Nosso Amor, Meu Destino (Kim) - Cap. 16

Um conto erótico de GuiiDuque
Categoria: Homossexual
Contém 5542 palavras
Data: 10/11/2019 23:38:22

~ continuando ~

-

O dia 24 foi divertido, resolvemos jogar baralho e passamos grande parte da tarde assim. Os primos de Rapha tiveram a brilhante idéia de jogar um daqueles jogos de formar pares e abaixar as cartas e eu era quase sempre o ultimo que abaixava. A minha concentração sempre era desviada para alguma outra coisa e eu esquecia completamente do jogo. E geralmente essa outra coisa era o Raphael. Ele ficava tão lindo com aquela carinha concentrada, prestando atenção em todos os movimentos que os outros jogadores faziam, que eu não tinha escolha a não ser olhar para ele. Os primos dele queriam que quem perdesse virasse uma dose de cachaça, mas ele negou na mesma hora, me olhando pelo canto do olho e me deixando com vergonha, eu tinha certeza de que ele estava relembrando o incidente na casa do André.

Mais a noite, ajudamos minha tia a colocar a mesa para o jantar. Eu estava achando aquilo tudo tão especial. A mesa da cozinha era grande o suficiente para pelo menos 8 pessoas, e colocamos sobre ela uma enorme travessa com um panetone rodeado por frutas (inclusive minhas queridas cerejas), uma tigela cheia de rabanadas, um chester, que estava com um cheiro e uma cara deliciosa, arroz com bacalhau e passas, farofa, no fim quase não tinha espaço para as pessoas colocarem seus pratos. Acabamos deixando os mais velhos na mesa e fomos, com nossos pratos cheios, para a sala, sentar no tapete para comer.

Eu me sentei ao lado de Rapha, que estava encostado no sofá, deixando que a lateral do meu corpo encostasse na dele. Estava frio aquela noite e aquela posição estava mais do que confortável para mim. Ele sorriu e depois olhou para o meu prato.

R: Você colocou cerejas junto da comida salgada?

K: Sim, assim eu não tenho o trabalho de voltar lá para pegá-las quando eu acabar de comer.

R: Guloso.

K: Sou nada. Olha pro seu prato! Se não tomar cuidado a comida vai cair pelas bordas.

R: Me dá?

K: O que?

R: Cereja.

K: Mas você ainda nem comeu sua comida, Rapha.

R: Fiquei com vontade. Só uma, vai? Por favor...

Ele fez cara de pidão, com o começo de um biquinho. O que eu podia fazer? Dei a cereja, né? Escolhi uma que não estava com o cabinho e levei até a sua boca aberta. Ele, ao invés de pegá-la inteira na boca, mordeu a fruta, fazendo um pouco do suco sujar meus dedos, para só então pegá-la inteira, trazendo junto para dentro de sua boca as pontas dos meus dedos manchadas de vermelho. Senti meu rosto ficar tão quente quanto a língua dele na minha pele, ignorando completamente o fato do meu prato estar frouxo na minha mão livre. Só me dei conta disso quando senti um pedaço do chester, acompanhado de bastante farofa escorregaram do prato e caiu no meu casaco. Os primos dele olharam para mim como se eu fosse idiota quando me ouviram xingar não muito alto, colocando o prato na mesinha de centro e viram minhas roupas todas sujas. Rapha ficou apenas rindo do meu lado, e quando olhei para ele de cara feia, ele me deu um sorriso inocente e me ofereceu um guardanapo.

K: Você fez de propósito.

R: Claro que fiz.

E assim ele conseguiu me deixar mais sem graça do que eu já estava. Me levantei e fui até o banheiro dar um jeito naquela bagunça, e quando voltei sentei um pouco mais afastado do Rapha, o que não adiantou nada, porque em questão de segundos ele já tinha dado um jeito de, discretamente, chegar perto de mim novamente, sempre com aquela cara fingida de inocência. Fiz a única coisa que podia: sorri para ele, balançando a cabeça negativamente, e deixei que ele fizesse o que quisesse.

Eram 11 horas quando tudo estava novamente em ordem na casa e minha tia chegou na sala, onde nós conversavam, mandando todos para a cama.

R: Mãe, você não acha que já estamos todos bem grandinhos pra irmos dormir esperando que Papai Noel deixe os presentes embaixo da árvore? Daqui a pouco já vai dar meia noite, nós podemos trocar os presentes e...

