ㅡ Cap 06
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Acordei transbordando de tanta felicidade.
Com o Rick de volta, só fez aumentar tudo que eu estava sentindo por ele.
Lidar com novos sentimentos, estava sendo difícil, ainda mais que compartilhávamos o mesmo quarto e a mesma cama, mas apesar de ter que lidar com tudo isso sozinho, eu estava feliz como nunca.
Era surreal vê-lo ao meu lado, depois de dois anos sem sua companhia, mas alí estava ele, dormindo profundamente.
Despertei sentindo cheiro da carne assada que vinha da cozinha.
Queria me levantar, mas meu irmão e eu dormimos abraçados e seu braço estava em volta do meu peito.
Eu estava de costas, me sentindo um idiota por sentir a ereção matinal de meu irmão cutucando-me de leve as nádegas.
Dei um riso abafado, com medo dele acordar, mas era tarde demais. Ele me ouviu e, me dando bom dia, esfregou o nariz na minha nuca e perguntou o motivo do meu riso.
ㅡ você ta de pau duro, cara. ㅡ disse e ele se afastou um pouco.
ㅡ kkkkk, desculpa! Que mico!
ㅡ também estou, mas não consegui levantar. Não queria te acordar.
ㅡ rsrs, vai mijar e volta aqui. O pai e mãe já chegaram?
ㅡ já! Estão fazendo o almoço. Já volto!
Me levantei indo até o banheiro, fiz minha higiêne matinal e voltei pro quarto.
Abri a porta e vi meu irmão trocando de roupa. Ele estava nú.
Quando me viu, veio até mim e acariciando meu rosto, me deu bom dia. Respondi e fui até minha parte do armário pegar o perfume que ele havia me dado.
Tentei não dar muito importância pelo fato dele estar pelado bem na minha frente, mas foi difícil dar voz de comando ao meu cacete, quando ele vestiu a roupa e me abraçando por trás, disse que depois do almoço, iríamos até o Morro do Farol.
ㅡ ta mesmo com saudade de mim, heim? ㅡ disse rindo e ele me apertava mais ainda contra si.
ㅡ hahaha, eu to! Caramba, como senti a tua falta.
ㅡ nem me fale! Dois anos longe de você foi demais pra mim, Rick.
ㅡ ah, vem aqui! ㅡ ele me fez virar de frente pra ele. Não sei se não percebeu, ou fingiu não me ver de pau duro quando me abraçou, mas fiquei muito constrangido.
ㅡ bom que está de volta! Nunca mais me deixa, promete?
ㅡ prometo! Ja te falei que levo você comigo não importa onde eu vá!
ㅡ valeu, brother! Vou cobrar!
Abri a porta do quarto e no corredor, ele segurou minha mão e fomos até a sala.
Meus pais estavam vendo tv e, quando nos viram chegar, nos deram espaço no sofá para que sentássemos todos juntos.
Minha mãe perguntou como foi a surpresa e quase chorei quando disse que pouco antes de acordar, eu estava sonhando com o Rick.
Ele me abraçou e o Roberto dramatizou dizendo que meu irmão só havia sentido minha falta.
ㅡ senti saudades de todos, mas esse cara aqui me fez chorar igual um bobo todas as vezes que nos falávamos. ㅡ ele disse e fui surpreendido com um beijo no rosto.
ㅡ sou um amor, mesmo! ㅡ disse e minha mãe segurou minha mão.
ㅡ bom ver vocês juntos novamente. ㅡ ela disse e senti o Rick acariciar meu pé com o seu. Foi inevitável o frio no estômago.
ㅡ não há nada mais bonito do que a família reunida. O quê acham de irmos ao shopping mais tarde? ㅡ meu pai estava querendo matar a saudade do filho com um passeio em família, mas meu irmão disse que tinha outros planos.
ㅡ poxa, pai! Combinei com o Leo que o levaria até o Morro do Farol depois do almoço. Se importa se formos outro dia?
ㅡ imagina! Vocês tem muito o quê conversar, a gente sabe disso. Então vamos só sua mãe e eu.
Concordaram em nos emprestar o carro, pois o Shopping ficava há três quadras de casa e dava para eles irem tranquilamente à pé.
