Semanas antes de ocorrer o golpe.
Rocha (o Nordestino) estava em seu trabalho de segurança e pensava na burrada que fez quando era policial civil em São Paulo — ele foi exonerado por praticar extorsão. Não que estivesse arrependido dos seus atos ilegais, mas, sim, por não ter aproveitado melhor as oportunidades para conseguir uma grana que lhe desse estabilidade financeira. Perdeu tempo extorquindo migalhas de pequenos comerciantes, cafetões, prostitutas e ladrõezinhos. Gastou tudo tão rápido quanto conseguiu subtrair bancando mulheres em noitadas acima do seu padrão.
O seu nome verdadeiro era Tenório, estava beirando os 45 anos. Também por dinheiro fez vários trabalhos avulsos infligindo a lei a mando de uma elite da região. Após sair da polícia não foi difícil conseguir uma colocação como segurança em uma mansão de um industrial estabelecido na cidade de São Paulo.
Era frequente as viagens a negócios do empresário, enquanto isso, o ex-policial permanecia na residência fazendo a segurança dos demais familiares, principalmente da patroa; a pessoa naquela residência que mais sentia a ausência do marido. Já nos primeiros dias naquele trabalho ele presenciou os porres dela e seus queixumes de abandono. A dona da casa era vaidosa e feminina, possuía a leveza de uma modelo, porém sem ser magra, encantadora com sua constituição mais robusta de barriguinha charmosa, quadris avantajados e um bumbum arredondado que foi agraciado por Deus. Uma mulher madura e graciosa que acabara de entrar na casa dos quarenta. No entanto, era triste, bebia demais tentando preencher com álcool o vazio do seu coração e de sua vida conjugal.
O ex-policial não conseguia entender como alguém poderia deixar uma joia rara daquela sozinha dia após dia. Ele foi além em sua função de segurança, passou a ser ouvinte e parceiro de copo da mulher em suas noites solitárias.
As conversas descontraídas do início, ficaram íntimas mais adiante, levaram ao desejo e o contato físico aconteceu na primeira oportunidade em uma noite de sábado em que o casal de filhos adolescentes não estavam presentes — as crianças dormiriam na casa dos avós paternos.
Era quase meia-noite, só o Nordestino e um outro segurança circulavam na área externa. A mulher surgiu na varanda do seu quarto, no piso superior e defronte para a piscina. Estava vestida com um robe levíssimo de renda negra que exibia com perfeição os detalhes do seu corpo de volumes sensuais que delineado era pela iluminação proveniente do dormitório. Seus cabelos escuros de corte repicado, deixados propositalmente bagunçados por ela, lhe davam um toque sexy e selvagem. O Nordestino parou a sua ronda para apreciar aquele monumento de mulher. Ela fez um movimento com o dedo indicador, era o sinal combinado horas antes, para ele subir sem chamar atenção e entrar sem bater.
Ela o recebeu em seus aposentos com uma taça de champagne em cada uma das mãos. O homem continuou parado junto à porta que acabara de fechar e ficou apreciando a beleza da patroa. A seminudez causou-lhe desejos incontidos de tê-la imediatamente em seus braços. Ela ofereceu-lhe uma taça, brindaram ao encontro proibido e iniciaram as carícias com beijos carregados de tesão. Tudo já havia sido dito nos últimos dias, faltava somente a fusão dos corpos que aconteceria de imediato. Uma transa meio adolescente iniciou-se com eles ainda em pé, ela tirou a calcinha e recebeu o Nordestino entre suas pernas. Ele cheio de pressa, apenas baixou calça e cueca, salivou o membro ereto com a mão e roçou a vagina umedecida da parceira iniciando a penetração. Não pensaram em preservativos, seus sexos se uniram e seus corpos balançaram freneticamente o móvel em que estavam escorados.
O primeiro instante de magia chegou rápido e intenso em razão do desejo acumulado por dias à espera desse momento. Continuaram a transa na cama, sem pausas, até perderem o fôlego. Ficaram extenuados, deitados lado a lado, cada um com seus pensamentos. Os corações não batiam e, sim, espancavam loucamente seus peitos. Tesão e adrenalina de uma situação de risco, combinação perfeita para o prazer.
