Um homem para chamar de meu

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 21095 palavras
Data: 17/01/2019 10:08:48

Um homem para chamar de meu

O galpão onde ficavam os tratores e a oficina estava imerso no silêncio de um domingo fora do período de colheita da safra, quando o José Carlos e eu entramos por uma entrada lateral que dava diretamente na oficina. Meu coração batia acelerado no peito, desde que aquela conversa esquisita começara há pouco mais de uma hora e meia, à beira do lago aonde pacús e matrinchãs vinham à superfície agitando a água com suas caudas e formavam círculos concêntricos que iam se espalhando sobre a superfície. Fora ele a levar a conversa para o rumo que tomou, eu só a deixei evoluir por que gostava da conversa dele e daquele peito largo, pelo qual descia um caminho estreito de pelos que ia terminar sobre seu abdômen sarado. O olhar dele era o mesmo que há tempos me fazia tremer. Não era um olhar maldoso, pelo contrário, parecia estar cheio de um sentimento amistoso, porém, não se podia dizer que era de todo bondoso ou que fosse isento de perigos. Eu era ingênuo demais para compreendê-lo naquela época. Ele se certificou de não haver ninguém no galpão e me dirigiu um sorriso que eu interpretei como inocente, mas ele podia ser tudo, menos isso.

- Tire a camiseta! Está quente aqui dentro. – disse ele, me encarando enquanto eu me despia. – Seus mamilos são tão bonitos! – exclamou, assim que os contemplou expostos e envergonhados, porém sensualmente hirtos.

Temendo pela minha reação se fosse direto ao ponto, ele fez uma observação quanto ao tamanho dos meus biquinhos e, levou a mão vagarosamente até um deles, até tocá-lo com as pontas dos dedos. Um frêmito percorreu minha espinha e, quando quis engolir a saliva, parecia que minha boca estava seca. O olhar dele focou no meu, enquanto os dedos não saíam do lugar. Como eu não sabia o que dizer e, nem tinha a intenção de repreendê-lo pelo prazer que aquilo estava me proporcionando, ele entendeu meu silêncio como uma forma de aquiescência.

- Eu tinha vontade de vê-lo completamente nu! – exclamou ele.

- Por quê? – inquiri, tentando interpretar aquele brilho em seus olhos.

-Por que você é lindo! Eu queria ficar observando cada detalhe do seu corpo. – sua voz havia mudado repentinamente. Ela tinha se tornado mais grave, mais rouca e mais quente, assustadoramente, quente.

- Você devia pedir isso para uma garota, e não para mim. – retruquei.

- Eu já vi algumas. Mas, no momento, queria ver você. Mostra para mim! – instigou.

- Imagina! Pode aparecer alguém. – é estranho como duas vozes dentro da gente podem ordenar ações antagônicas. Uma me dizia da imprudência de tal ato, outra me dizia da ousadia de fazer o que eu próprio queria.

- Não vem ninguém aqui! É domingo, esqueceu? Estamos só nós dois. – garantiu, e emendando. – Tira a bermuda e a cueca também.

Ele estava tão próximo de mim que dava para sentir o calor de seu corpo. Aqueles dedos parados sobre meu mamilo começaram a descer pelo meu tronco, lenta e decididamente. Meu silêncio permanecia. E silêncio já era sinônimo de permissão. Os mesmos dedos abriram habilmente o botão, desceram o zíper e penetraram o cós da cueca. Agora não faltava apenas saliva na minha boca, também falta ar nas narinas. O jeito era inspirar com mais força e mais rapidamente, o que resultou numa respiração tão acelerada quanto os batimentos do meu coração. Tudo não levou mais do que alguns segundos e, tanto a bermuda quanto a cueca estavam caídas emboladas ao redor dos meus pés. Eu estava pelado e ele não tirava os olhos de cima de mim.

- Estou sem graça! – balbuciei.

- Não devia! Você é uma graça! – grunhiu o José Carlos.

- Então não fique me olhando desse jeito! – exclamei, não sabendo se com minhas mãos cobria a frente ou a traseira.

- Posso tirar a bermuda se você se sente envergonhado! Quer? – essa última palavra veio carregada de um tom capcioso. Mas, eu assenti. Fazia tempo que eu tinha curiosidade de ver aquele volume entre suas coxas, sempre vistosamente presente debaixo de suas roupas.

Na mesma ligeireza que tinha tirado as minhas, sua bermuda e cueca foram lançadas sobre uma pilha de encerados para caminhão, dobrados e, que estava num canto logo atrás da imensa colheitadeira de soja. Tal como um imã atraído pelo ferro, meu olhar pousou sobre a rola à meia bomba que pendia entre suas coxas peludas. Não era uma pica com prepúcio e aspecto infantil como a minha. Era uma verga cabeçuda, reta e pesada, despudoradamente máscula.

- Gostou?

- Gostei! – algo me dizia que essa resposta traria consequências, mas eu estava percorrendo um caminho que me atraía.

- Eu também adorei sua bundinha! Tão carnuda, tão redondinha, tão deliciosamente lisinha! – murmurou ele, levando ambas as mãos para cima dela e, movendo-as em círculos sobre cada uma das nádegas. – Quero te beijar! – balbuciou e, sem esperar pela resposta, colou sua boca na minha.

Minhas pernas tremiam feito varas verdes agitadas pelo vento. Contudo, o sabor de sua boca intenso e gostoso, muito gostoso. O beijo me distraiu e me fez esquecer, por alguns instantes, aquelas mãos vorazes deslizando sobre minha pele e, apenas me devolveram o raciocínio quando um dedo entrou no meu cuzinho e começou a me vasculhar por dentro. Seria difícil dizer o que era mais delicioso, se o beijo molhado e quente, ou se o dedo devasso e irrequieto. Felizmente não precisei optar por um deles, dava para ter os dois, conquanto eu me mantivesse parado ali, apoiando minhas mãos sobre aqueles bíceps musculosos. Ele comandava cada ação, eu parecia uma marionete que executava os movimentos à medida que manipulavam suas cordas. Não por que eu fosse algum tipo de retardado, mas porque não saberia o que fazer, nem como reagir, tudo era novidade para mim. Ouvir as sacanagens que a molecada contava no colégio era uma coisa. Estar nas mãos de um cara alguns anos mais velho e, praticamente homem feito, era outra coisa. Embora eu soubesse o que ele queria, não fazia a menor ideia de como a coisa ia rolar. Por isso, não receei quando o José Carlos pincelou sua pica úmida no meu rego, apenas usufrui daquela sensação maravilhosa de ouvir sua respiração acelerada junto a minha nuca e, aquele tesão que havia se apossado de seu corpo. Desprevenido, só caí em mim quando aquela cabeçorra arroxeada que eu tinha contemplado há pouco, rasgou minha carne, após tê-la distendido além do limite e, se alojou dentro de mim, fazendo-me ganir de dor. O peso do corpo dele estava sobre o meu, me comprimia contra os encerados ásperos e cheirando a diesel, enquanto os impulsos que ele dava com a pelve iam enfiando seu cacete cada vez mais profundamente dentro de mim.

- Ai José Carlos, está doendo! – eu só percebi que estava gritando por que minha voz ecoou pelo galpão.

- Abre o cuzinho, abre! Já, já vai parar de doer. Deixa o cuzinho bem aberto para caber todo meu cacete. – rosnou ele, tomado de uma gana sem limites.

Seria bom se eu soubesse como fazer isso. Abrir o cu como, se ele por vontade própria se contraía a ponto de não deixar passar um alfinete? E, nele não estava um alfinete, mas aquele cacetão grosso e duro que eu tinha achado tão encantador. Ele se esfregava todo em mim, seu peito estava colado nas minhas costas e o suor dele parecia ter colado nossos corpos um no outro. Enquanto eu gemia, ele ficava grunhindo dizendo que meu cu era gostoso demais, que eu era um tesão, que eu era sua cadelinha, que eu tinha o rabo mais gostoso que ele já tinha fodido e, que ele ia gozar no meu cu. Quando ele falou em gozar eu me dei conta de que aquele frisson no meu pau sendo esfregado na lona só tinha passado depois de eu ejacular, portanto, tecnicamente, eu já havia gozado. Porém, o que era aquela sensação que ainda agitava todas as minhas entranhas e fazia meu cuzinho ter espasmos, junto com a impressão de que ainda faltava alguma coisa? Eu vim a descobrir a resposta quando as estocadas dele socavam minha próstata e meu cuzinho era inundado por sua porra tépida sendo despejada em jatos naquele vazio que se tornava cada vez menor à medida que ele ejaculava. Aquilo sim era gozar, aquilo sim era uma felicidade que eu nunca havia experimentado, aquilo sim tinha feito tudo valer à pena, mesmo o ardor que me queimava o cu. Ele continuava engatado em mim, arfando e me apertando em seus braços, quando a porta principal do galpão rangeu e começou a deslizar nos trilhos. Nem ele nem eu fomos rápidos o suficiente para escaparmos do flagrante do meu primo Peter.

- Que porra é essa que está acontecendo aqui? – berrou, assim que o José Carlos saiu de cima e de dentro de mim, com a pica ainda pingando porra e, eu tentava me colocar de pé com um filete de sangue escorrendo pelo lado interno da minha coxa esquerda.

- Eu, eu, eu... – eu não sabia o que dizer. Tudo que eu dissesse não faria sentido. Ele sabia exatamente o que tinha acontecido ali.

- Você está dando o cu para o empregado, seu viado? O cara acaba de arregaçar seu rabo e você me olha com essa cara de besta, viado sem noção! – berrava ele.

- A gente pode explicar! – eu nem sei por que falei isso, eu não podia explicar nada. Tentava ganhar tempo, pois por uma fração de segundos pensei em correr embora dali. Depois, vi que isso seria inútil, eu tinha que enfrentar a situação e suas consequências.

- Vai explicar o quê, bichinha sem-vergonha? Putinha arrombada! Você vai é levar uma surra para aprender a virar homem! – exclamou, enquanto se apossava de uma correia de borracha que estava sobre uma bancada.

Quando a primeira chibatada estalou sobre as minhas nádegas deixando um vergão vermelho e uma dor ainda maior do que aquela que estava no meu cu se fez sentir, eu gritei protestando e me esquivando dele. Porém, ele me segurou pelo braço e desferiu mais uma saraivada de golpes de correia na bunda, nas pernas e nas costas. Eu inicialmente gritei de dor, depois de um ódio mortal contra meu primo, xingando-o de tudo que podia e, por final, da impotência de me livrar de sua mão vigorosa (apenas mencionando um detalhe, meu primo era apenas um ano mais velho do que meu irmão), cujo direito de me aplicar um castigo eu questionei. Algumas chibatadas fizeram a correia entrar no meu rego atingindo diretamente meu cuzinho arregaçado, o que quase me fez desmaiar. Quando o Peter se cansou de me surrar, olhei em volta e não vi mais o José Carlos. Eu estava pagando, sozinho, a conta da nossa aventura. Meu primo mal esperou que eu me vestisse, com uma mão segurando meu braço e a outra pressionando minha nuca ele me conduziu para dentro de casa. O alarido de nossa discussão trouxe meu tio até a varanda.

- Peguei esse viado sem-vergonha dando o rabo para o Zé Carlos no galpão! – exclamou, antes que conseguisse subir os poucos degraus até a varanda.

- Como é? O que você quer dizer com isso? – questionou meu tio, incrédulo.

- Isso mesmo que você ouviu! Ele estava com o cu todo empinado na pica do Zé Carlos. Dá para acreditar? – repetiu o Peter.

- Você não tem vergonha nessa cara? Tu é viado? – meu tio me agarrou antes que eu perdesse o equilíbrio pelo empurrão que o Peter me deu e, desceu sua mão pesada na minha cara.

- Vocês não têm o direito de botar a mão em mim, seus filhos da puta! – berrei revoltado.

- Ah, não! Isso é o que você pensa! Se seu pai estivesse aqui faria a mesma coisa. Como não está, sou eu que vou te ensinar a se comportar como um homem. – respondeu meu tio, assentando mais duas bordoadas na minha cara.

Próximo à porta de entrada da casa havia dois remos de madeira presos à parede que serviam de decoração, no instante que os vislumbrei, ainda grogue pelas últimas bofetadas, cambaleei até eles e, arrancando um da fixação que o prendia, arremeti contra meu tio com uma fúria animalesca. Ele tentou se esquivar, mas a pá do remo acertou-o em cheio no meio das costas, fazendo com que perdesse a respiração. O Peter tentou ajudar o pai, mas eu o acertei antes que pudesse socorrê-lo. A paulada acertou seu ombro e ele gritou de dor.

- Eu acabo com vocês se tentarem colocar a mão em mim mais uma vez! – ameacei. Nenhum deles se atreveu a me desafiar.

Tranquei-me no quarto, exausto e apavorado com tudo o que tinha acontecido. Minha vidinha pacata tinha dado uma guinada e tanto nas últimas duas horas. Eu precisava por os pensamentos em ordem, o que estava sendo bastante difícil com todas aquelas dores espalhadas pelo meu corpo. Despi-me e entrei no chuveiro. Antes disso, ao passar diante do espelho, vi aqueles vergões cobrindo minha pele se transformando em calombos que mal podiam ser tocados sem que eu sentisse vontade de gritar de dor. Meu olhar ainda injetado de sangue só via os rostos do meu tio e do Peter diante de mim e, eu os queria ver sem vida dentro de um caixão, tanta era a raiva que estava sentindo. Até a água que caía do chuveiro me fazia retesar os músculos. Lavei meu cu ensanguentado e não conseguia parar de pensar no José Carlos, naquele caralhão entrando e saindo do meu cuzinho como um pistão penetrando no cilindro de um motor. Todo aquele chaveco que ele me aplicou na beira do lago para conseguir me enrabar, toda aquela lábia que usou para me convencer a ceder ao seu desejo e, toda a covardia que mostrou quando fomos flagrados pelo meu primo. E, eu que achava aquele tronco tão viril, aqueles bíceps tão másculos, aquele queixo anguloso me fazendo crer que ele era meu ideal de macho, acabei por me ver abandonado à mercê da minha própria sorte quando o clima esquentou. Eu não sentia raiva do José Carlos, apenas uma grande decepção. Por isso, não tive vontade de deixar seu esperma, ainda perceptivelmente formigando no meu cuzinho, dentro de mim. Deitei-me sobre a cama completamente nu, as roupas roçando os vergões sabidamente me provocariam dor e, eu não queria sentir mais nenhuma naquele dia. Olhando para o teto, fiquei imaginando a notícia se espalhando pela família. Meu pai, àquela altura, já devia estar a par de tudo. Era certamente mais uma surra a ser enfrentada. Ninguém naquela família havia apresentado um comportamento como o meu e, isso seria mais do que motivo para eu voltar a me sentir o patinho feio, tal como na minha infância.

Meus pais nos tiveram com exatos três anos de diferença entre meu irmão Edgar, minha irmã Lena e eu. Ambos sempre foram crianças e posteriormente adolescentes muito bonitos. Eu, pelo contrário, nasci desengonçado, tinha os pés voltados para dentro que requereram tratamento logo após o nascimento e, que se estendeu por quase toda a minha infância, usando uma parafernália de artefatos e botas para corrigir o problema. Disso resultou o desenvolvimento exagerado dos músculos glúteos, ou seja, uma bunda enorme. Os ortopedistas também recomendaram a natação como meio auxiliar da fisioterapia para melhorar a postura e desenvolver o tronco. Na adolescência eu já não me parecia com um patinho feio, tanto que há pouco mais de um ano, nas férias de verão em nossa casa no litoral norte de São Paulo, fui abordado por um olheiro, que convenceu minha mãe a me deixar fazer uma série de fotografias para uma campanha publicitária. Acho que mais para melhorar a minha autoestima do que propriamente por acreditar no sujeito, meus pais me autorizaram a fazer as fotos. A campanha apareceu em todas as revistas e até na televisão. O patinho feio havia se transformado num cisne. Um cisne que tinha algo que deixava não só as garotas, mas também os garotos e os homens cheios de desejos, alguns pouco castos. O José Carlos era um deles. Quando notou meu interesse pelos seus músculos, deixou que o tesão que sentia por mim começasse a arquitetar um plano para meter aquele seu pauzão sedento na minha bunda carnuda e, certamente, virgem.

