Thithi et moi, amis à jamais! Capitulo FINAL

Um conto erótico de Thithi
Categoria: Homossexual
Contém 1657 palavras
Data: 30/10/2018 01:41:37

Era um dia comum, não tão feliz. Nós já não tínhamos dias felizes há algum tempo. A doença tomava conta de tudo o que tínhamos. Uma fome voraz por qualquer luz, qualquer amor vivido o suficiente para nos mover à frente de tudo.

Eu tinha ido dormir em casa, Sophie e Luiz estavam com minha sogra. Tivemos uma guerra sem fim para conseguirmos a guarda definitiva do nosso filho mais velho, mas quando o Antoine queria alguma coisa ele fazia tudo para alcançá-la, um guerreiro em todos os ângulos.

Contratamos um advogado e pensávamos que tudo seria muito fácil, pois o Luiz era visivelmente maltratado pela família que tinha. Os pais eram pastores de uma das igrejas evangélicas mais rígidas da cidade. O menino não tinha nada, não tinha amor, não tinha afeto, não era bem alimentado... vivia igual a um bicho: acuado, sofrido, triste, esperando o fim do dia.

Por mais que eles maltratassem a criança, eles ainda tinham a falsa ideia de que Deus iria retirar a homossexualidade dele. Incrível o que a ignorância faz com as pessoas. Eles lutaram com todas as armas, com todas as forças. Mas, o bem sempre vence e no final de tanta luta nós conseguimos adotar nosso filho.

Nunca vi uma criança tão feliz quando ele pode abraçar o Antoine no primeiro dia que chegou em casa. No início, eu confesso que não tinha tanto afeto pelo Luiz. Mas eu sou assim mesmo, demoro um pouco a me deixar ser conquistado. No entanto, Luiz é uma criança especial, ele terá tudo na vida, eu tenho certeza! Passamos a morar os quatro em casa, e eu nunca tinha visto o Antoine tão feliz. O sorriso dele iluminava toda a casa, iluminava a todos.

Eu não acreditava no efeito montanha russa. A vida no leva em cima, depois abaixo... sempre momentos felizes, depois momentos tristes. E o momento triste chegou com tanta força quanto os felizes. Depois de termos nos estabilizado, de Luiz e Sophie estarem na escola, Antoine cuidando o restaurante, eu voltando a dar aulas – tínhamos desistido de morar na França, nosso filho merecia nossa atenção – tudo estava normal e feliz.

Logo após a adoção do Luiz, Antoine se dedicou totalmente ao trabalho. Depois de quase um ano de vida feliz, através de exames e consultas que ele fazia a cada 6 meses nós descobrimos que o câncer tinha voltado. E tinha voltado com toda força! O câncer no joelho havia voltado e veio trazendo vários amigos espalhados pelo corpo. Seria um tratamento difícil, muitas sessões de quimioterapia, radioterapia, operações sucessivas.

Antoine não tinha mais forças, ele queria se deixar consumir pela doença. Acho que somente quem sofre com a doença (doente e familiares) sabem o que realmente acontece. É um processo difícil de ser descrito. Nós íamos todos os dias ao hospital, quando não tínhamos consulta com o oncologista e com a quimio ou com a radio, íamos ao psicólogo. Acho que se não fosse Sophie e Luiz o Antoine teria desistido muito antes.

Todas as sessões foram dolorosas, regredimos. Ele ficou extremamente magro, a pele extremamente sensível, enjoos e vômitos inacabáveis, os cabelos caíram, ele não sentia mais o gosto dos alimentos, não sentia o cheiro de nada. Não podíamos fazer carinho, nem abraçar. Tudo doía. Mas, mesmo assim, mesmo com dor ele abraçava Sophie e o Luiz. Nunca se recusou a passar um tempo com os filhos e quando ele não pode mais tê-los no colo, foi muito mais difícil do que as operações que viriam no futuro.

