Olá amigos!
É tão, tão bom saber que vocês estão gostando do conto! Nossa isso me enche de alegria! Obrigado a todos mesmo de coração!
ESPERO QUE CURTAM MAIS ESSE CAPÍTULO!!!
E até amanhã!!!
********** UMA ÓTIMA LEITURA A TODOS ***********
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Tento controlar minha respiração, enquanto olho os malditos homens em volta de mim se afastarem.
- O que é que está acontecendo aqui? Eu posso saber? – diz Marcos tirando o capacete amarelo. Eu sorrio para a ironia do destino, não posso dever a esse cara, não a ele... penso ainda deitado ali. – Vamos, chispando, já se não quiserem perder seus empregos...
Os pilantras me encaram com desprezo e saem todos para o mesmo lado. Semicerro os olhos sem acreditar. Na minha cabeça vem a frase dita momentos antes ainda na empresa por Fábio “vai me pagar”, Marcos me estende sua mão. E eu só consigo me lembrar dela segurando uma das vergas dos machos no vídeo, o encaro sem dizer nada e me soergo. Ainda é difícil respirar e falar, ele parece entender e não diz nada. Recolhe a mão e move os ombros. Eu me sento passeio, meu rosto está em bicas e meu coração só agora desacelera.
Mordo minha língua para evitar, me censuro argumentando comigo mesmo que ele, Marcos é o causador de tudo isso... Mas aí a frase de Fábio dita antes, avulta mais uma vez. E essa atitude de Marcos parece salvaguarda-lo um pouco das suas atitudes anteriores.
- Obrigado – digo e o vejo continuar a andar – se é que você não tem nada haver com essa sujeira.
Ele está com o capacete debaixo do braço e de costas para mim com a outra mão no bolso da calça. Para quando me ouve dizer isso. Eu me ergo ficando de frente para a rua e de lado para ele. Marcos não se vira, só move mais uma vez os ombros e com uma voz incrivelmente forte ruge.
- Não haja como se me conhecesse porque não conhece – volta a andar – só é mais um preconceituoso igual àqueles idiotas.
- Pode ficar tranquilo, estou me demitindo – digo com certo alivio no peito por me ouvir dizer isso em voz alta, a plenos pulmões.
Atravesso a rua e me recosto ao ônibus, não o ouço caminhar. Nem consigo pensar em nada além de querer sair dali o mais depressa possível, olho para um lado e outro... Aqueles homens podem voltar, e a impressão da possibilidade disso me causa angustia, levanto em alerta. Marcos está me observando, vejo no contrair das sobrancelhas loiras dele uma curva de interrogação. O vejo tirar do bolso o celular, duas vezes maior do que o meu, ele se demora em mexer no aparelho.
- Pronto está feito – sorri para mim – já mandei um comunicado ao dono, explicando sua demissão. Assim você recebe todos os seus direitos, ah não precisa agradecer eu já estava querendo fazer isso.
Ele nem imagina a vontade que tenho de ter em mãos o vídeo agora mesmo, e publica-lo. Mas respiro, ele se afasta. Penso se tudo isso já não fazia parte de algum plano dele para ter motivo pra me demitir, não faz sentido. Só consigo pensar em Fábio, os idiotas devem ser amigos dele. Meu celular toca, e meu coração dá um salto. Não consigo reconhecer o número na tela e por isso recuso a chamada.
Posso ligar para um uber, penso, mas não vou fazer isso. Dou a volta no ônibus e busca por ali uma pedra, alguma coisa com a qual eu possa me defender caso os idiotas voltem. Consigo encontrar um pedaço de madeira, encostado ao lado de uma das casas. O barulho de botas no chão me assusta, e eu ergo o pedaço de madeira pronto para me defender.
- Que diabos faz aqui? Não te mandei para o muro? – seu Zé tira as luvas que veste as mãos, eu abaixo as minhas – hein moleque responde?
- Nada. Esperando o ônibus partir e me levar de volta... – penso em ser petulante, mas me controlo – vou sair do trabalho. Já falei com Marcos.
