Nosso Amor, Meu Destino (Kim) - Cap. 11

Um conto erótico de GuiiDuque
Categoria: Homossexual
Contém 7540 palavras
Data: 05/11/2019 00:14:46

~ continuando ~

-

Nosso primeiro almoço juntos, no dia seguinte, foi mais do que estranho. Sabendo que Rapha só chegaria à uma da tarde, comecei a fazer o almoço às 10, e dentro de duas horas já havia preparado um arroz com legumes, filés de frango à milanesa, uma salada de alface, tomate, cenoura e azeitonas, um suco de laranjas e mousse de maracujá. Eu nunca fui muito bom com doces, mas como ainda tinha tempo de sobra e aquele era o mais fácil que eu sabia fazer, resolvi que teríamos uma sobremesa. Sentei na sala quando faltava cerca de meia hora para a chegada de meu primo e liguei a TV, zapeando pelos canais sem conseguir achar nada que realmente me interessasse, ou que prendesse minha atenção. Algum tempo depois, escutei a porta se abrindo e vi Raphael entrando, um pouco ofegante.

R: Oi, Kim. Achei que não ia conseguir chegar a tempo. Houve um acidente aqui perto e eu acabei ficando preso por 15 minutos no trânsito.

K: Ah... tudo bem. Já está tudo pronto, vamos almoçar?

Eu estava extremamente desconfortável com aquela situação. No momento eu tinha pensamentos bobos sobre a esposa que esperava seu amado marido com a comida pronto, a casa limpa e as roupas lavadas. Percebi que ele notara meu desconforto, mas fazia de tudo para fingir que aquela situação era muito normal.

R: Sim, eu vou só lavar o rosto e já te vejo na cozinha.

Fui para a cozinha e, na falta de coisa melhor para fazer, fiquei rearrumando a mesa, a posição dos pratos, o local dos guardanapos. Estava mexendo nos talheres quando Raphael entrou, me assustando e fazendo com que derrubasse o garfo sobre o prato, produzindo um som alto e estridente. Aquilo tudo era realmente estranho. Nos servimos e começamos a comer em silêncio. Na verdade, eu estava tão nervoso que mal conseguia comer. Me sentia mais nervoso até do que no dia em que nos reencontramos, minhas mãos tremiam e o arroz teimava em cair do garfo antes de chegar em minha boca.

R: A comida está deliciosa, Kim. Parece que você se tornou um excelente cozinheiro.

K: Ah... obrigado.

R: Estou vendo que agora vou começar a ganhar algum peso. Eu não sou muito bom na cozinha, só sei fazer ovo, e arroz muito mal. Macarrão é o básico aqui em casa. Minha mãe já estava reclamando que eu ia ficar desnutrido.

K: Ah...

Falhei completamente em manter uma conversa, destruindo todo o esforço que Raphael fazia para tornar a situação menos constrangedora. Ele me deu um sorriso sem graça, voltando seus olhos para o prato e comeu o resto de sua comida sem dizer mais nada. Desisti de comer a minha. Esperei que ele terminasse e peguei a mousse no congelador. Ele pareceu surpreso por eu ter feito até uma sobremesa, abriu um largo sorriso e me agradeceu por ter caprichado tanto. Não tive coragem de contar que eu fizera tanta coisa porque estava nervoso com toda aquela situação e ainda faltava muito tempo para que ele chegasse em casa. Rapha comeu do doce e repetiu, soltando murmúrios de satisfação enquanto o fazia. Estava quase terminando sua terceira taça quando olhou para o relógio e praticamente pulou da cadeira.

R: Droga! Estou atrasado! Desculpe sair correndo dessa forma, Kim. Perdi completamente a noção do tempo. Deixe a louça na pia que assim que chegar eu arrumo tudo. A comida estava deliciosa. Há tempos não comia tão bem assim. Obrigado. Até mais tarde.

Disse tudo isso de uma vez, sem nem ao menos parar para respirar, ao mesmo tempo em que corria na sala para pegar sua mochila. Eu já começava a me levantar da mesa quando escutei seus passos apressados voltando para a cozinha e o que eu menos esperava aconteceu. Rapha se aproximou correndo e me deu um beijo na bochecha, agradecendo mais uma vez. Na pressa, nem deve ter percebido que acabou colocando um pouco mais de força do que devia no beijo, fazendo com que eu tivesse de me apoiar na cadeira ao meu lado para não cair. Depois de me deixar com cara de bobo surpreso, ele correu de volta para fora e se foi. Tudo o que ouvi foi a porta se fechando.

Os dias que se seguiram foram basicamente iguais. Eu estudava, preparava o almoço, esperava meu primo chegar para almoçarmos, passava por enormes constrangimentos durante o almoço e depois ele ia embora, me dando um beijo, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eu continuava muito desconcertado com a situação, mas não podia negar que estava gostando daquela atenção toda. Era bom saber que Rapha se dava o trabalho de fazer uma pequena viagem, que para muitos seria desnecessária, apenas para poder passar 40 minutos comigo durante a tarde. Ele também fazia questão de sempre que chegava do trabalho trazer algum agrado, fosse um doce ou um salgado, as vezes até comida para o jantar, que ele comprava em um restaurante que dizia adorar.

Ele chegava visivelmente cansado, mas sempre depois de jantar e tomar um banho vinha se sentar ao meu lado, assistir um pouco de TV e puxar algum assunto. Geralmente, não falávamos por muito tempo. As conversas mais longas que tínhamos era quando víamos algum filme ou programa que ambos gostávamos, então podíamos passar alguns minutos falando sobre. Fora isso, as vezes eu perguntava como estavam as coisas no trabalho e ele perguntava como andavam os estudos e até mesmo como estava Higor. Tais perguntas não precisavam de mais de 4 ou 5 palavras para serem respondidas, e era a isso que se resumiam nossas noites.

