Uma nova chance
Já haviam se passado quase dois anos aquela tarde de inverno quando a recepcionista da clínica veterinária me chamou ao telefone dizendo que um policial queria falar comigo. Eu ainda me lembro de cada uma das frases que troquei com ele e, do que aconteceu depois.
- Senhor Hughes? Senhor, Mark Edward Hughes? – a voz do outro lado era cautelosa, mas firme.
- Sim. Sou eu, Mark. Do que se trata? – a princípio, pensei que talvez fosse o dono de algum dos meus pacientes, pois alguns não queriam falar com a recepcionista.
- Senhor Hughes, o senhor conhece o senhor Simmons, Jeffrey Simmons? – inquiriu a voz, que se identificou como policial rodoviário do Estado de Maryland. Por uma fração de segundos a imagem que eu via através da janela da recepção da clínica se tornou um borrão escuro.
- Sim, conheço. Jeffrey é meu ... O senhor Simmons é meu amigo, por quê? – O Jeffrey havia pego a interestadual 68 naquela manhã rumo a capital de Ohio, Columbus, para assinar um contrato com um cliente. Despedimo-nos com um longo beijo debaixo dos flocos de neve que caíam sobre nossas cabeças. Logo que pronunciei o por quê, me arrependi de tê-lo feito, pois aquela ligação não podia ser boa coisa e, eu não queria ouvir o que o policial tinha para me dizer.
- O senhor poderia me fornecer o número de telefone de um parente do senhor Simmons? Pais, irmãos, a esposa? – continuou o policial.
- Os pais do Jeffrey estão na Europa numa viagem de férias. Ele não tem esposa. Posso saber do que se trata? – respondi.
- Encontramos seu nome na lista de favoritos da agenda do celular do senhor Simmons, por isso meu contato. O senhor Simmons sofreu um acidente na interestadual 68 próximo a Cumberland por volta das onze horas desta manhã. O Toyota Highlander que ele dirigia foi jogado fora da pista e prensado pelo mesmo caminhão que o atingiu contra um paredão rochoso da rodovia. Lamento informar que o senhor Simmons morreu antes do socorro chegar. – a cada palavra que o policial pronunciava meu coração se comprimia. Precisei me debruçar sobre o balcão da recepção para não cair, pois minhas pernas, de início trêmulas, já não conseguiam suportar o meu peso. A Debie me encarava espantada, vendo minha fisionomia tornar-se cada vez mais lívida e pesada.
- Ele está m.... ? – eu não consegui pronunciar a palavra, se o fizesse morreria ali mesmo.
- Lamento! O senhor poderia vir até a chefatura de polícia do condado de Cumberland, ou enviar alguém para tratar desse assunto? É só mencionar o caso que o senhor será instruído como proceder. – a voz dele tornara-se lúgubre.
- Sim! Eu, eu posso sim. – balbuciei, enquanto as lágrimas pingavam dos meus olhos sobre o balcão.
- Estaremos esperando. Muito obrigado por sua atenção. Tenha uma boa tarde, senhor Hughes!
- Ok! Grato. – aquela foi a tarde mais triste e sofrida da minha vida. Eu demorei um tempo para perceber o que acontecia a minha volta. De repente, nada mais fazia sentido. Eu só via aquele rosto amoroso com um enorme sorriso me mandando um beijo pela janela do carro, antes de desaparecer atrás da faia na calçada da casa vizinha, naquela manhã.
Eu desabei sobre a mesa do meu consultório. Um choro convulsivo explodiu do fundo da minha alma. Eu balbuciava Jeffrey, Jeffrey, Jeffrey, na tentativa de fazer com que as palavras do policial deixassem de martelar na minha cabeça. Mas, pouco a pouco, elas foram se tornando realísticas, pois os telejornais começavam a noticiar o terrível acidente que envolvera mais cinco veículos e produzira um total de nove mortos, em meio à nevasca que atingira a rodovia, entre eles o único e grande amor da minha vida.
Meu irmão dirigia o carro em direção a Cumberland, pois eu era incapaz de discernir o que era realidade e o que era o sonho de toda uma vida desfeito como um amontoado de folhas levado pelo vento. Eu seguia calado e ensimesmado ao lado dele, enxugando uma ou outra lágrima de vez em quando. Meus pais estavam fazendo contato com os pais do Jeffrey na Europa para dar a trágica notícia. Eu não sabia se sobreviveria ao ver o corpo do Jeffrey e, toda vez que essa preocupação ocupava minha mente, eu começava a chorar. Eu já não sabia mais viver sem ele. Assim que me identifiquei na chefatura da polícia, alguns agentes que trabalhavam junto as suas mesas me encararam com uma solidariedade dolorosa. Fizeram o mesmo, logo em seguida, quando um casal também perguntou por outra vítima do acidente. A cidadezinha toda estava envolvida em comoção diante da tragédia. Quando descemos por uma escada que levava ao porão do edifício anexo eu já sabia onde ia dar aquele corredor comprido, quase sem portas, iluminado por uma sequência de canaletas onde uma ou outra lâmpada fluorescente estava apagada ou piscava tentando manter-se acessa. Cada um dos meus passos se tornava mais curto que o anterior e, eu começava a me distanciar do policial e do meu irmão que seguiam a minha frente, como se não quisesse chegar lá nunca. O policial nos conduziu para dentro de uma sala grande e quadrada, onde reinava um silêncio respeitoso. Um funcionário uniformizado veio nos receber. O policial citou o nome do Jeffrey e o funcionário pediu que o acompanhássemos. Entramos noutra sala por meio de uma porta larga, tipo vaivém, revestida com chapa de aço inoxidável, a temperatura dela era sensivelmente inferior à outra e, eu precisei cruzar os braços sobre o peito, pois havia deixado minha jaqueta no carro. Aproximamo-nos de uma parede repleta de gavetas, o funcionário puxou para fora a que tinha uma sequência de números separados por uma barra e as letras JS, mais uma barra e a data February 24, 2015; no mesmo instante identifiquei a cicatriz obliqua na perna direita ao redor da qual não cresciam pelos e, que era o remanescente da adolescência inconsequente que o Jeffrey passou disputando corridas de motocicleta. À medida que todo o corpo se revelou, de um branco marmóreo e extremidades arroxeadas, senti como se alguém apertasse um espartilho ao redor do meu peito. Os pulmões não conseguiam se expandir para deixar o ar entrar.
- O senhor está bem, senhor Hughes? – questionou o funcionário. Eu acenei com a cabeça e senti que meu irmão pegou firme no meu braço, temendo que eu me estatelasse no chão.
Eu peguei na mão gelada do Jeffrey e senti a rigidez de seus dedos. Deslizei minha mão pelo rosto imóvel e sem expressão dele. Tive vontade de gritar, mas só consegui chorar.
- Por quê? Por quê? O que vou fazer sem você? – balbuciei.
O policial que havia se postado rente à porta tossiu discretamente depois de algum tempo, para nos lembrar de sua presença.
- Venha mano! Temos que ir. – disse meu irmão, que passara seu braço sobre meus ombros.
- Vou pedir para o senhor assinar uns papeis que estão sobre a minha mesa, senhor Hughes e, o senhor está liberado. – disse o policial.
Três dias depois, numa manhã gelada enquanto caíam esparsos flocos de neve, com os pais desolados do Jeffrey ao meu lado, vi descer o esquife numa sepultura do Old Saint Pauls Cemetery em Baltimore. Ali também sepultei meus sonhos e, uma parte de mim mesmo. O que restou do lado de fora era apenas um corpo que se movia por inércia, sem essência, sem desejos, sem perspectivas.
Decorridos esses quase dois anos, eu seguia meu ritmo de vida, mesmo não sentindo haver alguma vida dentro de mim. Pensei em desistir da clínica, mas precisava me sustentar. Eu não iria viver à custa dos meus pais àquela altura do campeonato. No entanto, tudo ao meu redor não fazia mais sentido. Nossa casa tornara-se pequena e opressiva, a cidade já não preenchia meus vazios, as pessoas me faziam lembrar o Jeffrey, nossa cama já não conseguia me trazer aquele calor que embalava meu sono de outrora. De alguma forma, eu precisava ir de encontro ao Jeffrey. E, quando eu mencionava essa necessidade, todos, a minha volta, se preocupavam com essa possibilidade, pois desde aquele dia eu havia me transformado noutra pessoa, que ninguém mais reconhecia.
- Vou vender a minha parte na clínica e me mudar para o Óregon. – disse certa manhã de domingo à mesa do desjejum, quando meus pais e a família do meu irmão estavam reunidos.
- Não faça isso, Mark! Você não pode continuar com essa obsessão! Você precisa aceitar os fatos, o Jeffrey se foi, mas você continua aqui e, precisa reconstruir sua vida. Você é jovem demais para se entregar dessa maneira. Não vai ser mudando para onde ele nasceu que você vai conseguir superar a perda dele. – ponderou meu pai.
