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Quando recebi aquela mensagem da Alessandra, minha colega de classe, me fiz de desentendido quando ela disse que estava interessada no rapaz que estava comigo no carro.
Me perguntou se seria possível eu dar a ela o número do Rick, mas achei melhor saber se ele não estava com alguém e, então, eu passaria seu número pra ele.
Alessandra me fez prometer que não esqueceria e, mesmo eu não estando nem um pouco afim de bancar o cupido, disse que faria de tudo para os dois se conhecerem.
Sinceramente? Senti uma ponta gigantesca de ciúmes ㅡ não da garota, mas do meu irmão. Uma namorada àquela altura do campeonato seria demais.
Com o Rick trabalhando, ele teria menos tempo pra mim e, se iniciasse um namoro, aí que ele me deixaria de lado.
Como era seu primeiro dia de trabalho na galeria, pedi que ele me deixasse no ponto de ônibus da Av. Ferreira Lima. Daquele ponto até a faculdade, era mais rápido chegar ㅡ assim, ele não precisaria dar volta na cidade toda pra me levar.
Bem que ele tentou me deixar na faculdade, mas insisti dizendo que não precisava. Argumentei que na volta, o trânsito era bem mais lento e ele poderia chegar atrasado e causar má impressão logo no primeiro dia.
Depois de muito insistir, ele aceitou me deixar no ponto e seguiu caminho até o trabalho.
Foram mais de seis meses pegando ônibus e ouvindo a Alessandra me incomoar por causa do meu irmão.
Eu sempre inventava uma desculpa qualquer pra ela nunca precisar ir em casa e, ele, não me levar até a faculdade.
Minhas estórias eram as mais mirabolantes possíveis. Cheguei a dizer que o Rick estava namorando e que estaria pensando em casamento.
Vendo que não tinha mais jeito, ela acabou desistindo e perguntou se eu realmente havia dado seu número a ele.
ㅡ ta duvidando de mim? ㅡ disse e ela começou a rir.
ㅡ não to duvidando, mas é que acho estranho ele nunca ter me ligado.
ㅡ ele ta namorando, esqueceu?
ㅡ sim, mas...sei lá! Vai que ele quisesse cair em tentação? Kkkk
ㅡ ta de brincadeira, né?
ㅡ claro! Mas ele começou a namorar faz uns três meses e já quer casar? Que doido!
ㅡ ele não quer casar logo. Só disse que essa garota é especial pra ele e, quem sabe um dia, pode casar com ela. É isso!
ㅡ tudo bem! A gente vai poder fazer o trabalho na sua casa ou ainda continua sendo segredo onde você mora?
ㅡ te encontro amanhã, na biblioteca. Preciso ir.
ㅡ não acredito nisso...
Fiz essa trama toda só para os dois não se encontrarem, mas foi muito difícil sustentar essa armação por muito tempo.
Era sexta-feira, não sei porque raios meu irmão inventou de ir me buscar na faculdade, mas ele foi.
Quando o vi no portão me esperando, olhei para todos os lados com medo da Alessandra aparecer e nos ver juntos.
Corri até ele e me recebeu em seu abraço, como sempre fez.
Eu estava inquieto e pedi que fóssemos logo pra casa, mas ouvi uma voz feminina me chamando.
Meu irmão me lembrou de que era a garota do primeiro dia de aula e tive que falar que a Alessandra estudava comigo.
Ela se aproximou e o cumprimentou meio envergonhada. Claro que eu estava em uma situação constrangedora e queria sair dali correndo, mas antes de eu enfiar o Rick no carro, ela perguntou o porquê dele nunca ter ligado antes de começar a namorar.
Ele me olhou, mas fiz cara de desentendido e ela, disse:
ㅡ pedi pro Leo te passar meu número, mas você nunca me ligou.
Quase fingi estar morrendo ali mesmo.
