Existem momentos na vida que acontecem tão rápido como um piscar de olhos, e alguns momentos que são tão intensos que duram milênios. Tudo é uma questão de percepção.
- Diego, o que aconteceu? Porquê está tão pálido e com essa cara, o que você viu nesse celular? – perguntou Fernando, ao servir dois copos de suco de laranja.
- Eu tenho que ir embora – falou Diego, os olhos lacrimejantes.
- O que aconteceu? – o homem perguntou.
- Minha mãe, foi levada pro hospital, acho que sofreu outro AVC. Estou com medo. – falou ao abaixar a cabeça, uma lágrima caiu instantaneamente.
- Eu te levo, vamos nos vestir e saímos – falou Fernando ao tomar o suco todo de uma vez só.
- Tem certeza que não é incomodo?
- Incomodo nenhum, vamos! – falou Fernando.
Em menos de dez minutos o grande portão se abria para que o carro de Fernando pudesse passar, Diego se mantinha aflito durante todo caminho, o olhar distante admirava a noite fria, enquanto o carro cortava a neblina que se formava na estrada. Era por volta da meia noite quando o carro de Fernando adentrou o estacionamento do hospital, Diego não havia falado uma palavra durante toda o percurso, que era consideravelmente longo.
A aflição tomava conta de si e o desespero era cada vez mais latente, Diego tinha muito medo de perder a mãe, fora ela e seus irmãos, não havia razões continuar, ele não tinha amigos, nunca teve um amor e muita menos grandes sonhos, ou a vontade de realizar os poucos que tinha, tudo que ele fazia era pela mãe e pelos irmãos, sem isso, nada mais importava.
Diego adentrou as portas do hospital e imediatamente foi até a recepção ao encontro de seus irmãos. Quando os avistou, andou em passos largos para chegar até eles.
- Aínda bem que chegou, eu não estava mais aguentando de tanta aflição. – falou Manu, com Isaac deitado sobre suas pernas.
- O que aconteceu Manu, mamãe estava melhorando – falou angustiado.
- Eu cheguei e ela estava no chão, eu fui tomar banho, deixei ela na sala assistindo, acho que ela tentou levantar da cadeira e não conseguiu e acabou caindo – falou, a voz rouca.
- Você é uma incompetente mesmo, a única coisa que tinha que fazer era cuidar dela e nem para isso você serve, você nunca serviu pra nada Emanuelle, e se alguma coisa de mal acontecer com a mamãe a culpa será sua está me ouvindo? – falou algo, estava bravo.
- Diego, não precisa falar assim com a sua irmã, foi um acidente – falou Fernando, que observava tudo de perto.
- Você fica de fora disso, eu nem te conheço, obrigado pela carona e mas já pode ir embora. – falou Diego ao certar-se em uma das cadeiras da recepção, que tinha alguma pessoas que assistiam a indelicadeza que Diego tratava os outros. – Aonde a mamãe está? – perguntou.
- Levaram ela pra sala de cirurgia – o médico disse que vai trazer informações assim que puder.
- Diego, posso falar com você a sós? – falou Fernando.
Diego revirou os olhos e o acompanhou até o estacionamento do hospital.
- Eu sei que você está aflito e passando por um momento difícil e eu sei que está com medo, mas você tem q ter calma, e esperar que o melhor aconteça – falou Fernando, tão acolhedor.
- Me desculpa, eu perdi a cabeça lá dentro, eu estou com muito medo do que possa acontecer, eu não posso perder minha mãe Nando – falou Diego, em seguida o abraçou.
As lágrimas desciam incessantemente dos olhos de Diego, ele esperava pelo pior, e a dor que ele sentia era forte demais pra ele se manter firma. Fernando o abraçou forte enquanto sentia as lágrimas molharem sua camisa. O choro de Diego foi cessando aos poucos a medida que se acalmava Fernando o segurava forte, e os dois permaneceram naquele abraço terno por um bom tempo.
- Acho melhor a gente voltar, precisamos saber notícias sobre a minha mãe. – Diego falou ao secar o rosto.
- Está bem, e independente de qualquer coisa, eu vou estar aqui. – falou Fernando.
