Nosso Amor, Meu Destino (Kim) - Cap. 9

Um conto erótico de GuiiDuque
Categoria: Homossexual
Contém 5641 palavras
Data: 02/11/2019 00:35:11
Última revisão: 02/11/2019 00:39:24

~ continuando ~

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Li em seu olhar a surpresa por eu ter usado seu nome completo e não o apelido. Não me importei. Naquele momento, apesar do coração disparado, eu só conseguia pensar nos anos que passei sozinho, sofrendo sua ausência. Se não se lembrou disso, foi de algo que o abalou, pois ele também me mostrou um olhar entristecido quando abriu passagem para que entrássemos.

R: Como foi de viagem?

K: Bem.

R: Está com fome, sede?

K: Não.

T: Eu o levei pra almoçar, querido. Acabamos de sair do restaurante.

R: Ah... Vamos levar as suas coisas pro quarto, então?

K: Tudo bem...

Ele me guiou pelo corredor, até o quarto à esquerda, abriu a porta e pediu que eu entrasse primeiro. Tive uma grande surpresa com a arrumação e o cheiro de limpo do quarto, não imaginava aquilo. As paredes estavam pintadas num tom de verde bem clarinho, a colcha da cama, assim como o resto da decoração do quarto também era verde. Acho que não mencionei que verde sempre foi minha cor preferida. Fui até a estante, colocando minha mochila no chão, ao seu lado, e observando os títulos dos livros que estava nela, pareciam muito interessantes. Também havia alguns CDs dos quais eu gostava bastante, mesmo que muitos deles eu só tivesse conhecido depois de Raphael ir embora.

R: Fui eu mesmo que decorei. Espero que goste...

K: É legal.

R: O banheiro do corredor é seu. Eu só uso o do meu quarto.

K: Tá.

Os olhos de minha tia passavam dele para mim a cada vez que um falava. Ela parecia tensa, Raphael nervoso e eu desinteressado.

T: Eu vou indo, então. Tenho coisas pra fazer em casa. Kim, qualquer coisa que precisar, me ligue. Até mais.

Ela saiu do quarto no momento em que meu celular começou a tocar. Raphael, ao contrário do que pensei que faria, permaneceu ali, me olhando. Atendi meio sem jeito e desejei que ele desaparecesse quando ouvi a voz de Higor.

H: Kim! Onde você está? Aconteceu alguma coisa? Por que não me ligou?

K: Oi! Desculpe, eu já cheguei. Acabei não ligando porque minha tia me levou para almoçar e conversar.

H: Que bom... Você me deixou preocupado, gatinho. Já está na casa da sua tia?

K: Não, eu... vou ficar na casa do meu primo.

Higor ficou em silêncio e eu me senti péssimo. Ele devia estar pensando as maiores bobagens e eu não estava ao seu lado para garantir que não era nada daquilo.

K: Olha, eu não sabia de nada. Quero conversar com você direito, com calma, tá? Posso te ligar a noite, quando eu estiver sozinho?

H: Ele está aí?

K: Sim...

Ouvi um suspiro.

K: Vai ficar tudo bem. Confia em mim?

H: Eu confio muito. Vou esperar sua ligação, então. Eu já estou morrendo de saudades.

K: Eu também... Nos falamos daqui a pouco.

H: Beijo. E Kim... eu te amo.

K: Eu também te amo. Beijos.

Acabei com a ligação e vi que Raphael prestara atenção em toda a minha conversa, pela sua expressão.

K: É falta de educação ouvir a conversa dos outros.

Ao menos ele teve o bom senso de se mostrar envergonhado.

R: Desculpe ter ficado e escutado tudo, mas... fiquei curioso. Quer dizer que você deixou alguém lá?

Confirmei com a cabeça, já pensando na pergunta que viria a seguir.

R: Então você está namorando... Qual é o nome dela?

K: Higor.

Não pensei duas vezes ao responder. Eu não tinha vergonha e queria que aquilo ficasse muito claro. Acho que nunca vi alguém com os olhos tão arregalados quanto os dele estavam naquela hora. Fiquei logo na defensiva.

K: Algum problema, Raphael?

R: É claro que não... Até parece que não me conhece, Kim. Eu só fiquei surpreso.

K: Pois não conheço mesmo. Seis anos mudam muito uma pessoa, Raphael.

Ele olhou para o chão, com o cenho franzido.

R: Por que você está agindo assim? Falando nesse tom e me chamando de Raphael... Está me tratando como um estranho!

K: É praticamente o que você é pra mim! E qual o problema de eu te chamar de Raphael? Até onde sei é o seu nome!

R: Bom... se é assim que você quer... sinta-se a vontade, Kim. Essa casa também é sua.