Em uma fração de segundos meu irmão disse que estava trabalhando demais e que acabou perdendo o número, pois eu havia anotado em um pedaço de papel.
ㅡ mas poderia ter pedido pro Leo. ㅡ ela disse e juro que quase infartei.
ㅡ então, é que ele já estava ficando com alguém! ㅡ disse, mas ela insistiu.
ㅡ sua namorada?
ㅡ isso! A gente tava só ficando, mas aí começamos a namorar e não achei legal... ㅡ meu irmão entrou no joguinho, mas me olhou de um jeito que a vontade que eu tinha, era de me jogar na frente de um ônibus.
ㅡ ta certo! Bom, eu vou indo nessa. Leo, te ligo pra combinar aquele trabalho...
Me despedi com a maior cara de pau do mundo e quando entramos no carro, ele começou a rir.
ㅡ kkkkk, mas que merda foi isso? Que estória é essa de que tenho namorada?
ㅡ ah, nem queira saber!
ㅡ nem vem, vai contando o quê você aprontou. Te conheço mano, ta na cara que você fez merda.
ㅡ ela queria ficar contigo e eu disse que você já tinha namorada. ㅡ falei logo de uma vez pra não doer tanto.
ㅡ o quê? Por que fez isso? Não vai me dizer que você é afim dela e achou que eu ia te passar a perna? Era só ter falado que era afim da garota, ué?!
ㅡ não sou afim dela. Nada a ver!
ㅡ e não me passou o número dela por qual motivo?
Eu não sabia se contava a verdade ou inventava outra mentira, mas visto o rolo que já havia se formado, achei melhor dizer logo.
ㅡ não te disse porque se você curtisse ficar com ela, não teria mais tempo pra mim. É isso! Atitude bem egoista e infantil, mas se você quer a verdade, ta aí! Só nos vemos final da noite e nos fins de semana você passa a maior parte do tempo trabalhando no ateliê. Se engatasse um namoro agora, quando que a gente ia ficar juntos?
Senti o peso dos seus olhos em mim e a única coisa que fiz, foi botar o cinto de segurança.
Ele levou a mão até meu cinto e soltou a fivela. Estava claro que ele tinha ficado puto comigo e iria pedir pra eu sair do carro, mas veio até mim e me abraçou.
ㅡ você sabe que eu te amo, não sabe? ㅡ ele disse e beijou meu rosto.
ㅡ sei! Também te amo!
ㅡ claro que ama! Eu sei que me ama. Engraçado, mas quando você foi morar lá em casa com a sua mãe, eu te vi e adorei saber que teria alguém pra ficar sempre comigo. Acho que se algum dia, eu tiver a sensação de estar te perdendo, vai ser muito ruim. Acho que te entendo!
ㅡ você nunca teve ciúmes de mim com teu pai?
ㅡ nunca! Eu deveria ter, mas não consigo.
ㅡ não ta bravo por eu ter mentido?
ㅡ rsrs, não. Me sinto envaidecido em saber que me quer por perto. Na verdade, foi por isso que saí mais cedo da galeria e vim te buscar. Quero te fazer uma proposta e acho que você vai gostar. Pelo menos vai fazer pra me agradar. Kkkkk
ㅡ kkkkk, faço tudo por você! Me conta!
ㅡ lá em casa! Vamos?
ㅡ vamos! Não está chateado? Tem certeza?
ㅡ tenho! Mas não me esconde mais nada. Gosto da gente com sempre fomos um pro outro. Nunca nos contamos mentiras e nada de joguinhos. Tudo bem?
ㅡ tudo bem! Agora toca logo pra casa, quero saber dessa novidade.
Fiquei aliviado por ele não ter levado à sério todo o circo que eu havia armado e ainda tirou sarro da minha cara quando eu disse que estava indo de ônibus só pra ele e a Alessandra não se encontrarem no portão da facul.
Assim que chegamos, nossos pais estavam na cozinha e minha mãe disse ao Rick que a tela havia chegado.