- Isso é loucura, mano! O que você vai fazer no Óregon? Não tem nada lá, a não ser florestas, pradarias desertas e cidadezinhas esquecidas pelo resto do mundo. – afirmou meu irmão.
- Vou fazer o mesmo que faço aqui. Porém, estarei mais perto dele, da energia que vibrava em seu corpo, da alegria que trazia consigo e, das lembranças que ele me contava quando ficávamos a sós, sentados com as pernas entrelaçadas no sofá lá de casa. – argumentei.
- Isso só vai te machucar mais ainda! Fugir não é a solução. Talvez você precise da ajuda de um profissional para superar a morte dele. Não quero que você viva longe de nós. Quem é que vai te socorrer se acontecer alguma coisa do outro lado do país? Não nos dê essa preocupação. – disse minha mãe, chorosa.
Amadureci a ideia enquanto negociava minha parte da clínica com os outros dois colegas, mas a decisão estava tomada e, não ia desistir dela. Eu estava disposto a morar em Klamath Falls, uma cidadezinha de vinte e poucos mil habitantes no condado de Klamath onde o Jeffrey nasceu e, eu queria pisar o mesmo chão que ele pisou. Inconscientemente, talvez eu estivesse procurando uma maneira de estar mais próximo dele. Em contato com algumas imobiliárias da região acabei encontrando uma casa na Front Street à beira do lago do qual o Jeffrey me fizera milhares de relatos e, que no meu imaginário, eu já conhecia como se tivesse trilhado com ele as suas margens e arredores. Seria uma maneira de estarmos juntos novamente. Quando ele entrava em mim com toda aquela ânsia e tesão, expresso pela ereção colossal que se alojava na mais íntima e profunda região das minhas entranhas e, se satisfazia me dando o prazer mais sublime que um amante pode receber de seu parceiro, ele não apenas inoculava seu esperma viril em mim, ele injetava vida no meu corpo e, era atrás disso que eu precisava ir, atrás de vida.
- É uma pena que o senhor não vá acompanhar o crescimento dos filhotes, doutor Hughes. O Jerry e eu já estávamos tão acostumados com o seu jeito carinhoso de tratar a Bitsy que vamos sentir muito a sua falta. Você também vai, não é Bitsy? – mencionou uma cliente que trazia seus cães à clínica desde o dia em que a inauguramos e, para a qual eu havia feito a cesárea de sua cadela Airedale Terrier, há questão de uns três meses e, desde então vinha fazendo o acompanhamento vacinal da ninhada.
- Não se preocupe senhora Larson, meus colegas vão cuidar muito bem dessa nova mamãe e de seus filhotes. Garanto que estarão em boas mãos. – consolei-a.
- Não duvido disso, só que nenhum deles é tão carinhoso quanto o senhor. Para lhe agradecer por toda a devoção queremos que fique com esse danadinho aqui. – disse, colocando em minhas mãos um dos filhotes. – O que você acha Bitsy, não vão formar uma bela dupla? – acrescentou, acariciando a cadela que pulou em mim e lambeu o filhote que se agitava nos meus braços.
- Não posso aceitar, senhora Larson! Vocês não me devem absolutamente nada. – retruquei.
- Ficarei muito sentida se o senhor se recusar! Eu sei que ele vai lhe dar um trabalhão, pois é o mais espevitado da ninhada, mas vai lhe trazer muita felicidade também. – afirmou, numa espécie de premonição, mantendo-se firme em sua decisão.
- Muito obrigado, não vou desapontá-la! Pode ter certeza de que vou cuidar muito bem dele. – garanti.
- Eu sei disso, meu querido! Eu sei disso.
Cheguei em Klamath Falls no outono. Como eu suspeitava pelas fotografias que a imobiliária me mandou, a casa era um pouco grande para as minhas necessidades, mas estava em ótimo estado e me encantou assim que entrei nela. Barganhei um pouco e acabei fechando negócio com o jovem casal cujo bebê ainda não completara um ano de vida e, que estava louco para se mudar para uma cidade mais agitada. Minha mudança ainda levaria uma semana para cruzar o país e, nesse período hospedei-me num hotel cujo dono, antigo morador da cidade, me forneceu uma série de informações úteis e outras tantas estórias só para ter com quem conversar. Dentre as informações úteis, ele me disse que havia uma clínica veterinária que talvez me interessasse, pois o proprietário tinha sofrido um AVC e, já não podia mais cuidar de seus pacientes de quatro patas. Fui procura-lo no dia seguinte, sua esposa me mostrou a clínica abandonada havia alguns meses, mas em condições de ser recuperada, graças aos contatos que ela se prontificou a resgatar para mim, caso eu me interessasse pela compra. A aquisição da casa havia consumido boa parte das minhas reservas financeiras e, eu não poderia arcar com todo o valor da compra da clínica sem a ajuda dos meus pais.
Assim que terminei de instalar minha mudança e alguns móveis que havia adquirido, recebi um telefonema do meu pai com uma grata surpresa.
- Os pais do Jeffrey perguntaram por você, queriam saber se você tinha chegado bem e, se havia gostado do lugar. Eles vieram jantar conosco ontem e nós mostramos as fotografias que você postou. Também comentamos sobre a clínica e que iríamos te enviar o dinheiro necessário para compra-la, mas aí o pai dele disse que queria que você ficasse com a casa onde vocês moravam e, que tinha sido um presente deles para o Jeffrey. Eles disseram que iam te ligar para acertar os detalhes burocráticos, mas que se você quisesse, eles venderiam a casa e te enviariam o dinheiro. – revelou meu pai.
- Não sei, pai! O que você acha?
- Essa decisão deve ser sua. A parte que lhe falta para comprar a clínica eu te dou, não se preocupe com isso. Mas, converse com eles. Sua mãe e eu sentimos que eles estão muito carentes com a morte do filho e com a sua partida. Acho que eles contavam ter você ao lado deles para amenizar um pouco a perda do único filho. – argumentou.
- Eu vou amá-los para sempre, pai! Eles sempre me trataram como um filho e, sei que sabiam do meu amor pelo Jeffrey.
Era um daqueles sábados frios de outono com uma garoa persistente quando uma senhora de cabelos grisalhos e sua filha bateram à porta da clínica com um Dachshund de olhar assustado no colo. Eu tinha aproveitado aquela manhã para pintar, eu mesmo, algumas paredes e economizar com a mão de obra, além de adiantar a pequena reforma que fiz antes de abri-la oficialmente.
- Ainda bem que a clínica reabriu! O doutor Sandfor pode nos atender? – perguntou a filha, um pouco aflita com o cãozinho que se agitava em seus braços.
- O doutor Sandfor não está mais clinicando. Ainda estamos em reforma, mas posso dar uma examinada se vocês não se importarem. – respondi. Ambas se entreolharam desconfiadas com a minha aparência num jeans surrado e camiseta com respingos de tinta.
- O senhor é veterinário? – questionou a senhora. No mínimo, ela me tomou por um empreiteiro.
- No momento posso não parecer, mas sou sim. Meu nome é Mark e pretendo abrir a clínica dentro de duas semanas, assim que terminar de ajeitar algumas coisas. – esclareci. – Pelo que vejo não se trata de nada complicado e, mesmo no meio dessa bagunça, posso dar um jeito no focinho desse rapazinho aí. – emendei, constatando que o focinho do cachorro estava repleto de espinhos liberados por um porco-espinho.
- Ele é bem danado, doutor! O doutor Sandfor já o conhecia por suas travessuras. O senhor se mudou para cá recentemente? – perguntou a mulher enquanto eu ia extraindo um por um aqueles espinhos encravados ao redor das bochechas do cãozinho que, subitamente, havia se tranquilizado assim que percebeu que eu o estava aliviando daquele sofrimento.
- Sim, eu clinicava em Baltimore. Estou na cidade há apenas algumas semanas. Pronto! Acho que é isso. Você quase depenou o porco-espinho, não foi? São vinte e dois espinhos. É bastante para um focinho tão pequeno. Acho que aprendeu a lição, não se meter mais com um bicho dessa espécie. – afirmei, ao terminar meu trabalho.
- Não se fie muito nisso! Ele não pode ver alguma coisa se movendo entre os arbustos que já vai caça-la. – replicou a senhora. – Quanto lhe devemos, doutor?
- Por hora, nada! Agradeço por confiarem em mim no meio dessa bagunça. Apliquem o spray antisséptico conforme prescrevi para evitarmos alguma contaminação. – respondi.
- Eu é que lhe sou grata! O senhor é muito gentil, além de ser um belo rapaz! Algo me diz que sua clínica fará muito sucesso. – retrucou ela, um pouco atrevida e ousada.
De fato, o primeiro mês de funcionamento me deixou bastante animado. Além dos antigos clientes que o doutor Sandfor me recomendara, alguns novos fizeram com que eu fechasse o mês bem acima das minhas expectativas para uma cidade pequena como Klamath Falls. Consegui até recontratar a antiga recepcionista do doutor Sandfor, uma viúva cujos filhos haviam se mudado para a capital e, que encontrava no emprego uma forma de distração. O bom dela era que conhecia boa parte dos clientes e, ao final do dia quando trocávamos umas palavras antes de fecharmos a clínica, ela me fazia um pequeno relatório da vida de cada um deles.
