(Parte 2/5: O dote do facínora)
NA MANHÃ SEGUINTE, O PINTOR ACORDOU SOZINHO NA GRUTA. A fogueira era agora um entulho de cinzas. Olhou ao redor e não viu Bob. Suas roupas estavam ali do lado. Vestiu-as depressa. Observou ainda que as roupas do louro também estavam na gruta, mas seu cinturão com os Colts, não.
Saiu às margens do Trinity e chamou pelo bandoleiro, obtendo nenhuma resposta. Continuou margeando as águas do rio, buscando algo para comer e chamando pelo louro de vez em quando.
Do alto de uma colina rochosa, eis que surgiu a figura lépida do bandido, nu e com o sol nascente às costas, em carreira desenfreada pela margem do Trinity. Gritava a plenos pulmões: "Fuja, Johnny! Os índios nos acharam!"
Johnny, assustado, não esperou um segundo aviso. Pôs-se a correr desesperado na direção oposta ao caminho que percorria. Logo, bandido e pintor estavam lado a lado quando ouviram o tropel de alguns cavalos montados por índios, uivando ferozmente.
Bob, seguido por Johnny, rumou para um pequeno canyon pensando ter encontrado um local seguro para defender-se dos perseguidores, mas acabara caindo numa cilada. Três índios, emboscados no alto das paredes rochosas, estavam apenas aguardando o momento certo.
Quando penetrou a estreita passagem, um tiro passou zunindo pela cabeça de Bob, que reagiu fulminante. Atirando-se ao chão instintivamente, o bandoleiro sacou as pistolas como um raio e pôs fim a vida do índio que tentou contra sua vida, lhe enfeitando a testa com um buraco calibre 45. Matou o segundo índio entocado com a mesma velocidade impressionante do primeiro e feriu mortalmente o terceiro.
Fugiu dali com Johnny antes que aparecessem mais peles-vermelhas. Já podiam ouvir os berros arrepiantes dos índios e o tropel de suas montarias aproximando-se quando tornaram a repetir o ato desesperado de outrora: saltar no Rio Trinity.
***
AS ÁGUAS LEVARAM OS CORPOS DOS DOIS companheiros para longe dali. O eco dos gritos indígenas foi diminuindo com a distância. Bob conseguiu agarrar-se a uma pedra numa curva sinuosa do rio e alcançar sua margem junto do apavorado Johnny Wally.
― Malditos! ― vociferou o inglês, escorrendo a água dos cabelos com as mãos.
Naquela manhã, Bob parecia mais tenso que de costume. Johnny o seguia com a vista, pra lá e pra cá, também preocupado. O pistoleiro parou e, apoiando as mãos na cintura musculosa, encarou o pintor profundamente, com a vista cerrada. Logo, falou:
― Vou seguir o meu caminho. Desculpe.
Aquelas palavras atingiram Johnny como uma punhalada à traição. O pintor empalideceu ante a possibilidade de ficar sozinho no meio daquele lugar selvagem. Seus olhos marejaram-se, enquanto apelava à piedade do pistoleiro, em vão.
― Já disse, diabo! Não posso bancar a babá para sempre, portanto, a partir de agora é cada um por si ― sentenciou o facínora, inexorável.
Johnny ajoelhou-se aos seus pés, dramático, e agarrou-se a uma das pernas nuas do celerado bonitão, ameaçando não soltá-la mais. Educadamente, Bob pediu:
― Solte-me. Vai ser melhor assim.
No entanto, o pintor continuou agarrado à sua coxa musculosa, com o rosto bem próximo ao seu pênis e seus testículos. Pôde mesmo sentir o cheiro fresco da genitália. Sentiu muita vontade de beijá-la, sentir seu pênis latejar na boca, mas conteve-se disso no fim.
― Vamos, me solte! ― pediu o bandido, constrangido, apertando o seu pênis timidamente, como se quisesse escondê-lo na mão.
― Só se prometer que não me abandonará...
― Pare de frescura. Largue da minha perna. Está me deixando embaraçado, maldição!
― Não. Sinto-me seguro aqui.
― Estou perdendo a paciência, diabo! ― disse Bob, sacando seu Colt, e o engatilhando contra a cabeça de Johnny ― Se não me largar agora, estouro seus miolos. Não tenho nada a perder mesmo!
Um duro silêncio sucedeu as palavras do pistoleiro, tomando o lugar por alguns segundos. Johnny continuou agarrado ao louro bruto, corajosamente, mesmo sob a ameaça de morte. Este outro finalmente abaixou a arma:
― É durão, hem? Se eu atirasse, poderia denunciar nossa presença aos índios. Desta vez eu te poupei, da próxima já não sei mais ― disse, fazendo o inglês largá-lo com um sacolejo forte.
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Continua no próximo capítulo.
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