Quase no final daquela primeira semana, eu estava esperando a chegada do meu primo para almoçar, não tinha nada de interessante passando na TV e eu não tinha nada para fazer. Apoiei o rosto nas mãos e fiquei olhando pela janela, sem pensar em nada em particular, apenas me desliguei. Higor realmente me mudara muito. Antes de conhecê-lo, tudo o que eu queria era ficar daquela forma, sozinho e sem nada para fazer. Mas agora, cada minuto de silêncio era uma tortura, quanto mais tempo eu passava sem fazer nada, mais cansado me sentia. Algum tempo depois, senti um toque em meu ombro e me assustei ao ver Rapha parado ao meu lado, chamando meu nome. Ele tinha uma expressão preocupada no rosto, o que me levou a pensar que aquela não devia ser a primeira vez que ele me chamava. Dei uma desculpa qualquer e fomos almoçar. Passamos quase todo o tempo em que comíamos calados. Acho que o principal motivo para isso foi o fato de eu não ter nem levantado a cabeça para olhá-lo durante toda a refeição. Eu sabia que ele ainda me analisava com aqueles olhos preocupados, não queria ter de encará-lo e explicar o por quê da minha distração. A noite foi o mesmo, comi e fui logo para o quarto, liguei para Higor e passamos um bom tempo ao telefone, enquanto ele ouvia eu me lamentar por estar sozinho e não ter nada pra fazer e ria, dizendo que sabia que ele fazia muito falta. Adormeci mais tranquilo, era sempre bom conversar com meu namorado para me distrair e rir um pouco.

Sexta-feira, depois de preparar o almoço com bastante antecedência, como sempre, deitei no sofá e fiquei olhando qualquer coisa que estava passando na TV, quando ouço a porta da sala se abrindo. Obviamente era Rapha, então nem me mexi. Sabia que ele passaria por mim me dando um oi e indo ao banheiro lavar as mãos para almoçarmos, só depois eu teria de levantar. No entanto, nada disso aconteceu. A casa continuou em silêncio, não dava para ouvir nem um barulhinho de passos. Eu já estava começando a estranhar quando escutei o leve e agudo barulho... um latido? Sentei rapidamente no sofá, olhando para a porta e vendo meu primo ali parado, com um enorme sorriso no rosto e um lindo e orelhudo cachorrinho preto no colo.

R: Eu sei que estou quase dois meses atrasado, mas... Feliz aniversário.

Arregalei os olhos, não acreditando no que estava vendo ou ouvindo. Ele estava me dando aquela coisinha linda? Abri o maior sorriso que consegui e corri até ele, recebendo a bolinha de pelos em meus braços. Era um cachorro já relativamente grande, apesar de ainda ser filhote. Um Cocker Spaniel preto, com uma manchinha de pelos brancos no peito e na fucinha. Enquanto olhava maravilhado para o bichinho, reparei na fitinha vermelha presa num laço ao redor de seu pescoço. Ri feito bobo, não podendo deixar de lembrar de meu namorado e acabei deixando seu nome escapar de meus lábios.

K: Higor...

R: Bom... indiretamente foi ele mesmo quem deu a ideia.

K: Como?

R: Naquele dia que ele foi embora, nós conversamos um pouco sobre você. Ele me disse que quando te conheceu você era muito solitário, e que tinha medo de que voltasse a se fechar por ter de passar muito tempo sozinho aqui no apartamento. Quando comentei que não sabia o que fazer, ele disse que seria legal se você tivesse companhia, que não precisava necessariamente ser de uma pessoa. Então eu me lembrei de uma paciente minha que comentou a algum tempo que estava tentando dar os filhotes que sua cachorra teve, mas que estava difícil.

K: Ah... nossa, Rapha, eu nem sei o que dizer. Obrigado mesmo. Ele é lindo.

R: É ela. Uma fêmea... Ela já está com 8 meses. A antiga dona já estava quase desistindo de achar alguém que ficasse com ela.

K: Quer dizer que você também é uma solitária, mocinha? Vamos fazer companhia um ao outro.

Falei para a coisinha linda que tentava a todo custo lamber meu rosto. Impossível não sorrir diante de uma visão daquelas. Rapha me observava com olhos um pouco entristecidos, ao mesmo tempo em que sorria.

K: Ela já tem nome?

R: A chamavam de Chica.

Fiz uma careta e ele riu.

R: Dê outro nome, tenho certeza de que ela se adaptará.

Sentei no chão, colocando a cachorrinha entre minhas pernas e brincando com ela, que tentava morder minha mão.

K: Vou chamá-la de Naná.

Ouvi a risada alta de Rapha e senti meu rosto corar um pouco, sabendo do que ele ria.

R: “Pobre Naná, sozinha lá fora”?

Sim, o nome era uma referência à cachorra do filme Peter Pan, que eu adorava quando criança. Teve uma época que sempre que almoçávamos juntos eu pedia a Rapha que colocasse o filme, e ele acabava tendo que me dar a comida na boca, pois eu ficava com os olhos grudados na tela, o único movimento que fazia era o de abrir e fechar a boca para mastigar as garfadas que ele ali colocava. Depois que o filme acabava eu ficava pela casa repetindo a fala do irmão menorzinho, o Miguel, “Pobre Naná, sozinha lá fora”. Ah... que saudade da infância... Voltei a realidade quando senti a mão quente de Rapha tocar meu rosto, recolhendo uma lágrima que eu nem notara rolando por minha bochecha. Ele me puxou com cuidado para perto e me abraçou, sussurrando em meu ouvido.

R: Agora você tem a sua Naná. Prometo que não vamos deixá-la sozinha do lado de fora.

Eu ri, retribuindo o abraço, enquanto uma sensação boa tomava conta de mim. Era como se eu não precisasse pronunciar nenhuma palavra, pois Rapha sabia me ler melhor do que ninguém.

R: Agora... que tal nós almoçarmos?

K: Mas... e a Naná?

R: Eu trouxe algumas coisas para ela.

