Poder
Nunca fui chegado em festas, mas por insistência de amigos acabei vindo parar nessa, pelo menos por ser temática (fim de junho, são João) eu poderia me distrair comendo enquanto observava os outros se embebedarem com quentão e cerveja ao meu redor. A festa estava cheia e animada, todos vestidos com camisa xadrez e chapéu de palha, do lado de fora da casa de dois andares uma enorme fogueira queimava com gente dançando ao redor. Eu olhei todos ao meu redor e olhei para minhas roupas, minha camisa de manga longa e calça moleton contrastavam gritantemente dos outros participantes, suspirei fundo, típico de mim, ser o estranho que se destaca da pior maneira. Tentei me encolher no canto pra ser notado o mínimo possível enquanto meu amigo Fernando, o otário que me convidou sem me avisar o tema, ria da minha cara. Conforme a noite avançava e o nível de álcool subia os casais começavam a se formar, os corpos a se esfregar. Meu amigo já estava colado em uma guria de vestidinho curto e sardas falsas no rosto, me esquivei do grupo que conversava animado na minha mesa e fui conhecer melhor o local, a casa ficava no meu bairro mas eu nunca tinha entrado nela, nem faço ideia de quem é o dono. Alguns caras me chamaram a atenção, alguns eu até conhecia da academia ou de vista no mercado do bairro mas todos estavam com uma garota a tiracolo, então apenas acenei e continuei explorando. No salão principal vi um daqueles rostos da academia, bonito demais para sequer olhar na nossa direção, o que não me impede de furtar olhares, seu nome era Rodrigo, pele branca, sem uma unica marca sequer, cabelos pretos curtos e espetados, rosto quadrado e feições de garoto, combinados com seus quase um metro e noventa de altura davam a ele um ar de frat boy norte americano, com o fisico de um quarterback, mesmo pela camisa de flanela eu podia ver os músculos trabalhando enquanto ele se debruçava sobre uma jovem baixa demais e com seios grandes demais, enfim, já tinha olhado demais, segui o meu caminho comprimentando conhecidos aqui e ali mas sem querer me deter em conversas. Acabei por esbarrar em uma pessoa, ou uma montanha, pois ao tentar me desculpar dei de cara com a barriga do cara, tive que olhar para cima, do alto dos meus um e setenta e pouco eu tinha topado com um gigante de dois metros no mínimo, outro garotão topzeira moderno, com barba fechada e cara de mal. Carregava dois copos de cerveja na mão.
-Olha por onde anda.
Foi tudo que falou e saiu, sem olhar na minha direção e sem me dar chance de me desculpar fiquei a olhar para suas costas largas, eu já tinha visto ele no mercado ou padaria, de relance, mas não sabia seu nome, não aparentava ter mais de 25 anos, com um físico entre nadador e fisiculturista.perto das escadarias para o segundo andar um grupo animado conversava e ria alto, no meio deles um outro cara que nunca havia visto, moreno bronzeado, cabelos com luzes e o sorriso de um milhão de dólares, roupas caras e gestos delicados, um pouco mais alto que eu, toda a pinta de playboy, além de mim ele parecia ser o único naquele lugar que eu poderia curtir, mas enfim, estávamos em círculos diferentes e minha timidez não ia me permitir investir em algo, eu segui para o segundo andar onde as pessoas se juntavam no balcão para observar a festa e a fogueira abaixo.
Dei um tempo ali conversando com um conhecido ou outro até que um barulho como explosão ecoou do andar abaixo. Antes que eu pudesse reagir perdi o chão, literalmente, o chão desabou e fui parar no térreo confuso, machucado e entre escombros, as pessoas ao redor gritavam e choravam, fugindo ou recuando de algo que estava do lado de fora da casa, na hora cogitei que a fogueira tinha saído de controle e explodido ou go assim, quando consegui me erguer olhei ao redor e avistei o playboy logo atrás de mim, tirando alguns pedaços de escombro de cima de um cara que me pareceu ser o gigante que havia topado comigo mais cedo.
-Você está bem, Emyr?
Me virei assustado ao escutar meu nome e uma mão forte me enlacando e me ajudando a levantar, meu ajudande era ninguém mais ninguém menos que Rodrigo.