T: Não, senhor. Para mim vocês vão ser sempre crianças, e vão ter que ir dormir antes da meia noite.

Todos riram, mas ninguém contestou. Fomos para o quarto e logo eu estava dormindo. No dia seguinte, acordei com um carinho suave no rosto. Abri os olhos e me deparei com os olhos de Rapha me observando.

K: Bom dia...

R: Feliz Natal, meu anjo.

Sorri, já era dia 25.

K: Feliz Natal, Rapha.

R: Levanta, vai. Vamos para a sala abrir os presentes que já estão todos de pé.

Dei um pulo da cama.

K: Rapha! Por que você não me chamou antes?

R: Ah, quis te deixar dormir um pouco mais. Todos os banheiros estavam ocupados, de qualquer forma. Agora anda logo que eu quero ver os meus presentes.

K: Criança.

R: Ué, se você não quer ver os seus, por mim, tudo bem.

K: Não demoro nem 10 minutos.

Ele riu de mim e me esperou sentado na cama. Fomos juntos para a sala e nos sentamos nos chão, perto da árvore, em algum canto que havia sobrado para nós. Eu levei comigo três pequenos embrulhos que coloquei embaixo da árvore, um pouco sem graça por eles estarem tão mal embrulhados. Depois de um pouco de conversa, todos começaram a distribuir seus presentes. Me surpreendi com a quantidade de pacotes que recebi. Até mesmo os tios de Rapha tinham me dado alguma coisa. Dei um anel para minha tia, em relógio para meu tio e uma camisa social para Rapha. Ela era lilás, com os botões roxos, e ele pareceu um pouco surpreso.

K: Não gostou? Pode trocar. Eu comprei naquela loja...

R: Não, Kim, eu gostei sim. Só fiquei surpreso porque não parece o tipo de coisa que você escolheria.

K: É que eu vi na vitrine da loja e achei que ficaria bonita em você, que ia combinar com a cor da sua pele...

Respondi meio sem graça. Rapha sorriu e me deu um beijo no rosto, dizendo que tinha adorado o presente. Depois ele alcançou uma caixa retangular e me entregou. Peguei a caixa, dizendo que ele não precisava ter comprado nada para mim, mas morrendo de curiosidade. Rasguei o papel de embrulho de qualquer jeito e abri a tampa da caixa, que agora sabia ser uma caixa de sapatos. Dentro estava um tênis muito bonito, que eu tinha comentado que gostara uma vez que fomos ao shopping dar uma volta e tomar um sorvete.

K: Rapha... não precisava. Esse tênis é caro.

R: Isso não tem importância, Kim. Você gostou dele, não foi?

K: Muito.

R: É isso o que importa.

Dei um abraço nele e agradeci mais uma vez. Depois de mais um tempo trocando e abrindo presentes, fomos todos tomar café. A mesa estava novamente farta, e eu comi o máximo de cerejas que pude, sob o olhar divertido de Rapha e da minha tia. Mais tarde, naquele dia, os tios e primos de Rapha se foram, pois viajariam para o ano novo e nós ficamos sozinhos no quarto de novo. Eu estava cansado por ter levantado muito cedo, por isso fui dormir cedo. Não sei quanto tempo dormi, me pareceu uma eternidade e então escuto Rapha me chamando.

R: Kim?

K: Que foi...?

R: Abre os olhos.

Olhei para ele e vi que segurava alguma coisa brilhante. Pisquei para colocar foco na visão e vi que era um pequeno bolinho, daqueles redondinhos que vêm embalados numa forminha de papel, com uma velinha acesa nele.

R: Feliz aniversário. Faz um pedido.

Sorri, me sentando e apagando a vela no bolinho que ele estendera para mim.

R: Espero que seu pedido se realize.

K: Eu também.

Sorrimos um para o outro e eu me aproximei um pouquinho quando escuto uma batida na porta e um grito.

A: Podemos entrar?

Sem nem esperar resposta André entrou no quarto, gritando seus parabéns e se jogando em cima de mim, na cama. Com ele vieram sua namorada e mais alguns amigos de Rapha com quem nós costumávamos sair e de quem eu gostava bastante.

K: O que vocês estão fazendo aqui?

A: Como assim o que estamos fazendo aqui, moleque? Viemos comemorar o seu aniversário.

Ri, sem realmente acreditar naquilo. Aproveitei para dar uma olhada no relógio. Já era meio dia! Por que Rapha não tinha me acordado mais cedo?