Ele me pegou pela mão e me arrastou até o ateliê, na edícula, e quando abriu a porta, vi uma tela gigante na minha frente.
Meu pai começou a rir e minha mãe parecia mais alegre do que de costume. Fiquei sem entender absolutamente nada e perguntei porque os dois estavam agindo daquele jeito.
Meu irmão veio por trás de mim e me enredou em seu abraço. Senti meu corpo ferver com aquele gesto tão nosso que a única coisa que pensei, foi querer estar perto dele pra toda a vida.
Nosso pai parou de rir e minha mãe pediu ao Rick que me contasse logo.
Descansei meu corpo no Rick e ele me manteve em seus braços dizendo que ficaria muito feliz se eu posasse pra ele.
Na hora fiquei sem entender nada, mas a ficha caiu quando ele me soltou e ficou ao lado da tela e disse:
ㅡ posa pra mim? Quero que seja meu modelo. Pensei logo em você porque acho que não existe mais ninguém nesse mundo que eu tenho tando carinho. To falando de irmandade, cara! Eu nunca ficaria à vontade com alguém, igual fico quando estamos juntos...
ㅡ vocês até dormem juntos! ㅡ minha mãe disse e eu comecei a rir, mas de forma emocionada.
ㅡ eu aceito! ㅡ disse e ele ficou tão feliz. Parecia que tinha ganhado na loteria.
ㅡ hahaha! Sabia!
ㅡ só me explica melhor...kkkk
ㅡ claro que te explico, mas é basicamente ficar parado em uma posição sensual pra eu poder te pintar.
ㅡ kkkkk, sensual? Quer que eu fique pelado?
ㅡ essa que é a melhor parte! Kkkk ㅡ Roberto disse rindo e minha mãe também não conseguia se controlar.
ㅡ aham! Poxa mano, você disse que aceitava.
ㅡ sim, mas...ah, quer saber? Ficar pelado não deve ser tão difícil, né?! Kkkkk
ㅡ kkkkk, acho que não! Tua mãe fez um jantarzinho dahora! Bora lá comer? Ai te dou maiores detalhes...
Enquanto jantávamos, conversamos sobre eu ser o modelo do Rick em sua empreitada artistica. Me senti importante e feliz em saber que assim como eu, ele também queria passar mais tempo comigo. Só achei engraçado a forma que ele encontrou pra fazer isso.
Depois do jantar, nós dois voltamos para o ateliê e comecei a rir quando ele disse que eu iria representar a Deusa Vênus ㅡ emergindo do mar como um homem adulto.
Botticelli certamente estaria se revirando em seu túmulo àquele momento. Ou no mínimo, estaria achando muito engraçado, o fato de eu representar uma de suas obras mais marcantes.
Ele explicou a posição que eu ficaria e a forma que eu esconderia minhas partes ímtimas.
Óbvio que comecei a rir, mas antes dele chamar minha atenção, me concentrei e fiquei parado como ele me pediu.
ㅡ como estou? ㅡ perguntei e ele me analizava.
ㅡ vai ficar incrível!
ㅡ vai expor na galeria?
ㅡ você deixaria?
ㅡ o quadro é seu, mano...faz o quê quiser com ele.
ㅡ se eu vender, divido contigo o valor da grana. Combinado?
ㅡ combinado! Posso me mexer agora?
ㅡ hahaha, pode!
ㅡ rsrs, quando começamos?
ㅡ semana que vem! Leo, aproveitando que é sexta-feira, quer ir dar uma volta? Sei lá, a gente podia pegar o carro e ir na praia. O quê acha?
ㅡ ótima ideia! Vou me trocar!
Uma semana depois, eu estava em casa depois da faculdade, pois havia saído mais cedo, e acabei pegando no sono alí mesmo, no sofá da sala.
Acordei quando ouvi a porta batendo e era meu irmão chegando do trabalho.
Ele estava tão empolgado, que correu até mim e se deitou ao meu lado.