O velho sorri e meneia a cabeça, consulta o relógio no pulso e assente. Não me pergunta nem diz coisa alguma. Talvez até esse... Esteja envolvido, pondero, mas já me preocupando se não é a neurose minha. Não posso ficar vendo culpado onde não tem, decido culpar apenas Fábio. Ele sim me ameaçou, ele sim teria coragem de fazer uma nojeira dessas. Seguro ainda mais firme o pedaço de viga na minha mão e volto a me sentar perto do ônibus.
Quando os motoristas abrem as portas me sento na primeira cadeira logo na frente, não vejo os homens de mais cedo. Nem tenho interesse nenhum em lhes descobrir, não me importo com mais nada. Vou estar livre desse emprego amanhã... Fecho os olhos com essa esperança. Amanhã já não estarei mais aqui.
Ainda dentro do ônibus peço um uber pelo aplicativo do celular quando a internet entra, alguns minutos antes de estacionarem em frente à empresa. Quando estaciona, sou o primeiro a descer e ir pegar minhas coisas, as pressas. Volto para frente da empresa, e encontro um a um dos homens de mais cedo. Engulo o ódio, e espero mais alguns minutos pelo carro.
Minhas mãos tremem, percebo. Sinto um calafrio subir por minha coluna, só me sinto mais seguro quando entro no carro. O motorista não espera para saber o endereço, já começa a dirigir. Ele me olha pelo retrovisor, eu digo onde ele deve parar, seguimos calados.
Antes da minha casa, em frente ao ponto para alugar o homem estaciona, como eu lhe disse para fazer. Desço do carro, e fico ali na frente do imóvel procurando forças dentro de mim mesmo para tomar a iniciativa. Quero alugar esse lugar... Quero abrir uma loja aqui, e quero que isso dê certo, muito certo, porque eu mereço, porque vou me esforçar para isso. Engulo em seco, me aproximo do lugar e encosto o rosto no vidro fazendo conchas com a mão para ver melhor lá dentro.
- Esse vai ser meu novo trabalho – sorrio com o coração batendo forte – eu vou conseguir.
Olho para o lado da minha casa, e decido seguir o caminho contrário, para a faculdade. Há essas horas não tem quase ninguém ainda, apenas funcionários e uns poucos alunos. Sigo para a biblioteca, e tiro da mochila algumas coisas, ligo um dos computadores, só assim consigo não pensar em coisa alguma além das sociedades de economia mista e toda essa coisa burocrática. Aproveito e olho alguns planos de pequenos negócios, não demoro a digitar um texto de mais ou menos duas laudas sobre o assunto para a resenha do texto.
Fico lendo o texto revisando alguns erros da digitação rápida, e mal me dou conta da presença de mais um rosto próximo ao meu.
- Você escreve bem – diz Atila e eu me assusto – que história é essa de demissão? – ele ergue uma das sobrancelhas.
Volto a encarar o texto e não dar bola para o hálito fresco dele, e seu perfume. Percebo a diferença dos nossos cheiros e me sinto envergonhado mesmo não estando tão suado e fedorento assim. Atila continua ao meu lado a espera de uma resposta, sinto o desejo de contar tudo a ele. Não é a primeira vez que sinto isso, o desejo de contar tudo mesmo, mas dessa vez vem com um gostinho de vingança. Mesmo assim expor alguém ainda me deixa hesitante.
- Eu já tinha decidido isso – vou dizendo e a medida que o encaro, aqueles olhos me olhando de volta – eu... já... tinha... me... de...ci...di...
Nós estamos tão próximos, quando aconteceu isso? Engulo em seco, coloco uma mão na frente próxima a seu peito, e ao toca-lo sinto seu coração também bater forte, igual ao meu. A percepção disso, faz tudo em mim entrar em uma onda louca de elevação, como se apenas nós dois estivéssemos ali. Eu fecho os olhos e consigo sentir seu peito se mover tão rápido quando o meu. Mas não tenho outra reação além dessa e quando a porta da biblioteca se choca contra o batente, abro os olhos. Os dele ainda estão semicerrados.
Ele não sorri está sério, uma seriedade diferente das carrancudas uma seriedade de reflexão, suponho. Procuro por palavras, mas elas teimam em não vir, só quando desvio meus olhos dos dele, e recolho minha mão como se queimasse, consigo pensar de forma coesa. Racional.
- Não saia ainda – ele pede – se alguém te fez algo, Marcos, seu Zé, eu dou um jeito... Sério... Confia em mim. Preciso de você lá comigo.