- Doutor, está aí um homem que gostaria que o senhor fosse examinar uma égua na fazenda dele. Já vou adiantando que nunca o vi por aqui, mas não me parece um mau sujeito! – afirmou a senhora Emma, o que me fez rir de seu jeito direto e despojado.
- Deve haver algum veterinário mais apto por aqui para lidar com cavalos. Eu não trato de um desde os tempos da faculdade. Não tínhamos animais desse porte em Baltimore. – retruquei. – Vou conversar com ele, mande-o esperar um pouco.
- Ok! Ele me parece um pouco aflito. – acrescentou ela.
Era quase dezoito horas, horário em que fechávamos a clínica e, eu me preparava para explicar que não me sentia apto a cuidar de um cavalo quando me dirigi até a sala de espera. Assim que abri a porta do corredor dos consultórios e entrei na sala de espera, um homem com um metro e noventa de altura, uns cento e tantos quilos, talvez com trinta e poucos anos levantou-se apressado, colocando no chão um garotinho de uns três anos de cabelo loiro e espigado, que estava sentado numa de suas pernas, e caminhou na minha direção, apertando minha mão entre a sua com uma força desproporcional. O Becks correu direto na direção do garotinho e começou a lambê-lo com alegria; esse não perdeu tempo em correr com ele pela sala. Incrível como os filhotes de qualquer espécie são capazes de interagir livres de qualquer pudor.
- Estou com uma das minhas éguas em trabalho de parto há algumas horas e, parece que as coisas não estão correndo muito bem. Preciso de sua ajuda, por favor. – desatou a explicar.
- Bem! Eu ia justamente lhe explicar que não atendo um animal de grande porte desde a faculdade. Talvez fosse melhor o senhor procurar alguém com mais experiência. – esclareci.
- Não temos outros veterinários na região. As outras duas clínicas da cidade são de veterinárias e, ambas só atendem animais domésticos. O veterinário mais próximo está a mais de 150 milhas e, me disseram que ele está fora da cidade onde clinica. Por favor, preciso que me ajude! É a égua preferida do meu filho e, ele está na expectativa de ver o potrinho. – explicou, me deixando num beco sem saída. – Eu o levo até a fazenda e o trago de volta, não se preocupe. – emendou. Desde que aquele par de olhos encontrou os meus eu senti um tremor instigante e, agora eles me encaravam de uma maneira que ia muito além daquele pedido.
- Vou fazer o que posso! Mas, vou ser muito sincero. Se eu constatar que não sou capaz de lidar com a situação, vou deixar isso bem claro, estamos entendidos? – eu receava pelas consequências.
- Concordo! Mas, me ajude, é tudo que lhe peço. – ele até então continuava a segurar minha mão entre as dele e, isso me deixava embaraçado, pois confesso que desde a morte do Jeffrey nunca mais tinha visto um homem lindo e másculo como aquele, nem ao menos reparado nalgum.
A fazenda ficava a umas 38 milhas da cidade, num vilarejo chamado Pinehurst, depois de enveredarmos pela sinuosa OR66-E que serpenteava entre as montanhas da cordilheira Cascate cobertas por uma floresta de abetos e carvalhos. Levamos quase uma hora para cobrir o trajeto numa velocidade que o Keelan desesperadamente mantinha acima dos limites apontados nas placas ao longo do caminho, fazendo os pneus chiarem nas curvas mais fechadas, enquanto o final de tarde caía dando lugar a um crepúsculo que descia do topo dos morros junto com uma neblina densa. As nuvens carregadas prenunciavam um temporal prestes a desabar. Os faróis da GMC Sierra 1500 Denali iluminaram as portas corrediças do estábulo de pedras ao lado do riacho por onde as águas corriam ligeiras entre o fundo pedregoso. Ele desceu e tirou o garotinho que havia caído no sono da cadeirinha no banco traseiro, adiantou-se apressado a minha frente abrindo a porta do estábulo e me levando até a baia onde a égua tentava parir, emitindo relinchos agudos de dor e agonia, ao lado de um funcionário apreensivo que procurava acertadamente manter a égua em pé.
Com a ajuda do funcionário e do Keelan fizemos uma rigorosa higienização do períneo da égua, para que eu pudesse fazer o exame obstétrico interno específico com o objetivo de avaliar as condições de dilatação e lubrificação do canal do parto e, estimar a viabilidade e estática do feto. Com estas providências foi possível estabelecer o diagnóstico, fazer um prognóstico e instituir a manobra obstétrica que a situação requeria. Eu estava diante de um parto distócico, onde o potro se apresenta numa posição alterada em relação ao parto normal. Foi necessário fazer a repulsão e correção na posição dos membros e cabeça do potro, porém, mesmo assim, houve uma laceração de segundo grau comprometendo o corpo perineal, com ruptura da musculatura vulvo-vestibular, mas preservando a integridade do assoalho retal e esfíncter anal. O potro estava bem e se agitava ao lado da égua, enquanto eu suturava plano a plano os tecidos dilacerados. No meio do procedimento um raio atingiu o solo nas proximidades e ficamos sem energia elétrica. O Keelan providenciou algumas luzes de emergência e abriu a porta do estábulo para que os faróis da picape trouxessem luz ao interior. O garotinho acordou pouco depois do nascimento do potrinho, esfregando os olhos sobre o monte de feno no qual o pai o havia deixado depois de sairmos da picape.
- Veja que lindo Kevin! Não é uma belezura? – disse o Keelan, enquanto trazia o filho para perto do potro. O garotinho explodiu de emoção e quis acariciar o bichinho cambaleante, deixando por uns instantes o Becks livre para explorar o estábulo cheio de odores desconhecidos para ele.
- Posso brincar com ele? – perguntou, fixando seu olhar agora desperto no que eu estava fazendo.
- Pode sim! – respondi. Ao que o Keelan acrescentou uma recomendação para que não atrapalhasse meu trabalho e apenas fizesse carícias delicadas no potrinho.
A chuva caía torrencial e devastadora do lado de fora. A ventania fazia os galhos dos carvalhos próximos ao estábulo rangerem enquanto se contorciam. A noite ia avançando e, quando dei por findo meu trabalho, já passava das dez e meia. Por sorte eu havia trazido quase tudo de que precisava na valise arrumada às pressas, antes de deixarmos a clínica e, o que eu não dispunha, o funcionário tratou de improvisar com muita habilidade.
- Vou aplicar algumas medicações para a dor, para prevenirmos infecções e para tranquilizar a égua. O potro deve mamar um pouco. Vou passar a noite aqui observando se não surge nenhuma complicação, pois nessas lacerações pode sobrevir uma hemorragia e é preciso ficar atento. – expliquei.
- Também vou ficar por aqui, só vou levar o Kevin para a cama e volto em seguida. Você foi brilhante, nem tenho como lhe agradecer! – disse o Keelan, iniciando uma pequena batalha para levar o Kevin para dentro de casa, pois ele não queria arredar o pé dali.
- Papai, posso levar o Becks para dormir comigo? Acho que ele também está com sono. – pediu o garoto de olhos avermelhados de tão cansado.
- É melhor não! Ele não vai deixa-lo dormir. – afirmei.
- Não tem importância! Os dois parecem velhos amigos. – disse o Keelan.
- Desde a morte da esposa há dois anos o senhor Keelan está se desdobrando para criar o Kevin e cuidar da fazenda. É um homem muito determinado e bom, pena que tenha sofrido tanto. – disse o funcionário, assim que ficamos a sós.
- Lamento por ele! Percebi que é muito apegado à égua quando foi me procurar. – observei. No mesmo instante, me lembrei do olhar do Keelan quando foi me procurar na clínica. O que eu reconheci nele, mesmo sem saber, foi o ar sofrido de quem perde um grande amor. A mesma experiência que eu conhecia tão bem e, que era capaz de modificar nosso modo de encarar a vida.
- Foi um presente da esposa, pouco antes de morrer. – respondeu o homem.
- Do que a esposa dele morreu? – quis saber.
- Câncer. Quando diagnosticaram já havia pouco a ser feito. Ela partiu em poucos meses. – esclareceu.
- Triste. Não teve tempo de ver o filho crescer. – comentei, ao que ele anuiu.
- Pode ir para casa John. Muito obrigado, mais uma vez, por sua dedicação. Cuidado com as estradas, devem estar péssimas com essa chuva. – disse o Keelan ao retornar.
- Boa noite, senhor. Doutor, foi um prazer poder ajuda-lo! – exclamou o funcionário ao se despedir.
- Obrigado John! Não teria conseguido sem sua ajuda. – agradeci.
- Eu trouxe um café. Não sei se está tragável, mas acho que vai ajudar a nos manter acordados. – disse o Keelan, após a partida do John.