Imediatamente dei espaço para que ele pudesse se acomodar e, ficando de frente pra mim, disse que havia recebido uma proposta de emprego irrecusável em Firenze, na Itália.
Além de trabalhar, ele também iria fazer uma pós-graduação.
Na hora me toquei que ficaria um bom tempo sem vê-lo e perguntei por quanto tempo seria.
ㅡ bem, acho que dois anos. ㅡ ele disse e lhe sorri tentando não transparecer que estava chateado.
ㅡ nosso pai vai morrer de saudades suas. ㅡ disse e nos encaramos por um tempo.
ㅡ só ele?
ㅡ a mamãe também! ㅡ ele se aproximou um pouco mais de mim e encostou a ponta do seu nariz no meu.
ㅡ só eles? Certeza que mais ninguém vai sentir minha falta?
ㅡ bobo! Você sabe que sou em relação a você. Sempre somos nós dois e o fato de você ir morar em outro país, vai ser difícil. Sei que é uma atitude meio egoista querer que você fique, mas é um sonho seu se realizando. Você vai poder conhecer obras de artistas que você adimira e aprender tanta coisa...
ㅡ é, eu vou! Mas será só dois anos. Vai passar rápido. Se eu pudesse, te levaria comigo.
ㅡ eu sei que me levaria. Fazer o quê? Quero que você seja feliz e, se isso te fará feliz, eu também estarei. Vou sentir tua falta, mano véio!
Tentei não me emocionar, mas ele me conhecia o suficiente pra saber que eu era uma manteiga derretida.
Lhe dei um abraço e fiquei apertando seu corpo contra o meu. Queria estar mais perto dele, sentir seu cheiro, o calor do seu corpo e, quando nos olhamos, ele disse:
ㅡ sou gay! ㅡ confesso que fiquei paralizado e vi o medo em seus olhos.
ㅡ eu não ligo! ㅡ foi a única coisa que consegui dizer. Até porque, eu sinceramente, não me importava nenhum pouco.
ㅡ continua gostando de mim do mesmo jeito?
ㅡ Rick, gosto de você de qualquer jeito, brother! Porque ta me dizendo isso agora?
ㅡ eu não sei! Só senti que precisava ser dito.
ㅡ ta namorando alguém?
ㅡ rsrs, não! Eu não tenho tempo pra isso agora. Quero focar no meu trabalho e nessa viajem...
Não sei porque, mas fiquei aliviado em saber que ele não tinha ninguém. Então me lembrei do dia que ele disse que estava confuso com algo e que um dia me contaria. Nunca imaginei que fosse algo relacionado a sua sexualidade, mas metade de mim não se importava e a outra metade parecia ter gostado de saber de tudo aquilo.
Paramos de conversar quando a porta se abriu e era nossos pais.
Quando nos viram abraçados e chorando como bobos, vieram até nós e perguntaram se estava acontecendo alguma coisa grave.
Depois que explicamos tudo, menos a parte que o mano era gay, quem começou com a choradeira foram eles.
Minha mãe já sofria por antecipação a partida do mano e, nosso pai, se preocupando em como arrumar dinheiro pra ajudar o Rick a tirar passaporte e tudo que ele precisasse pra viajem.
Ficamos os quatro conversando na sala por um bom tempo e na minha cabeça, só conseguia imaginar o fato do meu irmão ser homossexual.
Depois do jantar ,fui tomar banho e, antes de sair, ouvi o Rick batendo na porta.
Ele entrou e perguntou se poderia tomar banho comigo.
Eu não disse que estava saindo e balancei a cabeça o chamando.
Peguei a esponja, sabonete e pedi que ele entrasse na ducha.
Lavei seu corpo do mesmo jeito quando éramos crianças.
Durante o banho, perguntei pra ele se alguma vez na vida ele realmente tinha ficado com meninas e me sorriu dizendo que com algumas, mas que não conseguia entender o porquê de não gostar.
