Algumas poucas nuvens no céu, nada indicando chuvas, mesmo sendo a estação da Primavera, caracterizada por excesso das precipitações pluviométricas, ante a vinda do Verão, com as temperaturas altas e as tradicionais tempestades de fim de tarde. A parte matinal transcorreu com o trabalho de pintura da folha de porta, nada extraordinário. Sob o sol, sem camiseta, deixou-se queimar. Fiscalizou em uma breve olhada as tarefas determinadas e deu por encerrado sua missão em casa. Sentou-se a uma cadeira na área da casa apenas ouvindo música na casa do vizinho. Passou o olhar na tela do celular verificando as horas. Leila, sua concunhada ficou de passar em torno de meio dia. Restava-lhe dez minutos de sossego e para curtir sua costa com os sinais de ardume, ligeiramente vermelha, com uma coceira. Normal. Devido a um atraso da esposa com a manicure, sua esposa só poderia ir para o sítio à noite, com o irmão, Não acrescentaria nada a presença dela mesmo, já que, ao tirar-lhe de casa, do aconchego do final de semana, fora dado um trabalho de pintura em dois quartos na casa do cunhado, na roça. Apenas trabalho para ele.
-“Então você vai pintar os dois quartos? A gente ajuda.” Sentenciou Leila no dia anterior em casa, dando risada e feliz.
-“Claro que nós iremos, não é Querido?” Confirmou minha esposa sem nem pestanejar.
Pode ter vários defeitos, porém o de atrasar, não era e nunca seria com ela. Pontualmente lá estava buzinando chamando. Já saiu para a rua com a mochila e algumas ferramentas necessárias. Entrou no veículo, cumprimentaram-se discretamente e saíram em direção ao sítio.
Psicologicamente preparado para enfrentar o trabalho, porém, mesmo assim, o corpo não acompanhava. Mal chegara a quatro da tarde encontrava-se em frangalhos. Não se deu por vencido a isso mantendo-se na rotina de preparar as paredes para a primeira demão de tinta. Subindo e descendo da escada, lixando as paredes, o teto, aplicando massa em alguns buracos, em furos de prego, nas imperfeições da parede tosca, chegou por volta das dezoito horas. A ajuda prometida da Leila reservava a entrar de vez quando no cômodo, dando risada, elogiando o serviço e retirar-se. Não, não era justo desconsiderar tanto esse apoio. Ela chegou a lixar as partes baixas da parede, rápida e incisivamente, não importando pela qualidade do trabalho. Olívio gostou dessa presença. Sua concunhada não possuía um corpo atraente, pelo contrário. As costas bem largas sem uma cintura definida e a bunda sem polpas. As panturrilhas bem grossas, afinando no joelho, fechando em coxas finas. Em certas oportunidades vendo-a por trás, nas pernas, diria que lembrava aquele personagem dos quadrinhos, o Marinheiro Popeye. Cabelos lisos escorridos pelos ombros, em nuance de louro acinzentado. Óculos grandes de grau. Seios minúsculos que desapareciam por completo com o ventre mais proeminente. O que disfarçava bem essas anomalias o fato de ser de boa estatura, não alta, nem baixa. Quando produzida, ficava bonita, com boa apresentação, charmosa, atraente. Contudo, cotidianamente sua aparência não sensacionalizava em nada. Trivial.
-“Está fechando o tempo, Olívio! Já, já vai chover... Que bom. Gostoso para quando a Lena e Márcio chegarem a gente fazer um churrasco e assistir filme..”
