Esquece o trabalho, a lembrança de Ricardo, depois de tantos anos, encobrindo os afazeres. Sente calor; um fogo interno a aquece. Despe o casaco e coloca-o no cabide para voltar à mesa, jogando-se, pesada, na cadeira giratória. Mexe as pernas debaixo da saia, roçando as coxas e sente a umidade da vagina na calcinha. Fecha os olhos para o dia claro, lutando com o sentimento erótico; suspira, mas o alento não acalma a sensação de aperto no peito. O coração, acelerado, lateja em seus ouvidos e a ansiedade apresenta a louca hipótese de ligar para o número de telefone quase esquecido. Mentira: nunca o esquecera; guardara-o na memória do celular, onde o deixara esquecido de apagar. Seus dedos trabalham com vida própria para a agonia de ouvir soar o toque da chamada. Trêmula, desliga antes que a atendam.
Quando a secretária entra, depois de breve toque dos dedos na porta, Laura cruza os braços, empertigada. Volta a seu mundo enquanto trocam rápidas palavras; permanece, porém, a pressão dos braços contra os seios de bicos arrepiados, segurando um balaio de lembranças secretasOs dedos da secretária golpeiam suavemente à porta. Laura ergue os olhos para o relógio digital marcando seis da tarde; a secretária entrega a última tarefa e aguarda a última ordem, no gesto vulgar de fim de expediente, quando os patrões percebem, mesmo oculto, o desejo de escapar do trabalho. “Pode ir”, Laura sorri de leve ao liberar a secretária, “eu mesma fecho o consultório!”Laura bate a porta interna e atravessa a recepção num passo de dança, girando ao vencer a porta frontal de vidro colocando-se frente a ela, para enfiar a chave na fechadura. Sente uma presença estranha no corredor, quase às escuras pela clausura dos outros escritórios do andar, e gira o rosto. Todo seu ser estremece percebendo o vulto parado no último degrau das escadas. Ricardo, casaco esporte, mãos nos bolsos da calça, a camisa aberta no colarinho, olha-a, sorrindo. Um sorriso nervoso, quase apagado; olhar brilhante, mas agitado, negando a tranquila aparência de seu vestir como para um happy hour. Calado, ele tira do bolso o celular e o mostrador iluminado exibe, na penumbra do corredor, o seu número. Ele registrara a chamada interrompida, feita pela manhã.
“O que tu estás fazendo aqui?”, pergunta, absurdamente, transparecendo na voz sua inquietação. Ela sabe o que ele faz ali, mas continua a negá-lo, mais para si mesma: “Tu não podes vir aqui!”. Mas logo se transforma num sorriso iluminando seu semblante indeciso. Ricardo sempre soubera interpretar seus anseios mais que ela mesma.
“Abre!”, ordena ele, referindo-se à porta recém fechada, “Vamos voltar para dentro!”.
Laura, com o eterno medo de ser flagrada, obedece, introduzindo-o no consultório. Encerrados, olha-o de alto a baixo, avaliando sua aparência depois de tantos anos. Mal tem tempo, porém, de ver seus cabelos grisalhos nas têmporas e os olhos castanhos por trás dos óculos antes de ser alcançada por seus braços fortes e esmagada contra seu peito. Um rodamoinho de lembranças velozes, de seu presente comprometido, gira diante dela: a imagem das filhas, do marido; de seu apartamento, que espera sua volta; da empregada, de avental, a abrir a porta; do carro no estacionamento; dos sinais de trânsito, piscando no crepúsculo; buzinas impacientes, no engarrafamento; e a cara do porteiro de seu prédio.
O beijo de Ricardo cobre sua boca. Experimenta o gosto diferente desse beijo, sentindo a língua invadi-la, ou é ela quem a suga, com fome, não sabe. Agarra seu corpo, as unhas na carne através da camisa, por baixo do casaco. As mãos de Ricardo vagam, com vontade própria, por baixo de seu conjunto e, em pouco, sem saber como, estão ambos em camisa. Ricardo encontra sua pele, espalmando suas costas, enquanto os beijos se multiplicam. Não são beijos, são chupões de sanguessugas; ventosas no pescoço e faces, baixando pelo colo. Laura sente a mão de Ricardo tatear o fecho do sutiã e sua mente volta a apresentar a imagem do marido.
“Não!”, pede, “Não faz isso!”. Ele obedece, numa pausa, mas continuam a beijar-se e sua mão se insinua por baixo da peça, sem desabotoá-la. Sente a pele úmida sob suas mãos deslizando sob as alças do sutiã, chegando até os copos, onde se enchem dos seus seios, os dedos fechando-se sobre os mamilos. Ela gira de costas para ele, a fugir desse contato. O sutiã sobe; os seios ficam livres do tecido, mas as mãos dele os cobrem. Em pé, frente ao balcão da recepção, Laura encontra seu rosto no espelho a sua frente. Ricardo está atrás dela segurando seus seios; ela vê sua boca em seu pescoço, fungando em seu cangote. A umidade de seu corpo molha a calcinha. Uma das mãos de Ricardo solta seu seio para abrir o fecho da saia e abaixar a meia-calça; sente o elástico nas coxas, a bunda exposta. O volume que sentia através das roupas se materializa quente e rijo, contra suas nádegas. Quer dizer que não prossiga, mas não consegue porque seu tesão é maior que qualquer razão; sente-o encostar entre as nádegas, tocar a vagina molhada e escorregar, suave, um pouquinho. De frente para o espelho, olha-o no rosto, sentindo o pênis dele penetrar-lhe. Não parece ela, a mulher desfigurada de tesão que tem diante de si; impulsiona o corpo para trás, de encontro ao pênis rijo dele, num avanço molhado e profundo.
Não pode reter o primeiro orgasmo. Ricardo a abraça com carinho, massageando os seios; sobe a mão por seu pescoço e toma seu rosto, virando-o para novos beijos. Com o pênis dele ainda guardado dentro de si, Laura entrega-lhe a boca e Ricardo desce a mão ao baixo ventre, para brincar com seus pelos. Seus dedos se insinuam por entre suas pernas, brincando com o clitóris e seu desejo se renova; em pouco estão ambos em estertores e ela sente seu amante gozar dentro dela, num jato quente de esperma abundante que inundou sua vagina estreita, escorrendo por entre suas coxas alvas e lisas. Após uma sequência interminável de beijos, contrariando sua vontade e desejo, ela pediu que ele recolocasse as roupas e saísse antes dela, temerosa de que pudessem ser vistos juntos por alguém.
Sozinha no minúsculo toilete do consultório, Laura sentou-se ao vaso para limpar com carinho as gotas do esperma de Ricardo entre suas pernas. Depois, vestiu-se e saiu, rosto lívido e feliz, levando em suas entranhas o néctar de seu homem, como prova secreta do prazer que ele lhe proporcionara.