E ela sentiu duplo prazer em poder dar o troco no marido, e sem o menor sentimento de culpa em o trair em seu leito conjugal.
Uma semana depois os amantes se mantinham mais próximos do que recomendaria o bom senso; as conversas eram carregadas de intimidade, as carícias e os beijos furtivos já não satisfaziam, pelo contrário, só aumentavam o desejo. Esperavam ansiosos a oportunidade de transarem novamente.
Durante os momentos de cumplicidade e romance às escondidas, ela revelou que tinha conhecimento a respeito das viagens comerciais do empresário; eram negócios escusos em sua maioria que envolviam políticos. Ela também desconfiava que rolava muita putaria sigilosa, praticadas com seus amigos pervertidos e com prostitutas.
O segurança ficou interessado nos negócios escusos, mas ela não tinha os detalhes das falcatruas do marido, contudo sabia que envolvia muito dinheiro, milhões.
Em uma noite, após uns drinks, a patroa falou sobre uma viagem do empresário para Campinas. Dessa vez, devido às circunstâncias, ela estava animada com a futura ausência do marido, teria a possibilidade de ficar com o amante. Disse que ouviu o esposo conversando com um colega de negócios à beira da piscina, sem que a vissem. Era sobre a entrega de uma grande quantia em dólares que faria a um político.
Tenório, após extrair tudo o que a mulher sabia, investigou sobre o assunto e ficou a par dos detalhes da viagem do patrão. Deduziu que poderia fazer um bom pé de meia caso desse um golpe no milionário e metesse a mão na grana. Teria que conseguir um ou dois comparsas descartáveis, já que não tinha a intenção de dividir o dinheiro e nem pretendia deixar testemunhas ou provas que o incriminassem. Depois que se apossa-se do dinheiro e desse um fim nos comparsas, voltaria ao trabalho normalmente na casa do industrial por um certo período para não levantar suspeitas. Posteriormente sairia do emprego e do estado carregando consigo o produto do roubo.
Tempo presente, pós-roubo do Audi
O plano do Nordestino funcionou parcialmente: após fugir com o dinheiro e ocultá-lo, Tenório continuou trabalhando como segurança na residência do industrial e manteve sua relação íntima com a patroa, porém, o desfecho do negócio em Campinas não havia saído como planejara, o concierge e a garota continuavam vivos e, mesmo eles não sabendo como localizá-lo, seriam um perigo constante. Precisaria aparar as arestas antes que fosse tarde demais.
Enquanto isso, em outra região daquela metrópole
Seis dias depois de chegarem a São Paulo, Jessie e Pedro Miguel ainda estavam instalados no mesmo motel, talvez fosse pelo último dia; esperavam uma resposta a respeito de uma quitinete situada nas proximidades.
Aquela semana foi de conversas e revelações, ainda estavam se adaptando um ao outro e continuariam juntos enquanto ela se recuperava. A preocupação do rapaz era constante, temia ser morto só porque foi humanitário e ajudou uma moça acidentada, no entanto, não estava arrependido de sua atual situação, curtia aquele momento inusitado em sua vida, o convívio diário com Jessie e a troca de experiências com uma pessoa de um mundo até então distante do seu era gratificante. A melhor parte era poder apreciar e tocar aquele corpo feminino e delicado enquanto a ajudava com seus ferimentos, isso era impagável.
Quanto a Jessie, a garota era fria na maioria do tempo, mantinha sob controle seus instintos sexuais, mas gostava de sentir-se desejada e curtia os momentos em que expunha a sua nudez diariamente durante a troca de curativos. Ela não fazia isso de forma proposital, mas adorava vê-lo encabulado a observando e controlando seus impulsos ao executar a incumbência. O toque masculino em sua pele durante a aplicação de uma pomada era de deleite e arrepios, a moça segurava sua onda não se permitindo entrar em um lance de erotismo, e muito menos em um caso amoroso, mesmo porque ainda estava se recuperando dos ferimentos que lesionaram principalmente suas partes íntimas. Seu "enfermeiro" a respeitava como mulher e a sua situação de enferma, mas estava cada vez mais difícil não avançar o sinal e acariciar as regiões ainda não exploradas daquele corpo sedutor.