E dizendo isso, saiu do quarto com um olhar surpreso, talvez até magoado. Eu não estava ligando. Aquilo não era nada perto do que eu passara durante todos aqueles anos. Naquele momento, eu só conseguia me expressar de forma grosseira, era muita coisa pra lidar ao mesmo tempo.

Arrumei minhas coisas no armário e depois fui até o banheiro. Reparei em pequenos detalhes que a qualquer um passariam despercebidos, como o chuveiro já regulado na água morna, eu nunca tomava banho frio, nem no calor, e os sabonetes, tanto do box quanto da pia, ainda embalados. Desde criança eu tenho essa mania de abrir sabonete. Abro as abinhas com cuidado e sinto o cheiro, depois vou amassando o papel na extremidade ainda fechada, fazendo o sabonete deslizar para fora. Adoro tomar banho com sabonete novo, fico passando o dedo sobre o nome da marca até que ela desapareça. Manias... cada um com as suas.

Acho que passei quase meia hora debaixo da água pensando em tudo o que estava acontecendo. Como eu fora parar num apartamento sozinho com meu primo? Aos doze anos aquilo era tudo com que mais sonhavas, mas agora, aos dezoito, era o que eu menos queria. Eu tinha noção de que estava fugindo do inevitável, um hora ou outra teria que parar para conversar com ele, mas eu a atrasaria o quanto pudesse. Ele me tratara tão bem, quase como se nada tivesse acontecido. Não conseguia aceitar aquilo. Como assim ele me abandonava por seis longos anos e agora fingia que estava tudo bem?

Minha cabeça estava cheia de perguntas quando desliguei o chuveiro e me sequei devagar, olhando meu reflexo no espelho e decidindo que eu não podia me deixar levar pelas lembranças. Eu não era mais o garotinho que ele deixara pra trás. Coloquei uma bermuda e me joguei na cama, afundando o rosto no travesseiro e sentindo o cheiro gostoso do amaciante. Aquilo era um convite tentador, e acabei me deixando levar. Dormi cerca de cinco horas e acordei com fome. Olhei para o celular, lembrei de Higor, eu ligaria assim que arrumasse algo para comer. Saí do quarto e a casa estava silenciosa. Andei devagar até a sala, de onde vinha a luz fraca da TV. Raphael estava deitado no sofá, tinha os olhos mirados na televisão, mas eu sabia que ele não via nada, conhecia aquela expressão. Ele reparou em minha presença e se sentou rapidamente.

R: Kim. Tudo bem? Você tá precisando de alguma coisa?

K: Não. Vim comer alguma coisa.

R: Ah, eu fiz compras. Você quer ajuda? Comprei queijo minhas e suco de...

K: Eu me viro.

Dei-lhe as costas e fui em direção à cozinha, abrindo a geladeira e me deparando com tudo que eu gostava lá dentro. Aquela atenção toda, que provavelmente era uma tentativa de me agradar, estava começando a me irritar. Parecia que ele tinha planejado tudo para que eu ficasse maravilhado com o quanto ele me conhecia e esquecesse do resto todo. Peguei o copo de requeijão e a caixa de leite, apenas, preparando um lanche muito simples. Depois de comer e arrumar toda a louça, me virei para voltar ao meu quarto e dei de cara com Raphael encostado ao batente da porta da cozinha.

R: Por que não tocou no queijo minas nem no suco de tangerina?

K: Não estou com vontade.

R: Mas sempre foram os seus preferidos...

K: Isso foi há muito tempo.

Tentei sair da cozinha, mas ele me segurou o braço.

R: Kim, nós precisamos conversar. Eu quero saber de você, como você está, pelo que passou esses anos. O que é que está havendo?

K: Acho que já está meio tarde pra esse tipo de conversa.

R: Amanhã, então?

K: Não se faça de desentendido, Raphael!

Tentei me mover e ele me segurava com firmeza, mas não ao ponto de machucar. Olhou dentro dos meus olhos e eu, orgulhoso, sustentei o olhar até que o toque do celular, que eu colocara no bolso, nos chamou a atenção. Puxei meu braço e atendi o celular.

K: Oi, Higor.

H: Oi, gatinho. Fiquei esperando você me ligar.

K: Desculpe, acabei pegando no sono.

H: Imaginei que estivesse cansado. Podemos conversar agora.

K: Claro.

Olhei para meu primo, que mais uma vez prestava atenção em tudo o que eu dizia, e saí da cozinha, esbarrando nele no caminho. Fechei a porta do quarto e me joguei na cama, suspirando.

H: Como é que você está?

K: Inconformado. Não entendo como minha tia pode fazer isso comigo?

H: Me conta como foi que aconteceu.

Contei tudo a ele, desde a hora que eu pisara no aeroporto até o lanche na cozinha.

