EM BUSCA DO SUCESSO – CAPÍTULO 1
CALIFÓRNIA – PR
Renan, 18 anos, havia acabado de terminar o ensino médio, ainda perdido no que ia fazer. Ele morava com a mãe Marta em uma casa simples junto com seu padrasto Ademir.
Renan: Mãe, vou lá na casa do pai ver se ele precisa de ajuda com a mudança – Ele disse saindo de casa.
Ademir: Ele vai mesmo se mudar então? – Ele disse enquanto limpava o quintal.
Renan: Já está tudo pronto quase.
Marta: Ainda bem, quanto mais longe estiver daqui, melhor.
Renan entendia que os pais não se falavam de jeito nenhum, desde pequeno morava com a mãe, mas ainda assim, mantinha uma relação boa com o pai por morar perto. Renan pegou seu celular e a bicicleta para ir até a casa do seu pai Juvenal. No caminho, ele encontrou seu amigo dos tempos de colégio Giovani.
Giovani: Fala Renan, quanto tempo!
Renan: Giovani, beleza?
Giovani: Eai, o que ta fazendo?
Renan: Ah, trabalhando no bar do seu Pedro ainda.
Giovani: Ah sei, eu é que parei de frequentar aquele lugar, to indo na igreja agora.
Renan: Sério? Ah eu consigo um troquinho ali, ajudo no que posso, mas não aguento mais, quero um emprego melhor.
Giovani: Entendo, to fazendo uns bicos com meu tio que é encanador, mas sabe como é né, não dá pra nada o dinheiro também.
Renan: Hein, eu preciso ir lá na casa do meu pai, ajudar ele com a mudança.
Giovani: E ele vai pra onde?
Renan: Vai morar em Curitiba.
Giovani: Curitiba? E você vai junto?
Renan: Não, eu não.
Giovani: Beleza então amigão, vou indo nessa, aparece lá na missa mais vezes, daí a gente se encontra.
Renan: Ah ta, pode deixar – Ele se despediu com um abraço.
Os dois se despediram, por um momento, Renan cogitou a ideia de como seria ir embora da cidade para a capital que ele mal conhecia.
Renan chegou na casa do pai Juvenal para ajudar a organizar as coisas.
Juvenal: Ainda bem que veio filho, como você ta?
Renan: Bem pai e o senhor?
Juvenal: Bem, já almoçou filho?
Renan: Já sim pai, vim ajudar na mudança.
Renan começou a encaixotar as coisas, a casa de seu pai era uma bagunça, ele tinha passado alguns momentos da infância ali antes de ir morar com a mãe quando eles se separaram. No meio de tantas coisas, uma foto dele criança, seu pai e outro menino chamou atenção.
Renan: Acho que eu tinha uns 6 anos aqui, mas e esse outro aqui? Pai vem cá – Ele chamou
Juvenal: O que foi Renan?
Renan: Quem é esse menino da foto?
Juvenal: Sei lá, deve ser um daqueles vizinhos da outra casa, brincava com você quando era pequeno.
Renan tirou uma foto da foto no seu celular e continuou guardando as coisas.
CURITIBA
Em um dos melhores bairros morava uma família tradicional muito bem financeiramente composta por César de 46 anos, Estela de 42, Camila de 21 e Guilherme de 19 anos.
Guilherme: Irmãzinha, você ta no tinder?
Camila: Aí garoto, o quê que tem?
César: Já passou da hora de minha filhota arrumar um namorado mesmo, mas tem que ser homem descente.
Guilherme: É, senão daqui a pouco vão achar que é lésbica.
Camila: Nossa, Deus me livre.
Estela: Família, quero apresentar vocês a nova empregada, a Mirelle já saiu de licença maternidade e se Deus quiser nem vai voltar mais.
Guilherme: Mãe, a senhora demitiu ela?
Estela: Aí não suportava mais.
Camila: Guilherme vai sentir falta porque ele dava em cima dela, e a garota tinha marido.