-S-sim, sim, eu tô bem, tive sorte, acho…
Como ele sabia meu nome? Rodrigo sorriu mas um som estranho nos chamou a atenção, ao olhar para a direção da entrada da casa um brilho estranho começou a ser formar no meio do nada, como se o ar estivesse sendo cortado, uma fenda espacial, como nos filmes, foi o que me lembrou na hora. A medida que a fenda abria era como se revelasse outra realidade do outro lado, a princípio eu tive dificuldades em entender o que eu estava vendo, era um Titã, um colosso de quatro metros de altura ou mais, como uma estátua de marfim de um deus grego em um museu, mas essa se mexia, estava de costas, carregava uma espada que deveria ter o dobro do meu tamanho e usava ela para segurar algo massivo, negro, tão gigante que eu não conseguia ver o que era pela fenda, que parou de crescer quando revelou todo o Titã. Ele parecia ter problemas em conter seu oponente e era pressionado para trás, mais alguns passos e ele atravessaria a fenda da dimensão dele para a nossa. O titã virou o rosto olhando para trás e nos percebeu ali olhando para ele.
-Que bom, vocês estão aqui e juntos. Eu esperava que tivesse mais tempo para prepará-los mas as forças dos caídos me atacaram antes, se eu não os parar aqui eles vão fugir todos para sua frágil dimensão.
Ele parou e fez força para pressionar seu oponente para trás.
-Eu sinto muito, eu vou ter que armar vocês para defender sua própria dimensão até a minha chegada. Meu poder vai fluir entre vocês quatro e vai uni-vos de corpo e alma, eu sinto muito por esse efeito colateral, mas é necessário.
Nesse momento a fenda começou a se fechar rapidamente, antes que ela se fechasse totalmente eu vi o tita fazendo um gesto com as mãos e um calor tomou conta do corpo me deixando atordoado, do meu lado Rodrigo cambaleou também e ambos caímos de joelhos ao chão,senti uma mão no meu ombro e o gigante estava ali também, sendo apoiado pelo playboy, estavamos todos sofrendo aquela estranha tontura nauseante. Com um estrondo a parte da frente da casa explodiu para dentro, revelando uma grotesca criatura gigante, um misto de troll com partes mecânicas de pele com um tom acinzentado doentio, a criatura olhou para nós e rugiu, balançou um bastão de pedra que carregava com as duas mãos e avançou em nossa direção com o intuito de nos amassar, a criatura horrenda ergueu o bastão acima de nós, não iamos conseguir escapar, eu tinha certeza que esse era meu fim.
-Nãaaaaoooo.
Para nossa surpresa, Rodrigo conseguiu segurar o bastão com a mão, houve uns dez segundos de silêncio enquanto compreendiamos o que havia acontecido, inclusive a criatura, que não esperava resistência. Por instinto Rodrigo havia erguido as mãos e parado o bastão, o impacto foi tão forte que seus pés afundaram uns três centímetros no chão, quebrando o porcelanato abaixo.
-Rodrigo…
Eu falei baixo, confuso, mas ele me olhou com o mesmo espanto.
-Eu não sei o qu…
Mas antes que pudéssemos reagir a criatura puxou o bastão de ferro, Rodrigo continuou segurando ele e acabou sendo puxado, como ele ainda tinha um braço forte ao meu redor eu fui lançado junto um efeito catapulta fomos lançados pelo buraco de entrada da criatura e atravessamos o quintal da residência em alta velocidade com o vento zunindo em nossos ouvidos, por instinto eu abracei Rodrigo e pensei que iriamos ser esmagados contra uma árvore, poste ou muro. Meu medo, não só por mim quanto pelo Rodrigo me fez querer interromper o trajeto com todas as minhas forças, e quando abri os olhos estávamos parados no ar, eu segurava Rodrigo por debaixo dos braços enquanto ele observava com o olhar maravilhado algo atrás de mim, eu olhei para trás e para minha surpresa quem nos sustentava no ar eram duas asas, brancas e quase luminosas que saiam das minhas costas, eu tinha asas! Senti Rodrigo tocando meu rosto e quando olhei para ele me vi encarando o par de olhos azuis mais puros que eu já tinha visto, nunca tinha percebido antes o quão azul eles eram. Com ele segurando meu rosto com sua mão enorme e tendo a sensação de que seu rosto estava aproximando fomos descendo até tocar o chão quando ele me puxou para perto de si contra seu peito forte, nesse ponto eu tinha que inclinar a cabeça para cima para continuar encarando os olhos azuis que eu não conseguia me desviar.