No último degrau da escada, observou a Leila ajoelhada no chão lixando parte junto ao rodapé. Estava com uma bermuda parecida com a de pijama, tecido fino, larga, mas curta. Estampada em motivos em vermelhos. Naquela posição, sua bunda pareceu avolumar dando mais ênfase às carnes das coxas, desenhando as celulites, criando uma tênue atração. Até mesmo as panturrilhas ficaram sensuais. Quando colocou-se em pé, com o tecido entrando no vão da bunda, Olívio sentiu uma gostosa atração. “-Não é uma mulher fenomenal, mas tem algo de gostosa que atrai.” Pensou consigo. Vagamente lembrou-se de anos passados, mais de quinze, desde que entrara para aquela família, das inúmeras vezes que sentiu desejo por essa concunhada, chegando a fantasiar veladamente quando transava com a esposa que a tinha na cama. Sem falar nas masturbações. Por formação religiosa rígida, enraizada nas doutrinas da igreja católica, com uma mentalidade restrita aos bons costumes, às normas sociais, nunca se deu às brincadeiras maliciosas, ou a comentários de teor sexual, mesmo ainda em qualquer sentido de traição. Uma esposa fiel, mãe de duas filhas, dona de casa. Com certeza, casou-se virgem, perdeu essa na lua de mel, nunca conheceu outro membro senão do Márcio, seu marido. Podemos afirmar que sexo somente o tradicional, mamãe e papai, embaixo dos lençóis, no escuro, sem um barulho senão da cama oscilando no ato das penetrações. Justamente por ser tão carola que ocorria uma atração a ela. Olívio, sim, um depravado sexualmente falando, onde, havendo cumplicidade, tudo era válido.
Não chegou às dezoito horas e trinta quando um vento mais forte começou a soprar. Minutos seguintes, a chuva precipitando, trovões e clarões de relâmpagos. Em menos de meia hora um temporal de estimada precedência. Ventos fortes assoviando nas árvores em volta da casa, a chuva qual lançadas em jatos e o começo dos granizos estalando no telhado, no quintal, nas janelas fechadas às pressas. Assustava o barulho que fazia do vento, da queda dos granizos. Completando o quadro de terror, faltou energia elétrica. Leila armou-se com uma lanterna, procurando nas gavetas na cozinha velas e fósforos. O casal ficou na soleira da porta de acesso a área coberta, protegida nos lados, observando as rajadas de ventania, os jatos de água, o barulho agora ensurdecedor das pedras de gelo. Quando cessou os granizos, chuva e vento, em seguida, só o vento forte, arcando as ramas das árvores, dobrando galhos, criando um zumbido ao longe chegando perto e sumindo. Aterrorizante. Abrandando as correntes de ar, ficou a chuva torrencialmente caindo na terra.
Ambos olhavam estarrecidos a chuva quando deu-se um clarão cerca de dez metros á frente da área numa árvore. Um raio estourando no galho. Olívio e Leila viram-se abraçados junto à parede, corpos tocando, as mãos acidentalmente passando por seus corpos. Nunca estiveram tão perto como agora. Acabrunhados, afastaram-se comentando o corrido.
-“Caiu um raio. Já passou.” Afirmou Leila voltando a sua busca pela frieza.
-“Sim...” Murmurou em resposta pensativo no toque de sua mão aos seios dela sem soutien. “-São pequenos e bem moles, quase sem auréolas”. Pensou.
Márcio e sua irmã, esposa do Olívio, conforme combinado, viriam á noite, depois das vinte horas. Leila só tinha pensamento ao marido. Mesmo sem nada entre ela e o concunhado, apenas por estarmos sozinhos na casa, digamos que isolados, percebia-se claramente um incomodo em seu comportamento, qual estivesse fazendo algo de errado. A chuva manteve. Parecia que não acabava mais a água caindo das nuvens. Leila resolveu tomar um banho, mesmo sem energia no chuveiro. Meia hora após, foi Olívio. Leila preparou um café no fogão de lenha, colocando pães, um bolo e bolachas à mesa. Pareceu mais calma com a situação. Sua aflição retornou quando já chegando às vinte e uma horas sem sinal do marido. Sem eletricidade, com a chuva caindo mansamente, porém constante. Quando o celular tocou Leila pulou apanhando-o.
-“Onde você está Márcio? Já é tarde.”
-“Caiu várias árvores no caminho. Não dá pra passarmos. Estamos aqui no começo da estrada... Estão dizendo que no trecho nosso tem vários pontos interditados.”
-“Não acredito. Você não vai vim pra casa?”
-“Não tem jeito. O serviço da Defesa Civil só poderá socorrer essa área amanhã cedo. Foi uma tromba d’água. Tem várias ocorrências na cidade, principalmente na Zona Rural. Estamos ligando para vocês para avisar que voltaremos amanhã cedinho. Não precisam se preocupar.”