Disse se levantando de onde sentara ao meu lado e alcançando uma sacola que eu não notara, encostada na parede ao lado da porta. Retirou de lá dois potes, uma para comida e um para água, uma caminha redonda para que ela dormisse e um saco de ração para filhotes. Peguei os potes, enchendo-os de água e ração e coloquei-os na cozinha, perto da mesa, onde tivemos o almoço mais descontraído daquela semana, relembrando nossa infância, os filmes que assistíamos juntos e nossas brincadeiras. Cheguei a ficar triste quando Rapha anunciou que voltaria pro trabalho e, mais uma vez, ele me compreendeu sem precisar de palavras.

R: Escuta... Hoje é sexta-feira. O que acha de sairmos? Podemos encontrar uns amigos meus que vão a um barzinho aqui perto.

K: Amigos?

R: Sim, André vai estar lá também. Mas, se você não quiser ficar, nós vamos pra outro lugar. Vai ser uma noite só nossa. O que acha?

K: Tudo bem.

Concordei, sorrindo sem graça. Rapha também sorriu e veio até mim, segurando meu pescoço com cuidado e depositando um beijo em meu rosto. Tive de fechar os olhos para aproveitar a sensação. Só voltei a abri-los quando senti algo sendo pressionado contra a palma de minha mão. Era uma das bolinhas que ele usava durante as sessões de fisioterapia.

R: Você pode ficar com essa. Eu tenho várias. Até mais tarde, Kim.

K: Até...

E dessa vez, quando ele se foi, eu não me senti só, pois tinha uma linda cachorrinha pretinha correndo ao me redor, tentando a todo custo chamar a minha atenção. Aquela tarde, eu esqueci dos estudos. Passei todo o tempo jogando a bolinha para que Naná pegasse e depois correndo atrás dela, tentando ensiná-la a me devolver a bola. Brincamos até cansar, e então eu me sentei no chão, com as pernas cruzadas e ela se deitou em meu colo, se enroscando toda e adormecendo. Eu não conseguia parar de olhá-la e sorrir, observando aquela fitinha vermelha em seu pescoço, que agora já estava saindo. Mais uma vez eu só tinha a agradecer por Higor existir e me amar tanto a ponto de querer me ajudar a melhorar minha relação com meu amor de infância. E estava mais do que feliz por estar dando certo.

Quando Rapha chegou em casa, eu estava deitado no sofá, assistindo TV, enquanto Naná dormia sobre minha barriga. Ele se apoiou no encosto do sofá, sorrindo para mim e acariciando a cabecinha de Naná, que acordou, fazendo festa para ele e me pisoteando ao mesmo tempo.

R: Parece que vocês se entenderam bem. Como foi sua tarde?

K: Ótima! Brincamos o tempo todo com a bolinha, mas ainda não consegui ensiná-la a devolver a bola.

Respondi rindo e brincando com os orelhões peludos. No entanto, meu sorriso desapareceu assim que o de Rapha se abriu. Era tão sincero, tão cheio de sentimentos, que fiquei completamente sem reação. Minha situação apenas piorou quando ele esticou uma das mãos em minha direção e acariciou de leve meu rosto, subindo por ele até ter seus dedos entre os fios de meus cabelos. Seus olhos não se desviavam dos meus em momento algum, mas eu não fui capaz de sustentar o olhar. Senti minhas bochechas queimando e fechei os olhos, virando o rosto. Higor me veio à cabeça enquanto sentia os dedos de meu primo deixarem meus cabelos.

R: Você ainda quer sair comigo?

A pergunta soou cautelosa demais, quase como se nem mesmo ele soubesse se ainda queria aquilo. Pensei um pouco e acabei abrindo os olhos para olhá-lo. De que adiantava ficar fugindo daquela situação se agora nós morávamos juntos? Eu não sabia quanto tempo ficaria por lá, então o mínimo que podia fazer era conviver bem com ele.

K: Quero sim.

R: Certo... Vou tomar um banho e me arrumar, então.

Ele entrou em seu quarto e eu fui para o banheiro do corredor. Tomei um banho morno para relaxar os músculos retesados pela situação que passara e me arrumei de forma simples. Na sala, arrumei a caminha da Naná perto do sofá e sentei ao lado dela, explicando que sairíamos, mas não íamos demorar, que ela não ficasse com medo. Senti o perfume de Rapha invadir a sala e olhei para cima, encontrei-o me olhando e sorrindo. Devia estar uma cena bem estranha eu ali no chão, conversando com a cachorrinha. Sorri sem graça e me levantei.

K: Não queria que ela ficasse nervosa por sairmos sem dar atenção a ela.

R: Eu vi...

Aquele sorriso dele estava me deixando constrangido. Acho que só então me dei conta do quanto ele estava bonito. Usava uma calça escura, que marcava as coxas de leve, um tênis preto e uma regata, também preta, graças ao enorme calor. É... Rapha ficara bem mais bonito com o passar do tempo. Fui o caminho todo quieto, olhando pela janela do carro, com vergonha dos meus pensamentos. Eu tinha namorado, não podia ficar reparando no meu amor de infância!

Algum tempo depois, chegamos a um barzinho muito aconchegante. Não era muito grande, bem arrumadinho e se encontrava à meia luz. Rapha me levou até uma enorme mesa no canto, onde várias pessoas se encontravam. Ao repararem que ele se aproximava, todos começaram a gritar saudações e fazer a maior algazarra. Ao mesmo tempo que ele sorriu e apertou o passo, eu comecei a andar mais devagar, intimidado pela grande quantidade de pessoas desconhecidas. Notando isso, meu primo passou um braço por meus ombros e me levou junto dele.

R: Pessoal! Esse aqui é o meu primo, Kim.

Ouvi 'ois' e 'olás' vindo de todos os cantos da mesa e dei um sorrisinho sem graça, acenando com a mão e abaixando o rosto. Uma moça muito bonita se levantou da mesa e veio em nossa direção. Quando estava próxima o suficiente, ela passou os braços pelo pescoço de Rapha e o beijou. Senti o tempo parar naquele momento. Claro, como eu não tinha pensado naquela possibilidade ainda? Meu primo já estava com 24 anos, tinha um emprego e sua casa, porque não estaria com alguém? Comecei a me recriminar por não ter nem considerado a possibilidade ainda. Automaticamente, meus olhos seguiram as mãos de Rapha, que pousaram na cintura da moça e a afastaram dele com cuidado. E então seus olhos estava em mim. Ele abriu a boca, mas pareceu desistir de dizer o que planejara, levou alguns segundos para que ele realmente falasse.