Conversamos sobre o tempo que o Rick ficou na Itália, seus passeios e o trabalho na galeria em Firenze.
Eu não conseguia tirar os olhos dele. Era como se ele me hipnotizasse e como ele estava bonito e mais encorpado.
Dois anos morando fora fez com quê ele voltasse mais alegre. Não sei...talvez fosse pela saudade, mas ele estava radiante.
Ele foi paparicado pelos meus pais durante todo o almoço e ousaram a dizer que eu estaria com ciúmes.
Eu poderia sim, estar me sentindo um pouco excluído da conversa, mas era impossível com o Rick sempre sorrindo pra mim, me fazendo cócegas ou me tocando por algum motivo.
Sua atenção me fazia querer um pouco mais dele a cada segundo que passava, eu decidi contar que era bissexual assim que chegássemos no Morro do Farol.
Eu queria que ele soubesse. Queria que ele me visse com outros olhos, pois querendo ou não, éramos parecidos.
Na verdade, eu queria era poder ter uma liberdade maior com ele.
Depois do almoço, me ofereci em lavar a louça e meus pais foram descansar no quarto.
Meu irmão andava pra lá e pra cá feito barata tonta e perguntei se ele estava bem, mas só passou por mim sorrindo e foi até a lavanderia.
Quando ele voltou, trouxe consigo uma mochila e disse que levaríamos um cobertor pra estender no chão com duas almofadas.
ㅡ vai me levar pra ver o pôr do sol? ㅡ disse e ele veio até mim.
ㅡ vou! Faz tanto tempo que não vamos até lá. Você não quer ir?
ㅡ rsrs, claro que quero. Só achei fofo, sei lá!
ㅡ você é fofo! Quero ver o pôr do sol contigo. Sempre tivemos uma conexão muito boa e quero renovar essa energia...
ㅡ com os raios de sol? Kkkk
ㅡ kkkkk, isso! Vai ser legal, você vai ver.
ㅡ então compra sorvete pra mim! ㅡ disse e ele começou a rir.
ㅡ rsrs, parece criança! Mas eu compro o sorvete...
ㅡ só pareço! Não sabe da missa a metade. Kkkk
ㅡ hum, agora fiquei curioso!
ㅡ chegando lá eu te conto!
ㅡ nossa, quanto mistério! Kkkk
Deixamos a cozinha brilhando e terminados de arrumar a mochila.
Nos despedimos dos nossos pais e paramos pra abastecer o carro.
Eu estava meio preguiçoso, mas vi muito bem o Caíque saindo da loja de conveniência com uma moça, mas não era a Alessandra.
Peguei meu celular e liguei pra minha amiga. Quando ela atendeu, perguntei se estava em casa e me disse que estava esperando o namorado chegar, pois combinaram de sair no final do dia.
Eu não sabia o quê fazer. Queria muito dizer a ela que o safado estava com outra, mas resolvi esperar até o dia seguinte.
Perguntei se ela estava bem e se precisava de alguma coisa, mas ouvindo o Rick agradecer o frentista, perguntou com quem eu estava.
ㅡ ah, estou com meu irmão...
ㅡ ele não iria chegar amanhã?
ㅡ pois é, acabou me fazendo uma surpresa! ㅡ disse e ele fez um carinho no meu rosto.
ㅡ que bonitinho! Estou indo pra casa dos meus pais amanhã bem cedo. Feliz Natal, Leo! Obrigada por tudo.
ㅡ não precisa me agradecer, lindona! Se cuida! Boas festas! Nos falamos...
Desliguei e expliquei pro meu irmão que o cara do carro do outro lado da rua, era namorado da Alessandra.
Vimos o Caíque beijando a outra menina e pedi que fóssemos logo pro Morro do Farol, ou eu desceria do carro e daria uma surra no filho da puta.
Me senti mal por não ter falado nada, mas fiquei com medo dela querer tirar satisfação e ele fazer alguma coisa. Então decidi que esperaria alguns dias.
Me vendo indignado, meu irmão perguntou se eu gostava da Alessandra mais do que como amigo e encarei seus olhos por alguns segundos antes de responder.
