[10h]
Lá estava eu: na casa do operário de fazenda mais bobão que conheço. Já fazia algum tempo que Eduardo tinha saído e eu simplesmente não sabia o que fazer até a sua volta, numa casa onde eu não conhecia nada. Foi então que veio a interessante ideia de descobrir o lugar novo que me havia aparecido justo naquele dia. O quarto dele era extremamente arrumado, não tinha muito o que ajudar mas isso significava que tinha mais facilidade de mexer em suas coisas. Claro que eu sabia que era errado olhar as coisas dos outros sem permissão, mas quem se importa? E além disso, eu tenho minha nega: ele bateu aquele martelo barulhento desgraçado no dia que eu queria dormir feito criança. Comecei por baixo da cama e para minha surpresa...não tinha nada! Levantei e fui olhar a escrivaninha que ficava ao lado da cama, olhei gaveta por gaveta e acabei encontrando só umas cuecas box :P
Abri o guarda-roupa e me deparei com uma fotografia e fiz uma cara de estranheza, porque, quem é que coloca uma fotografia dentro do guarda-roupa sendo que foto se coloca num lugar visível pra que todos vejam? Foi então que considerei a hipótese dele ter guardado justamente pra que eu não visse... Enfim, a fotografia tinha uma paisagem bem incrível, onde estava ele, acho que um pouco mais novo do que agora e uma mulher mais velha, cuja aparência me remetia a uma imagem materna. Será que era sua mãe? Onde será que ela tá? Vai saber [...] Continuei fuçando o móvel e achei umas cartas mas isso eu realmente não queria estragar, podia ser algo muito pessoal. Dando mais umas olhadinhas acabei encontrando outra fotografia, dele e mais umas crianças. O perfume que ele tinha usado quando me ajudou no meu segundo dia estava guardado bem ali. Todas as roupas tinham aquele cheirinho suave e gostoso, não era enjoativo. Aliás, não sentia que nada nele era enjoativo. Mesmo que gostemos muito de alguém, sempre tem aquela coisa que te deixa meio "tchan", mas sempre tem outros "alguens" que por algum motivo da natureza não te enjoam por nada. São agradáveis incondicionais.
Realmente me impressionei em como aquele jovem operário não tinha nada demais pra revelar, pelo menos não em dados que pudessem ser guardados numa caixa. Fiquei por horas ali, procurando e procurando, até chegar a hora em que desisti e deitei na cama novamente. Voltei a olhar pro teto e me lembrei da noite em que estive no rancho da vó Elizabete pela primeira vez, há uns 6 anos atrás. Sim, fazem 6 anos que passo minhas férias lá, e, sinceramente, foram meio que adequando a minha vida e não consigo largar essa tradição. Na noite em que passei esse período aqui pela primeira vez, não havia muita presença, quero dizer, amigos. Eduardo nem existia ainda nessa fazenda e Letícia era muito mais ocupada do agora, então era restrito o tempo que eu tinha com as pessoas próximas do local. Foram dias bons mas não podia dizer que se comparam com o que sinto nesse ano. É diferente, sinto uma proximidade não só com o local mas com as pessoas. A melhora coisa que aconteceu foi a contratação de mais pessoas, espero poder ter o privilégio de conhecer novas pessoas e não somente novas atividade nos mais diversos âmbitos da fazenda...
[17h54]
Me arrependi de não ter ido com Eduardo. Mesmo que me custasse o cansaço, aposto que seria melhor do que arrumar a casa que já estava arrumada e fazer um chá quentinho no final de tarde: dia deplorável. Senti que a chegada dele era próxima e aproveitei pra colocar a garrafa de chá na mesa e assar uns tradicionais pães de queijo, que, admito, não são meu forte na cozinha mas acho que desse vez não estão tão péssimos. E posso garantir que se houver reclamações por parte de alguns "bocós", uma bela cachoeira de chá quente cairá em sua cabeça! Arrumei a mesa, liguei a TV e fiquei assistindo ao programa de talentos que estava no ar. Até que estava interessante mas nenhum dos talentosos me impressionaram de verdade, digo isso porque, os "talentosos" geralmente são meio que iguais: ou cantam ou dançam ou fazem mágica. Ponto. Acabou. Não tem nada muito além disso. No vai e vem dos famosos, ouvi o galopar do cavalo fazer aquele barulho no barro e finalmente senti que o dia fosse ficar melhor.
Eduardo entro com uma cara mais morta do que o meu ânimo naquele dia. Do sofá eu virei o rosto pra ele e deu um sorrinho apagado de olhos fechados, na hora percebi o peso do cansaço que ele tinha trazido junto com ele. Levantei e o conduzi pra senta-se e veio numa boa, só faltou cair de uma vez em cima de mim.