R: Levanta e se arruma Kim. Encontra a gente lá no terraço.

Fui tomar um banho rápido e quando cheguei no terraço me deparei com o lugar todo enfeitado, com bolas coloridas por todas as partes, toalhas nas mesas e um cheio gostoso de carne. Rapha se aproximou, rindo da minha expressão.

R: E aí? Gostou?

K: Eu adorei!

Abracei ele com força.

K: Obrigado.

R: Não tem nada que agradecer. Pessoal, hora dos presentes.

Ganhei mais um monte de presentes de todos. Eu estava realmente feliz com aquilo tudo, afinal eu nunca tinha tido uma festa de aniversário com tantas pessoas que eu pudesse chamar de amigos. Depois que já tinha aberto os presentes de todos, Rapha se aproximou com mais um embrulho.

R: Esse aqui é o meu.

K: Mas você já me deu o tênis, Rapha...

R: Aquele foi o seu presente de Natal. Esse aqui é o de aniversário. Anda, abre.

O embrulho dessa vez era bem menos do que uma caixa de sapato, mas era pesado. Abri com cuidado, com medo de ser algo que quebrasse, e me deparei com um porta-retratos de madeira escura, simples e bonito, e nele uma foto minha e do Rapha, de costas, sentados na areia, de frente pro mar, Rapha com um braço sobre meus ombros e o rosto meio virado na minha direção, como se estivesse falando comigo. Eu não sabia quando aquela foto tinha sido tirada. Era linda.

A: Fui eu que bati. Pode falar, saco muito de fotografia, né?

Me levantei e abracei o André.

A: Obrigado.

R: Ei! O presente é meu!

A: Mas ele gosta mais de mim!

André mostrou a língua para Rapha e me abraçou com mais força. Todos riram e depois de algum esforço para me soltar, fui abraçar Rapha também e dar um beijo no rosto dele.

K: Obrigado. Foi o melhor presente que alguém poderia ter me dado.

Nessa hora todos romperam o silêncio do momento com protestos de “ei, e o meu presente?”, “o meu era melhor!”, e o clima descontraído voltou a tomar conta de mim. Passamos horas comendo churrasco e conversando, eu não podia estar mais feliz. Quando já começava a escurecer, alguém me avisou que meu celular estava tocando e eu fui atender.

G: PARABÉÈÈÈÈÈNS!!!!

K: Obrigado, Gabi, mas você não precisava ter me deixado surdo de um ouvido, né?

G: Ah, Kim, sempre fazendo um draminha! Hahaha. Meu amigo, te desejo toda a felicidade do mundo, viu? Te adoro!

K: Eu também te adoro, Gabi.

G: E que barulho é esse? Ta tendo festa aí?

K: Ta sim, um churrasco.

G: E você nem chama, né? Parece que a coisa ta boa!

K: Foi uma festa surpresa, mas eu queria muito que você estivesse aqui.

G: É bom mesmo! Não vai se acostumando não que logo logo eu apareço por aí pra a gente sair e... ai Dani, eu ainda não acabei de falar! Pára! Kim, esse grosso está arrancando o telefone da minha mão. Parabéns, amigo. Beijooooooo.

Ri do jeito sempre espalhafatoso dela e esperei pela voz também conhecida de seu irmão no telefone.

D: Oi, Kim.

K: Oi, Dani. Tudo bem?

D: Tudo sim. Pelo jeito que a Gabi gritava já sei que aí você está se divertindo, não é?

K: É sim.

D: Feliz aniversário.

K: Obrigado, Dani.

D: Tem uma pessoa aqui com a gente que quer falar com você. Abraço.

A linha ficou muda por um tempo, cheguei a achar que a ligação tinha caído, até que ouvi a voz dele.

H: Kim?

K: Oi, Higor.

Minha voz me traiu, falhando quando eu disse seu nome.

H: Feliz aniversário, meu am... Kim.

K: Obrigado. Como você está?

H: Bem... E você?

K: Também...

H: Queria poder estar aí pra ter dar um be... abraço.

K: Eu também queria que você estivesse aqui.

Um silêncio incômodo se instalou, até que Rapha se aproximou me chamando.

R: Kim, vamos cortar o bolo? Já estão quase atacando ele sem nem cantar os parabéns.

H: Vai lá... Aproveita a sua festa. Você merece. Parabéns, Kim.

K: Obrigado, Higor.

