SEGUE MAIS UM EPISÓDIO DE A VIDA QUE NÃO ESCOLHI:
Lana descobriu que o pai havia perdido o emprego e precisava pagar mais de R$ 10 mil em dividas, assim como Samuel, ela também era bolsista. Arrasada, a jovem desabafou com seus amigos. Ela disse que se a situação agravasse, a família se mudaria para o Rio de Janeiro. Samuel se desesperou e começou a pensar em maneiras de ajudar amiga, em menos de dois minutos, ele deu soluções, quer dizer, pelo menos era o que passava em sua cabeça.
- Podemos fazer uma venda de garagem, acho que as minhas HQ’s servem para alguma coisa. – comentou Samuel.
- Você é louco? – interveio Lana.
- Eu faço qualquer coisa para você ficar.
- Eu tenho uns instrumentos que não uso, acham que serve? – perguntou Jonathan.
- Gente, não quero que vocês vendam nada. Agradeço a ajuda, mas não posso. – ela disse saindo da sala.
- E agora? – questionou Samuel. – Eu preciso pensar, - saindo da sala também.
- Ótimo, me deixem sozinho. – falou Jonathan abrindo o caderno.
A amizade de Lana era algo fundamental para Samuel. No intervalo, o jovem percebeu os altos preços dos lanches. Então, a ideia o acertou como um raio, literalmente, um trovão assustou a todos no refeitório. Após a aula, ele se despediu dos amigos e seguiu para o Centro da cidade. Lá, Samuel, comprou materiais necessários para a produção de bolos, o seu ponto forte.
Ao chegar em casa, Wal, ficou surpresa com as sacolas e quis saber de Samuel o motivo de tudo aquilo. Ele explicou a situação de Lana, e falou que gostaria de fazer alguma coisa para ajudar. Só havia um problema, nem Wal ou Gláucio, já tinham visto Jonathan na cozinha. A única desculpa que colou foi a internet e vídeos de receitas. Para aproveitar o momento com o enteado, Wal, topou fazer os bolos de pote.
Wal e os empregados da casa ficaram abismados com a recém habilidade de Jonathan, quer dizer, pelo menos eles pensavam dessa maneira. O interesse pela culinária, apareceu na infância de Samuel, ele adorava assistir a mãe cozinhando, e pegou várias referências dessa época. Após preparar os bolos, Samuel, perguntou se Wal não gostaria de patrocinar três camisetas, para ele e os amigos venderem os doces.
- Vou adorar. Você já tem um nome em mente? – perguntou a madrasta de Jonathan.
- Doces Sonhos. É brega, né?
- Não, querido, pelo contrário. É uma atitude nobre. Estou orgulhosa de você. – revelou Wal o abraçando.
- De nada. – ele respondeu ao abraçar Wal.
Jonathan e Lana chegaram na escola e não encontraram Samuel. Eles estranharam, uma vez que, ele era considerado o rei da pontualidade. Mas para a surpresa dos dois, Samuel, apareceu com uma camisa no mínimo chamativa, nela, havia um bolinho e as palavras ‘Doces Sonhos’. Lana, quis saber o motivo daquilo, e Samuel, mostrou os bolos que estavam dentro de uma bolsa térmica.
- Vender bolinhos? – questionou Lana. – Isso não é meio que proibido?
- Ah, não. A Wal. – olhando para Jonathan, pois, ele não gostava da aproximação da madrasta e Samuel. – Desculpa, mas a Wal conversou com o conselho da escola e vamos fazer a venda de bolinhos no pote.
- É uma boa causa, né? – destacou Jonathan. – Eu deixo.
- E eu já fiz as contas. São 30 bolos, por R$ 3 cada, ou seja, R$ 90 por dia. Até o fim do mês levantamos quase três mil.
- Gente, isso é... você é.... – gagueja Lana.
- Sou o seu melhor amigo. Não quero te perder, então, cala a boca e deixa eu te ajudar.
- E qual é o plano de ação? – perguntou Jonathan.
- Isso. – jogando as camisetas de Jonathan e Lana. – Com esse sorriso. – sorrindo para os amigos. – A gente vai arrasar nas vendas, eu garanto.
- Isso me prostitui. – reclamou Jonathan.
- Jonathan, Jon, Jonzinho. – disse Samuel abraçando o amigo. – É uma boa causa, esqueceu.
- Por favor, se prostitui por mim. – diz Lana fazendo uma carinha de bebê pidão.
- Tá bom, pode usar o meu sorriso. Eu sabia que ele ia servir para alguma coisa. – se convenceu Jonathan.