– Parece que alguém veio sem energia pra viajar na maionese hoje... – disse enquanto tirava seus sapatos, e, por mais esquisito que pareça, o filho da mãe não tinha chulé! Não tive a pachorra de cheira o sapato tão vulgarmente mas estava próximo o suficiente pra sentir o odor caso cheirasse, e não tinha cheiro nenhum.
– Pois é, acho que alguém vai ter que cuidar de mim hoje então – respondeu se ajeitando no sofá. Apoiou a cabeça no travesseiro que estava do lado dele – Aquilo é café e pão de queijo? – peguntou inclinando a cabeça pra cozinha
– É chá
– Cê que fez?
– Dããã, só eu estive aqui esse tempo todo
– Dããã, estou fazendo um pergunta retórica, eu sei que foi você! – fez uma careta boba – Por que cê não pega pra mim, tô morto de cansado
– E eu sou seu empregado é?
– Por favor, Lipe
Primeira vez que me chamava pelo meu apelido.
– Tabom! – me levantei e fui até a cozinha pegar o chá e os pães de queijo – Seu chato!
– Cê é um amorzão! – coloquei na mesa de centro que estava na frente do sofá e me sentei novamente junto com ele. Coloquei suas pernas em cima da minha coxa e massageei seus pés – Uau, eu to ganhando uma seção de massagem inclusa?
– Tô só retribuindo sua ajuda ontem, não se engane – respondi cerrando os olhos
– Nossa, mas você é muito bondoso para com a minha pessoa – disse com um deboche ácido no tom da sua voz e eu apertei com muita força o pé dele – Ai! Tabom, desculpa, eu vou parar! AIII!
– Ahhh, acho bom mesmo! Cê me respeita!
– Que isso, senhor, tô aqui pra isso mesmo
– Uhum, é assim que eu quero
Demos risada daquele momento tosco e continuei massageando os pés macios dele por um tempo.
[19h44]
No meio daquele clima, acabou dormindo e eu já estava começando a sentir o cheirinho do suor subir no meu nariz e o balançei pro lado e pro outro a fim de acordá-lo. Quando abriu os olhos, me olhou com cara de raiva, achei que fosse me matar ali mesmo e enterrar meus restos de trás da casa e depois ia fugir. Mas ele só estava frustrado porque acordei depois de ter conseguido finalmente dormir, justo no dia em que estava mais cansado. Ele continuou olhando pra mim e balançou a cabeça, querendo que eu falasse alguma coisa.
– Desculpa te acordar, mas é que...como posso dizer isso...é... – estava morrendo de vergonha de falar que estava fedendo a suor e mato, muito provavelmente porque passou o dia inteiro perto do mato após ordenhar vacas.
– Vou te ajudar: é só dizer o que quer dizer! Viu, simples, vamos lá, agora você – era incrível com ele conseguia ser cínico daquele jeito tão irritante mas tão agradável ao mesmo tempo.
– Você está fedendo a suor e mato, pronto falei!
– Mas cê é besta hein, eu sei que estou fedendo mas não falou nada, por isso tô aqui deitado!
– Então, tô falando agora, pode ir tomar banho, vai!
– Eu vou, mas você vai também
– O que? – eu gelei naquela hora, totalmente paralisado, desviando o olhar e não falei nada.
– Eu tomo banho e cê vai depois de mim
– Ahhh...ah tá...sim, claro, era isso que eu tava pensando – não há sensação pior do que ver coisa onde não tem e depois ver como seus pensamentos são patéticos, jurava que ele estava querendo dizer que queria tomar banho junto comigo. Não acredito que ele era tão inocente assim!
– Beleza, vou lá e daqui a pouco te chamo
O garoto foi pro quarto e começou a tomar banho enquanto eu peguei a tijela dos pães e a garrafa de chá pra lavar. Limpei a sujeira que eu tinha feito na cozinha, ainda bem que ele nem tinha passado por lá senão teria surtado comigo, do jeito que ele é organizado com as coisas. Tão organizado que nem consegui arrumar nada naquela casa o dia todo! O barulho do chuveiro era audível da cozinha e a voz dele cantando também, preferiria se só o barulho do chuveiro fosse perceptível, mas pelo menos estava cantando música boa. Quando estava quase acabando de secar a louça, ouvi um grito de desespero do banheiro e fiquei super desesperado e fui correndo até o quarto e perguntei do lado de fora:
– Ei! O que foi Edu?! – perguntei bem alto, quase gritando de tão nervoso que eu estava
– Lipe, eu escorreguei, AI! Me ajuda, vem aqui, rápido! – ele estava gemendo muito alto e chorando, fiquei hesitante em entrar no banheiro mas entrei.
