Olá tudo bem? Desculpem mais uma vez a demora em publicar.
Sei que pesei a mão nos últimos capítulos, pelo menos relendo-os eu achei. Mas espero que vocês gostem. A história está se encaminhando para a conclusão, e se vocês perceberem alguma incoerência ou coisa do tipo, podem comentar. Porque com tantos capítulos posso acabar deixando algo para trás e não quero isso.
Meu muito obrigado a todos e até logo!!
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UMA ÓTIMA LEITURA A TODOS
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Deixo as caixas de registro prontas para serem levadas por Atila quando ele voltar. Calço minhas pantufas, presente dele, e saio do estacionamento para dentro de casa. Onde o aquecedor já foi ligado. Paro no calendário, preso na parede da cozinho, e observo pelas datas o tanto de dias que já estou aqui, confinado na casa de inverno de Atila. Casa de inverno? Esse nome me causa uma interrogação enorme, porque casa de inverno afinal? Frio é abafado na maior parte do tempo pelo aquecedor. Conto nos dedos os dias.
Quatorze. Faz quatorze dias que estou aqui, sem noticias do que está acontecendo por falta de uma internet decente. Robson me alertou quanto o temperamento dos policiais, ele está mais do que certo, esses sujeitos não se envolvem. Ficam por aí o tempo todo rondando, xeretando, sempre por perto. Mas também não incomodam. Galeano e Modova. São os sobrenomes deles, sei não por que eles tenham me dito, mas porque Artur me disse quando esteve aqui com o filhinho dele de cinco anos.
Bebo uns goles de água, e com o copo na mão vou para a sala. A divisão dessa casa é toda estranha, para mim. Porque a cozinha fica à direita, entrando em um corredor. O banheiro e o quarto à esquerda. Mas dá para chegar a um dos quartos pela direita também, e bem no centro. Quando entramos pela porta da frente, e seguimos direto damos de cara com o salão oval, eu mesmo apelidei assim, porque lembra muito aquela famosa sala da casa branca nos Estados Unidos onde o presidente fica.
É tudo um conforto só... Mesmo assim, não consigo me acostumar... Monto as caixas, ajudo na jardinagem e na cozinha. Também estou pegando algumas matérias da faculdade aqui, pelo menos por enquanto. E claro, meu plano da loja... Que vai sair em breve. Mas há tanto tempo não saio por ai, batendo perna, sei lá... Até dos ônibus está dando saudade.
Puxo o notebook para perto de mim, no meu colo, e abro o programa onde digitei prováveis nomes para a minha futura loja, e em outro arquivo alguns nomes de fornecedores. Fico passando o dedo pelo cursor, e verificando os produtos, valores, nomes de estabelecimentos, e na minha cabeça a loja já está toda pronta. Sorrio para mim mesmo por imagina-la assim, já quase toda completa.
- Inácio ligue a tevê – a voz de Modova me faz dá um salta do sofá – estão transmitindo a operação na comunidade, que dizer em várias no país todo. Os governadores assinaram hoje... – ele diz e eu procuro pelo controle da televisão.
Galeano também se aproxima para assistir, no rodapé da tela, em letras garrafais “RETOMADA DAS COMUNIDADES...” tampo a boca, vendo as imagens em tela. Tanques parecidos com aqueles de guerras dos filmes. Homens bem equipados e armados com fuzis, metralhadoras, e até o repórter com um colete azul. Ficamos vendo as imagens intercaladas com as informações que os repórteres passam sobre outros desdobramentos. Inclusive sobre os depoimentos de testemunhas em segredo do judicial, não demonstro aos policiais, mas meu coração começa a bater forte. Explodindo no peito. Pressiono as têmporas e delas para os lábios sem acreditar no que vejo em tela. É ele! É ele! Eu fico a ponto de gritar, mas é tudo rápido demais e as câmeras cortam para outro ponto da favela.
- Pegaram! Pegaram ele, – eu digo enfim e sorrio – pegaram o dono do moro... – começo a sorri de forma descontrolada batendo os pés no tapete no chão. Era Emerson eu o reconheceria em qualquer lugar, com os braços para trás e três policiais mascarados o conduzindo para o camburão. – Vocês viram? Viram? – pergunto para Galeano e Modova.