ㅡ não! Nunca tivemos nada. O único laço que me une a ela é nossa amizade. Me preocupo com ela. Eu fui a única pessoa que esteve com ela quando precisou.
ㅡ tá falando do aborto que ela fez?
ㅡ isso! Eu cuidei dela. Claro, a mãe também deu todo o apoio possível, mas eu estive o tempo todo ao lado dela.
ㅡ te admiro por isso. Você é uma pessoa incrível, Leo. Sempre te disse isso, mano.
ㅡ como eu podeia virar as costas pra ela?
ㅡ você ta certo!
ㅡ só não entendi sua pergunta...
ㅡ rsrs, era só pra saber! Achei que estava com ciúmes...
ㅡ to com raiva daquele imbecil. Ela merecia uma pessoa melhor.
Chegamos no Morro do Farol e tivemos que fazer uma caminhada de vinte minutos pela trilha, até chegar no topo.
Deixei a mochila no chão e fui até a beira do morro, onde havia uma barreira de concreto pra que ninguém ultrapassasse o limite.
Lá do alto se via boa parte do mar. Estava um dia lindo, com pouquíssimas nuvens no céu e sem previsão de chuva.
Aproveitei o silêncio pra meditar um pouco, até que senti dedos longos apertando minha cintura.
Olhei pra trâs e meu irmão me pegou pela mão; me levou até o lençol que ja estava estendido no chão com as almofadas e alí nos sentamos.
Era surpreendentemente lindo toda àquela paisagem.
O imenso farol ainda funcionava e sempre depois que escurecia, ele se ascendia.
Nesse dia não havia ninguém no local. Estávamos sozinhos e absortos de tudo em nossa volta.
Permanecemos deitados por um bom tempo, até que decidi revelar a ele minha bissexualidade.
ㅡ eu preciso te contar uma coisa. ㅡ disse e ele se virou de frente pra mim.
ㅡ pode falar!
ㅡ promete não me julgar?
ㅡ eu jamais faria isso!
ㅡ sou bissexual! ㅡ ele começou a rir, não por eu ser bi, mas por achar que eu estava mentindo.
ㅡ kkkkk, para com isso, Leo! Que brincadeira mais besta.
ㅡ poxa, acha que eu iria brincar com uma coisa assim? ㅡ ele viu que eu estava falando sério e parou de rir.
ㅡ isso é verdade?
ㅡ é verdade, Rick! Nunca falei tão sério em toda minha vida. Àquela vez que fiquei de castigo, eu estava na praia com alguém, mas não era uma mulher. Entende?
ㅡ caramba! Faz ideia de como vai ser quando souberam da gente?
ㅡ ah, eu nem quero pensar nisso...
ㅡ nem eu! Nossa, é muito estranho ouvir isso. Sei lá! Nunca imaginei que você passava por esse tipo de conflito. Deveria ter me contado. Sou teu melhor amigo e irmão.
ㅡ eu pensei em te contar várias vezes, mas você estava longe. Achei melhor esperar você voltar. Desculpa.
ㅡ deixa pra lá, cada um tem seu tempo. Não posso cobrar isso de você. Eu também só te contei quando me senti seguro. Agora me conta...namorou muitos caras?
Convesamos sobre minhas aventuras e desastres amorozos.
Ele me confidênciou várias experiências suas e rimos demais de nossos fracassos.
Acho que foi a conversa mais sincera que tivemos até então.
Aproveitamos também pra recordar nossos bons momentos quando éramos crianças e ele recordou do dia que brigou com minha mãe por minha causa.
Lembrei dela ter me contado a estória meio por cima e perguntei como realmente foi.
ㅡ ah, eu me lembro até hoje. Você sempre foi de pegar minhas coisas e ela te viu pegando algo meu. Ela pediu pra você devolver porque ficou com medo de eu me zangar contigo. Vi ela dando um tapa na sua mão pra quê você soltasse e corri pra te salvar. Falei que se ela batesse em você de novo, eu nunca mais falaria com ela. Tadinha, ela te pediu desculpas e veio me abraçar dizendo que nunca mais iria brigar contigo de novo.
ㅡ poxa, a gente sempre se deu bem. Lembro que você sempre me dava banho. A gente se divertia muito. Bons tempos.