K: Eu estou inconformado, Higor. Quero voltar pra casa...

H: Não diga isso, aqui você estaria sofrendo nas mãos da sua mãe. Você está com raiva, gatinho, mas isso passa.

K: Por que as coisas tem que ser assim, Higor? Queria que você estivesse aqui comigo, não sei mais dormir sozinho.

H: Eu estou aí com você, lembra meu amor? Meu coração está aí. Faz assim... quando você fechar os olhos essa noite, lembra dos meus braços te rodeando e de como eu fazia carinho nas suas costas até você dormir. Eu vou adormecer todos os dias com você nos meus braços.

K: …

H: Kim? Tá aí?

K: Eu te amo.

H: Eu também te amo. Agora vê se descansa um pouco essa cabecinha, posso até ver a fumaça saindo dela.

K: Tudo bem...

H: Boa noite, meu amor. Dorme bem.

K: Boa noite... Beijos.

H: Beijos.

Desliguei mais angustiado do que quando ele ligou. Eu fui dependente durante toda a minha vida e agora me via sozinho. Acabei dormindo novamente e só acordando no dia seguinte, quando só saí do quarto no horário das refeições. Raphael me esperava para todas elas, sempre com algum tipo de comida que eu gostasse. Eu apenas me servia e voltava para o quarto. E assim se passou uma semana inteira. Meu primo acabou desistindo de tentar falar comigo, já que eu resolvera ignorá-lo e passou a não almoçar nem jantar mais em casa e a chegar tarde da noite. Eu não conseguia dormir sabendo que ele ainda não voltara, então ficava no meu quarto, com os ouvidos atentos a porta. Sempre que ele chegava vinha até meu quarto e ficava me olhando por um tempo, achando que eu dormia. Depois fechava a porta novamente, com cuidado e ia para o seu quarto.

Eu conversava com Higor todos os dias, e ele tentava me convencer a ao menos deixar meu primo falar, mas eu estava decidido, não queria saber o que ele tinha a dizer. Eu afirmava para ele que estava bem, mas na verdade me sentia preso. Não conhecia nada naquela cidade e, depois de tantas recomendações de minha tia, acabei ficando com medo de sair sozinho. Ela também me ligava com frequência, sempre preocupada por eu passar meus dias trancado no quarto, mas eu dizia que estava tudo bem. E assim eu passei duas semanas, até um dia em que meu primo não voltou pra casa. Fiquei preocupado, apesar não querer admitir e só cochilei quando já estava quase amanhecendo. Fui acordado pela campainha, algumas horas depois, e corri para a porta achando ser ele, talvez tivesse perdido as chaves. Dei de cara com um homem desconhecido. Ele era alto e forte, e me dirigia um sorriso amigável.

A: Oi. Você deve ser o Kim.

K: Sou. E você quem é?

A: André. Sou amigo do seu primo desde a faculdade.

K: Ah... Desculpe, André, mas o Raphael não está em casa.

A: Imaginei, depois do porre que ele tomou ontem.

K: Ele não bebe.

A: Não bebia. Ninguém fica imune às cervejas depois de entrar pra faculdade. Nas chopadas não se consegue nada além de cerveja, nem água.

K: Hum... Bom, se já sabia que ele não estaria, faz o que aqui?

A: Nossa, como você é direto garoto. Bem que o Rapha falou que você tinha mudado.

K: Ele falou de mim?

A: Ele só fala de você.

K: Não sei porque.

A: Porque ele se preocupa. Disse que você está trancado nesse apartamento desde que chegou, já faz quase duas semanas, garoto.

K: E daí?

A: E daí que isso não faz bem a ninguém. Nem a você, nem ao seu primo, que fica preocupado.

K: Percebo a preocupação dele. Enche a cara e dorme em qualquer lugar.

A: Ele não tá em qualquer lugar, garoto. Tá na casa da mina dele.

Fiquei estático. Como assim na casa da “mina” dele? Percebi que ele me observava interessado, então tratei de desconversar.

K: Você quer parar de me chamar de garoto? Eu tenho nome!

A: Beleza, moleque. Vamos fazer o seguinte, se arruma aí que eu vou te levar pra dar uma volta.

K: Não estou afim.

A: Ah, qual é? Você chega numa cidade nova e nem quer conhecer? To sabendo que aqui tem uma coisa que não tinha na sua cidadezinha.

K: Ah, é? O que?

A: É. Praia.

Arregalei os olhos. Praia? Mar??? Coisas que eu só conhecia por fotos. Eu nunca saíra da minha cidade e conhecer o mar era um dos meus grandes sonhos. Não pensei em mais nada. Não me importava se ele era ou não amigo do meu primo de verdade. Eu só queria saber de ver o mar.

K: Vou trocar de roupa.

