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Fred acordou por volta das 15h da tarde assustado com Ariel batendo em sua porta. Não tinha se dado conta do quanto tinha dormido. Recebeu o amigo ainda com o rosto inchado de sono. O ruivo se desculpou, dizendo que estava ligando para ele desde manhã e não conseguia notícias, e Fred disse pra ele não se desculpar, pois faria o mesmo no lugar do amigo. O loiro fez um café e os dois foram até a sacada do quarto do loiro fumar. Conversaram por um bom tempo. Fred estava descansado, mas totalmente fora de órbita. Agradeceu Ariel por tê-lo acordado, pois viajaria no dia seguinte e não tinha arrumado nada ainda. Fizeram as malas de Fred e por volta das 19h da noite passaram na casa de Rogério para buscar Samantha. Fred não quis entrar. Não queria encarar seu tio. Ainda não estava pronto. Samantha entrou no carro e os três seguiram para o shopping. No caminho, Fred contava para seus dois amigos e confidentes detalhes daquela madrugada. Samantha estava muito preocupada com o estado de Fred, mas estava mais aliviada por seu primo ter voltado ao normal: seu cabelo estava todo bagunçado, seu topete tinha voltado, estava vestindo uma blusa branca e um shorts preto com um tênis vermelho. Usava um colar cinza e seu característico óculos escuro.
Chegaram no shopping, entraram em algumas lojas, jantaram e depois foram tomar um sorvete. Quase 21h da noite, os três voltaram para a casa de Samantha, onde ela entrou e pegou uma troca de roupa junto com a mala de Ariel. Quando estava descendo a escada, cruzou com seu pai que perguntou sobre o sobrinho. Ela alegou que ele estava bem, e que iria passar a noite com ele. Acompanhou a filha até o carro, onde viu Ariel descer e lhe abraçar agradecendo por tê-lo recebido. Rogério olhou para o carro e viu a sombra de Fred no banco da frente. Queria ir lá, mas resolveu respeitar o momento dele. Samantha se despediu de seu pai e os três voltaram para a casa do loiro. Chegando lá, ficaram todos deitados na cama de Fred assistindo filme. A noite passou, e por volta das 9h, Ariel foi embora. Ele estava trabalhando junto com o loiro Terça, Quinta e Sexta. Fred disse a ele que poderia ficar em sua casa para não precisar ir e voltar todo dia. O voo do loiro estava marcado para às 16h da tarde. Almoçou com Samantha, que ficou com seu carro e em seguida levou o loiro até o Aeroporto. Ela estava se sentindo melhor com respeito à seu primo. Fred ficaria 4 dias fora e voltaria na sexta. Quando voltou pra casa, avisou seu tio, sua prima e seu amigo, dizendo que pretendia passar o final de semana sozinho.
Acordou no domingo bem cedo, tomou café da manhã e fez seu Yoga diário. Fazia exatamente uma semana que Humberto tinha se casado e ido viajar. A falta que ele fazia em sua vida doía muito, mas ele estava de pé. Estava levando. A tarde subiu e fez meia hora de bicicleta e meia hora de esteira. Também estava mantendo sua alimentação. Às vezes comia forçado, pois seu apetite estava lento.
Humberto ficou fora por 10 dias. Ganhou de seus pais e seus sogros a viagem. Estava curtindo bastante a gravidez de Alessandra. Sempre que o bebê mexia na barriga ele se emocionava. Procurou descansar, mas ocupar sua mente, pois sempre que estava sozinho se perdia em pensamentos por Fred. Pensou em ligar pra ele, mas deixou o primo curtir sua dor sozinho.
Terça-feira depois do almoço Fred teve que viajar de novo. Estava indo fazer um curso muito conceituado sobre administração de empresas, já que era herdeiro de uma, e precisava conhecer mais fundo o mundo longe das passarelas. Ficou fora 20 dias, impedindo o reencontro dele com Humberto, que tinha chego na mesma terça-feira a noite. Humberto estava muito animado em organizar sua nova casa. Ligou na empresa e avisou que não iria trabalhar na quinta e nem na sexta. Aproveitou esses dois dias para organizar tudo em sua casa, o quarto de seu futuro filho e o jardim. Fez questão de comprar uma casa que tivesse um grande jardim, pois adorava jardinagem, gosto esse que passou a amar depois de Fred. Pensar nele fez Humberto sorrir triste. No sábado, seus pais foram até sua nova casa pra almoçar e no domingo foi a vez dos pais de a Alessandra.
Na segunda-feira almoçou com Samantha.
"-Beto, você está cada dia mais lindo, sabia? Acho que é porque você descansou. - disse Samantha sentando na cadeira do restaurante.
-Eu subestimei minha juventude, Sá. Não percebia que estava tão cansado. O trabalho e as viagens acabam comigo.
- Eu sei. Você e o Fred trabalham demais para a pouca idade de vocês. Ainda mais agora que você assumiu a presidência.
Humberto sentiu uma pontada quando ouviu o nome do primo. Sorriu triste e baixou os olhos. Samantha notou.
-E como está sendo a vida de casado? A Alessandra é muito insuportável? - disse Samantha gargalhando.
-Eu não sei o que você e seu primo tem contra ela, Sá. Realmente eu gostaria de saber.
-Eu não sou a fã número um da minha recente cunhada, sabe disso. Mas como eu te falei há um tempo atrás, ela te fazendo feliz vou ficar feliz também. E quanto ao Fred, ele é muito intuitivo com você. Todo mundo percebe isso. E se um dia ele chegasse e me alertasse sobre algo ou alguém, eu não pagaria pra ver. Mas isso sou eu. Você se casou e está feliz. É isso o que realmente importa!