-Arrrrrrgh!!!!!!!!!!!!!!!!
O som da batalha atraiu nossa atenção de volta para a casa, onde o troll gigantesco era derrubado pelos caras que tinham ficado para trás, logo eles estavam emergindo dos escombros da casa rindo uma para o outro vindo em nossa direção. Eu tentei me afastar de Rodrigo mas ele me apertou mais contra seu peito enquanto observavamos os dois se aproximando.
-Vocês estão bem? Achei que estavam esmagados na parede igual…
O cara alto falava alto, parecia ser do tipo brincalhão, que atrai e cativa a atenção de todos, mas a frase morreu em seus lábios assim que ele nos viu. Minhas asas estavam a mostra e eles se aproximando passou a mão nelas me fazendo sentir um calafrio pela espinha, suas grandes mãos me puxaram, ele e Rodrigo se encararam por uma fração de segundo e o braço dele ao meu redor se afrouxaram, como se ele desse permissão para que o mais alto me tomasse enquanto Rodrigo se virava para o playboy. Se eu tinha que olhar para cima para encarar Rodrigo, eu teria que dobrar a coluna para olhar para esse cara e enquanto ele me puxava para perto eu não pude deixar de reparar o contraste dele com Rodrigo, enquanto o de olhos azuis era totalmente liso, tanto rosto quanto corpo, o gigante de olhos castanhos era peludo onde eu podia ver, e então veio o que me acertou em cheio me deixando tonto: um odor indescritível, como se várias coisas gostosas tivessem sido misturadas ali. Ele debruçou sobre mim e afundou o rosto no meu pescoço respirando fundo, sua barba roçando em mim e me deixando arrepiado.
-Que cheiro é esse?!
Escutei ele balbuciar enquanto me envolvia e me derrubava na grama deitando sobre mim entre minhas pernas, que agarrei suas costas o quanto pude. Suas mãos passeavam pelo meu corpo que estava pegando fogo, quando olhei para cima rodrigo tinha um braço ao redor do playboy, lábios vermelhos e ambos me encaravam com uma expressão de pura luxuria. Isso tudo era maluquice, a uns quinze minutos atrás esses dois “garanhões” estavam bufando encima de uma ou várias garotas na festa e agora estávamos nos esfregando. Então me caiu a ficha, o titã que surgiu da fenda parece nos ter dado habilidade, e ele falou algo sobre nos conectar. Isso tudo não era natural, seja lá o que nos mudou causou esse efeito colateral, de repente eu precisava respirar, me afastar dessa loucura toda. Apoiando os dois pés na barriga do cara alto deitado sobre mim eu empurrei ele para longe enquanto me lancei aos céus, voar estava ficando a cada segundo mais natural para mim, minha intenção era subir o mais alto possível antes de partir para uma direção qualquer mas quando eu parei o cara alto estava na minha frente, ele também conseguia voar!
-Aonde você pensa que vai? - ele olhava sorridente para mim, o olhar ainda enevoado, suas mãos me agarraram com força denovo e me puxaram, por mais que tudo que eu quisesse era me entregar algo dentro de mim não deixava se levar assim, eu precisava de distância, precisava pensar, então sua mão começou a passar entre meu braço e ele não estava segurando nada senão ar, eu havia dissolvido no ar, para ele. Eu estava bem na sua frente enquanto ele parecia não me ver, em sua confusão tateando o ar na sua frente.
-Hey cadê você? Volta aqui! Ah cara, isso foi tão legal, mas nem um pouco justo. Hey????
Eu entendi, eu tinha ficado intangível para fugir dos seus braços e em seguida fiquei invisível! Me afastei dele o suficiente para pegar impulso e disparar em direção ao horizonte.
Leo
Da festa não restava nada, o pátio da casa estava destruído por onde a criatura passou, a frente da casa estava parcialmente destruída, o que causou essa destruição não foi a fenda da qual surgiu o titã, o que causou a explosão inicial foi a chegada do troll. Os convidados haviam fugido, acabou que ninguém presenciou nossas habilidades ou nossa briga com a criatura, que derrubada agora parecia dissolver no ar. Um de nós parece ter fugido, o mais alto de nós, Jefferson, perdeu ele no ar por que agora eles voavam. Eu não sabia o nome do pedaço de mal caminho que assim que me viu me agarrou e me beijou, mas eu sabia que tínhamos que sair daqui.