Ele riu com minha mudança de atitude e esperou que me arrumasse. Em pouco tempo eu estava dentro do carro de um completo estranho, olhando tudo com curiosidade, colocando a cabeça para fora da janela.

A: Poe essa cabeça pra dentro, moleque! Tá afim de ficar sem ela?

Ri e me sentei direito. Não queria admitir, mas aquele André era um cara legal. Finalmente eu estava saindo daquele apartamento, e já me sentia muito melhor.

Eu estava babando. É o mínimo que posso dizer pra descrever minha reação ao chegar na praia e ver o mar. Parei, ainda no calçadão e fiquei observando abobalhado as ondas surgindo e estourando. Era lindo. Ao meu lado, André ria da minha cara de bobo.

A: Tá esperando o que, moleque? Corre lá.

Sorri para ele e me apressei em direção ao mar. Tirei os chinelos ao chegar na beira e senti a água fria bater em meus pés. Que sensação maravilhosa. Era imenso, e a cor era fascinante, muito mais bonito do que em qualquer foto ou vídeo. Como ainda era cedo, a areia estava quase vazia e a paisagem era perfeita. Sem pensar muito, joguei meus chinelos na areia, juntamente com minha camisa e pulei na água. Mergulhei e quando voltei a superfície sorrindo dei de cara com uma onda. Afundei fugindo dela, mas ao subir novamente, encontrei mais uma. Aquilo estava ficando um pouco difícil de manter, eu tinha pouco tempo para respirar entre um mergulho e outro. Foi quando senti uma mão agarrando meu braço e me puxando para fora da água. Fui jogado na areia sem muito cuidado e vi André ofegante ao meu lado, com a roupa encharcada.

A: Que merda, moleque! Te falei pra correr até aqui, não pra se jogar no mar. Tá vendo aquela bandeira vermelha ali? Significa que é perigoso entrar no mar!

Olhei para seu rosto exasperado e a única reação que tive foi rir, primeiro timidamente, depois gargalhando. Deitei na areia de braços abertos, aproveitando o momento. Desde que chegara naquela cidade eu não rira nenhuma vez, e aquilo era bom. André me olhava como se eu fosse louco, mas acabou sorrindo e se sentando ao meu lado.

K: É muito melhor do que eu imaginava. É perfeito.

A: Você quase se afogou e está achando perfeito? Vem aqui.

Ele agarrou minha cabeça, puxando-a em sua direção e bagunçando o meu cabelo.

K: O que você tá fazendo?

A: Conferindo se você não bateu essa cabeça em algum lugar.

O empurrei para longe, rindo mais ainda.

A: Estamos juntos há alguns minutos e você já me causando problemas, moleque... No que é que eu fui me meter?

K: Não se preocupe, eu sou um bom nadador. Sei me virar.

A: Vi. Deve ser por isso que eu estou ensopado agora, né?

K: Que culpa eu tenho se você gosta de mergulhar vestido?

A: Moleque abusado! Vem, vamos sentar num quiosque e tomar uma água-de-coco enquanto esperamos nossas roupas secarem.

Ele se levantou e me estendeu a mão, ajudando-me a levantar também. Quando chegamos ao quiosque, André retirou a camisa e colocou sobre uma cadeira para secar. Perdi alguns segundo olhando para seu torso, ou seria melhor dizer admirando? Ele era realmente muito bonito, músculos bem talhados, pele queimada de sol, combinando tudo com seu sorriso tinha-se um conjunto muito harmonioso. Fui pego no ato.

A:Vai ficar aí me secando, garoto? Não curto isso não, hein!

K: Não se preocupe, eu tenho namorado.

Esperei por uma reação que não veio.

A: Que foi?

K: Não vai fazer cara de choque, ou de nojo?

A: Por que faria? Isso é problema seu, não meu.

Sorri para ele com sinceridade, e ele fez o mesmo. Engatamos numa conversa longa enquanto tomamos vários cocos, que ele fez questão de pagar dizendo que fora ele quem me convidara. Descobri que ele e meu primo cursaram a faculdade de fisioterapia juntos e logo fizeram amizade, que ele tinha 29 anos e estava numa relação de anos, pretendendo até casar. Ele era muito simpático e conversava sobre tudo. Percebeu que eu ficava desconfortável em falar dos anos que estive separado de Raphael, então não forçou. Foi uma manhã extremamente proveitosa, que me fez esquecer todos os problemas pelos quais eu estava passando.

Já passava da hora do almoço quando André me levou para casa. Entramos no apartamento conversando e rindo e pude ver meu primo sentado no sofá com a cabeça baixa, antes de se levantar rapidamente ao entrarmos.

R: Kim! Graças a Deus! Eu cheguei e não te vi. Estava demorando tanto que... André?

A: Beleza, Rapha?