Humberto sorriu e olhou por lado, voltando a olhar pra irmã.
-Tem falado com ele?
-Sim. Falo com ele todo dia no nosso grupo junto com ele e o Ari. Voltou na sexta retrasada e me ligou dizendo que queria ficar sozinho. Eu quase fui até lá, mas achei melhor não. Ele está viajando fazendo um curso de administração. Vai ficar vinte dias fora.
-Eu fiquei sabendo, o Ari me contou na sexta quando encontrei ele na empresa.. E vocês têm se falado só por telefone ou se viram?
-Eu, ele e o Ari jantamos juntos no domingo do seu casamento. Foi tão engraçado porque ele desligou o celular e acordou três horas da tarde. Acho que acordou só porque o Ariel foi até lá. Fomos no shopping, olhamos umas lojas, tomamos sorvete e depois voltamos pra casa dele. Ficamos vendo filme e ele apagou. No dia seguinte o Ari foi embora, nós almoçamos e ele viajou. Mas ele está bem, sabe?! Acho que ele está melhor do que quando o tio Gian Carlo e a tia Desirée morreram.
- Ele precisava tirar umas férias. - disse Humberto mais para si do que para Samantha.
- Beto, Fred precisa mais do que nunca ocupar a cabeça dele nesse momento. Mas diferente de quando vocês brigaram, ele não se fechou na casa dele. Está extremamente quieto, mas continua sendo o Fred de sempre.
-As vezes eu paro e fico pensando se nossa relação vai continuar sendo a mesma de sempre.
-Por que? - perguntou Samantha enquanto tomava um suco.
-Porquê ele está me evitando, Sá.
Samantha olhou pro lado. Realmente, Fred não queria ver seu irmão. Não no momento. Mas não queria dizer isso pra ele.
- Sabe o que eu penso? Alguém deve dar o primeiro passo, não acha? - disse ela, piscando para Humberto."
Humberto voltou para a empresa e começou a trabalhar. O dia estava chegando ao fim e as palavras de sua irmã faziam eco em sua mente. Antes de levantar da mesa para ir pra casa, pegou o celular e ligou para Fred.
O loiro estava em outro estado, sentado no bar do hotel que estava hospedado e tomando um café. Estava com uma enxaqueca insuportável. Cinco dias de curso e sua cabeça estava quase dando um nó. Massageava os olhos quando ouviu seu celular tocar. Atendeu sem olhar quem era. Só queria se livrar do barulho.
"- Fred?"
- Oi!
Fred tirou o celular da orelha e confirmou que era quem ele estava pensando. Sorriu com incerteza e um tanto inseguro.
- Oi Beto.... como foi de viagem? - perguntou puxando um assunto.
"- Foi ótimo. Foi muito bom descansar…"
- Que bom.
"- Tentei falar com você quando eu voltei. Liguei pro seu celular e pro seu escritório. A Michelle disse que daria o recado."
-Pois é. Eu vi suas ligações, mas eu ando tão ocupado esses dias…
"- Não precisa dar explicações…"
Um silêncio pairou sobre a ligação. Fred ouvia a respiração do primo e Humberto ouvia o som de conversas. Não sabiam o que dizer mas não queriam desligar.
-E como está seu trabalho e a empresa?
"-Está tudo muito bem. Dante me contou que você ajudou ele a deixar tudo certo pra quando eu voltasse, mesmo você estando na correria. Obrigado por isso, Fred!"
- Sabe que no domingo eu me dei conta de que não tinha te dado nenhum presente de casamento, então essa foi a forma que eu achei de te presentear. Mesmo não sabendo de muita coisa, eu e o Dante conseguimos deixar tudo em ordem.
"-Eu sei que você faria isso por mim em qualquer momento, e não porque eu casei. Mas mesmo assim eu agradeço muito. Só que o melhor e maior presente de casamento foi ter você lá como meu padrinho."
- É, eu acho que sim… - disse o loiro fechando os olhos. Ficaram quietos de novo num silêncio cheio de significados.
"-Quando você volta?"
-Daqui quinze dias.
"-Então não vamos nos ver. "
-Por que?
"- Eu viajo segunda que vem, volto na sexta, viajo na segunda de manhã e ficarei fora mais dez dias."
Fred respirou fundo. Talvez fosse melhor assim. Não tinha certeza do que aconteceria se ficasse cara a cara com o primo. Uma risada de Humberto trouxe ele de volta.
- Que foi?
"-Lembra aquela vez que você foi pra Itália pra fazer um curso e nós estávamos falando no telefone e você me disse que estava cansado e com saudades de mim?"
-Claro que eu lembro. Foram dois longos meses. Nos falávamos todas as noites. Te disse que daria tudo pra ter você do meu lado. Acordei duas horas depois com você batendo na porta do meu quarto.
"-Lembro até hoje que um funcionário do hotel estava passando no corredor quando você me puxou pros seus braços. Acho que ele pensou que você iria me beijar." - lembrou Humberto rindo bastante, fazendo Fred rir junto.
-Olha primo, eu bem que senti vontade mesmo quando eu te vi ali. - confessou o loiro.
Humberto ficou calado. Era normal ele confessar suas vontades parada Fred, mas nunca o contrário.
"-Verdade?"
-Sim! Sabe quando sente seu coração bater forte, seu cérebro entrar em parafuso tudo ao mesmo tempo e o sentimento de felicidade te invade fazendo com que você queria beijar e abraçar a pessoa amada que te causou isso?