– Tô de olhos fechados, me falar onde você tá, to indo – fui me guiando pelos gemidos que ele fazia e bati o quadril bem na quina da pia e gritei de dor mas continuei andando até o box do chuveiro dele. Ele segurou minha mão muito forte e o levantei usando toda minha pouco força.
– Me segura Lipe, minha perna tá doendo muito! Ai ai ai!
– Calma, consegue pegar a toalha?
– Consigo, pera...ai...pronto, pode abrir os olhos – eu abri e vi seu corpo molhado e musculoso, brilhando no vapor que estava naquele banheiro. Estava todo arranhado na perna e já dava pra ver o hematoma vermelho no joelho.
– Dá pra andar? – perguntei olhando pro joelho ainda.
– Acho que sim, mas tá doendo muito – eu senti muita dó dele naquele momento porque ele estava meio que chorando, estava tentando segurar mas certamente chorou quando caiu. Tentou dar um passo mas não tinha muita eficiência.
– Não, não, não! Espera aí! – eu o peguei em meus braços e o levei até o quarto. Coloquei-o na cama e ajeitei a tolha pra não aparecer nada – Cadê sua roupa?
– Tá atrás de ti
Virei e peguei as roupas mas antes de pedir que ele vestisse, peguei outra toalha e sequei o cabelo dele, o corpo e metade das pernas.
– Tenta colocar a roupa e me chama quando... – ele me interrompeu antes que eu terminasse a frase
– Lipe, eu não tenho problema com isso, quero que me ajude
– Não, que isso, não precisa...
– Ei! Por favor, cê sabe que eu vou ter dobrar o joelho e vai doer pra cacete – fiquei tenso mas acabei cedendo no final
– Tabom, mas você tem certeza?
– Vai logo!
Eu coloquei a blusa nele se problemas mas o shorts foi a parte mais chata pois estava completamente envergonhado em fazer aquilo, não queria constrangê-lo, nem me constranger por ter que fazer aquilo mas se não o ajudasse ele iria sentir mais dor e ia ficar com raiva de mim. Não coloquei cueca, somente o shorts. Fui puxando entre as pernas dele pra cima e finalmente consegui vesti-lo, apesar de ter sentido seu membro no final, foi rápido e me valeu um sorrisinho de alívio do Eduardo.
– Obrigado – disse ele
– Seu joelho está horrível, devemos chamar a vó Bete
– Não, só quero que você faça companhia pra mim, só isso
– Mas e se....
– Shhhhhhhh – sussurrou – Por favor, só senta aqui comigo, to dodói – filho da mãe, usou a tática da fofura pra me torturar. Eu me movi lentamente até ele pra não bater no joelho vermelhão, quase roxo
– Então, fez o que hoje pra ficar com cheiro de suor com "mix" de mato? – perguntei tentando fazê-lo esquecer um pouco da dor e ele me olhou sorrindo
– Ordenhei as vacas, normal...e...o que ue fiz mesmo? – disse com a mão no queixo, pensando – Ah sim, escovei uns cavalos e depois aparei o mato do campinho que tem aqui perto...tô morto só de lembrar desse pesadelo...e você, fez o que?
– Eu tentei desvendar seus segredos mas não achei nada, tu é muito misterioso – respondi
– Sou nada, fala aí o que cê quer saber?
– De onde tu é? – comecei
– Sempre morei por aqui, nada de novo
– Quantos anos tem? – perguntei novamente
– Tenho 20 anos
– Mãe e pai?
– Não quero falar sobre isso
– Irmã...não, pera, por quê?
– Já disse, não quero falar sobre isso
– Mas...
– Felipe, eu já disse que não vou falar sobre isso – ele realmente mudou de feição naquele momento e eu me intimidei um pouco e receoso de fazer qualquer outra pergunta, ele de fato não conseguiu tirar minha impressão de que era muito misterioso – Olha, eu não quero te deixar triste, mas realmente não quero falar sobre esse assunto, tá bom?
– Okay – ele apoiou a cabeça no meu ombro e segurou minha mão, parecia ter se aconchegado, e eu deitei minha cabeça sobre a dele e fechou os olhos.
Aquele momento era um momento áureo da nossa aproximação, Eduardo realmente estava conseguindo mexer comigo. Não sei se romanticamente ou ser era apenas um sentimento de proximidade muito peculiar, mas que eu queria continuar daquele jeitinho, ah como eu queria...
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Sinto que essa relação está ficando mais estreita...o que será que está por vir nas próximas cenas...e o fim?
Continue acompanhando galera, e obrigado pelo apoio!
Kimi