H: Beijo.

K: Beijo.

Me virei na direção do Rapha, meio desanimado. Ele parecia já ter entendido tudo.

R: Tudo bem?

K: Tudo sim.

Dei um sorriso fraco e olhei para a mesa onde o bolo e vários docinhos estavam dispostos. Me deparei com André passando o dedo pela lateral do bolo e levando a grande quantidade de cobertura que saíra nele até a boca. Não me contive e comecei a rir da situação.

Rapha passou um braço por meus ombros e me levou para a mesa enquanto comentava.

R: Bom, pelo menos para te fazer rir esse abusado serve.

Foi um aniversário inesquecível, com certeza. Pouco tempo depois eu tive meu rosto afundado naquele mesmo bolo e vi Rapha passar o braço pelo pescoço do André, esfregando sua cabeça com os nós dos dedos por ele ter feito aquilo comigo. Mesmo deformado, todos comeram do bolo, estava realmente delicioso. Fui deitar, aquela noite, exausto, mas muito feliz. Rapha deitou na outra cama e se virou para mim.

R: Gostou da sua festa?

K: Eu adorei, Rapha. Obrigado.

R: Você não precisa mais agradecer, Kim. Não cansa não?

K: Claro que não. Eu quero agradecer muitas vezes ainda. Obrigado, foi um dia muito especial... graças a você.

R: Faço qualquer coisa pra te ver feliz.

Sorri para ele e pulei da cama, correndo até a dele. Ele logo me deu espaço e eu deitei ali, me aconchegando entre seus braços. Peguei no sono quase que instantaneamente.

Voltamos para casa dois dias depois. Logo seria ano novo e eu estava ansioso pelo meu primeiro Réveillon na cidade grande.

Dia 31 de dezembro, um calor enorme, batia só um ventinho leve, e eu estava deitado, meio dormindo, meio acordado, com preguiça de me mexer, quando escuto a porta abrir e sinto Rapha sentar em minha cama. Só podia ser ele, afinal estávamos sozinhos em casa. Ouvi meu nome ser chamado em voz baixa, uma, duas vezes, mas meus olhos teimavam em não abrir, até que o chamado veio de novo, dessa vez acompanhado de um carinho em minha barriga descoberta. Sorri. Quando ele passava os dedos sobre as minhas costelas fazia cócegas de leve. Abri um dos olhos e vi seu sorriso divertido.

K: Faz cócegas.

R: Quer que eu pare?

Me mexi um pouco, me acomodando melhor na cama e chegando para mais perto dele.

K: Hummm... Não.

Ele riu e continuou desenhando círculos com a palma da mão em minha pele.

R: Já está quase na hora do almoço. Não é melhor você levantar e tomar um banho pra nós almoçarmos? Daqui a pouco temos que ir pra casa do Marcos.

Marcos era um dos amigos de Rapha. Ele tinha um apartamento de frente para a praia, onde ele sempre dava uma festa no Réveillon.

Me espreguicei.

K: Por que nós temos que ir tão cedo?

R: Mas como é preguiçoso! Nós temos que ir cedo porque daqui a pouco nem bicicleta vai conseguir andar pelas ruas, de tão cheias que vão estar.

K: Tá. Tudo bem...

Rapha me deu as mãos e me puxou da cama. Tomei um banho frio para espantar o calor e o sono e fui para a cozinha. Ele tinha feito macarrão, de novo. Sorri e não comentei nada. Rapha nunca tinha sido muito bom na cozinha, mas ele se esforçava para preparar algo para comermos nos dias que por acaso eu dormisse até mais tarde e não fizesse nada. Ele podia até pedir comida fora, mas nunca me acordava por causa disso. Enquanto almoçávamos, ficamos conversando sobre coisas sem muita importância.

K: Você acha melhor nós já irmos arrumados?

R: Não. É melhor levar tudo o que vamos precisar numa mochila. Tá muito quente e a gente não sabe como vai estar o trânsito até lá. Podemos passar mais de uma hora dentro do ônibus.