Humberto engoliu seco. Fred notou seu silêncio.
- Beto? - chamou Fred com medo de ter falado demais.
"-Hum?"
-Me desculpe.
Fred mordeu os lábios. Que ótima hora pra fazer confissões, Frederico!
Humberto quis perguntar porque Fred não o beijou, mas achou melhor não.
"- Sabe o que tem doído em mim nesses dias?"
-Provavelmente a mesma coisa que em mim.
"-E o que te dói, Fred?"
- Que esses últimos dois meses que perdemos jamais iremos recuperar e que apesar de nada ter mudado entre nós, nossas vidas mudaram. Não somos mais só eu e você por nós mesmos. Existem outras pessoas envolvidas.
Humberto sorriu triste. Era exatamente a mesma coisa que sentia.
"-Você só está errado em uma coisa. A culpa é minha"
- Não é sua culpa, Humberto.
"- Meu Loiro…"
- Humberto, você está feliz?
Humberto ficou em silêncio com a pergunta. Ia imediatamente responder um NÃO, mas se conteve.
"- Fred, ainda estou me acostumando com a vida de casado. Saí da casa dos meus pais, estou morando com uma pessoa que está esperando um filho meu e tudo mais, mas estou conseguindo ir muito bem. Eu e a Alessandra estamos nos entendendo. Está sendo bem agradável!"
Fred quis gritar quando escutou seu primo dizer AGRADÁVEL. Resumindo, não estava feliz merda nenhuma!
O silêncio entre os dois voltou com muita força. Os momentos de silêncio entre os dois era sempre leve, mas agora era pesado e triste. E isso deixava Humberto angustiado e esmagava o coração de Fred.
- Sabe, eu literalmente daria qualquer coisa pra ter você aqui comigo. - disse o loiro apertando os olhos, gesto que foi feito por Humberto.
"-Se eu aparecesse aí, você me beijaria?"
-Beto, errar é humano, mas persistir no erro é burrice. - disse o loiro.
"- Que inferno, Frederico. Por que você não me impediu de casar?"
-Porque simplesmente não cabia a mim decidir sua vida por você.
Humberto sentiu os olhos encherem de lágrimas. Respirou fundo e foi soltando aos poucos, controlando com muito custo a vontade de soltar aquelas lágrimas. De quê adiantaria chorar?
- Beto, eu tô longe demais pra te abraçar… - disse o loiro no momento em que sentiu a respiração dele. Conhecia bem demais seu primo e sabia como Humberto estava se sentindo: fraco e impotente. Fred se sentia do mesmo jeito e não queria que Humberto sofresse fazendo com que ele se sentisse culpado, mas no momento não tinha nada que ele pudesse fazer.
-Onde você está? - perguntou o loiro.
"-Sentado na minha mesa, na minha sala." - disse segurando o choro.
- Beto, vai pra casa. Imagino que você teve um dia cheio. Acabou de voltar de viagem. Vai descansar. Tudo está muito recente. Ficar falando sobre isso vai machucar ainda mais a gente.
"-E você, onde está?"
-No bar do hotel bebendo café e fumando um cigarro.
"- Não foi isso que eu te perguntei."
- Que diferença vai fazer? Vai vir até aqui?
"- Estou pensando nisso". - disse sorrindo, mas com lágrimas nos olhos.
-Humberto, está querendo me transformar no seu amante? Que fetiche é esse seu que eu ainda não conheço?
"-Apesar de não ser má ideia, você não merece isso. - disse ele sorrindo fazendo com que Fred também sorrisse.
-Não me provoca, Humberto. Sou homem, mas sou humano!
"-E é totalmente tarado pela minha boca. Não pense que eu não vejo você olhando pra ela quando a gente se olha."
-E tem isso também, então eu acho melhor pararmos por aqui.
Os dois riram e ficaram em silêncio de novo.
- Vai pra casa, Beto. Vai descansar, já está tarde.
"- Vai descansar você também meu loiro."
Silêncio…
"-Quero te ver… me avisa quando voltar?"
Fred respirou fundo e olhou para o teto do bar que estava. Não era uma boa idéia.
"-Frederico?"
- Humberto, você vai estar viajando quando eu voltar pelas minha contas.
"-Então quando eu voltar eu te aviso ."
- Não acho uma boa ideia te ver depois de tudo o que eu te disse. Você está tentando me fazer perder meu controle, seu tonto!
"- Fred, é sério. Quero te ver… preciso muito ver você!"
- Tá bem… quando você voltar nós almoçamos no shopping.
"-Lugar público? Sério? Nem pensar."
-Se não for assim eu não vou. É melhor pra nós dois, vai por mim.
"-Você está sendo infantil."
-É isso ou nada.
Silêncio…
"-Sabe que o nome disso é medo, né?"
- Sei sim. - disse o loiro suspirando.
Outro momento de silêncio entre os dois. Humberto não sabia o que dizer e Fred não tinha mais nada pra acrescentar. Ficaram alguns minutos assim. Fred ouvindo Humberto se ajeitando na cadeira e batendo a caneta na mesa e Humberto ouvindo um falatório e depois um homem passar falando alto perto do primo.
"-Boa noite meu loiro. Durma com os anjos…" - falou por fim Humberto fechando os olhos.
- Boa noite MEU ANJO… durma bem e descanse… - disse o loiro que desligou celular logo em seguida, dando tempo de ouvir Humberto rir por entender seu trocadilho.