Leila fechou a fisionomia. Silenciosamente refletiu em todas as circunstâncias. Sentenciado que realmente nada poderia fazer, assentiu primeiramente com a cabeça e pôs a falar ao telefone.
-“Está bem... Não tem nada o que fazer. Márcio vem bem cedo amanhã, então.” Desligou a ligação depositando o aparelho sobre a mesa, perto do bule.
-“Eles não tem como chegar aqui no sítio... Vão retornar à cidade e vem amanhã cedo.”
Olívio fixou os olhos no semblante da Leila, entrando ao interior da casa, com aquele short largo, de algodão, regata e chinelos de dedo. O cansaço da tarde, do trabalho de preparação para a pintura, abateu-se sobre em si. Com a notícia nada mais havendo a entreter-se com a sensação de importuno que causava à concunhada, mesmo porque o universo que a rodeava, seja em termos familiares, sociais, culturais, em nada com o seu conciliava, já tão andejo pela vida, pelas circunstâncias, pelos percalços. Tomando a caneca de café entre as palmas da mão, apreciando o calor, o gostoso cheiro, o suave toque nos lábios da bebida, já pensava em deitar-se para ouvir música de seu celular, ainda com bateria. Com sorte conciliaria o som da chuva no telhado, nas biqueiras das calhas, com a música para acalentar-lhe o sono. Entretanto, os planos foram outros. Leila retornou à área com uma garrafa de vinho e uma travessa com queijos.
-“Vamos tomar um pouco de vinho. Assim vai dar sono.” Disse entre trejeitos e uma risada alta.
O vinho é uma bebida para degustação lenta, quase que espiritual, apreciando os pensamentos, os sentimentos, as sensações que invadem o corpo quando a ingerimos, contudo Leila precisava embriagar-se pelo álcool, sorvendo goles grandes um atrás do outro, beliscando pedaços de queijo. Acompanhei em leves goles, mais para uma apreciação à bebida do que bebê-la mesmo. Notoriamente via-se Leila solta pelo efeito do álcool.
-“Vai embriagar-se.”
-“Não tô nem ai. Vou dormir a noite toda. Nem vou pensar no Márcio...” Num só gole virou quase meio copo de vinho. –“Sabe, eu faço tudo por ele, sacrifico muito da minha vida para ele, para nossas filhas, mas eles nem ai comigo.”
-“ Ele é daquele jeito parado, mas é o jeito da personalidade dele.” Comentei.
-“Ah, parado ele é mesmo. Nossa como ele é parado. Ele é muito bom para bancar o anfitrião, o festeiro, gosta de ver-se cercado por todos, mas, na prática, é lerdo qual uma tartaruga. Não faz nada sozinho, pede tudo pra mim. Pede tudo mesmo, sério!”
Soltou-se numa risada alta, bem escandalosa, como que estivesse rememorando algum momento que ilustrasse suas palavras. Completou o meu copo e levantou para um brinde.
-“A nossa saúde e a lerdeza do Márcio...” Séria, soltou um leve suspiro e continuou. –“ Coitado, falo assim mas tenho dó dessa dependência de mim.”
-“Como assim, dependência?”
-“Sim, senão fosse eu nem as nossas filhas teríamos...” Soltou uma gargalhada ao que um estrondo alto ouviu-se de um trovão. -“Até pra fazer aquilo ele é parado.”
