Eu estava distraído, quando o amor me achou - CAPÍTULO 2

Um conto erótico de Lissan
Categoria: Homossexual
Contém 2160 palavras
Data: 15/05/2019 19:43:14
Assuntos: Gay, Homossexual

Boa noite, tudo bem?

Eu revisei o capítulo uma vez apenas, então pode haver alguns errinhos, peço que desculpem.

Esse é aquele tipo de conta para quem não se importa em ser introduzido em uma história aparentemente sem erotismo primeiro para só depois surgir o "HOT", então espero que tenham paciência. E claro, por favor, comentem. Isso me ajuda muito!

Obrigado a todos pelas leituras, e comentários <3

!BOA LEITURA!

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Tudo de que consigo me lembrar, foi que ao sair do camburão as pessoas me olharam torto. Normal. Caminhei até a entrada do campus. Ombro a ombro com uma galera heterogênea, jovenzinhos, nem tão jovenzinhos, meninas, mulheres, senhoras, homens com barbas arábicas. E logo a nossa frente, uma confusão instaurada. Três rapazes, homens feitos, barbados, agrediam outro cara também homem feito. Não parecia, a briga mais justa do mundo, e a maioria das pessoas passava ao redor, de largo. Com olhos curiosos apenas voltados ao semicírculo deles. Eu também, segui o mesmo grupo.

Algum imbecil me acotovelou para cima desses caras, e um dos caras se virou direto para mim com olhos enfezados. E foi ai que recebi um empurrão, forte o suficiente para quase me derrubar. Agora eu estava do mesmo lado do outro homem, mas para minha surpresa o rosto daquele homem me era familiar. Não fosse uma tentativa de chute do cara a minha frente, e conseguiria distinguir de onde conhecia aquele cara. Nós estávamos do mesmo lado agora, certo?

Tentei argumentar com o boçal a minha frente, sobre minha inocência no ato, explicar que eu não tinha nada a ver com a briga deles:

- Foi sem querer cara, desculpe, não quero me envolver em confusões.

Ele tinha os cabelos cortados a maquina dos dois lados da cabeça, e uma mecha imensa de cabelo na parte de cima, amarrado em um pequeno coque no topo. “Agora esse cara me esmurra”, eu pensei ficando na defensiva.

- Outro com cara de pobretão esse pior, ainda parece que é veado - ele esbravejou, e ouvir aquilo me ofendeu de um modo estranho. Que intimidade era aquela de me chamar de veado?

Em um golpe de raiva o empurrei com todo o peso do meu corpo e corri para o lado. O cara estava caído? Eu tinha força suficiente para derrubar outra pessoa?

Os outros dois homens que cercavam o cara de rosto familiar se viraram para entender a confusão com o parceiro deles. O cara de rosto familiar derrubou com um chute bem dado no peito um deles. Agora além de mim e desse cara de rosto familiar, só havia outro rapaz de pé. Meu coração batia a mil. Quando o cara de rosto conhecido falou, consegui entender exatamente de onde o conhecia. Ele disse sem o tom de irritadinho de mais cedo:

- Nada mal moleque, - ele caminhou até onde eu estava sem se preocupar com os caras no chão – você é magrinho, mas é forte hein? Na obra nem parece, seu Zé tá te poupando demais.

- Atila – balbuciei – seu nome é... – meus olhos não se desgrudavam dos outros homens logo atrás dele.

- Atila, isso mesmo. Aqueles manés ali são conhecidos meus – ele se virou para os caras – estavam enchendo meu saco como sempre...

Não podia ser verdade um troglodita como aquele, cursando um nível superior? Meneei a cabeça em dúvida, quando estávamos despidos dos uniformes do trabalho, nossa aparência se transformava. E aquele tom de voz não deixava dúvida era mesmo ele, Atila. Fala sério aqui também, pensei comigo mesmo. Respirei fundo, e arregalei os olhos para o homem às costas dele.

Já de pé, um dos caras veio até nos dois, e eu hesitei alguns passos com a aproximação dele, para a minha surpresa os dois sorriram ao se olharem. Eles apertaram um à mão do outro e tocaram ombro com ombro. No final das contas a confusão não havia passado de uma disputa besta entre eles, eu revirei os olhos, mais aliviado por tudo não passar de uma brincadeira entre amigos. Dei meia volta e saí os deixando entregues as suas conversas idiotas. Quase sozinho fui de sala em sala, piso em piso até encontrar as salas reservadas para meu curso. Na verdade os pisos se dividiam em áreas, humanas, exatas.

