Orgias de um cu virgem
O cursinho pré-vestibular tomava todo o meu tempo. Entrar na faculdade de medicina tinha se tornado meu objetivo de vida nos últimos anos do ensino médio. Eu havia estudado num bom colégio particular, onde sempre estive entre os primeiros da classe. No cursinho, iniciado nos primeiros meses daquele ano, eu também me destacava nos simulados devido às horas intermináveis de estudo, quase sempre trancafiado na solidão do meu quarto. Nas três semanas de julho destinadas a umas merecidas férias, se é que se podia chama-las assim uma vez que, no último dia letivo antes delas, nos entregaram uma batelada de apostilas repletas de exercícios de todas as matérias, a título de aplicar o conteúdo ministrado nas aulas.
- Não adianta você se enfurnar o tempo todo nesse quarto debruçado sobre as apostilas. Você precisa espairecer um pouco para encarar os próximos e mais difíceis meses dessa corrida. Estive conversando com o Jorge e ele me disse que os garotos vão fazer um acampamento com uns amigos, lá para o sul do Rio de Janeiro, mais especificamente fazer umas trilhas em Itatiaia até o cume das Agulhas Negras. Por que você não vai com eles? Seria uma boa fazer um pouco de exercício ao ar livre, areja a mente! – disse meu pai, que reconhecia meu esforço para entrar na faculdade, mas se indignava pelo fato de eu desperdiçar minha juventude.
- Programa de índio, não é pai! Acampar? Tem coisa mais bizarra e fora de moda do que acampar? Isso era coisa do tempo dos hippies. Tô fora! Ademais, não tenho a menor intenção de fazer qualquer programa com aqueles dois. São um saco! – respondi.
- Mas, vocês frequentavam o mesmo colégio nos últimos anos do ensino fundamental, eram amigos! – exclamou ele.
- Realmente, estudávamos no mesmo colégio e também íamos e voltávamos na mesma van escolar, mas daí a sermos amigos vai uma grande distância. – retruquei, pois me vieram as lembranças daquele tempo em que ambos, e mais uma galera, tinham como diversão fazer bullying comigo.
- Não importa o quão amigos ou não vocês sejam, o importante é você se distrair com jovens como você. Vai te ajudar a superar essa timidez excessiva! – ponderou ele.
- Pai, aqueles dois são uns perfeitos babacas, uns idiotas!
- Eu disse ao Jorge que ia conversar com você e, que talvez você pudesse ir com eles. Ele concordou e até já conversou com os garotos dele. Por eles, tudo bem! – revelou, me encarando, pois sabia que minha reação não ia ser das melhores.
- Você não podia ter feito isso, pai! Comprometer-me com aqueles caras, onde já se viu? Não posso nem olhar para a cara deles que me dá vontade de vomitar. Que saco!
- Não precisa se exaltar só por conta disso! Pense um pouco sobre o assunto, ainda faltam uns dias até o final de semana até lá você vai pensar diferente. – argumentou, já dando por certa minha adesão ao grupo.
- Eu não vou, pai! Ponto final! – respondi exasperado, voltando a me trancar no quarto a passos firmes e batidos.
Conforme eu tinha previsto, algumas horas depois, foi a minha mãe a vir fazer campanha para eu fazer aquela viagem. Sua tática era bem diferente da do meu pai. Enquanto ele despejava tudo diretamente e, depois entrava de sola defendendo seus argumentos, ela vinha com aquela lábia mansinha, toda cheia de diminutivos para imprimir carinho àquilo que dizia, e fazendo com que a gente se sentisse um grosseirão, um mal agradecido, se não concordasse com seus pontos de vista. Foi assim que ela me convenceu a aceitar aquela droga de programa e, me deixado puto por cair mais uma vez na armadilha dela.
O Leo tinha estudado na mesma classe que eu e, o Mario estava dois anos a nossa frente quando frequentávamos o mesmo colégio. Desde que nos mudamos para a casa vizinha a deles, meus pais insistiam nessa amizade que nunca se concretizou. Enquanto eles se achavam os donos da rua, eu era o garoto mais tímido das redondezas. Estimulados pelo pai, um esportista fanático, eles se metiam em tudo que é esporte visando desenvolver a musculatura espelhando-se no pai que certamente sofria de vigorexia. Enquanto isso, o meu se desdobrava para que o acompanhasse ao clube onde jogava tênis com uns amigos e fazia natação. Quando conseguia me colocar no carro e ir ao clube, eu me retraía e acabava detestando tudo aquilo. Eu me sentia feliz, por incrível que isso possa parecer para um adolescente, dentro do meu corpo, que era bastante atraente e bem proporcional, à exceção das nádegas que, por algum motivo, ainda cresciam na velocidade com que crescem os bebês.
Durante as aulas de educação física o Mario e o Leo começaram a reparar e a implicar com a minha bunda, bastante roliça e muito carnuda. Foi do que precisaram para começar a me atazanar. Em poucas semanas o colégio inteiro me conhecia por tanajura. Toda e qualquer calça, short ou bermuda ficava apertada ao redor daquela fartura de carnes. Em pouco tempo, uma galerinha de espertalhões se divertia me beliscando, passando a mão ou, simulando me foder pelos corredores do colégio. Até os funcionários se faziam de cegos e se divertiam com o meu constrangimento. Muitas vezes, diante da impotência, eu me punha a chorar, fornecendo mais munição para os meus algozes. Era essa a razão de eu ter me afastado dos meus vizinhos assim que mudei de colégio ao entrar no ensino médio. Embora não fossem desprovidos de uma boa condição financeira, os pais do Mario e do Leo não tinham como manter os filhos num colégio como aquele para o qual eu havia me transferido. Feliz por ter me livrado dos dois, eu não via motivo para agora me embrenhar numa viagem tão descabida, justamente com esses babacas.
Na véspera do fatídico dia de nossa partida eu pesquisei na Internet sobre o Parque Nacional do Itatiaia, tentando obter algumas informações que pudessem nos ser úteis durante a escalada do pico das Agulhas Negras, pois tinha a certeza de que nenhum dos dois se daria ao trabalho de checar onde estavam se metendo. Eu já conhecia aquela suposta autossuficiência que os metia em maus lençóis quando surgiam os primeiros reveses. Baseado no que encontrei fiz minha mochila, que se transformou num imenso trambolho com o qual eu nem imaginava como me virar.
- Será que você não está levando coisas demais? Acampamentos são improvisados e despojados, coisa de jovens. Você se parece com a sua mãe, para qualquer fim de semana precisa levar metade da casa na bagagem. – sentenciou meu pai, contente por eu ter aceitado fazer aquela viagem, mas ciente de que o fazia a contragosto e magoado com sua insistência. – Abra sua mente e você verá que vai ser muito divertido! – exclamou, tentando uma reconciliação.
- Vai ser um saco! Isso se não for pior! – devolvi, carrancudo.
Partimos no meio da manhã de uma sexta-feira, com o Dodge Journey da mãe do Mario, que ele dirigia, atulhado de tralhas, mais o Paulo, Thiago e Lucas amigos deles que eu até então não conhecia e, com os quais não simpatizei logo de cara. Para variar, eu era o de físico mais mirradinho, embora já estivesse com um metro e oitenta e poucos centímetros, e pesasse oitenta e dois quilos aos dezenove anos. O trânsito pesado na cidade e os quilômetros iniciais da Via Dutra nos fizeram chegar à entrada do parque por volta das duas e meia da tarde. Ali já nos deparamos com as primeiras cagadas do improviso daquela viagem. O Mario se perdeu um pouco na BR-354 entre a Via Dutra e Caxambu e acabamos passando direto pelo acesso ao parque. Quando chegamos à portaria, um tal de Posto Marcão, descobrimos que ninguém havia feito reserva para podermos acampar dentro do parque.
- Só para constar, algum de vocês pesquisou sobre como funcionam as regras dentro do parque, o que se pode ou não fazer, o que existe para visitar, enfim, coisas básicas que qualquer débil mental faz antes de se embrenhar num passeio desses? – questionei.
- O Thiago e o Paulo já acamparam aqui, já escalaram o Agulhas, já percorreram uma porrada dessas trilhas, a gente se fiou na deles! - respondeu o Mario.
- Isso explica tudo! – exclamei.
- Qual é cara? A gente pensou que o Mario e o Leo tinham feito as reservas, afinal foi deles a ideia de vir para cá. – revidou o Paulo.
- Um mais besta do que o outro, só podia dar nisso! – exclamei, enquanto o Thiago conversava com o sujeito da portaria e, por sorte, descolava a última vaga disponível no camping.
- Puta que o pariu! Você é um mala, cara! A gente veio aqui para se divertir. Bem que o Mario e o Leo falaram que você é do tipo viadinho gostoso, mas que é todo certinho feito um mauricinho. – retrucou o Paulo.
- Cara! A última coisa que eu queria fazer nesse mundo era estar aqui. Se não fosse o Jorge e meu pai terem armado essa cilada para mim, eu jamais faria programa algum com vocês. – devolvi puto.
A barraca que o pai do Mario e do Leo comprou especialmente para essa aventura era bem grande e podia abrigar seis pessoas. O trambolho de mais de seis metros de comprimento e três de largura, cujo manual dizia ser de fácil montagem, demorou mais de duas horas para ficar de pé, isso por que um carinha solidário da barraca ao lado veio em nosso auxílio. Eu nunca tinha montado uma porra daquelas e, pelo visto, nenhum dos sabichões que me acompanhavam. Fui o único a agradecer a ajuda do sujeito, que chegou a se enfezar com os palpites furados do Leo. Na distribuição dos lugares onde íamos dormir, acabei ficando ao lado do Lucas, justamente o que já estava puto comigo, pois o Mario e o Leo ficaram num dos quartos e o Paulo e o Thiago no outro.
- Seus filhos da puta! Eu vou ter que dormir ao lado desse boiola por seis pernoites? – protestou o Lucas. – Podem esquecer! Está instituído um rodízio, cada um vai ficar com ele pelo menos uma noite. – declarou autoritário.
- Você pode dormir do lado de fora, seu rambinho de merda, se não quiser ficar no mesmo espaço que eu. – afirmei, em alusão ao personagem Rambo que o Silvester Stalone interpretou e, cujo físico se assemelhava ao do Lucas.
- Eu ainda vou dar umas porradas nesse viadinho! – devolveu arrogante.
- Pessoal, calma! Nesse ritmo a gente vai entrar em guerra logo, logo. – ponderou o Mario.
- Nós já estamos numa! Só não enxerga quem não quer! – exclamei.
Quando comecei a desfazer a mochila começaram as gozações. Eles me rodearam e começaram a tirar item por item e, a cada retirada, exibiam o que eu havia trazido e faziam alguma observação debochada a respeito.
- Você se esqueceu de trazer lubrificante para o cuzinho! – disse o Paulo, ao retirar o último item de dentro da mochila, um saco de dormir super-forrado e, que permitia o controle da temperatura interna através de aberturas laterais onde era possível encaixar os braços ao se estar em temperaturas não tão baixas. Eu o tinha usado há dois anos quando fiz um intercâmbio nos Estados Unidos e, tinha ido acampar no Yellowstone com a família onde fiquei hospedado. – Vê se precisa de um troço desses, todo cheio de frescuras, para acampar. Aposto que o boiolinha comprou isso nos States! Nem me dei ao trabalho de retrucar.
Apesar do avançado da hora, resolvemos fazer uma caminhada pelos arredores do abrigo Rebouças, uma construção de pedras que hospeda alguns visitantes mediante reserva antecipada e, geralmente usada pelos montanhistas que vão escalar o pico das Agulhas Negras. Ele dispõe de alguns ‘luxos’ como beliches, cozinha, refeitório e banheiro com chuveiro, tudo muito simples e meio improvisado, mas infinitamente mais confortável do que a área de camping ao seu lado. Nesse ponto do parque há uma confluência de trilhas, tanto para a parte alta quanto para a parte baixa. Enquanto na parte alta predominam os campos de altitude e os picos mais almejados como o próprio Agulhas e o maciço das Prateleiras, na parte baixa proliferam as cachoeiras e nascentes de rios. Com a neblina descendo rápida, só nos atrevemos a caminhar até o represamento do rio Campo Belo, uma barragenzinha de pedras onde instalaram uma hidrelétrica que acabou sendo desativada. Os morros e o verde da paisagem não deixavam de ser bucólicos, apesar da dificuldade de se respirar àquela altitude de 2.500 metros e do ar gelado que descia junto com a neblina cada vez mais densa e, que já encobria boa parte dos cumes ao redor. As rajadas de vento nos impeliram a retornar à barraca e preparar o jantar, ainda todo composto pelo que tínhamos trazido de casa, torta salgada, pastel de forno e frutas. Sabíamos que, dali para frente, dependeríamos das gororobas que nós mesmos tínhamos que preparar naquele improviso, por isso, todos comeram feito lobos esfomeados.
Embora fosse proibido o consumo de bebidas alcoólicas nas dependências do parque, bastou a temperatura despencar para cinco graus negativos depois do jantar para que o Thiago tirasse da mochila uma garrafa de uísque barato que rodou de boca em boca, exceto na minha.
- É nojinho? O mauricinho tem nojinho de boca de macho! – proclamou o Thiago.
Só ouvi reclamações e palavrões durante toda a madrugada. Nenhum deles conseguia pegar no sono, embora estivessem cansados da viagem, devido ao frio que, eles diziam, parecia brotar do chão. Enrolado no meu saco de dormir, de estomago cheio e quentinho, eu capotei logo depois de me deitar.
- Esse putinho estava certo, o saco de dormir dele é o único que protege desse puta frio. – sentenciou o Leo.
- Se enfia aí junto com ele e aproveita para meter nesse rabão. – disse o Paulo.
- Cara, nem me fale! Vocês viram que quase não têm garotas por aqui e, aquelas cariocas da última barraca são verdadeiras barangas. A bundinha do Marcelo é muito mais gostosa do que as encruadas delas. – retrucou o Leo.
- Isso é verdade! O viadinho é um mala, mas tem uma bundinha gostosa para caralho! – exclamou o Lucas.
- Antes que eu me esqueça, vão se foder! – rosnei do meu canto. A gargalhada foi geral.
O pior foi que o Lucas, não aguentando mais aquele frio, resolveu seguir o sugerido pelo Paulo e veio se meter no meu saco de dormir. Assim que o percebi abrindo o saco, quis enxotá-lo, mas ele se defendeu e persistiu no seu intento. Troquei alguns socos com ele, que só tiveram efeito sobre meu corpo deixando-o dolorido, pois os meus ele parecia nem estar sentindo. A discussão se acalorou e logo começamos a ouvir protestos quanto ao barulho das barracas vizinhas. Temendo pelo escândalo, acabei deixando-o entrar. O desgraçado parecia uma pedra de gelo quando começou a se esfregar em mim. Dei um soco no saco dele e, esse sim, ele sentiu.
- Puta merda! Cê tá louco! Caralho, isso dói!
- Louco está você se acha que vou deixar você continuar com essa sacanagem. Nem que sejamos expulsos daqui pela manhã, eu vou botar a boca no mundo se você encostar mais uma vez em mim. – ameacei.
- Vocês duas aí, dá para calar essa boca e tentar dormir! Amanhã não vai ser moleza. – advertiu o Mario.
Já passava das oito horas quando acordei todo moído. Ao contrário do Yellowstone, onde a área de camping tinha o chão todo regularizado e gramado, aqui a terra batida estava cheia de reentrâncias que se faziam sentir cada vez que mudávamos de posição. O costumeiro descaso brasileiro. Ainda fazia muito frio, mas o sol brilhava fraco lá fora e o vento tinha dado uma trégua. O Lucas continuava grudado em mim. No entanto, não impliquei com ele, pois ainda dormia e aquilo era apenas uma reação instintiva de se aquecer, uma vez que o agasalho que estava usando praticamente não servia para nada naquele frio. O que me incomodava era sua ereção roçando minha bunda. Não pelo que os outros pudessem concluir a respeito, uma vez que ninguém estava vendo o que acontecia dentro do saco de dormir, nem por representar qualquer perigo para a minha integridade, mas pelo fato de eu não sentir nenhuma repulsa daquilo. Na verdade, o calor que emanava daquele corpão era algo curiosamente sedutor. Quando ele acordou, percebeu que seu cacetão estava praticamente alojado no meu rego, apesar das roupas que nos cobriam. Apressou-se a se afastar temendo minha reação. Mas, voltou a me encoxar quando constatou que eu não me manifestava. Nenhum dos dois fez qualquer comentário a respeito quando os demais começaram a acordar. A cumplicidade daquele pequeno segredo mudou completamente o modo como ele havia me tratado no dia anterior.
Não havíamos feito plano algum para aqueles dias em Itatiaia. O único projeto concreto era a escalada do Agulhas, embora nenhum de nós tivesse a menor noção de como fazê-lo. Enquanto preparávamos o café, aproveitei para bater um papo com o cara que nos tinha ajudado a montar a barraca. O grupinho dele já estava de mochila nas costas pronto para entrar nas trilhas.
- Como vocês não tem experiência, seria legal fazerem umas trilhas mais leves nesses dois primeiros dias, para se ambientarem e se prepararem para a escalada do Agulhas que, posso garantir, não é moleza. – aconselhou, experiente das mais de meia dúzia de vezes que tinha feito a escalada.
Levei essa informação ao pessoal enquanto tomávamos café e víamos, grupo após grupo, deixar o acampamento e o refúgio Rebouças em direção aos cumes. Obviamente isso gerou uma discussão. O Thiago se julgava experiente o suficiente para fazermos a escalada naquele mesmo dia. Contudo, nem todos puseram fé naquela pose de guia e, acharam melhor seguir o conselho do carinha.
- Só por que esse frutinha está se cagando de medo e sai por aí ouvindo qualquer babaca, não significa que temos que fazer o que ele acha. Eu sou perfeitamente capaz de leva-los até o cume em total segurança. Estive aqui ano passado e, lembro-me muito bem da trilha. – garantiu.
- Posso até imaginar! Não me admiraria nem um pouco se, depois de horas perambulando por aí, fossemos parar na Via Dutra ou quem sabe lá onde. – murmurei.
- Falta isso aqui, ó, para eu te dar uma porrada! – retrucou furioso.
- Seja realista, cara! O fato de você ter ido uma vez até o cume não te torna um expert no assunto. Eu acho muito mais sensato seguirmos a orientação do carinha, até para nos prepararmos fisicamente para enfrentar a escalada. – argumentei. Depois de mais algumas interposições, a proposta foi aceita pela maioria. O Thiago me encarava como um cão raivoso.