Foi então que ele ficou com um amigo do colegial. À partir desse dia, ele entendeu que gostava mesmo de ficar com meninos e que sempre tomou muito cuidado pra que ninguém descobrisse.
ㅡ por que não me contou, antes? ㅡ disse e ele lavava a cabeça.
ㅡ tinha medo de você ter nojo de mim. Sempre dormimos juntos e...sei lá, não queria que a nossa relação mudasse por causa disso. Nunca tivemos pudores e até domimos juntos...
ㅡ até parece que você não me conhece?! Acha mesmo que eu teria nojo de você? Isso nunca aconteceria, Rick.
ㅡ eu sei, ou não estaria me dando banho também! Kkkk
ㅡ kkkkk, viu só? Deixa de ser bobo. Vai contar pro pai?
ㅡ que sou gay? Ainda não! Dele sim, eu tenho medo. Nosso pai é divertido e sempre nos apoiou em tudo, mas acho que isso é demais pra ele.
ㅡ nem sei o quê te dizer, mano...
ㅡ deixa pra lá, quando eu sentir que for a hora de contar, vai acontecer e pronto. O importante é que você já sabe e me apoia.
ㅡ você é meu irmão e te gosto do jeito que você é. Relaxa!
Acho que foi a conversa mais sincera que já tivemos ao longo de todos aqueles anos.
Pra falar a verdade, foi a conversa que eu subconcientemente precisava para esclarecer certos conflitos internos que rodeavam minha mente esporadicamente.
Meu irmão passou mais de quatro meses se preparando para a viajem.
A galeria arcaria com algumas despesas até que ele se estabelecesse de vez em Firenze.
Nosso pai fez de tudo pra quê o Rick ficasse em uma boa República de estudantes.
A cada dia que passava, eu sabia que o dia do Rick partir, estava próximo e isso me consumia de tal maneira, que acordei algumas vezes no meio da madrugada só para vê-lo dormindo.
Eu queria memorizar seu rosto, o modo como ele dormia com a palma da mão embaixo da bochecha e as vezes que eu acordava com sua perna sobre as minhas.
Era lindo vê-lo dormir. Parecia que ele sorria.
Certa noite, o vi dormindo profundamente e fiquei de frente pra ele.
Já estava tudo preparado para a viajem e a data já estava marcada.
Acordei com sede, mas quando o ouvi respirando alto, fiquei alí, parado e admirando seu corpo à meia luz do abajur.
Sua mão na mesma posição de sempre, apoiava seu rosto e num átimo de segundo, me vi contemplando sua beleza.
Fechei meus olhos por alguns instantes e pedi ao tempo que ele parasse. Implorei ao universo que aquele momento etéreo congelasse só pra eu ter o prazer de desfrutar daquela visão do seu corpo seminú ao lado do meu.
Uma sensação de euforia e felicidade tomou conta de um eu que sabia de alguma forma o quê estava sentindo, mas não tinha certeza se era correto.
A minha vontade era de tocá-lo e dizer o quanto ele era bonito, mas eu clocaria em risco tudo que havíamos construído até então.
Fui até a cozinha, onde permaneci por longos dez minutos sentado em uma cadeira, tentando entender o quê se passava comigo, mas não quis dar tanta importância.
Logo pela manhã, antes mesmo de eu acordar, senti as mãos do meu irmão acariciando minhas costas.
Ouvi ele me chamando baixinho e fui despertando lentamente.
Quando abri meus olhos, vi que ele estava sorrindo e acariciou meu rosto de um jeito que fez meu corpo todo tremer.
ㅡ bom dia, dorminhoco. ㅡ ele disse e me sentei na cama.
ㅡ não vou pra faculdade hoje. Não tenho nenhuma aula importante. ㅡ disse e ele se sentou ao meu lado.
ㅡ então almoça comigo perto da galeria? Te dou a grana do taxi. Se encontra comigo meio-dia, naquele restaurante que você já conhece, pode ser?