Depois daquela ligação, Humberto teve certeza de que seu primo tinha algum pacto com o destino, pois a primeira vez que se encontraram depois daquele telefonema foi numa reunião de acionistas da empresa, um mês depois. Fred teve que começar a comparecer à essas reuniões, pois como um dos herdeiros, tinha que concordar ou não com as decisões antes de serem tomadas. O loiro odiava tudo aquilo. Não era seu mundo. Não eram o tipo de pessoa que ele gostava de trabalhar. Fora que por mais que estivessem em público, via Humberto sempre, pois seu escritório era na sala de seu pai. Maldita hora que foi concordar se mudar pra lá. Sempre que podia, fugia de ficar sozinho com o moreno. Estava fugindo até de seu tio Thiago e de seu tio Rogério, que tinham suas salas no mesmo andar que a dele.
Independentemente de seu coração estar palpitando, suas emoções à flor da pele e a euforia constante que sentia quando via seu primo estarem acabando com ele, Humberto era um homem público. Dirigia uma renomada empresa e era muito conhecido na cidade e até mesmo no país. Tinha o destino da empresa em suas mãos, junto com seu pai e seu tio. Era presidente do grupo. Tinha que se comportar como um homem sério e respeitável. Claro que ninguém ali dentro sequer desconfiava do tumulto interno que aquele homem sentia por dentro. Ele lidava muito bem com isso. Fred também! E mesmo sendo assumidíssimo e defender com unhas e dentes o direito dele e de qualquer outra pessoa de ser quem fosse, não gostava de misturar profissional com pessoal. Era um estilista brilhante, vestia roupas incrivelmente chamativas, tinha trejeitos que eram só dele e era muito animado lá dentro, o que alegrava a todos. Mas agia como um profissional. Ninguém ali sabia nada do que acontecia entre ele e Humberto, a não ser seus dois tios e seus primos. Trabalhar para ele era uma realização, e pretendia seguir se atualizando sempre e ajudando da forma que podia a empresa de sua família.
Aquela correria dos dois se estendeu por mais um mês. Insistia para seu primo que nada havia mudado entre eles. Fred trabalhava duas vezes por semana em casa, fechando ainda mais qualquer oportunidade de contato com o primo. Humberto entendeu que o único contato diário que ele poderia ter com seu primo seria por meio de mensagens e ligações. Acordava todo dia, e antes de fazer qualquer coisa, ligava para o loiro para dar bom dia. Numa quinta, se surpreendeu com a ligação do loiro pra ele no final da tarde. Antes de se casar e mesmo namorando, Humberto dormia praticamente todos os dias na casa do primo. Almoçavam juntos sempre que podiam, e sempre estavam rodeados de seus amigos. Mas às sextas feiras eram sempre somente deles. Só que não era mais assim, e ambos não conseguiam expressar em palavras a falta que sentiam disso. Fred saia sempre com Gabriel e Michelle, seus primos Dante e Henrique e principalmente Ariel e Samantha, que praticamente proibiram ele de se isolar. Mas às sextas feiras eram agora, somente dele com ele mesmo.
Quinta-feira, hora do almoço. Humberto estava em sua mesa no notebook analisando uns relatórios. Ouviu baterem na porta da sua sala. Mandou entrar e ficou surpreso por ser seu pai. Eles sempre almoçaram juntos e se falavam sempre por telefone, mas podia contar numa mão quantas vezes Rogério foi até sua sala. Ele nunca ia lá, mesmo porque sua sala era três andares abaixo da de seu pai. O assunto devia ser importante.
- Oi pai! Que surpresa! - disse se levantando indo cumprimentar Rogério.
- Oi filho! - correspondeu o abraço. - Está ocupado?
-Pra você nunca! Senta aqui. - disse Humberto puxando uma cadeira. - Aconteceu alguma coisa?
- Não, não. Só queria conversar com você.
-Quer um café?
- Estou tranquilo filho, obrigado.
Humberto sentou de volta em sua cadeira.
-Então?
-No domingo eu e sua mãe vamos comemorar vinte e sete anos de casados. Já falei com o Thiago e a Beatriz. Quero convidar você e a Alessandra para irem em casa. Falei com o Roberto e a Marina também. Nós faremos um almoço. Queria muito que o Fred fosse. E pensei em chamar o Ariel também, afinal ele se tornou parte da família.
-Claro pai! Nem precisava nos convidar. Estarei com certeza lá com a Alê e acho uma ótima ideia chamar o Ari. Ele vai adorar. E meus parabéns por aguentar a mãe por 27 anos. ‐ sorriu. - Brincadeiras à parte, quero muito um dia chegar tão longe quanto vocês.
Rogério notou que seu filho não mencionou seu sobrinho.
-Em quais condições está seu relacionamento com o Fred?
Humberto olhou sério para o pai e depois baixou o olhar. Ficou uma dois minutos calado.
- Por que?
-Porque eu não quero chamar ele pra fazê-lo sofrer, Humberto. Ele é tão meu filho quanto você e seus irmãos e a felicidade dele é importante pra mim.
Humberto levantou de sua mesa e caminhou até a janela, onde ficou de frente olhando a vista e com as duas mãos na cintura e de costas para o pai. Rogério acompanhava as reações do filho.
-Humberto?
-Nos vimos acho que duas vezes desde que eu casei. Tem quase três meses. Essas duas vezes foi aqui na empresa, com muita gente perto. Estamos falando todo dia pelo telefone também.
- Você acha que ele vai reagir bem se eu convidar ele?