Por volta das nove e meia, com o céu brilhante e límpido, partimos rumo à parte baixa do parque, numa jornada de 21 quilômetros, passando por áreas de mata mais fechada e alguns charcos, numa travessia conhecida com Ruy Braga. Durante a caminhada passamos por imensos maciços, platôs com vistas deslumbrantes e, alguns trechos de mata bastante complicados. Na maior parte do dia o sol brilhou e chegou ao ponto de nos obrigar a ir tirando paulatinamente os agasalhos e até as camisetas. Coisas de inverno brasileiro, frio pela manhã e à noite e, calor tórrido ao meio-dia. Apesar de estarmos descendo de uma altitude de 2500 metros para 1000 metros, algumas subidas de morros se mostraram bem cansativas sob o sol escaldante. O que nos orientava na trilha era o GPS que eu havia trazido, pois se nos fiássemos pelos palpites do Thiago e do Paulo, jamais chegaríamos ao abrigo Macieira, onde íamos pernoitar. Tal como o abrigo Massena, alguns quilômetros antes, este também estava em ruínas. Mesmo assim, optamos por pernoitar no que restou da sala do abrigo. Já estava escuro quando o alcançamos à luz de lanternas no meio da mata. Vislumbrar a construção deteriorada de madeira, com seu telhado de duas águas e, com as venezianas escancaradas, assentada sobre uma base de pedras foi como encontrar um oásis no deserto. Todos estavam exaustos e com frio. O lauto jantar consistiu de bolachas, pão de forma com patês enlatados e água, mas serviu para amenizar o ronco do estômago. Dispusemos nossos sacos de dormir mais ou menos na mesma posição que na barraca e, com as mesmas duplas da noite anterior. Embora estivéssemos mais protegidos do vento gelado e a temperatura não ter despencado tanto quanto na noite anterior, a umidade da mata fechada ao redor do abrigo fazia o frio, de menos um grau, penetrar os ossos. O Lucas voltou a entrar no meu saco de dormir pouco depois da meia noite, enregelado como uma pedra de gelo. Não ofereci nenhuma resistência, estava cansado demais para discutir ou me engalfinhar por algo que não tinha sido tão desagradável assim. Meia hora depois de se enfiar ao meu lado, já aquecido, percebi-o me encoxando de mansinho, uma, duas, três, meia dúzia de vezes. Ao mesmo tempo, ele fungava meu pescoço e, seu hálito morno roçava minha pele. Comecei a ficar de pau duro ao sentir que o tesão estava provocando uma ereção nele. Ele passou cautelosamente o braço pela minha cintura e segurou uma das minhas mãos. Nossos dedos começaram a se encaixar e ele fechou a mão com a minha dentro da dele. Parecia haver uma escola de samba retumbando no meu peito e eu permaneci estático, deixando-o me encoxar despudoradamente. Aos poucos senti que ele puxava minha calça de moletom para baixo expondo minhas nádegas. Não demorei a sentir sua pica rígida roçando meu rego. Ele começava a arfar mais aceleradamente. Ele ficou um bom tempo me encoxando e lambuzando meu rego com seu pré-gozo. Então sobreveio o inevitável. Ambos cheios de tesão, ele pegou minha camiseta deixada sobre a mochila e a levou ao meu rosto.
- Morde isso aqui! – sussurrou baixinho. Eu obedeci.
O restante da camiseta ele apertou contra o meu rosto quase me sufocando, ao mesmo tempo em que metia o caralhão no meu cuzinho. A dor era tão intensa que além de gritar eu me debatia debaixo do peso do seu corpo, tentando escapar daquela estaca que ia afundando nas minhas entranhas em estocadas firmes e potentes. Meus gritos não passavam de rugidos abafados pela camiseta ecoando entre as paredes vazias do abrigo e a mata úmida lá fora, que iam se acalmando enquanto a sensação de preenchimento se completava. Por um tempo, ele manteve a pica imóvel dentro do casulo macio e acolhedor que se mantinha contraído ao redor de seu falo. Parei de gritar e só tentava respirar com a cara enfiada na camiseta. Aos poucos, ele começou a mover a rola num vaivém lento e torturante. Eu gemia, sentindo minha carne dilacerada sendo esfolada por aquele intruso imenso.
- Vocês estão fodendo aí, seus viados? Que porra é essa que vocês não param de gemer? – bradou o Leo, incomodado com aqueles sons obscenos que ecoavam pelo abrigo. Ninguém respondeu. O Lucas beijava meu cangote e mantinha a cadência bombando meu cuzinho.
Eu me melei com a minha porra antes mesmo de ouvir a contestação do Leo. Mesmo com aquela puta dor se espalhando pela minha pelve, a sensação de ter aquele cacetão enfiado em mim era delirantemente prazerosa. O Lucas começou a se retesar aos poucos, as estocadas ficaram tão intensas que eu voltei a gritar. A pica se alojava tão profundamente que eu tinha a impressão de que, a qualquer momento, ela afloraria na minha boca me empalando. Os beijos no meu cangote foram se transformando em chupões e, aos poucos eu notei que meu cu estava sendo inundado de porra. Um fluido morno que entrava em jatos abundantes e, escorria lenta e pegajosamente através da minha mucosa anal.
- Puta que pariu! Vocês vão parar com essa porra, ou não? – protestou o Paulo. – Quem é que consegue dormir com essa merda de frio e vocês dois aí gemendo feito cadelas no cio?
O Lucas e eu voltamos a entrelaçar os dedos e ficar de mãos dadas. Eu adormeci com a rola dele amolecendo aos poucos dentro de mim.
Chovia na manhã seguinte quando acordamos, já bastante tarde. Após um mingau como café da manhã, arrumamos nossas tralhas sem pressa e deixamos o Abrigo Macieira por volta das 10:00hs. A trilha a partir daqui segue por um caminho largo deixando nítido que caminhamos pelo remanescente de uma estrada, a velha BR-485, passamos por muitas muretas de contenção e sobre pequenas pontes soterradas, quase imperceptíveis. Depois de uma hora e meia, chegamos ao trecho final, onde o bambu-gigante se torna um inconveniente obstruindo o caminho até o fim, ainda bem que alguém havia passado o facão recentemente. Contudo, o Paulo acabou batendo o rosto contra uma ponta de bambu recém-cortada na trilha estreita, e abriu um ferimento no supercílio esquerdo. Seu rosto e o agasalho logo ficaram cobertos de sangue e, ele desesperado. Limpei o ferimento com água cristalina de uma cachoeira próxima e improvisei uma atadura rasgando uma de suas camisetas, me arrependendo de não ter trazido o estojo de primeiros socorros que havia deixado na barraca do acampamento. Pouco depois do meio-dia chegamos ao final da trilha que acaba em um grande portão de ferro, mas para a conclusão da travessia ainda era preciso caminhar mais 20 minutos por uma estradinha além do portão. Meia hora depois, concluímos a Travessia Ruy Braga que acaba ao lado da Piscina do Maromba e diante do posto de controle no qual precisamos comunicar que terminamos. O intuito de conquista de trilha e aprimoramento do condicionamento físico tinha sido alcançado e, estávamos radiantes pela aventura. No estacionamento ao lado do posto de controle não foi difícil encontrar um casal de Uberaba, num Land Rover Defender, disposto a nos dar uma carona até o abrigo Rebouças, em troca de informações de qual caminho seguir pela estrada entre a Via Dutra e Caxambu, onde havíamos nos perdido dias antes.
Chegamos ao abrigo pouco antes do anoitecer. A chuva havia parado, o céu estava limpo e ia se coalhando de estrelas enquanto a lua cheia despertava em todo seu esplendor. As pessoas, tanto do abrigo quanto do camping, formavam rodinhas batendo papo e ouvindo as histórias daqueles mais experientes que já tinham escalado o Agulhas, enquanto a noite avançava, gélida e silenciosa. Eu conversava com o carinha da barraca ao lado, na varanda do abrigo, e contava nossa aventura até a parte baixa do parque, conforme sugestão dele. Nem reparei que as pessoas iam se recolhendo aos poucos e que, a exceção de um casal dando uns amassos na outra extremidade da varanda e, um grupinho de quatro rapazes fumando um baseado sentados sobre a mureta diante do abrigo, todos já haviam se enfiado nas camas ou sacos de dormir. Passava da meia-noite, o silêncio chegava a entrar no corpo da gente. O Lucas saiu da barraca todo embrulhado em agasalhos e enrolado num cobertor, e veio se juntar a nós.
- Vocês não estão com frio? – questionou, querendo puxar conversa.
- Até me esqueci dele. – respondeu o carinha. Eu não disse nada.
Trocamos algumas frases antes do carinha se despedir com um boa noite e o pretexto de estar caindo de sono.
- Atrapalhei? – perguntou o Lucas, quando ficamos a sós.
- Atrapalhar o quê?
- O chaveco que ele estava aplicando em você!
- Deixa de besteira! Só estávamos trocando umas ideias.
- Você pode ser, mas ele tinha outras intenções!
- Como você pode afirmar isso?
- Ele está de olho em você desde a nossa chegada. Foi por isso que se prontificou a ajudar a montar a barraca.
- Delírio! Puro delírio! Eu vou dormir que dá mais certo. Boa noite! - eu não percebi quando ele entrou na barraca e se deitou no saco de dormir dele.
No dia seguinte fizemos outra trilha, essa mais íngreme e com mais obstáculos. No meio da manhã as nuvens formavam um tapete de algodão que parecia flutuar no ar e impedia a visão do que estava abaixo dele. O sol brilhava fraco e o ar rarefeito da altitude voltava a incomodar a caminhada. Algumas escarpas mais verticais exigiram que usássemos cordas para transpor as rochas e nos manter na trilha. Não tínhamos trazido cordas, para variar, e eu sugeri que nos uníssemos a algum grupo e fizéssemos a escalada usando o material deles. O Thiago se opôs e nova discussão começou. Ao ver que o grupo estava novamente dividido entre nossas opiniões opostas, ele se enfureceu. Ele queria prosseguir fora da trilha e contornar as rochas, sem saber o que estava pelo caminho.
- Continua a dar o cu, que é o que você sabe fazer, e deixa que eu aponte como chegar ao nosso destino! – berrou possesso.
No mesmo instante eu olhei para o Lucas, ele não me encarou. O silêncio constrangedor que se formou me deixou saber que todos já sabiam que ele tinha me enrabado. Fiquei sem ação, tive vontade de evaporar no ar. O Paulo, o Leo e o Mario me olhavam com o canto do olho, o Thiago me encarava desafiador e, o Lucas olhava para a nesga que se abrira no tapete de nuvens e deixava ver o Vale do Paraíba lá embaixo.
- Bem! Vamos ficar parados aqui, ou vamos adiante? – questionou o Thiago. Um por um foi formando uma fila atrás dele, sem que ninguém abrisse a boca. Eu segui por último, atrás do Mario, como um guerreiro derrotado e humilhado. O dia tinha acabado ali para mim e, eu cheguei a cogitar se a viagem toda não terminaria ali. Os campos rupestres cobertos de rochas de formas variadas e os campos de vegetação rasteira que espreitam as grandes montanhas, não conseguiam desviar meus pensamentos da atitude sórdida do Lucas. Aquilo estava doendo mais do que todos os anos de bullying que eu havia sofrido no colégio.
Cerca de uma hora depois, encontramos um grupo de dez cadetes da AMAN. Eles estavam explorando o parque por conta própria, uma vez que não estavam em treinamento oficial quando, inclusive, o parque ficava fechado para visitantes. Não demoramos a descobrir que estávamos indo num sentido bem diverso daquele que seria nosso destino, para onde eles também estavam indo, porém oriundos de um local diverso do nosso. O pessoal caiu matando em cima do Thiago que nos guiava para uma região bastante erma e dificultosa para caminhar. Eu permaneci calado. Estava tão cansado daquilo tudo que, pouco me importava àquela altura, se teríamos de ser resgatados pelos guardas do parque ou pela polícia ambiental.
Rodrigo, um dos cadetes, massudo e com um par de olhos tão expressivos que tirava o fôlego da gente, veio me abordar no fim da fila.
- Tudo bem com você? Parece exausto! Faz tempo que estão caminhando? – perguntou solícito.
- Tudo! Umas seis horas.
- Vocês não tem nenhum mapa das trilhas? É uma inconsequência caminhar por aí sem uma orientação precisa. Nós estamos com bússolas, praticando um pouco como fazer localizações. – esclareceu.
- Legal! Não temos nada além desse roteiro que está nesse folder do próprio parque e meu GPS, ao qual ninguém está dando bola. – respondi.
- Mas, por ele já dá para ver que vocês estavam se afastando das trilhas.
- Eu sei! Desisti de argumentar com o Thiago, nosso autoproclamado guia.
- Quem? Aquele sujeitinho ali?
- O próprio.
- Tem mesmo pose de mandachuva! E os demais, não se posicionaram? Um grupo em situações como essa precisa se manter coeso, é daí que vem a força. – argumentou.
- Tenta explicar isso para aquele idiota! – ele riu e continuou caminhando ao meu lado. Outro cadete havia assumido o controle da situação e nos guiava para o lugar certo.
Ele acabou sendo tão engraçado e envolvente que deixei de pensar nos meus problemas e na fadiga que torturava meu corpo. Ao chegarmos ao entroncamento da trilha que nos levaria de volta ao camping, ele me pediu o telefone e prometeu entrar em contato quando estivesse em São Paulo, pois morava com os pais e um irmão mais velho no bairro do Sumaré. Ao nos despedirmos com um abraço, ele sussurrou no meu ouvido que eu era um tesão e, que tinha se amarrado na minha. Fiquei sem graça, mas aquilo levantou o meu astral.
Naquela noite o Lucas se mudou para o quarto do Leo e o Mario veio dormir comigo. Ouvi suas gracinhas por um tempo, depois que todos dormiam. O relato do Lucas tinha derrubado as barreiras que, até então, os impediram de avançar o sinal. Agora que todos sabiam o que tinha acontecido, se acharam no direito de tirar uma casquinha.
O Mario era um cara muito bonito, diferentemente do irmão menor que não tinha grandes atrativos, ele esbanjava sensualidade. Nos tempos do colégio, quando me bolinava, era das investidas dele que eu mais tinha receio. Chegava a tremer quando ele vinha no meio da galera que ia me azucrinar. Porém, naquela noite, ele não me pareceu tão intimidador. Talvez, por que naquele dia minha cota de paciência já tivesse se esgotado. Tão logo ele apalpou minhas nádegas, eu coloquei a mão para trás e, ao contrário do que ele imaginava, ao invés de afastá-lo eu peguei na pica dele. Ele hesitou uns instantes, provavelmente pensando que eu ia fazer alguma sacanagem. Mas, quando notou que eu o acariciava, se animou todo. Por um tempo ele ficou me chupando os mamilos, que tinha exposto subindo minha camiseta até o pescoço. Eu gemia baixinho quando ele cravava os dentes no meu peitinho saliente. Trocamos uns beijos, ardentes, porém sem emoção, apenas excitados pelo que estávamos prestes a fazer. Quando ele tirou minha calça e começou a procurar meu cuzinho com os dedos ávidos, eu abri as pernas para que eles se encaixem nelas. Ergui lenta e sensualmente meus joelhos até quase tocarem meus ombros, o que fez empinar minha pelve e franquear meu cuzinho. A penetração de seu avantajo cacete foi abrupta e dolorida, ele me encarando mais com espanto do que com alguma emoção verdadeira. Ele parecia não acreditar que aquilo estava acontecendo com tamanha facilidade. Ao se convencer de que eu estava realmente me entregando para sua tara descontrolada, começou a me foder com força e profundidade. Eu gemia como na noite anterior, mordendo uma camiseta entre os dentes e deixando aquela pica colossal me arrombar. Ele estava com tanto tesão que não demorou a me esporrar as entranhas, mal haviam se passado dez minutos. Quando sentiu toda a tensão acumulada se dissipando de seu corpo, começou a me agarrar com força, como se agindo assim o tesão voltasse com o mesmo ímpeto. Embora eu fosse fissurado em músculos de macho, de nada adiantou eu ficar acariciando os bíceps e o tronco do Mario enquanto ele bombava meu cuzinho. Não consegui gozar e, também não me importei com isso, tudo o que eu queria, era adormecer para ver se o dia seguinte seria mais sereno.
- Terminaram com esse bacanal? Como é que vai ser Marcelo, um por noite? – questionou o Leo, ligado no que acontecia no compartimento ao lado. O Mario retrucou com um gracejo, só para confirmar aos demais que tinha me comido.
Na manhã seguinte acordamos com o sol já alto, resultado da estafante caminhada do dia anterior. Os demais grupos já haviam deixado o camping e o abrigo Rebouças. Só tinham ficado as garotas cariocas, na barraca montada logo atrás da nossa. Elas vieram puxar conversa enquanto tomávamos nosso café. O Paulo e o Thiago foram os que mais deram trela para elas, especialmente, as duas que estavam notoriamente caçando machos com aquela aventura. À líder do grupo, uma garota de mais ou menos trinta anos, faltava todo e qualquer atrativo feminino. Ela estava um pouco acima do peso, tinha ombros largos como um homem, cabelos muito curtos, voz grossa e, o caminhar, se assemelhava ao de um homem. Era toda cuidados com uma loirinha franzina de pouco mais de vinte anos, que parecia quebrar se tocada com mais vigor. Não havia dúvida de que formavam um casal de lésbicas. As outras duas deviam estar acompanhando o casalzinho para não dar tanta bandeira, ou para justificar a viagem devassa da loirinha para a família. Elas estavam a fim de dar para o primeiro que as quisesse comer. Desde nossa chegada eu reparei como se insinuavam e se ofereciam para os carinhas e para alguns homens mais maduros. Nem as poucas esposas acompanhando os maridos no camping tinham deixado de notar as intenções das duas e, tratavam de vigiar os machos assim que elas se aproximavam com um papo furado qualquer. Uma se chamava Ana, e seu interesse pela pica mal ajambrada nas calças do Thiago era notória. A outra, Jessica, tentava arrancar de seus poucos predicados, algo que seduzisse o Paulo. Conversa vai, conversa vem os dois não se decidiam, até o Thiago se aproximar do Leo, que naquela manhã, desde que acordou, virou praticamente a minha sombra, e perguntou se ele tinha trazido camisinhas. A resposta foi negativa.
- Não estou com coragem de meter a pica naquela buceta sem capa! Um batalhão já deve ter feito a festa naquela gruta. – disse, precavido.
- Fecha o olho e manda ver! Cê não disse ontem que tava numa puta secura? Então, mete e pede proteção pros santos. – respondeu o Leo, caçoando do amigo.
- Sei não! Uma vez fodi uma baranga feito essas e fiquei penando por mais de um mês com o chato que peguei da puta. Não parava de me coçar feito gato, até me livrar dos piolhos nos pentelhos. – revelou.
- Então não sei como te ajudar, meu camarada! Ou você come a putinha e entrega para a providência divina, ou continua a bater punheta. – retorquiu o Leo debochando.
O fato é que acabou não rolando e, quando saímos com destino à cachoeira do Aiuruoca, as duas ficaram nos observando desaparecer na trilha com os semblantes frustrados e as periquitas insaciadas.
Após passar a Pedra do Altar e atravessar o charco do Vale do Aiuruoca, seguimos pela trilha de seis quilômetros por uma variante à esquerda, que leva à margem do rio Aiuruoca. Durante a caminhada contornamos o Agulhas, ainda nosso principal objetivo, vendo suas ranhuras por diversos ângulos. Também avistamos de mais de perto a Asa de Hermes, a Pedra do Sino, a Pedra do Altar e o Ovos da Galinha em belíssimas vistas que, por si só, já compensaram o esforço de chegar à cachoeira, considerada a de maior altitude do Brasil, a 2.380 metros. Chegamos à base da queda d’água de 25 metros por volta de uma e meia da tarde, o sol estimulava a gente a despir as roupas e ficar de bermuda, embora as águas geladas desencorajassem qualquer tentativa de mergulhar nelas. Acho que por essa razão havia poucas pessoas circulando por lá. Sentei-me, só de bermuda, numa pedra plana a meia altura da cachoeira para apreciar a vista e curtir o barulho da água despencando na piscina rasa da base. Quase adormeci livre das roupas e botas com o sol a aquecer a pele, enquanto a galera circulava nos arredores. De repente, notei que não estava sozinho e, antes de tirar a camiseta que protegia meu rosto do sol, senti um par de braços me encurralando contra a pedra e um corpo se inclinando sobre o meu. Era o Paulo todo cheio de graça e fogoso querendo aliviar sua tara. Ao lado dele, mais sisudo, o Thiago, meio encabulado pelas desavenças que tivemos em todos aqueles dias, também queria o mesmo. Fiquei puto ao constatar que me consideravam um viadinho rameiro, pronto a dar o rabo para o primeiro macho que aparecesse.
- Você é mesmo um tesão! Que coxas são essas, meu irmão! – exclamou o Paulo, começando a bolinar meu mamilo, apertando-o com força entre os dedos grossos me fazendo gemer de dor.
- Um tesão e um mala, conforme sua própria definição há uns dias atrás, não é? – revidei.
- Vai me dizer que você ficou melindrado com aquilo? Foi só um jeito de falar! – retrucou.
- Valeu! Foi um puta elogio! – ironizei.
- Dá uma sacada como você deixa meu cacete! – exclamou, abrindo as pernas e passando a mão sobre a pica enrijecida sob a bermuda.
- Comovente! A baranga não quis essa mixaria? – provoquei.
- Quer que eu te mostre a mixaria? Se me fizer tirar ela para fora vou te fazer mamar até gozar na sua boca. – ameaçou.
