, num gesto de herói a desafiar o monstro que pudera aparecer. Carlinhos soltou-se em risadas. As meninas, pelo claro fato de delicadas e frágeis, murmuram palavras de medo, de covardia. Uma encolhendo na outra. Tia Dita, senhora de si, impávida, lançou-se a explicar o som e convidou todos para saírem ao terreiro. Pela sua presença à frente, lá foram todos na noite escura seguindo-a. Caminharam pelo terreno até a cerca de onde deslumbrava a estrada de terra e um portãozinho. Passaram por esse aproveitando a claridade da lâmpada no alpendre da sala chegando finalmente ao taquaral oscilando ao gosto do vento, provocando o barulho outrora assustador. Tia Dita jovialmente mostrou com os braços abertos, num movimento abrangedor de um todo, da noite, das taquaras, do vento, não haver motivos para medo. Ao fazê-lo, sobrerguendo-se nos pés, com sua camisola a altura dos joelhos, deixou entrever algo a mais das coxas tão brancas a tão parca claridade. Aquele adolescente teve em sua memória a imagem da prima naquela tarde deitada com sua enorme bunda, coxas grossas, a de ver pela fresta do vitrô sua irmã tomando banho, o de entrar na casa do amiguinho e deparar-se com a mãe dele só em peças íntimas. Sentiu avolumar entre as pernas o pinto.
No percurso da volta Cido fez-se presente atrás da tia, reparando com uma estranha obsessão o corpo dela, de estatura baixa, as pernas grossas, as panturrilhas carnudas, a bunda volumosa. Estranhamente algo tomou de si a olhar a irmã de sua mãe, sua tia, com olhos de pecado, de luxúria. Era errado esse pensamento, concluía em si mesmo, porém, quando olhava sua irmã Rita, não estava em constantes peripécias em atender às fantasias da adolescência, do que os amigos e colegas de escola tanto declinavam das meninas? Não o era um contumaz pecador? A carne não falava veementemente das vontades enraizadas no seu coração, pensamento?
Como regra determinante não bastou dez da noite para todos estarem deitados em seus devidos cantos. Pelas visitas, a luz da cozinha foi mantida acessa, por ser a mais fraca da casa e caminho obrigatório ao banheiro. O silêncio assustava. Som do vento no taquaral, agora bem desvendado, de grilos, de sapos coaxando ao longe, dos roncos dos que dormiam, o barulho de algum motor perdido, ajudavam a causar uma irremediável insônia em Cido. O calor começou a perturbá-lo. Agora, pernilongos. De repente, Carlinhos tomando todo o espaço no colchão. Estirou-se sem importar com o primo, virando-se em decúbito ventral, permanecendo assim. A claridade pelo vão da porta entre a sala e cozinha, deixava ver com clareza o jovem adormecido. Cido olhou. Não conteve o volume. O calção de seu primo, um tanto que apertado, deixou sua bunda redonda, volumosa, gostosa, mais ainda pela posição que encontra-se com ela pra cima, coxas quase juntadas. Nada mais para atrapalhar o sono poderia surgir.
Não poderia determinar o quanto adormecera, mal sentindo que o fizera, mas o canto da coruja junto à porta, aquele pio, despertou-o. Poderia até dizer que conversava com outra, pois, ao um piado lá vinha outro ao longe. Então, a vontade de urinar. Sentiu-se estranho na quietude de todos, no ressonar alto dos roncos, a total solidão de sua presença quando se levantou do colchão. Carlinhos agora estava de lado, em forma de “colchinha”. Com certeza a luz na cozinha facilitava chegar ao banheiro. Após aliviar-se, lavou as mãos e saiu deparando com a cortina onde a Tia Dita dormia. Por uma fresta, por onde a claridade invadia o quartinho, avistou a panturrilha branca, carnuda e a sola. Esgueirou-se nas pontas dos pés à cortina, observando atentamente o interior. A camisola levemente erguida mostrava mais das coxas grossas, bem roliças, a posição que a mulher achava-se denotava uma sensualidade pecaminosa. Sua respiração ofegou-se. A excitação foi imediata. Voltou para sala, mais acordado do que antes.
Por mais que levasse o pensamento a situações desinteressantes, banais do dia-a-dia, o desejo sexual não aprazava dando um incomodo desigual piorado pelas circunstâncias. Uma luta em seu interior, entre o pecado e a virtude, o desejo e o tabu, o sentir e omitir a vontade dominava-lhe em todos os poros. A angústia era não saber como aliviar toda essa tensão dentro de si e principalmente no endurecimento do membro, dolorido, tanto o sangue acumulado nas veias cavernosas. Víamos em sua atitude, comportamento, a inocência do sexo, a imaturidade, a inexperiência. Cido não imaginava uma forma de atingir a plenitude satisfazendo-se e com isso sossegando o corpo, a mente, o coração. Sejamos verdadeiros, nada sabia do orgasmo, menos ainda da masturbação. Em seu pequeno conhecimento, era algo bom, eletrizante, algo anormal. Em algumas noites acordou sobressaltado com uma sensação que contraia os músculos do corpo e fazia do seu pinto escorrer um caldo branco. Sempre associado a mulher, nunca uma específica mulher. Levantou-se para ir ao banheiro de novo. Não ao banheiro, contudo, à fresta da cortina.