-Pai, o Frederico não é uma criança mimada. Ele é adulto e sabe muito bem separar as coisas.
- Eu sei! Fred é perfeito nisso. Mas existe uma gritante diferença do que ele vai demonstrar com o que ele realmente vai estar sentindo. Nunca vi como ele é absurdamente incrível nisso até o dia do seu casamento.
- Ele tá fugindo de mim pai. Ou melhor, está fugindo de ficar sozinho comigo. - disse com ar triste.
-E você sabe porquê, não sabe?
- Não tenho certeza…
- Não tem ou não quer ter, Humberto?
- Não quero ter, pai. Sei lá… não é justo com a gente.
Rogério o olhou com pena.
- Humberto, vocês dois PRECISAM resolver isso. Ou voltam a ser como antes, ou se afastam de vez. Não existe outra saída.
-Acha que eu não sei disso, pai? Acha que eu não estou desesperado pra ter ele de volta? - disse olhando sério para o pai e depois olhando pra fora com uma mão na cintura e a outra apoiando na janela.
Rogério levantou da cadeira e foi em direção à saída, chamando a atenção do outro.
-Onde você vai, pai?
-Vos resolver isso de uma vez por todas. Se vocês não resolverem isso por si mesmos, eu resolverei.
-NÃO! - falou Humberto num tom imperioso e determinado. - EU vou!
Rogério sorriu internamente. Não gostava de pressionar seu filho assim, mas era a única maneira de resolver aquilo naquela hora. Odiava ver que o maior orgulho de sua vida que era a relação dos dois, estar daquele jeito. Independente de que jeito estavam, iriam suportar o que acontecesse juntos, melhor do que separados.
-Me liga mais tarde, tá bem? - falou Rogério se despedindo do filho e saindo em seguida.
Humberto desligou seu notebook e saiu mais cedo da empresa. Fred sempre ligava pra ele por volta das 18h30 e nessa hora queria estar na casa do primo. Tinha medo de que Fred surtasse de pânico quando o visse, mas não tinha outro jeito. Seria assim, ou nunca iriam conversar. Fazia meses que não se viam, não se tocavam e não se olhavam nos olhos. Só ouvia a voz do primo e isso estava deixando Humberto fora de si. Chegou ao prédio que Fred morava às 18h29 por conta do trânsito. Parou numa garagem vaga ao lado do carro do loiro. Quando desligou o carro, sentiu seu celular vibrar e sorriu com a pontualidade do primo.
-Alô?
"- Beto?"
- Oi meu loiro.
"-Tá ocupado?
-Nenhum pouco. Estava esperando por você!
Fred sorriu ao ouvir aquilo e fechou os olhos. Estava se sentindo ridículo por sentir aquelas coisas. Nunca foi daquele jeito.
-Está em casa? - perguntou Humberto, tirando Fred de seus pensamentos.
Fred apertou os lábios. Se dissesse que estava, corria o risco de Humberto ir pra lá. Então, fez o que nunca tinha feito ao primo.
"- Não, estou na minha sala revisando uns desenhos que eu e o Ariel estamos desenvolvendo. Decidi trabalhar aqui hoje. E foi uma loucura porque meu carro quebrou e eu tive que vir de Uber."
Mentiu para Humberto. Quer dizer, em partes, pois realmente estava revisando desenhos, só que deitado só de cueca na sua cama.
Humberto na hora se tocou que seu primo estava mentindo pra ele. Afinal, estava parado ao lado do carro dele. E mais, tinha subido duas vezes até a sala dele. Uma vez na hora do almoço e na outra antes de sair da empresa. Não tinha mais ninguém ali além de Michelle e Gabriel. Nem Ariel estava lá. Mas antes de desmascarar o primo, ficou quieto. Queria ver até onde ele iria.
-Entendi.
"-E você, está na sua sala?" - perguntou Fred.
- Não, estou em casa já. Se eu soubesse que tinha ido pra empresa eu tinha subido pra te ver. Mas o dia foi tão corrido que não deu tempo. Estranho o Ari não ter ido me ver. Ele sempre vai na minha sala quando trabalha no seu escritório.
"-O Ari não veio hoje. Só nos falamos por telefone. E eu nem fiquei muito aqui. Vim mais pro final da tarde."
-Entendi. - Respondeu humberto. Viu que o primo estava mentindo em partes.
Silêncio….
-O que você me diria se eu te convidasse pra sair comigo hoje?
Fred travou ao ouvir aquela pergunta. Não estava pronto para ficar cara a cara com seu primo e não conseguia imaginar se um dia estaria pronto. Estava se sentindo tão mau por ter mentido daquele jeito descarado pra ele, mas não sabia o que fazer. Seria tão bom ter Humberto de volta em sua vida, fazê-lo rir… Mas ainda era melhor continuarem por telefone. Riu de nervoso, perplexo com sua covardia e sua mentira.
- Vai me deixar esperando até quando, Frederico?
"-Humberto, eu não vou mentir. Estou sendo um completo covarde em não aceitar o seu pedido e evitando de te encontrar porque eu estou com medo…
-De mim?
"-Não."
-De nós?
"-Exato."
- Frederico?
"-Hum?"
-Nós vamos nos ver hoje, AGORA! Está na hora de resolver isso tudo.