- Cara, vai caçar o que fazer!
Nenhum dos dois arredou pé dali e, sem muita sutileza, porém com muita insistência, a orgia rolou. Eu era tido como um viado, não era? Por que então não fazer jus ao adjetivo? O Paulo levou minha mão até o mastro carnudo camuflado debaixo da bermuda, depois a abriu para que minha mão entrasse pela braguilha e afundasse nos pentelhos densos e negros. Eu estava gostando de sentir aquela tora ganhando vida com o meu toque suave. O Thiago nos observava num silêncio cúmplice, e sua ereção erguia o tecido da bermuda feito uma barraca. Aos poucos e, com muita sensualidade fui tirando a jeba do Paulo de dentro da bermuda. Ele se agitava impaciente. Eu o encarei enquanto mexia naquele bagulhão ainda meio amolecido e pesado. Quando todo ele estava para fora, notei que já estava babando. Com a ponta do indicador e dedo médio, comecei a espalhar o pré-gozo viscoso pela glande, numa suavidade e lentidão voluptuosas. Ele começava a arfar de tanto tesão. Assim que meus dedos estavam bem úmidos, levei-os à boca e os lambi. Não só o perfume másculo daquela secreção como seu sabor levemente salgado me excitaram. Pela rapidez com que sua pica ficou completamente dura, percebi que experimentava a mesma sensação. Imergi meu rosto entre suas pernas e comecei a beijá-lo bem próximo da virilha. Os pentelhos dele resvalavam no meu rosto e deles brotava um aroma de suor mesclado ao adstringente cheiro de testosterona. Sob o olhar incrédulo e sôfrego dele, coloquei meu primeiro cacetão na boca. Não sabia bem como fazer aquilo, mas, por ter ouvido inúmeras vezes, durante o bullying, a frase – chupa meu cacete – foi isso que comecei a fazer. Chupar aquela pica quente e sensível com empenho e dedicação. Na primeira sorvida, com a língua volteando ao redor da glande, ele soltou um gemido de deleitamento que contagiou o Thiago, outro a observar atentamente meus movimentos. Não foi difícil me acostumar com aquilo na boca, tinha consistência, tinha sabor e, latejava indomado enquanto eu lambia, chupava e mordiscava toda sua extensão.
- Puta merda, como isso é gostoso! – exclamou, revelando involuntariamente que também estava tendo essa experiência pela primeira vez.
Senhor da situação, percebi que era eu a ditar as regras, pelo menos enquanto ele estivesse sob o efeito devastador do inusitado. Passei a brincar com o sacão dele, cutucando e massageando as bolonas que estavam em seu interior. Ele nada mais fazia do que se entregar àquela quimera para descobrir até onde aquilo era capaz de lhe provocar os mais sublimes prazeres. Por duas vezes quase gozou na minha boca. Ao notar que se retesava e, ciente de que era assim que um macho estava prestes a gozar, como pude constatar durante os coitos do Lucas e do Mario, tirei a pica da boca antes que ele a enchesse de porra. Quando, por uns instantes, afastei meu rosto de sua virilha, ele deitou meu tronco sobre a rocha morna e puxou de um só golpe, minha bermuda e minha cueca. A bundona nua, imaculadamente alva e carnalmente sedutora estava finalmente ao alcance de suas mãos predadoras. A partir daí, a única coisa que restara em sua mente, era a necessidade de meter sua rola naquela opulência despudorada. Ao apartar meu reguinho profundo e resguardado, viu o botão rosado inquieto, assanhado e totalmente vulnerável aos seus desejos mais desavergonhados. O Thiago se esgueirou sobre seus ombros para dar uma espiada naquele detalhe da minha anatomia fascinante.
- Cacete! Mete logo a rola aí dentro, que eu também vou comer esse cuzinho! – asseverou.
Apressado para se exibir como galante conquistador e pegador, o Paulo rolou para cima de mim e ergueu minhas pernas sobre seus ombros. A penetração no cuzinho, agora mais vulnerável com aquela posição, só aconteceu na terceira e desesperada tentativa. Ao atravessar minhas pregas com aquela cabeçorra sem nenhuma lubrificação, eu senti como se uma faca estivesse incisando minhas carnes, numa dor fina, entranhada e dolorida. Soltei um grito contido que foi mascarado pelo barulho da água despencando na cachoeira. Mesmo assim, algumas pessoas o notaram e desviram seus olhares curiosos para o rochedo onde estávamos. Nada além de uma indiferença, ou talvez fosse uma conformidade e aceitação inequívoca com o que estava rolando entre nós, motivou quem presenciava a foda a se manifestar de alguma forma. As pessoas que percorriam o Itatiaia o faziam para soltar suas vontades reprimidas. Portanto, embriagar-se no ermo da altitude, drogar-se com as substâncias ilícitas, fornicar com um quase estranho ou com quem se levou para aquelas plagas desoladas fazia parte de um expurgo da alma e, ninguém sabotava essas atitudes. Foi sob esses olhares indiferentes que eu estava ali nu, debaixo de um macho que se satisfazia no meu cuzinho. As primeiras estocadas após a penetração também foram brutas e vorazes, o que me manteve gritando, até que meu olhar sereno e cumplice foi fazendo o Paulo mergulhar num transe libidinoso e, me foder numa mansidão vigorosa. A pica vinha e ia ritmicamente, massageando meu introito anal e se autoacariciando na minha mucosa úmida e quente. Todo aquele contato, pele com pele, com o meu corpo nu sob o dele, fazia o Paulo delirar. Era como se, subitamente, tivessem lhe posto nas mãos algo tão grandioso e valioso que ele mal sabia o que fazer com tudo aquilo. Assim, ele me chupava, me beijava, me mordia onde quer que minha pele exposta o atentasse. Fiquei uns dez minutos debaixo dele nesse frenesi voluptuoso, até ele decidir me posicionar de quatro. Meu rabo empinado tornou a sentir a vara dele penetrando sem objeções, atingindo uma profundidade dolorosamente abissal. Cada estocada agora era sentida como um soco pela minha próstata e eu gania agoniado. O Thiago parecia um touro impaciente volteando ao nosso lado, sentindo meu estro sodomizado e vislumbrando as tentadoras nuances do coito em marcha, não se reprimiu mais. Tirou a bermuda bem diante do meu rosto e fez o caralhão saltar para a liberdade. A maior e mais grossa pica que eu já tinha visto até então. Manipulou-a, a centímetros do meu rosto, e aproveitando-se de um ganido que precisei soltar para amenizar uma estocada bruta do Paulo, enfiou-a na minha garganta, empapuçada com seus fluídos másculos. Eu fiquei tão atônito com aquele pênis imenso que, por uns instantes, me esqueci do meu cu sendo fodido com gana e luxúria e, dos sinais que o Paulo começava a apresentar pronto para me galar. Tive ânsias com aquilo entalado na minha garganta a me sufocar, até levar minhas mãos à pica do Thiago e reposicioná-la na minha boca para que a pudesse chupar sem aqueles engulhos a me torturar. Encarando o Thiago sorvi seus sabores úmidos, passei suavemente minha língua por toda sua glande, mordisquei a pele da pica numa delicadeza despudorada e, fui lambendo lentamente todo o trajeto que me levou ao seu saco pentelhudo. Os bagos pesados e consistentes escorregavam de um lado para o outro debaixo da túnica escrotal, enquanto eu tentava captura-los com meus lábios para chupá-los e massageá-los dentro da minha boca. As pernas peludas do Thiago, onde eu me apoiava para permanecer de quatro enquanto o Paulo continuava a me enrabar, esperando seu gozo aflorar, tremiam de tanto tesão.
- Caralho Marcelo, que porra de boquete gostoso é esse? Seu putinho enrustido, pelo que há de mais sagrado não para de chupar minha caceta! – bramiu excitado. – Paulo do caralho! Esse viadinho tá acabando comigo! Puta tesão!
Do mesmo jeito que o Thiago ficava cada vez mais excitado vendo a piroca do Paulo bombar meu cuzinho, o Paulo chegava ao ápice do tesão vendo eu chupar aquela jeba indecente do Thiago. Aquele clima de putaria, de orgia desenfreada, da libido extravasando por todos os poros, fez o Thiago gozar na minha boca. O primeiro jato atingiu meu rosto antes que eu pudesse voltar a abocanhar a cabeçorra, e começar a engolir toda aquela profusão de prazer que ele liberava. Erguendo os braços e passando a mão pela própria cabeça, o Thiago soltou um urro gutural de prazer em direção à cachoeira que ficou ecoando pelo ar. Ao mesmo tempo o Paulo começou a inundar meu cuzinho com seus jatos de porra pegajosa. A mim só restava ganir entre um gole e outro daquela porra espessa e amendoada que descia pela minha garganta.
- Puta que pariu, o que foi isso? – exclamou o Paulo, ao retirar lentamente seu cacete do meu cu e se deixar cair ao meu lado.
- Que bacanal, cara! Olha para isso, tô tremendo de tesão até agora! – exclamou o Thiago.
- Preciso me deitar, mal posso ficar com as pernas abertas. – afirmei, também tomado de um tremor que avassalava meu corpo. Meus joelhos estavam esfolados por conta do atrito com a pedra sobre a qual eu tinha ficado de quatro.
- Nem pense em ir a lugar algum! Eu preciso comer esse cuzinho ou morro de tesão! – alegou o Thiago.
- Que se foda! Vou entrar nessa água gelada mesmo para ver se essa convulsão que está no meu peito se acalma. – sentenciou o Paulo, descendo nu e, cautelosamente, pelas reentrâncias das rochas até a piscina gelada na base da cachoeira.
Sentado na pedra morna, eu avaliava o estrago nos meus joelhos, tentava fazer minha respiração voltar ao normal e, me regozijava com aquela umidade viril que o Paulo tinha deixado nas minhas entranhas. O Thiago sentou-se ao meu lado, tomou minha mão entre as dele, beijou-a e a levou até sua virilha.
- Preciso mais dessa suavidade! – disse, olhando pela primeira vez na profundeza do meu olhar e no fundo da minha alma.
Brinquei com seu falo imenso entre meus dedos fazendo-o enrijecer lentamente. Dava para sentir o afluxo de sangue preencher cada uma daquelas veias tortuosas que o rodilhavam, a cada batida mais acelerada de seu coração. A jugular pulsava em seu pescoço troncudo e maciço. Aos poucos, meus dedos começavam a ficar melados com o pré-gozo dele. Eu não me importava. Alguma parte imoral minha havia decidido que eu ia experimentar cada um daqueles machos, sem pudor, sem reservas, apenas carnalmente promíscuo. Meu cuzinho já piscava alucinado quando o caralhão endureceu tanto que eu nem conseguia movê-lo. Lambi sensualmente meus lábios, o Thiago não resistiu e colou sua boca na minha. Penetrou sua língua afoita até onde ela alcançava e, solicitava o conluio com a minha através de um contorcionismo que as unia numa azáfama sensual. Aos poucos ele foi rotacionando meu corpo como se fossemos dormir em conchinha, ergueu uma das minhas pernas e o caminho para o meu cu estava livre.
- Por favor, não me machuca Thiago! Eu não sou o que vocês imaginam. – pedi, ao empinar minhas nádegas contra sua virilha. Podia parecer ridículo fazer um pedido desses depois de tudo que ele presenciara e sabia sobre as noites anteriores. Mas, ele compreendeu meu pedido, ciente do tamanho de seu falo e do estrago que ele era capaz de fazer numa grutinha como a minha.
- Não precisa ter medo, não vou te machucar. – respondeu, imiscuindo a cabeçorra entre as minhas preguinhas rotas.
A porra do Paulo ajudou a tornar a penetração menos catastrófica. Eu já gritava, minha rosca estava completamente distendida e a cabeçorra não entrava, a despeito do vigor dos impulsos que o Thiago dava. Como é que um cara pode ter um cacetão desse tamanho? Pensei comigo mesmo, enquanto a agonia aumentava. Imagens de estupros, violações, lacerações genitais que havia visto em filmes me vieram à cabeça. Por instantes fui tomado de tanto pavor que fiz menção de escapulir de seus braços, antes de me tornar mais um nessas estatísticas. Mas, ele me conteve encilhando com mais força seus braços ao redor do meu troco e beijando minha nuca.
- Fique calmo, vai dar tudo certo! Você não estava relaxado com o Paulo agora há pouco? Então, relaxa, abre teu cuzinho para mim, abre! – aquela fala mansa e num tom grave cheio de cobiça em nada me ajudava a raciocinar.
Meus gritos estavam chamando a atenção das poucas pessoas que ainda estavam na cachoeira, pois o vento soprava numa direção que favorecia sua dispersão, e as nuvens começavam a encobrir paulatinamente o sol brando de inverno. Para o Thiago surgiu uma questão a ser resolvida, ou me deixava continuar gritando e atraindo curiosos ou, metia seu cacete naquele cuzinho que se contraía em espasmos alucinados. Ele deu vazão àquela que almejava. Num grito esganiçado a rola rasgou meus esfíncteres e preencheu minha ampola retal. Como um gato cravando as unhas no tronco de uma árvore para escala-la em fuga, eu quis cravar os dedos na rocha para encontrar algum apoio, algum esteio, alguma guarida para aquela dor pungente que me assolava. O tesão dele me contaminava através do peito quente que ele comprimia nas minhas costas. Aos poucos fui relaxando, os glúteos já não estavam em tetania, a musculatura das coxas já não tinha câimbras, o cuzinho distendido apenas agasalhava aquela carne pulsátil que se enfiara em seu âmago. O Thiago apertava sua virilha contra minha bunda, afundando o caralho nas minhas entranhas, numa sequência cadenciada, voluptuosa. Sua energia vibrava contra a minha carne, como a corda esticada de um violino, num prazer único e consentido. Dar chupões na pele dos meus ombros, furtar em cumplicidade meus beijos de lábios generosos, fincar sua carne na minha naquela lassidão já não o satisfaziam. Ele tirou a rola do meu cu. Eu gemi ferido. Ele me virou de costas sobre a rocha onde o calor se esvaía tão célere quanto o sol que descia no horizonte. Nossos semblantes se olhavam insaciados. Meu cu queria pica, a pica dele queria meu cu. Gani durante a penetração, ele me fitava esfomeado. A cabeçorra comprimiu minha próstata contra o púbis, eu gemi. Meus lábios úmidos e arroxeados pelos beijos libidinosos que havíamos trocado o seduziram, ele colou sua boca na minha. Nossas salivas se mesclavam ganhando um novo sabor, o sabor do pecado carnal, enquanto o vaivém do cacetão no meu cu nos inebriava com sua luxúria. O Thiago arfava, estava empapado de suor, gemia, deixava o ar atravessar seus dentes cerrados num sibilo prazeroso. Envolvi-o com meus braços ao redor do tronco e, com minhas pernas ao redor da cintura. Ele passou a lamber um dos meus mamilos, chupou-o com voracidade, mordiscou meu biquinho rijo e cravou seus dentes na pele alva que o circundava, deixando-a marcada pelo seu tesão. Gozei quando nossos olhares se encontraram. Ele abriu um sorriso e meteu com mais força. Não foram mais do que quatro estocadas curtas e profundas que o fizeram despejar seu esperma, em inúmeros jatos portentosos e cremosos, no meu cuzinho, acumulado há dias num suplício torturante, para o qual ele finalmente encontrara alívio. Eu mal pude acreditar que tudo havia terminado. Não havia um só músculo, órgão ou víscera que não estivesse terrivelmente dolorida. No entanto, meu corpo experimentava um prazer indescritível. O Thiago não conseguia tirar o pau das minhas entranhas, ele não amolecia e, não convinha privar-se do aconchego daquele ninho acolhedor antes que a rebeldia de sua pica esmorecesse, pensou consigo mesmo. Os únicos que ainda estavam na cachoeira eram o Paulo, o Leo, o Mario e o Lucas, sentados no alto do rochedo, onde a queda da água começava, formando a plateia que testemunhava nossa fornicação, todos experimentavam uma ereção debaixo das roupas. Uma mancha de sangue na rocha negra foi o vestígio que deixei gravado naquele rincão. Ela seria a delatora da luxúria ocorrida ali, até que algum dia gotas de chuva lavassem nosso destempero.
Tive muita dificuldade de acompanhar o ritmo dos demais na penosa e interminável caminhada de retorno ao camping. A sensação que me acompanhava a cada passo era a de que, ao abrir mais amplamente as pernas, minhas vísceras saíssem pelo cu. Quando comecei a me distanciar cada vez mais deles, o Leo voltou, não solidário como eu havia imaginado, mas desavergonhado e pecaminoso.
- Agora só falta eu! Essa noite vou ser eu a galar nesse cuzinho tarado! – exclamou convicto.
- Vá à merda, Leo! Me deixe em paz! – esbravejei, diante da insensibilidade egoísta dele.
Cheguei ao camping quase morto, sem forças nem para respirar aquele ar rarefeito, pois as que eu tinha ficaram na cachoeira. Não jantei e só pensava num banho e, em me enfiar no meu saco de dormir. Aliás, um banho no Itatiaia no inverno não é uma façanha para qualquer um. Com as temperaturas abaixo de -4°C/-5°C e, um chuveirinho vagabundo como o do abrigo Rebouças, um simples banho pode se transformar numa experiência traumática pelo resto da vida. Os filetes esparsos e fracos que saíam do crivo se transformavam em adagas afiadas quando atingiam a pele e, o frio que a atravessava chegava aos ossos. O único chuveiro do Rebouças era mais concorrido do que a Mega-Sena, mesmo assim, eu consegui tomar banho todos os dias que ficamos no camping, graças à minha bunda. Foi a primeira vez que ela me serviu para algo positivo e, que não fosse para me envergonhar ou servir de chacota. Não se gozava de muita privacidade naquele banheiro concorrido, e minha bunda foi certamente a responsável pela facilidade de acesso que eu tive às suas dependências. Após o banho, tomei simultaneamente dois comprimidos de um anti-inflamatório do pequeno arsenal farmacêutico que havia trazido, e me meti no aconchego do saco de dormir. Eram 19:30 hs.
Já imperava o silêncio noturno por todo o camping quando acordei com a presença do Mario ao meu lado. Esse silêncio só era quebrado pela miríade de sons humanos, tossidos, roncos, pigarreados, gemidos e toda sorte de barulhos que as pessoas emitem mesmo quando dormindo.
- Está tudo bem com você? Ficamos todos preocupados. O Lucas quis vir ver como você está, mas achou melhor eu vir perguntar.
- Eu estou bem, não se preocupem. – menti.
- É que amanhã é o grande dia, vamos finalmente ao cume do Agulhas, vai ser uma super aventura, e queremos que você esteja conosco. – disse ele.
- Eu estarei, eu estarei. – respondi.
- Que bom saber que você está legal. O Lucas e eu ficamos apreensivos depois do que vimos lá na cachoeira esta tarde. Ele está realmente muito preocupado com você. Todos estamos. – revelou.
- Estão preocupados a toa! Ele não precisa gastar suas emoções comigo, pode dizer isso a ele.
- Ele está se sentindo culpado pela indiscrição e, achando que você está agindo assim por culpa dele. – afirmou.
- Diga a ele que está se dando muita importância, e ao fato. Meu comportamento nada tem haver com ele, com o que ele pensa ou faz. – minha voz tinha um tom de mágoa. Não, mágoa não, talvez decepção, a palavra que definia meu sentimento era essa, decepção.
- OK! – ele fingiu concordar para não estender aquela conversa.
- Posso te pedir mais uma coisa? – perguntei.
- Claro, diga. No que posso te ajudar? – questionou solícito.
- Entra aqui comigo e me abraça? – pedi, abrindo o saco de dormir para que ele pudesse se alojar.
- Maravilha! Não tem lugar melhor para estar! – exclamou.
- Mas, sem sacanagens, Ok? Sem me foder. – quando pronunciei a última palavra não consegui conter o nó que havia na minha garganta, e comecei a chorar. – Eu não sou uma puta, Mario.