Seu comportamento tornou-se totalmente descontraída e gesticulava tanto quanto dava risadas. Entretanto, Olívio não vislumbrava nas atitudes dela, no modo de agir, portar, qualquer sinal de aproximação. Normalmente, numa situação como essa, um homem uma mulher, isolados, bebida, cria uma atmosfera de caça, de busca pelos desejos, pelo sexo. Leila mantinha-se assexuada. Compreendeu nesse momento que a delonga do cunhado em termos de cama com a esposa justificar-se-ia por ser ela tão dispersa para os prazeres da carne. Não pode deixar de lado um sorriso, uma transparência no semblante de articulador, de manipulador frio, racional e objetivista. Pressentiu em seu âmago o interior da concunhada, observando que, pela formação familiar, religiosa, do casamento, das normas sociais, dos preceitos e doutrinas, também pela própria natureza castradora em si, sua vida física, sexual, com certeza, eram nulas nas experiências e buscas, como que a satisfazer-se numa vida fantasiosa de Marido e Mulher, filhos, um lar. Algo odioso ao seu entender justamente compreendendo em ter a vida moldada por falsos princípios restringindo a verdadeira felicidade em termos abrangentes, do aspecto espiritual ao físico. Não aceitava mesmo assim a postura de ser escrachada a relação entre as pessoas, nada contra ninguém, as opções sexuais, os fetiches, as fantasias, as perversões, conquanto que essas salutares nos diversos aspectos da vida, nos moldes corretamente postuladas. Quando consentidas entre as partes, entres os parceiros, entre todos, entre quatro paredes, podemos dizer que tudo é permitido e faz parte do ser humano liberto de preconceitos e fobias. Por si próprio em sua vida pessoal, em seu íntimo, não o era um libertino na busca pelo prazer? O sexo não se tornava um algo a ser almejado sempre e o prazer que podem serem arrancados dessa fantasia um vício? Infelizmente, Olívio, mesmo com tal filosofia, buscando aplica-la aos demais, encontrava resistência em todas as partes, calando na omissão satisfazendo-se a si mesmo quanto possível. Nessa reflexão de vida definar-se-ia como a um tronco de árvore, frondosa em seus galhos, lindas folhas, mais belas as flores, em um campo vasto de grama verde, tudo isso em uma terra abençoada. Entretanto, tal tronco invés de ereto, um tanto que torto, deformado. Toda a obra perdia-se nesse imáculo detalhe. O ser humano não condiz em perfeito sendo perfeito, mas no interior. Leila não será uma mulher que arrase quarteirões, contudo, seu sex appeal poderia ser a diferença em sua vida. Castrando-se qual fazia à sua vida, tornava-se o tronco torto da árvore. Nada pode ser feito para alterar tal quadro.
Uma rajada de vento acabou por apagar a vela sobre a mesa. Leila foi ao fogão de lenha e acendeu-a, retornando. Os seus olhos castanhos claros, à luz da vela, apresentavam um brilho diferente, com mais vida. Há os que dizem que os olhos são as janelas da Alma e por onde não há como esconder a si mesma, os próprios sentimentos. Em breves minutos em que olhou seus olhos Olívio compreendeu a vida vazia dela, a ausência do sentimento real, do prazer, do pecado, do sexo, da essência da vida no ciclo de crescei e multiplicar-vos, das entregas calorosas e intensas, tudo fruto da própria educação nos freios da igreja, da sociedade, da escola, da família, quadro criticamente piorado nem um casamento tradicional nos que todos os hipócritas esperam, naquela de “Viveram felizes para Sempre”. Na sua última observação aos olhos da concunhada, compreendeu sua fidelidade ao marido, enraizada até que a morte os separasse, quase uma obsessão doentia. A ela dada asas para libertar-se dos grilhões aprisionáveis em torno de si, nada faria para alar-se, porém, apenas manteria mais presa aos valores já presos no coração. Um tronco torto que não há de endireitar, senão após seu corte, manipulado para a destruição do original. Olívio nunca insistia no que não era para ocorrer. Levantou-se intencionando deitar em seu quarto, embalar ao som da chuva e do celular. Leila reteve pousando a mão no braço dele.
-“Preciso que fique... Preciso conversar...” Em seus olhos uma súplica, uma lágrima, uma dor no peito.
Olívio assentiu. Sentou-se. Leila encheu o copo com vinho. Nitidamente percebia que a sua defesa abaixou e estava fragilizada, indefesa, carente. Uma sensação de carinho e amor tomou seu espírito vendo-a assim, desarmada de sua prepotência, sua atitude afirmada pelos anos de doutrinas erradas, de lapsos nos ensinamentos, na máxima que a vida não é para ser vivida com felicidade, apenas vivida.
-“O que tem em teu coração? O que amargura?” Inquiriu-a solenemente.
