Durante o percurso a pé até a escola, fomos conversando.
— E aí mano, tás bem? - Perguntei para ele, caminhávamos lado a lado.
— Tô indo man! - Respondeu
Ele já havia me contado sobre as brigas com a sua mãe e com seu pai, mas ainda assim, pouco me falava sobre a vida dele.
— Essa semana tu tava todo estressado na sala! O que aconteceu? - Perguntei para ele
— Foi por conta do meu irmão. Ele vê mainha e painho discutindo e ainda vem falar merda. Eu tive que dar um murro na parede para não dar na cara dele.
— É foda! Mas procura se estressar com isso não véi. Tu tem teus amigos para o que precisar.
— Valeu! Mano! Eu posso te contar um bagulho?
— Fala! - Respondi
— Eu acho que a Joana gosta de tu!
— Tu acha - Não pude deixar de gargalhar
— Porque tu tá rindo viadão?
— É que eu já fiquei com ela! - Falei sorrindo
Ele me olhou com uma expressão surpresa.
— Você já ficou com ela? - Perguntou ele para mim
— Sim. Numa festa na casa da Suelen.
— E o boy dela?
— Ela havia me dito que tinha terminado com ele. Mas de qualquer jeito eu me arrependo de ter ficado com ela. - Fui sincero
— Hmm!
Chegamos na escola e fui em direção a secretaria, ele disse que ia beber água. Pedi as cartolinas ao diretor e ele me deu. Quando sai da sala dele o Ivson já estava me esperando.
— Bora! - Falei para ele que me seguiu
— Me arruma 1 real aí? - Pediu ele
— Sou teu macho? Toma segura! - Falei dando as cartolinas para ele
— Vai meu irmão. É pra eu comprar meu alargador. Só tá faltando 1 real.
Na época ele tinha acabado de furar as orelhas para colocar um alargador n° 1 pequenininho.
Enquanto íamos de volta para casa, vimos a Joana vindo em nossa direção.
— Porra vocês andam rápido de mais. Pegaram a cartolina? - Falou ela
— Peguei! - Respondi
— Ô lá! - Falou Ivson dando a cartolina para ela.
— Tu tem dinheiro aí? - Me perguntou a Joana.
Por quê caralhos estava todo mundo me pedindo dinheiro? Virei Silvio Santos agora?
— Pra quê? - Perguntei
— Pra juntar pra comprar tinta. A que tinha lá acabou!
— Tenho. A gente compra perto daquela lojinha perto da minha casa. Lá é mais barato. - Falei
— Beleza - Concordou a Joana
— E os 1 real que eu te pedi man! - Perguntou Ivson
Suspirei.
— Ai, ai! - Cacei algumas moedas no meu bolso e dei a ele — Toma!
— Valeu bebê. - Disse abrindo um sorrisão — Deixa eu ir comprar ali rapidinho.
— Demora não! - Respondi
Eu e a Joana ficamos esperando ele voltar. Ele não demorou muito. Estávamos em frente ao centro comunitário.
— Vamos entrar aqui no centro pra beber água. - Disse a Joana para nós quando ele se aproximou.
— Bora! - Falei
Caminhamos para dentro do local e fomos em direção aos bebedouros. Ivson tentava colocar o brinco recém comprado na orelha direita, sem sucesso.
— Coloca aqui mano! - Pediu ele para mim.
Peguei o brinco com ele e forcei contra seu lóbulo, mas não estava entrando tudo.
— Ai! - Gritou ele de dor quando consegui, enfim, colocar! Ele era mais alto do que eu que tinha 1 e 74 de altura, ele tinha 1 e 80.
— Tem que colocar esse "baguizinho" agora pra não cair. - Disse se referindo a tarracha.
Tentei puglar ao brinco mais não estava fixando.
— Tem que girar porra. - Disse ele
— Eu sei caralho. Mas não tá querendo ficar não. - Respondi
— Porra! "Pera" aí! - Disse ele tirando minhas mãos de sua orelha e tentando colocar sozinho. A Joana havia acabado de beber água e estava nos olhando.
— Vê se tu consegue colocar aí Joana. - Disse pra ela apontando. Ele recusou a ajuda dela.
— Não precisa não! - Respondeu Ivson— Bora embora!
Fomos para casa. Na metade do caminho o Ivson decide que não vai mais para lá.
— Eu boy. Eu vou pra casa! - Disse ele pra mim.
— Porra caralho. Mas a gente nem terminou o trabalho!
Fiquei chateado. Mas o real motivo era porque eu queria que ele ficasse mais um pouco em casa.