Um quarto de hora depois o celular do Keelan tocou, era o John avisando que a estrada para Klamath Falls estava bloqueada por quedas de barreira. Segundo o noticiário, uma enorme rocha havia rolado sobre a estrada e estavam prevendo uns três dias para explodir e desbloquear a estrada no sentido de Klamath Falls e, a partir de Ashland a queda resultou numa cratera que levou um bom trecho da estrada montanha abaixo.
- Deve haver outro caminho. – observei.
- Lamento informar que não. A OR66-E é a única opção para as duas cidades. – esclareceu o Keelan. – Pinehurst está isolada em direção ao leste! A única opção seria a Pacific Highway em direção ao norte até Medford e, de lá pela OR140 até Klamath Falls, mas isso levaria quase um dia com a atual situação das estradas por toda região. – acrescentou.
- Em suma, você quer dizer que estou preso aqui até que as condições meteorológicas melhorem e o serviço de reparo de estradas termine a obra de desbloqueio! – concluí.
- Por aqui as coisas funcionam assim! Vá se acostumando! – devolveu ele
A noite foi longa e exaustiva. Eu acordava dos cochilos, recostado a um fardo de feno, a cada barulho da palha da baia se mexendo com o movimento dos animais. A energia ainda não tinha sido restabelecida e um lampião de LED que o Keelan prendera a uma coluna de madeira era a única luz que iluminava o estábulo. Ele também havia se recostado a um fardo e, tinha uma expressão tranquila no rosto, onde a luz permitia ver os ângulos másculos que o desenhavam. Ele devia estar exausto, não apenas por aquele dia particularmente estressante e difícil, mas por toda uma história de vida recente. Ele havia trazido uns cobertores para o estábulo junto com o café, mas não tinha se coberto e fazia frio. Levantei-me e fui cobri-lo, como tantas vezes tinha feito com o Jeffrey que era um descuidado nesse aspecto, e vivia se resfriando no inverno por conta disso. Ao me aproximar senti o calor que emanava do corpão dele, sua respiração profunda em nada denotava aquela agitação com a qual foi à clínica. Observei bem seu rosto a centímetros de distância e, de repente, me comovi. Senti as lágrimas descendo pelo rosto e tive uma vontade enorme de tocar aquela barba hirsuta que devia espetar como a do Jeffrey. Voltei rapidamente ao meu lugar e tornei a me cobrir. As lágrimas demoraram a desaparecer.
A chuva cessara durante a madrugada e o dia amanheceu ensolarado e fresco. O sol frio batia nas folhas molhadas dos carvalhos e se refletia como se pequenos diamantes estivessem as cobrindo. A égua me encarou como que agradecendo pela minha ajuda, enquanto o potro mamava esfomeado numa de suas tetas. Os olhos vivos dela me confirmaram que o pior havia passado e que, mais alguns dias de cuidado a deixariam totalmente restabelecida. Eu me aproximei dela para examiná-la, tomando o cuidado de não acordar o Keelan, mas ele acordou sobressaltado quando me movi.
- Está tudo bem! Ela não teve nenhuma hemorragia o que é um ótimo sinal. Vai ficar boa em alguns dias. – afirmei.
- Graças a você! Muito, mas muito obrigado, Mark! – disse ele, vindo me abraçar.
- Graças a você e ao John, eu não teria conseguido sozinho.
- E, você se dizendo incapaz de cuidar de um animal de grande porte. Você é um veterinário de mão cheia, dá para perceber quando trabalha. – afirmou.
- Não seja exagerado! A última vez que mexi num cavalo foi na faculdade.
- Venha vamos entrar, preciso ver se o Kevin já acordou.
- O John me contou da sua esposa, lamento muito!
- Não está sendo fácil, nem para o Kevin e nem para mim. Mas, o que se há de fazer?
- Você está se saindo muito bem. O Kevin é um garoto esperto e feliz, dá para perceber.
- Ele tem sido a minha única razão de viver.
- Sei bem como é.
- Você também perdeu sua esposa?
- Meu parceiro morreu há cerca de dois anos num acidente na rodovia durante o inverno, desde então estou procurando um motivo para continuar vivo.
- Sinto muito! É essa então a razão desse olhar lindo, mas triste? Eu o notei assim que nos conhecemos.
- Pois é, vi o mesmo no seu.
- Mas, agora venha! Vamos tratar de colocar alguma coisa no estômago e ver se o Kevin já acordou.
Ele passou o braço sobre meus ombros e rumamos na direção da casa. Tudo estava muito bem cuidado e, nem de longe, parecia não haver uma mulher cuidando de tudo. O Kevin dormia a sono solto meio atravessado na cama quando fomos espiar pela porta do quarto. O Keelan se virava razoavelmente bem na cozinha, mesmo assim, resolvi ajuda-lo com as panquecas.
- Fazia tempo que eu não comia panquecas tão macias. Nunca aprendi a fazê-las direito, tanto que o Kevin detesta as que eu faço. – disse ele, me examinando de modo constrangedor.
- Espero que também não deteste essas! É capaz de nunca mais querer comê-las. – retruquei gracejando.
- Duvido, estão maravilhosas!
- Preciso dar um jeito de voltar para Klamath Falls, minha casa e a clínica estão ao deus dará. Não posso ficar preso aqui. – observei preocupado.
- Esqueça! Enquanto a estrada estiver bloqueada não há como sair de Pinehurst. A menos que você tenha um helicóptero. – retrucou ele, abrindo o primeiro sorriso que vi naquele rosto sisudo. – O Kevin e eu vamos ficar lisonjeados, nunca recebemos visitas. – emendou.
As notícias sobre a estrada não eram nada animadoras e, eu preparava meu espírito para uma temporada de alguns dias naquela fazenda. Quando o John chegou para o trabalho o Keelan me levou para conhecê-la. Era uma bela propriedade. Entre as montanhas abria-se uma vasta planície coberta por uma relva ainda verde, apesar do avançado do outono. Via-se o gado pastando ao longe e algumas áreas cultivadas, enquanto nas encostas das montanhas os pinus ponderosa e os álamos com sua folhagem dourada de outono enfeitavam a paisagem.
- É lindo, Keelan! Você tem um pedaço do paraíso. Sabe, desde que me mudei para cá, estou descobrindo lugares incríveis. Minha casa fica bem ao lado do Upper Klamath Lake, não me canso de observar a mudança na coloração das suas águas. Parece que a cada dia é uma nova tonalidade.
- A região é muito bonita mesmo. Eu nunca quis sair daqui. Já viajei bastante, rodei pelo mundo, mas acho que aqui é o meu lugar, é onde me sinto em casa. Como foi que você resolveu deixar Baltimore e vir se enfiar tão longe?
- O Jeffrey nasceu em Klamath Falls e me contava histórias maravilhosas. – respondi, perdendo a espontaneidade.
- Jeffrey, era assim que se chamava seu parceiro? Não quero te trazer lembranças tristes, desculpe.
- Imagina! Não são lembranças tristes, são o que de melhor vivi na vida.
- Vocês se amavam muito?
- Sim! Por mais estranho que muitas pessoas possam achar, o amor entre dois homens é possível e pode ser tão intenso quanto qualquer outro. – afirmei.
- Não tenho duvidas disso! Amar vai muito além de qualquer convenção. Infeliz daquele que não é capaz de enxergar isso. – retrucou ele.
- As pessoas são preconceituosas em relação àquilo que desconhecem ou, que seja diferente daquilo que elas têm como verdades, isso as deixa inseguras e, por conta disso, rejeitam tudo que as ameasse. – afirmei.
- Com certeza! Venha quero te mostrar uma coisa.
Caminhamos lado a lado por um bom trecho entre os abetos que quase cobriam todo o caminho, até chegarmos a uma queda d’água do mesmo riacho que passava ao lado do estábulo. A água descia cristalina e espumosa por uma encosta de rochas rugindo como uma fera indomada.
- Eu venho aqui desde criança. Ficava horas sentado naquelas pedras sonhando com o futuro, enquanto minha mãe se desesperava a minha procura. Quase sempre levava umas palmadas quando voltava como forma de ela extravasar sua preocupação. – revelou ele.
- Seus pais ainda vivem?
- Sim! Mudaram-se para Ashland faz alguns anos. Vou leva-lo lá um dia desses para que os conheça. Tenho certeza de que vão gostar de você. – afirmou.
Eu não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso. Porém, aquela foi a primeira vez que eu me senti reaproximando de alguém. De alguma forma, aquilo estava me fazendo bem. Como eu estava com as roupas que carregava no corpo desde o dia anterior, precisei ir a Ashland naquela tarde para comprar algumas.
- Creio que a solução é essa! Eu poderia te emprestar algumas das minhas, mas temo que você ficaria parecendo um espantalho dentro das minhas camisas. – observou rindo, uma vez que seu tronco era praticamente o dobro do meu.
- Tenho que concordar com você.