-A gente tem que ir, eu não tenho explicação para dar pra polícia quando ela chegar, e vocês?
O de olhos azuis pareceu olhar para o estrago ao redor pela primeira vez.
-Vamos para minha casa, fica aqui perto e estou só. - ele disse enquanto me puxava sem largar minha mão, o cara alto aterrissou e passou a nos seguir a pé, atravessamos algumas ruas até chegar em uma casa grande, ele abriu o portão e nos deixou entrar, nos conduziu até a sala e quando nos sentamos no sofá o silêncio e o cansaço se abateu sobre nós.
-Meu nome é Rodrigo, e o de vocês?
-Jefferson, pode me chamar de Jef, bela casa!- o grandão se sentou ao meu lado, passando a mão pelo meu ombro e me puxando para perto, abrindo as pernas deixando um pacote amplo descaradamente a mostra, o cara era gostoso e agia com plena consciência disso.
-Leo aqui.
-E o nome do carinha que fugiu? - Jef perguntou enquanto me apertava contra si, eu acabei por me acomodar e respirar o cheiro magnífico que emanava do rapaz.
- Emyr, conheço ele da academia, ele mora aqui perto, só não sei onde exatamente.
Rodrigo parecia meio triste ao falar disso, tinha algo mais nessa história, mas vê-lo para baixo me causou um aperto no coração. Do meu lado Jef bocejou alto.
-Eu não sei quanto a vocês, mas eu estou moído, a gente pode pensar em tudo isso amanhã, que tal?
- T-tem uma cama lá em cima, grande o suficiente para nós três… S-se vocês quiserem, é claro, eu não quero dormir sozinho hoje. - Meu coração derreteu totalmente ao ver um homem com jeito de garotão tão grande e tão constrangido ao revelar aquilo, quase tímido.
-Ótimo, perfeito pra mim!- Jef se levantou e me puxou junto, foi até o outro sofá e segurou Rodrigo pelo braço e nos arrastou escada acima.- Mostra o quarto.
Nos acomodamos, vestidos mesmo, apenas tiramos nossos calçados e caímos na cama, eu no meio dos dois musculosos, não que eu fosse magro fora de forma, mas perto deles eu parecia uma criança, enquanto o sono me tomava eu pensei que loucura era estar ali depois do dia de merda que eu tive, com dois caras que eu parecia me importar cada vez mais a cada minuto que se passava.
Emyr
Eu pousei em uma clareira no meio da mata, não tinha medo do escuro pois se eu apertasse o olhar ele se adaptava ao escuro, eu podia ver com mais detalhes do via durante o dia. O titã da fenda havia havia nos mudado, nos dados poderes, para mim e para os outros. Pensar neles trazia um aperto no peito e não estar perto deles me trazia um sentimento de solidão, que loucura era essa, eu nem sabia o nome deles! Eu não podia me dar ao luxo de ser fraco assim, de me entregar a um sentimento que parecia ter sido plantado em mim por uma entidade de outra dimensão, eu precisava superar isso, pensar direito no que fazer. Não me lembro de ninguém ter visto a batalha na festa, meus pais não sabiam que eu havia ido até lá, a única pessoa que eu teria que me preocupar era meu amigo Fernando, mas eu perdi ele no meio da festa, muito antes do caos, eu poderia dar uma desculpa qualquer, era isso, eu ia voltar para casa e continuar com minha vida, exceto por essas asas… E assim que me concentrei nelas, elas desapareceram, sumiram no ar deixando para trás apenas algumas penas brancas! Eu experimentei invocar e sumir com elas algumas vezes, ainda bem, um problema a menos. Era hora de voltar para casa e seguir com minha vida.
