(PARTE 3/7: O FILHO MAIS MOÇO DE JORGE)
ESTAVA CHEGANDO o filho moço do casal Laerte. “Quero tudo impecável, Joana”, dizia a patroa. “Logo mais o meu bebê chega e, olha só, nem me aguento de ansiedade!”
O dito bebê era um rapaz de dezenove anos completos. Joaquim d’Alcântara Laerte. Estudava medicina na capital fluminense. Pele estupidamente pálida e olhos bastante claros. Corpo esguio de acadêmico. Cabelos de um dourado escuro, quase castanho-claro, e uma nota de sangue nos lábios carnudos.
Gentil também, porém mimado sobremaneira, logo se via. De aparência, era o comum mocinho de cidade grande. De caráter, não se sabia bem o que se tornara.
Assim que tocou os pés na fazenda, correu logo ao encontro da mãe. “Como senti sua falta, mamãe!” Depois abraçou firme o pai, respondendo sempre com paciência a saraivada de perguntas acerca da vida no Rio, da faculdade, das boas notas, das namoradas... Abraçou também a querida Nina, que, apesar de não ser sua irmã, era como se fosse. Saudou a velha Joana, de quem sempre teve boas lembranças. Então, foi cumprimentar o capataz e os outros dois peões.
Aproximou-se pouco à vontade, desconfiado até, com os rapazes. Mas não tinha porquê demonstrar isso. O garoto educado da cidade grande era ele, afinal. Então sorriu e estendeu a mão. Não ia deixar o seu nervosismo traí-lo, não na frente dos pais. Jean, condescendente, retribuiu o aperto com amizade e sutileza. Joabe seguiu o gesto e um meneio com a cabeça. Já André, sem nenhuma cerimônia, apertou com mais firmeza, arrancando um gemido do rapazinho.
Ao cair da tarde, após algum tempo em família, um tímido e entediado Joaquim resolveu fazer um passeio. Sair, explorar os arredores. Fazia tanto tempo, que nem lembrava mais o tamanhão da fazenda. Na porta, confiante, o jovem encheu os pulmões daquele ar frio e deu os primeiros passos para qualquer lugar. Gostou, afinal. Seria bom pra ele. Resolveu dar mais uma olhada por ali. Ir ao encontro de alguma peripécia.
Talvez quisesse rever o ribeirão. Aquele de águas transparentes que brincava quando moleque ali para os lados dos barrancos. “Talvez tenha até virado rio!”
E, ao se aproximar, o vento lhe trouxe ao pé do ouvido uns sons de conversa. Sim, com certeza eram vozes. E vozes masculinas. Vinham justamente no tal ribeirão. Então Joaquim espreitou com algum cuidado, entre as folhagens. Eram aqueles peões, Joabe e André. Lá estavam dentro da água, despreocupados, entretidos, completamente nus se banhando.
O jovem se abaixou no matagal, palpitando. Santo Deus! E se o tivessem visto ou ouvido? Que embaraçoso seria ser pego espiando rapazes no banho... Mas logo que notou a continuidade da conversa entre os peões lá na água, Joaquim suspirou aliviado.
Abriu a moita de capim com as mãos, já sem medo, e ficou ali a observar aqueles dois. Claro, ignorava completamente o que conversavam, dada a distância em que estava. Mas não precisava ouvi-los. Vê-los bastava. Unicamente vê-los, admirar em silêncio a sua anatomia masculina. Seus músculos. Bumbuns. Braços, pernas. Seus pênis...
Lá na universidade, no Rio, também via tudo isso. Via os colegas no banho. O Marcondes, o Elísio, o Gustavo. Mas nenhum era comparável. Lá, o que via era corpo de moleque. Uns pelos pubianos, umas costelas aparentes, umas espinhas oleosas. Ali, no ribeirão, via corpo de homem. Homem já formado, com barbas e pelos e músculos e qualquer coisa de mais que a ele parecia extremamente superior ao que via na universidade.
Depois, quando retornou do erótico passeio pela fazenda, Joaquim, já sentado na sala, segredou à moça Nina o que havia visto. Narrou o quão lindos e bem-feitos eram os dois peões. O quão era solitário na universidade. E deixou transparecer ainda um súbito interesse por um daqueles dois do ribeirão. Nina, curiosa, quis logo saber quem era, mas um desconfortável Joaquim cercou de mistérios o nome. A única coisa que deixou clara é “que ele era bonito e tinha um pintão”.
NAQUELA NOITE, ainda bastante mexido com cena do ribeirão, o jovem Joaquim arquitetava, na solidão amarga da cama, um plano para dividir o quarto com o seu amado rapaz.