Após o almoço fomos até Ashland. O Kevin não parava de mencionar os avós assim que se deu conta de que estávamos indo rumo a casa deles. Queria mostrar seus novos amigos para o avô, ou seja, o Becks e eu. Tive que fazer um relato pormenorizado sobre a situação da égua, pois os dois ainda eram muito ligados à fazenda na qual viveram por tantos anos. Depois, deixando o Kevin com os avós, o Keelan e eu fomos atrás das roupas. Não havia muito o que escolher, mas acabei encontrando tudo de que precisava. Senti que o Keelan queria retardar nosso retorno à casa dos pais e a Pinehurst, primeiro propondo um café na Noble Coffee Roasting onde, sentados numa mesa junto à janela conversamos por quase três horas. Depois, sugerindo uma caminhada pelas ruas de comércio do centro de Ashland que, aquela altura já estavam prestes a fechar as lojas. Quando chegamos à casa dos pais dele, o cheiro de um assado se espalhava pela casa, perfumando o ar com aromas de especiarias que me abriram o apetite. Eram quase onze horas quando levamos o Kevin adormecido até a picape e voltamos para a fazenda. Enquanto o Keelan vistoriava a égua no estábulo, eu colocava o Kevin na cama. Era estranha aquela sensação de cuidar de um garotinho, de alguém que dependia da gente e que, ao mesmo tempo, se apegava a você com uma facilidade espantosa. Quando mencionei essa sensação ao Keelan ele apenas me encarou com um sorriso, demorando a responder.
- Ele me surpreende a cada dia! Tenho que admitir que a intuição dele vai muito além da pouca idade. Não é difícil se apegar a você! Eu começo a ver o que ele já sabe sobre você desde o primeiro dia. – afirmou, deixando-me sem graça.
- Está tarde! Se você não se importar eu gostaria de tomar um banho e cair na cama. – disse, procurando sair daquela saia justa.
- Claro! Fique à vontade. Afinal não pregamos o olho na noite de ontem.
Eu tinha acabado de sair do banho e estava com a toalha enrolada na cintura, removendo as etiquetas das roupas que acabara de comprar. Quando estava colocando uma cueca o Keelan entrou o quarto, pois eu não fechara completamente a porta. Virei-me em direção à porta assustado e puxei a cueca para cima o mais rápido que pude. Os olhos dele estavam focados na minha bunda, cobiçosos e carentes. Ele permaneceu estático, me observando, sem dizer palavra. Quando perguntei se ele estava precisando de alguma coisa, ele levou um tempo para voltar a si. Precisei repetir a pergunta antes de ele balançar ligeiramente a cabeça, como que para tirar alguns pensamentos de sua mente e, me perguntar se eu queria mais um cobertor. Após ouvir a minha resposta ele ainda permaneceu parado ali, me observando. Ele já havia colocado o pijama, a calça folgada estava amarrada à sua cintura por um cordão, a braguilha não tinha botões e estava aberta, bem como a parte de cima do pijama que ele só abotoara próximo à cintura e deixava expostos os pelos do peito musculoso. De repente, ele fechou a porta e veio caminhando na minha direção. Eu podia ouvir o batuque no meu peito a cada passo que o aproximava de mim. Ficamos frente a frente a centímetros um do outro. Olhares fixos, corpos experimentando um calor abrasador, bocas cujos lábios pareciam adormecidos e um tesão avassalador brotando de nosso íntimo que quase podia ser palpado de tão consistente. Ele adiantou os dois braços e suas mãos se fecharam ao redor da minha cintura, um leve puxão me trouxe para junto dele, fazendo com que meu peito se colasse ao dele. Um arrepio percorreu minha espinha e meus glúteos se contraíram. O ar que ele expirava roçou meus lábios, morno e tentador. Nossas bocas se uniram lentamente, os lábios se tocaram, mudavam suavemente de posição até se encaixarem com exatidão e perfeição. Mergulhei minhas mãos na abertura do casaco do pijama e tateei entre os redemoinhos de pelos com as pontas dos dedos. O beijo não se deixava interromper por nada, como se aquele delicado atado estivesse unindo nossas almas e, rompê-lo significasse deixar de existir. Aos poucos a língua dele penetrou minha boca, ávida e cheia de quereres. Eu a chupei para sentir o sabor daquele macho primitivo e carecido de afeto. Ele deslizou as mãos para dentro da minha cueca e apertou minhas nádegas com firmeza e determinação, externando seu desejo por aquela carne rija e abundante.
- Preciso de você! – afirmou ele, num sussurro, ao interromper momentaneamente o beijo libidinoso que trocávamos numa cumplicidade de grandes vazios.
- Estou inteiro aqui, para ser seu! – murmurei, tão carente quanto ele.
Ele me rodou e encaixou sua virilha nas minhas nádegas nuas. Seus braços se fecharam ao redor do meu tronco e uma de suas mãos acariciou meu peitinho, onde o bico do mamilo enrijecido demonstrava meu tesão. Ele beijava e chupava meu pescoço, cravando seus dentes na minha pele e deixando-a marcada com sua sofreguidão. Havia tanto tempo que eu não sentia tamanho desejo percorrendo meu corpo que eu simplesmente me entreguei a sua lascívia. A ereção dele roçava meus glúteos e se insinuava no meu reguinho apertado, fazendo a respiração dele se acelerar. Eu virei meu rosto para trás a procura daquela boca suculenta e voraz que me fazia sentir mais vivo do que nunca. Ele a tocou novamente com seus lábios quentes e fez penetrar sua língua na minha boca, pois sabia que ela seria recebida ali com um carinho que há tempos ele não experimentava. O Keelan me tomou nos braços e, caminhando até a cama, deitou-me sobre ela, puxando minha cueca pelas pernas desnudas e lisas. A enorme jeba pendia a meia bomba da braguilha aberta, permitindo que eu vislumbrasse um chumaço de pentelhos densos forrando sua virilha. Ele se despiu sensualmente, sabendo que isso estava incitando minha libido. Ele veio inclinando seu corpão enorme sobre mim numa lentidão calculada e muito sexy. Eu o abracei pelo tronco e, instintivamente comecei a apartar e erguer as pernas até quase meus joelhos tocarem nos meus ombros. Num lampejo constatei que estava me comportando como uma cadela devassa, abrindo e oferecendo meu cuzinho como uma vadia. Porém, quando quis baixar as pernas era tarde, ele havia se encaixado entre elas e, seduzido pelo cuzinho rosado que tinha visto no reguinho aberto, não pensava em nada além de me penetrar com sua pica colossal. Enquanto uma série infindável de beijos fazia nossas salivas se mesclarem em nossas bocas, ele esfregava o cacetão ao longo do meu rego, me fazendo gemer num frenesi ensandecido.
- Eu quero você, Mark! – balbuciou, cheio de tesão.