ㅡ eu tive uma infância muito feliz ao teu lado, Leo. Você chegou e de certa forma, preencheu o vazio que minha mãe havia deixado. Eu pensava nela todos os dias, mas depois que você chegou, nunca mais fiquei triste. Obrigado por existir, cara!
ㅡ caramba, Rick! Nunca imaginei que um dia você me diria algo tão bonito assim. Você também me fez e faz muito feliz. Quando você foi embora, tive medo de te perder pra sempre.
ㅡ me da sua mão! ㅡ ele disse e fiquei de frente pra ele.
ㅡ o quê vai fazer?
ㅡ rsrs, só segurar. Aproveitar que estamos relembrando o passado e te fazer um carinho. Era horrível acordar e não te ver na cama. ㅡ ele beijou minha mão e fiquei meio sem graça.
ㅡ agora não precisa mais sentir minha falta e nem eu a tua. To aqui contigo, mano véio!
Ficamos de mãos dadas admirando aquela natureza intocável, até que ele disse que precisava me falar uma coisa.
Eu ja estava todo abestalhado com tanto carinho da parte dele, que fiquei com medo do quê seria.
Pedi que falasse sem titubear e meio rindo, pediu pra eu pensar com carinho.
ㅡ se me falar logo o quê é, prometo te dar a resposta ainda hoje. ㅡ disse e apoiei minha cabeça em seu ombro.
ㅡ okay! Vou dar entrada em um apartamento com a grana que juntei na Itália e quero que você venha morar comigo.
ㅡ eu? Mas e sua privacidade? E se você começa a namorar?
ㅡ ele vai ter que entender que moramos juntos. Além do mais, ninguém aqui está pensando em namorar. Quero focar no meu trabalho e passar mais tempo contigo. Diz que vem morar comigo, ou vou ter que te implorar?
ㅡ kkkk, não precisa implorar. Eu vou! Você sabe que só vou poder te ajudar com pouco por enquanto, não sabe?
ㅡ eu sei. Também não é pra agora. Primeiro quero achar um lugar bacana pra montar meu estúdio e de preferência que tenha um quarto imenso pra nós dois.
ㅡ não vai conseguir namorado nenhum se continuar dormindo comigo. Kkkkk
ㅡ ah, eu nem quero mesmo! Kkkk
Adorei a ideia de termos um cantinho só nosso. Seria bacana nos desgarrarmos um pouco de nossos pais.
Embora soubéssemos que eles iriam ficar chateados de início, mas com o tempo, eles iriam se acostumar a viver com mais privacidade em casa ㅡ sem dois marmanjos desfilando pra cá e pra lá de cuecas pelo corredor.
Meu medo maior era de não conseguir sufocar tudo o quê eu sentia pelo Rick e acabar demonstrando além da conta.
Fiquei um pouco pensativo sobre o amor que eu sentia por ele e, meio que me despertando de um transe, ele me chamou e disse que era o pôr do sol mais lindo que ele ja tinha visto.
Concordei. Era início de verão e estava um calorzinho gostoso.
Eu estava suando e tirei minha camisa. Limpei meu peito, abdômem e, quando fui passar a camisa nas costas, meu irmão a tomou de minhas mãos e, se ajoelhando atrás de mim, secou onde estava molhado.
Era uma tortura té-lo tão perto e não poder fazer absolutamente nada.
Minha vontade era de beijá-lo e descobrir o sabor de seus lábios, mas eu não podia correr o risco dele me rejeitar. Eu nem ao menos sabia se ele gostava de mim da mesma forma, pois sempre fomos muito próximos e íntimos um do outro e isso dificultava ainda mais.
O sol havia dado seu espetáculo e, quando me dei conta, eu estava sentado entre suas pernas e ele com a cabeça apoiada em meus ombros.
Respirei profundamente e o chamei para irmos até o bairro da Ribeirinha comprar sorvete.
Ele imediatamente concordou e quando se levantou, disse que estava com a bunda toda dolorida por ficarmos sentados por muito tempo.
ㅡ você já deveria estar acostumado, cara. ㅡ disse rindo e ele sacou a minha maldade.