ㅡ por mim, está ótimo. Rick?
ㅡ diga!
ㅡ vou sentir muito a tua falta. Promete me mandar mensagens todos os dias?
ㅡ ei, claro que prometo! Não fica assim, Leo! Eu volto logo e corro pra ficar contigo. Só não apronta muita confusão enquanto eu estiver fora. Okay?
ㅡ okay! Combinado!
ㅡ eu vou indo nessa. Te espero pra gente almoçar.
ㅡ bom trabalho, mano!
Me levantei e tomei uma ducha gelada. No banho me lembrei do momento pelo qual meus olhos teve o prazer de presenciar, na madrugada.
Eu não sabia se ria ou se me enfiava debaixo de uma cama e ficava lá para sempre, tamanha era minha devoção por aquele rapaz que acabara de me confidenciar seu maior segredo na noite anterior.
As coisas só pioraram quando me peguei de pau duro na mão. Então, sem hesitar, me toquei pensado no Rick e foi por ele que acabei gozando.
Ah, como foi bom! Apesar de ter me achado um completo pervertido por alguns minutos.
Terminei meu banho e quando cheguei na cozinha, vi o Roberto preparando uma garrafa de café.
Me assustei por ele ainda estar em casa áquela hora e me disse que não tinha o primeiro e segundo horário de aula na escola.
Puxei uma cadeira e me sentei. Ele serviu uma xícara quente de café pra nós dois e peguei um pote de bolachas amanteigadas que a mãe havia feito dois dias atrás.
ㅡ não tem aula hoje? ㅡ ele me perguntou e me levantei pra pegar uma caixa de leite na geladeira.
ㅡ tenho, mas não é nada importante. Resolvi ficar em casa e adiantar um trabalho que preciso entregar na semana que vem. Depois vou almoçar com o Rick lá perto da galeria.
ㅡ tem dinheiro pro ônibus?
ㅡ ele me deixou a grana do táxi.
ㅡ tudo bem, mas se precisar de mais, sabe onde encontrar. Ah, sua mãe está indo às compras amanhã. Avisa seu irmão que ele também vai. Na Itália é frio e ele vai precisar de roupa de inverno. Aproveita e compra alguma coisa pra você também. Ando reparando nas suas calças e estão meio que rasgando.
ㅡ kkkk, não estão rasgando. Eu que passo a lixa pra elas parecerem surradas. É moda!
ㅡ kkkkk, vocês tem cada uma! Mas tudo bem, se precisar comprar alguma coisa, aproveita.
ㅡ valeu, pai!
Depois do café, fiquei no meu quarto terminando o trabalho da faculdade e quando percebi, já era quase meio-dia.
Corri pegar um táxi e quando cheguei ao restaurante, meu irmão já esperava por mim.
Passamos duas horas agradáveis juntos.
Depois do almoço, fomos até um parque que ficava próximo à galeria e nos sentamos em um banco de madeira que ficava debaixo de um pergolado cheio de trepadeiras e flores amarelas.
Batemos um bom papo, ele me contou um pouco sobre a galeria que trabalharia em Firenze e senti que ele realmente estava empolgado em sair um pouco de sua zona de conforto.
Lamentei o fato dele precisar interromper a pintura ao qual eu era modelo, mas garantiu que terminaria assim que voltasse.
Brincamos com a possibilidade de eu me tornar seu modelo oficial e ele adorou a ideia, pois ja havia pensando em recriar a obra de Davi.
ㅡ Davi está nu, pelo que me lembro! ㅡ disse e ele começou a rir.
ㅡ hahaha! Sim, mas é pela arte!
ㅡ não quero que ninguém compre um quadro com minha cara, sabendo que também está levando de brinde, meu pau.
ㅡ kkkkkk, mas não vou vender. Esse seria meu. Quero enfeitar meu futuro apartamento com um quadro seu.To economizando uma grana pra dar de entrada. Queria que você fosse morar comigo, topa?
