Era uma reunião familiar. Um primo próximo aproveitaria a ocasião para nos apresentar a nova namorada, como os parentes mais comunicativamente engajados já haviam nos informado.
Uma vez no local de confraternização, demos, de bom espírito, as boas-vindas a uma mulher jovem, loira, de olhos claros e sorriso sucinto, sendo, nas entrelinhas, expansivo. Se chamava Tereza, tinha recém-chegados 21 anos e era estagiária num escritório de advocacia.
Teve uma postura tímida, chegando ao nível de canhestra. De qualquer maneira, seu rosto alçava o sublime, transparecia um sexo visceral e, ao mesmo tempo, uma paz etérea.
Eu, não.
Sou uma mulher adulta, já com 27 anos, professora universitária, independente e solteira. Sou carrancuda, até mesmo feia. Meu rosto é contraído e impassível. Sei, porque meu reflexo diz.
Normalmente, nestes eventos familiares, há despojamento ilimitado, não obstante eu adote o comportamento sóbrio necessário às minhas funções.
Todos estavam tagarelando, num há muito conhecido estágio de ebriedade, quando o tema da conversa repentinamente se voltou ao trabalho. Logo um tio comentou:
- Tereza, tu tens uma companheira de curso! Olga é pós-graduada em Direito e trabalha como professora universitária – exclamou, num descontraído sobressalto. Eu sorri discretamente, e, percebendo o olhar irrefletido que Tereza me lançou, tracei com a mão um leve aceno.
Pela proximidade e pela intimidade construída como uma ponte, por meu tio, entre mim e Tereza, engatamos numa conversa um tanto informal sobre os rumos do nosso curso superior, sobre como cheguei ao meu atual cargo e sobre os encargos que esta formação traz consigo.
- Mas, veja, minha querida, o caminho é extenso, mas excitante. Tu tens um mar de possibilidades. Só precisa se dedicar a uma. – eu disse, ante a insegurança de minha nova conhecida. – Mas agora, se tu me deres licença, vou atrás dum pouco de café. Traz conforto.
- É claro! Acho que vou contigo. – adentramos a cozinha e seguimos falando a respeito de trabalho e Universidade.
- Olga, você poderia me dar o seu número de telefone? Seria bom conversar com alguém da minha área, com experiência...
- Podes anotar agora? Entendo completamente a tua necessidade. – já estávamos voltando a sala. Encerrei a conversa falando o número de telefone.
- Bom, o tempo que estive com vocês foi ótimo, como sempre o é. Agora, se me dão licença, preciso ir pra casa.
Dei um abraço em cada um dos presentes, incluindo Tereza, e assim fui-me pra casa.
Estava apressada. Uma aluna da Universidade com a qual eu tinha um relacionamento aberto, a minha querida Eloise, havia me convidado pra um encontro. Fui até minha casa, para o banho e o aprontamento. Uma vez arrumada, num vestido preto justo, pouco acima dos joelhos, fui ao encontro de Eloise, num bar alternativo nos arredores da cidade.
- olhe só! Como estás linda, professora! – dei um longo beijo na boca de minha aluna, enquanto ela firmemente segurava meu queixo.
- nosso reencontro é digno. Além do mais, estava com saudades desses beijos que só tu sabes dar, Eloise.
- me tens agora. Total e inteiramente. Bebamos em tributo à (nossa) noite! – nos sentamos numa mesa, mesclando letra e saliva, fincando palavras às nossas bocas, uma e outra vez, repetidamente. Num desses instantes, pergunto se ela atualmente está se envolvendo com mais alguém.
- sim. Lembras de Aline, com quem sento junto amiúde? Olga, tu tens que conhecê-la, se é que me compreendes! Os trejeitos brandos contrastam perfeitamente com o ar felino e fogoso que ela tem, quando está na minha cama. É a quintessência da impetuosidade, em momentos convenientes. – a descrição me fez pensar no dia em que conheci Eloise, feita às canhas, pura tal qual o campo onde nasceu e cresceu. A metamorfose tirou-lhe o ar de graça; e fez da donzela a mundana, entorpeceu a virtude e fez irradiar vício, mas com imponência. Que bela mulher!
- quero estar contigo. Agora. Na tua casa. – Eloise achou graça, mas concordou. Me deu um beijo carinhoso e partimos para sua casa a todo vapor.