- Ele sorriu do meu comentário, e disse:
Gui: Você deve estar com raiva de mim.
- Falou ele olhando em meus olhos.
Eu: Você fez o que quis ter feito. Não importa o que eu sinto. Não vamos falar disso agora.
Gui: Você precisa saber de uma coisa.
Eu: Como está sua perna, sente dor ?
- Tentei mudar de assunto.
Gui: Não sinto não. Senti no momento, mas agora já está de boa.
Eu: Que bom. Os médicos falaram quando vai poder ir pra casa ?
Gui: Ele vai passar aqui hoje. Talvez hoje a noite ou amanha pela manha já estarei em casa.
Eu: Que bom. ( Falei fazendo carinho em seu cabelo. )
Gui: Igor...
Eu: Olha, tenho uma surpresa pra você!
Gui: O que é ? ( falou sorrindo em tom de curiosidade )
- Me levantei ( estava sentado na cama onde ele estava ) e fui pegar o bolo de milho que minha mãe comprou.
Gui: Ai meu Deus, não acredito! Meu bolo favorito! ( falou ele irônico )
- Sorrindo falei;
Eu: Minha mãe deve gostar muito de você, nem pra mim ela faz!
Gui: Também gosto dela, agradeça a ela por mim.
- Ele segurou a minha mão essa hora e disse:
Gui: Desculpa.
Eu: Para. Não tem que me pedir desculpas.
Gui: Tenho sim, nada disso deveria ter ocorrido. Na verdade eu fui muito idiota com minhas inseguranças, minhas dúvidas e minhas escolhas mal feitas.
Eu: Gui, não há escolha mal feita. Fazemos o que achamos que é o certo fazer naquela momento, naquela situação. Você fez o que achou que era o certo fazer. E se não foi a escolha certa, paciência, você tá vivo para poder aprender com elas né ?
- Eu estava estranhamente calmo e tranquilo naquele momento. Percebi que ele estava fragilizado, não seria eu que iria apontar os erros do Guilherme naquele momento, aliás, quem sou eu para fazer isso. Ele já estava ciente das coisas que fez e falou. O entendimento da causa já é o principal passo para não se cometer o mesmo erro.
Gui: Onde foi que erramos ?
Eu: Como ?
Gui: Onde foi que erramos ?
Eu: Não precisamos falar sobre isso agora.
Gui: E quando vamos parar de enrolação e conversarmos sobre nós ?
Eu: Quando você tiver bem!
Gui: Igor, eu estou bem, não vou morrer! O carro só caiu numa vala, só tivemos ferimentos, eu estou bem!
Eu: Eu não quero falar sobre nós agora, Guilherme.
- Ele ficou em silencio, parecia aborrecido com o fato de que eu não queria conversar sobre esse assunto naquele momento. O fato é que, aquele não era o momento, a família dele estava ali, falar sobre nós requer tempo e muita paciência e dialogo. Afinal temos uma história longa. Em meia hora não estaria tudo resolvido. As verdades teriam que ser ditas e as angustias teriam que ser expostas para que não mais existisse.
Gui: Quando você vai embora ?
Eu: Depois de amanhã.
Gui: Você pode passar na minha casa, antes de ir embora, para que a gente possa se entender ?
Eu: Vou fazer o possível.
Gui: Me promete ?
Eu: Gui, você sabe como me sinto em ir para sua casa com sua mãe lá.
Gui: Deixa de paranoia, ainda com essas coisas ?
Eu: Olha, eu te prometo que farei o possível para ir te ver!
Gui: Não me deixe ir de muletas ter que te ver em São Paulo! ( falou sorrindo )
Eu: Como está os meninos ? Não fui vê-los.
Gui: Estão bem. O Otto teve um problema na bacia, mas não me explicaram muito bem. Mas vai ficar tudo bem.
- A porta se abre, era Michelle.
Michelle: Desculpa atrapalhar, mas vim comer um pedaço desse bolo!
Eu: Hahaha, eu sabia!
Mi: Você sabe que o Guilherme não gosta de bolo de milho, né Igor ?
Eu: Eu sei, ele já deixou bem claro com suas caras e bocas! ( falei sorrindo )
Mi: Igor, tia Ingrid teve que ir, eu te levo em casa tá ? E ela mandou te falar Gui, que quando você melhorar é para passar na casa dela, pois ela vai te fazer um jantar.
Gui: Preciso me ferir outras vezes!
Mi: Cruz credo! Seu louco, nem brincando fale isso.
Eu: Porque vocês não vão pra casa descansar ? eu fico com o Guilherme agora a tarde.
Gui: É o Igor fica comigo! ( falou com cara de malícia )
Mi: Obrigado, amigo. Mas o médico vai vir hoje a tarde, e mamãe vai querer estar aqui, o Guilherme provavelmente será liberado a tardizinha.