- Não – balanço a cabeça – já me decidi, não volto para aquele lugar... O que aconteceu hoje...
Vejo os olhos dele se unirem às sobrancelhas também, ele puxa uma das cadeiras e se senta diante de mim. Sinto suas duas mãos segurarem meus joelhos, e tenho toda a sua atenção.
- O que está fazendo Atila, - olho para os lados – você é igual a mim lá não é? Somos apenas funcionários.
Ele nega com a cabeça, olha as próprias mãos tocando meus joelhos que por debaixo da calça estão arrepiados.
- Meu pai é um dos donos – ele arqueja relaxando os ombros – estou fazendo um estágio lá, por causa do meu curso, mas também algum dia vou assumir de vez... – ele sorri para si mesmo – por isso que estou aqui. Você é muito bom no que faz, quer dizer no que eu te ensinei.
Sinto um pouco de deboche na fala dele, orgulho talvez seja melhor palavra, tiro as mãos dele do meu joelho e me volto para meu texto na tela. Ele ainda continua a meu lado, não o deixo falar.
- Seus funcionários – digo sentindo ódio subir por meu estomago – me cercaram hoje me chamando de bichinha, veadinho e outras coisas desse nível... Quiseram me bater ou fazer coisa pior, vai saber... Se eu não tivesse corrido, e seu... Marcos não tivesse chegado a tempo. Tudo porque alguém andou...
- Só precisa me apontar quem são eles – diz me cortando – e eu... – respira – eu resolvo o resto, vai ser bom para tirar essas pessoas horríveis de lá. Se eu estivesse lá isso não teria acontecido...
Sinto sinceridade em tudo o que ele fala isso me desarma ainda mais e relaxo na cadeira.
- Posso fazer isso com o maior prazer – penso, sorrio para mim mesmo pelo que estou pensando em fazer – não quero mais trabalhar lá Atila. Isso que aconteceu foi horrível, mas serviu para abrir meus olhos.
Ele puxa o ar e solta de vez, movendo a cabeça.
- Fica só até eu treinar outra pessoa então – olho para o rosto suplicante dele – por favor? – ergue uma das sobrancelhas.
- Tá legal – ele avança eu seguro seus ombros, nossos rostos estão mais uma vez próximos – mas com duas condições, a primeira é que quando você treinar a pessoa, vai assinar, minha demissão.... – Hesito – a segunda condição, se aceitar é claro é que quando eu precisar esses seus homens, esses que me fizeram sentir tanto mal hoje, façam um serviço para mim.
Ele franze as sobrancelhas e eu afasto minha cadeira da dele fazendo as rodinhas da trabalharem. Atila assente, ele ainda está com os olhos pregados em mim, posso sentir mesmo sem estar olhando de volta. Uma voz feminina o chama de algum lugar atrás da porta da biblioteca. Eu mando o texto no computador para imprimir e saio deixando-o ali sozinho. Respiro forte, sem conseguir controlar as batidas no meu coração. Quando volto a olhar para onde estava antes, ele já não está mais.
Fico igual um idiota olhando para a impressora e sorrindo... Pego o texto, e sigo para a sala. Por vários minutos fico pensando apenas naqueles momentos ali na biblioteca, e sorrio ao pensar.
- Me entreguem as resenhas, assinem a lista, e estão liberados – diz a professora – teremos uma palestra importante...
Eu faço tudo como ela diz, entrego a resenha, assino na lista e saio. Só vou perceber a falta de Robson, depois de já estar no ponto de ônibus com medo de Fábio surgir de algum lugar como a assombração que é. Olho para os lados, o ônibus encosta, não vejo no celular nenhuma mensagem de Robson, nem chamada. Entro no prédio e subo rápido pelas escadas com um pouco de receio, mas não ouço nenhum barulho estranho e por isso vou logo abrindo a porta.
- Robson – digo tão logo entro – hoje os filhos da puta do meu trabalho me fizeram uma sacan...
Emerson está sentado no braço do sofá com uma tigelinha na mão, comendo alguma coisa. Ele engole, me encara. E sério, um sério diferente daquele se Atila, questiona de sobrancelha em pé:
- Fizeram o que esses filhos da puta?