PADRASTO MARCÃO
Primeira parte: Fungando a cueca do padrasto favelado
Depois que minha mãe se divorciou, ela mudou totalmente. Tinha chegado aos 50, estava com a vida feita por ter tirado uma fatia da fortuna do pai e não ligava mais para a rotina da sociedade em que ela vivia. Ela fez plástica, colocou silicone, harmonizou o rosto; rejuvenesceu uns 15 anos, aparentemente, é claro.
O surpreendente é que ela foi de mulher perfeita e mãe de família da alta sociedade a uma perua descolada em menos de um ano. Parecia que sua jovialidade tinha voltado. Saía para festas, voltava tarde, levava homens lá para casa, começava um namoro, terminava, chorava, encontrava outro homem e assim vivia sua vida.
Eu morava com ela, mas trabalhava com meu pai. Ainda na faculdade, eu precisava conviver com ela durante a noite e com meu pai, na sua empresa, durante o dia. Minha vida era um tanto monótona, não tinha muito o que fazer a não ser fingir para o meu pai que eu trabalhava, malhar, fingir para os meus professores que eu estudava, malhar, fingir para minha mãe que eu era um moço viril e bem sucedido e malhar. Isso me rendia uns pedidos para fazer fotos, um trabalho como modelo aqui e ali, grana dos meus pais e uma vida excelente.
Minha mãe talvez estivesse vivendo a vida agora, com dinheiro, poder, sem marido e sem preocupações. Eu vivia assim desde sempre, despreocupado. Era festeiro, me considerava bissexual, mas quase não ficava com homens. Quando eu ficava, era para comê-los, pois talvez minha figura de 1,88 de altura e um corpo grande, rosto quadrado me deixavam com esse ar de um cara que gosta de foder. E eu, é claro, fodia. Só que os namoros que eu tive foram sempre com mulheres, garotas poderosas como eu, com as quais já fiz algum ensaio ou outras que encontrava na balada.
Estava no auge da minha juventude e pouco consegui segurar um namoro, sempre traía ou era traído, começada de novo. Depois de uns anos assim, minha vida até ficou um pouco monótona. Não sei por que, mas pouco me interessavam aquelas mulheres bonitas que ganhavam dinheiro tirando fotos, os homens que faziam o mesmo e, nos bastidores, pediam pau no rabo. As festas tocavam sempre as mesmas músicas, as pessoas eram as mesmas, mudavam somente os rostos.
Fiz algumas viagens, mas todos os lugares se pareciam muito. Os rostos mudavam, a língua, a música, mas os interesses eram sempre os mesmo: dinheiro, fama, fotos. Toda vez que eu conversava com alguém sobre isso, falavam que era coisa da idade, do sentimento de ser jovem – a incompletude.
Quando voltei de uma dessas viagens, em que fiquei quatro meses fora, conheci o tal Marcos, novo namorado da minha mãe. O que me surpreendeu foi que ele estava praticamente morando lá na nossa casa.
— Filho, o Marcos está passando uns dias aqui. — Ela me recebeu na sala e me acompanhava até o quarto. Deu para ouvir um dos chuveiros ligado.
— Ele vai morar aqui? — Perguntei, um tanto surpreso e incrédulo. Era uma informação difícil de processar.
— Só passando uns dias. Ele perdeu o emprego, está procurando, e foi despejado de onde ele morava por não ter pago o aluguel. — Ela sorria como se tudo isso fosse a coisa mais normal do mundo. “Quem é esse cara? Onde ela arrumou um cara assim, sem emprego, despejado?” Passava tudo isso pela minha cabeça.
Eu estava acostumado com alguns rapazes que minha mão levava até nossa casa, mas nunca me passou pela cabeça dividir o teto com um. E eu já estava crescido demais para ter um padrasto.
— Entendi. Tudo bem.— Não soube muito bem o que responder. Fiquei na minha. Quando abri a porta do meu quarto, ouvi, em alto e bom som, a porta do quarto da minha mãe abrir.