Estava ora deitado, ora andando inquieto pelo quarto, aceso em pensamentos. Então exclamou:
— Como eu não pensei nisso antes?
Com um sorriso enorme, o rapaz correu até a cozinha onde Joana ainda fazia suas últimas tarefas, e lhe contou uma história qualquer sobre um rato morto achado em seu quarto. Pediu que a velha chamasse um dos peões para retirar o cadáver do bicho. “Anda logo, Joana, antes que ele durma.”
A velha correu, cansou-se até, avisou o rapaz escolhido e o conduziu até o quarto do patrãozinho. Assim que bateu à porta:
— Noite, patrão! A dona Joana pediu pra eu subir aqui, disse que tinha um rato e que senhor tava com medo.
— Oi, peão André — saudou um nervoso Joaquim, as pernas meio trêmulas. — Mandei, sim, a Joana ir lá te chamar. Eu, é... Quero dizer, acho que o rato não estava morto e foi embora. Mas outro pode aparecer, né?
— E o senhor quer que eu faça o que?
— Bom, você sabe que eu não sou muito acostumado com esses bichos de sítio... Lá no Rio a gente não tem esses ratos e cobras e, então... Eu prefiro que você passe a noite aqui. Se não se incomoda...
— Como o senhor quiser.
E foi assim que o plano foi consumado. O jovem estudante acabaria por dividir a cama com o peão amado durante toda aquela noite e, com aquela história de bicho, maquiava em parte a sua real intenção.
No raiar do dia seguinte, André abriu os olhos e deparou com um descabelado Joaquim quase que totalmente sobre o seu corpo.
— Ei, patrão — ele resmungou —, já é dia. Vamos acordar?
Na cozinha, Joana passava o café. Nenhum sinal de vida no quarto de Janete e Jorge. Dormiam um sono de pedra. Moça Nina também devia ainda estar na cama. Joaquim, espreguiçando-se, enfim atendia aos chamados de André. Abriu seus par de olhinhos verdes e vislumbrou o amado caubói bem ao seu lado. O peito nu e forte. A sensação de segurança. De noite bem dormida.
— Bom dia, peão! E obrigado por ter ficado aqui essa noite!
André retribuiu o agradecimento com um meneio de cabeça. Sentou-se na margem da cama, espreguiçou-se gostosamente. E, estando só os dois no quarto, convidou Joaquim a acompanhá-lo em seu banho matinal. “Já tomou banho no ribeirão, patrão? Quer ir?”
Impossível que o estudante recusasse. E logo mais iam os dois, amante e amado, seguindo para o ribeirão que corria ali nas delimitações da estância.
Chegaram. Despiram-se. André, primeiro. Para que o outro também ficasse à vontade, talvez. Deixou à mostra todo o seu corpo anguloso e viril, agora visto de perto pelo seu admirador. E foi o próprio Joaquim, também tirando a roupa e atirando-a longe, na margem, quem saltou para a água, já fazendo algazarra e respingando água no peão, brincando e sorrindo, como se estar ali, a sós com André naquele momento, fosse a coisa mais sensacional do mundo.
Agora ele podia enxergar seu amado por completo. Sem restrições, nem embaraços. Os poucos pelos que lhe cobriam o peito musculoso, as gotas que escorriam vagarosas pelas curvas dos braços. O abdômen magro. Seu pênis mole, molhado, maravilhoso. As veias em relevo, a cor, os testículos. “Nossa, é grande”, pensava. “Bem maior que o do Marcondes!” E era como um imã. Tudo nele parecia atrair Joaquim, que quase já não conseguia parar de olhar. Então o tocava. Deixava que suas mãos deslizassem livres sobre as espáduas das costas, ensaboando-o. E quanto mais tocava, mais queria tocar, explorar. O peão apenas sorria.
E se ele sorria, Joaquim também sorria. E brincava e fazia piada. Sentia em si uma explosiva alegria. Ali, não havia etiqueta ou embaraço. Eram apenas dois homens tomando banho juntos. Não interessava se estavam nus. Não havia preocupações. Não deveria haver. Joaquim estava ali com André, e isso era tudo o que importava.
Bem depois, o banho terminou e os dois se foram.
— Posso banhar novamente com você amanhã, peão André? — pediu.
— Claro que pode, patrão!
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Amanhã tem todo mundo saindo junto pra uma noite (quente? intrigante?) no mato. Tô lá no WATTPAD também, é só pesquisar @BlascoJesus