R: Não estou entendendo.

A: Relaxa parceiro, só levei o Kim pra dar uma volta, conhecer um pouquinho da cidade. Vou indo nessa.

K: Não! Fica pra almoçar, André. Eu preparo alguma coisa pra nós rapidinho.

A: Não sei...

R: Fica sim, André.

Raphael parecia triste ao concordar com minha sugestão. Eles se sentaram na sala enquanto eu preparava o almoço e depois comemos juntos. Aquela foi a primeira vez, desde que chegara, que fiz alguma das refeições na companhia de meu primo. Ele ficou calado quase todo o tempo, respondendo apenas quando André se dirigia a ele, mas na maioria das vezes ficava quieto, me observando falar sem ao menos tentar disfarçar. Cheguei a ficar sem jeito quando ele apoiou o rosto em uma das mãos e ficou me olhando rir de algo que André dissera. Foi nessa hora que eu resolvi me levantar e retirar a mesa.

R: Deixa que eu cuido da louça, Kim. Você parece cansado.

A: É verdade, garoto. Ficou a noite toda acordado esperando o Rapha aparecer né?

R: É verdade, Kim?

K: Eu só estava sem sono. Vou para o meu quarto, então. Obrigado pelo passeio, André. Gostei muito.

A: Que isso. Disponha.

Tomei um banho e deixei o banheiro com o intuito de dormir quando escutei meu nome na conversa entre Raphael e André. Fiquei parado no meio do corredor, pensando se aquilo era certo, mas acabei mandando o bom senso embora e me aproximei um pouco mais.

A: Você tinha que ver a felicidade dele. Não estava nem ligando pra quase ter se afogado.

R: Mas ele podia ter se machucado de verdade!

A: Não aconteceu nada, cara. Eu estava lá pra tomar conta. Relaxa.

R: É... Obrigado, André. É tão bom ver o Kim sorrir de novo. Eu só queria... queria poder ser eu a fazê-lo sorrir dessa forma... como quando ele era criança...

A: Ei, ei... que é isso, cara. Não vai desanimar agora, né?

Não tive coragem de ouvir mais nada. Voltei para o quarto me sentindo perdido. Ele parecia tão sincero e tão angustiado ao dizer aquilo, me deixando confuso. Comecei a pensar que talvez ignorá-lo não fosse a coisa certa a se fazer. Talvez eu devesse deixar que ele falasse comigo, que me contasse sua versão da história. A verdade era que eu estava com medo de descobrir que ele ainda era o meu Rapha, o mesmo que cresceu comigo e a quem eu amei tanto. Apesar de todos aqueles pensamentos passarem por minha cabeça, os efeitos da noite que eu passara em claro foram mais fortes e eu acabei pegando no sono.

Nos dias que se seguiram, fui um pouco menos frio com Rapha. Dava um bom dia ao acordar e tomava café com ele, além de almoçar e jantar. Respondia uma ou outra pergunta sua, nunca me aprofundando muito no assunto, mas sempre que reparava que ele tentava conversar mais seriamente, dava um jeito de fugir.

André passou lá em casa novamente, me chamando para ir a praia e eu aceitei. Fiquei observando ele jogar bola com algumas pessoas que ele conhecia, foi um dia muito bom, como da outra vez. Ao me deixar em casa ele segurou meu braço, impedindo que eu saísse do carro.

A: Kim, eu sei que não tenho nada que me meter nos assuntos de vocês, mas o Rapha tá mal, cara. Dá uma chance pra ele de falar.

Suspirei.

K: Do que é que você está sabendo, André?

A: Moleque desconfiado... Eu só sei que você é muito importante pra ele. Fala com ele vai?

K: Eu vou pensar... Obrigado pelo dia, André.

Saí do carro e fui para casa. Raphael não estava. Corri para meu quarto e liguei para Higor.

H: Oi, gatinho! Que surpresa você me ligando tão cedo.

K: Estava com saudades...

H: Eu também, muita. O que é que está havendo? Você tá com uma vozinha desanimada...

K: Ah, Higor... não sei mais o que faço. Meu primo tem feito de tudo pra me agradar, tem respeitado meu tempo... Ele quer que eu o escute, mas eu não sei se é isso que eu quero. Pra mim não tem desculpas o que ele fez.

H: Se você já tem certeza de que não tem desculpas, porque se recusa tanto a escutar?

K: Porque... porque é inútil, ora!

H: Sabe o que eu acho, Kim? Que você está é com medo de não ter mais motivos pra sentir raiva dele, então você vai sentir o que? Meu amor... você está com medo de descobrir que ainda gosta dele?

K: Para, Higor! Que bobagem você está falando! Não é nada disso...