Leo
Nos dias seguintes com o pensamento mais claro nos reunimos na casa do Rodrigo, ou Digo, como ele preferia ser chamado. A casa dele era a última do bairro, fazia divisa com um terreno baldio nunca usado e além dele uma reserva florestal, era o local perfeito para explorarmos nossas novas habilidades, nessa fase os quadrinhos nos ajudaram bastante e nos atrapalharam também. Eu tinha percebido no primeiro dia que eu era veloz, extremamente veloz, juntos acompanhavam meu metabolismo e raciocínio eu não funcionava como os velocistas dos quadrinhos, mas era bem próximo. Jef se tornou algo muito próximo de um super homem: Vôo, superforça. Drigo tinha uma força ainda maior que a dele e parecia ter se tornado um mestre em todos os tipos de artes marciais, apesar de não conseguir voar ele conseguia atravessar quilômetros em um unico salto, exigiu muita prática até ele não se ferrar toda vez que aterrissava. Os dias se passaram entre procurarmos o outro garoto que fugiu e treinar, Drigo e Jef passavam o dia competindo para ver quem era o mais forte, levantavam carros, pedras. Exceto pelo beijo que trocamos na primeira noite não houve nenhum outro contato, o desejo estava lá, e crescia a cada dia que passava, mas duas coisas complicavam, a primeira era que eles estavam em conflito interno, era a primeira vez que sentiam atração por um cara do mesmo sexo, não era fácil para dois machos alphas como eu percebi que eram, eu estava tranquilo pela minha vasta experiência e mantinha minha reserva, me contentando por enquanto com os abraços, afagos e carinhos. Enquanto Jef era mais dominador e gostava mais manipular fisicamente a gente drigo era mais reservado, toda vez que ele nos tocava se tornava significante, era o tipo que você acabava fazendo qualquer coisa para merecer esse momento. Mas algo estava faltando, uma peça importante, éramos quatro e ali só estavam três. E assim estabelecemos uma rotina nessa primeira semana, não conseguimos ficar um dia afastados. Se tivéssemos prestado atenção ao noticiário veríamos que aparições de criaturas hostis como aquela que nos atacou durante a festa eram comuns agora, mas que a grande maioria sumia antes de chegar a causar estragos ou morte.
Emyr
Meu plano de retornar a minha vida normal falhou logo no primeiro dia, a caminho da faculdade uma fenda não muito diferente do dia anterior se abriu na minha frente e cuspiu outro monstro. Eu olhava estupefato enquanto o que parecia ser um dinossauro gordo e vermelho se levantava até ficar em pé, uns cinco metros mais alto que eu. O monstro olhou em minha direção encheu o peito e cuspiu uma bola de fogo em minha direção. Eu achei que era meu fim e me encolhi, mas nada aconteceu, quando abri os olhos estava num casulo feuto com minhas asas, elas haviam me protegido e pareciam ter saido intactas, urrando de ódio o monstro começou a cuspir fogo em todas as direções. Eu ouvi barulho do outro lado do muro, havia uma escola ali, cheia de crianças a essa hora, eu tinha que fazer algo! Tinha que atacar esse monstro a distância, se eu chegasse perto ele ia me devorar. Acho que a necessidade acabou criando a situação, minhas mãos começaram a formigar e brilhar, uma pressão cresceu e eu apontei as mãos espalmadas para o monstro e gritei, algo como um facho forte de luz saiu das minhas mãos e errou o dinossauro, mas acertou o poste ao lado que foi destruído, caiu para o lado e acertou o monstro na cabeça, eu mirei o facho e disparei novamente e acertei o monstro, criando um buraco em seu peito. Eu e ele caímos no chão ao mesmo tempo, eu estava ofegante sem acreditar no que havia acontecido. O monstro desapareceu em cinzas e a normalidade retornou para a rua, e exceto pelo estrago da batalha era como se o mundo retornasse a normalidade, eu peguei minhas coisas e segui em frente em direção a faculdade como se nada tivesse acontecido, mas uma coisa me preocupava, e se eu não estivesse ali? Aquele dinossauro teria entrado na escola? O que teria acontecido com as crianças? Na faculdade esse assunto não saia da minha cabeça, eu peguei meu celular e pesquisei avistamento de monstros e bingo! Várias filmagens amadores, os monstros apareciam, causavam estrago e até mortes e sumiam. Nos dias seguintes eu me conectei a fóruns e live streams de redes de notícias locais, sempre que algo suspeito acontecia eu partia para o local suspeito. No primeiro encontro eu descobri que além das asas eu podia invocar uma espécie de armadura ou veste, que cobria minhas pernas, parte do meu torso e dos meus braços, era o suficiente para me proteger das lâminas da criatura similar a um gafanhoto e me deixava diferente o suficiente para ninguém me identificar caso gravassem. No segundo encontro eu descobri a superforça, no terceiro eu descobri que controlava eletricidade, fogo, água e assim eu fui treinando, na necessidade.
