Olá a todos! Obrigado pelos comentários!
Imagino a correria para todos, e agradeço mesmo pelo tempo que param para ler essa história. Espero que estejam gostando e o que não agradar por favor pode deixar nos comentários que eu leio, e se possível altero.
Também se tiver alguma coisa às escuras, sei lá, mal explicada nos capítulos podem falar por favor.
(MUITO OBRIGADO PELA ATENÇÃO: #tiopassivo #MarCR7 #Geomateus #Pichelim, valeu mesmo!)
E a todos uma ÓTIMA LEITURA!!
****************
Se eu tivesse um boné naquele momento estaria apertando-o entre os dedos. Mas na falta dele, rói uma das unhas. Agradecer ao Atila por me ajudar, mesmo sem que eu pedisse isso, a continuar no serviço mais brando, era um risco. Ele também não era nenhum bicho, me convenci ao chegar perto dele. A alguns passos de mim, Atila dava ordens a três outros peões as instalações já estavam no fim, não fosse o quarto e terceiro andar ainda precisando de atenção e reparo.
Sem muito jeito, arranhei minha garganta para chamar a atenção dele. Os três rapazes se dispersaram e enfim consegui que me olhasse. Eu envergonhado, abaixei a cabeça para suas botas emborrachadasaté que fim pensei que ia ficar lá embaixo o dia todo, você vai pro terceiro andar...
- ObrigadopormeajudarcomseuZé! – disse interrompendo-o e falando tudo junto rápido, como se fosse uma dose amarga de remédio.
E já fui me virando para o outro lado. Ouvi o que poderia muito bem ser um riso contido. Ele estava sorrindo do meu nervoso, brucutu mesmo! Continuei meu caminho, descendo para o terceiro andar. Atila conseguiu me surpreender, mais do que isso conseguiu plantar em mim uma dúvida ao ouvi-lo dizer:
- Não foi ajuda nenhuma – resfolegou manso – você realmente é melhor que os outros peões nesse serviço. – Eu me voltei para olha-lo em seus olhos vi refletido meu rosto, ou parte dele, por que? – Apesar de ser um cagão medroso! – e com isso encerrou minhas dúvidas.
Desisto, continua a ser um bruto. Desci para o terceiro andar, não sem antes pensar em como o rosto dele tinha tomado uma coloração estranha. Eu não me lembrava de ninguém me olhando daquele jeito. A contrição no rosto de Atila, não era igual à Adelmo na noite passada nem a nenhum outro homem. Por que? Fiquei com aquela coisa no peito, como uma interrogação, como uma comida mal indigesta.
Percebi ao chegar ao terceiro andar que na parte elétrica eu ficaria sozinho, parafusando as lâmpadas. Os outros perdidos por ali, estavam em funções diversas. A hidráulica tinha dado um problemão ao pessoal do topo e para todo lado se via água. Eu cuidei para manter as ferramentas em segurança, secas, para minha própria.
Enquanto organizava tudo, Fábio apareceu, em bicas. Já àquelas horas, deveria estar no serviço pesado no térreo.
- Bom dia, - disse – Robson comentou ontem a noite que você não apareceu na faculdade.
Eu arqueei as sobrancelhas, eles tinham uma amizade e tanto. Sorri para meu pensamento sórdido, e assenti para ele:
- Foi, tive um problema em casa, mas nada demais. Hoje com certeza eu vou, não posso ficar faltando sou bolsista.
- Ele queria até entrar em contato contigo, mas não tinha teu número – sorriu – eu falei com ele Am... Amigo, calma, Inácio deve ter tido algum problema.
Atila tinha algum misterioso dom de aparecer, surgir assim do nada, como se tivesse por mágica, sumido de um lugar e aparecido em outro. Fábio não chegou a dizer nada, apenas acenou para mim com a cabeça e saiu ao percebê-lo perto. Atila também não disse coisa alguma. Carrancudo estava e assim continuou. Observou de perto tudo que eu estava fazendo, e se foi, mais uma vez por seu portal mágico.
A presença dele me incomodava isso eu já tinha percebido, e pensado sobre também. Primeiro pela pessoa irritadiça, quem não ficaria incomodado com um sujeito reclamão? Mas tinha mais alguma coisa, eu sorri para mim mesmo, acoplando uma lâmpada. Ou era eu quem queria que tivesse? Meneei a cabeça para esses pensamentos nada haver.