Acho que nunca me senti tão empolgado em toda a minha vida. Claro que eu disse sim, e confesso que me senti um pouco culpado por ter batido aquela deliciosa punheta pensando nele pela manhã.
Minha cabeça estava dando loops infinitos com tudo que estava acontecendo comigo, mas ele tinha o poder de me acalmar com seu jeito amigável.
Na semana seguinte o mano e eu fomos com minha mãe até o centro da cidade.
Compramos tudo que o Rick precisava e ainda o ajudei a escolher roupas íntimas.
Éramos fissuramos em comprar cuecas e minha mãe ficava doida conosco, pois ela dizia que éramos exigentes demais, até mais que ela com as suas.
ㅡ eu não sabia que as mulheres de hoje em dia se importam tanto com as cuecas que vocês vestem. ㅡ meu irmão e eu nos olhamos e quase começamos a rir.
ㅡ pois é mãe, algumas gostam. Vai me dizer que a senhora nunca achou o pai bonitão de cueca boxer? ㅡ Rick perguntou e ela ficou toda sem graça.
ㅡ sim, mas eu sou de outra época. E digamos que seu pai é meio rápido pra certas coisas. Quando eu percebo, ele nem está mas vestido. ㅡ ela disse baixinho e caímos na gargalhada.
ㅡ kkkkkk, acho que não precisamos saber dos detalhes, né? ㅡ disse e o Rick a abraçou.
ㅡ tadinha, você deixou a mãe sem graça, Leo!
ㅡ kkkkk, mas foi ela quem começou...
ㅡ rsrs, anda logo vocês dois! Ainda temos que comprar alguns casacos e camisas. Não vou te deixar ir pra Itália todo desarrumado. Que tipo de mãe eu seria?
ㅡ o tipo que faz de tudo pra deixa a gente feliz. Muito obrigado por sempre cuidar de mim. ㅡ Rick disse e eu saí de perto pra não chorar.
Deixei os dois naquele momento só deles e fui passar minhas roupas no caixa.
Depois das compras, fomos pra casa e meu irmão e eu fizemos questão de preparar o jantar àquela noite.
Vimos o quanto minha mãe estava cansada por ter nos acompanhado e dissemos que ela poderia descansar até o jantar ser servido.
Os dias foram passando e a data da viajem estava se aproximando.
Meu peito começara a ficar apertado só de lembrar que há menos de cinco dias, meu irmão estaria sobrevoando o oceano e ficaria dois anos longe de todos.
Sexta-feira chegou e acodei angustiado. À noite meu irmão partiria.
Meus pais já estavam acordados e preparavam o café da manhã.
Me sentei à mesa e minha mãe perguntou se o Rick já havia acordado, mas disse que ele ainda dormia.
Minha cara estava péssima e meu pai pediu que eu fizesse uma cara melhor, pro meu irmão não se sentir tão triste quando se fosse.
ㅡ quer que eu melhore minha cara? Como quer que eu fique? Teu filho ta se mudando pro outro lado do planeta e o senhor quer que eu faça uma cara boa só pra deixá-lo menos triste? É ele quem está indo embora. Imagina se ele resolve ficar por lá e nunca mais voltar? Vou ter que fazer uma cara boa pra que ele se sinta menos culpado por estar me abandonando? Nos abandonando! ㅡ me levantei e Roberto segurou meu braço.
ㅡ se acalma aí, mocinho! ㅡ ele disse, mas me soltei, indo até o ateliê.
Quando entrei, me vi diante de mim, a tela com meu esboço e supliquei a mim mesmo que não chorasse, mas foi em vão.
Senti as mãos do meu irmão em meus ombros e me virei o abraçando com todas as minhas forças.
Ele me pedia calma, mas como me acalmar, se eu não o teria mais por perto?