- Ei, ei! Não fique assim. Todo mundo sabe que não é. Se acalme e tente dormir. Eu estou bem aqui do seu lado e prometo, sem sacanagens. Só não prometo não ficar de pau duro, mas juro que vou me controlar. – garantiu. Eu adormeci em seus braços.
O dia pelo qual mais ansiávamos amanheceu muito frio e com uma neblina baixa. A temperatura vinha subindo desde a madrugada, mas ainda fazia -3°C. Além de nós, outros grupos se preparavam para a escalada. Desde as seis horas da manhã já havia uma movimentação ansiosa pelo camping e dentro do abrigo. Os grupos esperavam a neblina se dispersar, pois a escalada sob nuvens não é recomendada, uma vez que o tempo é bastante instável lá em cima. Por volta das nove e meia o sol começou a despontar, primeiro perfurando nesgas abertas entre as nuvens, depois iluminando de um azul límpido grandes trechos do céu. Os grupos começaram a partir, nós entre eles. Meu cuzinho ainda doía, e antes de sair tomei mais dois comprimidos de anti-inflamatório. Fui o que mais coisas enfiou na mochila, pondo-a nas costas a cada acréscimo para me certificar de que daria conta de carrega-la. Percebi que o Paulo intentava fazer um daqueles comentários sarcásticos a respeito, como nos primeiros dias, mas ele se conteve, talvez devido a transa na cachoeira. Como havia um grande número de grupos querendo escalar o Agulhas, alguns guias de agências haviam saído na frente com equipamentos de escalada para facilitar a subida. O caminho até a base não é complicado e seus cerca de 1.300 metros podem ser vencidos em uma hora. Uma placa, logo no inicio da trilha, alertava – A partir desse ponto é necessário conhecimento básico de técnicas de escalada em rocha e o manejo correto de equipamentos de segurança. Para sua segurança não ultrapasse esse ponto sem o porte de equipamentos mínimos de segurança. – Deu um frio na barriga ler esse aviso, pois nem nós, nem a maioria dos grupos, à exceção dos que tinham um guia contratado dispunham desses tais equipamentos de segurança. Eu me perguntei quais seriam eles, uma vez que o alerta na placa era tão pouco esclarecedor. O que estava na minha mochila podia ser considerado equipamento de segurança. Segui a trupe de aventureiros deixando de pensar nisso. Uma pequena cachoeira marcava o ponto mais baixo do vale ao atingirmos a base da montanha. Segundo um dos guias de um grupo de gaúchos, depois desse ponto seriam mais duas horas de subida pesada até o topo. Levamos mais de três horas e meia. A subida inicialmente é composta de grandes pedras soltas e um pouco de vegetação, que exigiu alguma experiência e muito esforço. Fiquei contente por ter trazido um par de botas que também havia comprado nos Estados Unidos e, que pensei nunca mais usar, tanto que quase as joguei fora uma vez. Seu solado extremamente grosso, mas muito leve, aderia com facilidade às irregularidades do caminho. O Leo, o Paulo e o Thiago usavam tênis e lutavam para se manter de pé. As botas do Mario e do Lucas se mostraram um pouco mais adequadas ao caminho. Escorregar por ali não era boa coisa. O nome agulhas negras vem das rochas pontiagudas que têm o aspecto de agulhas. Certos trechos só eram possíveis com o apoio de cordas de segurança, os guias que as tinham colocado foram idolatrados e ovacionados pela galera. Quanto mais subíamos mais misterioso ficava o caminho. Nalgumas passagens inusitadas um ia ajudando o outro e, eu me admirei quando o Thiago transpôs um trecho complicado e me estendeu o braço para me ajudar. Nem parecia aquele troglodita que brigava comigo por qualquer coisa no início da viagem. De repente, o caminho se afunilou, e continuou assim até alcançarmos uma pedra nivelada. Ela se mostrou pequena para acomodar tantos grupos ao mesmo tempo. Os mais corajosos e bem preparados fisicamente, continuaram sua jornada, abrindo espaço para os mais exaustos e, deixando aqueles que decidiram desistir, pondo um ponto final em sua escalada quando avistaram o último trecho.
- E aí? O que vocês acham, ficamos por aqui ou vamos encarar isso aí? – perguntou o Paulo.
- Só quero tomar um fôlego. Eu sigo em frente. – respondi. Eu não sabia bem o quê, nem por que eu estava testando meus limites. Só sabia que precisava fazê-lo. Os demais também confirmaram a continuação.
Naquele ponto todos os guias se juntaram, subiram na frente e jogaram as cordas para o pessoal subir. Havia umas sessenta pessoas querendo escalar até o cume. Isso fez com que levássemos quase duas horas para percorrer aquele trecho, entre indecisões de última hora, pavores inesperados e a inaptidão de alguns em se virar com as cordas. Eu olhava atento para aqueles montanhistas mais experientes para aprender como se seguravam às cordas, que movimentos faziam com as pernas, como lidavam com os obstáculos. Embora ainda com bastante medo, resolvi tentar imitá-los. A coisa deu tão certo que fui adiante. Um guia parrudão, de barba cerrada e sorriso fácil tinha despertado minha atenção logo no início da jornada. Ele não demorou a me notar. Chegou a deixar seu grupo um pouco solto no início da trilha para me perguntar o que eu estava achando do parque, o que já tinha feito naqueles dias, quais as paisagens de que tinha gostado mais e, todo um papo só para se aproximar de mim. A falta de mulheres por aquelas bandas tinha o poder de liberar alguns caras de suas convicções e conceitos, tomando liberdades que fora dali provavelmente não tomassem. Foi assim com o carinha que nos ajudou a montar a barraca, com o cadete da AMAN e, agora com esse guia, Julio. Como durante o trajeto o sol foi se intensificando e não havia vento, o calor nos obrigou a tirar algumas daquelas roupas pesadas que vestíamos. Eu tirei o capote impermeável e as duas camisetas justamente quando conversava com ele e, ele também se despia, exibindo um tronco musculoso e peludinho. Havia me esquecido completamente dos arroubos do Paulo e do Thiago no dia anterior, e ele fixou o olhar nos meus peitinhos salientes onde hematomas escuros e a marca nítida de uma mordida estavam visíveis. Seus olhos se arregalaram quando as viu, o que chamou a minha atenção. Encabulado, vesti a última camiseta de mangas curtas que acabara de tirar.
- Os carinhas que estão com você são seus amigos? – perguntou, tentando descobrir se algum deles talvez fosse mais do que apenas um amigo.
- São. – respondi. Para ele isso significou que podia continuar a me chavecar, e um sorriso encantador se formou em seus lábios.
O Julio voltou a se encontrar comigo num trecho crítico da escalada. Ficou ao meu lado e me disse para não olhar para baixo enquanto eu procurava não enfiar meu pé numa fenda estreita entre duas rochas que pudesse prender minha bota. De um lado eu me segurava no paredão liso e do outro, havia um abismo assustador. Eu procurava me manter na estreita faixa pela qual era possível caminhar de lado. Apesar do conselho dele, a curiosidade me levou a desviar o olhar para o lado oposto ao paredão. Era preciso controlar os nervos para não se desesperar e arriscar-se a perder o equilíbrio. E eu sou um sujeito que tem pavor de altura. Passado esse trecho, comecei a avistar a passagem Ruy Braga e a Serra Fina ao fundo. E lá estava o cume do Agulhas, a dez passos. Meu coração disparou, precisei me controlar para não chorar tanta era a emoção contida em meu peito. Cada um que chegava ia se acomodando de alguma maneira. Havia dezenas de pessoas, todas embasbacadas com a beleza que se descortinava diante dos nossos olhos. Tudo lá embaixo parecia minúsculo. As cidades do Vale do Paraíba pareciam ter sido montadas com peças de Lego, a Via Dutra era uma linha cinza que percorria o vale, o próprio rio Paraíba do Sul não passava de um filete de água serpenteando cheio de curvas, a Serra do Mar era como uma espinha dorsal de pequenos morros. Atrás de nós no sentido oposto, uma extensa cadeia de pequenas montanhas já era território mineiro. O abrigo Rebouças estava muito pequeno e, os carros ao redor dele eram apenas pontos coloridos. A paz lá em cima era infinita. A montanha nos mostrava o quanto éramos pequeninos diante do universo e o quanto éramos grandes em nosso interior. Ver o mundo do alto era como usufruir da liberdade dos pássaros. Tudo lá embaixo era tão distante e parecia mesquinho. As pessoas não conversavam, como se cada um estivesse meditando consigo mesmo, se reencontrando com sua alma. O sol batia forte, mas o vento eliminava seu calor. No topo do Agulhas a superfície é toda de rochas onduladas, formando bacias onde cabe um homem inteiro e servem de proteção contra o vento. A maioria das pessoas estava deitada numa dessas calhas. A fim de não congelar também me enfiei numa daquelas bacias e fechei os olhos por uns instantes, para um rápido descanso.
- Magnífico, não é? – a voz grave e, parecendo não ter feito esforço nenhum para chegar até ali era do guia Julio.
- Muito! Uma das melhores sensações que já senti. – respondi. Ele olhou para o meu peito e eu fiquei corado. Ele devia ter deduzido que as outras boas sensações que eu havia sentido estavam relacionadas com aqueles peitinhos marcados pela tara de algum macho.
- Quando venho aqui parece que me reencontro comigo mesmo, que sou invencível, que sou capaz de alcançar tudo que almejo. – revelou, olhando para o horizonte, pois notou como eu fiquei constrangido com seu olhar sobre meu peito.
- Estou tendo a mesma sensação! Nem acredito que consegui chegar até aqui. Se você tivesse me conhecido, há uma semana, juraria que eu nunca estaria aqui em cima. – retorqui.
- Que bom que o conheci agora, então! – revidou, sorrindo para mim. – Vem comigo, você vai assinar seu nome no livro que está no topo ali ao lado. – disse ele, puxando-me para fora da calha.
Uma maleta estava presa a cabos de aço fixos em pinos cravados na rocha em frente, também um platô. Porém, uma grande fenda entre os dois picos dificulta o acesso. Só de ficar à beira da rocha entre os dois platôs dá uma vertigem danada. A distância entre elas não é grande, mas a profundidade da fenda assusta. Para ir de um ao outro é preciso dar um salto, cair com o peito contra a rocha do outro lado e se equilibrar para não escorregar e cair para trás, o que seria catastrófico.
- Não posso fazer isso! É loucura! Vou me esborrachar todo lá no fundo da fenda. – assegurei trêmulo.
- Eu vou saltar primeiro e te mostro como se faz, depois você salta. Não fique olhando para baixo, olhe só para mim do outro lado. Eu serei seu prêmio quando chegar lá. – explicou, com a cara mais deslavada e safada.
Vê-lo saltar pareceu fácil, mas lembrei-me de que ele era um expert em montanhismo, e eu nem de amador podia ser chamado. Contudo, por alguma coisa dentro de mim eu me senti desafiado e, minutos depois eu saltei exatamente como ele havia feito. Porém, com menos impulso do que ele, o que me fez perder momentaneamente o equilíbrio. Prestes a começar a gritar, ele me puxou pelos braços contra o seu peito e me abraçou com força. Meu coração batia acelerado contra aquele tronco tão portentoso quanto as rochas que nos rodeavam.
- Viu como foi fácil! – exclamou, sentindo como eu tremia em seus braços.
- Eu quase me mato, isso sim! – retruquei. Ele riu e me levou até o livro. Deixar meu nome ali foi emblemático, foi como se eu tivesse expurgado meus fantasmas e entrado no rol das pessoas especiais, aquelas que deixam algum legado em suas vidas. Os únicos que não seguiram meu exemplo foram o Leo e Thiago. O Leo por que estava entretido com uma garota, e o Thiago por alguma razão obscura que eu não queria descobrir.
Era fascinante a formação de grupos ali no Itatiaia. Por breves momentos, se uniam com intensidade, amizade e cumplicidade. As relações das pessoas na montanha são muito curtas e profundas. Quando o Julio se deitou ao meu lado, segurou na minha mão e ficou encarando o céu junto comigo, eu sabia que aquele momento seria único, e tratei de aproveitá-lo. Algum tempo depois, ele se levantou, precisava reconduzir seu grupo pelo caminho de volta. Ficamos sem jeito um diante do outro, até ele me abraçar e disfarçadamente me dar um beijo abaixo do ângulo da mandíbula e outro no canto da boca. Ele abriu outro sorriso após eu retribuir cada um daqueles beijos fortuitos. Antes de chamar a galera de seu grupo, ele me aconselhou a não nos demorarmos demais e iniciar a volta antes do entardecer. Eram 15:45 quando ele acenou pela última vez na minha direção. Eu talvez nunca mais fosse vê-lo novamente, o que podia parecer triste, mas eu não sentia assim. O breve tempo que ficamos juntos foi muito bom e agora, cada um tinha a sua trilha a seguir. Aquelas pessoas que conheci na montanha fariam parte da minha vida de alguma maneira, guardadas num pequeno lugar da minha mente e do meu coração. Isso era suficiente para não sentir tristeza, pois a lembrança de sua passagem por minha vida naqueles dias estaria sempre viva dentro de mim.
- Fisgou mais um? – perguntou o Paulo. Eu não me dei ao trabalho de responder.
A tarde ia avançando e as pessoas continuavam ali, admirando a paisagem e trocando ideias com qualquer desconhecido ao lado. Os guias das agências já tinham iniciado a descida de seus grupos. Eu fui de um em um dizer para descermos também, aproveitando a presença dos guias para nos orientar como tínhamos feito na escalada. O Leo pediu mais uns minutinhos, pois finalmente tinha encontrado uma garota livre e desimpedida que lhe deu bola. O Lucas e o Mario concordaram comigo e alegaram que já tinham cumprido o objetivo a que se dispuseram. O Thiago e o Paulo pediam que fizéssemos mais uma nova pose ou arranjo para as fotografias que registravam nossa façanha. Eram quase quatro e meia quando iniciamos o regresso até o Rebouças. Meia hora antes do limite máximo permitido para ficar na montanha, embora os que ficaram lá ignorassem a proibição, como tantas outras dentro do parque.
Assim que o sol desapareceu entre as nuvens, o vento se intensificou e a temperatura começou a despencar. O anoitecer durante o inverno acontece mais cedo e, àquela altitude, ele parecia estar com mais pressa. Cerca de quarenta e cinco minutos descendo a trilha já não se enxergava praticamente nada. Encoberta pelas nuvens, a lua, que iluminaria a montanha, nem podia ser vista. Poucos grupos estavam preparados para caminhar por aquelas trilhas sem a ajuda de guias e, estes, provavelmente já estavam no Rebouças. Além do nosso grupo, mais dois iniciaram a descida conosco, um carioca com quatro carinhas e, um catarinense com três sujeitos bastante convencidos que eu vi circulando pelo abrigo Rebouças há apenas dois dias. Os catarinenses logo na primeira encruzilhada se separaram da gente, dizendo que tinham vindo por aquela outra trilha e que estavam com uma bússola que indicava aquele como sendo o caminho pelo qual tinham vindo. Eu desconfiei e expus minha desconfiança, pois lá no cume, uma das conversas que tive com o Julio foi exatamente sobre a existência de outras trilhas além da que havíamos utilizado, e ele me disse que havia outras, porém muito mais difíceis e utilizadas apenas por montanhistas experientes. Portanto, os catarinenses tomaram a trilha errada. Um dos sujeitos tinha o temperamento parecido com o do Thiago, autoritário e centralizador e, apesar de um dos carinhas ter dito que achava que eu estava certo e, que a trilha que estavam prestes a tomar parecia não ter sido aquela pela qual vieram, foi logo subjugado pelo líder e se calou, seguindo os outros dois. Sem equipamento algum, apenas com uma lanterna e mal agasalhados, o que os esperava não era nada promissor.
- E nós, sabichão, estamos na trilha certa? – questionou o Paulo, após eu ter exposto meu ponto de vista aos catarinenses.
- Pelo que consigo ver aqui, sim! – exclamei, tirando da mochila um dos meus pequenos tesouros, o GPS, o qual pus a funcionar assim que iniciamos a escalada e, que agora mostrava nitidamente, num tracejado azul sobre a tela, o caminho que havíamos percorrido.
- Esse viadinho está me saindo melhor do que o MacGyver! Tem de tudo nessa mochila! – ironizou o Paulo. – Deixa eu dar uma espiada nessa porra? Caraca! O caminho tá todinho aqui! – emendou.
Mesmo com a trilha disponível da tela do GPS e as cinco lanternas que havíamos trazido, a descida da trilha não foi nada fácil. Enxergávamos pouco mais de vinte e cinco ou trinta metros a nossa frente, rochas e arbustos encurtavam essa visão. Sem enxergar direito onde pisávamos tivemos que empreender a descida com muita cautela, mesmo assim, escorregões e quedas foram inevitáveis. Uma das piores foi justamente a do Paulo. O ferimento no supercílio nem havia cicatrizado e ele conseguiu se ralar todo, além de luxar o ombro direito. Quando a galera viu aquele braço pendendo ao lado de seu tronco numa posição bizarra, o desespero tomou conta de todos.
- Não vamos conseguir! Se insistirmos nessa maluquice vamos nos foder! – disse um dos cariocas, que também já havia caído feio por duas vezes e, começava a chorar.
- Vamos conseguir sim! Estamos no caminho certo, é só ter cuidado onde pisa e ficarmos perto uns dos outros, assim ninguém pisa em falso. – afirmei, incrivelmente mais tranquilo do que eu podia imaginar.
- Eu vou com o Marcelo na frente, vocês distribuam as lanternas de tal forma que consigam ver as pernas dos que seguem imediatamente à frente, assim ninguém pisa onde não deve, entendido? – disse o Thiago, voltando a assumir a liderança.
Dessa maneira seguimos por mais seis horas, tropeçando ora aqui, ora acolá, exaustos e com muito frio. Não fosse minha jaqueta impermeável teria congelado. Um dos cariocas tinha um termômetro na mochila, ele assinalava -8°C/17,6°F. A galera do Rebouças já tinha acionado os guardas do parque avisando que alguns grupos não haviam regressado, isso por volta das oito horas da noite. A polícia ambiental também foi acionada. Aquela temperatura, aliada ao vento inclemente, podia produzir uma hipotermia em poucas horas com resultados funestos. Eu caminhava com a reserva das minhas forças praticamente esgotadas. Minhas pernas não queriam obedecer mais. Erguer os pés para dar um passo adiante era como erguer um bloco de chumbo. Levei dois escorregões e, no primeiro esfolei o joelho que começou a sangrar. Depois de algumas horas, não havia um único nos dois grupos que não tinha alguma escoriação ou ferimento. Passadas as seis horas de caminhada surgiram luzes no fundo do vale enegrecido pela escuridão da noite, era o Rebouças e o camping.
- Chegamos seus putos! – berrou o Thiago, assim que vimos as luzes. Ele me abraçou e me rodopiou no ar. Antes de me colocar no chão beijou minha boca enfiando a língua até a minha goela.
Havia uma comoção generalizada por todo abrigo. As pessoas estavam todas agrupadas ao redor da varanda na maior expectativa. Carros da polícia ambiental e do parque estavam a postos. Alguns guias das agências haviam retornado assim que foram avisados de que havia gente perdida na montanha, entre eles o Julio. À medida que fomos chegando, as pessoas vinham ao nosso encontro e nos abraçavam, mesmo aquelas com as quais nunca tivemos contato. O clima era de total solidariedade. Liderados por um tenente da polícia ambiental, alguns homens e, junto com eles os guias das agências, organizaram grupos de busca para resgatar os catarinenses e os quatro ou cinco que haviam ficado no cume quando iniciamos a descida. Esses grupos só regressaram com todos parcialmente sãos, mas salvos, por volta das duas horas da madrugada. O líder dos catarinenses havia fraturado a perna e eles foram encontrados totalmente fora da trilha praticamente congelados. Foram levados imediatamente para um hospital em Resende, junto com os do grupo retardatário do cume.
- Como você está? – perguntou o Julio quando fui ao encontro dele. Foi a patrulha dele que encontrou os catarinenses.
- Eu estou bem, só esfolei o joelho. E você como está? Você está horrível! – respondi.
- Pensei que você me achava bonito! – revidou ele, quando o abracei.
