Oi pessoal, tudo bem com vocês?
Eu queria vir aqui e agradecer pela gentileza de todos os que comentam o meu conto. Fico muito feliz.
O capítulo que segue, para mim, foi o que eu mais amei escrever. Muitos detalhes que tiraram meu fôlego enquanto eu escrevia.
Eis entãoFelipe - Parte V – Piano Concerto Nº1 - Tchaikovsky
Ele havia combinado tudo aquilo. Eu além de absolutamente tímido, estava emocionado e muito, muito feliz. Tinha acordado mais cedo que eu e pedido aquilo para a gerência do café. Estava tudo armado. O melhor presente de aniversário da minha vida.
Depois da cena, meus sogros se aproximaram e me abraçaram também me dando os parabéns. Perguntei-lhes se eles também sabiam do que ia acontecer, disseram que sim e se esgueiraram para que eu não os visse no café.
Minha sogra havia gravado tudo com a câmera de seu celular. Aquela cena fora linda. Meu coração pulava de alegria.
Minha tarde com Felipe foi de muito carinho. Passamos no quarto quase o dia todo fazendo amor, nos amando bastante. Nada estragaria aquele dia.
Mais tarde começariam as apresentações. Ainda tínhamos aquela tarde de sexta feira livre. Meus sogros haviam desaparecido depois do almoço no hotel, iam passear pela orla, conhecer Ipanema e o Leblon.
Saíram depois do almoço e não nos preocupamos. Eram viajados, tinham suas vidas e gostavam de sair somente os dois.
Resolvemos então visitar, naquela tarde de sexta feira, o Museu de belas artes. A concierge do hotel havia nos dito que haviam obras lindíssimas ali e que se arte era o que queríamos ali nós a encontraríamos.
Baixamos em nosso celulares o mapa do metrô do Rio de Janeiro. Pegamos o metro na estação do Cantagalo, que ficava a dois quarteirões do nosso hotel, na avenida Barata Ribeiro e teríamos que seguir até a estação da Cinelândia.
Descemos na Cinelândia e ali vimos o centro do Rio de Janeiro. Eu estava muito satisfeito. Estava muito feliz. Ao sair da estação, demos de cara com o Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Que lindo era. Uma construção da época de Dom Pedro II que era a possuidora de toda a história da música clássica do Brasil.
Resolvemos andar um pouco para ver o que tinha de mais diferente ali.
Conhecemos ali perto a Candelária e a Praça Tiradentes, o reduto mais importante do teatro do século XX.
Nos tempos do teatro de revista, a praça Tiradentes era o centro cultural do Rio de Janeiro com mais de 10 teatros, entre eles Cultura artística, João Caetano, Carlos Gomes, etc. Dava para sentir a energia da arte naquele local.
Seguimos nosso passeio para o Museu de Belas artes, completamente estupefatos com tudo aquilo que a cidade maravilhosa nos oferecia.
A entrada do museu era linda. Era gigantesco. Como os casarões da corte europeia, um verdadeiro palácio todo construído em gesso e pintado à mão.
Era de tirar o fôlego. Quadros, esculturas, afrescos dos mais variados tamanhos e formas.
Rodamos pelo museu por mais de duas horas. Já se aproximava da hora de voltarmos para que as 17 horas, o taxi nos pegasse e nos levasse de volta ao Theatro.
Pegamos o metrô novamente na estação Cinelândia. Antes de descermos a escada Felipe olhou para o grande prédio do Theatro e disse que em poucos minutos voltariam a se encontrar.
Seus olhos transpareciam coragem e sua aura era de alguém sabia que ia fazer uma apresentação majestosa.
Voltamos pela estação, seguindo em direção ao guichê de passagens, pegamos nossos bilhetes e seguimos para a estação do Cantagalo.
Era uma estação grande, com esteiras rolantes de ambos os lados e 3 andares que com escadas rolantes levavam-nos de volta para a Rua Barata Ribeiro.
Nos aprontamos, no hotel, eu estava cansado fisicamente de tanto andar naquela tarde, mas Felipe não. Transpirava confiança. Aquilo era ótimo de ver nele.
Vestimo-nos e esperamos no saguão principal a chegada do taxi que nos levaria ao Theatro
Adentramos nas coxias e seguimo-nos para o camarim onde ele se trocaria. Colocaria seu fraque, e então iria apresentar-se por último, como a grande apresentação da noite.
Seguiram-se as apresentações múltiplas daquela noite. Aquele palco belíssimo seria o ponto de fusão da alma com o paraíso para todos aqueles músicos.
Mozart, numa belíssima apresentação de Requiém que comoveu a muitos.
Com certeza aquela noite seria cheia de talentos tão intensos quanto os europeus.
Dava para ter certeza que o cenário da música clássica do Brasil não deixava os da Europa muito à frente.
Seguiu-se a segunda apresentação, novamente do coral com Hino dos querubins.
Mais Mozart, Tchaikovsky, Handel, Prokofiev se seguiam naquela noite. Era tudo mágico.
O ponto máximo daquela noite, até então, para mim, havia sido Valsa nº2 de Shostakovitch.
A ansiedade por dentro de mim crescia muito enquanto estava sentado naquele camarote.
Estava chegando a hora da apresentação de Felipe, que fecharia a noite com o Piano concerto nº 1 de Tchaikovsky.
Entre a penúltima música e a apresentação final, Liége, a maestrina que estava regendo naquela última apresentação, parabenizou-me pela minha dedicação à música, pelo meu talento e meu aniversário. O Theatro me presenteou com uma salva de palmas.
Então, depois desse breve momento, entrou Felipe para a apresentação final. Sua aura estava forte, como um cavalo imponente, seus olhos pareciam olhos de tigre.
Sentou-se no piano e começou então as primeiras notas do concerto na tuba.
Eu suspirava olhando tudo aquilo. Por mais que estivesse acostumado, tudo estava mágico. Mais do que mágico.
Felipe dedilhava o piano de tal forma que eu nunca havia sequer noticiado que ele fosse capaz. Mesmo que eu já o tivesse escutado tantas vezes, hoje ele estava diferente. Um diferente que eu não estava acostumado a ver e gostava.
A meia hora desse concerto pareceu passar em 5 minutos. Não se ouviam nada além da orquestra que estava primorosa e do piano que aquele homem que eu amava tanto estava tocando.
Tudo estava próximo de acabar. Os suspiros de emoção com aquela música eram generalizados. Até os mais importantes críticos de música que ali estavam, ficaram embasbacados com a perfeição que aquilo tinha.
A música cessou. Por alguns segundos que pareceram horas, Felipe ainda permaneceu com as mãos sobre as teclas do piano que finalizavam a música.
Aquela mudez era de espanto com rara perfeição do que havia sido feito ali.
Felipe repousou sua mão sobre seus joelhos, me lembrando como havia feito no dia que dormimos juntos no sofá do meu camarim em São Paulo.
Mais alguns segundos de silêncio e os olhos de Felipe se encontraram aos meus.
Eu não tinha outra expressão a ser feita que não fosse a emoção que estava sentindo misturado ao espanto de ter assistido talvez a mais bela apresentação de piano que eu já havia visto em toda minha vida. E não era exagero.
Então, depois do silêncio, o teatro veio abaixo.