Terminamos de almoçar, arrumamos nossas coisas e fomos para a casa do Marcos. O apartamento era realmente grande, tinha um janela enorme com vista para a praia, que já estava com as areias pontilhadas de pessoas miúdas, vistas lá de cima. A casa cheirava a comida, pois a mesa estava começando a ser posta por três mulheres que me foram apresentadas como a avó, a mãe e a empregada do Marcos. Acho que nunca vi tanta comida na minha vida! Algumas horas depois, todos já haviam chegado e começamos a nos arrumar. Eu não vesti nada demais, apenas uma calça jeans clara, uma regata branca e havaianas brancas. Olhei no espelho, estava bom, mas era como se faltasse algum detalhe. Passei a mão pelo pescoço, onde um dia estivera o colar que Higor tinha me dado. Já não fazia mais sentido eu usá-lo. Afastei esses pensamentos da minha cabeça e fui para a sala.

Estava apoiado na janela, olhando para fora, quando senti o perfume de Rapha invadir o ambiente. Virei de frente, para poder olhá-lo, e tenho certeza de que não consegui esconder minha cara de abobalhado, afinal, seu sorriso parecia satisfeito demais. Rapha fica lindo de branco, já que sua pele é bem morena. Ele usava calças brancas, soltinhas, uma camisa social branca, aberta, com as mangas enroladas até os cotovelos, por baixo uma regata branca, e sandálias de couro. E o principal era o cordão, pendurado em seu pescoço, exibindo nosso anel. Acho que corei quando ele se aproximou tanto de mim que nossos corpos quase se tocaram. Peguei o anel entre os dedos e brinquei com ele, sem olhar Rapha nos olhos.

K: Você está sempre com ele...

R: Claro, é importante pra mim.

K: Eu não uso mais o meu.

R: Porque não é mais importante pra você?

K: Não! É claro que é importante pra mim! Mas ele não cabe mais no meu dedo! Eu guardo ele com cuidado e...

Rapha riu, e me interrompeu colocando os dedos sobre meus lábios.

R: Eu estava brincando, Kim. O anel é o que menos importa. O importante é que a gente tá aqui... junto.

Sorri, sem jeito e dei um passo para frente, acabando com a distância entre nós e encostando o rosto no ombro de Rapha, fechando os olhos para sentir seu perfume. Ele passou uma das mãos por minhas costas e com a outra fez um carinho em minha nuca. Estava tudo tão bom, tão certo, mas é claro que alguém tinha que aparecer pra estragar o momento. E esse alguém, como sempre, era o André.

A: Eu sei que vocês não conseguem se controlar, mas eu devo lembrar que vocês não estão sozinhos. A casa está cheia de gente e algumas estão olhando sem entender nada.

Nos separamos, e Rapha cumprimentou André com um abraço enquanto fazia algum comentário em seu ouvido. Como eu queria estar na nossa casa, sem aquele bando de gente desconhecida por perto. O jantar começou e todos comeram até não poder mais. A comida estava realmente deliciosa, e eu enchi meu prato de rabanadas e cerejas, como sempre. Algum tempo depois, alguém avisou que faltavam 30 minutos para a virada do ano e todos se ajeitaram para descer até a praia.

Eu estava ansioso e nervoso pelo meu primeiro Ano Novo ali com Rapha. Meu coração batia acelerado enquanto o elevador descia numa velocidade torturante. Já imaginava como seria estar no meio daquela multidão que vira pela janela do apartamento e me sentia meio tonto. Rapha sempre soube do meu medo de lugares muito cheios e, enquanto descíamos naquele elevador cheio de gente, ele segurou a minha mão e apertou com firmeza. Olhei para cima e ele sorriu. Como não ficar mais calmo com aquele sorriso?

Chegamos a rua e não dava nem para ver a praia, de tanta gente que tinha ali. Rapha entrelaçou os dedos nos meus com força e começamos a andar no meio daquele mar de gente. Me pareceu uma eternidade até que conseguimos chegar na areia. Alguns conhecidos dele já estavam por lá, bem pertinho do mar, e só de sentir o cheiro e ouvir o barulho das ondas já fiquei mais feliz. Rapha chegou perto de mim com uma tacinha de plástico cheia de espumante. Eu nem tinha visto ele pegar aquilo. Aceitei, mas não virei tudo de uma vez como a maioria ali fazia, fiquei segurando a taça enquanto observava tudo ao meu redor.

R: Ainda está nervoso por causa da quantidade de pessoas?

K: Não, já estou melhor.

Sorri.

R: Não gostou do espumante?

K: Ah, eu não estou com muita vontade de beber, depois daquele incidente na casa do André...

R: Fala pra mim o que você quer que eu pego pra você.

K: Não precisa, Rapha.

