Boa tarde, segue o último capítulo da quinta fase da história. Boa leitura.
O frio de 1°C que fazia lá fora não deixava meu peito esfriar. Era sempre assim quando eu voltava para casa, saber que eu tinha para onde voltar e que minha família me acolheria me deixava tranquilo, me permitia sorrir, a sensação de ser querido por alguém era maravilhosa. Desde o ocorrido com Luciano decidi não pensar mais nisso e seguir em frente, afinal ele não era o único culpado, mas me machucou ao ponto de eu não o querer mais na minha vida, não seria por causa de homem que eu pararia ela, eu era forte e sobreviveria.
Ao entrar na minha rua minha ansiedade aumentou. Logo vi a casa mais imponente da rua, a casa da nona Motta e logo após outra casa um pouco mais modesta, a casa dos meus pais que agora não era mais verde e sim um tom de preto e vermelho, provavelmente ideia da minha mãe.
Minha mãe estava parada no portão, usava bota e sobretudo preto e um cachecol vermelho, ela estava muito elegante. Quando sai do táxi ela pareceu não acreditar que era eu ali.
- Mãe! – Ela então finalizou a ligação e correu ao meu encontro.
- Meu filho querido, meu guri – ela segurou em meu rosto – tu voltou – o abraço dela era tão quente e tão aconchegante que eu relaxei – que saudades que a mãe estava de ti – ela limpou as lágrimas que escoriam do seu rosto.
- Eu também mãe... – senti seu cheiro, o perfume era tão característico.
- Vem, entra, deixa eu te ajudar – ela pegou uma das malas, paguei o taxista que olhava curioso a cena e entramos em casa – vem, deixa tudo ai, vamos conversar um pouco, me conta tudo, tu tá tão bonito, perdeu peso, mudou o corte de cabelo – ela me analisou.
- É, digamos que adotei um visual mais comportado... – comentei fazendo graça, ela me fitou com sarcasmo.
- Fabrício Scopel, tu não me engana, se eu não fosse tua mãe até acharia que tu é mesmo comportado – ela
- Fabrício, a Carmem me ligou e contou tudo o que aconteceu – minha mãe me olhava consternada.
- Não sinta pena de mim, por favor – baixei a cabeça.
- Nunca - senti que ela não estava ali para me julgar e me dar lição de moral, levanta tua cabeça, senta aqui e me conta tudo, eu quero tua versão da história - estava ali apenas para me ouvir e me dar seu colo. Então ela me abraçou e deitou minha cabeça em seu colo – desabafa comigo meu filho, eu sou tua mãe e tenho certeza que tu não será o primeiro e nem o último homem a ser traído – ela acariciou meus cabelos e então eu relaxei.
- Sabe...dói mãe... – as lágrimas escorreram – a cena foi tão horrível, ele estava transformado, parecia um predador sexual e não o Luciano que eu conhecia – ela acariciou meus cabelos.
- Babaca... – cuspiu ela.
- Ainda por cima ele decide foder com a bicha mais desclassificada que tinha, a pessoa que eu mais odiava naquele escritório... – meu estomago revirou só de lembrar da cena que presenciei.
- Acho que cada um sabe o que faz e como se sente bem, devemos te respeitar, mas segundo o que a Carmem me falou esse rapaz era bem oferecido né? – concordei.
- Mas eu dei o troco, dei uma surra de cinto no Luciano e fiz aquele veado oferecido cair de cara no chão... – minha mãe riu.
- Tu fez isso? – Perguntou surpresa.
- Sim...e faria bem pior, você me ensinou a não levar desaforo para casa... – ela sorriu.
- Sabe meu filho, eu te criei bem, mas não te preparei para uma coisa dessas, me sinto tão culpada – ela suspirou parecendo derrotada.
- Sabe mãe, não se sinta culpada, acho que ninguém é preparado para uma apunhalada dessas – tentei tranquilizar minha mãe. – o Luciano foi infiel, mas na verdade eu também não fui digamos o santo... – ela me olhou surpresa.