Seus olhares fixos. Leila soltou-se a um choro baixo, amargurado e triste. Enxugou com as mãos as lágrimas e olhou tristemente o concunhado.
-“ Sabe quando você chega a um ponto na vida, tão perto dos cinquenta anos, percebe que está ficando velha, e tudo, mas tudo aquilo que acreditou desde a mais tenra idade, é uma ilusão? O marido, as filhas, o trabalho, a casa, os amigos, os familiares, tudo, tudo mesmo, não tem e não te dão valor merecido? Acordar cedo todos os dias, cuidar da casa, do marido, das filhas, do trabalho, de tudo, só conseguir chegar a descansar depois das dez da noite, todos os dias isso e ouvir desaforos de todos? Mais ainda do Márcio... Ele é tão desaforado comigo. Quantas vezes ficamos só eu e ele em casa, como hoje, uma noite chuvosa, romântica, gostosa para namorar e ele simplesmente me ignora ou quando não tem como fazê-lo, ele mal cumpre o seu papel de homem. Queria que ele fizesse mais comigo... Já ouvi tanto nas rodas de amigas que o marido a pegou fazendo-a ter orgasmos chupando sua..." Ela parou, olhou, deu uma risada acabrunhada e soltou-se numa gargalhada, continuando. -“Que se dane. Buceta. Isso mesmo, buceta. O Márcio nunca chupou a minha buceta. Não faz nada diferente quando a gente namora. Sabe, queria que ele deixasse subir nele, ficar por cima, colocando e tirando de dentro da minha buceta... Da minha bucetão!” Sem conter gargalhou alto, sonoramente alto, competindo com o som da chuva e das fracas rajadas de vento. Seus olhos estavam semicerrados. O álcool fazia criar nela uma leve torpência dos sentidos, não que embriagada, apenas tomada por uma ligeira sensação de alívio físico. Ela olhando seriamente continuou.
-“Nunca ele deixou ficar deitado e eu subir nele. Nunca ele meteu a boca na minha buceta. Nunca fez nada a não ser meter para fazer as crias. Crias que hoje me xingam, insultam, implicam comigo, maltratam, não me ajudam em nada. Só cobra, cobra tudo. Estou cansada disso. Mas tudo mesmo é o Márcio... Meu marido não preocupa comigo em nada, não liga pra mim e eu faço de tudo pra ele. Isso amargura meu coração...”
Seu choro foi sentido. As dores de sua alma, de mulher, de mãe, esposa, daquela que sente todos os esforços jogados em uma lata de lixo, premiam em seu choro. A angústia opressora em seu coração, com aqueles copos de vinho, a situação inusitada com o concunhado, a dor da solidão, a solidão mesmo naquela noite, na cama, a dormir sozinha. Olívio conteve-se em si mesmo apenas observando o desenrolar do drama da Leila. Compreendia bem sua posição, mas entendia que ela mesma não rebelaria contra sua situação. Portanto, só mesmo olhando o tronco torto e a passividade de nada fazer contra o fato. Sofria bem aproveitando o momento de vinho, de isolamento, até mesmo do Olívio, um pseudo confidente, discreto, ao qual sabia todo essa história morrer da mesma forma que nascera ao acaso. Finalmente, puxando da respiração quase ao extremo, Leila soltou um longo e aliviante suspiro, preenchendo a fisionomia em um rosto feliz, até que alegre, satisfeita.
-“Sabe, a vida continua e tudo não muda. Sempre será a mesma coisa. Vou deitar para esperar o Márcio... Não adianta, a minha vida é do lado do meu maridinho...” Com sua gargalhada alta, estridente, levantou-se entrando na casa.
Apanhou o celular. Vinte e duas horas. Com a sensação do “dia terminado” só pensou em também deitar-se. Sua cama, seu recanto, sua música no fone de ouvido e a espera pelo novo dia. Pensou na Cristina, muitos anos atrás, nem mesmo sabendo por que ela aparecia em seu pensamento. Talvez pelo que a Leila houvesse dito quanto ao “maridinho”, que nada muda e tudo será sempre igual. A conversa fôra curta, andando lado a lado, na calçada, numa das poucas oportunidades que ambos tiveram para estarem juntos, qual um casal não apenas amantes. Foram mais de quatro anos como amantes, debaixo dos olhares de todos. Cristina era casada com o seu cunhado, irmão de sua primeira esposa, portanto, sua oficialmente concunhada
-“Sei que você me ama, mas teu amor não é como o meu por você!” Dissera Cristina.