R: Mas você tem que ter uma bebida nas mãos pra brindar na virada. Já tá quase na hora. O que você quer? Guaraná?

K: Tudo bem. Pode ser guaraná.

R: Tá. Já volto.

Vi Rapha ir na direção do André e falar algo com ele, depois se enfiar no meio da multidão e sumir.

K: André, onde ele foi?

A: Foi pegar alguma coisa pra você beber. Nesse isopor aqui só tem álcool.

K: Eu falei pra ele que não precisava! Ainda mais quando ele tem que sair daqui pra buscar. E se ele se perder?

A: Relaxa, Kim. Ele volta rapidinho.

Mas ele não voltou tão rápido assim. Quando dei por mim, as pessoas ao meu redor já gritavam a contagem regressiva e eu estava ali sozinho. Olhei envolta, mas não tinha nem sinal do Rapha. Ótimo, meu primeiro Réveillon numa cidade nova, e eu estava sozinho! André estava relativamente perto de mim, abraçado aos amigos e gritando com toda força: 5, 4, 3, 2, 1... Feliz Ano Novo!

Levei um susto quando os primeiros fogos estouraram. Olhei para cima, com uma mão cobrindo os olhos. Eram tantos, de tantas cores e tão grandes. Achei lindo, mas ao mesmo tempo intimidador. A cada explosão eu encolhia um pouco os ombros. Se eu estivesse na minha cidadezinha, àquela hora estaria na praça, vendo os fogos bem menos espalhafatosos, provavelmente sozinho também, ou talvez com Higor. Higor... o que será que ele estava fazendo naquele momento? Será que também tinha lembrado de mim? Olhei para o mar, sentindo o desânimo tomar conta de mim, quando senti um encontrão em minhas costas e braços me envolvendo, um pela barriga e outro pelo peito. Um rosto com a barba mal feita encostou no meu e ouvi a voz de Rapha, acompanhada pelo hálito quente, com cheiro de espumante recém tomado.

R: Feliz Ano Novo, Kim.

Um alívio indescritível tomou conta de mim ao ouvir aquelas poucas palavras. Virei um pouco o meu rosto, para sorrir para ele.

K: Feliz Ano Novo, Rapha.

Olhei em seus olhos, mas ele não retribuiu o sorriso, nem o olhar. Rapha estava sério e seus olhos estavam direcionados mais para baixo, para minha boca, onde, aos poucos, o sorriso se desmanchava. Senti o braço que segurava minha barriga afrouxar o aperto aos poucos e algo gelado encostar em mim, que mais tarde descobri ser a latinha de guaraná. O braço que passava por cima de meu ombro de modo que a mão dele ficasse espalmada no meu peito também se mexeu, indo envolver meu pescoço e me puxar de leve até que eu estivesse virado de lado. Senti sua mão subir pelo meu pescoço até segurar meu queixo e fazer com que eu levantasse mais a cabeça. Eu já mal tinha forças pra ficar em pé, imagine para manter meus olhos abertos? Fechei-os e então senti o toque macio e úmido na minha boca, no começo só um roçar de leve que foi se intensificando até que nossos lábios estivessem totalmente comprimidos um contra o outro. Separei-os devagar e imediatamente senti a língua de Rapha entre ele, quente e com um gosto delicioso, impossível de descrever.

Eu sentia minha cabeça rodar, minha pele estava completamente arrepiada e meu corpo se manifestava a favor daquele contato. Tentei virar completamente de frente para Rapha e passar meus braços em volta dele, mas algo nos separou. Abri os olhos e dei de cara com André, com um braço envolta do pescoço do Rapha e outro do meu, gritando a plenos pulmões.

A: FELIZ ANO NOVOO!!!

Depois baixou a voz e falou conosco num tom de censura.

A: Vocês perderam o juízo? Se agarrando aqui no meio da praia! A sorte é que já estão todos muito bêbados pra ficar prestando atenção no que vocês estão fazendo.

Rapha pareceu cair em si e sorriu sem graça para mim, se soltando de André e falando com ele.

R: Foi mal, André. A gente vai se comportar. Valeu pela ajuda.

A: Tô aqui pra isso. Ah! E parabéns, irmão!

Ele disse rindo e dando tapinhas nas costas de Rapha, que riu também e o empurrou para trás. André chegou perto de mim, estalando os dedos na frente do meu rosto, fazendo com que eu finalmente desviasse meus olhos de Rapha.