Meu pai e o irmão tinham comprado a fazenda no nordeste goiano, próximo à divisa com a Bahia, há alguns anos. Investiram suas economias de suas outras atividades naqueleshectares tornando-se grandes produtores de grãos. Eu gostava de passar uma temporada na fazenda durante as férias, ao contrário dos meus irmãos. Geralmente ia com os meus pais, mas no impedimento deles seguia com a família do tio George. Desde a contratação do gerente agrícola da fazenda eu criei uma amizade com seu filho José Carlos e, com ele se transformando num homem durante os últimos três anos, meu interesse por umas temporadas na fazenda havia aumentado. Além do que, os hormônios do José Carlos também se mostravam recompensados quando eu aparecia por lá. Portanto, aquilo que aconteceu no galpão naquela tarde de domingo, já estava traçado no nosso destino. Era apenas uma questão de tempo.

Eu mal saí do quarto nos dois dias que se seguiram ao flagrante. Recebi uma ligação do meu pai mandando que eu retornasse para São Paulo imediatamente. Ao dar ênfase na palavra imediatamente em seu breve discurso ao telefone eu logo deduzi que a coisa ia mesmo ficar preta quando eu chegasse em casa. E, não deu outra. Não levei a surra que esperava, mas tive que aceitar todas as condições que me impuseram e os castigos que restringiram minhas atividades a praticamente nada além de ficar em casa, ir ao colégio e me submeter a uma vigilância restrita. O mais curioso é que ninguém em nenhum momento censurou a atitude do José Carlos, foi como se ele não tivesse participado da história, foi como se não tivesse sido ele a me seduzir e a me levar a ter a minha primeira experiência sexual. Ali eu comecei a desconfiar de que os machos nunca eram questionados por suas atitudes. Eu não era um macho na acepção da palavra, era um homem, mas não um macho e, isso me confinava quase que a uma categoria inferior, mais ou menos a mesma na qual se encontravam as mulheres, ou talvez pior.

Dessa experiência traumática tentei tirar uma lição, não se meta com os homens mesmo que os ache interessantes e se sinta atraído por eles, pois será você a sofrer as consequências. Era um pouco difícil seguir esse raciocínio à risca quando se tem um irmão que vive trazendo os amigos parrudos para dentro de casa, ou uma irmã que, indecisa quanto ao melhor partido, namora três caras gatos ao mesmo tempo. E, o mais incrível disso tudo, quando alguns dos amigos do seu irmão e um dos namorados da sua irmã começam a dar em cima de você, de olho na sua insegurança, seus traços harmônicos e sedutores e, na sua bunda.

O Edgar nunca foi santo e, quando a testosterona começou a governar seu cérebro, que eu imputava tão privilegiado quanto uma ervilha, começou a andar com uma galera que sofria do mesmo mal. A única cabeça pensante que tinham era a que ficava entre as pernas e, essa só pensava em garotas, peitos, vaginas e bundas. Como eu justamente tinha esse último quesito para lá de abundante e sedutor, não escapei das piadas e, muito menos, do assédio velado daqueles brutamontes.

- Teu irmãozinho tem uma toba de fazer inveja a qualquer mulata, hein cara? – eu já tinha ouvido isso dezenas de vezes daqueles caras. E, em nada ajudava meu irmão ter dito que eu já tinha queimado a rosca com o filho do gerente agrícola da fazenda, numas de deixar explícito que eu era a bichinha da família. Uma vez que ele e meus primos faziam o tipo garanhão fode todas e, queriam deixar isso bem claro.

No feriado do carnaval meus irmãos levaram junto uma galera para a casa de praia. Minha irmã tinha convidado uma amiga para se fingir de interessada num cara, Marcelo, do qual ela estava a fim, mas não podia dar bandeira diante do namorado. Meu irmão que só sabia falar de mulher e só vivia andando com um bando de machos, tinha levado o Pedro e Ricardo, dois babacas que viviam enfurnados lá em casa. Eu quis convidar a Julia, uma colega do colégio para me fazer companhia, mas desisti imaginando como seria para a coitada ficar ouvindo o feriadão todo um monte de asneiras daqueles caras sem noção. Na distribuição dos quartos e das camas, acabei tendo que dividir o quarto com o Marcelo. Ele também já estava sabendo que eu tinha dado o cuzinho. Aliás, eu já tinha me convencido de que o mundo todo sabia do meu deslize. Ele ficou meio sem graça quando soube que teria que dividir o quarto comigo. Eu mal o tinha visto umas duas vezes, e já fiquei puto com a atitude dele. Era como se ele temesse ser estuprado por mim na calada da noite. No entanto, fiquei na minha. Fui seco nas respostas às suas perguntas e quase não me dirigia a ele quando estávamos jogando cartas ou batendo papo à beira da piscina. Quando eventualmente meu olhar se dirigia a ele, seus olhos castanhos estavam analisando pormenorizadamente as curvas das minhas nádegas. Cretino, pensei comigo mesmo. Faz como se eu fosse um pervertido pelo meu histórico, sabe-se lá contado com que nuances de crueldade, mas não consegue disfarçar seu interesse em descobrir os segredos e possibilidades que estariam ligadas àquele brioco delicado.

Nós tínhamos duas motos aquáticas e, o Ricardo também tinha trazido a dele. Na primeira manhã do feriadão, eu não tive chance de andar em nenhuma delas, pois a todo instante eles se revezavam na brincadeira. À tarde a coisa ia se repetindo e precisei ser mais enfático com o meu irmão, o que resultou numa pequena discussão. Eu gostava de pegar a moto e ir até a ilha Prumirim e lá caminhar até a ilhota atravessando as piscinas naturais e me sentar numa das inúmeras pedras e ficar olhando o mar aberto. Era meu passeio predileto quando ia para Ubatuba e, me deixava sozinho com meus pensamentos.

- Eu te levo até lá! Deixe a galera se divertir um pouco. – propôs o Ricardo.

- O Edgar que ceda a dele, afinal os amigos são dele! – respondi contrariado, pois o Pedro ignorava meus acenos para que voltasse para a praia com a minha moto.

- Larga mão de ser estraga prazeres! Já falei, eu te levo lá. – eu ainda passava a ser o chato, isso me deixava puto. Não sei onde estava com a cabeça quando concordei que aquele ogro me levasse até a ilha, devia ter deixado o passeio para outra ocasião.

Ele quis que eu conduzisse a moto, uma vez que nunca tinha se aventurado por aqueles lados e desconhecia as correntes marítimas do lugar. Ao invés de se apoiar na aba traseira do banco ele colocou as mãos na minha cintura. Nem bem havíamos passado a arrebentação, e aquelas mãos já não paravam quietas, passeando pelos meus flancos num tatear voluptuoso. O vento soprava contra a nossa direção e lançava gotículas de água salgada diretamente nos meus olhos tornando nosso avanço muito mais lento. Não demorei a sentir o Ricardo me encoxando descaradamente, e compreendi a razão de ele ter se oferecido para me levar até a ilha. Não dava para negar que aquelas coxas grossas e peludas roçando nas minhas me deixaram cheio de tesão. Ele notou minha inquietação e sua determinação ganhou impulso. Em sua mente já estava tudo planejado para aquele passeio incluir uma enrabada no meu cuzinho.

O mar estava um pouco agitado, o que era incomum para aquela época do ano, erguendo algumas ondas que não chegavam a arrebentar, mas que me obrigavam a fazer manobras para evitar que a moto fosse atingida na lateral com força suficiente para virá-la e nos atirar na água. Enquanto sacolejávamos como se estivéssemos montados num touro bravo, o Ricardo, que não tirava as mãos das minhas ancas, arriou minha sunga e eu acabei sentado sobre sua ereção descomunal. O próprio agite do jetsky fazia com que minha bunda se atritasse contra seu membro encorpado e, me fizesse perder a concentração naquilo que estava fazendo. A cabeça da pica emergiu da sunga dele e eu a sentia úmida e quente no meu rego. Ele apenas controlava aquela posição prazerosa, guiando minha bunda com as mãos na minha cintura. Eu já avistava as areias claras da praia localizada do lado direito da ilha, próximo à ilhota que parece estar pendurada à ilha do Prumirim, mas ela não chegava nunca e, eu pressentia que aquela carne latejando ia entrar em mim antes de chegarmos à praia. Eu ergui meu quadril tentando escapar da sanha do Ricardo, mas ele me obrigou a sentar novamente em seu colo. Como eu estava com as pernas abertas, ao redor do jetsky, ao voltar a abaixar a bunda, sua rola entrou em mim, provocando uma dor aguda que me fez gritar. Faltavam uns trezentos metros para atingirmos a areia da praia, eu reduzi a velocidade e as ondas que atingiam a moto pela traseira a impulsionavam para frente, junto com cada uma delas eu sentia aquela verga se aprofundando no meu cuzinho. Duas famílias ainda desmontavam as barracas e se preparavam para regressar ao continente naquele final de tarde, enquanto umas cinco crianças protestavam por terem que deixar as brincadeiras. Nem essa proximidade indecorosa fez com que o Ricardo tirasse seu membro de dentro de mim. Meus protestos entravam por um ouvido e saiam pelo outro, completamente ignorados. Ele tinha agarrado todo o meu tronco e movia seu quadril com uma impetuosidade gananciosa, movendo sua jeba num vaivém torturante. Eu não sabia se queria chegar logo à praia ou se continuava a deixar que as ondas nos levassem até ela no ritmo lento e contínuo com que se atiravam contra a areia. Desliguei a moto o que fez com que ele conseguisse ouvir meus gemidos. Eu estava todo retesado e, apesar das pernas bem abertas, meu cuzinho se contraía ao redor daquele falo pulsátil, aprisionando-o nas minhas entranhas num prazer alucinante. Quando a moto chegou à areia, ele havia despejado todo seu tesão entre as minhas pernas. Aquela umidade morna formigava dentro de mim, espalhando-se pela mucosa anal intumescida. Dois dos garotinhos correram ao nosso encontro e, antes que pudessem nos ver de perto, o Ricardo saiu de mim, deixando um vazio que, nem o receio de ser flagrado pelos adultos, me fez querer ser preenchido. Eu desci da moto no mesmo instante que os dois homens terminavam de acomodar suas famílias e as tralhas em dois botes infláveis com motores de popa. Um deles fez um aceno com a cabeça e esboçou um sorriso, até hoje não sei no que ele pensava quando fez isso, mas pela cara dele parecia ter adivinhado o que viemos fazer naquele lugar ermo num final de tarde avançado. Eu mal podia caminhar naquela areia fofa, os passos pesados pareciam aumentar aquela dor dentro da minha pelve. O Ricardo terminou de puxar a moto até acima do fim das ondas e veio caminhando atrás de mim.

- Você ficou doido? Podíamos ter caído no mar! Esse pessoal por pouco não vê você tirando esse troço enorme de dentro de mim! – extravasei, exausto e dolorido, quando me deixei cair na areia morna.

- Você tem ideia do quando deixa a gente maluco com essa bunda? Você praticamente sentou no meu colo, não deu para me controlar, o tesão quase me mata. – respondeu ele, sentando-se ao meu lado.

- Que droga, cara! Você me machucou! – exclamei, para revidar de alguma maneira, pois até então não sabia se aquilo tinha sido bom ou se eu tinha que me mostrar indignado.

- Juro que não foi essa a minha intenção! Você faz a gente perder o controle! – disse ele, tentando aplacar minha revolta. Eu devo ter uma queda por cafajestes, pois bastou que aquele par de olhos, quase tão azuis quanto a água que nos cercava, me encarar para eu me desarmar e, esboçar um sorriso tímido na direção dele. – É disso que eu falo! Quando você encara a gente com esse rostinho travesso, desperta uns instintos tão poderosos que fica difícil recuar. – emendou, inclinando-se sobre mim e colando sua boca na minha.

O sol descia por detrás dos morros cobertos pela mata Atlântica deixando um rastro dourado sobre as águas que ia se perder no horizonte e, tingia o céu com um tom alaranjado. O Ricardo e eu estávamos sentados lado a lado jogando conversa fora, os braços se roçando de vez em quando, enquanto contemplávamos aquele por do sol sereno e quente. Eu não me iludia com aquele papo furado manso, sabia muito bem aonde ele queria chegar, mas não conseguia esquecer aquela pica avantajada se movendo dentro do meu cuzinho numa sem-vergonhice luxuriosa. Preveni-o de que estava na hora de regressarmos, antes que escurecesse completamente. Ele fingiu não me ouvir e, talvez não tivesse mesmo me ouvido, pois em sua mente arquitetava uma maneira menos descarada de me foder outra vez. Creio que não a encontrou.

- Tô louco de vontade de comer seu cuzinho de novo! – exclamou, um tanto rude com essa objetividade toda.

- Tá, e eu com isso! Se todos colocarem em ação aquilo que lhes dá na veneta, o que será desse mundo? – retruquei, sem admitir para mim mesmo que eu também desejava que ele me enrabasse.

- Em se tratando de vontades como essa, creio que evitaríamos muitas discussões infrutíferas e frustrações por não termos deixado as coisas simplesmente acontecerem. – respondeu ele, vindo para cima de mim e roubando mais um beijo, que nada tinha de passional, apenas um desejo carnal.

Não íamos ter uma relação além daquela amizade intermediada pelo meu irmão e, eu nem tinha expectativas nesse sentido. Porém, retribuí aquele beijo com um carinho gentil e afetuoso, o que o deixou fervendo de tesão. Ele tirou minha sunga e começou a passar a mão na minha bunda carnuda, enquanto nossas bocas iam se saboreando numa dança cada vez mais excitada. Eu devia ser tão transparente para meus parceiros como uma placa de vidro, pois assim que meu corpo começava a tremer, ficava evidente o desejo e o tesão que me consumia. Saber que eu o desejava deixava tudo mais fácil para ele, era só avançar, observar como minhas reações deixavam claro o quanto eu estava disposto a me entregar. Soltei um gemido mais contundente quando ele enfiou um dedo no meu cu. Meus músculos anais se contraíram comprimindo aquele intruso na fenda apertada e quente. Ele sorriu descaradamente, ciente do quanto eu o queria dentro de mim. Ele movia o dedo em círculos lá dentro, aprofundando-o e insinuando retirá-lo, o que fazia meus músculos ocluir com mais força aquele orifício já tão fechado. Um segundo dedo me invadiu, me fazendo ganir de prazer.

- Está louco para me ter aí dentro, não está? – perguntou, libidinoso.

- Ai Ricardo! Como você pode ser tão cruel? – murmurei, perdido no tesão.

- Cruel? Se eu fosse um cara cruel, você não estaria se contorcendo de prazer. – revidou.

- É cruel sim! Se não fosse, não estaria me torturando dessa maneira. – balbuciei, entregando meus sentimentos.

- Então me diga o que quer que eu faça! Me pede com todas palavras onde quer me sentir. – provocou.

Eu era tímido demais para escancarar um desejo desses para um cara que quase não conhecia e, que não sentia nada por mim, além de um desejo desenfreado de se satisfazer no meu cuzinho. Então o puxei para cima de mim e colei minha boca na dele, começando a chupar a língua que ele acabara de enfiar em mim. Se havia outra maneira de deixar explícita minha vontade, eu não ia perder tempo procurando-a. Aquele beijo por si só já era um sim mais do que conclusivo. Ele não insistiu mais, pois a sua ereção já havia atingido um estágio tão urgente e tenso que ele precisava começar a aliviar aquele incomodo. Ele se ajoelhou ao meu lado e pincelou a pica nos meus lábios. O fluído pré-ejaculatório escorria espesso e translúcido, vazando daquela cabeçorra indecente. Eu a abocanhei para satisfação dele. Seus olhos estavam fixos no meu rosto e nos meus lábios que se moviam delicados e insinuantes procurando devorar sua anatomia. Seu sumo era muito saboroso, ligeiramente salgado, másculo e carregado de sensualidade. Eu o lambia, chupava, mordiscava indo muito além da glande, devorando cada milímetro daquela jeba grossa e veiúda que pulsava na minha boca.