-“Porque diz isso?” Retrucou Olívio.
-“Meu amor por você completa o que te falta. Assim, sou toda sua, todinha sua pelo amor que te tenho. O que te falta sobra em mim.”
Olívio entendeu nas palavras lembradas o que a Leila sentia pelo marido, pela sua vida. Será que elas podem ser felizes em suas vidas mesmo sendo mulheres não realizadas? A Leila faltava-lhe as fantasias do sexo, do pecado, da luxúria. A Cristina faltava Olívio em sua vida. Não haveria respostas a essas perguntas. Mal pensou em erguer-se da cadeira Leila apareceu na porta, passou por ele e foi na área de serviço. Mesmo apenas na claridade das velas, não tinha como não observá-la trajando apenas uma camisola transparente, de cor preta, sem nada a cobrir os seios, a bunda, a buceta. Nua por baixo do tecido leve. Junto ao fogão de lenha, ajeitou algumas achas de madeiras, inclinando o corpo, salientando bem as curvas da bunda, das coxas, das costas largas ao tecido. Uma situação surreal. Passou novamente por ele, apenas olhando em décimos de segundo, ainda assim com o rabo do olho. Contudo, seu olhar tem um brilho, uma luz, um estado de contemplação diferente, qual sentindo-se sexualmente envolvida pela excitação intima.
-“Vou deitar...” Murmurou entrando na casa.
Não apenas os trajes sugestíveis criaram nele o desejo da carne, mas a essência do comportamento da Leila o atraia. Recordando das palavras da Leila, que o marido nunca tinha chupado sua buceta, já sentiu a ereção imaginando-a de pernas abertas, a boca em seu sexo, a volúpia de chupá-la pela primeira vez.
-“Não. Não é possível. Leila não pode estar querendo uma aventura. É fiel demais. Puritana. Não creio que possa ser verdade... Não a Leila. O que faço? Avanço o sinal? Permaneço omisso?” Olívio refletia em si mesmo. O volume do calção denunciava o desejo de avançar, a consciência a necessidade de omitir-se desse ato de traição. As palpitações aceleraram pronunciando um estado de ansiedade.
Sentindo-se leve, flutuando, absorto nos pensamentos, na dúvida, certificou das portas fechadas, do fogo semi apagado e entrou na casa, trancando a porta. Elevou a fraca luz da vela, clareando a cozinha e a porta do quarto de Leila, entreaberta. Na cama, deitada de frente, joelhos erguidos, pernas abertas, precariamente iluminadas pela vela no chão, em um canto do cômodo, Leila totalmente indefesa em sua pudica situação de esposa, de mulher. Assoprou a em seu poder apagando-a.
-“Não sei se é correto, se é o que ela deseja, ou se estarei cometendo um crime para ser acusado por uma vida toda, mas não resisto a vontade de violar esse corpo!” Entre que balbuciar as palavras e mantê-las no pensamento, adentrou ao quarto de sua concunhada.
Com pleno conhecimento enraizado em seu coração de seu comportamento dúbio o total risco de uma situação extremamente constrangedora, não oscilou no medo de tocar na cama com as pontas dos dedos, deslizando-os aos pés, acariciando-os, apertando os dedos, alisando os flancos, as solas. Segurou os dedos entre os lábios, sugando-os, para depois lamber entre os dedinhos, acariciando-os qual estivesse na vagina ante a eminente invasão. Leila estremeceu de maneira velada, oscilando na respiração, parcialmente trôpega. Sua postura deixou-se de uma disfarçada excitação para um desejo, ao que mãos e boca avançaram por suas pernas, passando das panturrilhas carnudas, carnes macias, às coxas e o tão aguardado momento de devaneio de sua vida, com os lábios de Olívio tocando na sua buceta, beijando-a nos lábios que entreabriam para ser violada pela primeira vez. Leila encolheu-se toda, soltou um gemido alto, perdeu-se na respiração forte.