- Você está meio gasto, molambento, fedido e alquebrado, mas continua lindo! – exclamei. Ele juntou seus lábios úmidos e empoeirados nos meus e me beijou transbordando virilidade, sem se importar com as pessoas a nossa volta.
- Hummm! Nada mal! Vou querer mais alguns, afinal acho que estou merecendo, não é? – disse, ao me soltar.
- Merece muitos! – sussurrei, ousado.
- Vem lá para casa comigo. Depois da aventura de hoje acho que você está merecendo um bom banho e uma cama descente, não esse chão batido da barraca. – convidou.
- Não sei. Tem o pessoal. É tentador, mas não sei se é uma boa ideia. – respondi.
- Eu moro em Itamonte, dá uns 20 quilômetros do Posto Marcão, não é longe. Amanhã eu te trago de volta, são, salvo e recuperado. Vamos lá! – insistiu.
- Bela lábia a sua! Tá bom, me convenceu. Espere um pouco que vou dar um toque na galera e pegar umas coisas. – respondi, ele abriu um daqueles seus sorrisos.
- Como é que é? Ir sozinho para sabe-se lá onde? Com esse cara? – questionou o Lucas, todo enfezado, quando participei minha decisão a ele e ao Mario.
- Esse cara é o Julio. Um dos voluntários que ajudou a resgatar o pessoal perdido, o cara que nos ajudou na escalada com suas cordas e instruções, um cara descente e bom caráter. É, é na casa dele que vou pernoitar. – respondi indignado.
- Você não conhece esse sujeito! Pode ser um tremendo dum pilantra. – revidou.
- Um pilantra não sai do conforto da sua casa para vir ajudar a quem nem conhece. Ademais, é só por uma noite. Uma noite dormindo num colchão de verdade, não nessa buraqueira. – retruquei.
- Engatado na pica dele, pois é isso que ele vai querer em troca dessa generosidade toda. – afirmou ele.
- E desde quando você se importa em qual pica eu estou engatado? Não foi você mesmo que alardeou para quem quisesse que meu cu é território livre, o primeiro que chegar leva?
- Eu nunca disse isso! Não coloque palavras na minha boca! – revidou furioso.
- Acalmem-se, não vão começar a brigar agora. Todos estamos cansados e não estamos racionando direito. – ponderou o Mario. – Você acha mesmo prudente sair com esse cara, Marcelo? Ele tem idade para ser seu pai!
- Que absurdo! Vocês é que não estão racionando, nem sendo razoáveis. Bem! Minha decisão está tomada. Vemo-nos amanhã à tarde, combinado? – afirmei resoluto.
O Julio era mesmo mais velho do que nós todos, tinha uns trinta anos, talvez um ou dois. No entanto, não tão velho a ponto de poder ser meu pai. Não sei de onde o Lucas tirou isso. Percorremos o trajeto do Rebouças até o posto Marcão sacolejando dentro do Troller t-4 do Julio. Após pegarmos o asfalto da BR-354 não demorou vinte minutos para chegarmos à casa, e agência dele. A agência de ecoturismo ficava na parte inferior da construção assobradada e, a casa, nada mais do que uma pequena sala, uma suíte relativamente grande, uma copa-cozinha conjugadas e um terraço em forma de L repleto de vasos com plantas de diversas espécies e alturas. Tudo um pouco bagunçado, mas confortável.
- Quer comer alguma coisa? Beber? – perguntou, assim que largou as chaves e os documentos sobre um aparador junto à porta. – Eu estou com uma fome de leão! – exclamou.
- Para ser sincero eu também estou varado de fome. – respondi.
- Então vamos recorrer aos quitutes congelados da dona Geralda. Ela é quem me mantem saudável, cozinhando e deixando porções no congelador, pois sou uma negação na cozinha. – revelou.
Devoramos um strogonoff caprichado, descongelado no micro-ondas, enquanto falávamos sobre o acontecido no Agulhas.
- Aqueles catarinenses tiveram uma puta sorte por você tê-los encontrado! Não fosse sua tenacidade e conhecimento da região eles tinham se ferrado mais ainda. – afirmei.
- Foi a sua deixa que me fez saber onde podiam estar. Quando você contou que eles tinham pegado aquela primeira encruzilhada da trilha eu já desconfiei onde podiam ter se perdido. Portanto, devem o resgate a você.
- Imagine! Aquele líder deles era um perfeito babaca, tipo o Thiago. – assegurei.
- Quem é Thiago?
- Um dos carinhas do meu grupo. Nos primeiros dias da nossa viagem vivia quebrando o pau comigo. Tudo que eu dizia era bobagem, coisa de boiola, como afirmava. – expliquei.
- Foi ele quem fez essas marcas nos teus peitinhos? – perguntou de supetão. Eu corei na hora, e quase me engasguei com o gole de suco de melancia que estava na minha boca.
- Foi. – minha voz quase não saiu. O que não revelei, é que o Paulo também tinha seu quinhão de culpa nesses hematomas. Se ele soubesse de toda a história ia pensar que eu era uma putinha desavergonhada. Eu próprio achava isso depois de ter dado o cu para todos do grupo, exceto o Leo.
- Eu teria quebrado a cara dele se o visse cometendo essa barbaridade. – declarou resoluto. Nesse momento ele me encarou com o mais doce olhar que alguém já depositou sobre mim. Um frenesi percorreu minha espinha.
Ofereci-me para lavar os pratos enquanto ele tomava seu banho. A água ainda corria no chuveiro quando fui até a suíte e me dei conta de que só havia aquela cama de casal na casa. Não me incomodou saber que dividiríamos aquele espaço, pelo contrário, fiquei excitado. A porta do banheiro da suíte estava completamente aberta e dava para ver cada detalhe aquele corpão musculoso se movendo debaixo da água. Aquela foi uma das imagens mais sensuais que já tinha visto. Os braços vigorosos erguidos esfregando o xampu pelos cabelos, o tórax largo e o abdômen sarado cobertos por uma distribuição singular de pelos, as coxas e pernas grossas e peludas, e o que mais me encantou, um cacetão reto, cabeçudo, flácido e pesado pendendo sensual da virilha pentelhuda. Abaixo dele, na mais tentadora das visões, um sacão dentro do qual se destacavam dois imensos culhões em alturas diferentes, como se, de tão grandes, não pudessem ocupar o mesmo espaço dentro daquele escroto. Meu cuzinho ficou tão assanhado que comecei a me despir. Há uma semana eu não passava de um nerdzinho com a cara enfiada em apostilas de física, química e matemática, trancafiado sozinho no meu quarto por horas a fio. Agora, eu estava nu e excitado, espionando um homem mais maduro que tinha conhecido a pouco mais de algumas horas, também pelado, e que me trouxera para seu covil com as mais luxuriosas intenções. O mais estranho disso tudo é que eu estava confortável com essa situação. O xampu descia pelo rosto hirsuto do Julio quando entrei no box e comecei a espalhar aquela espuma macia com as duas mãos espalmadas em seu peito. Ele não se assustou, embora não tivesse notado minha presença até eu tocá-lo. Parecia já estar esperando por isso. Sorriu de olhos fechados. Abaixou lentamente os braços e me puxou para junto dele. Um beijo demorado e cheio de tesão de ambas as partes foi se prolongando, enquanto ele acariciava minhas costas e descia sorrateiro até as minhas nádegas. Uma pegada firme nos meus glúteos rijos me trouxe para mais próximo dele. Sua língua penetrou minha boca e seu sabor atiçou minhas papilas gustativas. Meu corpo tremia incontrolado resvalando no dele.
- Você é muito gostoso! – murmurou, quando tirou seus lábios da minha boca e desceu pelo meu pescoço.
Creio que havia se passado mais de meia hora nós explorando nossos corpos debaixo do chuveiro quando fomos nos enxugar, um ao outro, com mãos libidinosas percorrendo e deslizando mansamente por lugares proibidos. Ele me inclinou sobre a cama com a cobiça estampada no olhar ladino. Minha cabeça tocou os travesseiros e pude sentir seu cheio impregnado neles. Ele se deixou cair sobre mim e voltamos a nos beijar, era preciso que nossas bocas degustassem cada sabor daquela atração mútua. Eu arranhava suas costas cada vez que ele comprimia sua virilha com o caralhão duro no meio das minhas coxas. Aquilo parecia instiga-lo ainda mais. Subitamente, ele se voltou para os meus mamilos. Passou suavemente os dedos sobre os hematomas, causados pelo Paulo e pelo Thiago, como se os quisesse curar. Olhou com doçura para meu rosto ansioso e depois beijou delicadamente aquelas sequelas. Eu enfiei meus dedos em seus cabelos e o acariciei, deixando-o sentir meus biquinhos rígidos e excitados roçando sua barba áspera.
- Não me conformo que alguém possa fazer uma coisa dessas. Não num corpo tão perfeito e numa pele tão macia. – sentenciou. Eu sorri tímido para ele.
Ele tentou arrancar de mim o autor daquela agressividade e o contexto na qual se deu, mas eu me esquivei, aquele não era o momento de falar sobre aquilo e, eu teria que admitir a minha parcela de culpa nesse episódio. Ele se recostou nos travesseiros e me puxou sobre seu peito. Começamos a conversar sobre coisas triviais, sobre nossas vidas, sobre a magia do nosso encontro.
- Não existe uma garota na sua vida, você é um cara tão sedutor e bonito? – perguntei curioso por um cara másculo como ele não estar casado.
- Até existe! Ela é dentista e trabalha aqui na cidade, vem de uma família de fazendeiros da região que não concordam muito com nosso envolvimento. Para eles eu sou um aventureiro que não trabalha a semana toda e, nos finais de semana me emprenho em passeios pelas montanhas da região. Um folgado, segundo eles. Ela vem me dar uma força nos fins de semana na agência, atendendo telefonemas com pedidos para excursões, administrando um pouco as contas para as quais tenho pouca paciência, dando uma de secretária quando podia estar descansando da semana de trabalho. É isso que incomoda a família dela, além é claro de ela passar algumas noites aqui comigo. – revelou.
- Famílias antigas de lugares pequenos têm essa visão obtusa. É obvio que seu movimento maior ocorra nos finais de semana e feriados quando o pessoal da cidade vem procurar aventuras, qualquer um pode constatar isso. – argumentei.
- Não pela lógica deles. Um filho de fazendeiro ou de alguém destacado na cidade seria mais apropriado como genro. Por isso, estamos nesse chove não molha há uns três anos. Ela deve estar pensando se a vale a pena ficar comigo. Não vou me espantar se um dia ela me der o fora. – ponderou.
- Seria uma tola! Dispensar um homem feito você só pode ser coisa de insensíveis. Dá para ver no seu olhar o cara maravilhoso que você é. – confessei.
- Estou descobrindo que você é único. Curto mulheres, e bastante. Mas, também me amarro em carinhas como você. Quando te vi lá no Rebouças ao preparar meu grupo para a escalada, senti um tesão da porra. Adoro carinhas lisinhos e lindos como você, com esse semblante desprotegido. Quando vi sua bunda fiquei maluco, jurei para mim mesmo que ia fazer de tudo naquela montanha para conseguir sua atenção. E, nessa você me abre um sorriso e me desmonta. Agora está aqui nos meus braços, carinhoso e ouvindo a chatice da minha história.
- Quem me dera ter conhecido caras viris como você, e tão amáveis! – exclamei. Ele deitou minha cabeça nos travesseiros e se ajoelhou ao meu lado. Dava para sentir o perfume morno de sabonete em sua virilha, com o cacetão a poucos centímetros da minha boca. Eu beijei suavemente a enorme chapeleta antes de prendê-la entre os lábios. Ele gemeu e agarrou meus cabelos. Coloquei-a toda na boca e comecei a chupar. O caralhão endurecia entalado até a minha garganta. Instantes depois, já senti seu pré-gozo se misturando a minha saliva, saboroso e viscoso. As duas bolonas tão despudoradamente alojadas no sacão me seduziram. Passei a massageá-las com as pontas dos dedos, explorando toda aquela virilha pentelhuda. Aos poucos toquei seu períneo atrás do sacão, ele soltou o ar num gemido prolongado e prazeroso, eu tocara num ponto estratégico que o encheu de tesão. Brinquei com aqueles bagos por um bom tempo, antes de me virar de bruços, convidando-o a me cobrir. Ele avançou ligeiro sobre minha bunda, abriu meu rego e começou a me mordiscar naquela pele sensível e sempre reclusa. Eu gemia em frequências e compassos diferentes conforme ele imprimia intensidade ou voracidade naquela investida. Isso o excitava ainda mais. Meu cuzinho piscava e eu me preocupei com seu aspecto. Restariam visíveis ainda as marcas da minha devassidão com os caras no camping? No início do dia anterior eu mal podia abrir as pernas ao iniciar a escalada do Agulhas. Se elas existiam o Julio não se importou, ou mentiu para mim dizendo que nunca tinha visto uma rosquinha tão apertada quando enfiou seu dedo tarado no meu cuzinho. Pouco depois ele o lambia numa sofreguidão avassaladora, ouvindo meus gemidos de prazer. Minha apreensão voltou quando ele me prendeu entre suas pernas e deslizou a rola dura como uma rocha no fundo do meu rego. Não foi difícil para ele sentir minhas preguinhas anais se estufando e se abrindo como se quisessem xuxar a chapeleta apontada contra elas. A penetração veio vigorosa e me abriu como se meus esfíncteres fossem um túnel. Uma dor pungente e aguda me fez gritar. Toda a sensibilidade daquela carne ferida voltou numa intensidade desesperadora. Ele abraçou meu tronco e beijou meu cangote, arfando como um touro bravio. Ele imaginava a dor e o sufoco que me afligia, mas não recuou, pois o que o movia era o tesão por aquela fenda diminuta e sua necessidade de se satisfazer nela. Era instintivo, era primitivo, era puramente animalesco e ele queria que eu compreendesse isso.
- Ai Julio! – gani lânguido, virando meu rosto em sua direção para beijar sua boca. Era de toda essa conivência que ele precisava.
A pica se aprofundou até atingir minha próstata, depois se movia num vaivém compassado, imiscuindo-se nas minhas entranhas com voracidade e luxúria. Eu novamente gania e gemia como os compassos de uma música conforme variavam as sensações que me invadiam tão sensualmente. Gozei quando ele me ergueu pela cintura, deixando-me praticamente de quatro sobre o colchão que balançava debaixo de mim tanto quanto a minha pica, montado em mim como se eu fosse uma cadela. Eu me regozijava num prazer indescritível com aquele macho me fodendo cada vez mais ardentemente. Sem desacelerar o ritmo das estocadas, sua pelve se contraiu e ele despejou sua porra quente no meu casulo afortunado, abundante, espessa, liberadora.
- Marcelo, Marcelo! Obrigado universo por me permitir ter esse tesãozinho nos braços! – balbuciou, enquanto urrava e ejaculava no meu cu. – Caralho, que delícia!
Eu só me virei um pouco de lado e puxei seu braço sobre a cintura. Ele não tirou o pinto do meu rabo. Adormecemos nos beijando no avançado da madrugada, para só despertar pouco antes do meio-dia.
- Feliz? – perguntei ao acordarmos e ele logo começar a assobiar uma melodia romântica.
- Bastante! Responsabilidade sua! – respondeu.
- Não tenho todo esse poder. Quem me dera!
- Tem muito mais do que imagina! Seu poder está na doçura desse olhar, nessa aparente fragilidade física, nessas mãos tão carinhosas e femininas, um verdadeiro fetiche.
- Só mesmo um homem como você para reparar nessas coisas que nem eu mesmo sabia que tinha.
- Quando você engole a porra da gente, ou cuida, na maior naturalidade para que ela não escorra do seu cuzinho, ainda dizendo que não quer perde-la, Marcelo, isso dá um tesão do caralho na gente. Todo macho idolatra sua porra e quer vê-la bem aplicada. Você fazendo e falando essas coisas deixa a gente nas nuvens, se sentindo o mais viril dos machos. Nunca alguém tinha feito eu me sentir assim. – confessou.
Fomos comer uma massa no restaurante Manducare dentro do Hotel São Gotardo, desfrutando de uma vista belíssima das montanhas da região, antes do Julio me levar até o camping no Rebouças. Eram 14:45 hs quando ele estacionou ao lado do abrigo.
- Obrigado! Obrigado por ser tão encantador! – disse ao me despedir. Não quis que ele saísse do carro. Abracei-o e toquei de leve meus lábios nos dele. Desci apressado do carro, pois sabia que se ficasse olhando para aquele rosto por mais alguns segundos começaria a chorar.
- Estou te esperando para escalarmos o Prateleiras, só você e eu. – disse, colocando um cartão de sua agência em minhas mãos. – Obrigado por toda felicidade que você plantou aqui dentro. – acrescentou, tocando os dedos sobre o coração. A primeira lágrima rolou do meu rosto e eu pulei fora do carro sem olhar para trás.
A caminho da barraca não pude deixar de pensar que eu não passava de um daqueles bichinhos mantidos por muito tempo numa gaiola sem, ou com pouca, interação com o mundo do lado de fora. E que, agora solto, explorava e descobria tudo a minha volta, me emocionando com cada descoberta e nova sensação. Sempre fui uma manteiga derretida, talvez por que sempre estive sob pressão e emoções intensas, como o bullying, a gozação e o medo constante de ser zoado pela garotada cruel do colégio. De repente, eu estava começando a assumir quem eu realmente era, exagerando provavelmente nas atitudes, porém, dando sentido a minha existência. Aprender a lidar com as emoções ainda seria um árduo caminho a percorrer.
- Finalmente! Já estamos com quase tudo pronto para partir. Só falta você juntar suas tralhas para desmontarmos a barraca. – disse o Leo, assim que me aproximei da barraca.
- Não me demoro! – assegurei.
- E aí, como foi o rendez-vous com o velhote? A pica dele deu conta desse cuzinho? – perguntou na sequência.
- Ciúmes? – revidei.
- De quem? Daquele panaca? Não me faça rir! – zombou.
- Dele mesmo! Um tremendo macho viril. Homem, não moleque como você. Com uma rola que deve dar de dez a zero na sua piroquinha. – tripudiei.
- Piroquinha? Olha aqui a piroquinha! Senta aqui que eu te mostro do que essa piroquinha é capaz. – respondeu zangado.
- Não, obrigado! Depois dessa noite sei que isso aí não vai me satisfazer.
- Viado! – ele ficou tão furioso com a segurança das minhas palavras que saiu pisando firme.
- O que deu no Leo? Vai me dizer que você mal chegou e vocês já discutiram. – quis saber o Mario.
- Seu irmão é uma besta quadrupede! Um idiota que vem cheio de grosserias. – respondi, enquanto fazia minha mochila.
A ideia, passados os seis pernoites no camping, era procurar um hotelzinho ou uma pousada na região para os outros dois dias antes de regressarmos para São Paulo no domingo pela manhã. Perdemos quase toda a tarde daquela quinta-feira procurando um lugar para pernoitar, devido à grande procura durante o inverno, que fazia os hotéis e pousadas estarem lotados. Como ninguém havia pensado nisso e feito alguma reserva, tivemos que bater de porta em porta. Acabamos encontrando dois quartos triplos num hotel em Resende, já próximo do horário da janta. Feito o check-in, o Thiago, o Leo e eu ficamos numa suíte e, o Mario, o Lucas e o Paulo na outra, as últimas que o hotel dispunha livres. Tomamos uma ducha, jantamos e fomos dar um rolê a pé pela cidade. Não havia muita coisa para ver, sentamos numa mesa na calçada de um barzinho e ficamos apreciando o parco movimento interiorano. Acabamos voltando cedo para o hotel, driblando quem vinha pela frente uma vez que o Leo havia exagerado nas Tequilas e caipirinhas de tangerina, e precisava ser amparado para não topar com as pessoas e falar besteiras. Ao chegarmos à suíte ele cambaleou até o banheiro e vomitou o que estava no estômago.
- Que saco, cara! O que deu em você? – reclamou o Thiago, que perdera a paciência com o besteirol que saia da boca do Leo.
