- Enquanto eu estava dirigindo, pensei o porquê de tudo isso... Toda essa situação me incomodava tanto. E a resposta veio como uma facada em plena artéria aorta. Eu amava o Guilherme, não importava o tempo ou a distância, que nós não nos víamos ou nos falávamos. Mas, agora os tempos eram outros. Eu morava em São Paulo, tinha meu trabalho, minha empresa, minha rotina. Guilherme por sua vez, era médico residente, estava prestes a concluir seu sonho de se tornar dermatologista e estava namorando.
- Porque o Otto? Esse homem sério e pseudo-intelectual? ok, ele era bonito, ganha dinheiro, fala bem, tem presença, tem o corpo legal, branco, olhos claros, da minha altura... E o Otto, estava dentro dos padrões que a sociedade preconceituosa já ditava desde sempre.
- Chego em casa, coloco o carro na garagem e vou encaminhando para o quarto, até que:
-Pai: Igor ?
Eu: Pai!
- Lhe dei um abraço caloroso e conversamos um pouco, antes de eu entrar no quarto e pegar no sono...
- As quase 01:00 da manha, meu celular toca... acordo... quem será dessa vez!
Voz: Amigooooo!!! Cadê você?!!!
Eu: Guinha! Oi! Estou em Maringá, amiga.
- Guinha ( Olga ) era minha amiga e sócia, na época de faculdade.
Guinha: Ai amigo, desculpa. Você estava dormindo?
Eu: Estava!
Guinha: Desculpa amor, porém é código 5!
(Usávamos esse código para falar com o outro, não importasse o dia ou a hora, era um código de extrema urgência.)
Eu: O que houve, amiga ?
Guinha: O Edu terminou comigo.
Eu: De novo, amiga ? Mais o que houve desta vez ?
Guinha: Amigo, eu acho que ele está me traindo! Brigamos, porque ele foi ao banheiro e levou o celular dele. Como alguém vai ao banheiro e precisa levar o celular?
- Eles sempre brigavam pelos mesmos motivos, as paranoias de Guinha. Não que o Eduardo fosse algum santo. Mas, na minha opinião, ela sempre procurava demais algum fato para brigar, para se sentir traída.
Eu: Amiga, talvez seja melhor vocês darem um tempo, para cada um pensar se é realmente isso que querem, o que acha ?
Guinha: Você está bem?
Eu: Estou, porque ?
-Guinha: Porque eu amo ele, Igor! Eu não tenho o que pensar...
Eu: Mas talvez ele tenha, amiga...
-Silencio...
Eu: Desculpa, amiga! Mas, é que talvez você esteja sufocando ele!
Guinha: Não estou, amigo! Quem não tem nada a esconder, não tem nada a temer!
Eu: Acho que não sou a pessoa mais certa para te dar conselhos sobre isso! Acho celular uma coisa muito privada.
Guinha: Há você acha ? ( falou irônica )
Eu: Eu me arrependi, Olga! Não deveria ter feito aquilo, mesmo descobrindo a verdade. E tem casos e casos. Talvez ele só não queira se sentir invadido. Vocês brigam sempre, esse cara te ama, mas, vai chegar uma hora, se essas brigas continuarem, que não vai ter mais amor, para poder voltar.
Guinha: Desculpa, amigo! É que odeio achar que posso estar sendo enganada.
Eu: Então pare de achar! Pare de procurar! vocês estão juntos já há três anos, se ele não gostasse de você, acredite, vocês não estariam mais juntos.
Guinha: Você acha que devo ligar para ele?
Eu: Faça o que seu coração mandar. Mas, as vezes é melhor um tempo, para o coração se acalmar. Deixa a saudade chegar. ( falei dando um sorriso amigável. )
Guinha: Obrigado meu amor! Vou ver o que eu faço.
Eu: Beijo, fica com Deus! Vou voltar a dormir, morrendo de sono, esse meu cansaço não acaba nunca.
Guinha: Beijo, te amo.
- Antes de desligar o celular, Guinha fala...
Guinha: Igor!
Eu: Oi!
- Falei querendo desligar o celular.