- Ali tá dizendo outra coisa – Galeano aponta para o rodapé da televisão. - Ouviram isso? Tá chegando alguém.
Levanto na mesma hora, na tevê o letreiro é outro “ABATIDO O SUSPEITO DE SER O CHEFE DA FACÇÃO NA COMUNIDADE D...” balanço a cabeça negando para aquela informação, eu o vi. Emerson entrou em um dos camburões, tenho certeza disso, penso comigo mesmo sem tirar os olhos da tevê. Ele entrou eu vi, aumento o volume da televisão e cruzo os braços diante dela, pressionando o queixo sem entender mais. A repórter mostra uma suposta foto de Emerson abatido, pela polícia, e eu mais uma vez nego.
- Não é ele, seria bom se fosse, mas... – olho com mais atenção, até congelo a imagem e caio para trás – é meu tio! Porra! Esse corpo é dele Modova, ele era o chefe? Não estou entendo mais nada...
- Olha o que trouxe para comemorarmos – diz Atila chegando com Galeano – champanhe e vinho, e vou pedir para...
Eu nem permito que ele diga nada, vou até ele e o abraço. Apertado. Atila deixa o ar sair do seu peito e me abraça também firme. Ele passa as mãos pelas minhas costas e cabeça, então beija a minha testa. Os meninos ficam ali presos pelas imagens na televisão, ouço Modova comentando com Galeano o que eu tinha acabado de dizer. E noto no rosto de Atila que ele também ouviu o que acabou de dizer Modova.
- Tem alguma coisa estranha Atila... – começo a dizer, mas ele me impede.
- Esquece essa história toda, - sorri para mim – porque agora é bola pra frente. Vamos poder viver tudo da melhor maneira possível, sem medo de nada. Você confia em mim não confia? – ele diz com uma confiança nos olhos, no jeito. Eu me entrego a esse sentimento.
Nós afastamos dos rapazes e vamos para a cozinha. Atila me pressiona contra o patente da mesa/balcão no centro da cozinha e sua boca tampa a minha. Depois vai descendo pelo meu pescoço, e para ai. Segura a correntinha que me deu de presente e beija o pingente do santo da sua/nossa devoção. Porque só com um Santo Guerreiro mesmo para tirar tantas tranqueiras das nossas vidas. A imagem na televisão, no entanto não me sai da cabeça de jeito nenhum. Só não deixo Atila perceber o jeito como estou retesado com tudo isso.
- Alyne vem hoje também? – pergunto me apoiando no balcão.
- Não. Hoje a noite é só nossa, para comemorarmos – ele sorri – vou ter meu funcionário de volta finalmente.
Ele diz brincando e eu acerto seu peito de forma leve. Sorrimos disso e começo a pensar de verdade que posso ficar aliviado. Que a situação toda já estabilizou, pensar nisso dá um tesão danado, beijo a boca dele e o abraço pela frente. Atila sorri e me segura pelas coxas ergue meus pés do chão e me prensa no balcão, ele sorri safado para mim segurando por ali. Afundando os dedos na minha pele de forma gostosa, chego a estremecer com a firmeza das suas mãos em mim. Toc-Toc, ouvimos e voltamos ao normal.
Atila se ajeita e eu finjo que estou lavando as mãos na pia. Sorrimos um para o outro, os rapazes avisam que vão sair enquanto a esposa do caseiro Bibinha coloca as sacolas com verduras e outras coisas em cima do balcão. Atila segura minha mão e nos vamos para um dos quartos, lugar melhor para ficarmos sozinhos. Tira a roupa, e eu me jogo na cama olhando o teto. Atila se atira ao meu lado, apoiando a cabeça pela nuca. Ele fica me encarando e sei que sabe...
- Amanhã – digo a ele – vou lá naquele lugar, aquele que eu te falei. Vou ver tudo para mim poder alugar...
- É assim que se fala – ele diz se aproximando de mim. – Mas vem cá, você ainda está encucado não está?
- Eu sei o que eu vi na televisão – digo – você falou com Artur hoje? Tem alguma novidade sobre o caso... Sei lá alguma coisa...