R: Kim, essa é a Patricia... Ela é...

P: Está sem fala por causa das saudades, amor? Olá, Kim. Eu sou a Patricia, namorada do Rapha.

Vi que ela se aproximou de mim e deixei que ela me desse um beijinho em cada bochecha, forçando um sorriso quando se afastou para me olhar. Depois disso a situação ficou estranha, ninguém tinha mais nada pra falar. Quando já estava amaldiçoando a hora em que tive a ideia de aceitar vir com ele, senti uma mão segurando meu braço e olhei para trás e para baixo. André estava sentado ali perto, me puxando para cumprimentá-lo. Sorri verdadeiramente e senti um alívio enorme tomar conta de mim. Me aproximei, dando um abraço rápido nele.

A: Que bom que você veio também, garoto. Já tava na hora de sair daquele apartamento, né? Senta aqui que ainda tem lugar.

Puxei a cadeira ao lado dele e me sentei, olhando para Rapha, que fez menção de me seguir quando sua namorada o segurou.

P: Guardei um lugar ao meu lado para você, Rapha. Vamos?

Ele olhou para mim, parecendo pedir desculpas e eu me obriguei a sorrir para ele, que a acompanhou. Suspirei e olhei para frente, pensando em como seria minha noite dali em diante. Mas é claro que André não ia deixar que eu ficasse ali quieto no meu canto, deu um tapinha em minhas costas, me fazendo perder a linha dos meus pensamentos e começou a me apresentar para todos que estavam ali perto de nós. Foram todos muito simpáticos, perguntando coisas sobre mim e me envolvendo numa conversa animada. André estava sendo muito atencioso, me apresentou sua namorada, uma garota muito bonita e simpática e uma amiga dela, que logo se sentou ao meu lado e entramos em uma conversa longa, nós tínhamos gostos semelhantes.

A: Tá com fome, moleque?

K: Não...

A: Deixa disso! Tô querendo comer uma porção de batatas fritas, mas minha mina não quer dividir. Tá afim?

K: Pode ser, então.

A: E pra beber?

K: Um guaraná.

A: Ah, qual é? Pede uma cerveja.

K: Não gosto.

A: Tudo bem.

Ele pediu a porção, que quando chegou, espalhando um cheiro delicioso, me fez perceber que eu realmente estava com fome. Devorei quase tudo, vendo André rir de mim e pegar uma batata ou outra de vez em quando. A conversa com a menina ao meu lado continuou, até que ela resolveu me fazer um convite.

Menina: O que você acha de nós sairmos juntos outro dia? Só a gente.

K: Desculpe, não posso. Eu tenho namorado.

Eu já tinha entendido as intenções dela, resolvi cortar logo qualquer esperança. Ela fez uma cara de espanto, que logo tentou disfarçar, mas então me dei conta de que eu não dissera aquilo tão baixo e ouvi um cara na mesa perguntar.

Cara: Você é viado?

Levei um segundo para me recuperar do susto pelo quase grito que ele dera, mas quando abri a boca, André já estava respondendo por mim.

A: Cala a sua boca, ô babaca. Cuida da sua vida!

O garoto se calou, parecia estar com medo do André, e eu abaixei a cabeça, envergonhado por agora toda a mesa estar olhando para nós. Senti os olhos preocupados de Rapha sobre mim, ele parecia confuso, portanto não devia ter escutado toda a conversa, apenas a resposta alta de André. Melhor assim. A menina sentada ao meu lado tentou retomar a conversa, mas já não era a mesma coisa. Olhei para o André.

K: Posso pedir alguma coisa pra beber?

A: Claro que pode garoto, não precisa perguntar. O que você quer?

K: Não sei...

A: Que tal uma caipirinha?

K: Limão?

A: Não gosta? Pode ser de outra fruta. Dá uma olhada na carta de bebidas.

Escolhi uma caipirinha de kiwi, que estava muito boa, docinha. Tomei devagar, não querendo passar por nada parecido com o dia da boate e notei que Rapha não parava de me olhar. Mais de três horas depois de chegarmos, meu primo se levantou junto com a namorada e veio até mim.

R: Vamos, Kim?

K: Ah... tudo bem.

A: Se você quiser, te levo em casa mais tarde, garoto.

R: Melhor não, André. Você bebeu.

A: Tomei duas cervejas só, Rapha. Qual é?

K: Tudo bem, André. Eu vou com ele. Até mais.

Me despedi dele e de todos ali perto e segui meu primo até o carro. Achei que Patricia tinha ido conosco para se despedir, mas ela entrou no carro, no banco do carona, e eu tive de ir atrás.

P: Posso ir pra sua casa, amor?

R: Melhor não, Pati. Outro dia.

P: Poxa, Rapha... já faz tanto tempo que não ficamos juntos. Mais de um mês! Seu primo não se importa, né Kim?

K: Eu? Ah... Claro que não.

P: Viu.

R: Hoje não, Pati.

P: Então vamos lá pra casa. Deixa o Kim no seu apartamento e vamos pra lá.

Ela disse aquilo de forma zangada e autoritária. Rapha me olhou com pesar pelo espelho retrovisor, enquanto concordava com ela. Ele estacionou na frente do prédio e saiu do carro quando eu abri a porta e pulei para fora o mais rápido de consegui. Dei um tchau rápido para Patricia e já estava entrando no prédio quando ele segurou meu braço.

R: Você está bem, Kim?

K: Sim, por que?

R: Você bebeu.

K: Bebi só uma caipirinha, Rapha.

R: Eu não demoro, Kim. Prometo.

K: Não precisa voltar correndo por minha causa, Raphael. Ela é sua namorada.

R: Não é! Eu e ela...

P: Rapha! Vamos?

K: Boa noite.