-“Não fico grudando na Rita, minha irmã, quanto não em olhar a minha tia!” Refletiu na sua atitude justificatória para espionar na cortina.
Vislumbrou o corpo coberto por um lençol, de lado, com as costas para a cortina. Aquele ímpeto serenou. Todavia, por uma conspiração dos desejos, eis que a mulher esticou uma perna, descobrindo o pé. Fora suficiente para acender um desejo. Cautelosamente passou pela cortina parando acocorado ao lado da cama. Com as pontas dos dedos descobriu-a o suficiente para olhar com admiração e desejo as coxas brancas, tão macias, carnudas mesmo. Dobrou-se em joelhos baixando o lençol enfiando a mão por baixo, tocando levemente nas coxas, na quente e macia a carne de sua tia. Um toque das pontas dos dedos, medroso, assustado. Deslizou-se ajoelhado aos pés, inexplicavelmente atraindo-o. Descoberto, fixo em seu olhar, baixou o rosto mesclando entre uma suave caloria e um odor de sabonete. Sua boca tocou a sola e passou a língua nelas. Timidamente pousou a palma da mão sobre o dorso dos pés acarinhando-os. Com os lábios entre abertos, mordiscou a carne. Mantendo os lábios pressionados nos pés, com as mãos levantou a coberta, avistando por inteiro o corpo da tia de lado. O fascínio da visão causou-lhe uma dor no pinto, um volume mais do suportável. Doía-lhe tudo. Toda a fascinação tornou-se realidade ao movimento da tia. Ainda ajoelhado passou para fora da proteção da cortina, só levantado de vez na soleira entre o corredor e a cozinha. Afastou-se para a sala, deitando, cobrindo-se todo assustado, temeroso, qual quem seria condenado por um delito muito grave, esculachado por todos.
Com os minutos passando, a calma estabelecendo em sua alma, Cido suspirou aliviado e comprometido consigo mesmo em nunca mais fazer algo semelhante. Os minutos de prazer não fora suficiente para os de desespero em ser flagrado ou ter sobre si dedos em riste apontando-o como culpado de “coisas sujas”. O sono começou a acalentar seus olhos, um alívio por tudo, conseguiria finalmente a paz. Mero engano. Carlinhos remexeu-se todo, jogando-se para o lado do companheiro de colchão. Cido viu-se definitivamente acuado pelo corpo do primo, de lado, oferecendo sua bunda. Objetivou inicialmente incomodar o primo colocando-se de lado também, bem atrás, colando-se à bunda do Carlinhos. Tocando-o, as pernas nuas dos dois, as coxas macias, o calor, a ereção ocorreu com uma gostosa sacanagem. Agora em vez de fugir do contato, buscou segura-lo pela cintura, trazendo-o mais contra o seu pinto duro. Jogou a perna sobre as pernas do primo aconchegando seu pinto à bundinha, com a mão direita prendendo-o na linha da cintura e a esquerda no pescoço. Começou esfregar-se cadencialmente empurrando seu peso ao corpo do Carlinhos. Eis que aquela sensação que algumas vezes o acordara subitamente na madrugada começou surgindo do nada, comprimindo mais e mais os corpos. Apertou fortemente seu corpo ao do primo quanto sentiu um apogeu naquele sentimento. Verdadeiramente seja dito que forçou tanto seu peso ao do passivo parceiro, que fez deitar-se de bunda para cima, esticando-se na cama. Quando tomou-se por si, estava deitado sobre o primo, esfregando-se freneticamente, num gozo alucinante.
Lentamente deitou-se de lado colocando-se ambos bunda com bunda, em silêncio. Olhando-os agora apenas tínhamos dois jovens adormecidos, inocentes de tudo, felizes com suas vidas ainda precoces. Por outro lado, Cido manuseava o pinto amolecido, porém molhado, sentindo-se saciado e deslumbrado pela descoberta que fizera nessa madrugada e Carlinhos curioso em saber o que fora tudo aquilo, aquela esfregação em sua bunda.
Ambos foram acordados por volta das seis horas pela Tia Dita, chamando-os para tomarem café com leite e comer um pedaço de bolo de fubá cremoso recheado de erva doce.
-“Vamos depressa, seus Preguiçosos! Depois do café vamos pescar.”
Sentindo-se o jovem adolescente mais feliz do mundo, olhou sorridente para a tia e ao primo. Estava tudo normal. Chegou a pensar que tudo fora um sonho. Apenas não se fiou por reparar no calção do primo uma mancha escurecida.