Ele nega com a cabeça, beija meu ombro, pescoço, queixo. Passo a mão pelo braço dele e ficamos nesse carinho ameno por um tempo longo. Atila sabe exatamente como mexer comigo, sem precisar tocar em mim de verdade, só com a boca. Eu quem fico ávido por toca-lo, sentir seu corpo perto do meu. Passeio com uma das mãos pelo peitoral dele, por suas costas, sentindo um terreno que já conheço. Sorrio de vez em quando, ao lembrar como nos começamos. Um encrencando com o outro, sempre naquele chove não molha. Pensando nisso mordo o lóbulo da orelha dele um pouco forte demais, e ele arfa.
- Ui – ele sorri – já pode morder é assim?
- Para Atila, - peço brincando e todo arrepiado – lembrei agora da forma com a gente se conheceu, lembra? Você não me suportava, vivia jogando indiretas para mim, provocações, ai deu vontade de te dar uma mordidinha. Pra ver se é real mesmo... – digo todo manhoso.
Ele aperta minha cintura e avança com os dedos por todo meu tórax sabendo da cocegas que sinto naquela região. Fico sorrindo debaixo dos seus golpes sem conseguir direito mover minhas pernas por que ele as prende com as suas pernas.
- Se eu for te dar uma mordidinha por cada provocação sua daquela época – ele beija minha boca – vou virar um canibal, porque vou ter de comer todo... – nos dois sorrimos com essa última brincadeira.
Atila me puxa pelas costas, massageia aquela região, e dar pequenas mordidelas por toda área. Ele morde minhas nádegas, e eu estremeço inteiro com essa sensação de arrepio subindo por minha coluna puxo o travesseiro para me apoiar e morde-lo ao mesmo tempo. Suas mãos massageiam minhas costas e o dedo dele vai descendo pela linha da minha coluna até as frestas das nádegas, ele estica a língua e sobe pelo mesmo caminho, dessa vez até os ombros.
- Não me morde hein – digo fechando os olhos, a respiração quente dele bate bem na minha nuca – hum essa sua língua...
Sempre, sempre, alguém aparece para atrapalhar foda, é incrível parece que estamos cercados por empatadores de transa dessa vez não foi diferente. A empata foda da vez foi dona Bibinha.
- Tem gente chamando patrão – disse ela – tão na sala esperando...
- Puts, é sempre assim já percebeu? – Atila diz – espera aqui, eu vou lá, se for Artur eu dispenso...
- Não, não, – seguro a mão dele - se for Artur eu vou também, quero saber se isso tudo terminou mesmo.
- Fica aqui – ele beija meus lábios – olha pra mim? Estou precisando tanto, acho até que se a gente for rápido...
Eu olho sério para ele. Pego a nossa roupa e mostro para ele. Atila faz um muxoxo com a boca e pega a dele, veste um short e a camisa que estava vestido antes. Ele sai primeiro e logo eu também começo a me vestir, calço as sandálias no lugar das pantufas fofíssimas. Ele volta a abrir a porta e eu me viro para ele, mas um ar me foge na mesma hora e eu caio sentado na cama.
- Robson? – digo sem acreditar. – Meu deus! Você aqui! – levanto e vou até ele.
- Pois é – ele me abraça de volta – eles me trouxeram de volta porque segundo eles tudo já está terminado...
Respiro fundo e a imagem da televisão me volta à cabeça. Ele está mais gordo que o comum.
- Você parece bem apesar de tudo – eu digo. – Olha eu tentei falar com sua família naquele número, mas...
- Mortos – Robson diz de uma vez só. – Emerson aquele desgraçado... Ah... Mas enfim ele está morto.
Engulo em seco ao ouvir isso, porque aquele corpo crivado de balas mostrado na televisão... Aquele é meu tio, ou era. Emerson entrou no maldito carro da policia, encaro os olhos brilhantes de Robson e penso em contar para ele. Só que não tenho certeza mais se vi mesmo, todos disseram o contrário disso. A própria televisão disse o contrário.
- Sinto muito Robson – consigo falar enfim – olha se isso tudo tiver acabado mesmo... – respiro fundo – e você quiser entrar comigo em um negócio que eu estou bolando... Podemos ser sócios.
- A loja? – ele sorri – isso parece uma coisa tão distante, a amigo, eu estava com saudades de você. Inácio não me restou mais ninguém...