ㅡ não pude deixar de ouvir o quê disse lá na cozinha. ㅡ ele disse e sequei minhas lágrimas.
ㅡ me desculpa! Falei sem pensar.
ㅡ eu sei! E se eu resolver ficar em qualquer lugar desse mundo, volto pra te buscar. Tenha certeza disso. Você é meu irmão e a gente tem algo que mais ninguém tem.
ㅡ temos?
ㅡ temos! Você sabe que temos. Nossa relação é única, Leo. Não somos irmãos de sangue, mas somos irmãos de coração e isso vale mais que tudo. Eu escolhi te acolher no meu carinho. Sempre cuidei de você e, é o único que me conhece por inteiro. Então, se eu precisar ficar em algum lugar, te levo comigo. Pode ter certeza disso.
ㅡ tudo bem! Sei que estou sendo egoista e também sei o quanto esse trabalho significa pra você, mas é difícil aceitar que vai estar tão longe.
ㅡ eu sei, mas eu volto! Te prometo que volto! Vamos tomar café? E não fica assim. Nem vou sair, só pra ficar contigo.
ㅡ tudo bem...
Já passava das 23:30hrs, quando chegamos no aeroporto.
Meu irmão faria uma conexão na Capital e, depois, partiria para a Itália.
Depois do check-in, foi o momento mais difícil.
Acho que o Roberto havia se segurando até aquele momento só pra não deixar o Rick ainda mais nervoso, mas não teve como se controlar por muito tempo.
Minha mãe lhe passou um sermão do tamanho do mundo e meu irmão girou com ela em seus braços dizendo que a amava demais.
Por fim, chegou minha vez. Era a minha hora de dizer até logo!
Ele me abraçou o mais forte que pôde.
Não havia palavras pra expressar o quê eu estava sentindo naquele momento.
Eu só queria que ele soubesse o quanto me faria falta.
ㅡ te amo, brother! ㅡ ele disse e sorri o prendendo mais forte ainda em meus braços.
ㅡ também te amo! Não ta se esquecendo de nada?
ㅡ não, fica tranquilo. Te ligo assim que chegar. Fica bem e se cuida!
ㅡ rsrs, pode deixar! Boa viajem e não se esqueça de mim.
ㅡ bobo! Isso jamais aconteceria. ㅡ ele me deu um beijo no rosto e retribui lhe dizendo pra voltar logo.
Ele foi pra sala de embarque e ficamos nós três com cara de cachorro que caiu da mudança.
Eu estava arrasado. Era como se metade de mim estivesse se despedaçando.
Quando o avião decolou, vi a tristeza nos olhos de meu pai. Minha mãe foi comprar uma garrafa de água e recebi Roberto em meu abraço.
ㅡ o senhor quer alguma coisa, pai?
ㅡ quero meu filho de volta! ㅡ ele disse rindo e o abracei mais apertado.
ㅡ rsrs, ele disse que liga assim que chegar.
ㅡ só falta você ir embora também, aí eu não aguento.
ㅡ credo, pai! Não vou sair do país. Talvez eu faça uma pós-graduação na Capital, mas isso nem é pra agora.
ㅡ que bom, vou ter tempo pra me recuperar.
ㅡ vai, sim. Pai, me desculpa por ter falado daquele jeito contigo? Eu fui muito mal educado e...
ㅡ ah, esquece isso. Estamos todos nervosos e você só foi honesto consigo mesmo. Sua mãe está voltando. Vamos pra casa?
ㅡ vamos! Vai ser estranho chegar e não ter o Rick conosco.
ㅡ e você vai dormir sozinho...
ㅡ hahaha, primeira vez que vou ter a cama só pra mim. Que chato!
*
*
*
Continua...
Tudo bem com vocês?
Fico feliz que tenham gostado e espero continuar agradando.
Muito obrigado por tudo! Vocês são incríveis!
Grande abraço a todos e até o próximo! 😉✌
Happy Pride!! 🌈