- Cacete! Você vai me fazer gozar na sua boca, se continuar a fazer isso desse jeito! – grunhiu, contorcendo-se para protelar um gozo iminente.

- Você faria isso comigo? – perguntei, na maior safadeza e provocação.

- Faço tudo que você quiser! Faço tudo para te dar prazer! – ronronou ele, pois mal conseguia articular as palavras de tanto tesão.

Confesso que estava louco para experimentar o néctar de um macho, mas meu cuzinho não me dava trégua, contorcia-se como uma lavadeira torce uma roupa, querendo aquela carne latejante em seu introito. Por isso, coloquei um de seus testículos na boca e o chupei procurando distraí-lo e evitar que gozasse na minha boca. Ele voltou a gemer com mais propriedade e, abriu minhas pernas e enfiou a cara no meu rego, lambendo meu cuzinho com sua língua afoita e molhada, mordendo meus glúteos até deixa-los marcados com o contorno de seus dentes. O cuzinho piscava alucinadamente toda vez que ele apartava as nádegas evidenciando meu desejo. Ele o beijava, enfiava o dedo e tirava, lambia-o, enfiava o dedo e tirava num ciclo que extraia ganidos desesperados dos meus lábios semicerrados.

- Ai Ricardo, entra em mim. – clamei quase implorando.

- É o meu caralho que você quer aí dentro? Sou todo eu que você quer sentir aí dentro? – rosnou ele, chupando minha orelha.

- É. – gani mais uma vez, quando dois dedos se moviam lascivamente no meu cuzinho.

Ele apontou a cabeçorra contra as preguinhas e a forçou para dentro. Meu cuzinho se abria, mas voltava a ter um espasmo que ocluía totalmente a estreita fenda anal. Ele voltou a forçar as preguinhas já machucadas. Eu gani e me forcei a me abrir. A cabeçorra mergulhou na maciez úmida e quente, dilacerando minha carne. Eu soltei um grito. Ele enfiou dois dedos na minha boca e eu os chupei. Ele moveu o quadril e estocou a jeba com força. Ela me penetrou mais profundamente. A dor se espalhava entre as minhas pernas, à medida que aquele cacetão era enfiado todo em mim. Meus esfíncteres se contraíram ao redor de seu mastro, e ele adorou aquilo. Eu olhava para o horizonte a minha frente, gemia com aquele vaivém cadenciado, via o crepúsculo se adiantando tornando o céu cada vez mais escuro. O Ricardo arquejava junto ao meu pescoço, mordiscando-o de vez em quando, enquanto se contorcia como se tentasse escalar meu corpo. Suas duas mãos agarravam meus mamilos e ele os apertava entre os dedos, usando mais força do que era capaz de supor, deixando-se inebriar com sua delicadeza e maciez. Ele sentiu a pica inchando dentro do meu cuzinho e, não conseguia acreditar como era possível que eu conseguisse contê-lo todo naquele espaço tão doce e pequeno. Eu franqueei meu pescoço e ele se inclinou faminto sobre ele. Ele buscava alucinadamente por um ângulo certo, que o permitisse entrar mais profundamente em mim, em estocadas fortes e seguras. Eu comecei a ganir quase gritando, ele hesitou por alguns segundos, apavorado com a hipótese de estar me machucando além do necessário. Mas logo sentiu minha musculatura anal envolvendo sua rola em espasmos profundos, que o fizeram soltar um som rouco de desejo. Minha carne se fechava em torno dele exigindo mais. Ele me cavalgou com mais intensidade, penetrando-me sem descanso, usando o próprio corpo para me satisfazer. Eu gozei, sentindo os jatos de porra saindo do meu pinto. A sensação do meu êxtase provocou o dele, sua pelve se contraiu enfiando a pica uma última vez, tão profunda e intensa que a porra jorrou, um jato cálido e volumoso atrás do outro, um alívio tão pleno que foi como perder a consciência por alguns segundos e, renascer num esplendor sem fim.

- Ah, Phillip! Você é o primeiro moleque e o primeiro cuzinho que eu como e, sou capaz de ficar viciado nisso! – grunhiu ele, colando sua boca na minha, soltando um gemido baixinho e me apertando contra seu torso, esperando que o tremor em suas pernas diminuísse.

As últimas centenas de metros foram completadas em plena escuridão, só sabíamos onde estava a arrebentação por que a lua num crescente quase completo fazia a espuma na crista das ondas refletir um branco prateado. Meu irmão e toda a galera, inclusive meu pai, estavam a nossa espera na praia, aflitos com a possibilidade de ter havido algum problema.

- Eu já não sei mais que atitude tomar com você! Talvez o mais acertado seja te dar uma surra de cinta aqui mesmo, uma vez que seu comportamento é o mesmo de uma criança sem juízo. – ameaçou meu pai, furioso e descontrolado. Por precaução eu olhei para a cintura dele e, felizmente ele estava usando uma bermuda e não havia nenhuma cinta por perto que o permitisse cumprir sua ameaça.

- Tinha que ser você, outra vez! – exclamou meu irmão, querendo competir com o meu pai nas reprimendas. Eu ergui o dedo médio de uma das mãos na cara dele.

- Foi culpa minha! Tivemos um probleminha com a moto. A ignição estava falhando e eu já devia ter levado a uma oficina para ver o que era. Só depois de muitas tentativas consegui fazê-la funcionar. – inventou o Ricardo, tentando livrar a minha. Eu o encarei agradecido.

Meu irmão não engoliu a mentira. A caminho de casa ficou ligeiramente atrás de mim e, pelo meu caminhar desajeitado, logo matou a charada.

- Você deu uma enrabada nele, não foi? – perguntou para o Ricardo, que nem precisou confirmar. Só a maneira com que olhava para a minha bunda se movendo diante dele, num malemolejo que mal disfarçava a umidade contida nela, respondia a pergunta do meu irmão. Nem se preocupou em disfarçar o prazer que sentia de saber que aquela umidade era dele, era sua masculinidade incontestável.

Na volta do feriadão de carnaval tive duas surpresas. A primeira foi descobrir que machos gostam de proclamar seus feitos, o Ricardo não apenas confirmou para o meu irmão, o Pedro e o Marcelo que tinha comido meu cuzinho no canto deserto da praia do Prumirim, como tinha dito o quanto eu tinha gostado de seu desempenho. A segunda foi consequência da primeira, meu pai me deu aquele último ano do colégio para eu estar devidamente preparado para os exames de uma universidade no exterior, alegando estar farto das minhas inconsequências exporem toda a família ao ridículo. Não sei dizer o que doeu mais, a surra que levei do Peter e do meu tio, ou ser expulso de casa com a finesse de ter meus estudos bancados fora do país. A partir daí eu soube quem seria, minha homossexualidade tomou forma naquele dia. Eu gostava de homens, gostava do que e de como faziam sexo, gostava de seus fluídos e de seus cheiros, só me faltava encontrar um disposto a aceitar todo o amor que eu carregava dentro de mim e, principalmente, um que valorizasse essa virtude com toda a discrição e sigilo com a qual eu contava.

Naquela mesma época, no ano seguinte, eu começava a frequentar as aulas do curso de arquitetura na Faculdade de Arquitetura, Desenho e Urbanismo da Universidade de Buenos Aires, no bairro portenho de Belgrano, onde também passei a morar num apartamento de dois dormitórios e 98 metros quadrados na Calle Palpa, num trecho arborizado e tranquilo, entre as avenidas Crámer e Cabildo, de um edifício de tijolinhos e sacadas e, de cuja piscina no décimo quarto andar se avistava o estuário do Rio da Prata. O fato de me terem dado quase que uma carta branca para ajeitar, à minha maneira, o apartamento que meu pai havia adquirido, significava que eu havia perdido meu espaço em nossa casa de São Paulo. Nada foi verbalizado oficialmente, mas eu compreendi toda a implicação que estava contida nessa gentileza. Passei dois meses convivendo com o entra e sai de pedreiros, pintores e marceneiros até que aquele espaço ficasse com cara de casa. Na primeira noite em que consegui dormir em cima de uma cama, com colchão e lençóis novos, a ficha caiu por inteiro. Ali seria a minha casa pelos próximos seis anos, talvez para sempre, pela vontade da minha família. Foi a primeira noite que chorei até conseguir adormecer, vencido pelo cansaço e pela rejeição.

O campus da cidade universitária é pequeno comparado a muitas outras universidades, são apenas três pavilhões, por isso foi fácil encontrar minha sala no pavilhão dois no primeiro dia. Éramos apenas cinco estudantes estrangeiros, uma garota de Porto Alegre, um boliviano com cara de índio, dois irmãos gêmeos uruguaios e eu, entre uma galera de argentinos que faziam jus a sua fama de baderneiros. Só naquele dia me dei conta de que não gostava do povo argentino, embora tivesse curtido todas as viagens que tinha feito com a minha família por diversos lugares do país. Teria que aprender a suportá-los, pelo menos pelos próximos seis anos. Acabei me acostumando ao jeito deles e, no final de março já não me incomodavam mais os cacoetes linguísticos nem aquelas poses de entojo e soberba. Eu simplesmente conseguia ignorá-los, o que fez com que o meu circulo de amizades não fosse lá muito extenso. Eu podia sobreviver com isso.

Em meados de junho tivemos duas semanas seguidas de chuva fina e constante, ventos gelados soprando da Patagônia e dias que mais pareciam noites de tão acinzentados e escuros. Eu tinha deixado o carro na revisão e dependia de um ônibus para chegar em casa, uma vez que perdi umas caronas por ter que fazer um levantamento na biblioteca após o término das aulas. Não seria nada complicado se não fosse horário de rush. Além da demora, os terríveis ônibus argentinos, já minúsculos, chegavam lotados ao ponto nas cercanias da cidade universitária. Eu havia me afastado um pouco do ponto e, equilibrando o guarda-chuva tentava acessar o aplicativo do Uber, quando um Ford Ecosport prata parou junto à calçada e buzinou para chamar minha atenção. Ao volante estava um carinha que eu já tinha visto um bocado de vezes nas cafeterias dos pavilhões da universidade e, com o qual troquei alguns olhares significativos que nunca deram em nada.

- Olá! Você é estudante da universidade, não é? Quer uma carona? – ofereceu ele. Eu e toda essa galera que está no ponto, pensei comigo mesmo. Que pergunta sem propósito, uma vez que já nos vimos. Só o perdoei por causa do sorriso que acompanhava suas perguntas. Fora ele que me fez reparar naquele sujeito corpulento, barba hirsuta sempre por fazer, uma covinha no queixo que se acentuava quando ele ria e, uns braços musculosos e peludos que saiam de seu tronco no formato de um triângulo invertido.

- Se não for te desviar do seu caminho, aceito sim! – devolvi, também com um sorriso, mais empático e sensual do que eu pretendia, mas ele saiu tão espontâneo que não deu para controlar.

- Para onde quer ir?

- Se você puder me deixar na Cabildo, Frederico Lacroze ou Crámer beleza, de lá eu me viro. – respondi, tirando do assento uma papelada desorganizada e, passando-a para o banco traseiro.

- É uma área bem grande! De que adianta eu dar uma carona se você vai continuar caminhando na chuva? – inquiriu, com uma arrogância que me irritou.

- É que não quero te desviar demais do seu caminho. – respondi, controlado.

- Você não sabe qual é o meu caminho! – eu não estava acreditando nessa conversa. Que sujeito petulante!

- Ok! Então me deixe na Palpa, 2377, por favor, senhor! – respondi, irônico. Ele se fez de emburrado ao perceber minha ironia, ficando calado por uns cinco minutos.

- Você é brasileiro, não é? – perguntou, quando o impacto da minha resposta havia passado.

- Pode-se dizer que sim! – o jeito rude como ele falava me fez ter vontade de provoca-lo.

- Como assim? É ou não é? Pode-se dizer que sim, não é resposta para essa pergunta. – eu tinha alcançado meu objetivo, a maneira como apertou as mãos no volante demonstrava que eu o tinha tirado do sério.

- Nasci na Alemanha, meus pais se mudaram para o Brasil quando eu tinha dois anos e fui criado lá. – esclareci.

- Ah! – fez-se novo silêncio. Acho que ele estava tentando controlar sua raiva.

- E você? Nasceu aqui na capital federal? – perguntei, para amenizar um pouco o clima, pois a continuarmos no ritmo que as coisas iam, em poucos minutos estaríamos brigando.

- Hein? Ah! Sim, quer dizer, não! Eu sou argentino, mas não daqui. – Eu o havia perturbado mais do que supunha. – Sou de Mendoza! Conhece?

- Sim. Isto é, estive lá duas vezes. Não dá para dizer que conheço. Estive na capital, em Las Lenãs, em algumas vinícolas e no Parque Provincial Aconcágua. – respondi. Outros quase cinco minutos de silêncio. Que sujeito estranho! Por que me ofereceu carona se está com esse mau humor todo?

- Então conheceu tudo! Não tem mais nada que valha a pena por lá. – disse, retomando a conversa.

- Pois eu gostaria de ir até Los Penitentes, o lago Potrerillos, as termas de Cacheuta, vale Hermoso, Parque Tupungato, San Rafael e etc, etc. – mencionei, tentando me lembrar dos lugares que deixamos de visitar quando estive com meus pais na Argentina há dois anos e pouco atrás.

- Você é um cara muito bonito! Já arrumou uma namorada por aqui, ou deixou uma no Brasil? – cheguei a me desconcentrar com sua pergunta. Desta vez fui eu que fiquei em silêncio, pensando no porque dessa pergunta e, como respondê-la sem mentir.

- Não!

- Não, o quê?

- Não deixei nenhuma namorada no Brasil e não arrumei nenhuma por aqui. – o trânsito não andava naquela final de tarde chuvoso e, eu já estava de saco cheio.

- Por quê?

- Por que, o quê?

- Por que não arrumou uma namorada por aqui se não deixou ninguém por lá? – minha vontade era responder que isso não era da conta dele, mas ser grosseiro com um cara que estava me dando uma carona, não fazia parte do meu jeito de ser.

- Estou focado nos estudos. – respondi lacônico.

- Eu gosto de caras como você! Eu te namoraria se você estivesse afim! – exclamou, olhando pela primeira vez na minha cara desde que eu havia entrado no carro.

- Como eu, como? – tudo bem, eu tinha dado mole para dois caras e me deixei enrabar por eles, mas em nenhum dos casos eu dei qualquer bandeira ou, fiz qualquer insinuação que pudesse por minha masculinidade em cheque. Portanto, de onde esse cara tirou a ideia de que eu ia dar mole para ele.

- Lindo, gostoso, lisinho. – respondeu.

- Já me disseram que me achavam bonito, ok! Mas, gostoso e lisinho! O que te faz pensar isso. – revidei, eu já estava irritado outra vez.

- Constatando! Ah, y también tenes nalgas delicadas y ricas! Muy ricas! – ele só podia estar tirando uma com a minha cara. O pior é que debochava com a cara mais séria que conseguia fazer. Puto!

- Valeu, cara! Pode parar aqui mesmo. Obrigado pela carona! – exclamei sério, tentando abrir a porta que estava travada.

- Você ficou maluco! Quer se matar descendo do carro em movimento? – protestou zangado quando me viu tentando descer do carro.

- Maluco é você com essa conversa idiota! Quem você pensa que eu sou? Está querendo tirar uma com a minha cara só por que sou brasileiro? Vá se foder! – esbravejei furioso. Ele acabara de contornar a esquina e estava a dois quarteirões do meu prédio.

Tentei abrir a porta mais algumas vezes, mas ela não destravou por estarmos em movimento e, por que ele precisava acionar o comando em sua porta. Exigi que ele parasse o carro. Ele me ignorou e fixando o olhar na numeração da rua procurava pelo meu número. Um carro acabara de sair abrindo uma vaga a três metros da entrada do edifício e ele estacionou.

- Destrave as portas, quero descer! – exclamei num rosnado furioso.