Sem ninguém para me interromper tirei do bolso meu fone de ouvidos, e a música carregou todas essas incertezas. Trabalhei enquanto ouvia um álbum atrás do outro. Quando dei por mim mesmo já estava com o serviço pela metade, em um andar inteiro e sozinho.
Orgulhoso, descansei no batente de uma das varandas. A vista dali mostrava longe a avenida, e a multidão de veículos trafegando. Um dia eu ainda trabalharia em um escritório igualzinho a esse, ou quem sabe na minha própria loja, pensei sorridente.
- Inácio! – o grito gelou minha espinha – você está com fone de ouvidos? É por isso que estou aqui uma vida inteira te chamando e não responde.
Atila estava com o rosto vermelho, e aos seus pés, aos meus pés, água! A música estava no último volume. Tirei os fones, e ele ousadamente tirou o celular de mim, fui para pega-lo:
- Você não tem esse direito seu boçal! – reclamei.
Os olhos de Atila se alteraram, ele enfiou o celular dentro do próprio bolso e me deixou com um argumento válido demais.
- Escuta aqui, eu sou responsável pelo seu trabalho – resfolegou com uma das sobrancelhas arqueadas – se algo sair errado, vão cair matando em cima de mim não de você. Sendo assim, acho que vou fazer como professores com alunos rebeldes, tomar seu celular. Boçal, eu? – murmurou para si.
Mordi meu lábio inferior, minha primeira reação era a de ir atrás dele. Mas ali estava o rodo me esperando. Só para atrapalhar o restante do serviço. O rodo fez eu me lembrar do dia anterior, ele estava me perseguindo, pensei, não o Atila boçal, irritadinho, mas o rodo. Se eu fosse até seu Zé reclamar de alguma coisa estaria sendo injusto e mal agradecido, além de confirmar a teoria de aluno rebelde dele.
A melhor resposta é o trabalho, disse para mim mesmo, nem almoçar eu fui, empurrando toda aquela água. À tardezinha continuei a acoplar as últimas lâmpadas e o boçal não apareceu para me devolver o celular. Procurei por ele em todo o canteiro, mas desisti pela hora. No dia seguinte teria de falar com seu Zé, isso não, tomar um pertence assim.
Tirei o macacão, vesti minha roupa normal, e caminhei para o lado de fora. Não vi Fábio sair, nem o boçal. As luzes dos últimos andares lá em cima, ainda estavam acessas ele deveria estar lá. Do passeio dava para perceber isso, meneei a cabeça e decidi voltar, foi quando uma buzina próxima a mim retiniu. Voltei-me para o lado, e Adelmo estava com metade do corpo dentro do veículo e metade para fora.
Sem reação esperei por ele ali mesmo, seu sorriso me desarmou. Ele tinha vindo buscar, calculei comigo, o que não dei ontem. Engoli em seco, lá em cima as luzes já haviam se apagado.
- Oi, vim te oferecer uma carona. – O perfume já não era mais o mesmo, senti vergonha por não estar lá muito pronto para uma paquera. – Eu liguei para você mais cedo – revelou.
- Como conseguiu meu número? – disse hesitante.
- O sargento me passou por segurança – de que segurança eles falavam tanto, me perguntei – vamos.
Segurou minha mão e a puxou, eu recuei uns passos. Ninguém mais tinha saído do canteiro. Os outros peões também já haviam partido o ponto logo ali na frente estava quase deserto.
- Melhor não Adelmo. – Consegui dizer.
- Você quem me beijou ontem à noite e agora tá fugindo da raia?
Dei de ombros, ele não podia me cobrar, um beijo não acontece apenas por uma parte, não daquele jeito. Finalmente a porta se abriu e seu Zé saiu de lá de dentro, me voltei para Adelmo.
- Ei, eu não te prometi nada tá desculpe se pensou que sim – engoli em seco mais uma vez – sinto muito, mas não prometi nada, nos beijamos foi gostoso, mas só isso.
Os dedos de Adelmo se retorceram em volta do meu antebraço, o puxei com força conseguindo me livrar. Ele chegou ainda mais perto, e sorriu de canto senti em seu hálito cheiro de uísque.
- Você é só mais uma bicha mesmo – cuspiu para o lado com uma das mãos no meu pescoço, segurei seu pulso – tenho nojo de ter te deixado encostar essa sua boca em mim. Veadinho!