- Er, Jonathan, eu posso falar com você? – interrompeu Lorena.
- Claro. – falou Samuel seguindo a moça.
- Essa menina não me desce. – soltou Lana. – Desculpa, eu sei, ela é tua amiga, mas...
- Eu te entendo. Relaxa.
- Oi? – disse Daniel deixando Lana sem graça. – Camisa legal. Quanto tá o bolo?O que ela está tentando dizer é três reais. – cortou Jonathan entregando um bolo para Daniel.
- Obrigado, Samuel. – agradeceu Daniel pegando o bolo e saindo.
Não demorou para o trio vender todos os bolinhos feitos por Samuel. Só que teve um pequeno problema, o conselho da escola, esqueceu de avisar a demanda para o diretor Bartollo, ele chamou Samuel para conversar em sua sala. O jovem tentou explicar toda a situação, mas Bartollo o proibiu de vender os doces nas dependências do colégio.
- Diretor... é por uma boa causa. – explicou o jovem.
- Infelizmente, Jonathan, são regras. O conselho não me passou nada e alguns pais reclamaram, sinto muito, mesmo. – disse o diretor.
- Isso é injusto. Gastei dinheiro com os materiais, olha, até blusinha mandei fazer.
- Essa é a palavra final. Não quero ter essa conversa de novo.
Lorena, uma das primeiras amigas de Jonathan na escola, achou estranha a aproximação dele com Samuel e Lana. Ela descolou o telefone de Kleiton, e questionou, se estava tudo bem com o amigo. Sem entender muito, o baixista da banda Black River, afirmou que sim, que depois do acidente, Jonathan, mudou, mas nada drástico.
- A gente podia se encontrar para conversar sobre o assunto, o que acha? – perguntou Kleiton.
- Acho que sim. Eu te mando uma mensagem. – afirmou Lorena.
A jovem decidiu que iria descobrir o motivo do distanciamento de Jonathan, e quando, Lorena colocava alguma coisa na cabeça, quase nada, eu disse, quase nada, conseguia mudar sua opinião. Ela apelou para a falsidade, se aproximou de Lana, e quis comprar um de seus bolinhos, mesmo que não comesse bolos ou massas.
- Obrigado, Lorena. – agradeceu Jonathan.
- De nadinha. Sempre fico feliz em ajudar os meus amigos. – pegando os produtos e saindo.
- Eu disse, ela é legal, basta só vocês a conhecerem melhor. – destacou Jonathan para Samuel e Lana.
- Claro, uma flor de pessoa. – respondeu Lana com um toque de ironia.
- Não se preocupe, assim que acabar toda essa confusão, você pode voltar para a sua amiguinha. – avisou Samuel. – Agora, olhem. Quanto dinheiro. – contando as notas. – Amiga, a gente vai conseguir levantar os 10 mil reais.
- Obrigada, gente, de verdade, eu não me imagino estudando em outra escola.
Samuel chegou na casa de Jonathan e agradeceu Wal pela ajuda, Gláucio, pela primeira vez em muito tempo, ficou orgulhoso do comportamento do filho. Ele quis saber o que realmente estava acontecendo, e quem era a amiga que precisava desesperadamente de ajuda. Samuel explicou toda a situação de Lana, e deu uma bola fora, disse que Lana era sua melhor amiga desde a infância, mas logo se corrigiu.
- Me manda o currículo dele, filhão. Vejo o que posso fazer. – pediu Gláucio.
- Sério, pai? O senhor faria isso? – perguntou Samuel.
- Claro, filho. Essa menina merece o mundo, nunca te vi tão preocupado com outra pessoa.
- Obrigado, o senhor é o melhor. – abraçando Gláucio. – Agora, eu preciso fazer o dever de casa. – subindo para o quarto.
- O que deu nesse menino? – questionou Gláucio olhando para a esposa.
- Não sei, talvez, essa menina seja uma namoradinha. – respondeu Wal enquanto tomava uma xícara de chá.
- Verdade, meu garanhão, tá crescendo.
Jonathan precisava pegar dois metrôs para chegar na casa de Samuel. A música era sua única companheira, ele adorava sua playlist no spotify, que era: “MÚSICAS FODAS”. Em uma das trocas de estação, Jonathan, acabou sendo motivo de chacota de alguns estudantes, mas ao contrário de Samuel, o jovem se defendeu, usando até mesmo, palavras que o amigo nunca usaria. Depois do show gratuito, Jonathan, seguiu para as escadarias e esbarrou com um velho amigo.