Cheguei em casa e a primeira coisa que chegou a mim foi um cheiro horrível. Acendi as luzes e me deparei com a sala e o corredor todos sujos de xixi e cocô, enquanto Naná me olhava de detrás do sofá. Fechei os olhos por alguns segundos e depois fui até ela, pegando-a no colo e mostrando uma das poças amareladas, dizendo que não podia e depois levando-a até o jornal que pusera pra ela na área de serviço e que se encontrava limpinho. Era por essas coisas que eu nunca me perguntava se a situação podia ficar pior do que já estava. Peguei tudo o que precisava e fui limpar a casa, engolindo a vontade de chorar.

Já era bem tarde quando consegui terminar de limpar toda a casa. Tinha sido uma sorte as portas dos quartos e do banheiro estarem fechadas, porque todos os outros cantos da casa estavam sujos. Guardei tudo, tomei um banho e fui procurar um remédio para ver se dava um jeito na dor de cabeça que estava sentindo. Andei até a sala e acabei sentado atrás do sofá, apoiado no encosto e de frente para a parede. Eu estava sentindo um nó na minha garganta, e ele doía. Quem conhece a sensação, sabe que a forma mais fácil de fazê-la passar é botando tudo pra fora, chorando.

Eu chorava de cansaço, por ter limpado a casa inteira o mais rápido que consegui, pois não queria que Rapha visse aquilo quando chegasse. Chorava por estar confuso com tudo o que estava acontecendo. Como eu podia sentir ciúmes da namorada dele? Eu devia ficar feliz que agora ele tivesse alguém de quem gostasse de verdade. E chorava principalmente por causa de Higor. Eu achava que por estar me sentindo daquela forma, gostando da atenção de Rapha, reparando nele e sentindo ciúmes, era quase como se estivesse traindo meu namorado.

Acabei dormindo ali, sentado e de mau jeito. Acordei não sei quanto tempo depois com meu primo me chamando. Abri os olhos devagar, me endireitando e sentindo meu pescoço doer pela forma como pegara no sono. Minha cabeça continuava doendo e eu sentia uma estranha coceira nas mãos.

R: Fiquei preocupado quando não te vi no quarto. O que você está fazendo aqui, Kim?

K: Ah... eu acabei pegando no sono...

R: Mas aqui? E que cheiro de desinfetante é esse na casa?

K: Foi a Naná... ela sujou a casa inteira...

R: E você limpou ela toda sozinho?

K: Aham.

R: Não é a toa que está cansado... Vem, eu te ajudo a ir pra cama. Amanhã nós vamos conversar, tá bom?

Ele me estendeu a mão, mas assim que a segurei senti uma ardência na minha mão e puxei-a de volta. Minhas duas mãos coçavam bastantes. Olhei para elas, estavam vermelhas e inchadas, que estranho. Percebendo que havia algo errado, Rapha puxou minhas mãos e arregalou os olhos.

R: Kim! O que é isso?

K: Não sei.

R: Há quanto tempo você está assim?

K: Não sei... não estava assim quando você me deixou em casa.

R: Vamos pra emergência, Kim.

K: O quê? Hospital? Não mesmo!

R: Kim, isso está com cara de alergia. Você precisa ser medicado.

K: Não gosto de hospital!

Rapha parou de insistir e me olhou, sorrindo, com um olhar bondoso em seu rosto. Ele se agachou ao meu lado novamente e segurou minhas mãos com cuidado.

R: Eu prometo que fico com você o tempo todo. Mas você precisa tomar um remédio para isso e eu não sei o que te dar. Vamos?

K: Tudo bem...

Chegamos na emergência e ficamos um tempo sentados na sala de espera. O ar condicionado estava forte demais por lá, e além de tremer de frio, eu estava cabeceando de sono. Tá, confesso que eu também tremia de medo. Foi quando senti Rapha passando um braço por meus ombros. Olhei para ele, assustado, mas ele apenas sorriu e me puxou em sua direção. Não resisti ao calor de seu corpo e acabei me encostando nele, apoiando a cabeça em seu ombro e me aquecendo ali. Dormi. Algum tempo depois escuto Rapha me chamando baixinho e antes de lembrar onde e em que situação estava, me aconcheguei à minha fonte de calor. Nem preciso dizer que fiquei com muita vergonha quando abri os olhos e vi meu primo me olhando divertido, mas ainda com os braços me envolvendo.

Levantei o mais rápido que consegui, tentando esconder meu embaraço. Ele também se levantou, fingindo que nada estava acontecendo e disse que eu tinha sido chamado. Entramos no consultório e só de sentir o cheiro daquele lugar eu já comecei a tremer. Sentamos e o médico começou a me fazer perguntas que eu respondia o maus rápido que conseguia. Ele olhou minhas mãos e disse que era algum tipo de alergia mesmo, que não tinha como saber a que. Disse que me medicaria e depois eu teria de marcar uma consulta com um alergista para fazer alguns testes. Pra mim estava tudo bem até ele completar que colocaria o remédio no soro. Arregalei os olhos, sentindo-os encherem-se de água, eu sempre tive medo de agulhas.

Só comecei a me mover quando Rapha segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos e seguindo o médico. Fomos até uma sala ampla, com algumas poltronas confortáveis e poucas macas. O médico conversou com uma das enfermeiras, que me fez sentar em umas das poltronas e trouxe algumas coisas para perto de mim. Eu não queria nem saber o que ela ia fazer, só o que me importava era que logo uma agulha estaria me furando. Respirei fundo quando ela começou a procurar minha veia, mas então Rapha segurou minha mão livre, se abaixando ao meu lado e me chamando. Ficamos apenas nos olhando por alguns segundo até eu escutar a enfermeira avisar que já tinha colocado o soro e agora era só esperar. Eu nem percebera ela me furando. Suspirei aliviado, mas então ela disse a Rapha que ele teria de esperar lá fora. Apertei a mão dele com força, não querendo que ele fosse a lugar algum.

R: Desculpe, mas será que não posso ficar com ele?

E: Ele é maior de idade. O acompanhante tem que esperar lá fora.