A: Feliz Ano Novo, irmãozinho. Vê se segura sua onda até vocês estarem em casa porque qualquer um que olhar direito pra você vai perceber que você tá quase pulando em cima do meu amigo aqui.

Fiquei completamente sem graça, sem ideia do que dizer. Rapha voltou para perto de mim e passou um braço por meus ombros.

R: Sai pra lá, André. Para de mexer com o Kim. Anda, vamos fazer logo esse brinde que ficou faltando.

E dizendo isso, sorriu para mim e me entregou a latinha de guaraná, que ainda estava em sua mão. Brindamos ao ano novo e cumprimentamos a todos. Depois disso todos ficaram bebendo e conversando, alguns comendo uvas e pulando ondas para dar sorte, e eu só tinha olhos para Rapha, que ria e falava com os amigos de forma relaxada. Ele olhou para mim e sorriu, me chamando com a mão.

R: Fica aqui perto de mim.

K: Quando é que vamos poder ir pra casa, Rapha?

Ele riu e me abraçou com força, dando um beijo em meu pescoço que arrepiou todos os cabelos da minha nuca.

R: Acho que eu nunca quis tanto que uma comemoração de ano novo acabasse logo.

Ri também, de toda aquela situação. Finalmente nós tínhamos nos resolvido e nem podíamos aproveitar. Ele tinha tirado as palavras da minha boca.

Só conseguimos chegar em casa de manhã cedo. Surgiu um sol lindo logo nas primeiras horas do dia e as pessoas que estavam na festa conosco resolveram ficar na praia. Eu prontamente disse que não me sentia bem e que estava cansado por causa do meu primeiro grande Réveillon. Alguns reclamaram um pouco por nós estarmos indo, mas algum tempo depois estávamos no ônibus. As ruas ainda estavam um pouco congestionadas, muitas pessoas transitavam por elas, então tivemos tempo para apenas sentar e descansar no ônibus. Encostei a cabeça no ombro de Rapha e suspirei aliviado, logo nós estaríamos em casa. Ele chegou mais para perto e, discretamente, escondido pelas mochilas em nossos colos, segurou a minha mão na dele.

R: Cansado?

K: Um pouco.

R: Gostou da virada.

K: Muito. E você, o que achou?

R: Muito melhor do que eu esperava.

Levantei um pouco a cabeça e sorri para ele, que abaixou, encostando o nariz no meu e esfregando-os. Ouvimos risadinhas (irritantes) vindas de perto. Duas garotas nos olhavam e cochichavam. Achei melhor me afastar um pouco e sentei direito, mas Rapha segurou minha mão com força e não soltou de jeito nenhum. Fomos assim até em casa, Rapha acariciando as costas da minha mão com o dedão e eu com a cabeça encostada no vidro da janela, lutando contra o sono enorme que tomava conta de mim.

Descemos do ônibus algum tempo depois e andamos um pouquinho até chegar em casa. Apesar de todo o sono e cansaço, o percurso me foi torturante pelo nervosismo que começava a tomar conta de mim. Dali a poucos minutos nós estriamos em casa, sozinhos. No elevador, meu coração batia feito louco, parecia que ia sair pela boca. Eu sentia minhas mãos suarem e não sabia bem o que fazer, não sabia se olhava para ele ou se continuava a encarar o chão, como eu estava fazendo com tanto interesse. O barulho da chave entrando na fechadura e do trinco abrindo me pareceu como o de uma janela quebrando, alto e assustador, apesar do sangue que eu podia ouvir bombeando em meus ouvidos.

Passei pela porta, dei alguns passos até estar no meio da sala, e ali fiquei, com a mochila na mão e ainda olhando para o chão. Ouvi Rapha fechar a porta e se aproximar de mim. Ele tirou a alça da mochila do aperto dos meus dedos e jogou-a de lado, fazendo com que eu finalmente olhasse pra cima. Tive a visão de Rapha mordendo seu lábio inferior, com uma carinha linda de dúvida, enquanto me olhava.

R: Você quer mesmo isso, Kim? Porque se não quiser...

O resto do meu autocontrole foi para o espaço e eu passei meus braços envolta de seu pescoço, colando nossos corpos e nossas bocas. Rapha correspondeu imediatamente, segurando minha cintura e apertando-a com força. A principio nosso beijo foi afoito, necessitado. Nós mais nos apertávamos um contra o outro do que propriamente nos beijávamos, como que para termos certeza de que aquilo estava acontecendo de verdade. Parecia mesmo um sonho, finalmente estar ali nos braços dele. A única coisa que eu poderia esperar era não acordar mais. Mordi os lábios dele, mas acho que exagerei na força, pois ele gemeu e se afastou um pouco, rindo de mim quando pedi várias desculpas por não ter me controlado enquanto dava beijinhos de leve no lugar magoado.