Era evidente que as situações de intimidade extrema só aumentavam o desejo do casal e, certa noite, devido a sua fragilidade momentânea, ela deixou-se prender por um olhar carregado de volúpia. Rolou um clima e a proximidade dos rostos era o convite para um beijo, ela entreabriu os lábios o convidando e ele não exitou… o beijo foi longo e carregado com o desejo de ir além, porém, ela se afastou e falou friamente:
— Obrigada pela ajuda, vou dormir — e sobre o que aconteceu, espero que não se repita, ou teremos que dizer adeus.
O rapaz não ficou frustrado e nem preocupado, o ocorrido era um começo, além de ter sido um prêmio por sua paciência. Saberia esperar pela próxima oportunidade. Provavelmente não demoraria para que a sessão de enfermagem se transformasse em relação sexual.
No dia seguinte eles não tocaram no assunto, a conversa girou em torno de um passado mais distante. Ele já havia lhe revelado quase tudo sobre sua vida em Fortaleza, inclusive que matara o seu padrasto e que depois se apoderou dos documentos do irmão chacinado assumindo sua identidade. Caio César era o seu nome verdadeiro, contudo, deixou de existir após o crime e Pedro Miguel renasceu nele.
— E como eu te chamo agora? — de Pedro ou Caio?
— Melhor me chamar de Pedro, o Caio é foragido da justiça.
— Mas o Pedro também é — tá feio o bagulho pro seu lado, hem mano? — falou Jessie brincando com a situação.
Ele continuou falando sobre o irmão que era só um ano mais velho e ambos tinham alguma semelhança física, ademais, a identidade era de quatro anos atrás, a diferença entre sua aparência atual e a do garoto na foto seriam justificáveis.
Jessie, por sua vez, não queria trazer à tona acontecimentos extremamente complicados e que todos a condenariam.
— Eu fiz coisas horríveis, dignas de um monstro, não quero mexer nessa parte do meu passado.
Ela o deixaria saber apenas sobre suas atividades dos últimos dois anos e seus planos imediatos. Começou contando sobre seu relacionamento com o parceiro do hotel, disse que ele seria o primeiro em sua lista negra, Maciel o seu nome.
"Nos conhecemos em Camboriú-SC, ele percebeu o golpe que eu aplicava nos clientes, geralmente turistas de uma choperia onde ele era gerente. Não era nada que rendesse muito dinheiro. Eu assediava os quarentões de aparência distinta, levava para um canto discreto do estabelecimento e quando eu já estava sem calcinha e o cara de pau de fora a ponto de me penetrar encostada atrás de uma coluna de concreto, eu falava que era filha do delegado, mostrava a minha identidade falsa de menor de idade e pedia uma grana. O valor variava de acordo com a minha avaliação do cara. O ameaçava dizendo: — Caso não pague, farei um escândalo o acusando de assédio de menor.
E realmente começava um barraco quando se recusavam ou tornavam-se violentos. Acontecia de um cara ou outro ficar em uma fissura tão grande que me oferecia uma grana irrecusável para, pelo menos, ter um boquete. Claro que nós chegávamos a um acordo, afinal, negócios são negócios.
Após conseguir uma boa grana, seja por chantagem ou pelo boquete, saia fora e só voltava naquele estabelecimento dois ou três dias depois. Além da diversão, conseguia o suficiente para minhas despesas do dia a dia.”
— O Maciel chegou em mim certo dia — continuou Jessie a relatar — disse que eu tinha talento especial e que poderíamos ganhar alguns milhares de reais em outro lugar. Senti firmeza nele e depois de um bom papo e um acordo, partimos para Campinas; lá ele tinha aliados e os lugares certos para os nossos golpes.
Jessie explicou para o Pedro os detalhes do esquema do “Boa noite, Cinderela”. Depois deixou claro, mais uma vez, que o dinheiro que pagava as suas contas era conseguido ilegalmente.
— São os frutos desses golpes que nos manterão por mais algum tempo — falou a moça sem nenhum constrangimento.
Continua…