"- Humberto, é sério. Hoje eu não posso. Estou lotado de trabalho e…" - ouviu Humberto desligar o telefone. Colocou as mãos nos olhos e suspirou cansado passando as mãos pelo rosto. Estava magoando Humberto. Ele estava tentando concertar as coisas e sabia que estava dificultando isso. Levantou da cama e colocou uma roupa leve. Queria sair de casa pra tomar qualquer coisa que tivesse álcool. Pegou sua bolsa e entrou no elevador enquanto ligava para o primo, que caia na caixa postal. Ligou de novo. Apertou o andar da garagem e resolveu deixar um recado.
"-Humberto, sou eu. Embora você tenha sido muito mau educado por desligar o telefone na minha cara, eu quero pedir desculpas. Sei que você está fazendo de tudo e mais um pouco para nos recuperar e eu estou ferrando tudo. Mas eu realmente não sei como reagir se ficar sozinho com você. Não sei o que mudou… aliás, nada mudou! Só que depois de tudo o que aconteceu entre nós, eu percebi que eu te amo muito mais do que eu já te amei em toda a minha vida e venho amando até hoje. E isso dói! Dói mais do que eu consigo suportar, porque eu quero te abraçar como antes, deitar minha cabeça no seu colo como antes, fazer aquele carinho que você tanto gosta nos seus cabelos como antes… e eu não terei mais isso. Eu vou ficar perdido perto de você estando longe ao mesmo tempo. Eu te agradeço por tentar voltar as coisas ao normal, mas eu realmente não consigo agora. Eu sei que você não entende, mas eu prometo que irei superar isso tudo, tá? Não se preocupe e boa noite."
Fred estava caminhando de cabeça baixa enquanto falava aquilo no celular que nem percebeu que não estava sozinho na garagem. Desligou o celular e colocou sua bolsa em cima do carro procurando a chave levando um susto quando ouviu uma voz grossa e ao mesmo tempo suave da última pessoa que ele esperava ver na sua frente.
-Está completamente enganado. Eu entendo perfeitamente porque também sinto uma falta absurda das mesmas coisas… - disse Humberto fazendo Fred ficar paralisado com o susto e a surpresa de ver o moreno encostado da porta do seu carro na vaga ao lado da sua.
-Você é completamente atrevido! - foi a única coisa que o loiro conseguiu dizer ao encostar no seu carro e ver Humberto caminhando bem devagar até ele.
-Você não viu nada… - disse Humberto puxando Fred pela cintura e abraçando o primo numa força e determinação que fez com que o coração do loiro quase saísse pela boca. Fred puxou ainda mais o corpo do primo ao seu com toda sua força. Instantaneamente sentiu o contato e as sensações que o corpo de Humberto trazia colado ao seu de uma maneira bem sensual. Com uma sincronia perfeita, um encaixou a cabeça do pescoço do outro. Fred sentiu o cheiro característico de Humberto. Uma paz invadiu o coração dos dois naquele momento, como se nunca tivessem se separado. A angústia que sentiam longe um do outro foi embora como se nunca tivesse aparecido. Perderam a noção do tempo que ficaram ali. As mãos começaram a se mover, uma buscando os cabelos de Humberto e a outra buscando a nuca de Fred. O loiro recuperou o controle sobre seu corpo e puxou Humberto para si, encostando em seu carro fazendo com que Humberto se aconchegasse nele, o que não era muito fácil por Humberto ser mais alto e maior.
‐Melhorou? - perguntou Humberto olhando fundo nos olhos de Fred.
-Você não tem noção do quanto. Além de ser atrevido é pretensioso. - sorriu o loiro. - Como você entrou aqui?
-Esqueceu que me deu um controle do portão?
O loiro respirou fundo. Não tinha lembrado disso.
-Caralho! Três meses sem sentir você perto de mim. Eu achei que fosse ter um colapso nervoso de tanta falta que eu tava sentindo de você, meu loiro. - disse Humberto.
-Se eu soubesse que seria tão fácil resolver isso…
-Fácil não é. Agora nós estamos sozinhos e tudo fica mais simples, mas não vamos estar sozinhos sempre. Minha pergunta é a seguinte: pretende continuar sendo o que sempre foi e o que é na minha vida, e permite que eu continue a ser o que eu sempre fui e sou na sua, ou vai desistir de tudo e largar de mim?
- Nao vou desistir de nada, Humberto. Só não sei como, e Se eu devo continuar. Parece que roubaram uma parte de mim. - engoliu seco antes de continuar. - Eu tomei coragem e ouvi todas as mensagens que você me deixou no dia do seu casamento…
-E…?
- Por que, Humberto? Por que achou que uma palavra minha decidiria sua decisão naquele dia? Porque jogou essa responsabilidade nas minhas costas?
-Simplesmente porque não valia a pena tudo aquilo se eu fosse te perder!
-E por que não desistiu e largou tudo por si mesmo?
-Fred, eu estava desesperado depois do que aconteceu com a gente. Você não falava comigo, não me atendia, e eu pirei. Precisava que você me desse um sinal de vida.
Fred acariciava o rosto do primo, que fechou os olhos sentindo aquele toque.
- Não fecha não… - pediu o loiro. Humberto abriu os olhos lentamente olhando para os olhos castanhos do primo e sem perceber, Fred recomeçou o carinho. Humberto puxou mais ainda Fred pela cintura colando suas testas. Estavam tão perfeitamente encaixados que nem iria se importar se alguém flagrasse eles ali. Ficaram por longos minutos daquele jeito. Para Humberto, estar daquele jeito com Fred era o paraíso.
-Pare por favor de achar que está sofrendo e que está sozinho no mundo. Eu estou aqui! Eu me casei, vou ser pai mais ainda continuo sendo seu primo, seu amigo e seu irmão.