Varias operações foram realizadas após a quimio. Muitos dias de internação, muitas idas e vindas ao hospital. Eu parei de trabalhar, vivia somente para ele. Eu precisava fazer isso, depois do que eu havia feito quando eramos mais jovens, eu tinha que cuidar dele. E, no meu inconsciente, eu já sabia o que iria acontecer, então eu queria passar o máximo de tempo que eu podia com ele.

Minha cabeça comandava meus dias. Fechei meu coração com todas as chaves possíveis, EU não podia sofrer. Eu tinha que ser forte, eu tinha que amortecer o sofrimento dele. Eu me sentia em outro plano, longe de tudo, agindo mecanicamente.

Dudu e Jujuba foram incansáveis também, os médicos do hospital já tinham desistido de tentar reduzir a quantidade de pessoas no quarto dele. Claro que ele era contra toda essa atenção, nunca gostou de ser o centro de tudo. Mas, todos nós sabíamos. Todos nós sentíamos...

Numa das cirurgias ele teve de amputar a perna. Foi cruel. O resto de vida que havia nele se esvaiu com essa cirurgia. Nós chegamos a um ponto onde queríamos que aquilo tudo terminasse, ninguém aguentava mais vê-lo sofrer daquele jeito. Mas, mesmo assim ele ainda lutou mais. Ele tinha sonhos: iriamos para Paris, ele queria mostrar o país dele, a cidade dele para os filhos. Tudo o que ele pensava era: “não verei meus filhos crescerem, não acompanharei os melhores momentos, não poderei mais dar amor”. Ele não cansava de me pedir para cuidar dos meninos, de não deixa-los com minha sogra. Os filhos eram nossos, e eu precisava cuidar deles.

Nunca me passou pela cabeça deixar meus filhos com os avos. Minha mãe e minha sogra tentavam sempre ficar com Sophie e Luiz, poucas vezes eu os deixei com eles. Eles tinham rotina: escola, cursos, futebol, etc... e eu fazia questão de dar toda a normalidade que estivesse ao meu alcance. Eles precisavam viver, Luiz precisava de amor, então para eles eu descongelava um pouquinho meu coração.

Definitivamente o Antoine tinha me mudado, por ele eu amadureci. Deixei de ser um idiota ciumento e passei a ser um pai de família. Meu mundo era resumido em duas coisas: meus filhos, meu marido.

Os últimos dias do Antoine foram os mais difíceis da minha vida. Ele estava em casa, já não tínhamos mais esperança, todos já estavam somente aguardando. Ninguém sorria, ninguém vivia. Não conseguíamos aceitar tudo o que aconteceria. Meus sogros ficaram derrotados, Anne teve que voltar para a cidade para cuidar deles e do Gui. A vida parou e murchou...

Ele estava em casa e eu estava com ele. Eu pude ver pela ultima vez a vida nos olhos dele. Quando ele parou de respirar, eu também parei. Quando ele foi enterrado, eu também fui. Eu passei a falar o que ele sempre falava: se não fosse meus filhos, eu estaria morto. Nunca pensei que a gente pudesse morrer em vida, nunca pensei que isso fosse possível, isso sempre me pareceu drama de momento. Mas depois daquele dia 24 de março de 2017 eu nunca mais fui o mesmo.

Após o enterro eu decidi me mudar. Larguei tudo e todos. Todos pensavam que eu estava louco e eu tive uma briga horrorosa com minha sogra. Ela queria a Sophie para ela e eu iria leva-la para a França. Como eu disse, jamais me passou pela cabeça deixar meus filhos com outras pessoas. Comprei três passagens só de ida para a França. Duas semanas após o enterro eu estava em Paris. Eu não sabia o que fazer. Eu estava completamente perdido. A dor me cegava!