Guinha: Você viu seu ex?
- Meus amigos mais íntimos sabiam de toda a história, e seria difícil não perguntarem, mesmo eu não querendo falar sobre o assunto.
Eu: Vi.
Guinha: Ai meu Deus, e ai ?
Eu: Ele está namorando um psiquiatra.
Guinha: Meu Deus, amigo! Como você está ?
Eu: Amiga, não é o fim do mundo! Passaram-se dois anos, e ele, assim como eu, seguiu a vida dele...
Guinha: Você está bem ?
Eu: Estou, mas, conto tudo a você pessoalmente.
Guinha: Se você não tiver bem, eu posso ir para Maringá! Vamos ferver nessa cidade!
Eu: É mais fácil congelarmos aqui, amor. ( falei sorrindo!)
- Não tinha nada para fazer lá. Na verdade, até tinha, mas, eu que tinha preguiça mesmo.
- Ela sorriu, nos despedimos e fui dormir.
- A semana passou arrastada, ajudava muito meus pais em casa e passava 80% do meu dia com eles, afinal de contas, era o meu proposito. Mas, chegou a quinta feira a noite, e recebi uma ligação de um numero desconhecido do meu celular, resolvi atender.
Eu: Alô?
Voz: Oi Igor, aqui é o Otto, tudo bem ?
- Eu sempre soube que os problemas me perseguiam. Mas, ai já é demais! O que esse cara quer comigo ?
Eu: Oi! ( falei surpreso ) tudo sim, e com você ?
Otto: Indo. te atrapalho ?
Eu: Não! Estava vendo um filme, mas, pode falar.
Otto: Eu gostaria de conversar com você, se não tiver problema.
Eu: Mais temos algo para conversar ?
Otto: Eu queria entender algumas coisas, sempre quis, na verdade. E como você está na cidade, vi que era o momento propício.
Eu: Olha, se for sobre o Guilherme, não tem do que se preocupar! Vivemos a nossa história, foi linda, porém, acabou! Eu estou bem! Ele está bem! E vida que segue.
Otto: Entendo. Você parece estar bem decidido! Mas, não sei se ele também está. Desde que você chegou, as coisas mudaram um pouco, e eu gostaria de entende-las. Guilherme, está muito calado sobre tudo que pergunto sobre esse assunto. Então gostaria de conversar numa boa com você, apenas para entender as coisas. Já que você parece ser bem mais cabeça que ele.
- Eu senti uma certa tristeza na sua voz, e percebi que ele estava sendo genuíno em suas palavras.
Eu: Não subestime o Guilherme, Otto. As vezes quem menos aparente ser ou ter algo, é quem mais tem! Mas, tudo bem. Podemos nos ver sim! Só me diz quando e a hora.
Otto: Não, eu não o subestimo, desculpa, me expressei mal. É que tudo tá meio estranho mesmo. Pode ser hoje as 21:00?
Eu: Pode sim, qual o local ?
Otto: Tem um Pub bem legal, que toca “Mpb” é bem de boa o local, e tem uns drinks muito bons.
- Ele estava querendo falar de um assunto “sério” e queria me levar para um Pub, é isso mesmo ?
Eu: Olha, se você não se importar, eu prefiro um local mais discreto!
Otto: É, o Guilherme falou que você era antissocial, podemos ir para a mesma cafeteria que fomos na segunda, então, se preferir...
- Oi? O Guilherme falou isso de mim? E pior, ele (Otto) falou isso pra mim ? Bom, eu não conhecia esse cara, mas, ele com certeza não tinha nenhum tipo de senso social.
Eu: ( falei rindo ) Eu colocaria a palavra discreto, mas, podemos ir para esse pub, sim. Me passa a localização por mensagem e estarei lá as 21:00.
Otto: Ok, abraço.
Eu: Até mais.
- Algo não estava certo nesse “encontro”, e eu sempre tive uma intuição muito forte. Mas, uma coisa era certa, minha vinda aqui mexeu com o Guilherme, e por mais que eu tentasse não querer criar expectativas, eu gostei de saber disso.
CONTINUA