H: Se é assim não tem porque você não o deixar falar. Se você não tem com o que se preocupar porque já sabe que não vai desculpá-lo e eu não tenho com o que me preocupar porque minha hipótese é uma bobagem, não custa nada escutar.

K: Higor... por que é que você está me incentivando a ter essa conversa?

H: Porque vai ser melhor pra você, gatinho. Você vai parar de sofrer por algo que nem sabe a causa. Kim, eu te conheço. Sei que você está se sentindo mal por não conseguir largar dessa raiva toda. Você quer se livrar disso, só está com medo do que virá depois.

K: Você me desvendou inteiro em menos de um ano, né?

H: Claro que não. O dia mais infeliz da minha vida vai ser o dia em que não houver mais nada pra se descobrir em você. Te observar é o meu passa tempo predileto!

K: Como é que você sempre sabe a coisa certa a se dizer na hora certa?

H: Eu só digo o que penso, meu amor. É por isso que estou dizendo que acho que você deve falar com seu primo. Acaba com isso de uma vez. E se precisar, eu vou estar aqui. Pode me ligar a qualquer momento, você sabe.

K: Eu sei... Higor?

H: Sim?

K: Eu te amo muito, muito, muito. Queria que você estivesse aqui comigo.

H: Eu também te amo, gatinho. E eu estou aí com você, sim. Aqui ficou só uma casca vazia.

K: Uma casquinha linda... Que saudade dessas sardinhas!

H: Elas também sentem sua falta, sabia? Já estavam tão acostumadas com seus dedinhos tocando uma por uma, com seus beijos... acho até que estão ficando apagadinhas.

K: Apagadinhas? Não pode! Higor, assim que nos virmos vou contar uma por uma, e ai de você se tiver alguma faltando!

H: Hum, até parece que você conhece todas elas de cor...

K: Claro que conheço, principalmente aquela que está perdidinha bem no finalzinho da sua coluna... Sinto uma saudade especial dessa.

H: Oh, ela também sente muito a sua falta.

K: Ai, Higor...

Ele riu do meu tom angustiado.

H: Vamos parar por aqui, gatinho? Quero que você esteja bem concentrado para ter aquela conversa...

K: Poxa... você sabe como acabar de vez com a alegria de alguém.

Escutei sua risada alta e divertida e meu corpo inteiro reagiu a ela.

H: Você vai me ligar pra contar como foi?

K: Ligo sim.

H: Coragem, meu amor.

K: Obrigado, Higor. Beijos.

H Beijos.

Tomei um banho demorado e depois fui para a sala. Esperei cerca de duas horas assistindo TV até que ele chegou. Raphael me cumprimentou, mas eu não respondi, apenas desliguei a televisão e me virei para ele, que me observou por um tempo e depois suspirou, não sei se de alivio ou de nervoso. Se sentou no outro sofá e nada disse. Depois de tanto me pedir para escutá-lo seria eu a ter de começar a conversa? Não aguentei seu silêncio por muito tempo.

K: Por quê?

R: Sabia que aquele dia que fui embora foi a mais difícil da minha vida? Eu cheguei nesse apartamento vazio e quis morrer. Durante meses eu te via pela casa, correndo pelo corredor, deitado nesse sofá, assistindo algum desenho e rindo da piadas bobas, até na cozinha, de pé num banquinho procurando algum biscoito. A única coisa que me consolava um pouco era decorar o quarto de hóspedes, que pra mim sempre foi o quarto do Kim. A cada móvel que comprava, cada cor que escolhia, eu pensava no que você acharia, em como você enrugaria o nariz numa careta se não gostasse e sorriria tímido se gostasse, com vergonha de dizer e dar algum trabalho. É claro que a medida que o tempo foi passando eu tive de redecorar, afinal não era mais o quarto de um menino, mas sim de um homem. Quando você chegou e entrou naquele quarto eu fiquei tão orgulhoso... ele é todo você. Parece que foram feitos um pro outro.

Respirei fundo, tentando controlar as emoções. Palavras bonitas não iam me fazer esquecer do que eu realmente queria saber.

K: Muito comovente. Então você estava tão envolvido com o quarto que resolveu que não precisava mais do dono dele? Se preocupou tanto com todos os detalhes que se esqueceu de mim?

R: Claro que não, Kim! Eu nunca me esqueci de você!

K: Ah, não? Desculpe, Raphael, mas nenhuma pessoa em sã consciência acharia que depois de mais de cinco anos sem dar notícias o outro ainda se importa com ela.

R: Mas eu te prometi que iria te buscar...

K: E você foi? Por acaso eu estou aqui por sua causa? Você sumiu e me deixou entregue à sorte. Você me largou lá com a minha mãe e nunca mais quis saber como eu estava, nem se eu ainda estava vivo.

R: Por favor, não diz isso, Kim... Não é verdade.