As salas se subdividiam também ao longo do lado esquerdo e direito, cada lado com uma área diferente. A minha ao que parecia naquele semestre seria o lado esquerdo, encontrei o meu nome numa das últimas salas desse lado do segundo piso.

A sala estava apinhada de gente, abri a porta e todos sem exceção arregalaram os olhos para mim. O professor, não se deu ao trabalho de olhar, continuou a sua palestra tranquilamente. Logo depois de mim, um dos trogloditas briguentos também entrou na sala, e para minha surpresa veio se sentar perto de mim.

- Sou Heitor, - disse se aproximando mais – esse cara não vai parar de falar não? Já tá ai faz horas dizendo nada com nada.

Eu fingi não ouvi-lo, apesar do delicioso aroma de perfume masculino misturado a hortelã.

As pessoas na sala, não se falavam, quer dizer algumas sim, outras como Heitor a todo o momento puxava assunto no caso dele comigo. E eu farejando algum tipo de encrenca não dava a mínima atenção ao seu falatório. Só ao final da aula, com a saída do professor de pescoço taurino me virei para ele.

Seu nariz era um tanto pontudo e quadrado, quanto aos lábios quase invisíveis, e olhos um tanto grandes e amarronzados. A composição me dizia ser de uma pessoa divertida, mas ainda estava com um pé atrás.

- Finalmente, primeira turma de Administração – disse uma mulher com os cabelos para o alto, e um óculos na ponta do nariz – muito prazer serei a professora de vocês da disciplina de Contabilidade Geral...

Algumas pessoas começaram a murmurar, Heitor inquieto ao meu lado já estava conversando com outra pessoa, uma garota. Eu retesado na cadeira, preferia ficar no meu canto sem chamar muito a atenção.

Um menino sentado a minha frente deixou sua caneta cair no chão, eu a peguei e devolvi, ele parecia um pouco fisicamente comigo. Isso de alguma forma me fez criar empatia, e puxar assunto. A professora explicava no slide os componentes da disciplina dela, e como trabalharia. Heitor ao meu lado, sorria igual um bobo colocando uma das mãos na nuca o tempo todo. Não sei quais motivos dei a ele para isso, mas ele realmente criou empatia por mim, e de minuto em minuto comentava:

- Nós já temos um grupo – sussurrou para mim quando a professora estava para sair da sala.

Eu só assenti concordando sem me preocupar, aquilo não duraria muito tempo, só até ele arranjar a turma dele dentro da sala. O rapaz da frente se virou na cadeira, e educado me estendeu a mão:

- Tudo bem? Obrigado, pela caneta, eu me chamo Robson. – Ele tinha olhos profundamente verdes, e os cabelos pretinhos e encaracolados.

- Por nada, sou Inácio, - respondi – eu...

- Prazer, Heitor! – disse o outro ao meu lado – quando será que vai acontecer o trote hein? Alguém sabe?

Todos nós inclusive a menina que estava do outro lado, também menearam a cabeça. Robson sorria para nós com alguma satisfação, desconhecida para mim, o sono do cansaço do dia de trabalho já estava começando a me dominar.

Inquieto Heitor propôs aproveitar os minutinhos de intervalo para fazer um lanche, eu só levantaria dali para ir embora.

- Vamos sim, estou morta de fome! – A menina exclamou se espreguiçando.

Eu neguei com a cabeça e Robson também, eles sorrindo um para o outro se foram junto com metade da sala. Robson sacou do bolso o celular, e ficou com os olhos presos nele por um tempo depois, se virou completamente para mim.

- Seu amigo parece legal – disse sorrindo.

Eu revirei os olhos, pois só havia conhecido Heitor há alguns minutos, e meus pés permaneciam atrás com ele. Mas afastei a rabugice e concordei, em mais ou menos três minutos, eu soube que um: Robson vivia em uma comunidade com hora marcada para voltar para casa. Dois: o sonho dele era ter uma loja de confecções, igual a mim e três: tínhamos além de tudo a mesma idade.

Cinco minutos depois e já estávamos combinando alguma coisa para fazer no final de semana, para minha surpresa ele comentou os bailes da comunidade. Meu tio odiaria a ideia de ter um sobrinho em uma festa desta, e eu nunca tinha participado de uma.

- Como assim? São aqueles bailes de fank? – sorri arqueando as sobrancelhas pelo meu preconceito descabido.