- É assim que vai me agradecer? – questionou, sarcástico. Sem fazer o que pedi.

- Abra! – um clique destravou as portas e eu desci, fechando-a com violência. – Quer que eu te agradeça? Pois bem, vá se foder! – caminhei os poucos passos até a portaria sem olhar para trás.

- Maricón! – xingou, antes de me ver entrar no prédio.

Ao chegar ao décimo andar diante da porta do meu apartamento minhas mãos tremiam de tanta raiva que mal encontrei o buraco da fechadura. O que deu nesse filho da puta para fazer o que fez comigo? Essa pergunta não me saiu da cabeça por horas a fio. Afinal, pensei, a gente não se conhecia, a não ser de vista. Se a intenção dele era ser gentil, acabou se revelando um canalha. Se a intenção era fazer amizade, conseguiu exatamente o contrário. Então qual a razão disso tudo? Fui dormir naquela noite sem encontrar uma resposta. Vimo-nos, de longe, mais duas vezes naquela semana na universidade e, uma na semana seguinte. Como sempre, assim que me virava em sua direção, notava que estava olhando para mim.

Era quase meia-noite da última sexta-feira de junho, eu já estava de pijama lendo na cama quando o interfone tocou insistentemente. – Que droga! Quem vai encher o saco dos outros há uma hora dessas? – Ao atender, um rosto desconhecido apareceu na câmera. Quando perguntei quem era, o sujeito disse que veio trazer o Miguel e, que eu deveria descer, pois ele estava sem condições de subir por conta própria.

- Você deve ter se enganado. Aqui não mora nenhum Miguel. – respondi, desligando o interfone.

- Aqui não é a Palpa, 2377? – perguntou o sujeito, depois de tocar mais uma vez numa obsessão doentia.

- Cara, eu já disse que não mora nenhum Miguel aqui! Se vocês não saírem da portaria serei obrigado a chamar a polícia. – respondi, identificando que havia pelo menos mais dois sujeitos com ele, também desconhecidos.

Fiquei um tempo ouvindo a baderna lá embaixo e vi que havia mais alguém abaixado ou sentado, pois os sujeitos que apareciam no visor da câmera conversavam com alguém que repetia e confirmava que o endereço era esse. Vi que os sujeitos pareciam bêbados ou drogados e voltei para a cama. Vinte minutos depois, ouvi alguém batendo na porta de entrada. – Merda! Resolveram me aporrinhar essa noite. – no olho mágico apareceu a cara maquiada de uma das minhas vizinhas que moravam no apartamento em frente. Eram duas irmãs com mais de sessenta anos, uma viúva e outra solteirona que, ao me encontrarem no elevador, ficavam me encarando com cara de poucos amigos, depois que fui reclamar de deixarem seu gato urinar no meu capacho, deixando um cheiro nauseabundo no pequeno hall que separava nossos apartamentos. Depois de adverti-las algumas vezes, sem resultado, acabei tirando o capacho da frente da porta e fazia cara feia quando cruzava com elas. Elas sempre estavam muito empertigadas, os perfumes densos que usavam podia ser sentido a quilômetros e deixava o ar empesteado após a passagem delas, usavam uns penteados armados, fora de moda, maquiagem em excesso, badulaques pendurados nas orelhas, pescoço e pulsos numa quantidade espalhafatosa, estilo perua argentina e, desde que esfriara, uns casacos de pele sintética cheirando a naftalina.

- Venha tirar seu amigo do elevador! O sujeito está bêbado e estava sentado na portaria impedindo a entrada das pessoas. Vocês universitários são uma desgraça para qualquer morador civilizado! – exclamou, enraivecida.

- Não tenho nenhum amigo capaz de aparecer aqui à uma hora dessas e, muito menos bêbado, a senhora que o trouxe para cima, que o leve de... – calei-me assim que vi o cara da carona saindo cambaleando do elevador atrás da irmã dela. – O que faz aqui, seu maluco? – a mulher me fuzilou com o olhar.

- Ainda por cima mente, dizendo que não o conhece! – rosnou a velha.

- Dane-se! Suma da frente da minha porta! – respondi com raiva, por terem deixado o cara subir. Ela se empertigou e ficou ainda mais ofendida com minha resposta. – E você, o que te dá o direito de vir na minha casa nesse estado? – o cara balbuciou alguma coisa, mas não deu para entender nada, cambaleando para dentro do meu apartamento.

O estado dele era deplorável. Estava sujo, fedendo a vômito, não falava coisa com coisa e, se deixou cair sobre o meu sofá. Seus olhos me encararam por detrás de uma cortina de álcool ou sabe-se lá o que, pois o sorriso idiota que abriu na minha direção era incompatível com a situação.

- Tengo ganas de joderte por ese culo! Quiero cogerte por el culito! Ahora! – grunhiu, tentando articular as palavras, que a língua pesada mal deixava identificar.

- Vou pensar no seu caso! Só que, no seu atual estado, seu pinto não vai endurecer nem com reza brava; e você não vai conseguir foder nem uma piranha toda arregaçada. Portanto, trate de calar essa boca antes que eu perca a paciência e te deixe jogado na calçada lá embaixo! – revidei. Ele riu daquele jeito imbecil outra vez.

Minha raiva só aumentava diante da impotência de não saber o que fazer. Eu não sabia onde ele morava, não conhecia nenhuma daquelas pessoas com quem ele circulava pela universidade, não tinha informação nenhuma a respeito dele e, só agora soube que se chamava Miguel.

- Venha, saia de cima do meu sofá, você está imundo! Vou abrir o chuveiro e você trate de se lavar e tirar essas roupas. – explodi enfurecido. Ele me seguiu, mas acabou caindo antes de chegar ao banheiro.

O desgraçado era pesado como ele só. Arrastei-o para dentro do box como se fosse um saco de cimento. Ele me encarou e tentou se livrar da jaqueta de couro e tirar a camiseta, mas sua coordenação motora estava tão embriagada quanto seu cérebro. Arranquei-lhe as roupas e as jogava com raiva no chão. Ele agitava os braços no ar tentando se segurar no nada. Havia muitos músculos naquele macho nu, tantos e tão proeminentes que chegavam a impressionar.

- Você está que..querendo me ver pe...pelado! Eu te...tenho um ca...cacetão! Você quer...quer ver me...meu cacetão, é beeeemmmm gran...grande. Pe...pega nele, no meu...meu cace...cetão! – balbuciou, com o olhar vidrado em mim.

- Tá bom, você tem um cacetão! Só que isso não serve para nada agora. Pare de me puxar, é você quem precisa ficar debaixo da água fria e não eu. Pare, Miguel! – aquilo mais parecia um pesadelo. Eu desejei que ele escoasse pelo ralo junto com a água. Ele berrava um arsenal de palavrões, enquanto a água fria caia sobre seu corpão peludo e musculoso.

Sequei-o com uma toalha enquanto ele me encarava em silêncio. Aí começou a chorar e quis apoiar a cabeça ainda molhada no meu ombro. Eu o afastava, mas mesmo embriagado ele era dono de uma força descomunal. Enquanto o secava entre as pernas ele voltou a sorrir e colocou sua mão sobre a minha tentando leva-la para seu sexo. Forrei o sofá com um lençol, ajeitei travesseiros e o coloquei debaixo de um edredom, tudo sob o olhar vigilante dele e daquele sorriso abestalhado. Depois de jogar suas roupas na máquina de lavar, junto com meu pijama encharcado, passei pela sala a caminho do quarto e ele já dormia a sono solto. Passava da uma e meia da madrugada quando encostei a cabeça no travesseiro, puto com toda aquela situação e, encantado com aquele corpanzil másculo que dormia na minha sala. Mal tinha conciliado o sono ouvi um baque surdo vindo de lá. Levantei-me para ver o que estava acontecendo. O Miguel havia caído do sofá e estava estirado sobre o tapete. Ele ainda dormia. Cobri-o novamente e coloquei um travesseiro debaixo de sua cabeça, uma vez que a temperatura tinha baixado bastante. Voltei para a cama já sem sono. Estava tão agitado com tudo aquilo que até o vento soprando pelas quinas das janelas me mantinha num sono vigilante. Pouco antes das quatro da madrugada ele entrou na minha cama, encostou seu corpo nu no meu e me puxou para junto dele. Eu estava cansado demais para tomar uma providência.

O gato das vizinhas, um burmese de pelos muito sedosos e olhos azul-turquesa muito vivos, estava miando do lado de fora da sacada, olhando para dentro através da porta envidraçada e, raspando a pata no vidro querendo entrar. Eu ainda não tinha descoberto como ele fazia para chegar ao meu apartamento, pois o delas ficava na parte de trás do prédio e o meu voltado para a rua. O único acesso possível entre os dois apartamentos era o hall dos elevadores e, portanto, as portas precisariam estar abertas para ele poder entrar. Mas ele já tinha aparecido algumas vezes, com tudo fechado, depois que tirei o capacho que tanto o atraía e, se esfregado nas minhas pernas enquanto eu estava na minha mesa de estudo fazendo algum trabalho da faculdade. Ele costumava passar horas no meu apartamento. Logo que chegava ficava me encarando com aquele olhar cintilante, que parecia dizer: sei que você é um solitário e vim te fazer companhia. Tinha até elegido uma poltrona perto do janelão onde se refestelava como se estivesse em sua própria casa e, onde eu costumava ler e, o sol da manhã batia ao entrar pela sala. Tão misteriosamente quanto aparecia, ele desaparecia sem deixar vestígios. Eu prometi a mim mesmo que um dia o vigiaria para ver como chegava e partia do meu apartamento sem ser convidado. Distraído, só percebi a ereção do Miguel nas minhas coxas quando comecei a ficar mais desperto.

- Pelo visto hoje é o dia das visitas aparecerem na cara dura! – balbuciei meio sonolento, indo abrir a porta para ele entrar. Um miado curto e uma encarada acho que significaram – Bom dia! O Miguel se movimentou na cama tentando encontrar novamente meu corpo para se aninhar, rosnou alguma coisa e voltou a dormir.

Estava ainda mais frio pela manhã, obrigando-me a ligar a calefação. Um sol alto tentava driblar os edifícios e chegar às ruas. Não havia uma única nuvem no céu extremamente azul e gelado. O gato, com o rabo erguido, me acompanhou até a cozinha esfregando-se nas minhas pernas à medida que eu caminhava. Há pouco mais de um mês eu o tinha batizado de Intruso, uma vez que não sabia seu nome. Comecei a preparar um café caprichado, pois era sábado e eu não tinha compromissos. Tinha feito uma omelete cremosa de ervas e, quando estava cortando fatias finas de sopresatta, uma espécie de copa argentina feita de carnes maturadas, presadas e secas, o Intruso começou a escalar minhas pernas pedindo seu quinhão. À medida que eu lhe dava uns nacos, enquanto fatiava uns damascos frescos, ele lambia os beiços e balançava a cauda interessado apenas na sopresatta. A cozinha do apartamento tinha um canto no qual se juntavam duas janelas que iam do piso ao teto e, onde eu tinha posicionado a mesa de refeições, pois os primeiros raios de sol banhavam aquele canto durante as primeiras horas da manhã. Terminei de fazer um suco e um chocolate quente e tinha acabado de me sentar para desfrutar do meu café da manhã quando o Miguel apareceu. Ele caminhava devagar, esfregando os olhos para fugir da claridade e, parecia não saber para onde ir, havia se guiado até ali pelos sons do meu monólogo com o Intruso. Ele estava nu com uma ereção à meia bomba. Enquanto ele ainda estava perdido, aproveitei, aqueles poucos segundos, para admirar seu corpo escultural, algo que injetava um calor repentino dentro da gente.

- O que estou fazendo aqui? – balbuciou, assim que fixou o olhar em mim.

- É o que estou me perguntando desde a noite passada. Você podia me fazer o favor de cobrir essa indecência? Isso é acintoso demais! Mal acordei e já tenho que ver uma coisa dessas. – protestei.

- Não encontrei minhas roupas. É de manhã, não posso fazer nada, sempre acordo assim. Se ele te choca, olhe para outro lugar. – revidou. Era verdade, as roupas dele ainda estavam na máquina e já deviam estar lavadas e secas.

- Precisei lavá-las. Você foi deixado aqui completamente emporcalhado. Espere que vou busca-las! - quando voltei com as roupas ele tinha tomado meu suco e estava colocando uma porção de omelete sobre uma torrada.

- Humm, isso está bom demais! – exclamou, sem se importar em vestir as roupas.

- Cara! Você é muito folgado! Esses dias me falou um monte de desaforos, ontem à meia-noite me aparece bêbado, imundo e fedendo fazendo escândalo com seus amigos na portaria do edifício, se enfia na minha cama na maior cara de pau; e agora, bem, agora isso aí tudo de fora. E, para terminar ainda come meu café da manhã. Tenha santa paciência! Que tipo de criatura você é?

- Vamos por partes. Eu não te disse nenhum desaforo, só falei que você é bonito e gostoso. Foi você quem se ofendeu. Não sei por que aqueles caras me trouxeram para cá, eu mal os conheço, estavam na galera que conheci num barzinho ontem. Eu acordei no chão duro e frio e fui procurar um lugar mais confortável, que por acaso era sua cama. Estou pelado por que você tirou minhas roupas e as escondeu, vai saber com que intenções. Estou comendo isso aqui por que estou faminto e isso está delicioso por demais. Respondi a todas as suas dúvidas? – retrucou, avançando sobre as fatias de sopresatta que estavam no meu prato.

- Seus amigos me disseram que foi você quem ficava repetindo meu endereço quando lhe perguntavam onde morava. Só tem um detalhe, você não mora aqui! – devolvi, começando a perder a paciência.

- Mas gostaria! É tudo tão bacana, organizado, cheiroso, delicioso como você. Eu posso me acostumar com isso facilmente. – retorquiu.

- Era só o que me faltava! Vista-se e desapareça! – exclamei, atirando as roupas em cima dele.

- Você é sempre assim, tão zangado e mal humorado? – indagou, sem se mover.

- Quando tenho que aturar visitas indesejadas, sim!

- Se não me desejava, por que tirou minhas roupas?

- Não se faça de besta! Eu já disse que foi por que você estava sujo e fedendo. Não quero meu sofá impregnado com cheiro de vômito.

- O que me garante que você não abusou de mim? Eu estava vulnerável em suas mãos. – retrucou, cínico.

- Ponha-se daqui para fora! Agora! – berrei, perdendo o controle. Ele não se mexeu.

- Você vai enfartar cedo se continuar tão estressado! Senta aí e me faz companhia, só um pouquinho, vai! – um sorriso se formou em seu rosto quando terminou de falar.

Duas horas depois, ele continuava nu sentado à minha frente, conversando e me enchendo de perguntas. E eu, já tinha feito outra omelete, mais suco e lavado mais alguns damascos, além de ter dado uns comprimidos para sua dor de cabeça. Também havia perdido a vontade de expulsá-lo dali.

- Qual é o seu nome? Você já brigou tanto comigo que não deu tempo de perguntar seu nome. – disse ele, me encarando com aquela covinha se formando no queixo. Diabos! Como resistir a esse desgraçado?

- Phillip. – não sei por que corei quando respondi. – E o seu? – perguntei para disfarçar meu embaraço.

- Miguel. – pelo menos isso era verdadeiro nele, pensei. – Eu fui grosseiro com você ontem à noite? – perguntou, depois de alguns minutos de silêncio. Ele ficou constrangido pela primeira vez.

- Levando-se em conta que aparecer na porta de um estranho à meia-noite, completamente bêbado, não é nada educado, sim. Você foi grosseiro comigo. – respondi.

- Não, eu quis dizer além disso. Eu te ofendi ou fiz alguma coisa que não devia?

- Você continua pelado até agora. – respondi.

- Isso também não conta! – exclamou de pronto. – Eu queria que você também estivesse nu. – emendou, depois de uns segundos e, antes de ver a contrariedade com essa observação se formando no meu semblante, ele riu. Aquele maldito riso que fazia meu peito se aquecer. Só para não entrar na dele, fiquei calado.