Mas eu não podia estar em todos os lugares ao mesmo tempo, e esse problema foi solucionado quando, pra minha surpresa, ao chegar em um local que uma mensagem anônima em um fórum havia me indicado me deparei com outros três caras, não demorou muito para reconhecer os três caras da festa, eles estavam "fantasiados" Ou algo do tipo, eu voei até o alto de um edifício e me ocultei enquanto observava a ação. Eles trabalhavam bem juntos, em pouco tempo contiveram uma infestação que sangrou por uma das fendas. Eu queria me juntar a eles, passei semanas evitando os locais onde eu sabia que estariam, mas todo momento eu tinha um compasso, me apontando para eles, como se eu soubesse a cada minuto onde cada um dos três estaria. O que evitou que eu me revelasse foi a fumaça do outro lado da cidade, que eu avistava de cima do prédio onde eu estava, eu precisava estar em outro lugar, eu lancei um último olhar e congelei, Rodrigo estava olhando exatamente para o ponto onde eu estava, os olhos azuis me prenderam como um prego no ponto onde eu estava, o tempo parou, meu coração acelerou e então me lembrei que eu estava invisível, ele não estava realmente me vendo, talvez ele também sentia onde eu estava, tive que me lembrar que isso não era um sentimento verdadeiro, tinha sido plantado por aquele titã de outra dimensão, lentamente eu me afastei e fui em outra direção, onde eu talvez fosse necessário de verdade.
No dia seguinte os três estampavam a capa do jornal, eram aclamados como heróis: titã era chamado o mais alto, estava usando uma vestimenta grega, um exomide branco e dourado curto até os um pouco acima do joelho, deixando a maior parte do corpo peluda e musculosa exposta, se o objetivo dele fosse distrair o oponente ele estava se saindo muito bem. O playboy parecia uma espécie de velocista e usava o nome de Corredor, usava elmo e um collant esportivo, com cores vibrantes de verde e azul escuro. Rodrigo era inconfundível, usava uma jaqueta de couro preta com uma roupa cinza escuro por baixo e óculos escuros, em campo ele dava as ordens e coordenava o pequeno time usando o apelido de Espartano. Eu demorei um pouco passando os dedos pela foto, traçando o contorno dos três antes de rasgar aquela foto do jornal e guardar no bolso, conforme os dias iam passando os três ia criando um renome, a mídia adorava eles, e eles estavam em todos os lugares contendo criaturas e assaltos, sequestros, incêndios, tragédias de todos os tipos, por todos os lugares tinham cartazes, fotos homenagens dos tres, se antes era difícil escapar deles, agora se tornava impossível.
Claro que eu também não estava a toa, mesmo no anonimato o que não faltava eram criaturas sendo vomitadas das fendas, loucas de raiva, e aqui e ali eu encontrava espaço para fazer o serviço de vigilância. Algumas vezes eu acabava sendo fotografado ou filmado, mas devido as asas me confundiam com um dos monstros, eu achava melhor assim, não queria passar a vida contendo essa fendas, eu queria acabar com elas, tinha que descobrir a causa. Um dia eu acabei tropeçando na resposta quando seguindo uma dica cheguei até uma fenda, mas essa não era como as outras, que ardiam como fogo negro, essa tinha o mesmo aspecto da primeira, de onde o titã havia nos dado nossas habilidades. Desse ao invés do tita azulado saiu um humanóide, com uma armadura vermelha, com uma cauda longa parecida com a de um dinossauro e sete espadas penduradas nas costas, ele se virou para mim e me encarou, eu acho, ele tinha um elmo na cabeça.
-Onde estou? Quem é você?
E-ele falou? Essa era nova.
-T-terra, você está na terra, quem é você?
-Você faz parte da Horda dos Caídos?- O homem dragão me questionou, sua voz tão imponente que eu sentia tudo vibrar, ele não era um monstro comum, ele emanava poder, não muito diferente do titã azulado. - Claro que não, por que eu sinto o poder de Logus emanando de você?
Logus?
-Logus, o titã azul, você quer dizer?
-... Acho que você pode descrevê-lo assim, no meu mundo ele é um dos deuses da criação e o principal general no combate às hordas. Se ele abriu as portas para você acessar seu poder então essa dimensão também está em perigo.
-Você sabe como consertar isso? Impedir que essas fendas apareçam?
Sua pose estava mais relaxada agora, ele encarou o local onde a fenda estava aberta, ele pareceu pensar um pouco.