Estela: Era nova demais, sem experiência, deixava a casa horrível e ainda por cima chegou aqui grávida, não respeitava meu marido e nem meu filho, bebê da mamãe, mas enfim, agora teremos a Gilda, excelente currículo, mais experiente, bem mais velha, venha cá Gilda – Ela disse chamando a mulher de meia-idade.
César: Se minha mulher confia, seja bem-vinda Gilda.
Camila: Olha, muito cuidado com as minhas roupas hein, já vou avisando.
Guilherme: Bem-vinda, começa quando?
Estela: Hoje mesmo.
Gilda: Eu só vou em casa buscar minhas coisas, não vim preparada, mas dona Estela gostou tanto né, fico feliz de começar a trabalhar aqui.
César: E você mora aonde?
Gilda: Na Vila aqui do lado.
Estela: Na Vila Pinto.
Camila: Eu hein, ninguém merece aquela favela.
Estela: Camila fique quieta.
César: Estou de saída pra jogar tênis no Botânico, se quiser uma carona Gilda, te deixo lá.
Gilda concordou e César foi pegar suas coisas. Eles entraram no carro e no caminho o patrão foi perguntando sobre a vida da empregada até chegar na casa dela.
César: Nunca quis sair desse lugar Gilda? É perigoso.
Gilda: Imagina, minha família inteira é daqui seu César.
César: Esses moleques jogando bola na rua, tenho que andar devagar.
Gilda: Aquele ali ó, é meu menino, Kauan.
César: Qual deles?
Gilda apontou para o garoto sem camisa. César ficou admirando o corpo de Kauan, o jeito dele, sua habilidade em jogar bola.
César: Tem quantos anos?
Gilda: 17, tenho uma menina mais velha também, Jéssica, já ta com 25, minha casa é ali.
César: Entendi, bom, está entregue, toma aqui 20 reais, pode pegar um táxi depois pra voltar mais rápido, eu vou jogar tênis.
Gilda: Muito obrigado seu César.
César: Pode me chamar só de César.
Gilda saiu do carro, e César deu partida no carro bem devagar para conseguir ver Kauan.
César: Delícia.
CALIFÓRNIA
Renan estava conversando com o pai sobre a mudança ainda.
Juvenal: Filho, por que não vem comigo? O que vai ficar fazendo nessa cidade? Não tem muitas oportunidades.
Renan: Pai, eu fiz o Enem, no começo do ano que vem posso tentar uma vaga numa universidade de Curitiba.
Juvenal: Pode morar comigo.
Néia: Como é? Quer levar seu filho junto – A madrasta perguntou.
Juvenal: Qual problema?
Néia: Nenhum, se quiser ir Renan as portas de casa estarão abertas, só não pense que irei fazer tudo o que sua mãe faz por você, lá vai ter que ser homem, se virar sozinho.
Juvenal: Néia, meu filho é homem, aquela mulher é que te mima demais Renan, tem que sair da saia de sua mãe logo.
Renan: Vamos ver.
Juvenal: No começo do ano acho que ele vai fazer faculdade, filho meu vai ter ensino superior, o primeiro da família, já que sua irmã Paula não quis saber.
Renan: Pai, eu tenho que ir pra casa, trabalhar ainda hoje.
Juvenal: No bar ainda Renan? Já disse que não gosto de você trabalhando em boteco.
Renan: Mas é que eu consegui, o senhor vai hoje ainda né?
Juvenal: Sim.
Renan: E esse caminhão hein pai? Tão velho, aguenta uma viagem dessas?
Juvenal: Eita, mas é claro.
Renan: Está bem, vai com Deus, assim que chegar manda notícias, boa viagem pra vocês.
Renan se despediu do pai e da madrasta, estava triste, ia ter que ficar longe de Juvenal, mas seu coração estava dividido, entre continuar morando com a mãe ou mudar de cidade para viver com o pai.
Renan: Como seria morar em Curitiba?
Renan chegou em casa, tomou um banho, se vestiu e foi para o bar onde trabalhava atendendo aos clientes.