ㅡ kkkkk, engraçadinho! Minha bunda só dói de ficar sentado no chão, mesmo! Vai me dizer que tua bunda nunca doeu? ㅡ okay, ele queria saber se alguma vez fui passivo e dei a resposta que ele tanto queria.
ㅡ nunquinha! E não por falta de oportunidade, mas é porquê eu não estava afim, mesmo. Sou do tipo que não entrega o ouro pra qualquer bandido. Kkkk
ㅡ kkkkkk, entendi!
ㅡ vou dar minha bunda pra qualquer um não. Deixa eu encontrar que mereça. Kkkk
ㅡ ah, Leo! Você é muito hilário! Kkkk
ㅡ ah, sou difissílimo! Tem que me conquistar primeiro. Kkkk
Passei por ele e, antes de eu entrar no carro, ele deu um tapa na minha bunda e mandou eu entrar logo.
Rimos com o fato de estarmos conversando tão abertamente sobre tudo e era estranho ao mesmo tempo.
Na volta, passamos na Ribeirinha e compranos dois potes de sorvete pra tomarmos em casa.
Quando chegamos, não tinha ninguém e comecei a tirar minha roupa na sala, mesmo.
Corri pro banheiro, pois estava com o corpo coçando e logo em seguida vi o Rick entrando no box comigo.
Dei espaço pra quê ele entrasse e quando me viu com o corpo todo ensaboado, ligou o chuveirinho e disse que iria me enxagoar.
ㅡ fecha os olhos, Leo! ㅡ fiz como ele me pediu e senti a espuma do meu cabelo cair em meus olhos.
ㅡ você toma banho de shampoo, mano. É tanta espuma que não para de sair.
ㅡ eu gosto! Kkkk
ㅡ eu sei! Você sempre fazia isso quando a gente era criança. Tua mãe ficava doida por você usar todo o shampoo pra se banhar.
ㅡ eu lembro! Você sempre completava com água pra ela não brigar comigo.
ㅡ rsrs, era meu jeito de te proteger. Vira de costas.
Senti sua mão deslizando em minhas costas e fiquei paralizado quando senti que estava começando a ter uma leve ereção. Comecei a me lavar, pelo menos eu daria desculpa de estar meia-bomba porque estava estimulando, mas na verdade, era porque o Rick estava próximo demais.
Bem que eu tentei disfarçar, mas ele percebeu e começou a rir.
Ele terminou de me enxaguar e se ensaboou todo.
Peguei o chuveirinho e fiz do mesmo jeito que ele havia feito comigo.
A situação era pra lá de hilária, pois estávamos os dois com uma puta ereção, mas acabamos dando de ombros pela situação.
Estávamos saindo do banheiro quando ouvimos a porta dos fundos abrir. Nossos pais haviam chegado e minha mãe disse que o jantar estava no forno.
Os dois estavam felizes. Eu adorava quando os via sorrindo por qualquer bobagem.
Perguntei se eles queriam jantar, mas disseram que já haviam comido no shopping e que era pra gente se virar.
ㅡ a gente vai tomar sorvete lá no quarto. Tem outro pote pra vocês. ㅡ meu irmão disse e minha mãe sorriu agradecendo.
ㅡ como foi o passeio de vocês? ㅡ ela perguntou e veio bagunçar meu cabelo.
ㅡ foi bom! Fomos no Morro do Farol ver o pôr do sol. Ficamos conversando e viemos pra casa. Vou assistir alguma coisa e dormir, amanhã eu trabalho e acho que já vou começar a ir período integral. ㅡ disse e fui trocar de roupa.
Entramos no quarto e procurei uma samba canção pra vestir. De repente, senti um líquido gelado em meu pescoço e era meu irmão borrifando em mim um perfume que eu ainda não conhecia. Fingi ter me assustado e me surpreendi quando ele me abraçou todo carinhoso e beijou meus ombros.
ㅡ rsrs, agora você ta cheiroso. ㅡ ele disse e decidi retribuir o carinho. Me virei de frente pra ele e peguei o perfume de sua mão. Borrifei um pouco em seu pescoço e chegando mais perto, ajeitei seu cabelo e dei um beijo na ponta de seu nariz.