K: Então me diz você a verdade, porque essa é a única que eu conheço.

R: Depois que você me contou aquela vez que sua mãe estava queimando as cartas e que eu ouvi ela gritar tantas vezes com você por estar no telefone comigo, eu comecei a ficar preocupado de verdade. Procurei minha mãe e pedi que ela fosse até a sua casa checar se estava tudo bem. Ela me contou a cena que viu, estava tão preocupada que aquilo não fosse bom pra você... Então ela passou a frequentar a sua casa e a me dizer tudo o que se passava. Ela reparou, assim como eu, que sua mãe perdia o controle quando se tratava de nós dois. A cada carta que chegava, a cada telefonema meu que você recebia ela agia de forma mais violenta contigo. Eu estava perdendo o juízo de tão preocupado, então pedi conselhos a minha mãe e ela me disse que também estava muito preocupada. Disse que achava que a única forma de acabar com os ataques constantes da sua mãe a você era se as cartas e os telefonemas parassem. Eu não quis no começo, achei um absurdo ela querer que eu ficasse longe de você, mas nós conversamos muito, ela me mostrou que eu estando longe não poderia fazer nada para ajudar e que meu contato com você apenas estava piorando a situação. Você não faz ideia do quanto foi difícil para mim aceitar que era a melhor coisa a se fazer... Mas eu sempre me mantive informado, perguntava sobre você para minha mãe e pedia a ela que te dissesse que eu estava com saudades, que logo estaríamos juntos novamente e...

K: Ela nunca me disse nada... só que você estava ocupado estudando e trabalhando, e que andava muito cansado.

R: Eu... Kim... ela me confessou que fez isso. Me disse que não passava meus recados porque achava que seria melhor pra você se desapegar um pouco de mim, para que você pudesse conhecer novas pessoas e continuar sua vida enquanto não pudéssemos estar juntos de novo. Mas ai você já tinha quase 16 anos, já era um homem e te conhecendo como conheço, eu tinha certeza de que estaria magoado. Só não imaginei que fosse tanto... Eu me acovardei, fiquei com medo da sua reação ao me ver depois de tantos anos. Eu tive medo de ver raiva estampada nos seus olhos e de que você me recusasse. Fui um idiota, porque agora estou pagando em dobro por minhas más escolhas. Você não sabe o quanto me dói ser alvo dos seus olhares de mágoa e desprezo, mas pior ainda é ser ignorado pela pessoa mais importante na minha vida.

K: Eu já ouvi o suficiente.

Me ergui, pronto para sair da sala, mas Raphael segurou meu pulso.

R: Eu ainda não acabei, Kim. Por favor, me deixa falar...

Voltei a sentar, olhando para o chão.

R: Quando eu te vi parado aqui na porta da minha casa foi como se um peso enorme fosse tirado das minhas costas. Kim, essas coisas não acontecem por acaso. Se o destino nos colocou de novo no mesmo caminho, tem que ser porque ainda temos muito pra viver juntos. Eu não espero que você me perdoe da noite para o dia, mas eu gostaria que me desse uma chance de tentar consertar as coisas. Aquele dia que você apareceu aqui com o André, rindo e se divertindo foi tão especial. Você não imagino como foi importante pra mim te ver sorrindo de novo. Me deixa tentar voltar a ser parte da sua vida?

Ele passou a mão com força sobre o rosto, removendo uma única lágrima que rolava e me olhou, esperando uma resposta que eu não tinha condições de dar.

K: Você já terminou? Então eu vou para o quarto.

Saí da sala, deixando-o imóvel no sofá e me tranquei no quarto, ligando para Higor imediatamente. Ele se mostrou preocupado pela falta de emoção na minha voz. Realmente eu não sabia o que sentir. Não havia mais lágrimas a serem derramadas e nem raiva a ser liberada em forma de explosões. Só restara a confusão, eu me sentia perdido, não sabia o que pensar daquilo tudo. Tinha sido traído por duas pessoas tão importantes em minha vida, em parte por se preocuparem comigo e em parte por covardia. Sim, porque minha tia também tinha sido covarde ao não me contar o que fizera mesmo depois de eu estar morando sob o mesmo teto que meu primo. Ela apenas deixou que eu convivesse e lidasse com o problema. Não sei quantas vezes repeti baixinho “preciso de você” para Higor, até que ele conseguiu me acalmar, como sempre fazia, e me aconselhou a não tomar nenhuma atitude precipitada, a apenas pensar sobre o assunto durante o tempo que eu precisasse. E foi isso que fiz.