Pedro: Acelera ai Renan, sabadão o movimento tende a ser grande – disse o proprietário.
Renan: Pois não, senhora o que vai querer?
Renan era ágil nos pedidos que enviava para a cozinha, ele se desdobrava para atender a todos.
Homem: Eu vou querer dois x-frango com calabresa, duas cocas em lata e um litrão, na mesa 7, Samuel.
Renan: Ok, já levamos lá.
Renan volta e meia ficava reparando nos homens que frequentavam o local, mas esse lhe chamou tanta atenção que ele mesmo fez questão de entregar o pedido.
Renan: Samuel é aqui né?
Samuel: Sou eu mesmo.
Renan: Querem mais alguma coisa?
Samuel: Por enquanto não.
Renan toda hora percebia Samuel olhando pra ele, mas ele tentava se concentrar em atender os clientes. O bar funcionou normalmente, na hora que estava voltando pra casa, Renan avistou o grupo de amigos que estava lá no bar e foi surpreendido com a voz de Samuel o chamando.
Renan: O que foi?
Samuel: Calma, ta assustado?
Renan: To cansado.
Samuel: Então se eu pedir pra gente dar uma volta, você vai dizer que não?
Renan: Não sei, nem te conheço.
Samuel: Conhece sim, eu tava ali no bar, mas tá, deixa eu me apresentar, eu não sou daqui, sou de Curitiba, eu e meus amigos estávamos em Maringá, num evento da faculdade e acabamos parando na cidade para descansar.
Renan: Ah entendi, e eu moro aqui, trabalho ali no bar, só isso.
Samuel: Você nem disse seu nome.
Renan: É Renan, vão voltar hoje mesmo?
Samuel: Então, meu amigo que ta dirigindo acabou bebendo, acho que não vai dar pra voltar hoje, sabe o que tem por aqui?
Renan: Ta tendo a festa de aniversário da cidade, quer dizer, essas horas já acabou, mas ainda tem amanhã à noite.
Samuel: Se eu ficar por aqui, vai me levar lá?
Renan: Bom, eu posso trocar pra ficar trabalhando a tarde, daí a noite fico livre.
Samuel: Beleza, vem aqui, deixa eu te apresentar meus amigos.
Renan tentou se enturmar com a galera que estava ali naquela praça, mas estava tímido. Samuel percebeu e o chamou para dar uma volta.
Renan: Me fala mais sobre você.
Samuel: 25 anos, moro em Curitiba, to me formando em Letras, dou aula de inglês e escrevo poesia nas horas vagas.
Renan: Sério? Interessante.
Samuel: E você moço? Com essa cara de misterioso, to ficando intrigado, não é nenhum psicopata né?
Renan: Eu? – Ele riu – Eu moro aqui desde que nasci, cidade pequena, ninguém sabe que sou gay, trabalho ali no bar, esperando o resultado do Enem pra ver o que eu faço da minha vida.
Samuel: Entendi, e as vezes surge clientes assim...como eu?
Renan: É a primeira vez que to conhecendo alguém, normalmente só vai o povo aqui da cidade mesmo.
Samuel: Tá dizendo que nunca ficou homens?
Renan: Nunca.
Samuel se aproximou de Renan com a intenção de beija-lo ali na rua, que estava praticamente vazia, mas o jovem não deixou.
Renan: Aqui não.
Samuel: Relaxa, essas coisas são normais.
Renan: Você não entende? Alguém pode ver.
Samuel: Já sei, vem aqui.
Renan foi puxado para uma rua paralela, escura, ele estava com medo, mas antes de pensar foi surpreendido pelos lábios de Samuel e ficou preso em seus braços. Ele nunca tinha beijado outro cara, e aquela intensidade, aquele fogo foi percorrendo todo seu corpo, o beijo era quente, molhado, não dava vontade de parar, suas mãos foram percorrendo os detalhes do corpo moreno de Samuel, não era nada bombado ou definido, mas para Renan, parecia perfeito. Sentir ele beijando seu pescoço, o deixou ainda mais arrepiado, os dois não se contiveram e pegaram um no pau do outro, duro, quente e grande, o mundo podia acabar naquele momento que para Renan nada mais importava.