- Como assim meu filho, tu traiu ele lá na Itália? – Ele segurou minhas mãos.
- Sim, mas depois que descobri que ele se aliviava com outros e que uma noite antes de me encontrar lá ele tinha ficado com a advogada de uma das empresas que são parceiras da construtora – contei toda a história para minha mãe, pelo menos dos últimos meses que antecederam ao ocorrido, conforme eu contava ela fazia caras e bocas e ameaças sem fundamento.
- Se eu bem conheço a Carmem ela deve ter dado um corretivo nele – ela me encarou.
- Não sei, eu não falei com eles depois que sai do prédio, somente peguei minhas coisas, fui para um hotel onde fiquei o resto do dia e hoje de manhã embarquei para casa – contei da minha trajetória.
- Tu não se despediu dos teus padrinhos? – Foi como se eu tivesse levado um tapa.
- Não, achei melhor não dar assunto e nem trela, eu precisava de um tempo sozinho – ela me olhou e pareceu entender.
Minha mãe ficou conversando comigo por mais alguns minutos e então me pediu licença para atender o celular, ela voltou alguns minutos depois um pouco nervosa.
- Filho, a mãe tem que ir buscar uma carreta na oficina, o motorista esqueceu a credencial dele e não pode retirar o caminhão, tu quer ir junto ou vai ficar esperanto teu pai e teu irmão? – Perguntou ela.
- Achou que vou ir dar um oi para nona – minha mãe arqueou a sobrancelha.
- Vai... – ela ficou enciumada – essa hora ela já deve ter voltado da vinícola, teu pai também logo chega em casa – ela conferiu as horas, era um pouco mais das 14:00 h, como era sexta o expediente terminava antes.
Minha mãe me beijou e foi em direção a saída pegando sua bolsa e seu sobretudo.
- Eu não quero que você comente com isso nem com o pai e nem com o Guilherme, do jeito que eles são vão achar que eu sou uma donzelinha indefesa que precisa dos machos da família para ser protegida – minha mãe gargalhou – é sério mãe, esse problema é só meu, a Carmem mesmo disse que o Valmir não sabe de nada então o pai e o Gui também não vão – ela ficou pensativa.
- Fabrício... – ela tentou argumentar.
- Por favor, eu só não quero que me olhem com pena, eu estou sofrendo, mas é meu direito sofrer sozinho –
- Tudo bem... – ela então saiu porta a fora e eu decidi ir visitar a nona que me recebeu com alegria, um copo de chocolate quente com conhaque e um prato de bolacha pintada.
Fiquei um pouco mais de uma hora com ela, contei sobre minha estadia e entreguei seu presente e com muito custo e com a promessa de que jantaríamos juntos e eu acompanharia ela na novena de sexta eu voltei para casa, minha mãe acabou chegando comigo quando eu estava próximo do portão.
- Você vai ficar aqui com a gente? – Perguntou ela assim que entramos.
- Sim, mas somente por uma semana, eu decidi aceitar a proposta que Marcelo me fez, fico na Itália por mais alguns meses e depois retorno definitivamente, vai ser bom para o meu currículo – ela me olhou entristecida, meu tom de voz saiu frio e decidido.
- Mas Fabrício, não tem por que você fugir...tu ficar longe da gente – lamentou ela.
- Não faz assim mãe – ela me olhou chateada – tu sabe que eu amo vocês, mas eu preciso entender tudo o que aconteceu, eu preciso me entender e ficar longe dos laços do Luciano, você me entende, se eu ficar aqui eu não vou conseguir – ela franziu a testa, eu revirei os olhos.
- Não revire os olhos para mim – fitei ela e gargalhamos juntos – teu pai odeia quando eu faço isso com ele, depois ele acaba me castigando no quarto – comentou ela me deixando constrangido.
- Aí mãe, que saudade que eu estava de vocês... – sorri e deitei com a cabeça em seu colo.