- Vocês são todos uns bostas! Você principalmente, seu bosta viadinho! – respondeu, apontando na minha direção.
- Qual é a tua? Estamos há mais de uma hora aguentando seu porre. Vá se foder! – retrucou o Thiago, tentando enfiá-lo debaixo do chuveiro, uma vez que sujara as roupas com o próprio vômito.
- Pega aqui na minha benga, boiolinha! O que você acha agora, ela é pequena para o seu cu arrombado? Esse cu que todo mundo está arregaçando? – berrou, quando o despimos. Eu me mantive calado, ajudando o Thiago a mantê-lo debaixo da ducha fria.
- Cala essa boca, ou a gente te deixa dormindo aqui mesmo! – ameaçou o Thiago.
- Seus viados, filhos da puta! Seus merdas! Vão se foder! – balbuciava com a voz emplastada e o cérebro encharcado de álcool.
Quinze minutos depois de o jogarmos sobre a cama, ele roncava e babava no travesseiro, imóvel como um moribundo. Ainda conversamos por uma meia hora antes de o sono começar a baixar. Muito sutil, o Thiago começou a me sondar sobre minha saída com o Julio. Fingi que já não o ouvia quando as perguntas começaram a ficar mais íntimas.
Eu já dormia a sono solto quando acordei assustado, sem a bermuda do pijama e o Leo nu tentando me subjugar e enfiar a rola dura no meu cuzinho. Com um braço nas minhas costas, todo seu peso sobre o meu corpo e guiando com a outra mão a jeba sobre as minhas pregas, comecei a me debater e a tentar afasta-lo de mim. Por um tris ele não meteu a rola no meu cu, não fosse eu desviar a bunda para o lado.
- Para! Para! – meu brado sufocado dentro do travesseiro encheu o quarto.
- O que é que está acontecendo? – perguntou o Thiago, acordando assustado com a algazarra. – O que é que você está tentando fazer, seu filho da puta? – emendou, levantando-se num movimento rápido e o tirando de cima de mim, ao mesmo tempo em que desferia um soco na cara do Leo.
- Não! Pare com isso, não! – protestei, retendo seu braço que se já preparava para novo soco.
- Qual é? Se você quer que ele te foda, problema seu. Fiquem a vontade! – retrucou o Thiago.
- Não é nada disso! Ele está bêbado, você está sabendo. Não vai bater nele nesse estado. – argumentei.
- Cara, só você mesmo! Inacreditável! O cara está tentando enfiar o caralho no teu rabo e você preocupado que ele leve um merecido soco no meio das fuças. – disse, incrédulo.
- Vocês são amigos, você acha que ele está em condições de saber o que está fazendo. Vem me ajuda a coloca-lo na cama outra vez. Aposto que capota como da primeira vez em alguns minutos. – foi o que aconteceu.
- Eu posso fazer e dizer o que quer que seja, você sempre vai estar contra mim, não é? Não concordamos nunca! – disse ele, sentando-se na cama.
- Não é nada disso, Thiago! Só não acho justo batermos num bêbado. Até que estamos concordando em algumas coisas nesses últimos dias. Você nem reclamou quando eu sugeri descermos a trilha do Agulhas orientados pelo GPS. – argumentei.
- É, isso é verdade! Mas não pense que vai me levar no bico só por causa disso. – ele ainda lutava pelo status que sentia abalado por mim.
- Você é um cara muito legal! Meio mandão e teimoso, mas um cara de bom coração. – elogiei.
- Querendo me bajular?
- Não! Só dizendo o que sinto.
- Como você pode saber? Nem me conhece direito!
- Soube quando nossos olhares se encontraram, depois que te pedi para não me machucar, naquela tarde na cachoeira. E, você sabe disso, por que vi nos teus olhos que não queria me machucar. – revelei, deixando-o desconcertado.
- Mas, acabei machucando! Você não reclamou depois. – devolveu ele.
- Eu sei! – precisei disfarçar um riso súbito.
- Do que está rindo? Falei alguma coisa engraçada?
- Não, não é isso! É como pedir a um elefante ou um hipopótamo para serem sutis. – sorri.
- Está me chamando de paquiderme?
- Claro que não! Só estou pensando no descabimento que foi pedir para um cara do seu tamanho, com todos esses baita músculos e esse pintão enorme, não me machucar.
- Ainda mais estando dentro desse cuzinho! É, é meio impossível mesmo! – retorquiu sorrindo. – Você pode até tirar uma com a minha cara, mas vou te confessar uma coisa. Aquela foi a primeira vez que eu comi um cuzinho, a primeira vez que comi um carinha e, eu gostei pra caralho! – confessou, desviando ligeiramente o olhar para o chão.
- Sou praticamente, ou melhor, era virgem até uma semana atrás, mas percebi que aquela também era sua primeira vez. – revelei.
- Primeira vez com um carinha! Eu já meti em muita buceta! – protestou.
- Isso, foi isso que eu quis dizer.
- Nunca penetrei uma grutinha tão apertada como a sua, deu um tesão da porra! A gente cresce aprendendo que caras que transam com caras são viados, mas não foi assim que me senti depois da gente transar. Eu me senti muito mais macho, por ter um carinha debaixo de mim, gemendo e levando minha pica. Acho que aquela também foi a esporrada mais abundante que dei na vida. – expos, agora me encarando cheio de confiança.
- Para mim também foi uma experiência muito prazerosa. Viu como você consegue ser doce sem ter que perder seu status de mandão? Ninguém vai dizer que você é menos macho por que consegue se mostrar sensível. Veja o que acaba de fazer por mim agora há pouco. Quem diria que o cara que mais bateu de frente comigo agora não quer que alguém se aproveite de mim? – questionei.
- Ninguém tem o direito de pegar o outro a força! Eu não podia deixar o Leo fazer isso sem o seu consentimento.
- Obrigado, meu herói! – devolvi, num sorriso sincero.
- Mereço até um premio! – provocou.
- Merece! – só então me dei conta de que ainda estava sem a bermuda do pijama, e ele olhava para a minha nudez com a concupiscência a saltar-lhe dos olhos. Dois passos e, ele estava comigo na cama, excitado como um garanhão ao perceber uma égua no cio.
Esfregar-se nas minhas coxas e na minha bunda deixou-o ainda mais efervescente. Eu o abraçava e recebia sua língua na minha boca, chupando-a com ardor. O pau babando melava minhas nádegas e atiçava meu cuzinho. Eu me empinava todo, comprimindo a bunda contra sua virilha. Não demorei a sentir a rola me penetrando deixando escapar um gemido esganiçado. Eu achava que a cada penetração minhas pregas fossem laceando e tornando menos dolorosos esses ímpetos dos machos, mas não era o que acontecia. Meu cuzinho estava cada vez mais travado e, embora desejoso de uma pica, permanecia tão ocluso que cada rola transpassando meus esfíncteres era como uma tortura aniquilante, antes de sobrevir o prazer de aconchega-la nas minhas entranhas. O Thiago aprofundava seu pinto gigante no meu cuzinho numa generosidade lasciva e promiscua, usufruindo cada contração dos meus músculos anais ao redor de seu falo como um árido sedento sorve cada golpe de água fresca. Ele ficou metendo em mim e chupando meu pescoço até se cansar daquela posição que não lhe permitia compartilhar seu prazer comigo. Assim, tirou a pica do meu cu tão apressadamente antes de me sentar em seu colo que acabei soltando um grito quando a cabeçorra esgarçou minhas pregas. Ele estava recostado na cabeceira da cama quando trouxe meu tronco para junto dele. Uma série de beijos cobriu meu rosto, minha boca, meus ombros e, por fim, meus mamilos. A fissura dele por meus peitinhos era evidente. Ele fechou a mão ao redor de um deles fazendo-o estufar, destacando o biquinho enrijecido. Seus dentes o prenderam e tracionaram até eu soltar um gemido e tentar afastar aquela boca insaciável dos meus mamilos sensíveis.
- Ai, Thiago! Bruto! – protestei. Ele me encarou com a tara descarada estampada no semblante.
- Essas tetinhas me deixam maluco! – murmurou, atacando o outro mamilo.
Eu afagava seus cabelos entre as mãos e sentia as deles percorrendo minhas costas. Comecei a cavalgar em seu colo e ele apartou minhas nádegas para que seu falo deslizasse dentro do meu rego. Ergui seu queixo e comecei a beijá-lo. Ele guiou o cacetão para dentro do meu cuzinho e eu gani com sua língua explorando minha boca. Sentei-me lenta e cuidadosamente sobre a pica, fazendo-a desaparecer no meu introito. Só ficou o sacão comprimido no meu reguinho aberto, enquanto ele amassava minhas nádegas. Nossos olhares se encontraram como naquela tarde na cachoeira, e eu comecei a cavalgar naquele mastro fazendo-o gemer e bramir feito um touro. O Leo se agitou na cama ao lado e, por alguns instantes, nos fitou com um olhar mortiço e confuso, antes de voltar a perder a consciência.
- Daqui a pouco você vai acordar o hotel inteiro com esses rugidos, seu tarado! – adverti.
- Tô pouco me lixando! Eu quero comer esse rabinho até não poder mais! Quem manda você ser tão tesudo? – grunhiu entre um sorriso safado.
Pouco depois, ele nos fazia girar juntos montando novamente em mim, enquanto eu enlaçava minhas pernas ao redor dele. Ele me pediu que o beijasse novamente. Eu obedeci, perdendo o controle e gozando sobre meu ventre. Ele deixou os jatos fluírem como dardos, aliviando a pressão dos seus culhões e me presenteando seu sêmen viril.
O sol penetrava por uma fresta aberta entre as cortinas e batia sobre nossos corpos enlaçados na mesma cama. O Leo deu um chute no traseiro do Thiago nos acordando espavoridos.
- Suas bichonas pervertidas! Ficaram de fodelança a noite toda, não é? Puta que o pariu, minha cabeça vai rachar! Aquela tequila tava uma merda! – vociferou, levando a mão à cabeça.
- As tequilas, você quer dizer! Por que você entornou todas.
- Foram vocês seus viados que tiraram a minha roupa? Queriam o quê, chupar a minha pica? – embora desperto ele ainda não atinava coisa com coisa. – Acho que um filho da puta me acertou um soco, tô com uma sensação gozada deste lado do queixo. – comentou.
- Vai ver foi o traveco que você pegou a caminho do hotel! – tripudiou o Thiago.
- Traveco? Cê tá maluco, meu irmão? Eu sou lá de foder boiola? – resmungou e, depois de um tempo meditando com suas memórias. – Sério? – a cara que fez diante da dúvida provocou uma gargalhada em mim e no Thiago. Em seguida ele foi cambaleando até o quarto ao lado, provocar os outros.
- Me diz que eu também não delirei essa noite quando senti você me acolhendo nesse cuzinho gostoso? – perguntou o Thiago, vindo acariciar meu rosto.
- Garanto que não! Quer que eu te mostre toda sua destemperança? – provoquei.
- Eu adoraria! – Fomos juntos para debaixo da ducha com as bocas seladas num beijo úmido.
Na sexta e no sábado ficamos fazendo incursões pelos arredores do Itatiaia. Fomos a Penedo, Visconde Mauá, Maromba Rio e Maromba Minas por estradas precárias de terra e pedras soltas, que o Dodge Journey enfrentou com valentia. Parávamos algumas vezes para fazer umas fotos e, numa dessas paradas, a caminho de Visconde de Mauá, quando já se avistava do alto da serra o vilarejo encravado no fundo do vale, alguns condores planavam graciosos levados pelas correntes de ar. Praticamente não moviam as asas, não faziam nenhum esforço para voar livres naquela altitude, contemplando o mundo por um ângulo privilegiado. Eu começava a me sentir um pouco assim como eles com os acontecimentos dos últimos dias. Ao menos era assim que se sentia meu coração, um pouco desligado e livre de opressões. A noite de sábado para domingo eu passei compartilhando a cama com o Mario, pois ele e o Leo haviam trocado de quarto. Transamos numa cumplicidade vigiada pelo Thiago que, de vez em quando, resmungava alguma coisa na cama ao lado.
- Tô ficando de pau duro aqui debaixo! Daqui a pouco vou aí participar da suruba!
- Nada disso, você já teve sua chance. Essa noite é minha, esse cuzinho é todo meu! – revidou o Mario, sem interromper o vaivém daquela jeba dentro de mim.
Voltei para São Paulo bastante calado dentro do carro, enquanto eles extravasavam a euforia daqueles dias. Eu ficava imaginando se seria possível viver a minha realidade como vivi aquela semana no Itatiaia. Sentia um nó na garganta e não sabia explicar o porquê, uma vez que tudo tinha sido maravilhoso. Fiquei analisando as transformações ocorridas com cada um de nós. A princípio, todos eles me levaram por uma imposição do Jorge, o pai do Leo e do Mario, isso era certo. Eu era um estorvo a ser carregado a fim da viagem deles dar certo. A cada dia as coisas foram se transformando. Dos quebra-paus com o Paulo e o Thiago, restou o desdém do Paulo comigo, unicamente por não me aceitar. Para ele eu continuava a ser a bichinha com quem batia de frente, embora eu nunca tivesse demonstrado nenhum trejeito que me denunciasse. O Thiago era também, sem sombra de dúvida, um heterossexual convicto. Mas, descobriu que podia experimentar outros prazeres na vida. O Leo voltava ressentido comigo por não ter me fodido nenhuma vez. Nem eu sei explicar por que agi assim com ele, porém, cada vez que ele vinha para cima de mim com as intenções explícitas eu me lembrava dos tempos do colégio, do bullying que ele perpetrava sobre mim, sempre cercado de comparsas e do irmão mais velho. No fundo, eu o achava um fraco que só ousava quando a retaguarda estava garantida, ele por si só não se garantia. Já o Mario tinha mudado radicalmente sua postura, tornara-se protetor. Cedeu aos meus atributos e encontrou o prazer neles. Restava o Lucas, aquele a quem entreguei minha virgindade e que me decepcionou a ponto de eu fazer coisas que jamais sonharia fazer, a ter atitudes que nunca tive na vida. Depois daquela penetração que me abriu para vida como o desabrochar de uma flor, nossa interação foi praticamente nula. Pouco conversei ou fiquei próximo a ele. Continuávamos dois estranhos, embora eu tivesse carregado seu sêmen entre as minhas coxas por um dia inteiro, em estado de jubilo.
Nas semanas que se seguiram meus pais comentaram sobre minha mudança de comportamento. Acham que eu estava mais solto, mais espontâneo, menos triste. Alegrei-me por terem percebido, talvez outras pessoas também tenham notado a diferença. Outro que me surpreendeu certa tarde ao me encontrar e me oferecer uma carona até em casa foi o Jorge, pai do Mario e do Leo. Ele voltava certamente da academia, ainda estava com os cabelos molhados e cheirando a loção de barba.
- Eu soube que você fez a alegria na moçada no camping. – disse ousado, enquanto dirigia sem olhar para mim.
- Com certeza não. Meu veio cômico é um desastre. – retorqui, embora soubesse ao que se referia.
- Mas seus outros atributos são bastante instigantes! – exclamou, armando um risinho irônico.
- Não tenho nada de instigante. Devem ter falado bobagens.
- Creio que o Mario não se enganou nos elogios que teceu a seu respeito e, pela reação do Leo por ter ficado de fora da festinha dá para imaginar o quão instigantes são seus atributos. Aliás, basta ver para constatar isso. – disse baixando o olhar em direção ao assento do carro.
Eu não estava acreditando naquilo. O quarentão casado, pai de dois marmanjos com idade próxima a minha, sarado e metido a galã estava me dando uma cantada. Na hora eu não sabia se ficava indignado ou se aceitava isso como um elogio. Como eu havia me transformado bastante, aceitei como um elogio. Ele se sentiu dono da bola. Foi ficando mais eloquente e mais safado. Eu retribuía meio tímido, isso o deixou doido. No meio da conversa vi que ele se desviara do caminho. Estava trafegando por ruas que não iam dar em casa. Ao perceber que eu tinha notado o desvio, lançou-me um sorriso desavergonhado. Era final de tarde e ele atravessava a ponte sobre o rio Pinheiros se embrenhando por ruas estreitas, junto à ponte, completamente congestionadas, de repente, estávamos entrando no motel Swing. Ele olhou para mim e, por uns instantes não disse uma única palavra. A atendente pediu os documentos e ele se voltou para mim enquanto tirava o dele da carteira. Entreguei-lhe o meu, sem interpor condições. Eu nunca tinha estado num motel, nem sabia que aspecto teriam as dependências por trás daquelas paredes, no entanto, estava curioso e excitado. Eu ia mesmo transar com o pai dos meus vizinhos?
Senti um frio na barriga quando o Jorge abriu a porta da suíte e me deixou entrar antes dele, junto com um cheiro forte de desinfetante ou essência de eucalipto. Tudo era muito branco e claro quando ele acendeu as luzes principais dando a impressão de um ambiente higiênico e estéril, embora eu duvidasse disso. O espaço era bem amplo, tinha uma jacuzzi onde a água borbulhava, uma sauna, uma área com duas espreguiçadeiras sobre as quais repousavam toalhas também brancas, dispostas em forma de leque e, numa espécie de patamar um degrau mais elevado, uma cama ampla e imponente como um trono. Meu olhar percorria as paredes brancas e luminosas com curiosidade e apreensão. O Jorge voltou-se para mim e pude identificar um sorriso pérfido ante a ingenuidade do meu olhar. Eu fiquei imaginando quantos casais, de todas as composições possíveis, não haviam estado ali satisfazendo seus corpos com a luxúria do sexo, quantos instintos humanos primais não haviam exercido sua dominação, submissão, tripudiação e mais inúmeras qualidades da essência humana. Casais apaixonados, namorados, que a pressa em se tornarem íntimos antes dos papeis oficiais, se deram ao desfrute, amantes que precisavam esconder seu envolvimento, chefes e patrões que se valeram dos serviços extras de secretárias e funcionários, pervertidos de toda a espécie que entrelaçaram seus corpos e gemeram seus prazeres. Eu nunca mais dissociei aquele cheiro de eucalipto que pairava no ar do sexo devasso e pecaminoso. Eu mesmo me sentia transgredindo regras, um amante comum, um prostituto, um pré-adulto descobrindo os meandros do sexo. O Jorge deixou as chaves do carro sobre um dos apoios da cabeceira e, num painel instalado nela, fez a voz da Adele sair de autofalantes instalados no teto cantando Make you feel my love e se espalhar pelo ambiente, dimerizou as luzes mergulhando tudo numa penumbra misteriosa e voluptuosa. Depois, aproximou-se de mim e me tocou. Logo eu estava nu diante de seu olhar voraz e admirador. Senti novamente aquela sensação de poder, como se as curvas do meu corpo tivessem a capacidade de escravizar aquele macho, como se eu pudesse lhe impor minhas vontades mesmo ganindo submisso sob o peso de seu corpo e imposição de sua pica. Ele procurou minha boca, sedento e cobiçoso, como se minha retribuição aos seus beijos fosse a chave para ele ter livre acesso ao meu sexo e ao meu cuzinho excitado. Ele gostou de me ver tirando a camisa que acabara de desabotoar expondo os pelos de seu peito. Seu olhar acompanhava meus dedos longos e finos entrando pelo cós da calça para puxar a camisa para fora e desabotoar os últimos botões, num assanhamento ansioso. Acompanhou-os deslizando mais uma vez sobre a trilha peluda que levava à sua virilha e, onde meus dedos tatearam antes de abrir a braguilha de sua calça. Embaixo dela, o contorno de uma rola em ereção se fazia cada vez mais perceptível. Minha mão entrou lenta e suavemente por aquela abertura e saiu trazendo, entre movimentos carinhosos dos dedos, sua benga grossa e úmida. Ele sorriu e me beijou acaloradamente. Não sei se para exibir seu vigor físico, ou se simplesmente para mostrar quem é que dominava a situação, ele me pegou no colo e me deitou sobre uma das espreguiçadeiras. Meu corpo tremia todo, involuntária e espasmodicamente. Eu já aprendera a identificar essa reação toda vez que ia ser fodido, e a aceitei com naturalidade. O Jorge terminou de se despir, atirando as roupas sobre a outra espreguiçadeira. Ele era um quarentão bonito e vigoroso, não tão sexy quanto seu filho Mario, nem tão garboso quanto o Lucas em pleno esplendor de seus vinte e um anos e, muito menos, tão impressionante quanto o corpo espetacular e viril do Julio, mas havia um charme, uma sensualidade latente que vinha de sua experiência e segurança naquilo que estava fazendo. E, isso me bastou naquele momento, para eu me entregar a ele. Ajoelhado ao lado da espreguiçadeira, ele tateou por todo meu corpo, sua mão deslizava sobre a minha levemente arrepiada explorando cada detalhe.