-Se eu tivesse ouvido antes aquelas mensagens… se eu tivesse mais um tempo pra conversar com você…
- Meu loiro, não adianta pensar no "Se", não era pra ser ser! Se ficarmos pensando nisso, voltaremos no "Se" eu tivesse te ouvido e não me casado, e não tem mais como mudar isso.
- Eu sei. O que está feito, está feito e não pode mudar. Foi por isso que eu não deixei que você largasse tudo aquele dia.
Ficaram em silêncio.
- Fred, eu quero você de volta na minha vida. Sei que estou sendo um egoista do caralho, mas eu não vou abrir mão de você. E isso é uma constatação, entendeu?
Fred apertou os lábios mas não conseguiu evitar o sorriso por ter ouvido aquela declaração do primo.
-Desgraçado! - disse o loiro olhando pra baixo tentando se livrar do sorriso quando sentiu a mão do primo erguer seu rosto.
-O que está olhando? - perguntou o loiro.
-Seu sorriso. Amo tanto o seu sorriso, sabia? Principalmente quando sou eu o motivo dele.
-Deixa de ser convencido, Humberto. Você não é tudo isso não! - disse o loiro sorrindo fazendo Humberto sorrir.
-Pode negar o quanto você quiser, mas não para de sorrir e alegrar meu mundo com seu sorriso. Odeio ver você triste. - disse se afastando um pouco e olhando nos olhos do primo. - Fred, eu amo você, inferno. Enfia isso na sua cabeça ou em qualquer outro lugar que você queira enfiar de uma vez por todas e aceite isso! Só continuo dizendo isso pra você!
Fred riu de novo com a declaração de Humberto.
- Eu te amo também, Beto. Mas não vou enfiar nada em lugar nenhum!
-Então só aceite isso e para de se esquivar de mim.
-Ok, ok! Mas tente entender o meu lado também!
- Eu entendo meu loiro, mas não tem que ser assim…
- Humberto, é o seguinte: Me quer na sua vida? Ok, vou continuar nela, mesmo porque não consigo ficar longe, por mais que eu tentei e também não quero isso. Não ficarei longe de você, só… vamos com calma.
-Tá bom… vai sair comigo hoje então? Pelo visto já está pronto! - disse Humberto animado.
- Não me arrumei pra sair com você. Eu ia sair pra beber sozinho, porque entrei em pânico de pensar que você poderia vir pra cá. E eu estava certo, foi exatamente o que você fez.
-Falando nisso, nunca mais minta pra mim! - disse Humberto segurando no braço de Fred.
O loiro deu os ombros.
-Sai comigo hoje vai… te levo onde você quiser… por favor! - pediu o moreno com um olhar sério, porém terno.
- Beto, é sério. Não brinquei e nem menti quando disse que estava cheio de trabalho. Fui pego de surpresa. Quem sabe não almoçamos na semana que vem, lá pela quarta ou quinta?
-Se você tá tão atolado assim de trabalho como diz, tá indo beber por que? - perguntou Humberto com olhar sério.
-Humberto, você não é meu pai. E você é casado e está esperando um filho. VAI PRA CASA! - disse o loiro.
- Fred… falou Humberto suspirando triste.
-Tô falando sério. Hoje não dá, mas vamos sair sim. Vamos nos ver na terça, almoçamos juntos na quinta e na sexta podemos sair a noite como antigamente… tanto faz.
Humberto se afastou de Fred colocando as mãos nos bolsos para não dar um chacoalhão no primo. Estava ficando puto e voltando a sentir aquela tristeza. Então se lembrou do convite de seu pai.
-No domingo é aniversário de casamento dos meus pais... Meu pai queria pessoalmente te convidar. Você vai?
Fred mordeu os lábios e olhou para o lado. Tinha esquecido completamente. Ia todos os anos com seus pais e esse seria o primeiro ano que iria sozinho. Seu tio era muito importante pra ele. Mas seria a primeira vez que teria de encarar Humberto e Alessandra juntos, desde o casamento. Fechou os olhos numa expressão triste e passou a mão nos cabelos. Uma hora aquilo ia acontecer.
- Eu vou sim. Pode dizer pra ele que nem precisa me convidar pessoalmente. Vai ser no domingo né? - perguntou o loiro virando de costas e pegando sua bolsa.
- Vai…
-Eu vou sim. - disse virando e olhando para Humberto e notou que seu sorriso tinha ido embora.
-Nos vemos lá então. - falou Humberto sem saber o que dizer.
Estava triste. Tudo estava caminhando tão bem…
-Até domingo, Beto. - disse o loiro abraçando o primo e abrindo a porta do carro, entrando nele.
-Até amanhã. Eu vou te ligar. - disse Humberto indo até seu carro.
Fred fechou a porta e abaixou o vidro.
-Eu sei que sim! E obrigado! - disse o loiro.
-Pelo que?
- Por nos resgatar.
Humberto deu os ombros e sorriu forçado. Se afastou do carro e viu Fred sair. Entrou no seu carro e foi pra casa.
Dirigiu o caminho todo pensativo com o que acabara de acontecer. Por mais que os dois tinham se resolvido, ainda sentia Fred se esquivando dele. Antes de chegar em casa, parou o carro um pouco antes, onde mandou um áudio para seu pai avisando sobre a conversa que teve com o loiro e confirmou a presença do primo. Chegou em casa e foi recebido por Alessandra. Precisava tomar um banho.
Na casa de Rogério, Samantha estava no telefone com uma amiga, quando seu pai bateu na porta do quarto.