Duas da tarde e o Miguel fuçando minha coleção de Cds e DVDs. Pelo menos já estava vestido e aquele cacetão tinha dado uma trégua ao turbilhão de pensamentos libidinosos que pululavam pela minha mente. Eu estava esticado sobre o sofá ouvindo as observações que ele fazia sobre cada um que pegava nas mãos e sobre aqueles que colocava para tocar no equipamento de som da estante.

- Estou com fome! Vou te levar para almoçar! – exclamou, de repente.

- Vou comer umas frutas por aqui mesmo, obrigado! – afirmei.

- Está me dispensando?

- Já devem estar preocupados com a sua demora. – respondi.

- Quem?

- Ora, seus pais, quem mora com você, sei lá!

- Não moro com meus pais. Eles estão em Mendoza. Moro numa republica e, garanto que ninguém está sentindo minha falta. – disse ele. – Vamos, deixe de frescura e me deixe recompensá-lo pelo transtorno que te causei.

- Não é necessário.

- Porra! Você tem uma habilidade ímpar para me tirar do sério! Eu vou te colocar por cima dos ombros e vou leva-lo à força. – ameaçou exacerbado, vindo na minha direção.

Meia hora depois eu estava sentado com ele numa mesa do Café de la Plaza, na esquina da avenida Lyncoln com Nueva York diante de um risotto del pescador cheiroso e colorido, onde uma galera jovem conversava alto e se escondia da tarde gelada lá fora, atrás dos panos de vidro que cercavam o salão. Durante aquelas horas que permanecemos no restaurante, eu constatei duas coisas. A primeira, que o Miguel devia estar faminto, pois devorou um enorme bife de chorizo em menos de meia hora, não deixando nem um naco dos acompanhamentos sobre a travessa. A segunda, que ele era capaz de conversar com considerável animação, bom gosto e inteligência, sobre diversos assuntos e, que se sentia confortável na minha presença. Deixei-o diante de um edifício no bairro de Palermo na rua Pringles esquina com José Cabrera pouco antes das cinco da tarde. Voltei dirigindo para casa com a mente ocupada nos acontecimentos das últimas horas. Minha antipatia pelo Miguel havia desaparecido completamente. Bestalhão! O cara passou uma lábia em você em poucas horas e você já não consegue tirá-lo da cabeça. Odiei-me por ser tão volúvel e impressionável. Eu mal sabia o que me esperava. Quando fui me deitar naquela noite, o cheiro dele estava impregnado nos meus lençóis. Não era cheiro de sabonete, ou de banho, era um cheiro de pele de macho que fazia meu cuzinho se contorcer de desejo. Eu só podia ser uma puta e, adormeci convicto disso.

Acordei tarde no domingo com o telefone tocando. Era minha mãe. Depois de toda aquela lenga-lenga de saudades, da falta que eu estava fazendo, e dos últimos acontecimentos na família, ela me perguntou se eu iria para o Brasil nas férias que começavam em uma semana.

- Não! Não vou. – respondi de pronto. Apesar de requintada e sem imposições, eu ainda não tinha perdoado a expulsão de casa.

- Nós contávamos com você por aqui. – afirmou ela, sem muita convicção.

- É melhor que eu fique por aqui. Assim não terão que se preocupar comigo ou com os problemas que eu possa causar. – desabafei.

- Não fale assim! Falando dessa maneira até parece que não queremos sua presença nesta casa. – repreendeu-me ela.

- Pois foi exatamente dessa forma que eu encarei a solução que vocês arrumaram para me afastar de casa. Mas, eu não quero discutir isso a essa hora da manhã e, muito menos por telefone. Lembranças a todos e beijão para você! – desliguei antes que meus nervos me fizessem dizer o que não devia.

- Beijos para você também, querido. Cuide-se!

Eu tinha acordado de bom humor, estava avaliando algumas possibilidades para aquele domingo enquanto me espreguiçava na cama. Essa ligação quebrou todo o encanto e, meu bom humor já era. Era meio-dia quando criei coragem para sair debaixo do edredom quentinho. Entrei no chuveiro e creio que dormi em pé debaixo da água quente que escorria pelo meu corpo, causando um torpor inebriante, pois ao voltar para o quarto o relógio de cabeceira marcava uma e um quarto. Comecei a arrumar a cama e, ao deslocar os travesseiros, encontrei a cueca do Miguel debaixo de um deles. Filho da mãe! O tempo todo que estivemos no restaurante ele estava sem cueca, tinha-a deixado de propósito naquele lugar, pois eu a havia colocado junto com as demais roupas dele que tinham sido lavadas. Quando dei por mim, estava rindo e tentava em vão encontrar o cheiro dele nela, mas a lavagem havia deixado apenas o perfume de lavanda do sabão em pó. A cueca dele era maior do que as minhas do mesmo modelo. Segurei-a um bom tempo entre as mãos, imaginando aquelas coxas grossas e peludas emergindo dele e, aquela verga imensa alojada dentro dela. Em poucos segundos eu estava de pau duro.

Eu estava absorto nesses pensamentos quando o interfone tocou. Pela câmera pude ver que era o Miguel. Sem responder, hesitei por alguns segundos se o deixava subir ou não. Venceu a última opção. No estado em que me encontrava a chance de termos uma nova discussão era grande e, eu não queria brigar com ele, não nesse domingo que começara tão bem e poderia acabar mal se eu ainda tivesse uma discussão com ele. Não nos conhecíamos tão bem. Ele tinha um jeito meio grotesco de falar certas coisas e, um pavio curto para ouvir as respostas. Nossa briga do dia da carona ainda estava bem viva na minha mente. E, passar por situação semelhante estava fora de questão. Ele só desistiu de tocar o interfone após a quinta tentativa e, estava zangado quando partiu, pois a cara dele demonstrava isso.

- Por onde andou o dia todo ontem? – foi nessa sutileza que ele me abordou no intervalo após as minhas duas primeiras aulas que, na verdade, foi uma prova bimestral.

- Bom dia para você também! – retruquei, achando que era precipitado da parte dele me tratar dessa forma.

- Bem, ainda estou esperando a resposta! – revidou, como se eu lhe devesse explicações.

- Saí com meu namorado! – devolvi, tão objetiva e explicitamente que o desconsertei.

- Namorado? Você tem um namorado? Por que não me disse que tinha um namorado? – percebi que ele havia perdido o chão.

- Você não me perguntou!

- Não perguntei por que isso não me interessa! – ele elevou um pouco o tom da voz e foi mais ríspido.

- Foi o que pensei!

- Quem é ele? Eu o conheço? É alguém aqui da faculdade? – perguntou, não resistindo à dúvida e, perturbado com essa informação inesperada.

- Por que quer saber? Você acabou de dizer que isso não te interessava. – questionei.

- Desde quando vocês namoram?

- Você também não respondeu a minha pergunta. – devolvi.

- E nem vou responder! Outra hora a gente se fala. Tchau! – bofou, virando as costas e se afastando batendo os pés.

- Miguel! – chamei, numa espécie de ordem para que parasse onde estava. Ele se virou lentamente na minha direção.

- Por que você me abordou fazendo uma pergunta dessas e, ainda por cima, nesse tom de voz? – questionei, também dando dois passos na direção dele.

- Eu só queria saber onde você se enfiou. Estive no seu prédio e você não estava. – aquele tom agressivo havia desaparecido.

- Então você se enfezou, remoeu esse desencontro pelo restante do dia e, hoje veio tirar satisfações comigo. Acertei? – inquiri. Ele assentiu com um movimento de cabeça e chutou o chão com o pé direito, mas não disse nada por um bom tempo.

- Quem é o cara que você está namorando? – perguntou, assim que juntou coragem.

- Não estou namorando ninguém! Eu disse isso para ver qual seria sua reação. E, não foi das melhores. – respondi, num tom brando e carinhoso.

- Você sabe que esse é o meu jeito! Não devia mentir para mim. – retrucou, também mais manso e, eu podia jurar com uma satisfação contida por saber que eu estava livre.

-Não! Eu não sei se esse é o seu jeito. Em dois encontros eu não sou capaz de saber como uma pessoa é; ainda mais quando esses dois encontros não foram lá um céu de brigadeiro. Você não acha? E, eu não menti, apenas quis saber se isso ia mexer com você. – esclareci.

- Claro que isso mexe comigo! Você mexe comigo! – exclamou, sem pestanejar.

- Fico feliz de ouvir isso. – devolvi, junto com um sorriso tímido.

- Está contente agora, me fazendo admitir que você não me é indiferente desde a primeira vez que o vi?

- Estou. Estou muito contente, pois de alguma maneira você também mexe comigo, mas fico em dúvida quando você fala certas coisas e, a maneira como as fala. Por isso, ainda não sei se o jeito que você mexe comigo é bom ou é ruim. – afirmei.

- Desculpe! Você também me assusta. Não sei como chegar a você. Eu te acho autoconfiante e independente demais. Dá medo! – retrucou.

- Eu, autoconfiante? Quem me dera isso fosse verdade. Sinto estar pisando em ovos, o tempo todo. – asseverei.

- Pois não é essa a impressão que você transmite. Quer dizer que não tem namorado nenhum na parada? – agora seu semblante tinha um ar descontraído e zombeteiro.

- Não, nenhum.

- Eu passei na sua casa ontem, pois queria sair com você outra vez. E, também queria saber se você quer ir para Mendoza comigo na semana que vem ou, se já tem planos para as próximas três semanas de férias. – falou, animado.

- Não tenho nada planejado. Pensei em ficar por aqui. – respondi, omitindo que a ligação da minha mãe tinha me feito desistir de passar as férias em casa. Era cedo para falar com um cara que eu estava conhecendo sobre essas questões familiares mal resolvidas.

- Então está decidido! Você vem comigo! – outra vez aquilo soou mais como uma ordem do que uma confirmação e, muito menos como um convite. – Se você quiser, é claro. – emendou ligeiro, percebendo que estava sendo autoritário.

- Prometo pensar sobre o assunto. – retruquei, o que não o deixou plenamente satisfeito.

Por meio de indiretas o Miguel tentou ver se conseguia passar mais uma noite no meu apartamento. Suas abordagens foram sutis, dentro do que ele imaginava ser sutileza, mas eram tão evidentes para mim que logo acabei com essa esperança.

- Estou cheio de provas, aliás, como você também e, preciso estudar um bocado de matéria, pois quero chegar ao final do ano com a nota de boa parte das disciplinas já fechadas. – respondi decidido. Ele resmungou alguma coisa em resposta, evidentemente contrariado pelos empecilhos que eu colocava para dificultar seu acesso ao meu cuzinho.

No domingo pela manhã, bastante cedo, saímos de Buenos Aires para enfrentar os quase 1.200 quilômetros até Mendoza. No sábado à noite, quando fomos comer uma pizza no La Mezzetta, ele tentou mais uma vez ver se conseguia passar a noite comigo, dando como justificativa a necessidade de sairmos cedo no dia seguinte. Eu lhe devolvi um sorriso amarelo sem inventar mais nenhuma desculpa, dizendo apenas que gostaria de ter uma noite tranquila antes da viagem.

- Você é o cara mais complicado que eu já conheci! – grunhiu ele. Eu percebi que ele havia abaixado diversas vezes a mão esquerda para debaixo da mesa e, não tive dúvida de que ele estava ajeitando uma ereção incontrolável dentro das calças.

- Foram muitos? – perguntei, com um sorriso pérfido.

- O que?

- Os caras. Foram muitos?

- Alguns.

- E eu estou sendo o mais complicado?

- Disso você pode ter certeza! – exclamou.

- Será que isso não é um bom sinal?

- Não vejo como.

- O que é feito dos outros agora? – questionei, encarando-o mais seriamente.

- Não sei. Nunca mais os vi. – respondeu, compreendendo imediatamente onde eu queria chegar com aquela pergunta. Que importância que tiveram em sua vida jamais saberei, mas se não estavam mais com ele é por que as coisas não correram tão bem como deveriam. – Você é foda! – rosnou, antes de dar um gole em sua cerveja. Eu sorri, ele voltou a mexer na pica embaixo da mesa.

Fez muito frio durante toda a viagem. Em alguns trechos pegamos uma chuva fina, em outros, um sol cálido que mal dava para se manter aquecido. Não fosse a calefação do carro, teríamos virado picolés. Já estava bem escuro quando chegamos a uma suntuosa residência bem defronte de uma enorme praça no bairro Huerto del Sol, incrustada num amplo e bem cuidado jardim, mesmo para aquela época seca e gelada, que costumava deixar a vegetação rala e ressequida. A mãe do Miguel veio nos receber na garagem. Era uma mulher vistosa, de uma simplicidade elegante e um sorriso fácil. Simpatizei com ela no mesmo instante. O Miguel me encarou satisfeito quando notou que eu havia gostado dela. O pai e outros dois irmãos dele chegaram cerca de uma hora depois, tinham vindo da vinícola da família. O irmão mais velho me encarou de um jeito tão acintoso que eu me senti nu diante dele. Ele devia ter uns trinta anos e era o tipo de homem que deixava qualquer vagina molhada com um simples olhar ou, um cuzinho piscando com um mero sorriso. O Miguel sabia desse potencial do irmão e procurou ver em meu semblante qualquer sinal de sujeição àquela virilidade. O irmão do meio era igualmente bonito, mas era mais convencido disso, o que tirava boa parte do encanto inicial que provocava nas pessoas. Ambos escrutinavam cada centímetro do meu rosto e corpo, o que me induziu a concluir que já tiveram alguma experiência com outro homem, embora ambos estivessem namorando duas garotas que também viriam jantar conosco naquela noite. O pai cumprimentou o Miguel um pouco friamente, embora o tivesse abraçado e beijado com entusiasmo. Percebia-se, no entanto, que aquilo era um pouco forçado, talvez pela minha presença. A mim ele recebeu sem reservas, num abraço efusivo e, logo me fez uma porção de perguntas sobre a minha família e nossa vida no Brasil.

O jantar, além de delicioso foi muito agradável. Os irmãos dele eram bastante divertidos e, as namoradas não ficavam atrás. As horas passaram voando antes da namorada do mais velho começar a se despedir, enquanto o do meio se preparava para levar a dele para casa. Após a partida das garotas, a mãe dele me perguntou sobre a minha origem germânica, pois ela também descendia de alemães por parte de pai e falava um pouco de alemão que, segundo ela, estava enferrujado por falta de prática.

- Por que não foi assim comigo quando te dei carona naquele dia? – perguntou o Miguel, quando me deixou diante da porta do quarto de hóspedes.

- Assim como? – questionei.

- Estão todos se derretendo por você no primeiro encontro. Comigo você brigou logo de cara! – devolveu.

- Eu apenas retribuí a gentileza com que estão me tratando. Você se comportou como naquele dia? Tente se lembrar! – respondi.

- Você sempre tem uma resposta na ponta da língua, não é?

- Talvez! Boa noite! Obrigado pelo convite e obrigado pela viagem, estou muito feliz por estar aqui com você. – afirmei com um sorriso satisfeito. Ele tentou me beijar ali no corredor, não escondeu a imensa ereção que se desenhava entre suas coxas e, eu entrei no quarto o mais rápido que pude, fechando a porta atrás de mim. Parecia haver uma escola de samba no meu peito.

Prometi a mim mesmo que não sucumbiria às suas investidas enquanto estivéssemos na casa dos pais dele.

Após o café da manhã do dia seguinte o Miguel me levou até a vinícola da família na região de Luján de Cuyo a cerca de uma hora da casa dele. Assim que a avistei, lembrei-me de ter estado ali com meus pais há cinco anos, numa viagem que fizemos pela Argentina naquele ano. Mencionei o fato ao Miguel e senti que ele se orgulhou, pois a vinícola é uma das maiores e mais conceituadas da Argentina, exportando seus produtos para vários países. Passamos o dia todo caminhando entre os vinhedos, visitando a produção e passeando pelo campo. O dia estava lindo e ensolarado, poucas nuvens brancas passavam ligeiras elo céu e, ao longe se avistava o topo das montanhas cobertas de neve. O Miguel estava carinhoso, risonho e gentil como eu nunca o tinha visto antes.

