Ele estava cheiroso pra caralho. Usava uma bermuda jeans preta, uma gola polo rosa, e um par de havaianas brancas.
- eu não podia deixar o aniversário do meu melhor professor passar despercebido. Feliz aniversário, Edu. – disse ele me entregando o presente.
Eu sorri para ele.
- obrigado. – falei com a boca seca de nervoso.
- eu posso entrar?
- não sei se você vai curtir. É uma festa simples com pessoas caretas. – zombei.
Ele sorriu pra mim.
- então eu vou gostar. Eu também sou careta.
- então você vai se dar bem aqui.- Brinquei.
Junior me fitou por alguns instantes. Eu abri espaço para que ele passasse e depois chegamos ao encontro dos outros.
Ana e Pádua se entreolhavam. Miguel não fazia ideia do que estava acontecendo ali.
- qual vai ser? Minha cara ta borrada? – Junior foi um tanto irônico.
- estranho você aqui com os meros mortais. Não me leve a mal – disse Pádua.
- estranho seria eu não aparecer no dia do aniversario do Edu.
- fique a vontade, querido. O Pádua é implicante com todo mundo mesmo. Não é Pádua? – minha mãe tentou jogar água no pequeno fogo.
- sem problemas, já estudamos juntos há muito tempo. – disse Junior sorrindo.
- e nunca trocamos mais que uma palavra. – disse Pádua.
- qual é Pádua? Vai ficar atacando o Junior agora? – intrometi-me.
- estamos apenas dialogando. – falou meu amigo.
- Não esquenta Edu. O Pádua está só brincando. – disse Junior encarando Pádua bem no centro da Íris.
- Junior, antes de tu chegar, nós íamos fazer uma oração pra poder comer. Você pode puxar pra nós? – perguntou minha mãe.
- uma oração?
- isso.
- eu não sou bom em oração, mas eu posso ficar quietinho enquanto vocês oram. – disse ele.
Por dentro eu ria.
- Miguel? – minha apontou em outra direção.
- posso tentar. – sorriu.
- Eu e a Ana estamos invisíveis aqui? – argumentou o Pádua colocando as duas mãos na cintura.
- Hoje ele ta fora da casinha. – disse Ana fingindo tapar a boca do Pádua com a mão. – Pode começar a rezar, Miguel, ele não vai mais atrapalhar.
Todos riram e finalmente a oração saiu.
Não sei vocês, mas geralmente quando estou bebendo não sou de comer muito. Então após a oração, eu voltei para o quintal junto com meus amigos. Ana encheu um prato de strogonoff, enquanto minha mãe cortou o frango em vários pedaços e nos ofereceu em uma tigela para tira gosto.
Sentamos em uma roda e Junior todo instante a meu lado.
Meu coração sangrava, saltitava... Eu o sentia tentando rasgar minha pele e pular para o colo do Junior. Aquela sensação era ruim. O Junior estava ali, mas eu sabia que era por tempo limitado.
O ruim desses momentos bons é que eles têm final, e ninguém sabe ao menos se um dia poderá repeti-los.
O Miguel puxava umas músicas na viola e nós acompanhava-o.
xxx
É isso que eu falo pros outros Mas você sabe que o esquema é outro Só faço isso pra malandro não querer crescer o olho Tá doido que eu vou fazer propaganda de você Isso não é medo de te perder, amor É pavor, é pavor É minha, cuido mesmo, pronto e acabou...
Xxx
Todos ali conversavam, sorriam e bebiam. A tarde passava rápido demais, queria que ela desse uma pausa... Mas a vida não tem pausa, não tem replay, não tem start...
Um pouco antes do por do sol, a cerveja acabou.
- vamos fazer cotinha? – perguntei. – Tenho 20 reais.
- onde tem distribuidora aqui perto? Podemos ir lá e eu passo no cartão. – disse Junior.
- é perto, mas não é tão perto. – falei.
- ta bebo já. – disse Ana.
- to bem sóbrio. – falei. – vou fazer o 4. – disse levantando do banquinho.
- Acho melhor não. – disse Junior rindo e me segurando pelo braço. Bora lá comigo comprar mais cerveja? – perguntou.
- bora ‘’mermo’’. – respondi sem pestanejar.
Queria ficar perto do Junior. Dentro do carro seria melhor ainda.
- vamos comprar só bebida é? – perguntou Ana.
- seria bom umas coisinhas pra beliscar também né!? – disse Pádua.
- eu aprovo. – disse Ana.
- por mim, pode ser.
- e o que vocês sugerem? – perguntou Junior já em pé.
- pode ser um queijo. – Ana opinou.
- azeitonas. – completou Pádua. – ah, seria bom também aqueles franguinhos que tua mãe sempre frita.
- posso falar com ela. E tu Miguel, algo especifico?
- eu me contento com tudo. – disse ele segurando a viola.
- tras também uns amendoins. – disse Pádua.
- uiii, tu não precisa de amendoim, veado. – disse Ana.
