Frio inverno de Paris. Caía a gelada neve, dando tons de branco à cidade-luz naquele taciturno mês de janeiro.
Escondendo-se do frio, o jovem Martin corre para dentro da estação do Louvre, esfregando as mãos nos braços para afugentar o frio que se aproximava do zero grau.
O jovem segue para o saguão da transmissora. Pensou em comprar um café na cafeteria que tanto gostava o Le Café Richelieu.
Ao fundo de todo o movimento da estação, Martin consegue escutar o som de um piano sendo delicadamente tocado. Logo reconhece Le Cygne de Camille Saint-Saëns. Esqueceu-se do café.
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Também na estação do Louvre, Jean admirava à estação e às pessoas que por ali passavam. Havia decidido que todas as sextas-feiras iria até à estação para curtir os minutos que gostava de passar consigo mesmo.
Sempre que ali ia, havia alguém ao piano que ficava no pilar central, mas desta vez, o piano estava sozinho.
Resolveu sentar-se por alguns minutos e relembrar dos tempos quando estudava o instrumento.
Começou com Moonlight Sonata de Beethoven, arrancando olhares de alguns passantes mas interessados que ali estavam.
Logo passou para Haydn, Handel, Broschi. Segurou os dedos por alguns instantes antes de começar a sua canção favorita: le cygne.
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Martin começou a seguir o som. Segundos depois, vislumbrou um jovem louro e com os olhos fechados, que tocava tão lindamente a peça que ele um dia tocara.
Quando mais Martin se aproximava, mais vislumbrado ficava com a beleza do som do piano que entoava Saint-Saëns.
Quanto mais se aproximava, mais admirava-se com a rara beleza do jovem Jean.
Quando a musica se finalizou, Martin sentiu os olhos verdes que tinha marejarem. Ali, o mundo desaparecera e ele sentiu-se flutuando.
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Jean dedilhava delicadamente o piano com suas pequenas e habilidosas mãos.
De olhos fechados divagava pela música, sem sentir-se observado. A música ia chegando à sua última frase.
Tocou-se o último “fá” da canção, fazendo que Jean abrisse os seus olhos emocionados e de tamanha beleza rara.
Jean abre os olhos e o vê. Um jovem de madeixas pretas que chorava.
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Os olhares se cruzaram