- Sim é maravilhoso, apesar de não ser bem visto... Tipo você comentou ai que trabalha em uma construção civil não é? – Eu assenti curioso. – Se for onde estou achando, conheço alguns caras que trabalham lá. Na verdade trabalham para a empresa que contratam eles... Ah você entendeu, eles vivem participando dos bailes... Já até fi...

Um braço foi lançado em volta do pescoço de Robson o impedindo de falar, e Heitor se sentou quase no colo dele, fazendo seu rosto ficar todo vermelhinho. Coitado! Não sei o que viria a seguir na frase dele e só voltei a pensar nisso, depois de voltar para casa já deitado na cama, sentindo aquele prazer gostoso das pernas relaxadas depois de todo o dia de trabalho, e mais metade da noite na faculdade.

Eu me virava para um lado e para outro pensando nas coisas acontecendo uma atrás da outra na minha vida, como ela mudara em uma semana. Isso era muito bom, apesar dos meus tios problemáticos. Meu tio apareceu na porta do meu quarto, com certeza querendo me passar uma bronca por eu ter pedido carona, mas me fiz de estatua. Adormeci com a sensação gostosa deixada pela corrida no camburão mais cedo, liberdade.

- Anda logo se quiser carona! – Acordei assim, com essa frase do meu tio fofo.

Dei um salto da cama sem frescura no banheiro, e já saí pronto. Hoje ela tinha acordado com as bruxas. O som estava tocando o rock pauleira nas alturas, nem café tinha nada na verdade. Uma morta saída do tumulo depois de vinte anos, era como a esposa do meu tio estava, depressão é coisa séria, eu sei, e sinto até compaixão pelo sofrimento dela, mas as raivas passadas são maiores.

Abri a porta do carro, e meu tio arrancou sem ao menos esperar eu me sentar direito no banco, ele também estava intranquilo, para não dizer coisa pior.

- Sua tia tá com as macacas hoje – começou – que história é essa de pedir carona em camburão tá doido é? – ele nem me deixou continuar – se vagabundo ver tu saindo de um carro da policia assim, pode te marcar. Se liga Inácio, você é um boboca mesmo viu, não puxou aos homens da família não mesmo, parece até uma criança... Você está na minha casa, na minha porra de casa...

O trajeto todo foi feito assim ao som dessas belas palavras. Enquanto eu apenas concordava com tudo, já estava acostumado com a neurose como ele mesmo disse os homens da família. Na maioria eram assim, loucos, com algum distúrbio provocado muito provavelmente pela profissão. Grande parte dos meus tios incorporava ou as forças armadas ou a policia militar. E veladamente eles queriam também que eu seguisse essa profissão, em minha opinião muito dúbia.

Apesar dos sermões sem sentido, ele me deixou na porta do trabalho. Uma galera aguardava a chegada de seu Zé para poder entrar. Eu tirei os fones do bolso, e os pluguei nos ouvidos.

- Ei quem trabalha comigo não fica nessa folga não hein – disse Atila retirando um dos fones, eu revirei os olhos na mesma hora.

- Quem disse que vou trabalhar com você de novo? Não deu certo ontem, hoje também não... Vou conversar com...

- Eu já falei com Zé. - Sorriu debochado. – Você é forte eu vi ontem, preciso de gente assim, ele já te deixou exclusivo para mim.

Meneei a cabeça duvidando daquilo, não podia ser não podia, à noite e o dia todo também? Na faculdade talvez ainda desse para evitar ele, mas ali. Ainda mais sendo um tipo de chefe. Respirei o mais profundamente possível, e tão logo seu Zé ficou livre me aproximei dele.

Ele estava despido da cintura para cima, e me olhou longamente, eu tinha até vergonha de perguntar, porque o brucutu não ia mentir sobre uma coisa assim. Respirei mais uma vez:

- Seu Zé, me desculpe à intromissão... Mas o Atila me disse que o senhor autorizou de eu trabalhar diretamente com ele. É isso mesmo.

Seu Zé vestiu seu macacão, igual ao nosso, e se aproximou mais de mim. Seu olhar era paternal:

- Ou você prefere ficar no mais pesado? Olhe vocês dois são dos estudos, esse menino... Esse menino é sabido como o quê, e vai te ensinar bastante coisa. Obedeça ao que ele lhe disser pra fazer, era só isso?

Assenti vencido. O brucutu estava me esperando com um sorriso debochado de orelha a orelha. A semana ia ser longa.

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Comentários

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Boa a sequência. Estou gostando do clima que está se formando na história, dos protagonistas e dos coadjuvantes. Quando a história está bem amarrada a gente tem paciência e espera pelas ocasiões mais quentes, hehe.

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