-“Sim, Márcio, Meu Querido Marido, faz isso pra mim... Chupa minha bucetinha... Como quero isso... Deixe-me sentir tua boca...”
Não atentará para que Leila justificasse a traição chamando pelo nome do marido ou se realmente em seu estado acreditasse ser o marido. Com certeza, ela entregar-se-ia por completo. Desvencilhou da camiseta e calção, permanecendo apenas de cueca. Com os dedos escancarou a buceta e meteu a boca na entranha. Achou seu clitóris sugando, lambendo a racha já úmida, com um caldo adocicado, quente. As mãos seguraram nas polpas da bunda, puxando-lhe contra rosto, enfiando entre que chupar e penetrar a íntima carne da mulher. Sem cerimônia esfregou boca, a língua, o rosto. Olívio passou os braços externamente às coxas, calcando o ventre com rugas de gorduras com as mãos grudando nos pequenos seios, moles, prendendo Leila com os ombros mantendo a boca no sexo dela. Com a concunhada totalmente à mercê de sua aura pervertida, passou a lamber o clitóris, penetrando sua vagina. Com força máscula chupava dando um prazer tão desejada.
-“Márcio, que gostoso... Nunca pensei que fosse assim... Isso chupa bem forte. Mete em minha bucetinha sua boca...”
Não demorou nada para Leila soltar-se entre tremor, gemidos, suspiros e respiração entrecortada. Pela primeira vez o orgasmo chegou sendo chupada em sua entranha. Chegava ao gozo com a boca chupando seus fluídos, seu caldo quente. Em seus espasmos febris, mesclando com a doce loucura do gozo, além de freneticamente articular-se na cama, deixou vagar por várias vezes o nome do marido. Assemelhava-se qual uma descarga elétrica descontrolando os músculos, a intensidade do orgasmo. Leila nos quase trinta anos de casada não tivera um momento qual aquele, realizada em seu mais profundo desejo, o de ter uma boca grudada em seu sexo, invadindo-a, tirando-a da pureza pacata, da religiosa puritana, da esposa recatada, de mulher fiel. O mundo desapareceu ao que o auge de seu corpo aumentava o clímax. Os gemidos, os suspiros, a desritmada respiração confundiam-se numa mistura homogênea com a chuva torrencial que cai sobre o telhado. Como numa conspiração silenciosa, a chuva, os trovões, as rajadas de vento, acobertavam os sons daquela mulher adúltera, porém, feliz, satisfeita. Progressivamente Leila acalmou tornando-se numa tranquila mulher, serenamente passiva, inerte na cama, submissa ao deixar suas pernas serem abertas, observando aquele homem estranho em sua cama despir-se da única peça de roupa e vê-lo subir sobre si, levando o membro entre suas coxas procurando sua entrada vaginal e carinhosamente penetrá-la entre os lábios carnudos de sua gruta molhada. Carinhosamente Olívio enfiou seu membro na vagina de Leila.
-“Assim, põe dentro de mim sua pica, Márcio... Sou tua mulher! Faz tudo em mim...”