Ainda bem que não transei com você babaca, pensei. Ele me empurrou e saiu quase não me movi de onde estava. Um frio sinistro subiu por minha espinha, tremi um pouco, mas logo ele saiu. Atila, Fábio e seu Zé estavam a alguns passos de mim, meu rosto esquentou de vergonha. Tossi um pouco por causa da minha garganta, cabo Adelmo cretino, nenhuma surpresa, disse para mim mesmo sentindo uma mão em meu ombro.
- Está tudo bem Inácio? – era Atila.
Concertei minha postura, não ia ficar mostrando fragilidade na frente dele, logo Atila. E outra coisa, não ia ser um enrustido a me colocar para baixo, beija bem, é gostoso, mas idiota! Coitado do carinha que ele come, vai sofrer hoje. Estendi a mão para Atila esperando por meu celular e os fones. Ele sorriu ao devolver o celular. Naquele sorriso entendi uma censura mascarada, típica dele.
- Porque está sorrindo assim? – não resisti. – Deveria era me pedir desculpas pelo papelão de mais cedo.
Ele veio bem pertinho de mim, sua respiração arfante. Lá atrás nem Fábio, nem seu Zé estavam mais. De repente me peguei olhando para seus olhos mais uma vez, eu conseguiria ver meu rosto refletido nele. O frio na espinha deu lugar ao frio na barriga, senti minhas bochechas corarem, Atila também parecia perdido. O perfume de mais cedo a muito não existia, e nós dois miseráveis por conta do dia de trabalho não cheirávamos a nada especial.
Atila recuou. Nossos olhares se desgrudaram e por um tempo não soube bem o que estava acontecendo ali. Ele fez questão mais uma vez de afastar qualquer ideia de amizade, ou coisa mais afetiva.
- Você é quem estava se tremendo de medo daquele cara – ergueu o queixo triunfante – se não fosse por mim e seu Zé ali perto, seu narizinho ainda estaria todo torto. Medroso!
Meneei a cabeça para ele. Na tela do celular vi algumas chamadas de um número estranho e do meu tio. Não dei mais a mínima atenção ao que dizia Atila, passei por ele em direção ao ponto de ônibus com o celular no ouvido. Meu tio demorou a atender e quando me virei para ver se Atila ainda estava no mesmo lugar já havia desaparecido. O sargento do outro lado da linha, não era meu tio sim sua esposa. Um doce de pessoa, começou a me xingar, como se eu fosse a amante do marido dela. Descompensada.
Encerrei a chamada e esperei pelo ônibus. Na mesma direção em que o ônibus viria, um carro vermelho, novo, estacionou e a janela da porta do carona desceu. Não acreditei ao ver Atila ao volante.
- Tá de sacanagem – disse me aproximando – seu salário deve ser muito bom para conseguir um desses.
- Entra vou te dar uma carona até em casa.
Cruzei os braços sem sentir frio nenhum. Uma senhora apenas esperava no ponto comigo. Abaixei para vê-lo lá dentro, ele começou a buzinar. Decidido a não me importar mais com as provocações de Atila.
- Muito obrigado, não preciso. – Respondi cínico, ele ainda tinha a coragem de me oferecer carona? – Vamos brigar o caminho todo, não quero ser o responsável por uma tragédia.
Seu sorriso debochado apareceu, a correntinha dele estava à vista. Olhei para ela e parecia haver um homem em cima de um cavalo. Sorri sem consegui me conter, tentado só um pouquinho a entrar no carro. O ônibus fez o favor de despontar nesse momento, me aproveitei disso e afastei do carro. Ao subi para o ônibus cheio àquela hora, entrevi o carro dele sair de frente do ônibus.
Dessa vez a esposa do meu tio, convalescente não atirou minhas roupas pela janela, nem as queimou. Como fez uma vez, tempos atrás, com meu tio em casa ela estava toda comportada. Também o tiro deveria ser responsável por isso, imaginei. Meu tio não me dirigiu a palavra das duas vezes que me viu ao entrar em casa, chegando do trabalho e ao sair para a faculdade. Nem um obrigado, nada.
Grosseirão, igualzinho ao irmão, meu pai. Por pouco não dormi em pé no ônibus a caminho da faculdade. No estacionamento da faculdade, não lá dentro mesmo, mas próximo ao portão de entrada vi Robson abaixar-se no carro e beijar os lábios de Fábio. Não pareciam muito preocupados com quem os visse, e sorri para a bravura dos dois.