E assim o tempo foi passando , e o amor de José e Amaro florescia naquele sítio distante , oculto aos olhares de todos.
Às vezes era difícil esconder , mas eles conseguiam.
Seus outros irmãos , o Antônio e o Marcelino principalmente , gostavam de fazer sexo com as cabritas no campo.
E perguntavam porque eles não faziam também.
- Cês num são homi por acaso ? - gracejavam. - Virjão desse tamanho ...
- A gente é mais homi que ocês , moleque. - respondia José com ar sério. - Mas a gente quer virar homi com muié , não com esses bicho...
José e Amaro nunca falavam desse assunto , mas isso os incomodava. Sabiam que , mais cedo ou mais tarde , teriam de se iniciar sexualmente com uma mulher , ou todos descobririam sua relação. Mas , como ae amavam , tinham medo de magoar um ao outro.
Já estavam com 17 e 15 anos , e a mãe disse que eles já estavam muito crescidos pra dormir na mesma cama.Eles dormiam juntos desde que nasceram , e como seria adormecer sem sentir o calor , a respiração , o cheiro um do outro ? Como se beijariam e se amariam nas madrugadas silenciosas ? Mas , para não despertar suspeitas , um dia foram à cidade e compraram um beliche , com algum dinheiro que haviam ganhado cantando na feira.
O resultado foi que não conseguiram pregar olho na primeira noite. A cama era fria e solitária , quase insuportável. Às duas da manhã Amaro foi se aninhar nos braços do irmão.
- Está tão frio lá em cima . - murmurou.
- Aqui também , mano. - respondeu José com aquele seu sorriso meio triste.
E adormeceram.
Com o tempo , porém , foram se acostumando a dormir no beliche.
Certo domingo , depois da feira , quando tinham ganhado um bom dinheirinho cantando Luar Do Sertão , José contou as moedas.
Era o valor exato para pagar uma mulher no puteiro.
- A Sara descabaça nós dois por isso aqui , pensou. E disse a Amaro , mano , acho que chegou a hora.
- Hora de que , mano ?
- Da gente virá homi ... Da gente ir no puteiro. Dinheiro tem ...
Amaro arregalou os olhos verdes. E seguiu José sem dizer nada.
O puteiro da cidadezinha ficava numa rua afastada. Era uma casa simples de barro com uma luz vermelha na porta , e cortinas coloridas nas janelas. Sempre havia mulheres na porta e nas janelas.
José perguntou por Sara. Era uma loura alta que ele conhecia de vista , e já se oferecera pra fazer o serviço pra ele. Disseram que ela estava com um cliente , mas logo estaria livre.
Os dois garotos aguardaram sentados numa salinha cheia de imagens de santos , sentados num sofá de cetim vermelho. Instintivamente se deram as mãos. Era uma forma de se conectarem , desde pequenos. José sentiu a mão de Amaro gelada de nervosismo.
-É só o corpo , mano ... - falou ... - Aqui nosso coração não está. Fica assim não.
Os dois se olharam longamente.
- Eu sei , mano. - respondeu Amaro. - Sei que nossas almas são um do outro e de ninguém mais , haja o que houver ...
Sara entrou na sala. Era uma loura de uns 30 anos de idade , alta , enormes seios e quadris largos , excesso de maquiagem , perfume forte. Usava um mini vestido estampado grudado ao corpo , e tamancos dourados de salto alto. Nas orelhas tinha grandes argolas douradas.
- Oi , meninos ! Podem vir ...