Samuel: Se você quiser a gente pode estender a noite.
Renan: Não, eu não posso, está tarde já, minha mãe vai me matar – Ele disse olhando o relógio.
Samuel: Amanhã, te encontro pra ir na festa então?
Renan: Assim, vamos, mas olha é a festa da cidade, não tem nada tão legal assim.
Samuel: Mas tem você, amanhã eu passo ali no bar então, que horas sai?
Renan: umas 7, 8 da noite.
Samuel: Beleza.
Os dois voltaram juntos para a praça. Dali, Renan foi para sua casa, sorrindo, tinha dado seu primeiro beijo em outro homem, o garoto foi dormir feliz da vida.
DIA SEGUINTE
CURITIBA
Juvenal estava terminando de arrumar as coisas e resolveu ligar para o filho para dizer que tinha chegado bem.
Juvenal: Bom dia filho.
Renan: Oi pai, bom dia, chegou bem?
Juvenal: Tudo certo, teve um acidente na estrada, acabamos chegando aqui de madrugada, por isso to te ligando agora.
Renan: Ahhh, que coisa, mas que bom que chegaram bem.
Juvenal: Néia ta me chamando pra tomar café, até depois.
Renan: Até pai – Ele disse aliviado, enquanto estava com Samuel, nem lembrava que o pai estava na estrada.
CASA DA FAMÍLIA MACOPPI
Guilherme: Gilda, essa panqueca ta maravilhosa hein.
Estela: Verdade Gilda, hoje você vai me ajudar com o almoço.
Gilda: Claro, dona Estela.
Camila: Mãe, preciso conversar com a senhora sobre meu intercâmbio.
Estela: Camila, isso é depois.
César: Bom dia família – Ele disse tomando um gole de café em pé.
Estela: Amor, está com pressa?
César: To indo jogar tênis, atrasado.
Estela: De novo? E vai assim sem comer? Vai passar mal.
César pegou uns biscoitos da mesa e uma banana e saiu.
Estela: Não demore.
César: Pode deixar.
Estela: O pai de vocês está viciado em jogar tênis, vê se pode isso?
César dirigiu para outro lugar, não iria jogar nada. Ele entrou no prédio, pegou o elevador, e apertou a campainha de um apartamento. Um homem atlético, barbudo abriu a porta.
Homem: Pode entrar.
César foi logo beijando o rapaz que tinha idade para ser seu filho.
CALIFÓRNIA
Renan passou a tarde inteira do domingo trabalhando sob o sol quente. Cansado, ele só pensava na hora de encontrar Samuel.
Pedro: Renan, 8 horas ta liberado hein.
Renan: Valeu Seu Pedro, escuta, será que o senhor pode me adiantar hoje? Sei que paga toda terça, mas é que tem a festa da cidade, hoje tem show e eu to quebrado.
Pedro: Entendi, ta certo, vai levar a namorada?
Renan: Não, mas vou com uns amigos.
Pedro: Claro, ah saudades do meu tempo, quando tinha sua idade, pegava todas as meninas por aí, vou tirar do caixa já pra te dar.
Pedro foi abrir o caixa do bar, quando foi surpreendido com dois assaltantes encapuzados. Um deles estava armado e apontou para Pedro.
Homem: Passa toda a grana aí velho.
Pedro: Ninguém vai me roubar.
Renan ficou assustado ao ver aquilo. O homem atirou para cima, espantando os clientes. Renan se escondeu atrás de umas caixas junto com os outros funcionários para ligar para a polícia. Pedro sacou a arma e atirou contra o homem, mas o tiro passou raspando. O assaltante não pensou 2 vezes em disparar contra Pedro que caiu no chão. Os dois passaram a mão no dinheiro do caixa e subiram na moto. Renan chegou perto de Pedro.
Renan: Ele está morto.
CONTINUA...
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