- me deixe Amapo, me deixe. – disse Pádua batendo o cabelo longo que não tinha.
Juntamos o dinheiro de todos e saímos. Pádua piscou o olho pra mim e fez sinal de boquete. Apontei meu pênis pra ele e rimos.
Eu acho que eu estava bêbado mesmo. Quando chegamos ao local onde estava estacionado o carro do Junior, meu estômago embrulhou. Fiquei de cócoras, e comecei vomitar.
- você ta bem? Acha que consegue continuar bebendo? – Perguntou Junior dando leves tapas em minhas costas.
- to bem, Junior. – falei tentando, inutilmente, limpar a boca com a mão.
- certeza? – ele insistiu.
- ahan.
- Ta, então bora.
- beleza. – falei abrindo a porta do carro e adentrando.
- vai me dizendo onde é a distribuidora. Não conheço muita coisa por aqui.
- só seguir reto, é a três quadras daqui.
- teoricamente perto.
- pertinho. – falei.
- ta melhor?
- to.
- mistura de comida com bebida da nisso ai. – ele riu.
- pior que eu nem comi oh. Só provei um pouco do frango.
- e frango não é comida? – disse ele focado no percurso.
- é né!? – sorri. – falo de comida pesada, tipo feijão, macarrão, farofa, essas coisas.
- ahhh, ta. Então explique.
Quando o Junior sorria, seu sorriso reluzia no espelho do carro. Ou era apenas algo da minha cabeça.
Compramos o necessário pra passar a noite, e voltamos para o carro. No retorno, Junior parou o veículo em uma praça próximo de casa. Achei aquilo estranho. Ficamos em silencio por um tempo. Apenas o som do carro fazia barulho.
Lembro bem que tocava uma música da Marilia Mendonça. Algo falando sobre ciúmes, amantes... Coisas do tipo.
- Edu? – disse Junior com a voz baixa.
- Oi Junior?
- eu queria trocar uma ideia contigo. Na verdade faz tempo que quero ter essa conversa.
- eu sei do que se trata, e eu acho melhor não, Junior. – estava virado pra ele, e ele estava virado pra mim.
- Eu não quero te forçar a nada, Edu, mas por favor me ouve. É importante passar algumas coisas a limpo.
- eu já passei... Eu já esqueci. – mentira. Eu não tinha esquecido nada.
- de verdade?
- ahan.
- porque alguma coisa me diz que você não esqueceu? Porra, Eduardo, eu sei que errei. Vacilei muito com você, mas eu estou arrependido. – disse ele.
- eu não acredito em tu, Junior. Mas eu não to te cobrando nada.
- não ta mesmo. Essa cobrança é dentro de mim.
- não esquenta a cabeça com isso Não, Junior.
- mas você me perdoou?
Eu apenas baixei a cabeça e olhei para o chão do carro. Junior ligou o automóvel e não trocamos mais nenhuma palavra até chegar a minha residência.
Junior me ajudou com as sacolas, mas parou na porta do carro.
- o que foi Junior? Não vai entrar?
- eu to com uma dorzinha chata na cabeça, Edu. E quando eu to com essas dores, eu fico chato demais, e não quero atrapalhar sua festa.
- larga de besteira, Junior. Eu peço pra mãe fazer um remédio pra você.
- não precisa se preocupar Edu. Ta de boa. Eu vou tomar um banho, deitar e amanhã eu amanheço melhor.
- nem eu pedindo pra você ficar? Porra, Junior, eu ate entendo que você ta com dor na cabeça, mas é meu aniversário.
- eu posso ate ficar, mas eu tenho umas condições.
- condições?
- ué. Esqueceu que quem inventou essa parada de condição foi você? – Ele esboçou um sorriso.
- ta certo, quais tuas condições? – sorri parado na entrada de casa com um amontoado de sacola na mão.
- eu quero dormir aqui essa noite.
- que?
- é isso ai Edu, eu quero passar essa noite na tua casa, e de preferencia quero ter aquela conversa.
- por que isso é tão importante pra tu? Junior, na moral, tu ta gostando de mim?
- porra. Viajou legal agora hen Eduardo!? Eu gosto de xana, de xana. Ta ligado?
Eu ri alto.
- então pra que ter que conversar? Esquece o que passou cara. Eu nem lembro mais. A gente entra, bebe, provoca, bebe novamente, conversa e se diverti... Simples assim mano.
- quero tudo isso, mas...
- mas?
- ainda insisto na conversa.
- beleza! – ele me venceu.
Junior sorriu.
- vi que lá no teu quintal tem umas partes bem escuras, então da pra gente conversar sem ser interrompidos.
Continua....
Ola pessoal. Andei uns tempos meio sumido. Trabalho, estudos, vida pessoal e um pouco de desestimulo. Nunca desisti dos contos. Já fazia um tempo que eu falava que iria dar uma parada. Peço desculpas àqueles que sempre acompanharam meus contos. To voltando e pretendo postas a cada 3 dias. Farei o possível para honrar.