R: Mas não tem ninguém aqui hoje. Eu fico preocupado com ele aqui sem mim. Por favor. Se chegarem mais pacientes eu saio da sala.

E: Tudo bem, então.

K: Obrigado, Rapha.

Ele apenas sorriu e apertou minha mão mais firmemente e ficamos daquela forma por muito tempo, até que ele resolveu falar.

R: Kim... me desculpe por hoje.

K: Não precisa pedir desculpas.

R: Claro que preciso. Eu te prometi que seria uma noite só nossa, que se você não quisesse ficar no bar nós iríamos embora e eu acabei te deixando sozinho. Eu fiquei tão animado com a oportunidade de sairmos juntos que nem me lembrei que a Patricia estaria lá.

K: Tudo bem, Rapha. Afinal, ela é sua namorada.

R: Mas era isso que eu estava tentando te dizer. Ela não é minha namorada. Nós estamos saindo há alguns meses, mas não somos namorados. Ela se precipitou e eu já conversei com ela sobre isso. Me desculpe.

K: Você deveria dar uma chance a ela, então... parece ser bem legal.

R: Isso não vem ao caso agora, Kim. Você me desculpa por ter te deixado sozinho? Vamos tentar de novo?

K: Claro, Rapha...

Pouco tempo depois a enfermeira veio retirar o soro, que já tinha acabado e nós não percebêramos. Eu estava com dificuldades para andar direito devido ao sono e a moleza que o remédio provocou, então Rapha se aproximou e passou um de meus braços por seus ombros, segurando em minha cintura e me ajudando. Fiquei sem graça, era a segunda vez em pouco mais de uma hora que eu me encontrava tão próximo de Rapha e o que mais me incomodava era a sensação boa que aquilo me proporcionava. Minha cabeça estava uma confusão.

Rapha me levou para casa. Troquei de roupa e quando voltei do banheiro ele estava me esperando no meu quarto, tinha arrumado minha cama. Ele deu um tapinha na cama e eu me deitei, deixando que Rapha me cobrisse e sentasse ao meu lado.

R: Você me deu um susto hoje.

K: Obrigado por me ajudar, Rapha.

R: Se você notar alguma coisa estranha de agora em diante, me conta. Mesmo que não pareça nada, tá?

K: Tudo bem.

R: Agora dorme, você parece cansado. Boa noite.

K: Boa noite.

Rapha se inclinou sobre mim e me deu um beijo demorado no rosto. Fechei os olhos, sorrindo pela sensação gostosa, que lembrava muito a minha infância. Acho que aquela madrugada eu dormi antes mesmo que Rapha deixasse o meu quarto.

Não fizemos mais nada durante o resto do fim de semana. Eu passei grande parte do sábado descansando e assistindo TV no sofá da sala. Rapha ficava sempre por perto, fosse assistindo algo comigo ou lendo um livro qualquer. No domingo André passou para ver como eu estava, falando mais uma vez que eu era um moleque irresponsável, que eu devia ter notado logo uma coisa dessas, enfim, sendo o André. Eu também telefonei para Higor, para contar a ele tudo o que tinha acontecido.

H: Tem que tomar cuidado agora, meu amor. Usar luvas sempre, para não correr o risco de descobrir mais alguma alergia.

K: Vou tomar cuidado, Higor, pode deixar.

H: Ainda bem que o Raphael chegou logo em casa. Não quero nem imaginar como seria se ele tivesse passado a noite na casa da garota.

K: É... nem eu...

H: Kim... tem mais alguma coisa que você queira me contar?

K: Não. Eu queria te agradecer...

H: Pelo que?

K: Por ter tido aquela conversa com Rapha antes de ir embora. Foi dela que ele tirou a ideia de me dar a Naná.

H: Não precisa agradecer, Kim. Eu estava pensando em algo menor. Um hamster, um passarinho. Um cachorro é uma grande responsabilidade.

K: Você acha que eu não sou responsável o suficiente pra cuidar de um cachorro?

H: Eu acho que você é responsável o suficiente pra cuidar de qualquer coisa, meu amor. Cuida de mim?

K: Cuido, cuido! Venha logo pra cá que eu cuido pra sempre!

H: Estou arrumando minhas coisas.

Era tão relaxante ouvir sua voz, sua risada. Parecia que quando eu estava ali, falando com ele, todas as dúvidas que eu tinha quanto a meu primo desapareciam completamente. Eu só tinha certeza de que o amava, era só nisso que eu conseguia pensar.

H: Como é que está a relação de vocês?

K: Você quer mesmo falar disso?

H: Eu gostaria de saber, sim. Mas só se você quiser me dizer.

K: As coisas estão melhorando. Nós conversamos mais, apesar de eu não ter muito assunto pra falar. Como estou estudando pra fazer o vestibular, ele fica me contando história da época de faculdade dele. As vezes isso me deixa meio desanimado.

H: Por quê?

K: Porque enquanto ele estava aqui, passando por todas essas novas experiências, eu estava lá... sozinho.

H: Hum... e não teve nada de bom nesse tempo que vocês estiveram separados?

K: Claro que teve, bobo... A melhor coisa do mundo!

H: Melhor coisa do mundo, é?

K: Uhum.

H: O que?

K: A sorveteria do bairro começou a vender sorvete de menta!

H: Kim!!!

K: Mas depois aconteceu algo melhor ainda!

H: Começaram a vender gotas de chocolate separadas, pra você poder colocar mais sobre o sorvete?

K: Não! Que saudades dessa carinha emburrada... O que aconteceu foi que eu conheci um amigo muito especial, que acabou se mostrando o amor da minha vida!

H: Fiquei com ciúmes, agora...

K: Hahaha Você está tão engraçadinho hoje!

H: Estou é feliz por estar falando com o amor da minha vida.

K: Ai, Higor... que saudade. Eu te amo muito.

H: Também te amo muito, gatinho.

E assim a semana passou calmamente, até a manhã de sábado seguinte. Eu estava dormindo muito confortável quando senti alguém me tocando de leve e tive a impressão de que também me chamava. Abri um dos olhos devagar e encontrei Rapha me olhando com um sorriso no rosto.