- Estou gostando de você mais do que nunca! É esse lado da sua personalidade que você devia mostrar para as pessoas sempre. – afirmei, deixando-o sem graça.

- Só você consegue fazer eu me sentir assim! Mas, também consegue me deixar puto muitas vezes! – exclamou, depois pegou minha mão e a apertou entre a dele, enquanto caminhávamos entre o vinhedo.

Nos dias subsequentes ele me levou a todos os lugares que eu tinha mencionado querer conhecer quando conversamos pela primeira vez durante aquela carona que acabou sendo também nossa primeira discussão. Ele havia guardado meu desejo de conhecer esses lugares por todo esse tempo. A cada lugar que íamos, ele me encarava de forma interrogativa e, eu sabia o porquê de ele estar fazendo isso. Em nenhuma dessas ocasiões eu fiz qualquer menção a respeito dessa gentileza de se lembrar do meu desejo, mas no meu íntimo eu estava imensamente feliz e, minha vontade era de abraça-lo e cobri-lo de beijos. No entanto, era prematuro eu me mostrar tão entusiasmado com a atitude dele. Isso podia ser interpretado como uma disponibilidade para ele tomar maiores liberdades comigo. Até a afeição que eu sentia por ele tentava camuflar para não dar margem para ele sair da linha. Enfim, eu ainda não estava plenamente certo se podia confiar realmente nele ou, se como os outros, após comer meu cuzinho, ele não me deixaria a ver navios. As semanas passaram tão rápido entre Los Penitentes, o lago Potrerillos, as termas de Cacheuta, vale Hermoso, Parque Tupungato e San Rafael que eu já me ressentia pelo fim das férias. Nosso último destino, completando o circuito, foi a charmosa vila de Potrerillos a 60 quilômetros de Mendoza. Inicialmente pensamos passar apenas o dia por lá, mas depois de havermos feito diversas atividades e já ter escurecido, decidimos ficar hospedados pelo resto do final de semana na Cabanas las Margaritas, uma pousada onde os chalés ficam distribuídos numa área com vistas espetaculares das montanhas nevadas. Lembro-me que na primeira noite havia uma lua cheia maravilhosa emergindo no céu límpido entre duas montanhas, sua luminosidade dava aos picos cobertos de neve um tom prateado. Após o jantar, o Miguel e eu ficamos admirando aquela lua subindo no céu, enquanto conversávamos tão descontraída e intimamente que parecia que nos conhecíamos desde há muito. Foi então que resolvi agradecê-lo por todos aqueles dias maravilhosos que ele havia me proporcionado. Vi que ele ficou muito feliz por eu ter reconhecido sua lembrança dos meus desejos.

- Eu não imaginava que você ia se lembrar da minha vontade de conhecer esses lugares. Pensei que naquele dia você queria apenas brigar comigo. – revelei.

- Apesar de você me irritar muito naquele dia, eu me lembro de cada um dos assuntos que conversamos. – retrucou ele.

- Eu te irritar? Nunca tive a intenção de te irritar e, nunca o fiz, na realidade! Se você se irritou, foi por vontade própria. – devolvi.

- É que eu achei que aquela carona fosse terminar de um jeito diferente. Perdi o controle quando as coisas tomaram outro rumo. – confessou.

- Sei! Posso até imaginar como você desejava que ela fosse terminar. – afirmei.

- Mas, não fez nada para facilitar as coisas. Aliás, você nunca facilita as coisas! – exclamou.

- Devo encarar isso como uma censura ou como um elogio? – questionei.

- Elogio?

- Sim, elogio. Elogio por reconhecer que eu não estou disponível para o primeiro que me passa uma cantada. Diga-se de passagem, que nem uma cantada você tentou me passar. – comentei.

- Já percebi que você é diferente. Às vezes, fico meio perdido por causa disso. Parece que tudo que eu falo ou faço te ofende. Aí acabamos brigando. – mencionou.

- Não brigamos nenhum dia desde que viemos para cá. Você só me deu alegrias, me fez muito feliz e se mostrou um cara maravilhoso. – afirmei.

- Mesmo assim não consegui o que queria! – exclamou, fazendo uma careta de frustração. Eu ri.

- Se te serve de consolo, posso dizer que agindo assim você está no caminho certo para conseguir o que quer. – precisei segurar minha vontade de rir mais intensamente, pois a carinha de moleque contrariado que estava estampada em seu semblante era hilária para um homem como aquele.

- E quando vou conseguir o que quero? Você está rindo da minha cara seu ... seu, arre que você me deixa maluco! – grunhiu ele.

- Não estou rindo da sua cara. Ou melhor, estou sim. Você está parecendo um menininho emburrado!

- Ah é? Espera só para eu te mostrar o menininho emburrado! – rosnou. Eu peguei seu rosto entre as mãos, encarei-o por alguns segundos e colei meus lábios nos dele, num toque tão suave que foi como se um beija-flor pousasse em sua boca.

- Será que isso me redime? – questionei, quando afastei minha boca da dele.

Sem me responder, ele me puxou com força contra o peito e me apertou em seus braços. Beijou-me com tanta volúpia e desejo, enfiando sua língua na minha boca e me devassando como se quisesse entrar em mim. Depois disso, não foi nada fácil convencê-lo de que, por hora, aquele seria o limite. Nem o descaramento de uma ereção, que ele não tentou disfarçar, me demoveu da minha convicção.

- Está vendo por que eu digo que você é complicado! Esse fogo crepitando na lareira, essa lua cheia, esse céu coalhado de estrelas, meu pau tão duro que mal consigo mantê-lo dentro das calças e você não abre uma brecha. É foda! – esbravejou. Mas, quando sorri para ele, puxou-me novamente para junto daquele torso quente e contentou-se com meus beijos carinhosos e úmidos.

- Eu não quero apenas uma foda e, depois, ter que amargar sozinho as consequências dela. Já passei por isso e não pretendo repetir a experiência. Eu quero me entregar a um homem que possa chamar de meu, entende? Um homem que queira dividir sua vida comigo. – esclareci.

- E, você acha que eu não sou esse homem! Que eu não sirvo para você. Que não sou capaz de assumir responsabilidades. É assim que você me enxerga, não é? – retrucou ele.

- Eu não disse isso!

- Nem precisava, está estampado na sua cara! – exclamou zangado.

- Até agora você não se esforçou nem um pouco em demonstrar o contrário, admita!

- Quer saber do que mais? Vá se foder! Você é um saco, e eu estou cheio! – explodiu, deixando-me sozinho na varanda e indo se deitar.

Afora alguns rosnados, não conversamos durante a viagem de regresso à Mendoza, embora eu tivesse tentado desfazer aquele clima hostil que se instalara entre a gente. Ele não cedeu. Desde que chegamos a casa dele até a hora do almoço, fiquei em meu quarto. Ao me juntar a eles para o almoço, percebi que o Miguel estava ainda mais furioso do que antes. O clima durante a refeição estava péssimo, pois o pai dele também não parecia estar em seus melhores dias. Antes de terminarmos de comer, o Miguel saiu da mesa sem dizer uma palavra e, instantes depois, o ouvimos deixando a garagem em seu carro. Fui esperar por ele em seu quarto. Era tarde da noite quando ele chegou e, notei que havia bebido.

- O que faz aqui? Vá para o seu quarto! Não estou a fim de papo! – resmungou ele, fazendo um esforço para tirar as roupas.

- Venha, eu te ajudo. Você está precisando de uma ducha fria para desanuviar. Eu estava preocupado com seu sumiço. – respondi.

- Estava mesmo? Não me parece que você está preocupado comigo. É só mais um para encher o meu saco! – balbuciou, embolando as palavras.

- Nesse estado não dá para conversar com você. Você não deveria dirigir com toda essa bebida na cabeça, é uma tremenda irresponsabilidade. Aliás, não gosto quando você bebe, achando que com isso vai resolver seus problemas. – censurei.

- Saia daqui e me deixe em paz! Estou farto de sermões!

- Não vou a lugar algum! Não antes de ter certeza de que você está bem.

Enfiei-o na ducha fria e ele soltou um bordão de palavrões. Mas, estava mais manso depois que abri a água quente e seu corpo começou a relaxar. Ele vestiu alguma coisa de qualquer jeito e me encarou desafiador.

- O que faz aqui ainda? Eu já não te mandei sair daqui? – disse enfezado.

- Se não quisesse que eu o visse nesse estado não deveria ter feito mais uma das suas molecagens! Está com fome? Vamos descer, você me diz onde encontro as coisas e eu preparo alguma coisa para você comer antes de se deitar. – respondi.

- Não me trate como se eu fosse uma criança! Estou doido para dar umas porradas na cara de alguém, portanto, não me provoque! – ameaçou.

Na cozinha ele foi me indicando onde ficavam as coisas e eu preparei uma daquelas omeletes que ele tinha elogiado quando passou a noite no meu apartamento, também depois de uma bebedeira. Ele a devorou em minutos. Eu tentei extrair dele a razão por estar tão transtornado, mas ele tinha dificuldade de expor seus problemas e ressentimentos.

- Você pode me levar até o aeroporto amanhã pela manhã? – perguntei, enquanto terminava de lavar a louça que havíamos sujado. Ele me encarou espantado.

- Não!

- Ok! Vou chamar um taxi então. Não faz sentido eu continuar aqui entre sua família sem a sua presença. – eu ia deixa-lo e ir para o quarto quando ele voltou a falar.

- Meu pai quer que eu vá para Buenos Aires com ele, por dois dias, para tratar de uns assuntos de exportação com alguns interessados em nossos vinhos. – disse ele, antes de eu sair da cozinha. – Ele sabe que eu não estou nem um pouco interessado nos negócios dele e, muito menos de me envolver neles. Um dos meus irmãos pode ir com ele. Não precisava me aporrinhar durante esses poucos dias com coisas que ele sabe que eu detesto. Ele faz de propósito. – acrescentou.

- Você me mostrou a vinícola com tanta empolgação, não acredito que não goste e, não se orgulhe do que seu pai construiu. – afirmei.

- Ele me acusa de ser um irresponsável, um preguiçoso que só se move quando obrigado. Forçou-me a estudar direito pensando em como eu serei útil para os interesses dele. Não quero ser manipulado. Estou de saco cheio das cobranças dele.

- Faça um exame de consciência e você vai ver o quanto gosta da vinícola. Há tanto que você pode fazer como advogado para os interesses comerciais da empresa e, não para o seu pai. O que custa você acompanha-lo? Dois dias não são nada, e você pode se interessar por alguma coisa, acho que é isso que ele está te oferecendo, uma chance de ver no que você se interessa. – ponderei.

- Eu não sirvo para você por que me acha um moleque irresponsável, não é? É por isso que não deixa eu comer o seu cuzinho, estou certo, não estou? Você é igual a todos eles. – sentenciou.

- Não volte a mencionar que não serve para mim! Eu nunca disse isso para você! – respondi exaltado.

- Mas pensa isso de mim.

- Você não tem a menor ideia do que penso a seu respeito! – eu não podia lhe dizer o quanto estava apaixonado por ele, pois não queria ser fodido e depois largado sem nem um pouco de remorso. – Se você acha que os outros te julgam um irresponsável, faça por merecer e mude sua postura. – afirmei.

- O que você quer? Que eu fique igualzinho aquele velho com quem você sai e, para quem certamente dá o cu por ele ser responsável, maduro e digno do seu rabo? – questionou, referindo-se a um amigo da minha família que tinha me ajudado bastante durante a minha mudança e instalação em Buenos Aires, inclusive me ajudando a encontrar meu apartamento.

- Ele não é nenhum velho, como você diz, ele tem trinta e seis anos e, é um amigo da minha família. Você está me ofendendo ao afirmar, sem nenhuma base, que ele e eu tenhamos qualquer envolvimento que não seja uma amizade. – afirmei.

- Eu posso imaginar que tipo de amizade vocês têm!

- Chega Miguel! Seu pai pode estar coberto de razão! Deixe de ser moleque! Aqueles seus colegas de republica são o protótipo de caras com os quais você se entende bem. Um bando de irresponsáveis que não quer nada com nada. Você quer isso para a sua vida, então vá adiante!

- Vá à merda!

- Eu vou, não se preocupe! Amanhã pela manhã, se você me permitir, pois acho que há essa hora não encontro mais voos para Buenos Aires. – revidei, deixando-o resmungando com as paredes e subindo para o meu quarto.

- Espere! Desculpa! Você me irrita e depois foge. – disse, vindo ao meu encalço.

- Amanhã conversamos! Acho que por hoje já nos ofendemos o suficiente. – retruquei.

- Amanhã, não! Você não vai a lugar algum sem mim, está entendendo? Você só volta para Buenos Aires quando eu voltar, estamos conversados? – impôs, me prensando contra a parede do corredor próximo à porta do meu quarto.

Desci cedo na manhã seguinte e fui encontrar a mãe dele e uma empregada preparando o café. Eu ia dizer a ela que tinha decidido regressar a Buenos Aires naquela manhã, quando ela me disse que o Miguel tinha ido viajar com o pai e, tirando uma folha de papel dobrada do bolso do vestido, a estendeu na minha direção.

- É para você! O Miguel pediu que a entregasse e, te dissesse que se você não estiver aqui quando ele voltar, você vai ter muito que se haver com ele.

- Obrigado! Então ele decidiu acompanhar o pai? – questionei.

- Sim! Não sei o que deu nele, até o pai dele se espantou quando ele entrou no nosso quarto esta noite dizendo que ia acompanha-lo.

- Que bom! Ele parecia contrariado ontem. – comentei.

- Ele e o pai tiveram mais uma de suas discussões. Esses dois vivem se estranhando. Mas, pelo que entendi nesse bilhete, você e o Miguel também tiveram um desentendimento. – disse ela.

- Digamos que tivemos apenas opiniões diferentes sobre um mesmo assunto. – respondi, não querendo entrar em detalhes.

- Você pensava em partir antes do fim das férias? Eu ficaria muito triste se você fizesse isso. Todos gostamos muito de você, aqui em casa, lamentaríamos vê-lo partir de nossa casa contrariado. – argumentou ela.

- Vocês são pessoas adoráveis! Jamais sairia contrariado daqui. Fiquei aborrecido com algumas coisas que o Miguel me disse, só isso. – revelei.

- Ele é um bocado turrão, não leve tudo ao pé da letra. Tenho certeza de que ele gosta muito de você. Uma prova é ele ter trazido você para cá. Ele nunca trouxe um colega de escola ou amigo para nossa casa, é a primeira vez. E, isso já diz tudo. Você é especial para ele. – as palavras dela me tranquilizaram e me demoveram do meu intento de partir.

Dois dias depois, o irmão mais novo do Miguel e eu aguardávamos no saguão do aeroporto El Plumerillo por ele e pelo pai. Percebi pelo sorriso que abriu, a me ver ali, que se sentia aliviado por eu ter desistido de partir. Quando eles se aproximaram de nós, ele soltou a bagagem no chão e me abraçou com força, sem se importar com o olhar do irmão e do pai para aquela cena cheia de intimidade. Eu corei na hora. Não tive coragem de encará-los, pois sabia que já desconfiavam do que estava acontecendo entre o Miguel e eu.

Meu embaraço ficou evidente alguns dias mais tarde quando o pai do Miguel só esperou ficarmos a sós para ter uma conversa comigo. Ele certamente vai me questionar sobre o tipo de amizade que eu estava tendo com seu filho, pensei comigo mesmo e, apavorado, já procurava por uma resposta que não me comprometesse. No entanto, ele foi muito mais direto do que imaginava.

- Ouvi a sua conversa com meu filho naquela noite na cozinha quando ele chegou bem tarde e embriagado. – começou ele, impedindo-me de expressar a frase que eu já tinha na ponta da língua.

- Ele só exagerou um pouquinho. – disse eu, tentando amenizar a barra do Miguel.

- Não precisa defendê-lo! Sei como ele costuma resolver os problemas quando não sabe lidar com eles. Isso não é nenhuma novidade nesta casa. – sentenciou ele.

- Eu só quis dizer que ele não estava embriagado. – balbuciei, pois sabia que não o convenceria com um argumento tão fraco.