Ficamos assim por mais de meia hora, ela acariciava meus cabelos, eu relaxava com os olhos fechados enquanto ela simplesmente falava do seu trabalho e das últimas novidades, também falou do orfanato e de um garotinho que tinha sido retirado dos pais por maus tratos e de como ela estava encantada por ele. Fui despertado ao ouvir o barulho de porta sendo aberta e meu pai e meu irmão discutindo alegremente.
- Eles chegaram – disse minha mãe com um sorriso, ela acariciou minha cabeça e me fez levantar junto com ela – morre aqui tudo o que você me falou, mas quando você já estiver superado você irá contar a eles, nós somos uma família e todos vamos te apoiar, estamos entendidos? – Isso não era uma sugestão, era uma afirmação e quem era eu para contrariar dona Ana.
- Sim... – concordei, ela me deu um beijo no rosto e seguiu para a sala, eu fui atrás.
Segui minha mãe até a sala e quando cheguei meu pai e meu irmão estavam tirando seus casacos. Meu irmão estava com a barba desenhada e usava jeans, botina e um casaco preto de lã, parecia um lenhador, o meu pai estava exatamente igual, mas já estava sem o casaco que desconfio eu foi a nona que tricotou.
- Rafael, filho, olha quem chegou – minha mãe falou toda sorridente, ao notarem eu parado no vão da sala e que minha mãe não estava sozinha eles me encararam surpresos.
- Filho! – Meu pai então veio até mim, me encarou e uma lágrima escorreu de seu rosto, odiava esse lado sentimental dos homens da minha família – você chegou – ele parecia não acreditar.
- Oi pai – o cumprimentei um pouco sem graça, tinha lágrimas nos meus olhos também, até meu irmão estava emocionado – oi Gui – meu pai então veio até mim e me abraçou, um abraço forte, de um pai para um filho, eu tenho certeza que ouvi um estralo com o abraço de urso que ele me deu. Meu pai me encheu de beijos e quando digo que foram beijos foi pelo rosto todo.
- Tu devia ter avisado que chegava hoje que nós iriamos te buscar guri – disse ele limpando os olhos – eu tinha deixado a vinícola mais cedo, tinha ido te buscar - logo senti alguém me envolver em um abraço bem apertado, era meu irmão.
- Como vai mano, tu fez boa viagem? Que saudade que eu estava de ti, tu não sabe a falta que faz - disse ele me chacoalhando e me dando um tapa nas costas.
- Ai Guilherme! – Exclamei - eu sei que você sentiu minha falta, mas pode me deixar inteiro, eu estou vindo de uma longa viagem e nem me recuperei dela – ele coçou a cabeça sem graça, meu irmão nunca deixaria de ser bruto, nem se ele quisesse.
- Desculpa mano... – Ele ficou meio sem graça, me arrependi de o ter repreendido.
- Está tudo bem, me dá outro abraço – dei um soquinho em seu peito, ele pareceu não sentir e então veio para cima de mim de novo, fazer o que, era meu irmão.
- Venham, vamos todos para sala ai tu conta para gente como é que foi tua temporada no exterior – meu pai chamou todos animados, logo que sentamos ele trouxe 4 taças e uma garrafa de vinho tinto – para e chagada de um filho que estava muito tempo longe eu vou abrir a melhor garrafa de vinho que tenho – disse ele todo sorridente pegando uma garrafa de Brunello safra 1997, não ia deixar ele fazer isso.
- Não pai! – Exclamei me pondo em pé impedindo que ele abrisse a garrafa – não abre esse não, pelo menos não ainda, deixa eu buscar os presentes que trouxe para vocês, esperem aí... – meu irmão levantou.
- Fica aí que eu pego, tu chegou de viagem agora – ele me encarou e então eu tive certeza que ele sabia o que Luciano havia feito comigo, ele estava tentando ser legal.
- Não, eu comprei, eu busco – respondi arrisco e firmemente, meus pais se entreolharam estranhando minha reação.
- Então tá – deixei ele parado no meio da sala sem graça e corri até meu quarto. Voltei com alguns embrulhos e uma caixa um pouco maior.