-Essas fendas não abrem ao acaso, alguém do meu lado ou do seu lado está forçando elas a abrirem, essa daqui eu abri por acidente, mas…
Ele parou e me encarou, parecia considerar se me dizia ou não uma informação importante.
-Você foi escolhido por Logus, então eu também devo confiar em você. Na minha terra está havendo uma guerra, os deuses e paladinos estão tendo que enfrentar as hordas dos Caidos, o que torna a batalha mais dificil é que nosso inimigo não é o nosso real inimigo, eles foram tomados pelas forças do mal dos Caídos, mas são nossos amigos, nossos familiares. Nós estamos evitando matar eles, nós prendemos e fazemos um ritual para livrá-los da loucura, é complicado, demorado e cansativo mas…
Ele pareceu parar, como se memorias tristes tomassem sua mente.
-Eu entendo, se um familiar meu tivesse sido tomado a força e obrigado a me enfrentar eu faria de tudo para resgatá-lo.
-Eu tenho um pedido para te fazer: não os mate, o periodo em que ficamos nesse mundo é curto, basta contê-los por pouco tempo e eles retornam ao mundo de origem. -Eu senti um aperto no peito, quantas dessas criaturas eu já havia assassinado?.- Não, não se culpe pelo que já fez, você não tinha como saber, Logus não deve ter tempo de te explicar muito.
-Mas contê-los não é o suficiente não é. Eu tenho que descobrir quem os está invocando desse lado, e por qual motivo…
-Eu posso te ajudar enquanto estiver aqui, eu posso rastrear a energia da fe…
Um objeto veloz atingiu o paladino nas costas, o atirando contra um prédio na proximidade, eu estava em choque, preocupado com a conversa eu não havia percebido a aproximação dos três, uma trilha de sangue laranja corria do ponto de impacto até o prédio onde o paladino permanecia sentado com a cabeça baixa, sangue vazando do elmo também. Toda culpa que eu senti por matar essas criaturas começou a se acumular, raiva por não ter feito nada a respeito antes, raiva por não poder falar com eles, rancor por não estar ao lado deles, por eles não entenderem, por chegarem atacando, e culpa, por que eu mesmo já havia feito isso antes inúmeras vezes. A raiva virou ódio e sem pensar eu avancei contra o herói Titã, como um raio eu o atingi na barriga com os dois punhos fechados, ele apagou na hora e quando ia cair eu segurei pela alça da exomide e o lancei contra o Corredor que se aproximava, eu sabia que ele seria capaz de segurá-lo, no momento que o Espartano aterrisava na cena, eu me pus entre eles e o paladino, o odio ainda me cegando, eu ia descontar neles toda minha culpa e frustração, eu podia sentir o poder se acumulando ao meu redor, eu estava prestes a descarregar tudo, ir além, eu iria fazer todo o mundo sentir minha culpa e sofrer comigo. Foi quando uma voz fraca me tirou do meu estado de fúria.
-Não.. Os... mate...n-não..nos...mate…
Eu olhei para trás e o paladino sumia, voltando para sua dimensão, eu orei para que alguém pudesse salvá-lo por lá, um flash chamou minha atenção de volta para a cena, agora estávamos cercados de gente com a câmera dos celulares apontadas para nós, eu estava com as mãos abertas, raios e escombros flutuavam ao nosso redor, eu deixei tudo cair em segurança enquanto encarava o olhar dos três, o Espartano havia tirado os óculos, seus olhos azuis me olhavam com espanto, e mágoa? No meio deles o Titã havia acordado e um filete de sangue saia de sua boca, havia a mesma confusão e mágoa no olhar dele. O que eu fiz? Uma onda percorreu meu corpo e um novo par de asas brotou em minhas costas logo abaixo das primeiras, mas não eram brancas como as de cima, essas novas eram pretas e lustrosas como petróleo. As pessoas me encaravam assustadas, os três me encaravam assustados. Eu vi o que eles viam também, eu era o monstro! Eu poderia pedir desculpas, eu poderia tentar explicar, mas não pensei direito, devo ter tomado nesse momento a pior decisão possível, e uma bem recorrente: eu me lancei aos céus e fugi mais uma vez.
No outro dia meu rosto irado estampava a capa dos jornais e matérias de blogs, gravações minhas atacando o titã e me opondo aos três viralizaram no youtube e mídias sociais. Todas noticiavam a mesma coisa: Vilão ataca heróis.