Por todas as possibilidades desse mundo, nos mais delirantes sonhos, nos mais improváveis desejos, o impossível estava ocorrendo em sua vida, não só agora que fazia sua concunhada tua mulher, tua amante, tua fêmea, mas também por realizar os desejos dela, mesmo que nessa estranha relação onde não o Olívio, contudo, o Márcio, o marido, que ali estava com ela. Qual realmente sua verdade? Não enxergar o real momento, sua traição, mesmo na sua plenitude de desejos, escoando-se que o marido ali estava presente ou justificar-se sabendo que era outro homem a possui-la, a dar o prazer tanto almejado? Olívio em estado de graça buscava tocar em todo o corpo, nos pequenos detalhes, sentindo a maciez da pele, o calor da carne, não ousando apenas tocar com sua boca a boca dela. Um beijo proibido que só haveria de acordá-la de seu sono, qual em A Bela Adormecida, onde o beijo despertaria para a realidade. Naquele momento do Universo o casal adúltero não ousava em pensar nesse despertar. Acalantando-a em seus braços, Olívio penetrava com amor e desejo Leila. As sensações dos corpos, o barulho da chuva, o silêncio do pecado, os prazeres da carne que só no sexo temos. Olívio segurou nas ancas da mulher fazendo manobras de maneira a trocar de posição, colocando-se por baixo, deixando-a empalada no membro. Leila agasalhou com as coxas e pernas o corpo de seu macho, sentando a bunda no membro. Quando começou a oscilar entre as penetrações, onde ela administrava o quanto e quando, sua timidez sumiu pelos sentimentos que assolaram tua alma, pelo prazer tão sonhado. Olívio buscava gravar em tua memoria o rosto, os trejeitos, as sensações que essa relação causava. Suas mãos acariciavam os seios de mamilos pequenos, macios, caídos. Uma magia toda especial em reter nos dedos aquela porção de carne, pele, glândula. Tomada por frenesi Leila aumentou a velocidade de sua manobra, mesclando os sons entre gemidos e lamúrias. Estranhamente quando chegou ao ápice da sensação, parou prendendo a respiração por segundos apertando o membro dentro de sua vagina. Quando soltou-se urrando e tropegamente respirando, Olívio sentiu sua barriga molhando com pingos espirrados da buceta. Pingos de um gozo alucinado. Antes que Leila novamente entrasse em um estado de torpor, ela relaxando e soltando da pala, viu-se colocada de quatro com Olívio levando o membro á sua entrada, penetrando. Qual a sua predileção das posições para o sexo, coloca-la de quatro, juntando-lhe na cintura, puxando-a contra teu corpo, podendo admirar as costas largas, o fez divagar nas nuvens.
-“Goze no meu pau, goze no pau de teu marido...” Disse ao ouvido da concunhada.
-“Sim, Meu Marido. Vou gozar no teu pau...”
Soltando-se dos freios morais, sociais, Olívio qual um animal passou a meter em Leila, alisando-lhe a bunda magra, as coxas finas, agarrando-lhe nos pés, seu fetiche tão obscuro, retendo a vontade do orgasmo. Como começara brutalmente fodê-la acalmou-se cadenciando as estocadas, de maneira carinhosa, acariciando a vagina, o clitóris. Pressentiu em sua amante o orgasmo. Inesperadamente ela começou a jogar o corpo para trás, fodendo o pau com força no mesmo instante que deixava sua voz rouca murmurar o nome do marido. Leila tremeu-se toda gozando. Olívio soltou-se em sua gala inundando o interior de sua concunhada. Os minutos após pareceram séculos. Leila deixou-se cair de lado na cama, inerte, suspirando. Olívio permaneceu ajoelhado na cama.
-“Vá pro seu quarto...” Por fim disse Leila.
Obedeceu-a calado, juntando suas roupas.
A janela foi aberta abruptamente permitindo a claridade do dia, de um belo sol, entrasse no quarto acordando Olívio. Era sua esposa, irmã do Márcio, cunhada da Leila.
-“Acorda preguiçoso! São quase nove horas da manhã.”
À mesa do café da manhã, todos reunidos. Leila toda carinhosa com o marido, abraçando-se e dando beijos, dengosa, soltando risadas e extremamente alegre, feliz. Qual uma criança que ganha um presente, a presença do Márcio dava-lhe uma incrível energia e essa transformava em uma mulher esfuziantemente faladora, descontraída, muito mais ativa. A descontração de todos, os comentários dos transtornos da chuva, as árvores caídas, as enxurradas, a noite sem energia elétrica, até mesmo a garrafa de vinho, tudo foi falado por ela de uma maneira que Olívio começou a duvidar de sua consciência e da verdade da noite anterior. Sonhara com tudo, com a Leila entregando-se ao sexo, ao pecado? Fora uma ilusão de sua cabeça ter tido a concunhada como mulher? O comportamento dela demostrava isso, nunca uma traição. Apenas quando nas trivialidades das conversas no instante que os olhares de ambos cruzaram percebeu-se entre eles o segredo daquela noite, numa mútua mensagem telepática. O que era impossível aconteceu, nunca mais haveria de acontecer.