- Tudo isso é presente? – Perguntou meu pai surpreso.
- Sim, e ainda tem mais para os nossos amigos, mas esses eu só vou entregar quando eles vierem aqui – respondi sorridente.
- Qual é o meu? – Perguntou Guilherme entusiasmado parecendo uma criança.
- Esse e esse – Entreguei a ele uma caixa e outro embrulho menor – ele abriu e sorriu, era uma botina Caterpillar do modelo que ele tanto queria e um caixa de biscoitos de chocolate e de creme de avelã, eu sabia que ele ia adorar eles, comprei na Suíça e seu sorriso e abraço foram o melhor agradecimento que eu podia receber. Olhei para os meus pais, eles aguardavam ansiosamente o deles. Peguei uma caixa maior e outro embrulho um pouco menor.
- Pai, esses dois são seus – ele desembrulhou e quando viu o que era na caixa maior arregalou os olhos e olhou para mim em um misto de surpresa e espanto.
- Meu filho... – ele olhou para minha mãe – Ana, o Fabrício me trouxe um Barolo safra 1994, como você conseguiu filho? Uma garrafa dessas no mercado é quase impossível de se comprar – argumentou ele, eu sabia que uma garrafa dessas era muito cara no mercado internacional, no outro embrulho havia um perfume masculino que eu sei que ele gostava.
- Digamos que o dono da vinícola me presenteou com uma garrafa dessas quando eu evitei que a adega dele fosse derrubada acidentalmente por um D11 de uma das subcontratadas que estava fazendo o aterro de teste – ele me encarou perplexo.
- Como assim meu filho? – Perguntou perplexo.
- Um dos viadutos que estávamos construindo atravessava uma propriedade onde o dono é produtor de vinhos, na verdade um grande produtor, em uma quinta feira estava nevando muito, eu dei a ordem para as máquinas pararem e o operador foi encostar, mas como estava um pouco escorregadio ele quase levou a parede da adega, justamente onde ficavam os vinhos encorpados e envelhecidos, o dono ao ter ciência de que fui eu que evitou o acidente fazendo sinal para o operador forçar a lâmina do trator no solo para pará-lo me chamou na adega e muito agradecido me contou que ela era da época do avô dele.
- E então? – Meu pai me interrompeu perguntando o que aconteceu.
- Então me presenteou com duas garrafas de sua melhor safra quando contei que você e o mano eram agrônomos e cuidavam das parreiras de uma vinícola aqui na região – ele me ouvia encantado, parecia ser música para os ouvidos.
- Que homem de coração bom, me lembre de enviar uma garrafa do nosso melhor vinho branco a ele, certamente um homem desses tem que ser muito respeitado e fora que um vinho sempre é um bom presente – respondeu meu pai com gratidão.
- Com certeza – assenti, olhei para minha mãe e ela estava impaciente.
- Desconfio que as vezes tu prefere uma boa garrafa de vinho do que a mim Rafael – disse minha mãe indignada de braços cruzados.
- Claro que não amor – retrucou meu pai sem graça – tu sabe que eu sempre mexi com uvas e que... – ele se embolou todo para falar – mas digamos que eu posso te chupar feito uma uva... – ele olhou com malícia para minha mãe que ficou ruborizada.
- Eu sei bobo, só estou te deixando sem graça na frente do nosso filho, mas vejo que o tiro saiu pela culatra – respondeu ela acariciando o rosto do meu pai, ainda havia muito amor entre eles, por alguns segundos me deixei abalar, mas logo tratei de sorrir.
- Mãe, esse é o da senhora – minha mãe abriu e quase caiu quando viu a bolsa de grife que ela tanto queria, fora o perfume que ela usava, ela pulou em mim.
- Fabrício...tu deve ter ficado sem dinheiro meu filho – meu pai lamentou preocupado. Confesso que gastei um monte, mas minha família merecia isso, fora que eu ganhava em euro, então era uma vez aqui e outra na morte. Ver o sorriso deles foi a melhor coisa que me aconteceu desde que eu cheguei – depois tu me fala quanto foi que eu... – interrompi ele.