Eu acariciei suas costas e ergui minha pelve demonstrando que estava pronto e desejoso de recebê-lo no meu íntimo. No entanto, antes de me possuir, ele queria garantir que eu experimentasse e me identificasse com seus cheiros e fluidos. Aos poucos ele se ergueu e, ajoelhado próximo à minha cabeça, pincelou a rola babando na minha cara. Havia um aroma almiscarado naquela imensa rola carnuda revestida por calibrosas veias ingurgitadas, algo que me excitava e desejava querer senti-la dentro de mim. Quando o primeiro filete de pré-gozo translúcido e viscoso começou a fluir numa imensa gota emergindo do orifício uretral, eu comecei a roçar aquela cabeçorra ao redor do meu mamilo tentando fazer com que meu biquinho excitado e rijo se encaixasse no orifício profícuo dele. Ele nem ousava piscar para não perder um único movimento que eu fazia com sua pica ao redor dos meus peitinhos e, eu apenas ouvia sua respiração arfante e o sibilar cheio de tesão do ar que lhe escapava entre os dentes. Depois de me lambuzar com aquele sumo másculo eu coloquei o cacetão na boca e comecei a chupá-lo. Eu procurava pelo olhar dele, erguendo o meu cheio de carinho e sujeição. Ele não conseguia se conter, e atolava a pica novamente na minha boca para sentir toda sua maciez sugando seu falo. O pré-gozo levemente salgado e picante aguçava minhas papilas e eu o sugava e engolia, sob o olhar incrédulo e deslumbrado do Keelan. Toda vez que a excitação o punha a beira do gozo, ele tirava a jeba da minha boca e a pincelava ao redor dos meus lábios. Eu voltava a abocanhá-la e tudo recomeçava num tesão infindável. Eu girei meu corpo sobre a cama e, fiz que ia engatinhar em direção aos travesseiros. Ele me agarrou pela cintura retendo-me a meio caminho e começou a linguar meu cuzinho. Eu gemia excitado sentindo aquele macho querendo me possuir. De vez em quando ele parava e enfiava um dedo no orificiozinho circundado por preguinhas rosadas que se contraíam a cada investida daquele dedo insidioso. Aqueles espasmos abruptos que minha rosca anal dava ao sentir o dedo dele dentro de mim iam acalorando seu desejo. Quando o tesão o dominou completamente e, a pica quase nem se movia de tão dura, ele se deitou sobre meu corpo, insinuou e roçou a cabeçorra ao longo do fundo do rego, até sentir o cuzinho piscando debaixo da glande. Algumas poluções de pré-gozo umedeceram meu cuzinho e ele começou a forçar a cabeçorra contra as preguinhas que se distendiam, mas não o suficiente para permitirem a passagem daquele cacetão enorme. Inquieto e receptivo feito uma fêmea no cio, eu empinava minha bunda franqueando seu acesso. Quando a cabeçorra venceu a resistência dos meus esfíncteres e mergulhou esfaimada no meu cuzinho, eu gritei e ele soltou um bramido gutural. O prazer era tão intenso quanto a dor, ambos se revezavam nos meus sentidos, e eu vivi a plenitude aquele momento com toda a intensidade do meu ser. Estávamos finalmente atados, formávamos um único ser, estávamos prontos para fazer de nossos corpos um conjunto coeso e disposto a partilhar cada emoção que nossos corações experienciavam. Havia algo em nossas peles que promovia um desejo de aproximação, de contato, de imiscuir-se no outro, de amalgamar-se numa coisa única. Enquanto eu me abria, relaxando a musculatura pélvica, ele me penetrava gentil, mas estoicamente, cravando todo cacetão nas minhas entranhas. Quando senti o sacão batendo contra meu reguinho, eu estava sem fôlego e só gemia; espalmando minhas mãos contra o peito dele, tentei barrar o avanço daquela pica que rasgava tudo dentro de mim. Vendo meu sufoco, ele aguardou uns instantes antes de começar a me bombar o cuzinho num vaivém cadenciado e prazeroso. Ambos deixávamos que os sons que afluíam aos nossos lábios se exteriorizassem, preenchendo o silêncio do quarto com os acordes de uma orgia. Enquanto ele me chupava e fungava no meu cangote, eu me estrebuchava sob seu peso, travando a musculatura anal para garantir que aquela imensa rola não saísse do meu rabo. O ardor daquele membro grosso esfolando minha mucosa me fez gozar, por sorte sobre a toalha que eu havia deixado sobre a cama. Uma espécie de câimbra se manifestou no meu cu e premia firmemente o cacetão do Keelan entre a musculatura. Ele, cada vez mais impetuoso, acelerava o vaivém até começar a se retesar todo. Aos poucos um urro grave começou a se formar em sua garganta e, à medida que o liberava cheio de satisfação, explodiu num tesão que fazia seus jatos de porra inundarem minha ampola retal como dardos lançados num alvo tenro que os acolhia numa demonstração ímpar de carinho e aceitação. Eu estava todo machucado, minhas preguinhas estavam cobertas por gotículas de sangue rutilante, mas eu estava feliz como jamais pensei que voltaria a estar. O Keelan levou um tempo para sacar a pica do meu cuzinho. Ela praticamente não tinha amolecido, tamanho o tesão que ainda corria em suas veias. Quando o fez, ela ainda gotejava uma porra espessa e esbranquiçada. Ele me encarou com um semblante desanuviado e leve, abriu um sorriso e mergulhou sua cabeça no meu peito, onde o acalentei e afaguei seus cabelos. Ele depositava beijinhos suaves sobre meu mamilo e se deixava embalar pelo afeto que transbordava do meu coração. Ficamos nos beijando demorada e perdidamente. Eu afagava cada detalhe do rosto dele, segurava-o entre as mãos, idolatrava sua aparência máscula e deslizava as pontas dos dedos sobre aquela barba cerrada e curta que mais parecia uma lixa.
- Pensei que nunca mais encontraria tamanha felicidade! Obrigado, obrigado! Você só pode ser um anjo que veio iluminar a minha vida! – balbuciou ele, entre um beijo e outro no meu peitinho excitado.
- Nem eu pensei que um dia encontraria um homem como você! – retribuí.
Na manhã seguinte acordei com o chilrear de mariquitas-amarelas e juncos pousados nos galhos de um pinus próximo a janela do quarto; e também, o que era mais reconfortante, com uma das pernas do Keelan entrelaçada às minhas e, seu braço peludo enrodilhado na minha cintura. Estávamos deitados em conchinha e sua ereção matinal se fazia sentir levemente engastada no meu rego, enquanto os pelos de seu peito roçavam suavemente minhas costas toda vez que ele inspirava o ar numa calmaria serena. É de momentos como esse que mais se sente falta quando perdemos uma paixão. Por isso, eu me deixei ficar ali, perdido em pensamentos, curtindo cada segundo desse prazer que a vida me devolveu. Ele acordou uma meia hora depois. Cuidadoso, evitou fazer qualquer movimento que o afastasse daquela sensação aprazível, daquele calor sensual que meu corpo emanava, do perfume fresco que minha pele ainda guardava do banho da noite anterior. Só muito discretamente, comprimiu sua virilha de encontro as minhas nádegas para sentir sua ereção se aninhar um pouco mais profundamente na maciez quente da minha bunda. Eu puxei seu braço num abraço e beijei sua mão. Ele não demorou a reagir.
- Te acordei? Não foi minha intenção. Eu podia passar uma eternidade abraçado, assim, a você. – confessou.
- Não, eu já estava acordado ouvindo os passarinhos, os que estão ali fora e os que enfeitavam meus pensamentos. Eu também gostaria de eternizar esse momento. Você é maravilhoso Keelan! – retorqui.
- E, que pensamentos eram esses, posso saber? Se você estiver disposto, podemos não digo eternizar, mas repetir esse momento com mais frequência, especialmente o que aconteceu na noite passada. – afirmou. Eu não quis revelar que pensamentos eram aqueles, pois faziam parte de minha vida com o Jeffrey e, aquela não era a hora de falar do passado.
- Coisas boas que a vida nos oferece e que devemos agradecer por terem sido nos dadas. Quanto à noite passada, eu adoraria repetir cada segundo dela com você. – afirmei, fazendo com que ele me apertasse contra seu corpo.
No mesmo instante ele começou a me mordiscar o pescoço até eu me virar em sua direção e nossas bocas se unirem num beijo voluptuoso. Quando ele subiu em mim, eu abri minhas pernas encaixando-o entre elas e, as ergui até que meus joelhos quase chegassem aos meus ombros. Ele parou de me beijar e abriu um sorriso. Ágil e apressado, meteu impetuosamente a cabeçorra no meu cuzinho me fazendo soltar um ganido. Ficou me encarando como se não acreditasse que alguém pudesse lhe dar tanto prazer novamente. E, aos poucos, foi enfiando todo o cacetão sedento dentro do meu anelzinho anal que, num espasmo, se contraiu e agasalhou seu falo apertando-o sensualmente entre os esfíncteres potentes. Só o ouvi respirando acelerado e soltando o ar em sibilos através dos dentes cerrados. Na troca de olhares que se manteve por um longo tempo, pairava o tesão, o mais primitivo desejo carnal, a mais impudica libertinagem sexual. Nossos corpos se saciavam dessas sensações, acoplados pela dor e pelo prazer. Um bom tempo depois, quando meu cuzinho ardia como se houvesse uma brasa entalada nele, o gozo praticamente simultâneo, encheu o ar com os odores do sexo. Estávamos debaixo do chuveiro quando o Kevin abriu a porta do quarto permitindo que o Becks atravessasse apressadamente entre suas pernas e, começasse a procurar por mim. Enxuguei-me às pressas e saí do box, deixando o Keelan terminar de lavar sua pica sozinho, e fui ao encontro deles.
- Bom dia Kevin! Você acordou cedo. – exclamei, enquanto terminava de enxugar e vestir as roupas.
- Eu já dormi bastante! Eu queria ver se se você ainda estava aqui. Foi o Becks que te achou nesse quarto. – revelou ele.
- Ele sempre me encontra. Mas, por que você queria ver se seu continuava aqui? – perguntei.
- Por que eu queria que você e o Becks morassem comigo e com o papai. – confessou ele, subindo na cama, da qual me apressei em tirar a toalha sobre a qual eu havia gozado e, que tinha algumas gotas de sangue do meu cuzinho. O garotinho olhou espantado para o pai quando o Keelan saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura. – Você dormiu com o Mark, papai? – questionou, na sabedoria ingênua de seus três anos.
- Não, o papai só veio tomar um banho nesse banheiro por que o do quarto do papai estragou. – mentiu o Keelan.
- Estragou? – repetiu o garoto, que tinha o costume de repetir algumas palavras novas que acabava de ouvir. Eu e o Keelan nos entreolhamos no primeiro momento de cumplicidade que se formou entre nós e, ambos contivemos o riso.
Sem pensar muito a respeito, o Kevin me pegou pela mão e quis descer as escadas para o café da manhã. Como ele ainda tomava mamadeira com uma formulação nutricional complementar, ele me perguntou se eu sabia fazer mamadeira. Diante da minha resposta ele me pediu para fazê-la. Acompanhou atento cada movimento meu durante o preparo, como que vigiando se eu realmente sabia fazer aquilo. Quando a entreguei em suas mãos ele sorriu e, correu até a sala onde, acomodado entre umas almofadas devorou-a fazendo ruídos enquanto sugava.