R: Finalmente acordou, seu preguiçoso.

Murmurei qualquer coisa e olhei para o relógio, sete horas da manhã.

K: Ah, Rapha... Me deixa dormir...

R: Eu quero te levar num lugar especial. Vem, você vai gostar. Prometo que vai valer a pena.

K: Que lugar?

R: Uma cachoeira. Vamos?

Suspirei, com pena de deixar o calor da cama, mas acabei me espreguiçando e sentando.

R: O café já está na mesa. Arruma uma mochila pra você com uma muda de roupas e toalha. Não esquece o protetor solar, o sol está forte. Eu já separei uma garrafa de água pra você, e estou levando algumas coisas para comermos.

K: Tudo bem. Vou me arrumar.

Algum tempo depois, já de café tomado e arrumado, saí de casa com Rapha, deixando comida e água para a Naná e garantindo a ela que nós voltaríamos antes de escurecer. Pegamos um ônibus no ponto perto de casa e fomos até o seu ponto final, que ficava no começo de uma grande subida. Estávamos no meio do nada, e não havia mais ninguém ali além de nós e o motorista do ônibus. Olhei duvidoso para Rapha e ele riu da minha cara.

R: Vamos, nós ainda temos que subir um bom pedaço. Vai valer a pena, já disse.

Acho que passamos quase meia hora subindo aquela ladeira. Eu já estava ficando sem fôlego e a mochila parecia pesar toneladas quando chegamos a uma casinha amarela, uma guarita, e Rapha me disse que já estávamos quase lá. Fiquei mais tranquilo ao ver o guardinha ali, vi que ele anotou algo quando passamos e Rapha me explicou que eles contavam quantas pessoas subiam e desciam, para garantir que ninguém se perdesse. Um pouco mais de subida e Rapha me levou para dentro do mato, alguns passos depois estávamos na frente de uma pequena piscina de água natural.

K: Rapha... aqui é legal e tudo... mas nós passamos todo esse tempo andando pra isso?

R: Claro que não, Kim! Agora é que nós vamos começar a trilha. Lá pra cima.

Olhei para onde ele apontava, perdendo qualquer ânimo que eu podia ter tido. Ele riu e disse que eu me refrescasse e bebesse um pouco de água, que a trilha não era grande, mas um pouco puxada pra quem não estava acostumado. Cerca de 10 minutos depois, começamos a subir. No começo foi tranquilo, já haviam alguns degraus desenhados na terra, o que facilitava muito. Foi então que chegamos a uma pedra mais ou menos da minha altura, que tinha uma corrente presa a ela. Rapha segurou na corrente, apoiando um dos pés na pedra, e com um impulso e mais alguns passou, estava no topo dela. Ele fazia parecer fácil.

R: Não precisa ter medo, Kim. Eu te ajudo. Segura a minha mão.

Com uma das mão segurei a corrente, e com a outra a mão dele. Logo na primeira tentativa escorreguei e ralei o joelho na pedra.

R: Você está bem? Tá doendo muito? Podemos voltar se preferir.

K: Tá tudo bem, Rapha... Me ajuda aqui.

Ele me deu mais algumas instruções de como subir e dessa vez eu consegui. Subimos mais um pouco, escalamos pelas raízes de uma enorme árvore que estavam para fora da terra, até que chegamos a outra pedra. Essa devia ter mais que o dobro da minha altura e ao invés de subir, tínhamos de descer. Rapha mais uma vez desceu como se fosse a coisa mais simples do mundo. Ao chegar lá embaixo ele me disse que segurasse a corrente com ambas as mãos, firmasse os pés na pedra e jogasse o peso do corpo pra trás. Eu levei quase três vezes o tempo que ele levou para descer, mas até que fui bem, sendo amparado por ele no final, que me abraçou pelas costas, me ajudando a pisar num lugar mais firme. Ainda sorrindo por ter conseguido passar por mais aquele desafio, olhei para trás, dando de cara com o sorriso dele. Estávamos tão próximos um do outro, meu sorriso foi morrendo, e então Rapha me soltou. Respirei aliviado.

Dali só andamos mais alguns passos e descemos um pouco. Então, eu estava diante de um lindo cenário. Uma cachoeira razoavelmente pequena se mostrava cercada por pedras e árvores, despejando sua cascata de água numa piscina, quase arredondada, que deixava, por sua vez, a água escorrer para baixo numa pequena cascatinha. Era lindo. Eu estava maravilhado. Não tinha mais ninguém lá, então não nos preocupamos muito com nossas coisas. Colocamos as mochilas sobre uma pedra grande e começamos a nos despir, até que eu estivesse apenas de bermuda e Rapha de sunga. Fiquei um pouco sem graça quando ele me pegou olhando para seu corpo, ele estava diferente do que eu lembrava. Braços, peito e barriga estavam bem mais definidos, não pude deixar de notar.

R: Vem logo, Kim! Tá com medo da água fria?

A água estava ótima. Passamos horas ali dentro, brincando feito duas crianças. Rapha me contou sobre a primeira vez que fora lá, disse que tomara um tombo enorme e até me mostrou a cicatriz que ficou em seu ombro por causa disso. Durante todo o tempo que passamos lá, apenas um casar apareceu e não se demorou muito. Saímos da água apenas para comer os sanduíches e tomar o suco que Rapha levara. Pouco tempo antes de irmos embora, dentro da água novamente, eu estava tremendo de frio, juntei as mãos sob o queixo, incomodado pela sensação, mas não querendo sair da água.

R: Melhor irmos, Kim. Sua boca já está ficando roxa.

K: Mas está tão bom aqui...

R: Assim você vai pegar um resfriado, está até tremendo! Vem cá...

E dizendo isso, ele simplesmente me puxou para perto, passando seus braços ao meu redor e me apertando contra seu peito. A princípio, deixei que o calor me tomasse e fechei os olhos, aproveitando o contato, mas logo estava incomodado e sem graça. Me mexi um pouco, tentando me soltar, até que Rapha percebeu e me deixou ir. Saí da água sem olhar para ele, indo em direção às nossas coisas.