A semana se arrastou enquanto eu passava os dias no quarto pensando. Falava com Raphael se nos esbarrávamos pela casa, mas não passavam de duas ou três palavras por vez. Eu também evitava olhá-lo. Já no final de mais uma semana, minha tia apareceu no apartamento e conversou comigo durante algum tempo. Escutei mais uma vez tudo o que meu primo me contara, além de seus pedidos de desculpas. Ela se dizia arrependida e me pediu que não culpasse Raphael por seus erros. Novamente escutei tudo calado, e apenas pedi que ela se retirasse depois de terminar. Fiquei pensando em tudo o que ela me dissera e acabei com um único pensamento em mente: a culpa de tudo aquilo era dela. Entendam, eu precisava culpar alguém. Não estava pronto para simplesmente perdoar e esquecer.

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~ amei os comentários, meus bens!!! comentem mais, quero ver pra quem vai a torcida... parece que o Higor tá ganhando! hahahaha, vamos ver se esse jogo vai virar. até amanhã ~

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Comentários

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Maravilhoso como sempre..........Eu sei que Raphael não tem culpa mas acho que Kim devia ficar com o Higor pois eles se amaram se apoiaram e são amigos ao longo de vários anos.

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Sensacional! Mas uma coisa ainda me intriga, cadê a namorada do Raphael que não aparece ?? Mulher é um bicho curioso...

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Sinceramente, o Rafael não tem culpa, muitas pessoas podem até pensar que ele foi covarde, mas, vejo de outra forma isso. Ele pensou que se afastando do Kim, talvez fosse a forma dele ficar em paz, e funcionou em partes. Eu quero muito quem o Kim fique com o Rafael.

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O Kim pelo visto ainda ama muito o Rafael.

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Nossa o Raphael tem Namorada e que o kim isso não Dar que o Kim fique com o Higor

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Heitor é um fofo e merece todo amor e valorização.

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essa vaca não é uma mãe e sim um monstro. a tia dele errou mútuo.

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Não posso culpar o Kim, por ser frio com o Raphael, faria o mesmo, a mágoa é muito grande.

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LEIA-SE 'GRANDE' ONDE SE LÊ 'RANDE' E LEIA-SE 'PARECE' ONDE SE LÊ 'MARECE'

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GENTE, ESSE HIGOR NÃO EXISTE. SE EXISTE EU QUERO PRA MIM E NÃO LARGO NUNCA MAIS. LÓGICO QUE RAPHAEL IRIA TENTAR SEDUZIR KIM COMO TB É LÓGICO QUE O BABACA VAI ACABAR CAINDO NA CAMA DELE. POBRE HIGOR CORNO. MAS VC TEM A MIM HIGOR. RANDE E ESFARRAPADA DESCULPA QUE RAPHAEL CONTOU. SEM CONTAR QUE AINDA NEM MENCIONOU A TAL NAMORADA MAIS UMA SAFADEZA DELE. NÃO, KIM DE JEITO NENHUM, A CULPA NÃO FOI DA SUA TIA. SE TEM UM CULPADO NESSA HISTÓRIA É ÚNICA E EXCLUSIVAMENTE O RAPHAEL. MAS MARECE QUE VC JÁ ESTÁ CAINDO E RETIRANDO A CULPA DELE E JOGANDO NA SUA TIA. ASSIM FICA FÁCIL VC PERDOAR NÉ? RSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS TUDO BEM, PODE FICAR COM O RAPHAEL VOCÊS SE MERECEM. ASSIM O HIGOR FICA LIVRE PRA MIM SEU BABACA. SUA TIA SEMPRE PASSANDO PANOS QUENTES NAS BURRADAS DO FILHO DELA. MAS MÃE É ASSIM MESMO. MENOS A DEMÔNIA DA QUE SE DIZ SUA MÃE. OPS, ESQUECI CLARO QUE RAPHAEL PEDIU AO ANDRÉ PRA FAZER O QUE FEZ. TAVA TUDO COMBINADO. QUE PAPEL ESTRANHO ANDRÉ FEZ. É HETERO E FICANDO DE BABÁ. POR MIM VC NÃO DEVERIA TER SAÍDO COM O ANDRÉ, PODERIA TER CONHECIDO A PRAIA NUMA OUTRA OPORTUNIDADE. DEVERIA CONTINUAR IGNORANDO RAPHAEL. ELE PRECISA SENTIR NA PELE O DESESPERO E INFERNO QUE VC PASSOU JUNTO COM MÃE DEMÔNIA.VC RAPIDINHO MAS VC JÁ RAPIDINHO CAIU OS OLHOS PRA CIMA DELE DO ANDRÉ. LOGO, LOGO NEM RAPHAEL NEM HIGOR VC VAI ACABAR FICANDO COM O ANDRÉ. RSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS ISSO AINDA VAI RENDER. AQUI CURIOSO PELO DESENROLAR DOS FATOS. CONTO TÁ SENSACIONAL.

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