ㅡ agora está bonito! ㅡ disse e me joguei na cama.
ㅡ vou lá pegar o sorvete. Acha um filme bacana pra gente assistir?
ㅡ vou procurar!
Eu zapeava pelos canais e acabei deixando no Discovery Channel.
Estava pra começar um documentário sobre o Universo e achei interessante.
Pausei a programação e quando meu irmão voltou, vi que ele estava todo feliz e perguntei se tinha acontecido alguma coisa.
ㅡ peguei os coroas no maior amasso na sala. ㅡ ele disse e comecei a rir.
ㅡ sério? Kkkk
ㅡ aham! Me pediram desculpas e foram pro quarto. Kkkk
ㅡ ah, deixem eles namorarem. Eles merecem.
ㅡ tua mãe deu um pulo do sofá, coitada. Pensei que ela tinha se machucado.
ㅡ acho bonito esse amor deles, mesmo depois de tanto tempo...
ㅡ também acho! Da até uma certa inveja. Trouxe o sorvete, vamos assistir o quê?
Dei play na tv e ele se sentou ao meu lado com o sorvete. Pedi uma colher e me olhando, disse que só tinha uma.
ㅡ eu te dou. ㅡ ele disse e me sentei mais perto dele.
ㅡ rsrs, então tá! Só não vai me passar a perna. Te conheço, mano véio.
ㅡ kkkkkk! Eu não vou te passar a perna, que horror! Sou um homem justo!
ㅡ aham! Vai, me da logo uma colherada!
ㅡ abre essa boquinha, linda!
ㅡ kkkkk, palhaço!
ㅡ hum...isso é bom!
ㅡ é bom!
ㅡ só não é melhor que você! ㅡ ele deu um beijo no meu rosto e encostou a cabeça no meu ombro.
ㅡ ah, você me faz muito feliz! ㅡ disse e ele ficou me encarando. Voltei olhar a tv, mas ele ainda me olhava.
ㅡ ainda bem que eu voltei! Eu tinha recebido uma proposta pra ficar mais seis meses, mas eu disse que precisava voltar. Sorte a minha!
ㅡ sorte? Você dispensou ficar mais tempo na Itália e está falando em sorte?
ㅡ aham! Quer mais sorvete?
ㅡ quero! Porque não aceitou ficar mais tempo, lá?
ㅡ prioridades! Vamos assistir? Outro dia a gente conversa sobre isso. Okay?
ㅡ rsrs, okay! Eu preciso dormir, amanhã acordo cedo pra ir trabalhar. Se importa se eu me deitar?
ㅡ claro que não! Eu também vou dormir. Vou amanhã na galeria ver como estão as coisas e preciso que você seja meu modelo.
ㅡ tudo bem! Quando eu chegar, te ajudo.
Levantei eu fui escovar meus dentes. Ele entrou no banheiro em seguida e esperei por ele.
Voltamos pro quarto e liguei o ar condicionado. Peguei um edredon pra cada um, pois eu sempre o deixava descoberto.
Me deitei e ele continuou assistindo ao documentário. Não consegui pegar no sono tão rapidamente, pois gosto de dormir na mais absoluta escuridão.
Vi que ele apagou o abajur e desligou a tv, mas quando se cobriu, se deitou bem próximo à parede, como sempre fez, mas eu queria ele perto de mim.
Eu o amava como homem e isso era fato, mas naquele momento, eu só queria matar a saudade que sentia dele.
Então, dando meu jeito, fui me aproximando devagar e o abracei me agarrando em seu peito.
Ouvi que ele suspirou quando o enredei em meu abraço e disse em seu ouvido:
ㅡ posso dormir aqui, Rick?
ㅡ rsrs, claro que pode! Boa noite, maninho!
ㅡ boa noite!
Acordei de manhã com o corpo todo dolorido. Não sei como consegui dormir a noite toda com o Rick por cima de mim.
Tirei seu braço do meu peito e depois sua perna.
Fiz o mínimo barulho possível pra não acordá-lo e fui tomar banho.