— Ôh, gostosa! Cadê meu correntão?
Então saiu de lá um homem moreno enorme, meio peludo, com umas cicatrizes e tatuagem pelo corpo. Ele apareceu ali sem nem uma roupa, ainda meio molhado, falando daquele jeito. Eu o vi por uma fração de segundos até ele me perceber e voltar para o quarto de súbito.
— Está ali, em cima da cama, Marcos. — Minha mãe respondeu. E eu estava quieto, entendi e não entendi ao mesmo tempo. Antes que eu pudesse processar mais isso, ele voltou, agora com uma corrente no pescoço e uma toalha na cintura.
— E aí, cê que é o Fernando? — Estendeu a mão para mim. Eu olhei para a minha mãe, que o olhava, depois olhei pra ele, e senti aquele olhar bem nos meus olhos. Senti-me até intimidado. Eu o notei de mais de perto. Era forte, tinha um dorso largo e altura de jogador de basquete. Mãos quentes, meio ásperas, e uma tatuagem no peito esquerdo escrita, em letra cursiva, “Marcão” — Só de boa? Sou o Marcos. — E vinha um sotaque de litoral, aquele S bem chiado.
— Sim, sou o Fernando. — Minha mãe já estava abraçada nele. Eu sorri gentilmente forçado, e ele não mudou a expressão séria. — Prazer.
— É “nóis” — Falou, já se virando para minha mãe. — Vamos dormir? — E minha mãe só fez que sim com a cabeça – ela tinha uma expressão de boba –, desejou-me boa noite e saiu.
Foi só então que eu consegui entrar no meu quarto que eu abandonei por quatro meses e processar tudo aquilo. Me senti estranho ali. Minha mãe precisava da privacidade dela pra fazer o que estava fazendo. Então pensei no Marcos, um homem diferente do nossos convívio, provavelmente suburbano. Lembrei do corpo moreno, tatuado, tinha cicatrizes, pelos, um colar desses grossos no pescoço.
Meus amigos fizeram alvoroço quando souberam que voltei, e meu WhatsApp e Instagram bombavam de convites para sair. Não sabia muito bem o que fazer nessa volta. Enquanto me arrumava pra tomar banho, ouvi, de dentro do meu quarto, umas batidas e uns gemidos, alguns abafados, outros nem tanto.
Fiquei sem jeito com tudo aquilo, envergonhado, só não sabia muito bem por quê. Tomei um banho, ainda com algumas cenas na cabeça, ainda ouvido gemidos no quarto ao lado. Já estava arrumado para sair, de boné, tênis, calça de moletom e regata. Não queria ficar ali ouvindo minha mãe transar com um cara daqueles.
Os gemidos tinham dado uma pausa. Peguei celular, carteira e chaves do carro e saí do quarto. No corretor, novamente me deparo com o Marcos vindo em direção a mim, suado, com um bermuda fina dessas de jogador, o elástico e parte da cueca saindo da bermuda, e um pau meia bomba balançando lá dentro. Ele bebia uma cerveja e levava algumas latas pro quarto. Quando me viu, parou do meu lado e falou:
— Depois quero mostrar umas fotos que achei na net, Nando. — Ele só bateu no meu ombro com uma lata de cerveja gelada e continuou andando até o quarto. Eu senti um calafrio na espinha. Continuei. Segundos depois, ouvi minha mãe dar umas risadas e um gritinhos esquisitos.
Não entendi nada, e ele não me deixou assimilar o que falou. Tentei pensar que tipo de foto era, uma curiosidade ficou latejando no meu cérebro.
— E aí, safada, bora lá pra baixo, o “leque” vai sair. — Ouvi-o falando de lá do quarto. Estranhei muito essa maneira de falar dele. Na intimidade, pensei, tudo bem. Mas assim, na frente dos outros?
[continua]
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