— Tô ligado. Mas tenho que fazer uns "corre" com meu tio de 1 hora.
Não respondi nada. Fechei a cara, ele apenas me olhou e rio. "Corre" era o mesmo que trabalho informal.
Continuamos andando e chegamos na entrada da rua dele.
— Falou boy! - Disse estendendo a mão para me comprimentar com um soquinho.
Ainda estava emburrado. Apenas olhei pra mão dele.
— Vai mesmo é? - Perguntei
— Vou! - De novo ele sorriu — Vai ficar com essa cara é? Chora não!
Parei para pensar e vi que estava sendo infantil. Aquilo no final era besteira. Comprimento ele.
— Tchau mano. Cuidado aí! - Respondi com ar mais leve
— Tchau. Depois eu dou um chega lá na tua casa pra saber do trabalho - Falou ele
— Beleza! - Respondi
Eu e a Joana seguimos o caminho, compramos as tintas e fomos para casa. As meninas saíram um pouco depois do meio dia. A maquete não estava terminada. Elas pediram que eu terminasse.
A Joana disse que mais tarde viria com Ivson para me ajudar a terminar a maquete.
A Suelen de última hora pediu para que incluíssemos ela de novo no grupo. Perguntou o que poderia fazer e nós dissemos que ela poderia cuidar das lembrançinhas para dar aos professores.
De tarde ela passou em minha casa para pegar massa de biscuit.
Eram umas 4 horas e recebo uma mensagem no WhatsApp. Era o Ivson, tinha me mandado aquelas brincadeiras bobas.
-
[Ivson] - ... Fim do ano está chegando. Diga algo que sempre quis me dizer.
Entrei no onda e mandei aquela brincadeira com um fundo de verdade.
[Eu] - Se tu não fosse meu amigo, eu te pegava kkkk
Ele visualizou e não respondeu.
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Ele já sabia da minha bissexualidade. Meus stories do WhatsApp entregavam, pois sempre postava prints do LDRV, um grupo lgbt no Facebook.
Também houve um dia que estava conversando com o Daniel (Havia dito a ele da minha queda pelo Ivson) no refeitório e ele se sentou ao nosso lado.
Eu me lamentava sobre o quão difícil era para um cara chegar em um outro cara. Ainda lembro da reação do Ivson, ele começou a "tirar onda" comigo.
— Oxê. É nenhuma, esse bicho é viado! - Disse ele rindo
— Vai se foder porra! Sou bi e daí? - Falei irritado.
Ele apenas sorriu para mim e saiu. Achei que ele fosse se afastar, mas não. Quando voltei para sala tudo continuou do mesmo jeito.
A noite chegou. Já eram umas 7 horas e ninguém havia chegado.
"Eu não vou fazer essa porra sozinho." Pensei comigo mesmo
Resolvi ligar para os dois. Primeiro disquei para Joana. Ela disse que estava na casa da tia dela e que talvez não iria mais.
Já estava ficando puto. Nem sequer avisaram. Pra piorar começou a chover. Liguei para Ivson.
— Cadê tu corno? Tô esperando faz tempo!
— Eita, tinha esquecido. Eu tô aqui no na praça do centro, mas calma aí que eu vou descer.
Respirei fundo. Odeio esperar. Já eram quase 8 horas quando ele chegou. Eu estava no terraço de casa arrumando o local para nós fazermos o trabalho.
Em minha casa sempre estávamos acompanhado com algumas das meninas, mas agora eram só nós dois, sozinhos.
Abri a porta para ele entrar. Ele sentou-se no chão e perguntou o que era pra fazer. Começamos a debater o que faríamos na maquete. Ele não estava dando muita bola ao assunto, quem mais falava era eu.
— Vou colocar uma música aqui mano! - Disse ele abrindo o YouTube em seu celular e colocou uns bregas românticos antigos.
— Porra! Essa é massa! Aumenta aí! - Falei para ele
Depois disso não focamos mais no trabalho. Começamos a conversar besteira e eu pude descobrir mais coisas sobre. Eu estava me sentindo tão bem. Aquela altura eu não podia negar, estava loucamente apaixonado por ele.
De repente me calei e fiquei apenas admirando ele. Ele percebeu e sorriu e ficamos nos dois apenas curtindo aquela vibe e jogando conversa fora.
Terminamos a noite sem produzir nada. Ele passou aproximadamente 1 hora na minha casa e depois foi embora. Mais tarde recebo outra mensagem dele, era um áudio. E só pude ficar feliz com o que ouvi.