Peguei minha roupa no antigo quarto e quando eu estava me preparando pra abrir a porta da sala, vi minha mãe indo até a cozinha. Lhe dei bom dia e insistiu pra quê eu tomasse café da manhã, mas eu precisava pegar o ônibus.
ㅡ vai de carro, Leo.
ㅡ o Rick vai precisar do carro hoje pra ir até a galeria mais tarde. Vou de busão, mesmo. Lá eu como alguma coisa.
ㅡ tudo bem. Sua vó me ligou e chegam amanhã.
ㅡ ah, que bom! Diz pro Rick que deixei um beijo pra ele.
ㅡ rsrs, pode deixar que eu falo. Se cuida, filho.
Corri até o ponto de ônubis e em quinze minutos estava no trabalho.
Assim que cheguei me mandaram para o RH.
Conversamos sobre minha contratação no período integral e discutimos salário e benefícios.
Fiquei satisfeito com o combinado. Pra quem tava começando e, ainda nem era formado, o acordado era além das minhas expectativas.
De manhã o dia foi corrido. Me tranquei em uma sala pra revisar algumas planilhas com meu chefe e em seguida, ele me mandou ir até a contabilidade.
Passei quase duas horas discutindo com o contador e tentando consertar um erro que ele havia feito, mas no fim, deu tudo certo e voltei pra empresa.
Deixei o carro da firma na vaga e, antes de eu ir pro refeitório almoçar, meu celular vibrou.
Atendi rapidamente e meu irmão dizia que passaria me pegar.
Esperei por ele na rececepção e, quando entrei no carro, ele me abraçou e de surpresa, me deu um selinho na boca.
ㅡ ôh loco, que recepção mais calorosa é essa? ㅡ disse rindo e ele estava absurdamente lindo.
ㅡ hahaha! To devolvendo o beijo que deixou pra mim, antes de sair. A mãe me passou teu recado. E to muito feliz! Acabei de voltar da galeria e já tenho encomendas. Preciso arrumar o ateliê e voltar a trabalhar o mais rápido possível.
ㅡ poxa, fico tão feliz por você! De verdade. Ah, acabaram de assinar minha carteira, período integral. O salário é bom, ainda mais pra mim que nem to formado ainda. No geral, ta tudo dando certo. A gente podia sair e comemorar, o quê acha?
ㅡ hoje? Mas amanhã você não acorda cedo?
ㅡ a empresa tira férias coletivas no final do ano. Só vamos voltar depois do ano novo.
ㅡ ah, então vamo sair pra dançar. Combinado?
ㅡ rsrs, combinado! Agora me leva pra almoçar, to morrendo de fome.
Almoçamos e ele me deixou na empresa.
Antes de eu descer do carro, pedi que fosse me buscar no final do expediente.
Ele agradeceu por eu ter deixado o carro de manhã e, quando fui me despedir, me lembrei do selinho que ele havia dado em mim e resolvi retribuir o carinho.
Confesso que fiquei com meus lábios nos dele alguns segundos à mais.
Ele me olhou sorrindo e saí do carro lhe desejando uma boa tarde e voltei ao trabalho.
Percebi que ele demorou um pouco pra dar à partida e, assim que entrei na minha sala, recebi uma mensagem no Whatsapp. Era ele.
ㅡ você é irritantemente sedutor, rapaz! ㅡ ele disse e comecei a rir. Pensei em não responder, mas queria saber mais.
ㅡ rsrs, sou?
ㅡ é! Você sabe o porquê, não sabe?
ㅡ rsrs, você me beijou primeiro.
ㅡ e precisava retribuir daquela forma?
ㅡ mais demorada? Kkkk
ㅡ viu como você sabe?! Safado!
ㅡ kkkkk! Não gostou?
ㅡ rsrs, adorei! Me espera que venho te buscar.
ㅡ tudo bem, já to com saudade...
ㅡ eu também, Leozinho!
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*
*
Continua...
Pessoal, muito obrigado por lerem, pelos comentários fofos e pelo carinho de sempre. Fico feliz que estejam gostando e espero que tenham gostado desse Cap também.
Desculpa os erros, mas acabei de terminar pra poder postar. Saio pra trabalhar daqui a pouco.
Grande abraço!! Nos falamos...
Happy Pride!! 🌈 👍😉