R: Vamos com calma, Kim. A gente tem todo o tempo do mundo. Vem cá.

Ele segurou minha mão e me levou até o sofá. Rapha se sentou e me puxou para seu colo, onde eu me acomodei de frente para ele, e nos abraçamos de novo. Ficamos nos olhando por um tempo, até que levei uma de minhas mãos até seu rosto e comecei a desenhar as linhas de seu rosto com o indicador. Passei-o sobre as sobrancelhas, abaixo dos olhos, na ponte do nariz, nas maçãs do rosto, no maxilar quadrado que eu tanto gostava e cheguei novamente à boca. Passei o polegar ali com cuidado, bem lentamente, apreciando a sensação quente e macia, mas logo meu dedo estava preso entre seus dentes e pude sentir a pontinha de sua língua brincando com ele. Sorri para ele, que soltou meu dedo e levou uma das mãos ao meu pescoço, me puxando para baixo e me beijou. Dessa vez fizemos tudo com calma, pude aproveitar cada pedacinho da boca de Rapha, sem contar que a posição que estávamos nos proporcionava um contato incrível. Não sei dizer por quanto tempo ficamos daquele jeito e eu não me importaria que tivesse sido o resto do dia. Era tudo o que eu queria. Mas Rapha decidiu que já estava na hora de mudarmos de posição e segurou meu quadril, girando o corpo e fazendo com que eu me deitasse no sofá. Ele se deitou sobre mim, mas não soltou todo o seu peso, acho que se mantinha suspenso com os braços apoiados dos lados do meu corpo. Voltamos a nos beijar e eu a explorar seus ombros e suas costas com as mãos. Uma sensação quente e relaxante tomou conta de mim, toda a tensão que eu vinha sentindo desde que Rapha deixara claro suas intenções foi embora, meu corpo foi ficando mole e minhas pálpebras pesadas, apesar de eu tentar mantê-las abertas para olhar para Rapha quando nos separávamos um pouco. Mas foi mais forte que eu, fechei os olhos por um momento e algum tempo depois senti beijos sendo distribuídos por meu rosto e pescoço e ouvi a voz de Rapha junto à minha orelha.

R: Cansado?

Fiz que não com a cabeça, mas não consegui abrir os olhos. Tateei por ele puxando-o para mim e beijando-o, mas minha boca acabou encostando em seu queixo. Ouvi sua risada e ele voltou a se mexer, deitando do meu lado e me puxando para seu peito. Me abraçou e começou a fazer carinho em meus cabelos.

R: Dorme, meu anjo.

Não tive mais forças para retrucar, me abracei a ele, sentindo seu cheiro que eu tanto gostava e me deixei levar pelo sono. Eu não poderia estar mais feliz.

-

~ oiiee! como estão, guys? realmente, é uma coisa que, infelizmente, foge do meu controle, mas ainda assim é triste! sobre o capítulo de hoje: eu amo um casal <3 ~

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive GuiiDuque a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

porque tanto enrolação para dar a vida tão curta. tantas coisas acontecem que te tiram do foco, doença, término, viagem. esse endeusamento do momento certo. Se esta com vontade faça, beije, difa ame. A vida é efemera para se perder por medos. Conto como sempre Mara

0 0
Foto de perfil genérica

É triste ver como as coisas ficaram estranhas entre Higor e Kim. Eles se amam de verdade, quero muito que eles retomem a amizade.

É lindo ver Rafa e kim juntos

0 0
Foto de perfil genérica

Finalmente rolou o beijo. Amando esse casal, sou team rapha e Kim

0 0
Foto de perfil genérica

Uma dúvida que fica: Como o Kim se sustenta? Ele não faz nada o dia todo e tem dinheiro pra comprar presente de natal?

0 0
Foto de perfil genérica

TUDO COR DE ROSA. MARAVILHOSO NATAL E ANO NOVO. ANDRÉ SEMPRE EMPATA FODA. QUE COISA!

0 0
Foto de perfil genérica

Continua logo está ficando Quente o Raphael está com esperança.

0 0