K: Acho que é melhor eu me enrolar na toalha. Está mesmo na hora de irmos.

Não falamos muito durante todo o caminho de volta. Foi mais fácil subir a pedra maior do que descer, e a ladeira pareceu muito mais curta, agora que estávamos descendo. Chegamos em casa no final da tarde. Naná fez uma festa quando nos viu, e mais uma vez tinha sujado a casa toda, mas Rapha não me deixou nem chegar perto dos produtos de limpeza. Pediu que eu fosse tomar meu banho enquanto ele arrumava e foi isso que eu fiz. Quando saí do banheiro, já usando meu pijama, ele estava acabando de limpar tudo e pediu que eu esperasse ele tomar banho para jantarmos.

Só me dei conta do quanto estava faminto quando começamos e comer, da mesma forma que só me dei conta do quanto estava cansado quando acabei de comer. Bocejei, vendo que ainda eram oito horas da noite, mas eu realmente queria ir pra cama.

K: Vou pra cama... estou muito cansado.

R: Imagino. Espero que tenha valido a pena todo esse cansaço.

K: Valeu sim. Muito! Obrigado, Rapha.

R: De nada, meu anjo. Boa noite.

Disse isso e me deu um beijo no rosto, indo para o sofá e ligando a TV. E eu fiquei ali, parado, extremamente corado e sem jeito. Fui para o quarto devagar e deitei, mas aquela altura, meu sono já tinha desaparecido, e eu acabei ficando até tarde relembrando do dia que tivemos.

-

~ olá, pessoal, noiteee! vamos bater um papo aqui e esclarecer algumas coisas kkkkk. como eu disse lá no primeiro capítulo, eu não sou o autor do conto, inclusive todos os direitos desta obra são reservados a ele; este e outros contos que virão após a finalização deste foram salvos/retirados de comunidades de contos eróticos da finada rede social Orkut (para quem não foi dessa época, Orkut foi uma rede social onde o "hype" eram comunidades, e dentro delas era possível criar tópicos onde autores postavam seus contos no tópico criado por cada um, sem nenhum limite de palavras e etc; e também era onde os leitores comentavam e interagiam). eu só estou aqui como mensageiro (?), cada conto tem sua mensagem para ser passada, e assim como me tocou quando eu li aos meus 13 anos, gostaria que também tocassem novas pessoas, pessoas como vocês!

gosto muito dos comentários de vocês, leio todos eles, todooos, e fico feliz quando vejo a quantidade de comentários aumentando ao passar do dia (fico atualizando a página de hora em hora, sou ansioso kkkk), mas nunca foi minha intenção responder cada comentário individualmente e rebater a opinião própria de vocês, criando um debate a cada final de postagem, além disso, não é meu local de fala, eu não sou o autor! debatam entre vocês, discutam e tudo mais, eu quero ver o circo pegar fogo mesmo hahaha, comentem, mas comentem muuuiiiitoo, que eu gosto muito hahah. enfim, eu leio todos os comentários e respondo sempre de forma geral, e prometo que na última postagem passarei por todos os capítulos já postados pegando o nome de cada um e colocando lá no final como agradecimento! é isto... me desculpem se fui grosso ou atingi alguém sem querer, não foi a minha intenção! até amanhã <3 ~

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive GuiiDuque a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Kim e rapha se apresentam como dois jovens que o tempo separou mas o amor juntou? Saudades das comunidades do Orkut.

0 0
Este comentário não está disponível
Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

Até eu fico dividida entre o Rafa e o Higor kkkk. Só acho que o Kim tem muita sorte de ter esses dois gostando dele.

0 0
Foto de perfil genérica

Eu estou amando como rapha e o Kim estão retornando a relação de amizade deles. Está na cara que rola um sentimento muito grande entre eles, e o higo percebeu isso. Gosto da atitude madura do higo. Mas eu sou team rapha e Kim.

0 0
Foto de perfil genérica

LEIA-SE 'FILHO' ONDE SE LÈ 'FILGO' LEIA-SE 'ANDRÉ' ONDE SE LÊ 'ABDRÉ' E LEIA-SE 'FILHO' ONDE SE LÈ 'FILGO'

0 0
Foto de perfil genérica

ESTOU ME TORNANDO REPETITIVO. PENSO ATÉ DIMINUIR OS COMENTÁRIOS ATÉ ALGO NOVO OCORRER. NÃO POSSO PORÉM DEIXAR PASSAR EM BRANCO E DIZER QUE RAPHAEL É MUITO FILGO DA PUTA EM TER LEVADO KIM AO ENCONTRO DE 'AMIGOS' DIZENDO QUE IRIA SER APENAS OS DOIS. MAS MUITO MAIS FIKHO DA PUTA É O KIM EM AINDA SE ILUDIR COM O PRIMO. MEU DEUS TUDO DE RUIM E ANGUSTIANTE ACONTECE COM O KIM, PARECE QUE SÓ SABE CHORAR. MAS SEI QUE JÁ ESTÁ CRESCENDO OS OLHOS PRA CIMA DO PRIMO DE NOVO. POBRE HIGOR. MAS SE ESTÁ ACONTECENDO COISAS RUINS É PORQUE ESTÁ MERECENDO. KIM NÃO TEM QUE SENTIR CIÚME POIS ABDRÉ JÁ O TINHA ALERTADO SOBRE A NAMORADA DE RAPHAEL. CLARO QUE SE VC OLHA PRO CORPO DO SEU PRIMO E O DESEJA ISSO POR SI SÓ JÁ É TRAIÇÃO AO HIGOR E NÃO QUASE UMA TRAIÇÃO. ESTÁ TENTANDO SE DESCULPAR POR DEIXAR ACONTECER DE NOVO. POXA TO GOSTANDO DAS ATITUDES DE ANDRÉ. CARA CABEÇA BOA, BOM ASTRAL. NÃO POSSO DIZER O MESMO DE RAPHA POIS JÁ ME ANTIPATIZEI POR ELE.

0 0