- A irresponsabilidade dele chega ao ponto de ele colocar a própria vida em risco, dirigindo naquele estado. Bem, mas não é com isso que quero encher a sua cabeça. – afirmou. Eu voltei a sentir as pernas bambas.

- Ah, não?

- Não! Você não deveria se deixar cegar pelo que sente por ele. Isso não é bom nem para você e nem para ele. Está mais do que na hora de ele encarar a realidade e as consequências de seus atos. – prosseguiu. – Ele fez acusações sérias e te ofendeu, sem o menor escrúpulo. Mas, você ainda o defende. Posso te perguntar, sinceramente, o que você sente por ele, para aceitar isso? – inquiriu.

- Ele não estava falando sério, foram apenas os goles que tomou a mais que o fizeram dizer o que não queria.

- Você ainda não me respondeu o que sente por ele.

- Eu gosto muito do Miguel. É um bom amigo, mesmo sendo complicado lidar com ele às vezes. – devolvi.

- Você está apaixonado por ele! Não precisa ser nenhum adivinho para perceber seus sentimentos. – ele me encarou de tal maneira que precisei desviar o olhar e, mesmo assim, fiquei vermelho feito um pimentão.

- Eu quero que o senhor saiba que não quero desrespeitar a sua casa e sua família. – deixei escapar como justificativa pelo que sentia pelo Miguel, antes de ele me jogar na cara que aquilo era uma pouca vergonha, como haviam feito meus pais.

- Que conversa é essa? De onde você tirou isso? Você é uma pessoa muito agradável e educada. Contudo, sei que não foi isso que virou a cabeça do Miguel e, sim, seus outros atributos que, convenhamos, você têm de sobra. – ele riu ao dizer essas palavras e lançou um olhar atrevido para a minha bunda.

Eu fiquei tão inibido que não consegui responder. Ele continuou. Eu agora estava tão perdido que não conseguia imaginar onde aquela conversa nos levaria.

- Ele está tão ou mais apaixonado por você do que você por ele. Sei que foi aquela conversa que tiveram que o fez mudar de ideia e ir comigo para Buenos Aires. Pela primeira vez ele está vendo que sua infantilidade o está impedindo de conseguir o que deseja. E, isso é muito bom. Não ceder ao capricho dele de fazer sexo com você, está fazendo-o refletir. – eu continuava mudo e perplexo. – Você acertou em cheio quando disse que aqueles amigos com os quais ele vive são uma péssima influência. É do comportamento deles que ele tira coragem para nos desafiar, para ter um péssimo desempenho na faculdade e, para desperdiçar todas as chances que estamos dando a ele. – continuou.

- Preciso concordar com o senhor nesse aspecto. Não gosto daqueles sujeitos!

- O importante é que você gosta do Miguel! Se você o ama como eu e a mãe dele supomos, creio que em breve ele vai deixar aquele lugar. Eu já propus que ele se mudasse de lá inúmeras vezes, mas ele não cedeu até o momento.

- Vou tentar convencê-lo! – prometi.

- Sei que vai. Posso te pedir mais um favor? – questionou ele.

- Claro! Se estiver ao meu alcance. – respondi.

- Com certeza está! Dê-me um abraço. – disse, tomando-me em seus braços e me puxando para junto do corpo vigoroso e másculo, apesar de ligeiramente acima do peso. – Jamais revele à minha esposa o que vou te dizer agora, senão teremos uma catástrofe nessa casa. Desde a sua chegada você conseguiu deixar a todos nós de pau duro. Tenho orgulho dos meus varões, nenhum deles resistiu aos encantos dessa bundinha roliça e arrebitada. Você precisa nos perdoar pela sinceridade, mas não há como ser indiferente aos seus atrativos. Eu me senti uma ovelha num covil de lobos famintos e, estremeci quando ele apalpou descaradamente a minha nádega.

- O que está rolando aqui? Um complô contra mim? – questionou o Miguel, que acabava de entrar no ambiente, e não viu quando o pai tirava apressada e disfarçadamente a mão da minha bunda.

- Estou tentando convencer seu amigo a vir trabalhar conosco quando terminar a faculdade. – disse ele, soltando-me.

- Um arquiteto? Trabalhando na vinícola? Só se for para ele projetar a disposição dos vinhedos! – exclamou o Miguel, rindo.

- Alguém interessado é tudo de que precisamos por aqui! – sentenciou o pai, numa indireta que o atingiu em cheio.

Nossas férias terminaram e a mãe do Miguel fez um super jantar caprichado para toda a família, onde as namoradas dos irmãos dele também estavam presentes. Diante de todos tive que prometer que voltaria nas férias de verão. Segundo a mãe dele eu estava definitivamente incorporado à família, se bem que eu não sabia muito bem o que isso significava, mesmo notando que as piscadelas que os irmãos do Miguel trocaram com ele tinham algo de gozador. Na manhã seguinte, entre os efusivos abraços de despedida, os dois também aproveitaram para agarrar minha bunda e, fizeram questão que o Miguel visse sua libertinagem.

- Folgados esses seus irmãos, hein? Fiquei sem-graça com a sacanagem deles! – afirmei, quando começamos a pegar a estrada.

- Estavam tirando uma com a minha cara, para variar! – exclamou ele, aparentemente sem se importar com o fato. – Ao contrário do meu pai, que te deu um amasso só para vir me dizer que eu tenho um bom faro de macho. – emendou.

- Não acredito que vocês sejam tão sem-vergonhas!

- O que é belo e gostoso deve ser aproveitado, não acha? – perguntou, com um sorriso ladino.

- Não! Não acho! Pode ser apreciado, mas não aproveitado! Que desplante! – protestei. Ele riu e eu dei um tabefe de leve na cabeça dele; uma vez que estava com as duas mãos no volante e não podia reagir.

Chegamos à noite em Buenos Aires. Ele me deixou diante da portaria do meu prédio e não fez nenhuma menção de querer subir. Eu estranhei, pois durante toda a viagem fiquei imaginando o momento em que ele ia subir fingindo me ajudar com a bagagem ou inventando algum pretexto, só para ir ficando por lá e se enfiar mais uma vez comigo na cama e, talvez, desta vez logrando êxito no seu intento de me comer. Mas, sua atitude me deixou desconcertado. Eu bem que queria que ele usasse suas artimanhas para subir. Ele, apesar de cansado por ter dirigido quase todo o trajeto de volta, estava muito gostoso dentro de um jeans meio surrado, uma camiseta grossa bem justa ao redor do tronco musculoso e, uma jaqueta de couro que deixava seus ombros ainda mais largos e viris. E, eu já me imaginava vendo ele se despir no meu quarto para tomar uma ducha e me presentar com a visão de seu corpo sensual e potente. Até fantasiei entrar no chuveiro com ele e começarmos a transar ali mesmo, antes de continuarmos nos amando sobre a cama.

- Então até amanhã. Vemo-nos na universidade! – disse ele, após me dar um beijo na bochecha e esperar eu descer do carro.

- Boa noite, então! Obrigado por esses dias! Foram férias maravilhosas! Nem em sonho eu podia imaginar dias tão agradáveis e felizes como os que passei com você. – Tirei minhas coisas do porta-malas sem nenhuma pressa, tentando prolongar aquele instante para ver se ele não mudava de ideia e pedisse para subir.

- Valeu! Também curti cada dia.

- Você não quer subir? – eu não aguentei, tinha que fazer alguma coisa para ter aquele rosto com a barba por fazer entre as minhas mãos e cobri-lo de beijos.

- Estou exausto! Boa noite!

- Boa noite! Você deve estar com fome, pelo menos eu estou faminto. Quer comer alguma coisa? – não custava tentar.

- Até para isso estou cansado. Fica para outra vez.

- Ok! Até amanhã, então! – fazer cara de decepcionado podia ajudar, então eu a fiz antes de ir até a janela dele e dar mais um beijo que, infelizmente, não acertou a boca dele, apenas um canto da bochecha.

Peguei o elevador e, antes das portas se abrirem no meu andar, uma lágrima desceu pelo meu rosto. Fui tão rígido com ele que acabou desistindo, pensei. Ele vai manter algum contato por um tempinho e depois não vamos mais nos ver. Vai me dispensar e procurar alguém menos complicado. Eu não conseguia enfiar a droga da chave na fechadura, pois meus olhos estavam encharcados de lágrimas. Que idiota eu fui! Pensar que um cara gostoso como ele ia dar-se ao trabalho de ficar me conquistando. Você não aprendeu com os outros dois? É trepar gostoso enquanto tudo está bem, sem muita frescura e exigências. Quando as coisas começam a complicar é só dar o fora, simples assim. Por que o Miguel seria diferente? É só ele acenar para que um bando de caras ou garotas se prontifiquem a abrir as pernas e deixar aquele gostoso enfiar aquela jeba descomunal onde melhor lhe aprouver. O único babaca é você, que achou que ele está tão apaixonado por você quanto você está de quatro por ele. Mas, não foi exatamente isso que o pai dele te falou? Então, por que duvidar? Ele é pai, deve conhecer o filho melhor do que você. Desta vez ele se enganou, só pode ser isso. Todos esses pensamentos passavam pela minha cabeça enquanto tomava uma ducha, depois quando preparava um lanche com o que encontrei na geladeira e, quando olhei desanimado para a quantidade de bagagens que estavam espalhadas pelo apartamento e, que eu teria que por em ordem nos dias seguintes. O interfone tocou uns quarenta e cinco minutos depois de eu ter chegado, tirando-me daquele marasmo e me obrigando a secar os olhos úmidos.

- Oi, sou eu! Posso subir? – meu coração deu um pulo em meu peito maior do que o que eu tinha dado para atender o interfone. Era ele.

- O que aconteceu? Está precisando de alguma coisa? Você está de carro? Quer coloca-lo na garagem? – a euforia na minha voz era evidente.

- Explico quando chegar aí. Não. Estou. Quero.

Eu estava no hall diante do elevador que parecia não chegar nunca ao meu andar. O que poderia estar acontecendo para ele ter voltado? Esqueci alguma coisa no carro? Para que dar-se ao trabalho de trazê-la a esta hora da noite? Droga! Essa porra não chega nunca! A mochila principal dele estava em seus ombros, a jaqueta estava aberta e o peito largo dele era tudo que eu via, além daquele sorriso doce em seu rosto. Atirei-me em seus braços e o apertei com toda a força entre os meus. Só então senti aquele frio estranho nas pernas, eu estava de cueca com apenas um blusão de moletom em pelo hall do elevador.

- Isso tudo é saudade? – questionou ele, aproveitando para enfiar a mão dentro da cueca até conseguir apertar minha nádega. Eu não protestei como ele esperava, o que o surpreendeu.

- Que bom que você está aqui! – exclamei e, antes de ele poder dizer qualquer coisa, colei minha boca na dele, onde o safado não perdeu tempo de enfiar também a língua.

- O que foi que eu fiz para merecer tudo isso? – inquiriu, com um sorriso desconfiado.

- Você existe! É isso, só isso! – sussurrei, antes de ele voltar a morder meus lábios com sua boca ávida e quente.

Ele estava cansado, queria dormir. Ele queria um banho. Ele estava com fome. Ele queria meter em mim. Ri quando ele expos suas necessidades. Elas pareciam vir de encontro a tudo que eu estava disposto a fazer por ele. Só ele ainda não sabia que as teria todas atendidas. Quando restavam apenas tomar uma ducha, me comer e dormir, seu semblante já tinha aquela expressão sacana que me deixava todo trêmulo e excitado. Deslizei uma das mãos sobre os pelos do abdômen que desciam numa trilha sensual até sua virilha quando ele estava debaixo do chuveiro com os cabelos todos ensaboados. Sua reação ao meu toque foi imediata. Seus músculos se retesaram, uma expiração que vinha do fundo de seus pulmões deixou o ar escapar num sibilo rouco, as mãos que se moviam entre seus cabelos pararam de se mexer por alguns segundos, refazendo-se da surpresa daquele toque e, seus lábios esboçaram um sorriso de satisfação.

- O que deu em você? Não estou entendendo o que se passa. Você está todo esquisito. – murmurou ele.

- E você, ainda não me respondeu por que voltou para cá. – afirmei, cessando por um momento o movimento da minha mão sem, no entanto, tirá-la de sua barriga.

- Voltei porque achei seu comportamento ao nos despedirmos, muito estranho. – afirmou ele. – eu estava adorando essa mão boba. – acrescentou.

- Quer dizer que estou esquisito? – indaguei rindo.

- Deliciosamente esquisito! – exclamou, puxando-me para debaixo da água.

Eu guiei minha mão para dentro de sua virilha pentelhuda e peguei naquela rola imensa e pesada. Ele soltou um suspiro. O caralhão começou imediatamente a ganhar consistência e endurecia entre os meus dedos. Ele tornou a enfiar a mão dentro da minha cueca, que era a única peça de vestuário que eu usava.

- Sou tarado por essa bunda, sabia? – rosnou ele, enquanto me beijava.

- Já deu para perceber! – respondi.

- Quero ser o dono dela e, de todo o resto. – afirmou.

- A ideia me agrada bastante. – retruquei.

- Sério? Há alguns dias, lá na cabana em Potrerillos, você não demonstrou isso. – argumentou.

- É que desde lá descobri um outro Miguel, capaz de me surpreender e me fazer sentir orgulho dele. – respondi.

- Será que tenho dubla personalidade? Pois este aqui é tão tarado por você quanto aquele lá. – caçoou.

Eu apertei o pau dele na minha mão. Ele afastou o corpo e protestou.

- Ai! Isso aí é bem sensível, viu? É bom cuidar muito bem dele se estiver com segundas intenções. – afirmou, voltando a enfiar o cacetão já duro na mão que o circundava.

- Como essas aqui? – questionei, antes de me ajoelhar diante dele e colocar a pica na boca. Na maior pressa ele enxaguou os cabelos e abriu os olhos, voltando seu olhar admirado para a minha boca, onde os lábios chupavam delicadamente sua glande estufada.

- Afffff! Você vai me matar de tesão desse jeito!– suspirou ele.

Eu já não o ouvia. Estava com tanto tesão sentindo aquele caralho crescendo na minha boca que só me concentrei em lambê-lo, chupá-lo, degustar cada milímetro da carne quente que pulsava entre os meus lábios. O Miguel desligou a ducha, começou a se enxugar, mas mantinha as pernas ligeiramente abertas e, enquanto secava meus cabelos, aproveitava para segurar minha cabeça e estocar do pau na minha garganta. Eu precisava me segurar em suas coxas peludas para conseguir forças para não sufocar com aquela tora entalada na minha boca. O sacão balançava pesado e libidinoso bem diante do meu rosto e, quando consegui tirar a rola da minha boca por um momento, comecei a mordiscar e chupar suas bolas. Ele grunhia e murmurava alguma coisa que eu não conseguia distinguir, embora desconfiasse que fossem sacanagens, pois o jeito com que ele as pronunciava, só fazia aumentar o meu tesão. E, suponho eu, o dele também. Não demorou a pegar na pica e a enfiar novamente na minha boca. Desta vez suas estocadas foram mais violentas e selvagens. Eu continuava a apertar os lábios ao redor do cacetão e, com a língua, massageava sua glande. Um fluído salgado se mesclou à minha saliva. Eu o encarei. Ele me encarava e sua pelve começou a se retesar. Agarrando mais uma vez minha cabeça, ele enfiou meu rosto na sua virilha, o primeiro jato de porra encheu minha boca. Eu soltei um gemido sufocado. Ele urrou e meteu a pica mais fundo, outro jato de porra desceu diretamente pela minha goela. Achei que fosse me afogar naquilo tudo. Um a um, fui engolindo o sêmen espesso e viscoso, que ele despejava em jatos fartos na minha boca. Não me lembro da porra do José Carlos e do Ricardo serem tão saborosas quanto à do Miguel. O que talvez tenha conferido a ela esse sabor tão divino era o fato de eu sentir pelo Miguel algo que nunca tinha sentido pelos dois e, nem por ninguém.