- Oliver? – perguntou Jonathan.
- O ursinho delicia. – pensou Oliver. – Desculpa, mas eu te conheço?
- Ah, não, eu que preciso te pedir desculpa. Confundi com outra pessoa. – disfarçou Jonathan ficando mega vermelho.
- Estranho, alguém com o mesmo nome que o meu? – questionou Oliver.
- Desculpa, eu preciso ir.
- Não. – segurando no braço de Jonathan. – Podemos tomar um refrigerante?
- Como assim? Ele quer tomar um refrigerante com o Samuel? – pensou Jonathan.
- Oi? Você quer, tomar o refri? – perguntou novamente Oliver com medo de perder a oportunidade.
- Claro, vamos.
Jonathan tinha um segredo, que ele nunca contou para ninguém, o jovem era apaixonado por Oliver, quando os mesmos estudavam juntos. Só que por medo, e preconceito, Jonathan, não se declarou. Eles seguiram para uma lanchonete que ficava próxima a estação do metrô. Ainda envergonhado, Jonathan, deixava Oliver falar, a maioria das coisas, ele já sabia.
- Você não é de falar muito, né? – perguntou Oliver.
- Não. É que ninguém nunca me abordou assim. – revelou Jonathan.
- Um gordinho tão bonito. Acho difícil.
- Geralmente, os caras não gostam de gordos. – disse Jonathan, sem ter ideia do que estava falando.
- Entendi. – pegando o celular de Jonathan. – Uê. Jonathan?
- Oi? – perguntou assustado.
- Seu celular. Essa é a foto de um amigo meu. O Jonathan.
- Como assim? – pegando o celular e fingindo surpresa. – Essa não. Eu estudo com o Jonathan, a gente deve ter trocado. Você conhece, ele?
- Sim, um grande amigo. E gostaria de te pedir um favor. – falou Oliver.
- Claro, qualquer coisa.
- Não conta para ele sobre o nosso encontro. Ele é meio homofóbico. E pode espalhar para meus amigos. – revelou Oliver entregando o aparelho para Jonathan.
- Sim.
Oliver ficou feliz por finalmente ter esbarrado em Samuel, quer dizer, no garoto que ele pensava ser Samuel. Ele estava quase indo para a casa de swing, quando, optou em voltar para seu apartamento. Algo mudava aos poucos na vida do playboy, ele desejava Samuel, mas sua doença era algo que podia atrapalhar um possível relacionamento.
Na volta para casa, Jonathan, viu um anuncio de uma competição de bolos. Ele guardou o panfleto para mostrar para Samuel no dia seguinte. No quarto, Jonathan, ficou novamente na frente do espelho, ele não conseguia entender como Oliver se sentia atraído pelo corpo do colega. Uma pele branca, uns pelos espalhados, uma barriguinha saliente, era tudo o que o jovem enxergava.
- Até que o Samuel tem um rosto bonito, mas acho que eu consigo melhorar. Tive uma ideia maravilhosa.
Samuel chegou cedo na escola, trouxe uma mesa dobrável e colocou em um ponto estratégico, vestido com a blusinha do “Doce Sonho”, o jovem chamou a atenção do diretor Bartollo. Antes mesmo das aulas iniciarem, Samuel, já estava na diretoria. Segundo o diretor, vender alimentos nas dependências do colégio era inadmissível. Mas em sua defesa, Samuel, garantiu que estava vendendo os bolos na porta da escola.
Chateado, ele seguiu para a sala e todos riram de sua blusa, a raiva era tanta, que Samuel, esqueceu de tirar. Mesmo com os risos, Samuel, entrou, sentou e percebeu que Jonathan não estava lá. Ele olhou no celular, para ver se tinha alguma mensagem, e nada. Só que ele não precisou esperar muito, já que Jonathan, entrou e a turma ficou surpresa.
Os cabeços claros de Samuel, agora estavam coloridos com uma tinta azul, no nariz, um piercing falso, mas muito estiloso. Lana e Samuel não acreditaram no que viram, eles se olharam, incrédulos. Jonathan piscou para Lorena, que riu da atitude dele. O professor Bento, de química, pediu para os alunos ficarem em silêncio. O estresse em Samuel foi tão grande, que ele levantou, bateu com a mão na carteira e gritou com Jonathan.
- Que merda é essa?!
- Jonathan? – perguntou o professor.
- Er... – soltou Samuel com um sorrisinho amarelo.
- Professor... me desculpe. Eu não quis gritar e...
- Para a diretoria, os dois! – ordenou o professor.