(PARTE 4/7: ESCONDIDOS NO MATO COM MEDO DE ONÇA)
ERA POR VOLTA do meio-dia e todos já haviam almoçado. Um peão da fazenda vizinha chegou a galope, trazia um recado para Laerte:
— Tarde, pessoal — o homem cumprimentou, ainda da sela. — Uma vaca de vocês pariu ali no sul da fazenda, perto do rio. O seu Córdobas que mandou avisar o seu Jorge para ir lá buscar o filhote. É uma região afastada, perigosa. Ele pode perder essa cria. Tem muita onça por aqueles lados. Se quiserem, levo ‘ocês lá.
A ajuda foi agradecida e, de fato, não havia muito o que pensar. O próprio Jorge pediu que Jean e os outros dois peões estivessem prontos em uns minutos. Que levassem munição e víveres. Ficariam por lá, talvez, uma ou duas noites. Joaquim também estava atento. Viu nessa expedição uma oportunidade de reafirmar a sua macheza ao lado do pai, que, desde que chegara, era visto como garoto frágil de cidade grande. Pediu então para que o deixasse ir junto. Além do mais, André também estaria lá. “Se eu precisar de ajuda, papai, tenho o senhor, o peão André, todos, enfim.”
Não havendo discórdias, naquele mesmo dia, uma hora depois, os seis homens já estavam prontos nas selas dos seus cavalos. Partiram pouco depois. Jorge, Jean e o peão à frente, Joabe ao meio e André e Joaquim, um ao lado do outro, na retaguarda.
Já era tardinha quando encontraram a res e seu bezerro. Foi aquele próprio peão, que descobririam mais tarde se chamar Gustavo, quem primeiro os viu deitados no capinzal. “Estão aqui!” Desmontaram e se aproximaram dos animais. O bezerrinho sugava a mãe sob uma nuvem de moscas. A vaca, muito machucada, deixou escapar um mugido que mais parecia um lamento. Não se moveu ou tentou proteger sua cria, porém. Imaginaram que havia sido uma cria difícil. Mas imaginaram errado.
Nisso, escoradas num móvel da sala de estar, Nina e Joana divagavam. Mas não sobre assuntos de trabalhos, limpezas ou qualquer coisa assim. Falavam sobre os peões.
— Ah, o Joabe... — sorriu a primeira, ruborizando. — Sempre quis... você sabe o que, com ele!
— Menina — Joana rebateu, também risonha. — Diz isso porque ocê não viu o capataz igual eu vi. Aquilo é que é homem!
— Ai, Joana! Me conta como foi aquilo!
— Eu? Não tenho nada para contar, ocê mesma viu! E também se a patroa pega nós duas aqui falando essas coisas, arranca o nosso couro!
— O que é que você tá sabendo?
Então aqui Joana baixou a voz:
— Ué? Sei o que tá na cara. Ela e o capataz... Vai dizer que também nunca percebeu?
Mas moça Nina apenas arregalou uns olhos de espanto, as mãos espalmadas no rosto. Não notaram, porém, uma sombra severa parada no alto da escadaria. Ela mesma. Janete.
Lá no mato, os peões não demoraram a descobrir porque aquela res mal se mexia.
— Uma onça — foi Jean quem primeiro percebeu. Joabe confirmava os rastos em relevo na lama ali em volta. — Foi uma onça que atacou ela. Por isso mal tem forças pra se pôr em pé. E se a cria tá viva, é porque a defendeu como podia.
— É — Jorge assentiu, espiando a vaca mais de perto. — Essa aí já tá condenada.
— E a gente faz o quê com ela, se morrer?
— Nada, Jean. Deixamos ela aqui e a bichona volta termina o serviço depois. Não deve estar longe. Mas se a gente pega a desgraçada, aí a gente atira pra matar!
NÃO DEMOROU, a noite desabou negra sobre todos. Lá na casa, alguns lampiões foram acesos. Nuvens de mosquitos zumbiam nas varandas. No mato, acampados, os peões se viravam como podiam. Abriram o capinzal em torno da vaca ferida e sua cria e acenderam uma fogueira lá distante, em campo aberto. Só para não ter os animais longe da vista.