- Ele já te incluiu na vida dele! Garoto esperto! Quem sabe com a ajuda dele não consigo te conquistar? – disse o Keelan, quando viu o filho feliz com aquela situação.
- Vocês já me conquistaram, tanto o filho quanto o pai! – exclamei.
- É? E quando é que você vai tomar a sua mamadeira outra vez? Eu tenho uma prontinha aqui te esperando, cheia de leitinho morno. – sussurrou devasso no meu ouvido, enquanto se esfregava na minha bunda.
- Controle-se! Não pense que ele não sacou o que aconteceu lá em cima há pouco. Você viu, ele foi categórico, perguntou na lata se tínhamos dormido juntos. Não pense que vai ludibria-lo por muito tempo. – devolvi, mas deixei que ele continuasse a se esfregar em mim.
- Tudo ao seu tempo! – retrucou ele, chupando meu cangote.
A égua se recuperava a olhos vistos. O desbloqueio da estrada só aconteceu no final do quinto dia e, o Keelan quis que eu passasse mais aquela noite com eles. Ao me despedir dele diante da minha casa na manhã seguinte, eu sentia como se eles fizessem parte da minha vida há muito tempo. Foi difícil convencer o Kevin de me deixar partir, o que só consegui depois de prometer que nos veríamos em breve e que ele viria conhecer a minha casa no sábado daquela semana. Ele ainda enxugava as lágrimas quando a picape do Keelan desapareceu da minha vista centenas de metros adiante na Front Street.
Quando cheguei à clínica a senhora Emma me aguardava ansiosa, queria saber como foi o atendimento à égua, como me virei após a queda da barreira na estrada que ela tinha visto pelo noticiário da TV, o que eu tinha feito todos esses dias, enfim, ela já estava se metendo na minha vida como fazia com o doutor Sandfort. No entanto, deu conta direitinho de tudo na clínica durante aqueles dias, avisou os clientes, anotou recados, recebeu algumas encomendas e, se preparava para ligar para as pessoas que queriam trazer seus bichinhos. E, o mais interessante, como espalhou aos quatro ventos que eu tinha ido atender um fazendeiro, logo começou a receber ligações de fazendas da região me requisitando para examinar ou vacinar seus animais, uma vez que o veterinário mais próximo que fazia esse tio de atendimento estava muito distante e era difícil requisitá-lo. Fiquei feliz por estar tão bem assessorado e, também, por ela se preocupar comigo. O Óregon, afinal, não estava sendo aquele rincão perdido e desolado onde pensei ser difícil reconstruir minha vida.
Quando me mudei para Klamath Falls e abri a clínica, eu me enfiei de corpo e alma no trabalho. Primeiro, para tentar esquecer o meu passado, segundo, por que não tinha nada a fazer que não fosse cuidar da minha casa, comprar uns poucos mantimentos e me distrair com um livro nas mãos no quintal quando o clima favorecia, ou ver TV que, em absolutamente nada, me satisfazia. A falta e amigos ou parentes tornava os finais de semana longos e enfadonhos. Por isso, eu costumava ficar na clínica aos sábados até o final da tarde, pois sempre aparecia alguém com algum problema a ser resolvido.
- O senhor precisa se distrair, fazer amizades, passear por aí para conhecer a região, há lugares maravilhosos. Um jovem como o senhor e, bonito desse jeito, precisa arrumar uma namorada. – insistia a senhora Emma, quando se despedia de mim aos sábados por volta do meio-dia.
Contudo, o primeiro sábado depois de eu ter voltado da fazenda do Keelan, começou bem diferente dos de até então. Eu mal havia saído do banho, me vestido e começava a preparar um café antes de sair para a clínica, quando ouvi um carro estacionando diante da garagem. De uma das janelas da cozinha dava para ver o portão da garagem e a rampa de acesso. Foi nela que o Keelan estacionou e estava tirando o Kevin da sua cadeirinha no banco de trás. Instantes depois a campainha tocou. No trajeto da cozinha até a porta da frente, senti meu coração disparando.
- Oi, tio Mark! Eu vim buscar você para passear. – disse o Kevin, entrando porta adentro depois de descer apressado do meu colo procurando pelo Becks. – Onde está o Becks?
- Ele está na cozinha comendo o café da manhã dele. – eu nem havia terminado de falar e ele já havia sumido da minha vista.
- Oi! Muito cedo para uma visita? – inquiriu o Keelan. Eu não conseguia tirar os olhos daquela camisa aberta no peito, deixando sedutoramente expostos aqueles pelos sensuais, sob uma jaqueta de couro e um jeans levemente surrado onde mal cabiam suas coxas grossas e, onde se moldava insidiosamente aquele volume do qual ainda havia resquícios ligeiramente dolorosos quando eu precisava ir ao banheiro.
- Olá! Não, claro que não. Entre. – respondi. Não sei explicar o porquê, mas eu senti que meu rosto estava quente e eu certamente estava corado. – O que os trás aqui tão cedo? Está tudo bem com a égua e o potro?
- Sim, eles estão ótimos. Ela continua se recuperando muito bem. – afirmou ele, pouco antes de vir diretamente com as duas mãos ao redor da minha cintura e me encurralar contra a parede no mesmo instante em que colou sua boca na minha. Ouvíamos o Kevin conversando com o Becks na cozinha, enquanto a língua dele procurava afoita pela minha, e o beijo se prolongava carnal e cheio de tesão.
Quando ele me soltou, minhas pernas tremiam, eu arfava um pouco, seu sabor estava na minha boca e sua ereção descomunal parecia um salame entalado sob a calça. Ele precisou ajeitar a pica antes de conseguir dar os primeiros passos quando nos dirigimos à cozinha.
- Eu estava preparando o café antes de ir para a clínica. Vocês vão me fazer companhia. – afirmei.
- Oba! Eu vou querer aquelas panquecas! – exclamou o Kevin.
- Não se faz isso, filho! Você não está na sua casa. Além disso, você nem sabe se o tio Mark têm panquecas. – repreendeu o Keelan.
- Não tenho, mas nós vamos fazer algumas. E, você vai me ajudar nisso, Ok Kevin?
- Eu vou, eu vou! – a alegria dele era tamanha que me comoveu. Aquele garotinho tinha algo de especial que fazia o coração da gente se abrir para a sua alegria contagiante.
- Ele nunca foi tão expansivo com as pessoas como é com você. Afora o John, que é praticamente um ídolo para ele, as demais pessoas não despertaram esse interesse que você despertou. – afirmou o Keelan. Havia certa cumplicidade com o filho nessa afirmação dele.
Como havia apenas um cliente agendado naquela manhã, eu fui atendê-lo após o café e, depois o Keelan me levou até a Pelican Bay nas margens do lago Klamath Superior, de onde se avistava o monte McLoughlin com o topo todo coberto com a primeira neve daquele final de outono. Eu nunca havia pescado na minha vida e, quando o vi tirando a tralha de pesca da caçamba da picape, fiquei imaginando que dia longo seria aquele. No entanto, depois de ele fixar algumas varas montadas na margem do lago e, me incumbir de vigiá-las, enquanto preparava mais algumas, eu comecei a me entusiasmar com a novidade. O Kevin rodava à nossa volta, eufórico e cheio de energia, excitado como o Becks. Fazia frio apesar do sol brando que iluminava o céu com um azul muito límpido, ao passo que o lago refletia um azul mais escuro e denso, típico de águas geladas.
- Eu nunca pesquei na vida! – confessei.
- Deve estar achando um programa tedioso.
- Não! Apenas inusitado para mim.
- Então se apresse, pois aquela vara fisgou alguma coisa. Vejamos se dá conta de tirá-lo da água. – disse exaltado, quando um soco dobrou uma das varas.
- O que é que eu faço? – perguntei desesperado, tirando a vara do suporte e sentindo que um peixe havia fisgado a isca e fazia o molinete girar numa velocidade espantosa.
O Keelan se aproximou de mim tornando tudo ainda mais atrapalhado. Ao mesmo tempo em que seus braços se fechavam ao meu redor, ajudando a manusear a vara, ele sussurrava as instruções no meu ouvido e, eu tentava prestar atenção nelas e não naquele corpão roçando minha bunda. Foi menos complicado do que eu havia imaginado tirar a enorme truta da água, que se debatia e saltava fora da água à medida que eu recolhia a linha e a trazia para a margem. Ele me ajudou a tirá-la do anzol e me entregou o bicho escorregadio e agitado nas mãos. Eu não cabia em mim de contentamento.
- Eu consegui! Eu consegui! Olha o tamanho disso! – exclamei exultante.
- Sorte de principiante! – devolveu ele, porém, visivelmente feliz por ter me proporcionado aquele prazer.