- Nessa hora a Suzana chega no quarto.
Suzana: Igor, Michelle vai te deixar em casa, sua mãe teve que ir.
Eu: Obrigado tia Suzana, a Mi me falou.
Suzana: Sobrou bolo, ou esse monstrinho já comeu tudo ? ( referindo-se ao Gui. )
Gui: Nossa, que amor você tem por mim. Não ainda não comi. Deixarei para comer em casa. ( falou ele não tão empolgado com a ideia.
Eu: Bom, vou deixar vocês a sós. Gui, a noite, caso já esteja em casa, conversamos melhor.
- Dei um beijo em seu rosto e me despedi da Suzana.
- Já fora do quarto, indo embora de carona com Michelle, Suzana sai do quarto e diz;
Suzana: Igor, posso falar com você ?
Eu: Oi, claro. Algum problema ? ( falei com aspecto de seriedade )
Suzana: Não, só queria tirar uma dúvida.
Eu: Pode tirar.
Suzana: Amor, pode ficar com seu irmão no quarto ? ( falou para Michelle )
- Assim que Michelle sai de perto, Dna. Suzana me indaga;
Suzana: Como foi essa briga, Igor ?
- Em todos os anos que eu e Guilherme ficamos juntos, nossas famílias ( mais a dele. Bem mais por sinal ) se mantinham discreta em relação a nós, como casal. Apesar de não ser segredo para ninguém. De modo que esse questionamento da mãe do Gui, me fez ficar um pouco sem jeito. Se eu mal tinha esse tipo de conversa com meu pai, que é meu pai, imagine com a mãe do Gui, que apesar de tudo, não nutríamos intimidade, um com o outro. Preferi ser sincero. Não poderia ser diferente, ela percebeu o meu incomodo com a pergunta.
Eu: Tia Suzana, eu não sei se me sinto confortável em falar sobre isso com a senhora. ( falei sem jeito )
Suzana: Meu filho, não tem nada que você não saiba que eu já não sei. Estou lhe perguntando isso, porque sei que houve uma briga, mas não sei como ocorreu.
Eu: Já perguntou ao Guilherme ?
Suzana: Já, mas ele não entrou em detalhes, e não quero incomodar ele com isso agora. Você pode me falar, por favor ?
- Eu estava realmente incomodado, porque essa discussão falava de sentimentos, de relação, de afeto. E para se falar sobre esse assunto com outra pessoa, há de se ter, no mínimo, intimidade, coisa que eu e ela não tínhamos nenhuma. Mas tratando-se da situação, resolvi contar, porém, fugi dos detalhes. Falei apenas o contexto, mas não me aprofundei.
Eu: Você sabe que eu e o Gui já não estamos mais juntos a quase dois anos, né ? e que ele namora o Otto, agora ?
- Estávamos no corredor, ela me puxou para um canto mais discreto, e disse;
Suzana: Eu sei. ( falou sem mudar o semblante de seriedade )
Eu: Então, eu voltei, soube que ele estava namorando, conversamos. Nos resolvemos, mas fomos para uma festa ontem, e vi que o Gui ainda estava com ele, fiquei chateado, ele não gostou de eu ter ficado chateado, principalmente depois de tudo que conversamos. Nós brigamos e eu fui embora pra casa. Foi isso. Ele queria conversar comigo agora, mas não achei legal conversar sobre nós, nesse momento. Ficamos de falar sobre isso outra hora, amanha talvez.
- A todo momento que eu falava sobre isso ( sem requintes de detalhes ) volta e meia ela franzia os cenhos, como se não entendesse muito bem o que eu falava. Até que ela disse:
Suzana: Há, então antes dele entrar no carro com o Otto e a amiga, vocês já haviam brigado ?
- Achei estranho ela dizer isso, e falei;
Eu: Sim, achei que soubesse ( falei rindo meio que nervoso, pois achei que estivesse jogando verde )
Suzana: Não, eu não sabia. Quando perguntei da briga, eu quis saber da discussão que o Guilherme teve com o Otto, dentro do carro. Pois acho que foi nesse momento da discussão deles, que o garoto caiu com o carro.
- Fiquei espantado com aquilo. Eu não sabia que o Guilherme tinha discutido com o Otto dentro do carro, eu achei que pudesse ter ocorrido uma discussão ainda na festa, depois de eu ter ido embora, e não dentro do carro. Imaginei que o Otto tivesse perdido o controle e derrubado o carro na vala, ou que ele estivesse embriagado ( coisa que acho difícil, pois conhecendo o Guilherme, ele jamais entraria em um carro com alguém alcoolizado ).
Eu: Eu não estou sabendo dessa discussão, acho que era sobre isso que o Gui queria falar comigo quando estávamos conversando agora no quarto. Mas não chegamos a falar sobre o assunto. ( falei ainda surpreso. CONTINUA