- Não se preocupe com isso pai, eu ganho em euro... – Sorri sem graça, mas com satisfação de dever cumprido.
- Vocês fiquem aí... - Minha mãe foi até a cozinha, ela pegou a térmica de café e trouxe quatro xícaras, havia chocolate quente recém preparado e para o frio que fazia lá fora foi a melhor ideia do dia.
- Tu colocou Nutella no meu? – Perguntou meu irmão fitando minha mãe.
- Claro filho... – ela sorriu, meu irmão só tinha tamanho mesmo.
- Mas agora deixando os presentes de lado, conta para gente como foi tua estadia em Turim, fiquei sabendo que fez muito frio lá no último inverno – ele coçou sua barba.
- Foi boa...- Então durante a parte da manhã e uma boa parte da tarde matei as saudades e contei a eles tudo o que passei, quem conheci e como estava me readaptando ao nosso fuso horário que insistia em me castigar, confesso que era bom estar em casa, estar com os meus.
- Como ninguém almoçou eu marquei uma reserva na Cantina lá perto da matriz, vão se arrumar que nós vamos jantar fora – disse meu pai surpreendendo minha mãe.
- Tu fez isso mesmo! – Minha mãe parecia animada e surpresa.
- Sim, agora vamos nos arrumar – ele puxou minha mãe pela mão e deu um tapa na bunda dela, deixando-a constrangida.
- Para Rafael, olha os guris aí, eles vão achar que a mãe deles é uma vadia que não se dá ao respeito – esbravejou ela.
- Pode ser, mas só minha vadia... – Respondeu ele para ela, tive que intervir.
- Sério, guardem isso para vocês... – estava constrangido, não só eu como meu irmão que estava vermelho – pais não transam, não na frente dos filhos – dei as costas a eles que gargalharam – vem Gui, vamos lá no quarto – meu irmão então levantou, ele teclava animadamente no celular, mas não era com a Bartira.
Meu irmão me acompanhou até o quarto, ele então tirou sua camisa e calça ficando apenas de cueca boxer preta. Não pude deixar de perceber, seu corpo estava maior, ou melhor, estava um pouco mais sarado desde que ele passou e fazer crossfit, acredito que mais por vaidade do que por necessidade, ele estava prendendo que sua imagem também o ajudava.
- Gostou? – Perguntou com malícia.
- Nossa! Adorei! – respondi com sarcasmo, ele então pulou em cima de mim me fazendo cócegas e mais cócegas, eu lutava ente seus braços enquanto gargalhava.
- É mesmo... – ele ria também.
- Para Guilherme... – eu protestava.
- Não, só se tu dizer que eu sou o mano mais bonito e gostoso que tu tem... – disse ele autoritário e brincalhão.
- O inteligente, tu é meu único irmão... – tentei falar sem rir, ele fechou a cara e me agarrou.
- Diz... – ele me imobilizou enquanto fazia cócegas.
- Tu é o irmão mais babaca e sem noção que eu tenho... – ele então me olhou com cara de mal.
- Tu tem que merecer um corretivo gurizinho... – ele então gargalhou também quando soltei uma das minhas mãos e segurei em seu volume.
- Me solta senão alguém vai ficar sem usar seu brinquedo por um tempo – fui firme, mas era brincadeira.
Guilherme me soltou, me deu um empurrão leve e então deitou do meu lado na cama.
- Eu sei o que aconteceu – ele me encarou, era engraçado como eramos parecidos e tão diferentes ao mesmo tempo.
- O que?! – Perguntei surpreso.
- Tu devia ter me ligado – disse Guilherme severamente – eu não ia te deixar passar por essa situação sozinho, o Luciano não podia ter aprontado contigo, ainda mais depois que eu falei com ele que tu tava chegando, que babaca... – ali eu peguei algo que até então não tinha entendido, ela sabia que eu ia chegar no dia- Para que Gui...eu tenho que resolver meus problemas e não ir chorar para a minha família como uma dondoquinha indefesa– respondi sem o encarar.