- Agora eu sei o que aquele bando de garanhões movidos a hormônios viram em você! A pele é tão macia e branquinha, não tem uma única imperfeição, nada! Peitinhos gorduchinhos e mamilos cor de chocolate, dá vontade de morder um pedaço. Deliciosas coxas lisinhas, sem nenhum pelo, nada que te faça parecer um macho, apenas um mancebo casto. Você sabe o que é um mancebo? É uma palavra das antigas, nem se usa mais. – afirmou, num tom de voz grave.
- Sei. Aparece em alguns livros. – respondi.
- Então, você é um mancebo. Um mancebo muito gostoso! Um mancebo de bunda arrebitada. Sempre fui tarado por bundas. – revelou, passando a mão na minha.
Eu já estava começando a ficar de pau duro, o que chamou a atenção dele. Sua mão deslizou pela minha virilha e pegou no meu pinto. Estremeci na hora, meu pau parou de endurecer e, por alguns instantes, temi que ele me masturbasse. Aquela mão estranha naquele lugar estava me fazendo brochar. Todo tesão que eu estava sentindo quando ele pegava minhas nádegas sumiu como por encanto. Compreendi então, que eu sentia tesão no cu e não na pica. Outra pessoa tocando nela não me produzia emoção alguma, aliás, só me travava. Felizmente, ele logo se desinteressou do meu pau, com um breve comentário de ele ter um formato bonitinho. Enquanto isso, o dele tinha atingido sua plenitude. Sem perder tempo, o Jorge ficou em pé ao meu lado e reclinando minha cabeça sobre o encosto da espreguiçadeira, pincelou sua rola no meu rosto.
- Me disseram que você faz boquetes maravilhosos. – ronronou.
Eu o chupei demoradamente, deixando aquela carne empinar na minha boca como se fosse um cavalo selvagem. A jeba babava me fazendo sentir seu sabor. Pouco depois de começar a brincar com seus culhões, sobreveio-lhe uma impetuosidade gananciosa. Ele abriu meu rego e começou a me lamber, morder meus glúteos, enfiar dedos no meu cuzinho e, por fim, deitar-se sobre a minha bunda e meter lenta e progressivamente o cacete no meu cuzinho. Eu gani por alguns instantes, quando a glande estufada me rasgou, mas logo me acostumei com seu falo entrando em mim. Ele me bombou o cu por bem uns vinte minutos. Meus gemidos tinham mais haver com a mucosa anal sendo esfolada à seco, do que propriamente pelo estímulo da rola. Ela parecia não atingir aquele ponto que me levava ao clímax. Descobri então, que eu só extraía o máximo do prazer quando um caralhão chegava àquele ponto profundo e incrustado no períneo, que recompensava cada prega rasgada na portinha do meu cu. As estocadas do Jorge não chegavam até ele e, eu esperei em vão por aquele prazer que não vinha, pois ele acabou gozando e melando todo meu rego com a profusão de esperma que ejaculou em mim. Apesar do cu esfolado e ardido, aquela foi a primeira vez que não gozei, que não senti aquele prazer celestial que me deixava em êxtase. Mais uma lição aprendida, nem todo sexo é bom e prazeroso, nem todo macho consegue satisfazer meus desejos, nem tudo é tão belo quanto deixa transparecer. O Jorge, ao contrário, parecia ter lavado a alma. Não fosse eu inventar uma desculpa qualquer ele queria me enrabar novamente. Estava aliviado quando ele me deixou no portão de casa.
Alguns meses depois, justamente quando eu estava prestando os vestibulares, fiquei sabendo pelo meu pai que nossos vizinhos estavam de mudança. O Jorge e a esposa estavam se separando e colocando a casa à venda. Como estava atolado até o pescoço com os meus estudos e provas, não vi quando o caminhão de mudanças deixou o imóvel vazio. Nunca mais soubemos de nenhum deles.
Eu tinha acabado de prescrever as medicações no prontuário do primeiro paciente daquela manhã e, ao datar e assinar a prescrição, as memórias de uma década passada me trouxeram uma doce nostalgia. A data que escrevi no prontuário era exatamente uma década após minha aventura no Itatiaia. Por alguns instantes, fui transportado para a imensidão da paisagem que avistei daqueles 2.791 metros de altitude.
- No mundo da lua, doutor? – a voz que me tirou dos meus devaneios foi da Mariana, uma colega médica que integrava o corpo clínico do hospital no qual eu trabalhava pelas manhãs. – Você está com uma cara! – emendou, rindo.
- Recordações, recordações! – respondi.
- Tenho uma proposta para você. Diz que aceita, diz! – continuou ela, depois de conseguir minha atenção.
- Nem vem! Toda vez que você me aparece com suas propostas, sei que vai sobrar para mim. – retruquei.
- Calma! Não é nada disso. É coisa boa, garanto que vai gostar. – proclamou.
- Quando você chega com essa conversa mole toda é porque é uma bomba. Mas, manda ver, hoje estou de bom humor.
- Minha prima esnobe vai se casar daqui a duas semanas. A Valéria, uma daquelas do meu tio empresário, o bacana da família. Bem, aí eu pensei, como o Marcelo costuma ficar em casa nos finais de semana feito um eremita e, considerando que você é do tipo médico galã de seriado americano, e mais, que estou solteirinha depois de terminar com o Jonas, você bem que podia fazer esse favorzinho para sua melhor e mais amada amiga e me acompanhar nesse casamento. – despejou ela.
- Coisa boa? Você teve a coragem de dizer coisa boa para uma festa de casamento? Você só pode estar de gozação comigo. Eu abomino festas de casamento! – exclamei.
- Ah, faz esse favorzinho para sua amiga, faz? São apenas algumas horas. E, estou sabendo que vai ter um festão para lá de chique. – explicou, tentando dourar a pílula.
- Pois que seja a festa do sultão das arábias, eu estou fora!
- Você é um chato, sabia? O que é que custa você me acompanhar? Estou doida para a Valéria me ver acompanhada por você, sei que ela vai morrer de inveja. – disse, cheia de más intenções.
- Além de querer me arrastar para um casamento, você ainda quer me usar para provocar sua prima? Eu nem devia estar ouvindo suas bobagens.
- Ela merece, juro! Ninguém suporta aquelas duas, a Valéria principalmente, com aquele nariz empinado e fazendo questão de esfregar na cara dos parentes que é a mais rica das primas. – revelou.
- Também vou entrar na briga da família? Você é ótima! Depois me diz que é um favorzinho. Com amigas como você não preciso de inimigos. – retorqui.
- Eu cubro seu plantão do próximo feriado, são três dias! Vai, deixa de ser chato! – começou negociando.
- Só três dias para aguentar tudo isso? Muquirana! – devolvi.
- Dois plantões, então! O do feriadão e mais um fim de semana. Olha como estou sendo generosa, cinco dias!
- Vou ter que me enfiar num terno, não sei se vale à pena, por míseros cinco dias.
- Então! Vai ter que usar um smoking! – revelou, cautelosa.
- Mas não vale mesmo! Você vir aqui cinco manhãs para passar visita e fazer as prescrições para os meus três andares de clínica, não valem todo esse sacrifício. – retruquei.
- Mercenário! Tá bom! Três plantões. Mas, só três, não adianta ficar aí barganhando feito um turco no mercado Persa. – concedeu sem arrependimento.
- Como é que é? Turco no mercado Persa? – zombei.
- Ah! Você entendeu! Eu quis dizer que você é tão mercantilista e negociador quanto esse povo dado a fazer negociata. Um mercenário sem alma! Que nem se comove com as mazelas de uma amiga. – choramingou.
- Isso, vai desfiando o rosário! Chora, esperneia, talvez essa alma insensível se comova com seus problemas existenciais. Aliás, que problemas, hein? Ir a uma festa de milionários. Debochei.
- Então estamos combinados! Três plantões e meu médico galã de smoking, não nessa, mas na próxima sexta-feira às oito horas. – afirmou, afastando-se saltitante pelo corredor do hospital.
- Eu não concordei com nada! Volta aqui, trapaceira!
- Trato feito! Nem adianta quer cair fora. – divertiu-se ela.
Eu só concordei por que gostava muito dela. O término de cinco anos de namoro a deixou sem chão, e ela estava numa fase de recuperação de sua autoestima. Não dava para lhe negar esse pedido, embora aquilo significasse o inferno para mim, ir a um casamento de completos estranhos.
Liguei uma meia dúzia de vezes para a Mariana na tarde do casamento, só para ter certeza de que ela não ia me fazer esperar por horas até se embonecar toda. Também passei no apartamento dela uma hora antes para apressá-la caso estivesse atrasada como de costume. Contudo, naquela ocasião ela estava pronta, e linda. A Mariana era uma mulher muito bonita e sedutora, havia um séquito de caras querendo namorá-la, mas ela tinha o péssimo hábito de escolher sempre o sujeito errado.
- Uau! É hoje que você desencalha! – exclamei.
- Seu puto! Encalhada está sua avó! – revidou, jogando uma almofada do sofá na minha direção.
- Foi só um elogio! – tentei remediar.
- Me chamar de encalhada, um elogio? – protestou.
- Não! Eu quis dizer que você esta linda! – consertei.
- Vocês homens são todos iguais! Pisam na bola e depois querem consertar a cagada. – afirmou categórica.
- Então não falo mais nada, pronto!
- Nossa! Lindo está você nesse smoking! Se as enfermeiras te vissem vestido assim, iam te estuprar em pleno hospital. – afirmou, rindo.
- Engraçadinha! Vamos, ou você quer perder o casamento da sua adorada prima?
Chegamos à igreja no final da cerimonia. Logo imaginei que a Mariana tinha feito isso de propósito, ou talvez, para abreviar meu tormento. Qual não foi o meu espanto quando, tentando encontrar um lugar bem nos fundos da igreja lotada, vejo que o noivo é o Leo. Pisquei algumas vezes os olhos para ter certeza de que era ele. Era o próprio. Um pouco mais encorpado, desde a época que éramos vizinhos, com uma cara mais séria e, compenetrado nas palavras do padre, em nada ele se parecia com aquele cara que me bolinava na escola, que queria me foder no Itatiaia e só pensava em maneiras de me sacanear. Aos poucos fui identificando rostos conhecidos entre os convidados que assistiam a celebração. Lá estava o Mario, o Jorge, a ex-esposa, o Paulo, o Thiago e o Lucas, todos reconhecíveis, apesar dos dez anos que haviam se passado. Subitamente, percebi que aquele clima de descontração, até de festa, com o qual estava até então, começou a se transformar num reboliço incômodo. De alguma forma eu me senti abalado por aquelas pessoas. Nenhum deles notou minha presença na igreja, e eu arquitetava algum pretexto para tentar não ir à festa. Mas, isso significaria magoar a Mariana e descumprir com a minha palavra, mostrar-me um verdadeiro canalha. Resolvi enfrentar a situação.
Seis salões do hotel Palácio Tangará rodeado por uma nesga preservada de mata atlântica no Parque Burle Max no Morumbi, estavam luxuosamente decorados para a recepção dos cerca de quinhentos convidados. Sem dúvida o Leo soube onde ancorar seu barco. Do pouco que me foi possível conhecer a seu respeito da infância até o final da adolescência, uma ambição desmedida, não era de se estranhar que estivesse se casando com aquela gordinha sem atrativos, que mais parecia um colchão amarrado naquele vestido de noiva que certamente custou uma pequena fortuna. O primeiro a me reconhecer foi o Jorge, logo após a Mariana e eu entrarmos no salão de recepção e, ela cumprimentar alguns parentes. Ele estava acompanhado de uma mulher, com não mais do que a minha idade, opulenta e cheia de curvas metida num vestido com generosas fendas pelas quais se insinuavam dois peitões siliconados. Ele ficou constrangido ao me reconhecer, tirando rapidamente a mão que envolvia a cintura da mulher.
- Marcelo! Que prazer em revê-lo! Linda sua namorada! – derreteu-se numa simpatia falsa.
- Há quanto tempo! Vejo que ainda continua frequentando academias, está tão malhado quanto naquela tarde da carona. – devolvi com sarcasmo. O sorriso sociável desapareceu de seu semblante e ele deixou transparecer toda sua insegurança, temendo que eu fizesse algum comentário sobre a tarde em que me fodeu no motel.
- Você dava carona para ele, querido? – perguntou a mulher, mais interessada em jogar charme para cima de mim do que saber a resposta. O Jorge apenas confirmou com um aceno de cabeça, e apressou-se a sair dali alegando ter visto um casal de amigos que queria cumprimentar.
- Nossa! O que foi isso? Pensei ter visto faíscas quando você cumprimentou esse sujeito. – observou a Mariana.
- Pois é, acho que eu também as senti. – respondi evasivo.
- Vamos cumprimentar os noivos. É agora que vou me vingar da Valéria, mesmo que ela não saiba disso. – disse a Mariana, arrastando-me para uma pequena fila que esperava cumprimentar o casal e seus pais.
Minhas mãos suavam enquanto a fila avançava num passo lento e, as pessoas agitadas, se derramavam em elogios. O Leo me identificou antes mesmo de chegarmos até ele, abrindo um risinho amarelo como fazia quando, cercado da galerinha do colégio, se preparava para mais uma sessão de bullying. Estranhamente eu não tremia como naquela época, cheguei mesmo a pensar que aquela serenidade toda não podia ser minha.
- E aí, cara! Como vai essa franguinha? Está todo elegante. Vai fazer sucesso com a macharada! – desatou a provocar.
- Parabéns! – retribuí, e depois, abraçando-o e me aproximando de seu ouvido, disparei. – Foi só isso que esse pintinho conseguiu arrumar? Não vai ser uma noite de núpcias tão glamorosa quanto você sempre sonhou, não é? Mas, eu posso te dar uma força. O que você acha de experimentar meu cuzinho esta noite, depois da festa? Você sempre quis me pegar, não foi? Pois estou te dando essa chance. – ironizei, enquanto minha mão se enchia pegando na pica dele e a acariciando despudorada e discretamente.
Ele ficou rijo como uma estátua, olhava para os lados com um sorriso idiota, temendo que alguém notasse que eu acariciava seus genitais. Mesmo forçando a situação, não consegui provocar uma ereção naquele pinto assustado e inseguro, como eu tantas vezes me senti prensado contra uma parede e cercado de garotos me abordando. Eu certamente estava sendo cruel, mas naquele momento aquilo lavou a minha alma. Ver o meu algoz naquela situação era a prova de que aquele Marcelo ingênuo e tímido não existia mais. As pessoas a nossa volta já estranhavam aquele abraço tão demorado e íntimo. A noiva se virara na minha direção sem entender nada. A cara dela também não era das melhores depois da Mariana tê-la cumprimentado e, suponho eu, ter lavado a alma como eu acabara de fazer com o Leo.
- Parabéns, querida! Estou torcendo para que você se lembre da sua lua-de-mel com o Leo pelo resto da vida. Sejam felizes! – cumprimentei-a, deixando-a com uma cara interrogativa.
- Mereço uma taça de champanhe! – exclamei, pegando duas taças da bandeja do garçom que passava ao largo, entregando uma para a Mariana e, erguendo um brinde. Ela retribuiu com um sorriso largo e aliviado.
Os convidados se preparavam para o jantar que seria servido num salão anexo, onde o brilho das lâmpadas dos lustres se refletia nos enormes janelões que davam para os jardins, quando cruzei com o Paulo. Ele se apressou a me interceptar, puxando a mulher de olhar resignado atrás de si.
- Viva, viva! Que surpresa te encontrar aqui! Eu pensei que o Leo e o Mario tinham perdido contato com você. – disse ao me abraçar efusivamente, ao mesmo tempo em que enchia a mão apertando minha nádega.
- Foi uma surpresa para mim descobrir que o noivo era o Leo. Esta é uma médica amiga que trabalha comigo e, prima da noiva. – comentei.
- Esta é Laura, minha esposa. – a mulher saiu de trás dos ombros largos do Paulo como um bichinho acuado. Eu tive pena dela.
- Quer dizer que você virou doutor! Bacana! – essa constatação o deixou diminuído, pois logo descobri que ele vivia de uma oficina mecânica e do salário da esposa, gerente de marketing numa empresa.
- E você, voltou ao Itatiaia mais alguma vez? – perguntei, ao mesmo tempo em que encarava a mulher.
- Não, infelizmente não! Até já falamos sobre isso, não foi amor? A Laura tem parentes morando em Resende, mas nunca conseguimos tempo para visita-los. A mulher concordou com um sorriso tímido.
- Eu voltei durante as férias de inverno no primeiro ano da faculdade. O Julio me levou para escalar o maciço do Prateleiras. Lembra do Julio? – perguntei. Ele fingiu não se recordar, mas sabia muito bem de quem eu estava falando. – Hoje posso dizer que estive nos dois cumes, ambas foram experiências incríveis. – acrescentei, deixando-o embaraçado.
- Quem sabe esse ano a gente consegue, né morzão? – balbuciou a esposa.
- Não deixe de pedir para o Paulo te levar até a cachoeira do Aiuruoca, o lugar é lindo e o Paulo certamente viveu um dos melhores momentos de sua vida naquela cachoeira, não é Paulo? – eu não sabia de onde estava vindo todo aquele fel que eu destilava naquela noite.
- É. – mal se ouviu sua voz.
- Por quê? O que aconteceu de tão especial nessa cachoeira? Você nunca me falou sobre isso. – quis saber curiosa a esposa.
- Ele vai te contar. É que precisa de um bom tempo para contar a aventura, pois a história é longa. – respondi. O Paulo estava lívido.
- Estou vendo que você conhece metade dos convidados! – exclamou a Mariana quando nos sentamos à mesa.
- É uma galerinha com a qual fiz uma viagem pouco antes de entrar na faculdade. – esclareci.
- Deve ter sido uma viagem e tanto para esses sujeitos ficarem com essas caras. – retorquiu ela.
- É, foi mesmo! Uma viagem e tanto. – concordei.
Eu já tinha avistado o Thiago circulando entre os convidados, mas não tivemos a oportunidade de nos cumprimentar. A Mariana havia ido retocar a maquiagem quando ele me abordou.
- Marcelo! Estou encontrando a galera toda hoje. – disse ao me abraçar.
- Oi Thiago! Pois é, eu também. – respondi.
Ele me apresentou a esposa, uma garota bonita e delicada, que me beijou com um sorriso amistoso. Fez um ligeiro comentário sobre a minha beleza e parabenizou a Mariana por estar comigo. Ela imaginou que fossemos namorados até eu esclarecer a ligação. Ambas se identificaram e começaram a trocar comentários sobre a festa, esquecendo-se de nós.
- Muito bonita a sua esposa! – comentei, quando elas se afastaram um pouco e nos deixaram a sós.
- Obrigado! Você continua tão sensível quanto naqueles dias. E, tão lindo também! – exclamou ousado.
- Fico feliz de saber que conseguiu uma esposa tão delicada e que está se dando bem com ela. – observei.
- É, acho que eu mudei. Mudei depois daquela viagem, mudei depois de te conhecer a fundo. – respondeu, e eu soube ao que ele se referia. – Fui tão intransigente com você quando nos conhecemos, mas descobri uma das melhores coisas com você. Sabia que eu nunca mais senti aquele prazer que você me proporcionou tanto na cachoeira quanto no quarto do hotelzinho de Resende? – havia um tom nostálgico em sua voz.
- Você é um homem maravilhoso. Não me esqueci do que fez por mim naquele quarto do hotel.