Eu não senti as horas passando. Quando parecia que nada mais ia acontecer, outro peixe se enroscava numa das varas e brincadeira recomeçava. Devoramos uns lanches que ele havia trazido, e só deixamos o lago quando um vento cortante começou a criar marolas na superfície da água. Na caixa de isopor que ele havia trazido havia mais de uma dúzia de peixes entre trutas arco-íris e percas-prateadas. O incrível disso tudo é que eu tinha pescado a maioria.
- Como eu disse, sorte de principiante! – exclamou, com um sorriso provocante.
- Espera eu aprender todos os macetes e vamos ver se é sorte de principiante. – desafiei.
- Pelo menos pegar na vara você já aprendeu! – retrucou zombando.
- É que eu segurei um bocado delas hoje, não havia como não aprender. – devolvi, troçando dele.
- Humm! Isso significa que você gostou das minhas varas. Que tal se essa noite você brincar com uma toda especial que eu tenho guardadinha para você? – provocou, enquanto juntávamos tudo e colocávamos na picape.
- Vou pensar no seu caso! – só de imaginar aquele cacetão na minha boca e nas minhas entranhas, eu sentia o desejo contraindo minha pelve.
Tinha acabo de escurecer quando ele estacionou na garagem, algumas estrelas piscavam tímidas no céu aonde tons de alaranjado na linha do horizonte iam sendo substituídos por cinzas cada vez mais escuros. O Kevin dormia em sua cadeirinha, com a cabeça pendendo pesadamente para o lado onde o Becks cochilava sobre o banco traseiro. O dia fora intenso para todos e, eu sentia em meu peito uma energia que julgava não existir mais. Essas imagens tão triviais, comuns na vida de qualquer casal, estavam tendo um efeito devastador sobre mim. Ao mesmo tempo em que tudo parecia corriqueiro e feliz, eu sentia uma opressão me sufocando e, um medo insano de voltar a perder tudo isso novamente. O Kevin tomou a mamadeira que o Keelan preparou recostado no sofá da sala e cochilando, antes de ser levado para o quarto, enquanto eu preparava algo para o jantar.
- Gostou do nosso dia? – perguntou o Keelan, após ter deixado o filho no quarto e vir me encoxar.
- Adorei!
- Mesmo? Sinto que alguma coisa o está incomodando. Você prefere que eu o deixe sozinho esta noite?
- Não! Nem pense em fazer isso! Eu amo estar com vocês dois. Acho que só estou um pouco cansado, foi um dia tão diferente da minha rotina. – respondi, sem confessar meus temores.
Ele veio se juntar a mim, após o jantar, quando eu estava no chuveiro. Ao caminhar nu na minha direção, a pica ia empinando a cada passo. Eu mal podia controlar meu tesão e, nem desejava fazê-lo, só de ver aquele macho cobiçando meu corpo. Assim que ele entrou no box, eu comecei a ensaboá-lo, ele se rendeu às minhas carícias, deixando minhas mãos passear furtivamente sobre seus músculos. Aquilo fez a ereção dele se completar e, provocava o mesmo efeito em mim. Seduzido por aquele falo reto, imenso e libidinosamente nutrido por um intrincado emaranhado de veias, por onde o sangue fluía cada vez mais rápido e quente, eu fui me ajoelhando gradualmente diante dele, ao mesmo tempo em que ia beijando a trilha peluda que descia de seu peito em direção ao púbis pentelhudo. Quando beijei a cabeçorra senti o perfume e o sabor salgado de seu pré-gozo. Enfiei-a na boca e comecei a chupar, suave e torturantemente, fazendo-o gemer excitado. Explorei cada centímetro de seu membro com meus lábios, tateando, sugando e lambendo desde a glande até o sacão, colocando ora uma, ora outra daquelas bolonas na boca e sugando-as, enquanto minha língua as massageava, fazendo com que se ingurgitassem de tesão.
- Ah, Mark! Isso acaba comigo! – gemeu ele. Eu persistia sem interromper minha investida, levando-o ao delírio.
Não o deixei tirar o caralhão da minha boca quando sentiu que ia gozar. A simples tentativa de me privar daquele prazer me deixava ensandecido. Enquanto meu olhar o encarava e minha língua acariciava sua glande, ele compreendeu meu desejo e, esporrou minha boca com sua gala fértil, tépida e espessa. Acho que ele nunca tinha feito isso antes, pois seu rosto resplandecia de prazer quando me viu engolindo seu esperma abundante. As mãos dele, que até então vagavam entre os meus cabelos, agarraram minha cabeça e a trouxeram para junto de sua virilha, fazendo com que a pica mergulhasse na minha garganta me fazendo engasgar.
- Você é delicioso, Keelan! – balbuciei, quando terminei de lamber toda porra espalhada no caralho dele. Ele apenas gemeu e, sorrindo, tomou meu rosto entre as mãos como um devoto idolatrando um santo.
Era madrugada quando terminamos de fazer amor. Eu estava exausto, esfolado e feliz quando recostei minha cabeça em seu peito e adormeci. Dava para sentir que ele também experimentava um estado de jubilo único e ímpar, enquanto sua respiração ia se tornando cada vez mais lenta e profunda.
Aquele foi o primeiro de uma sequência de finais de semana que passávamos juntos, ou na fazenda ou na minha casa. As estações iam se sucedendo muito marcadas por suas características próprias. O inverno daquele ano foi particularmente rigoroso, afundando a paisagem em mais de cinquenta centímetros de neve durante algumas semanas sempre nubladas. A primavera se sucedeu esplendorosa, pelo céu sempre muito azul passeavam nuvens esparsas como chumaços de algodão e, os riachos e cascatas rugiam mais vivas com o degelo enchendo os cursos d’água. Um verão agradável e seco nos levou diversas vezes ao lago Klamath Superior aos finais de semana, onde o Keelan começou a ensinar o Kevin a nadar. Nos primeiros dias do meu segundo outono em Klamath Falls, num final de tarde de uma sexta-feira, quando cheguei à fazenda para passar o fim de semana, após o expediente na clínica, o Keelan me esperava com uma mesa festivamente posta com toalha, guardanapos, flores e um cuidadoso arranjo de pratos e talheres. Da cozinha vinha um perfume delicado de endro fresco que se espalhava pela casa.
- O que temos de tão especial para comemorar hoje? – perguntei, vendo todo aquele aparato montado com capricho e, um sorrisinho maroto e incontrolado nas bochechas rosadas do Kevin.
- O papai disse que vai convidar você para morar com a gente, para sempre. E, que você também vai ser meu pai agora, igualzinho ao meu amigo Paul Cartwright lá do jardim de infância. Ele tem dois pais, você sabia? O Carl e o Johnny. – sentenciou o Kevin, quebrando a promessa de manter segredo até que o pai fizesse o pedido durante o jantar, tanta era a euforia dele.
- Bem! Lá se foi a surpresa que quis te fazer. – disse o Keelan, desapontado.
- É maravilhoso! Eu não podia me sentir mais lisonjeado! Mas, vamos conversar a respeito disso mais tarde? – ele me encarou um pouco frustrado e, ficou procurando no meu olhar, durante todo o jantar, algum indício da minha provável resposta.
- Você não quer, não é isso? – questionou, quando já estávamos na cama.
- Não! Não é nada disso. Eu adoro vocês! – exclamei.
- Você sempre diz isso. Eu adoro vocês. Eu não duvido, mas o que você realmente sente por mim, só por mim? – inquiriu.
- Eu te amo Keelan! Eu te amo com todas as minhas forças. – respondi, afagando seu rosto impaciente.
- Então qual é o problema? Eu comecei a te amar naquele dia em que fui te buscar na clínica para ajudar no parto da égua e, desde então, esse amor só aumenta a cada sorriso seu, a cada gesto, a cada vez que você acolhe minha rola no seu cuzinho. – admitiu.
- Eu não suportaria perder mais um amor nessa vida. – revelei, deixando meus olhos úmidos evidenciarem meus receios.
- Isso não vai acontecer! Nós dois sofremos muito. Tivemos que superar perdas muito dolorosas, mas descobrimos um ao outro. A vida está nos dando uma nova chance de felicidade, não podemos desperdiça-la. – argumentou.
- Você e o Kevin são tudo o que eu tenho. Não dá mais para viver sem vocês dois. – nunca o temor de sentir o coração novamente vazio se mostrou tão real e assustador.
- Você não vai viver sem nós dois. Vamos estar sempre ao seu lado, eu prometo! Vem cá seu chorão dramático. – ele tomou meu rosto entre as mãos, enxugou as lágrimas com os polegares e me beijou apaixonadamente enquanto se inclinava sobre meu corpo.
Antes que eu esboçasse a primeira reação, que foi envolver seu tronco nos meus braços e começar a abrir as pernas, ele enfiou a pica no meu cuzinho me fazendo ganir. A cada estocada ele crescia e me preenchia todo, sussurrando no meu ouvido que eu devia confiar nele e naquela solidez que pulsava viva nas minhas entranhas. Eu nunca mais duvidei dele e, de que a vida tinha me dado uma oportunidade única.