Não foi fácil levar uma vida em Paris, parecia que ele estava lá. Eu sai de Macapá por que não queria ficar vendo o Antoine em tudo. Me mudei para uma cidadezinha no sul da França, minha mãe mesmo mão concordando com minha viagem me apoio e me ajudou financeiramente. Demorei a arrumar emprego, mas no final eu consegui. Comecei a dar aula em uma escola de línguas estrangeiras, ensinava português para estrangeiros. Após algum tempo vivendo exclusivamente para o trabalho e os filhos, eu consegui comprar parte da escola. Hoje, continuo vivendo nessa cidade sou dono da escola. Não tenho ninguém e não pretendo ter. Vivo somente com a Sophie e o Luiz. Dudu e Pi vieram morar no mesmo prédio que eu, eu nunca pensei que o Dudu e eu nos tornaríamos tão amigos. Porem, após a morte do Antoine nós dois éramos o que mais lembrávamos dele, no fim, Antoine fez o que sempre desejou: unir o irmão e o marido.

Criamos uma pequena família. Quando eu vim para a França, Dudu e Pi venderam minha casa, a casa deles e o restaurante e foram para França junto comigo. Meus sogros não aguentaram tudo, meu tio teve uma AVC e minha sogra vivia chorando pelos cantos. Eles também não ficaram em Macapá, voltaram para a Guiana e sempre vêm aqui visitar os netos – que são loucos pelos avós. Jujuba ficou no Brasil, mas ela também sempre que é possível vem nos visitar.

Minha vida nunca mais foi a mesma, uma parte de mim morreu junto com o Antoine e ao contrário de algumas pessoas, eu não quero me relacionar com ninguém. Meus únicos amores são meus filhos. São crianças felizes, estudam, fazem cursos, são saudáveis, o sorriso deles é meu sorriso. E a coisa mais louca do mundo: Sophie é a cara do Antoine, às vezes acho que ele pulou a cerca (quando ainda era casado com o Bruno) e fez a Sophie.

Tento cria-los como Antoine desejava e como ele me repetiu milhões de vezes: crianças livres, sem preconceitos. Eles serão o que quiserem ser, amaram quem quiser amar e espero que amem todos sem preconceitos. Eu tento conduzi-los da melhor maneira possível, estou sempre presente, converso muito com os dois. Sophie está uma mocinha e continua derretendo corações. Luiz está um rapaz e continua muito maduro para a idade.

Após todo esse tempo, eu achei um antigo pendrive com os textos que o Antoine escreveu para este site e li todos. Reli várias vezes, revivi nossa história. Senti ele perto de mim. Então, resolvi escrever esse texto contando o que aconteceu conosco. É um texto rápido e provavelmente mal escrito, eu não tenho o dom de narrar que ele tinha, desculpem-me por isso.

Aqui finalizo, este breve texto... um abraço a todos!

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Antoine G a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Eu, sinceramente, não posso imaginar a sua dor e da família.

Antoine era ótimo escritor e uma pessoa muito atenciosa.

Eu acredito que ele está em um lugar especial, torcendo pela felicidade de vocês.

Fiquemn em paz e busquem a felicidade.

Que o tempo e os espíritos de luz cicatrizem esse buraco que ficou em suas vidas.

Abraços e sentimentos sinceros.

0 0
Foto de perfil genérica

Nossa eu acompanhei essa história desde o começo... e tô simplesmente sem ter o que falar... li com muitas lágrimas nos olhos...

Espero que Deus conforte o coração de vcs!

Sei que já passou um tempo mas...enfim...

😭😭😭😞

0 0
Foto de perfil genérica

Muita luz no caminho de vcs! Que Deus os abençoe.

0 0
Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

Correção: onde se lê :"...que Deus amina..", leia-se :"... que Deus amaine ..."

0 0
Foto de perfil genérica

Foi doloroso ler este capítulo. Não sei porquê, mas tinha esperança de que tudo seria diferente. Apesar de tanto tempo passado, se leres este comentáro, saiba que me solidarizo contigo e com os demais que conviveram com Antoine. Desejo, sinceramente, que Deus amina a dor de vocês. Sem mai algo útil para dizer. um abraço carinhoso para todos.

0 0

Listas em que este conto está presente