- E, do que mais você se lembra de mim? – inquiriu, ligeiramente encabulado e safado.
- De tudo, de tudo!
- Que bom! Sei que te magoei e que te machuquei bastante, só espero que não sejam essas as lembranças que guarda de mim. – argumentou conciliador.
- Não, não são essas as recordações que guardei. – garanti.
Enquanto conversávamos o Mario veio se juntar a nós. Abraçou-nos enfática e calorosamente. Ele e o Thiago mantinham um contato mais estreito devido às relações entre as empresas nas quais trabalhavam como diretores financeiros. Então, a única surpresa dele naquela noite, foi seu reencontro comigo. Esclareci como tinha vindo parar na festa e rimos da grande coincidência.
- Estávamos falando da viagem ao Itatiaia. – disse o Thiago.
- Caraca, é mesmo! Aquilo foi muito divertido, não foi? – revidou o Mario. – Como a gente era despreocupado naquela época! Tudo era motivo para fazer putaria.
- Você vai deixar o Marcelo sem graça. – observou o Thiago, pressentindo meu constrangimento pelo rumo que a conversa tomava.
- Não foi minha intenção, juro! – ele estava sendo sincero. – É que você era gostoso demais e a gente tinha hormônios demais também fazendo a cabeça de cima ter menos juízo do que a debaixo. – argumentou. – Aliás, corrigindo, era não, ainda é!
- Bom, agora você conseguiu me deixar sem graça. – comentei.
- Não, verdade! Você está um tesão, não é Thiago? Cara, quem é que consegue esquecer uma bundinha dessas? Fala a verdade, Thiago!
- Sem dúvida! Mas, vamos mudar de assunto que eu não pretendo ficar com o cacete duro em plena festa. – disse o Thiago.
- Vocês continuam os mesmos doidos de sempre! Tenha santa paciência! – retruquei.
- Esse aí já amarrou a mula, mas tenho certeza que ainda dá seus pulinhos por aí. Eu continuo solteiro tentando encontrar minha cara metade. – revelou o Mario. – E você? Aquela garota espetacular é sua namorada, esposa ou o quê?
- Uma amiga, só uma boa amiga! – esclareci.
- Bom saber! Eu sempre desconfiei que você não é muito chegado na mulherada, pelo menos não com as mesmas intenções que nós. – confessou. – Não pintou nenhum carinha na sua vida? Você não é o tipo que cara que a gente deixa dando sopa por aí!
- Vai tirando uma com a minha cara, vai! Hoje já fiz meus estragos por aqui, não queira provar do meu veneno que hoje está especialmente peçonhento. – afirmei.
- O que você andou aprontando? – perguntaram ambos, curiosos.
- Pergunte ao seu pai e ao Leo, eles vão te contar. E, ah! Ao Paulo também. – aposto que há essas horas querem me ver morto. – respondi.
- Você não leva jeito para fazer maldades. Não um sujeito carinhoso como você que agasalhou nossos cacetes daquele jeito mesmo depois da gente não ter sido lá tão legal com você. – disse, tomando o cuidado para que ninguém, além do Thiago e eu, o ouvisse.
- Sou da mesma opinião! Você não leva jeito para bad boy! – concordou o Thiago.
- Eu acho que fui um pouco cruel além da conta.
- Você já viu o Lucas? Ele está por aí. – essa observação do Mario causou uma inquietação que eu não queria sentir.
- Não! – respondi, sem mencionar que o tinha visto na igreja.
- Vamos ver se o encontramos? Vai ser legal relembrar juntos os lances daquela viagem. – sugeriu o Mario. Eu inventei que precisava procurar pela Mariana, que havia sumido com a esposa do Thiago para longe de nossas vistas.
Antes de procurar pela Mariana fui ao banheiro. Cruzei os salões abarrotados de convidados que, em pequenos grupos, se distribuíam pelos ambientes banhados pelo luar brilhante que se infiltrava pelas amplas portas envidraçadas abertas para os terraços com vista para o parque Burle Max. Havia três ou quatro homens mijando nos urinóis junto à parede numa das toilletes masculinas imersas numa discreta penumbra. Esperei um pouco para não ter que me enfiar entre dois deles no único urinol vago. Assim que eles deixaram o local me aproximei de um deles no lado oposto ao do único homem remanescente que continuava urinando. Discretamente olhei para o lado, focando naquela imensa rola grossa que, qual um chafariz, vertia um jato forte, amarelo e ruidoso de urina. O rosto que me encarava era o do Lucas. Corei no mesmo instante e senti uma repentina fraqueza nas pernas. Ele abriu um sorriso, balançou aquele caralhão para que a última gota se desprendesse, secou a cabeçorra com uma folha do papel higiênico que sacou do reservatório ao lado e veio na minha direção. Subitamente parei de mijar, antes mesmo de esvaziar a bexiga.
- Marcelo! Ora veja, quem é vivo sempre aparece! Eu jamais pude imaginar que te reencontraria e, muito menos hoje, aqui. Você não faz ideia do quanto estou feliz com isso! – distraído pela minha presença, ele até se esqueceu de lavar as mãos e, foi com a que segurou a pica que tocou meu rosto. Aquele cheiro másculo que nunca mais havia saído da minha mente penetrou nas minhas narinas, enquanto os olhos começavam a marejar, a despeito da força que fiz para controlar minhas emoções.
- Lucas! – pensei que não daria conta de pronunciar essas duas sílabas sem perder o autocontrole.
- Cara, como você está lindo! Esses anos só acrescentaram mais beleza ao corpão gostoso que você já tinha. E esses olhos, que perdição é essa? – as frases brotavam de sua boca numa espontaneidade constrangedora.
- Por favor, Lucas! – aquilo era uma reprimenda, pois um sujeito entrou na toillete e tirou o caralhão da braguilha para urinar a poucos metros de nós. – Podemos sair daqui? Não me parece um bom lugar para conversarmos. – observei.
- Claro! Claro! Certamente. Vamos sair daqui. – retrucou, enquanto o sujeito que se aliviava me encarava cheio de curiosidade e um tanto libidinosamente.
Tentei inutilmente tirar aquele calor que me afogueava o rosto molhando-o ligeiramente após ter lavado as mãos. Caminhamos diretamente para o terraço, pois naquele momento eu precisava de ar fresco. Toda a imponência da construção neoclássica podia ser apreciado daquele ângulo lateral do terraço, onde poucas pessoas conversavam sob o ar frio da madrugada que já havia começado. Ao ficarmos um diante do outro, as palavras repentinamente desapareceram das nossas bocas. Aquela situação mal resolvida no Itatiaia era a responsável pelo intimidamento que se formou entre nós. Ele me examinava de cima abaixo, procurando algum assunto para quebrar o gelo. Eu fazia o mesmo, sem deixar de notar que ele estava ainda mais corpulento do que naquela época. A barba tinha se espessado, e assim, propositalmente não escanhoada, deixava aquele rosto anguloso e másculo tão atraente que me sentia hipnotizado diante dele.
- Quanto tempo, não é? – foi ele quem quebrou o silêncio, apertando a mão como se não soubesse o que fazer com ela.
- Dez anos! Uma década inteira! – respondi.
- Você deve guardar péssimas recordações minhas.
- Não! Pelo contrário. Aquela viagem mexeu muito comigo, mas não guardo nenhuma lembrança ruim. – revelei.
- Eu preciso falar, senão vou explodir! Perdoe-me Marcelo pelo que fiz a você no Itatiaia. Você sabe como são os homens, acham que compartilhando seus feitos sexuais vão parecer mais machos diante dos colegas. Eu fui um idiota, um imbecil! Eu estraguei o que tinha sido a minha melhor e mais fantástica experiência. E, ainda por cima, fiz sofrer o cara que tinha me proporcionado esse prazer. Você deve estar me odiando por ter exposto nossa noite maravilhosa daquele jeito, e eu te dou toda a razão. Sem aquela pretensão de querer exibir minhas aventurais sexuais, que eu tinha na inconsequência dos meus vinte e poucos anos, eu hoje só sonho com a possibilidade de você me perdoar algum dia. – ele fazia aquela mea culpa destroçado por dentro.
- Foi há tanto tempo! Todos sobrevivemos e hoje estamos aqui para tocar avante nossas vidas. – retorqui.
- Não me odeie, por favor! Aquele desprezo que você sentiu por mim pelo restante da viagem foi o que mais me corroeu. – revelou.
- Não senti desprezo por você em momento algum. Eu só fiquei decepcionado, foi isso! Eu pensei que, se o que aconteceu entre a gente naquela noite foi tão maravilhoso para mim, também tinha sido bom para você. Nossas percepções da vida naquela idade são mesmo bastante falhas, acho que é por isso que envelhecemos, para que a vida nos mostre através de rugas e cabelos brancos, que evoluímos. – argumentei.
- Do fundo do coração eu sinto muito tê-lo decepcionado! Para você ver a ironia das coisas, eu achando que tinha abafado, que estava na maior moral com você e, só o que consegui foi fazer você se decepcionar comigo, quando eu desejava exatamente o contrário. Todos esses anos carrego isso comigo, como se eu tivesse cometido um crime e minha consciência estivesse a me cobrar a responsabilidade pelo que fiz. – a sinceridade e a comoção, que aquilo lhe causava, me comoveu. Eu não fazia ideia de que aqueles silêncios entre nós dois pelo restante da viagem eram fruto dessa culpa que ele carregava.
- Vamos por um ponto final nisso! Somos adultos agora. O que passou, passou. – ponderei.
- Tudo que eu nunca quis! – exclamou.
- Não entendi! Como assim?
- Eu nunca quis que aquilo acabasse. Já nas primeiras horas, ainda na estrada, eu senti uma atração por você que não dava para explicar. Não era apenas aquele puta tesão pela sua bunda, aquele desejo de provar seus lábios, era uma coisa que ia além disso. Era uma coisa que eu nunca tinha sentido antes. Hoje eu sei o que era aquilo. – sentenciou.
- Estou perplexo, nem sei o que dizer! – devolvi.
- Era paixão, Marcelo! Era paixão e, paixão por outro homem. Eu, tolo, só descobri isso mais tarde, quando já tinha te perdido. –revelou.
- Você nunca me perdeu! – exclamei.
- Como assim? Nunca mais nos vimos desde então. – questionou.
- Você nunca me perdeu por que continuou aqui dentro todos esses anos! Após aquele desvario de me entregar para o restante da galera, para aquele guia e, até para o pai do Mario e do Leo, eu nunca mais consegui transar com alguém. Na minha cabeça, se o fizesse, estaria te traindo. Eu não queria trair aquele homem que tirou a minha virgindade naquela noite. E, há tanto amor aqui dentro por você, que eu simplesmente não consegui, não consegui. – confessei, colocando a mão no peito e sentindo os olhos sendo inundados pelas lágrimas.
- Marcelo! Ah, Marcelo! – ele pegou minha mão, segurou-a por alguns instantes, depois num arroubo me puxou para junto dele e me apertou em seus braços. Não pudemos nos beijar sem que com isso protagonizássemos uma cena naquele terraço. Não era o nosso dia de brilhar, cabia ao Leo e à esposa esse papel. As poucas pessoas que também estavam no terraço não deixaram de espichar os olhares na nossa direção, e acabamos por nos afastar um pouco um do outro, ambos com lágrimas rolando pelas faces.
- Eu amo você! – balbuciei, tentando colocar um sorriso na cara no meio de todas aquelas lágrimas.
- Obrigado, meu Deus, por me permitir ouvir e também poder dizer isso! Eu te amo, Marcelo! – disse ele, olhando fundo dentro de minha alma.
A Mariana me encontrou ali com ele. Ficou me olhando de um jeito esquisito, e sei que percebeu minhas emoções a flor da pele. Disfarçou e perguntou quem era.
- Desculpe minha indelicadeza!
- Mariana, este o Lucas, um amigo que não vejo há muitos anos! Lucas, essa a Mariana, uma colega do hospital. – apresentei-os, coibido pelo flagrante.
- Prazer! Eu tive que fazer uma porção de concessões para conseguir que viesse a uma festa de casamento, e agora, descubro que ele conhece mais gente por aqui do que eu. – afirmou a Mariana com um sorriso para o Lucas.
- A Mariana é prima da noiva! Arrastou-me para cá só para se vingar da prima! Por aí você faz uma ideia de como ela é boazinha. – brinquei, o que nos fez rir descontraídos.
- Tenho mais um favorzinho para te pedir! – disse ela, em seguida.
- Pronto! Lá vem mais bomba para cima de mim. Teremos que negociar esse favorzinho, não pense que vai sair de graça! – devolvi, enquanto o Lucas não tirava os olhos de mim e sorria com a mesma felicidade que pulsava no meu coração.
- Mercenário! Você sabia que seu amigo é um tremendo mercenário! Fui obrigada a me comprometer com três plantões para trazê-lo até aqui. – anunciou ela.
- É que, o que ela costuma chamar de favorzinhos são, na verdade, tremendas frias. Ela se tornou expert em me meter em frias. – devolvi.
- Você precisa me dar a ficha completa do irmão do noivo. Eu vi você e o Thiago conversando com ele na maior intimidade. Assim você se redime por ter me chamado de encalhada. – disse, toda serelepe.
- Lucas! Não terei mais nenhum plantão este ano. Acabo de encontrar um tesouro. – revidei, caçoando.
- Viu como esse mercenário age? Coagindo as amigas para se dar bem. – afirmou, dirigindo-se ao Lucas. – Nada disso! Você me deve desculpas, muitas desculpas por me chamar de encalhada. O trato é esse! A ficha completa dele, pelo meu perdão. – insistiu, nos fazendo rir.
- Vocês dois formariam um belo casal! Pelo tanto que discutem, jamais teriam uma vida monótona. – disse o Lucas.
- Quem? O Marcelo e eu? Impossível! Ele tem alguém aí dentro que faz qualquer uma desistir de conquista-lo e, olha que não faltou quem tentasse. – futricou ela. O olhar do Lucas ganhou um brilho especial quando ela fez o comentário.
Algum parente a levou novamente para longe de nós. Fiquei encabulado quando ele me perguntou quem haveria de ser a pessoa que a Mariana havia dito ser a dona do meu coração.
- Podemos nos ver amanhã? – perguntou ele
- Hoje, você quer dizer!
- Isso, hoje! Onde?
- Onde você quiser, só me dizer que estarei lá. Mas, antes me deixe dormir um pouco, saí de um plantão e trabalhei o dia todo antes de vir para cá, estou um trapo. – expliquei.
- O trapo mais lindo e gostoso que já vi!
- Menos, bem menos! Pode ser lá em casa, meus pais estão viajando, assim você me poupa de ficar procurando o que vestir para ir ao seu encontro. – propus.
- Combinado! A que horas? O melhor jeito de você vir ao meu encontro é sem roupa alguma. – disse, fazendo cara de safado.
- Vou deixar a Mariana em casa e durmo algumas horinhas, quando estiver descansado pode passar lá. Você ainda se lembra de onde eu moro?
- Se for na mesma casa vizinha à do Mario e do Leo, lembro sim.
- A mesma.
A muito custo consegui que a Mariana se despedisse da parentada, passava das três da manhã. Deixei-a em casa e dirigi só pensando no Lucas. Aquela carinha apaixonada me dizendo que me ama tinha sido meu maior presente. Eu tanto havia sonhado com isso que mal podia acreditar que era verdade. Nós dois cara a cara, em carne e osso e, não num delírio noturno meu, dizendo que nos amávamos. Por pouco não bati com o carro, quando um maluco furou o semáforo vermelho a toda velocidade me tirando dos meus pensamentos. Eu não queria morrer agora que reencontrei minha grande e única paixão, antes de tê-la vivido plenamente. Ao chegar em casa, havia um carro estacionado bem diante do portão, pensei que seria assaltado se descesse do carro. No entanto, a porta do carro se abriu e o Lucas veio na minha direção.
- Que susto! Seu maluco, ficar parado nesse local ermo há essas horas. Não sabe o risco que estava correndo. – censurei.
- Esperei uma década para te rever, não quero perder nem mais nenhum segundo para ficar ao seu lado. Qualquer risco vale a pena para isso! – devolveu.
- Vou abrir o portão, coloque o carro lá dentro e vamos sair daqui.
O primeiro beijo aconteceu ali mesmo, na garagem. Tão apaixonado, tão profundo e desejado que, todos aqueles anos só conseguiram deixar mais especial. Eu mal conseguia girar as chaves nas fechaduras para abrir as portas com o Lucas me agarrando, me encoxando, me chupando o pescoço e me beijando numa voracidade selvagem. Nossas roupas formaram uma trilha, largadas pelo trajeto até o meu quarto aonde ambos chegaram pelados. Repentinamente, percebi que meu corpo estava possuído pela mesma sensação que senti antes de perder a virgindade, um misto de apreensão, euforia e curiosidade. Tudo se misturava naquela tremedeira incontrolável. As mãos e a boca dele continuavam vagando pelo meu corpo, excitando-o e o fazendo balbuciar sacanagens no meu ouvido. Minha boca estava seca e eu quis desesperadamente colocar a rola úmida dele dentro dela, como se minha sobrevivência dependesse daquele sumo másculo que brotava em profusão. Ele soltou um gemido gutural quando meus lábios se fecharam ao redor da cabeçorra, provocando a liberação de mais pré-gozo. Encarando-o cheio de paixão sorvi seu sumo com a devoção de uma gueixa.
- Ah, Marcelo! Você acaba comigo desse jeito, seu putinho! – grunhiu soberbo.
Ele me puxou pelos braços que queria ao redor de seu pescoço musculoso, afagando seus cabelos e sua nuca onde sentia um tesão concentrado cada vez que lhe tocavam a base da implantação dos cabelos. Assim que meus dedos percorreram essa zona, suas mãos se fecharam agarrando minhas nádegas com força, deixando os vergões de seus dedos impressos na pele alva e macia. Nossas línguas elaboravam uma dança erótica lasciva entrelaçando-se e roçando-se como duas serpentes engalfinhadas em nossas bocas grudadas. Pouco depois, eu estava de bruços sobre a cama, as pernas abertas, o rego devassado e a língua dele lambendo minha rosquinha pregueada. Eu era só delírio, gemendo e me contorcendo para que aquela sevícia se transformasse em algo concreto.
- Está com tesão no cuzinho, está? Eu estou cheio de tesão no cacete! Não é uma combinação perfeita? – sussurrou, enquanto lambia minha orelha. – O que você sugere que façamos? – provocou.
- Ai Lucas! Me pega Lucas! Me penetra Lucas! Eu quero ser todo seu Lucas! – gemi excitado.
Ouvindo-me pronunciar seu nome com todo aquele apelo sôfrego, ele se desprendeu de mim e ficou deitado de costas com as pernas abertas e o caralhão empinado no meio delas como se fosse uma coluna de sustentação. Era assim que eu via aquele membro dando pinotes a cada afluxo de sangue que o nutria. Com as mãos espalmadas sobre o peito dele, abri as pernas e fiz menção de sentar-me sobre a pica. Ao invés disso, pus a prova sua cobiça, beijando-o amorosa e libidinosamente, enquanto meu olhar lhe dizia que meu amor por ele era eterno. Ele abria meu rego e enfiava um dedo sequioso nos meus esfíncteres contraídos, movendo-o em círculos dentro do meu cuzinho abrasado. Mais um beijo fê-lo render-se e, num impulso certeiro, a jeba, que havia assumido a posição de seu dedo voraz, trespassou minha rosquinha e entrou potente no meu cu, dilacerando as pregas que se contraíam desejosas daquele macho. Meu ganido ecoou pelo quarto com a mesma intensidade e sofrência que naquela noite na barraca do camping, quando lhe entreguei meu cu virgem. Todos esses anos sem que nenhum macho tivesse penetrado nele, tinham restituído sua anatomia casta.
- Agora você é só meu para todo sempre! – murmurou ele, nos fazendo girar sobre o colchão até eu ficar debaixo dele.
- Eu te amo, Lucas! E, nunca quis outra coisa na vida além de ser seu. – sussurrei gemendo, pois ele ia me preenchendo as entranhas com toda sua virilidade, da mesma forma que hoje preenche cada um dos meus dias.