- Tu sabe que eu ia lá e... – Interrompi ele.
- Não ia fazer nada por que eu não ia deixar – ele deu um soco na parede – olha aí, ainda vai se machucar – olhei sua mão, por sorte não machucou – acariciei sua mão, ele tremeu, por segurança a soltei.
- O Luciano não podia ter vacilado assim, que tipo de cara ele é? – Meu irmão estava chateado.
- Do tipo que me traiu – respondi encarando o vazio, meu irmão me olhou com raiva nos olhos.
- Isso não vai ficar assim... – Antes de ele chegar a porta eu chamei sua atenção.
- Gui, olha para mim – meu irmão virou para me encarar - ele é teu amigo, não foi em você que ele meteu um chifre e se eu bem conheço ele, vocês vão ser muito importantes nessa próxima etapa da vida dele, não faça isso, o problema é comigo não contigo, não tome minhas dores e nem lute uma batalha que não é sua, eu não quero isso, vocês são amigos, muito antes de eu ele termos alguma coisa, não banque o meu macho, eu não preciso disso – ele sorriu sem graça.
- Sabe, eu estava com medo de você me pedir para parar de falar com ele... – fiquei puto com esse comentário.
- Para né Guilherme...- olhei para ele com raiva - até parece que eu ia pedir isso para você, eu nunca faria isso – ele então veio e me abraçou de lado, carência é foda – vocês sempre foram amigos e vão continuar sendo, ele me magoou bastante, mas magoou eu e não você, quem dava para ele era eu e não você, eu sei que dói agora, mas um dia passa, eu já cai e levantei tantas vezes... – ele então me disse algo que eu nunca imaginei ouvir dele.
- Eu sinto tanto orgulho de você mano, eu sempre digo isso para os guris, eu nunca vou ser sensato e esclarecido que nem você, mas eu fico feliz de você ser assim, não desejaria que fosse diferente – que porra, ele resolveu virar sentimental nessa hora.
- Guilherme, assim você vai me fazer chorar... – ele então bagunçou meu cabelo.
- Não chora, eu sou teu irmão mais velho, só estou dizendo a verdade – respondeu ele todo sem graça – e além do mais eu não sou grande coisa... – suspirou.
- Como não! – Exclamei, segurei em seus ombros e o fiz me encarar – você é trabalhador, é formado, tem um bom emprego, morou na Argentina, conhece melhor o solo do que eu que sou técnico em edificação, ou melhor, conhece o solo melhor que muitos engenheiros por aí e ainda por cima é bonitão, um puta gostoso... – Ele ficou vermelho e coçou a cabeça - você talvez não saiba Gui, mas eu tenho muito orgulho de ser seu irmão, tudo de ruim que aconteceu lá atrás já foi esquecido, não tem por que isso – ele arregalou os olhos com essa revelação – é verdade, você é uma boa pessoa, a Bartira deu sorte e... – Quando falei nela sua feição mudou, não entendi – algum problema Gui? – Perguntei.
- Não foi nada... – ele desconversou, achei melhor não insistir, não queria agregar problemas.
- Bom, já tenho os meus problemas para resolver, mas quando você estiver pronto quero que me conte o que te preocupa – ele franziu a testa e então concordou.
- Deixa quieto, logo passa... – ele sorriu – vem, vamos nos arrumar senão daqui a pouco o pai vem dar cria – ele e eu rimos e então cada um foi se arrumarDeixei o Brasil numa terça feira. Meu pai foi o que mais compreendeu, mas me prometeu que eu passaria o natal com eles, com certeza eu faria isso, foi difícil me despedir deles, mas fiz isso muito tranquilo, eu não tinha mais preocupação e confesso que estava com saudades do pessoal lá na Itália. Dessa vez meu voo foi direto para Milão de onde peguei um trem até Turim. Fui recebido como se fosse um filho, era hora de esquecer algumas coisas e aprender outras, eu ia aproveitar minha solteirice.