Diego riu.
- Eu não tenho nada a te oferecer Nando, você é um cara muito legal, bacana, bonito, o que quer comigo?
- Você é tão burro assim? De achar que ninguém possa se apaixonar por você? – indagou Fernando.
Diego permaneceu calado. Apenas pegou na mão de Fernando e o puxou de volta para dentro do hospital.
As horas se passaram, já era quase 2hrs da manhã e ainda não havia nenhuma notícia da mãe de Diego. Ele estava aflito, o coração e os pensamentos a mil, estava com um olhar vago, enquanto acariciava o cabelo de Isaac que dormia tranquilamente em seu colo. Fernando havia saído, foi à lanchonete fazer um lanche. Diego se recusou a ir, não conseguiria comer nada.
Minutos depois Fernando retornou, e sentou-se ao lado de Diego para esperar notícias. Diego acabou dormindo por alguns segundos e despertou bruscamente quando ouviu Fernando o chamando.
- Diego, o médico está esperando para falar com você. – falou ao sacodir seus ombros.
Diego prontamente estava de pé, e encarava o médico alto e pálido que estava a sua frente.
- Então Diego, sua mãe sofreu mais um AVC dessa vez hemorrágico, todos os outros foram isquêmicos que só causavam sequelas, conseguimos controlar a situação mas o estado dela é grave, ela também sofre de hipertensão o que provavelmente foi um dos motivos e também um dos principais agravantes, as próximas horas serão críticas e não sabemos ainda o que pode acontecer, só nós resta esperar por alguma melhora, você pode entrar para acompanhá-la. – falou o médico, e depois se retirou.
Diego sentou-se por um instante, a ficha não havia caído. Ele estava com medo, mas por um momento parou e conseguiu manter a calma, só o que lhe restava era esperar e rezar, para que tudo acabasse bem.
- Fernando, se não for muito incômodo, pode levar meus irmãos em casa, aqui não é lugar pra crianças. Manu, cuida do Isaac para mim, te mando notícias, tenta descansar. – falou Diego.
- Tudo bem, eu deixo seus irmãos e depois vou em casa, durmo um pouco e volto pela manhã – falou Fernando.
- Tudo bem, obrigado por tudo – falou Diego ao dar-lhe um abraço.
- Aqui, come alguma coisa – falou entregando uma nota de cem ao rapaz.
- Certo, vou tentar – falou Diego.
Depois disso, Fernando rumou para casa, mas antes passou na casa de Diego para deixar Manu e Isaac.
Ele seguia a deserta rodovia, a neblina era muito densa e quase não se via nada a longa distância, o som do carro estava ligado e tocava uma bela canção de Debussy, as notas de piano ecoavam dentro de todo carro enquanto Fernando mantinha os olhos na estrada, seu celular tocou e ele desviou o olhar por alguns instantes. Quando voltou a olhar para a estrada, de repente Fernando se deparou com um animal que atravessava a estrada, na tentativa de desviar do mesmo, Fernando perdeu o controle do carro, que derrapou sobre a pista lisa, em decorrência dos pequenos pingos que caiam durante a madrugada. O carro perdeu totalmente o controle e saiu da estrada, descendo um barranco e capotando, uma, duas, três vezes. Quando o carro parou no final do barranco, Fernando já não estava mais consciente, sua testa sangrava e ele se encontrava debruçado por cima do painel do carro. O som permaneceu ligado durante todo o tempo, a doce melodia ecoava alto, foi a última melodia que Fernando pode ouvir naquele momento.
A vida é algo que passa num piscar de olhos, é como uma gota de água que cai do céu sobre nossa pele, ou como o vento que sopra sobre as árvores, é algo passageiro, como um suspiro.
Nota:
Hello, espero que estejam gostando, sobre a história, nada a declarar ainda, quem será que ligou para Fernando? No próximo capítulo vamos saber. Alguma dica, sugestão? Será um prazer ler o que vocês tem a dizer, obrigado e até a próxima. Beijinhos.
Ps.: É Diego gente, me confundo as vezes pq já escrevi outro conto cujo nome do protagonista era Daniel, desculpem e relevem kk
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