- Você não imagina quantas vezes eu sonhei com isso. – disse o Miguel; quando já estávamos na cama, nus e enroscados um no outro, nos acariciando mutuamente.

- Pelo menos valeu à pena esperar? – perguntei num sussurro, enquanto beijava seu queixo.

- Cada um dos torturantes segundos que você me fez esperar! – exclamou. – Mas, eu devia te punir por todas as vezes que me deixou de pau duro e me deixou na mão. – acrescentou, apertando minha bunda.

- Prometo te recompensar se você se comportar! – devolvi, começando a brincar com seu cacete, ainda flácido, largado pesadamente sobre sua coxa.

Ele me apertou contra o corpo e começou a me beijar, logo enfiando a língua na minha boca. Era incrível essa gana que ele tinha de entrar em mim. Bastava uma brecha e lá estava ele se imiscuindo em meus orifícios. Enquanto eu retribuía seu beijo, ele enfiou um dedo no meu cu. Meus esfíncteres travaram ao redor daquele dedo pecaminoso, retendo-o e devorando-o com um tesão tresloucado. Pela cabeça do Miguel só passava a imagem daquele cuzinho engolindo seu caralho com a mesma ganância e sofreguidão. Ele veio para cima de mim, abriu ligeiramente minhas pernas e, gingando a pelve, fazia o cacetão roçar meu rego devassado. Eu gemia de ansiedade e desejo. Embora soubesse das consequências, tudo o que eu queria naquele momento era sentir o Miguel dentro de mim.

- Ai Miguel! – suspirei afoito. Ele soube interpretar essa expressão agoniada.

- O que foi Phillip? Está com tesão no cuzinho? O que é que posso fazer para te ajudar? – perguntou com um sorriso lascivo nos lábios.

- Entra em mim! – balbuciei, lambendo meus lábios o que o deixou maluco.

Com o peso todo apoiado sobre o meu corpo, ele me encurralou entre suas coxas potentes, prendendo minha bunda em sua virilha, me dominando para eu não lhe escapar quando fosse meter a pica no meu cu. Ele se esfregava em mim e fazia o pau deslizar dentro do meu rego. O fluído pré-ejaculatório me deixou todo molhadinho. Guiando o cacete com uma das mãos, ele apertou a cabeçorra contra meu buraquinho rosado que se contraia em espasmos involuntários. Forçando a penetração, ele conseguiu fazer a cabeçorra passar na terceira tentativa, dilacerando minhas pregas e me obrigando a soltar um grito agoniado. Ele era muito maior do que eu imaginava e que pude constatar quando vi o caralhão solto entre suas pernas. Agora, cheio de tesão e duro como uma barra de ferro, o tamanho descomunal de seu membro me infligia uma dor tão pungente que pensei não suportar.

- Relaxa! Senão vou te machucar. Não era isso que você queria, minha pica nesse cuzinho delicioso? – grunhiu ele, mordiscando minha orelha.

- Não vou aguentar Miguel! – gemi, agarrando os lençóis até as pontas dos meus dedos ficarem isquêmicas.

- Você só precisa relaxar! Abre o cuzinho para mim, abre! – ronronou ele. Eu só queria saber como se fazia isso com algo tão grande entalado no cu e toda aquela dor se espalhando pelo baixo ventre.

Ele esperou alguns instantes, deixando-me respirar e me acostumar àquilo no cu, antes de continuar a meter a jeba em mim. Enquanto eu gania, ele se excitava e me devorava as entranhas. Apesar do tempo de latência desde seu gozo na minha boca, ele levou mais de quinze torturantes minutos para despejar mais um bocado de porra no meu cu. Eu já tinha gozado na toalha de banho que ficara debaixo do meu corpo e que, agora, também se manchava com o sangue que vertia das minhas pregas rasgadas. Eu tive mais um orgasmo e voltei a gozar mais um pouco, quando ele ainda estava completamente dentro de mim e seu pau pulsava preso pela minha mucosa úmida e quente. Como eu queria perpetuar aquele momento por toda a eternidade. A felicidade que estava sentindo não se comparava a nada do que eu já tinha sentido.

- Eu amo você, Miguel! – exclamei, entre algo que se parecia com um gemido e um sussurro.

- E eu amo você, Phillip! – grunhiu ele, arfando como um touro na minha nuca.

Ele ainda levou outro quarto de hora antes de tirar seu membro, que insistia em não amolecer, de dentro de mim. Atirou-se sobre o colchão ao meu lado e apoiou a cabeça sobre as mãos cruzadas no travesseiro. Havia um sorriso de prazer e satisfação em seu rosto plácido. Eu me apoiei nos cotovelos e aproximei meu rosto do dele. Meu sorriso tinha a mesma expressão do dele. Beijei sua boca. Ele me retribuiu o beijo e puxou minha cabeça com uma das mãos para junto dele. Continuei a beijá-lo, na testa, na orelha, nas bochechas, na ponta do nariz, no bordo da mandíbula e no pescoço, ele apenas me franqueava as superfícies, desejoso daquele carinho que nada mais era do que a minha devoção por seu desempenho másculo e viril. Eu não tinha mais nenhuma dúvida de que o amava tanto quanto é permitido a um ser amar o outro. Bem como, não tinha mais dúvidas de que ele era aquele homem por quem tanto procurei e, que ia chamar de meu até o último dos meus dias.

- Você faz ideia do quanto eu te amo? – perguntei, quando ele ficou me encarando tão de perto que eu podia sentir o ar que ele expirava roçando minha pele.

- Faço, pelo que você fez a pouco, se entregando para mim como ninguém jamais havia feito. – respondeu ele. – Você é o cara mais complicado que eu já conheci, mas é o único capaz de criar um reboliço no meu peito que sempre me deixa confuso. – acrescentou.

- E, isso é bom ou ruim?

- É bom, porque nunca gozei tanto e tão prazerosamente como há pouco. É ruim, porque sei que você mexe tanto comigo que nunca sei se sou eu que domino você ou se é você que me faz de gato e sapato. – retrucou.

- Por que você quer dominar?

- Porque sou um macho criado para fazer isso! E, ter você à minha mercê, debaixo de mim, gemendo sob meu jugo é a sensação mais gostosa que pode haver. – afirmou.

- Que cruel!

- Não é assim que a natureza funciona? O macho alfa dita as regras para os outros machos que não são tão machos quanto ele.

- Isso pode ser válido no mundo animal, mas não entre pessoas.

- Somos animais dotados de razão. Mas, continuamos animais com desejos tão primitivos quanto qualquer outro.

- Que pensamento maluco! Viu por que é difícil lidar com você? Nunca sei se você quer me fazer de capacho ou se simplesmente está querendo meu carinho. – afirmei.

- Quero os dois! – exclamou convicto.

- Arre! Você podia ser mais sutil!

- É por isso que te amo tanto! Você me compreende e aceita meus defeitos, embora esteja o tempo todo querendo me corrigir.

- Quem sabe se não sou eu que estou no comando e você nem desconfia disso? – inquiri, com um risinho malicioso.

- Toda vez que eu tiver essa dúvida, sei como deixar as coisas às claras! – retrucou. No mesmo instante, ele voltou a se atirar sobre o meu corpo, abriu minhas pernas e meteu o cacetão no meu cuzinho esfolado. Eu gani quando meus esfíncteres se contraíram ao redor daquela jeba grossa. – Agora me responde, quem é que está no comando aqui? – desafiou, me encarando. Eu o puxei para mim e colei minha boca na dele. Todo o furor com o qual tinha me agarrado se transformou em puro carinho e cuidado.

Umas seis semanas depois, o Miguel se mudou de vez para o meu apartamento. Já havia tantas coisas dele espalhadas pelos ambientes que sua presença, mesmo quando não estava fisicamente em casa, me era totalmente familiar. Tão logo o pai dele soube da novidade, me enviou um e-mail expressando sua felicidade por eu estar fazendo de seu filho o homem responsável que ele sempre desejou. O Miguel se transformava a cada dia. Começou a ter um desempenho excepcional na faculdade, largou aqueles colegas que só pensavam em zoar, fazia planos para o futuro e, até começou a verbalizar que, talvez, pudesse vir a trabalhar nos negócios da família.

- Quero casar com você! – disse ele, numa tarde chuvosa quando olhávamos a chuva sendo fustigada contra as vidraças do quarto, num domingo preguiçoso e, eu e ele estávamos enrodilhados um no outro, nus, após uma transa maravilhosa.

- Tudo ao seu tempo! – retruquei.

- Ok, tudo há seu tempo! Ou você não quer casar comigo? – questionou.

- É o que mais quero nessa vida. Embora, já me sinta casado com você. – respondi.

- Quero ter um papel que oficialize que você é meu! Só para ter certeza, sabe, uma garantia! – exclamou, rindo.

- Sei! Uma garantia? Só você e suas ideias!

- Penso como um causídico! Tudo preto no branco!

Embora minha família já soubesse do meu envolvimento com o Miguel, eu nunca o havia levado até a casa dos meus pais. A reação deles frente ao que tinha acontecido com o José Carlos e o Ricardo tinha me desestimulado a apresenta-lo a eles. Mas, por insistência da minha mãe e, também do Miguel, acabei cedendo e, quando cursava o último ano do meu curso na faculdade que era mais longo que o dele e, quando o Miguel já estava formado e trabalhando num escritório de advocacia, fomos passar duas semanas em São Paulo, durante as minhas férias.

Houve muitos momentos de constrangimento nos primeiros dias. Longos silêncios que falavam mais do que palavras. Uma censura velada parecia pairar no ar. Eu quis abreviar nossa estadia, mas o Miguel insistia em ficar. Até que um dia, quando estávamos na casa de praia, o Miguel disse que queria se casar comigo. Ele expressou sua intenção sem meias palavras ou rodeios. Sua intenção foi a de chocar meus pais e irmãos e, conseguiu.

- Eu só queria que vocês soubessem. Sei que não querem ficar expostos a comentários de amigos, conhecidos e parentes, por isso não vamos conviver com vocês. Não terão que sentir vergonha do amor que seu filho sente por mim e, eu por ele. Não vamos impingir nossa presença a vocês. Eu apenas queria que vocês respeitassem o desejo de seu filho, aceitando ou não nossa união que, aliás, é um fato consumado em todos os sentidos. Eu sei o quanto o Phillip ama vocês e o quanto sofre por ser rejeitado. Eu sou tremendamente grato aos meus pais por tentarem dar a ele todo o afeto que vocês lhe negaram. E, lamento que a vida não possa ser diferente. – sentenciou, enquanto um silêncio sepulcral pairava no ar.

Meu pai tinha no rosto uma expressão pesada. Pela primeira vez, eu não soube interpretar se aquilo era raiva, medo ou preocupação. Minha mãe enxugava as lágrimas que lhe foram aflorando aos olhos enquanto o Miguel discursava. Meus irmãos tinham um olhar perplexo, muito menos crítico do que aquele com o qual sempre me encaravam. Eu tentei articular alguma coisa para reverter aquele clima pesado, mas não encontrava nada sensato para dizer. Foi meu pai, pegando na mão da minha mãe que estava ao seu lado, que quebrou o silêncio.

- Você é bem ousado, meu jovem! Não sei se aprovo, ou não, esse comportamento, mas isso não vem ao caso. Talvez a sua coragem e, a do Phillip, ao levar sua vida afastado de nós, depois do que houve por aqui, me fez repensar minha atitude. Hoje não me orgulho nem um pouco dela. É certo que o mundo mudou, demorei a perceber isso. – suas palavras ecoavam em meus ouvidos e eu temia pelo desfecho daquela conversa. – Foi muito mais difícil para sua mãe e eu vivermos todos esses anos longe de você. E, se você um dia puder nos perdoar pelo que lhe fizemos, nos consideraremos abençoados pelos filhos que tivemos, não é querida? Cada um de vocês é único e, nós amamos essas diferenças. – afirmou, enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas.

- Eu amo vocês! – balbuciei, procurando não prolongar aquela situação.

- E nós a você! – respondeu minha mãe, vindo me abraçar.

Eu nunca podia imaginar que aquilo fosse acontecer algum dia. Depois de receber um abraço de cada um da minha família, fui me abrigar no peito largo e protetor do Miguel. Parecia que um peso enorme havia saído dos meus ombros, como se eu me culpasse por ter nascido homossexual.

Depois de dois anos trabalhando num escritório de arquitetura em Buenos Aires, recebi um convite para passar mais dois anos num conceituado escritório de arquitetura em Amsterdã. O Miguel me acompanhou e fez um curso de relações internacionais, visando se inteirar da legislação de comércio, importação e exportação internacionais. Ao término dessa experiência, fomos morar em Mendoza. O Miguel começou a por em prática seu aprendizado incrementando os negócios da vinícola. Eu abri meu próprio escritório de arquitetura, valendo-me dos prêmios que conquistei com dois de meus projetos premiados enquanto trabalhava na parceria em Amsterdã. Ficamos morando na casa dos pais dele enquanto construíamos a nossa.

Era um projeto discreto de pouco mais de 300 metros quadrados, implantado num bairro tranquilo que ficava no que os argentinos chamam de Piedemonte, uma encosta junto a um morro, ao qual eu dedicara horas de ensaios e um carinho todo especial por ser o nosso futuro lar. O Miguel adorava todo o esboço que eu lhe apresentava, não importando o quão diferente um fosse do outro.

- Desse jeito você não me ajuda em nada! Tudo sempre está bom para você. – exclamei, mais uma vez frustrado por ele não firmar uma opinião.

- Amo tudo que você faz! Que culpa eu tenho? – dizia, fazendo uma carinha de desamparo.

Nem acreditei quando passamos a nossa primeira noite na casa recém-construída. Eu não cabia em mim de tanta felicidade. Não me cansava de olhar para cada objeto e relembrar a história de como ele veio compor nossa casa. Para marcar a data, preparei um jantar eu mesmo, quis impressionar o Miguel quando ele chegasse da vinícola. Ele me entregou uma caixa enorme, que mal dava para segurar, junto com seu beijo ao entrar em casa. Nela havia um filhote de pointer inglês, que me encarou curioso com seus olhos castanho-claros e, emitiu uns ganidos de alegria, assim que retirei a tampa.

- Amo você! – sussurrei, quase chorando, pois sabia que ele era o homem com o qual sempre sonhei. E, ele era todinho meu.

- Tenho certeza de que vou ser muito feliz com vocês dois nessa casa. – disse ele, tomando-me em seus braços e me beijando numa volúpia desenfreada com eu já sabia como seria amenizada.

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Comentários

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Meeeeeeeeeeeeeu Deus!

Eu ameeeeeei!!

Lindo, forte, emotivo, romântico, fofo, quente e safado! Tudo ao mesmo tempo! Perfeito e um sonho

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q inveja........algo assim é um sonho, mas sonhos infelizmente nao viram realidade ao menos na leitura podemos roubar e ter um pouco pra nossas vidas

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OI que bom que voltou ja sentia falta dos seus contos, nota mil pra vc, abraços e um 2019 cheio de realizaçoes pra vc ok, ha e mais contos tambem kkk, bjos no seu coraçao!!!!

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Posso ser clichê, mas eu amo demais quando os teus contos terminam com um final feliz.Você é demais, continue escrevendo por favor.

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Há muito não Lia uma narrativa tão digna de atenção. Um deleite. Conte-nos mais.

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Vc começou o ano com mais um conto nota 1000. Parabéns, seus contos são perfeitos...Já ansiosa pelo próximo capítulo. BJS QRDO.

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Teus contos são simplesmente perfeitos. Me sinto muito assim, com muita energia dentro de mim, porém não para ser usada da maneira bruta, e o que busco é um macho, e não tenho vergonha de falar. A maneira como descreve é perfeita, a narrativa, os diálogos, tudo. És um excelente escritor e fico muito feliz quando nos agracia com alguma coisa que produzes. Um grande abraço e que o destino e sua mente nos reserve tantas outras alegrias.

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Como sempre, um conto maravilhoso. Lastimo o comportamento da família de Phillip, que aliás, é o de muitas famílias. Adorei a postura de Miguel frente à família de Phillip. Um abraço carinhoso para ti.

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