Ao redor das chamas, todos calados e vigilantes. O bezerro ainda precisava do leite da mãe e a onça esturrava em volta, nas distâncias. O fogo crepitava. Todo e qualquer vulto ou farfalhar no capim alto, os homens já passavam as mãos nos rifles e facões. A tensão era grande. Ouvia-se só o cri-cri copioso dos insetos, o piado frio das corujas-buraqueiras. E a madrugada ainda avançava quando André saiu em direção a umas árvores. Ia mijar. Joaquim, quase perdendo as pernas, o seguiu. Jorge observava.
Passado um tempo, ele também se levantou e seguiu aqueles dois. Não estava gostando de ver o filho sempre na cola de André. Aonde o peão ia, Joaquim logo saltitava atrás. Fez má impressão. Então os seguiu até onde tinham parado. E ali, atrás da vegetação, um arbusto, Jorge esteve imóvel olhando os dois. André, de costas, as mãos na cintura e a camisa no ombro, mijava enquanto seu filho, também mijando, esticava o outro braço para a virilha do peão. Jorge fechou os olhos, atingido. Não quis imaginar o que aquilo significava. Quando terminaram, foi o próprio Joaquim quem abotoou as calças de André. Como recompensa, o rapazote ganhou um tapinha nas costas e retornaram os dois para onde os demais estavam. Jorge também retornou, mas bem depois.
Já sentado, o fazendeiro encarava a luz das chamas. Estava atolado em angústias. Como podia aquilo? Ter educado tanto o garoto, mandado para o Rio, dado do bom e do melhor, e... E aquela era sua recompensa de bom pai? Joaquim, ali com André, estava quase debruçado sobre ele. Sorriam, conversavam, mas Jorge não podia escutar. Será que não tinham vergonha? Santo Deus, depois de tudo o seu filho terminaria aquilo? Um maricas?
As chamas dançavam para a dor dele. Um maricas! Segurava o pênis de um homem enquanto ele urinava. Que pessoa honesta, inteligente e bem criada, como Joaquim, se dignaria a isso? Era castigo de Deus? Mas onde, em nome de todos os santos, lhe havia faltado tanto para merecer aquilo?
Jean se aproximou do fogo. Estava completamente alheio a essas reflexões do patrão, mas as chamas também dançavam para ele. Dançavam pelo corpo descamisado dele. Por cada nó, por cada músculo, pela sua pele de bronze suja de poeira e de suor.
Só que o capataz, um homem perceptivo, sabia quando um homem tinha um sapo entalado na goela. Perguntou a Jorge o que o afligia, mas Jorge só abanou a cabeça. “Nada não, meu bom!”
Então Jean, ali mesmo, na frente do fogo e do patrão, desabotoou a braguilha. Entre os homens rudes das roças não havia timidez. Que isso era coisa de gente da cidade, gente fresca. Tirou o pau na mão sem cerimônia e, também sem cerimônia, mijou. Mijou molhando todos os pensamentos de Jorge. André urinava. Jean urinava. O filho era um maricas. E Jorge, ali, apenas olhava.
Um maricas! Jorge olhava, olhava. Será que o do André também era assim, como o de Jean? Tão longo, a ponta da cabeça rosada? As bolas moles caídas, será? Mas não podia reclamar ou desviar as vistas dele. O capataz não tinha culpa. Só estava atendendo a um chamado da natureza. Ele devia ser feliz na cama, com as mulheres. Ah, isso com certeza ele devia. Talvez até Janete gostasse dele. Mulher fogosa como era, com certeza ela gostaria. Quem lhe garantiria que, na sua ausência, ela já até não o tivesse experimentado? E então lembrou da ceroula que apanhou no quarto no outro dia. Seria mesmo sua ou seria de outro homem? A esposa havia ficado tão nervosa. Talvez fosse até do próprio Jean. Uma ceroula daquele tamanho só podia comportar um pênis desse tamanho. E isso, agora, era tão claro quanto as chamas que ali, bem na frente de Jorge, dançavam para a sua aflição.
Aqui, Jean balançou seu pênis, o enfiou de volta na roupa enquanto que seu patrão, muito constrangido, não parava de pensar no que um homem como ele poderia fazer a sós com a sua esposa, com o seu filho.
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Amanhã tem a contratação do 4° cowboy gato da trupe. Espia bem que ele vai fazer revolução, hem! Meu WATTPAD, claro, é o @BlascoJesus