- Oi pai, entra! - disse ela.
- Oi filha. Não quero incomodar, só queria saber se você poderia me passar o contato do Ariel. Estou pensando em convidar ele pra vir aqui domingo. O que você acha?
Samantha sorriu.
-Pai, que engraçado! Eu ia chamar ele do mesmo jeito, até porque ele é tão meu amigo quanto Fred, e praticamente é da família.
-Sim! Se não fosse ele, não teríamos conseguido tirar seu irmão de casa naquele dia.
- Verdade! Então eu vou te passar o contato dele pra você e você convida ele. O Ari vai ficar super feliz!
Rogério saiu do quarto de Samantha e desceu as escadas. Passou na sala, pegou um copo de whisky e um charuto, e foi até os fundos, sentando na mesa ao lado da piscina. Pillar não estava em casa, tinha saído com Marina. E estava muito quieta desde o casamento, o que deixava Rogério preocupado, pois conhecia muito bem sua esposa e sabia que ela estava aprontando alguma coisa. Não sabia 'o que' era, mas tinha um pressentimento sobre 'quem' sofreria na mão dela. Estava tão cansado disso tudo. Vinte e sete anos de casamento e ela não mudou uma vírgula. Aliás, só piorou com os anos. Pegou seu celular no bolso e abriu a mensagem da filha, salvando o contato de Ariel. Rogério abriu a foto do ruivo. Não podia negar que ele era lindo. Era quase idêntico ao sobrinho, se tivesse cabelo loiro. Estava se afeiçoando bastante à ele nesse último ano. Acendeu o charuto e ligou.
Ariel estava em seu quarto trabalhando no notebook. Ele e Fred estavam desenvolvendo uma coleção juntos. Adorava trabalhar junto com seu amigo. Seu celular estava carregando ao lado quando tocou. O ruivo viu o número desconhecido, mas atendeu.
-Alô?
"-Ariel?"
-Sim, quem gostaria?
"-Aqui é o Rogério, pai da Samantha!"
Rogério? Questionou o ruivo em pensamentos. Nem sabia que ele tinha seu número.
- Oi querido! Hum… aconteceu alguma coisa com a Sá?
Rogério sorriu.
"- Não, não, está tudo bem! Fique tranquilo."
-Entendi. Bom… que bom! - disse o ruivo sem saber muito o que dizer.
"-Ariel, perdão te ligar essa hora, mas na verdade eu quero te fazer um convite: no domingo é meu aniversário de casamento, faremos um almoço em família e eu gostaria muito que você viesse. Vai ser por volta do meio dia. Fred vai estar aqui também!"
Que homem mais fofo e maravilhoso, pensou o ruivo. Sorriu.
-Jura? Que tudo! Muito obrigado pelo convite. Claro que eu vou. E meus parabéns pelo aniversário.
"-Que bom que vem! E obrigado!"
- Eu quem agradeço. Vou passar na casa do Fred antes, assim ele vai comigo. Vou levar também uma sobremesa.
"-Fique à vontade quanto à trazer qualquer coisa e te agradeço. E acho uma ótima ideia você vir com o Fred. Vai ser bom pra ele ter sua companhia e a da Sá. Falando nele, como ele está? Estou perguntando porque não o vejo têm meses."
-Olha, ele está bem viu. Tem trabalhado bastante em casa. Estou trabalhando com ele num projeto e às vezes durmo no apartamento dele. Ele está vivendo. Ando sentindo ele meio gélido sabe? Nunca foi desse jeito. Esta também meio quieto, mas o mesmo de sempre.
"-Fico feliz. Sinto tanto por ele estar sofrendo. Conheço meu sobrinho e quando ele se esquiva, é porque não está bem."
-Rogério, você sabe tão bem quanto eu o motivo dele estar passando por isso. Não estou culpando de forma alguma seu filho, mas o Humberto tem um 'que' nisso tudo. Perdão se eu estiver ultrapassando o limite. - disse o ruivo levantando da cama e acendendo um cigarro.
"-De forma alguma, Ariel. Eu penso do mesmo jeito que você. Inclusive hoje mais cedo tive uma conversa séria com o Beto, e disse pra ele resolver essa questão. Ele me ligou tem uma meia hora dizendo que foi até a casa do Fred e parece que aparentemente se resolveram."
- Que bom. Fiquei feliz em saber disso. - respirou o ruivo aliviado. - Amanhã eu vou ligar pra ele pra saber como foi.
"-Faça isso. - sorriu Rogério.
-Então combinado, querido. Te vejo no domingo. E mais uma vez, obrigado pelo convite! - disse o ruivo sorrindo.
- Eu quem agradeço por você aceitar. Tenha uma boa noite e me ligue se precisar de qualquer coisa. - disse Rogério apertando os olhos. Não entendeu porque disse aquilo.
-Obrigado! Vou salvar seu número aqui e qualquer coisa me ligue também! Tenha uma boa noite e manda um beijo pra Sá. Um abraço!
"-Mando sim! Outro pra você."
E desligaram. Ariel estava surpreso. Nunca tinha tido uma conversa longa assim com Rogério. Ficou feliz pela consideração. Voltou pro notebook pra terminar o que estava fazendo.
Rogério desligou o telefone com um sentimento de alegria dentro de si. Ficou sentado ali mesmo onde estava, pensando na ligação. Ficou feliz por ter feito aquilo. Quebrou de vez uma barreira com o ruivo e não sabia porque, mas estava muito ansioso para que o domingo chegasse!
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