~ continuando ~
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Acordo com a porta sendo aberta com força e o branquelo joga na cama a latinha de suco com o pão e sai.
Na hora do almoço, mais uma vez é o branquelo, um marmitex frio me é entregue, ele espera que eu coma, devolvo os talheres e ele sai.
Muitas horas depois a porta se abre e posso vê-lo. Minha vontade é correr para os seus braços, mas alguma coisa na sua atitude está fria, distante, ele evita me olhar.
- Te deram almoço? - Ele pergunta sem se aproximar
- Sim, está tudo bem?
- Trouxe seu jantar, coma que preciso levar os talheres.
- Não ia falar com o pai?
- Não precisa, já finalizei tudo. Não nos veremos mais, amanhã pela manhã trazem seu café e vou mandar deixarem um sanduíche também, não coma logo, porque depois disso, da próxima vez que aquela porta se abrir, será um policial, e não sei se chegarão rápido, pode sentir fome, guarde o sanduíche para o caso de precisar, senão deixe ai, na sua casa terá coisa melhor para comer, e obrigado por se comportar, não queria mesmo ter que te machucar. Para falar a verdade sei que não conseguiria, mesmo se precisasse. Sei também que falei um pouco demais...
- Eu não vou falar, tem a minha palavra. - Eu o interrompi
- Eu até acredito, mas não se complique, estarei fora de circulação até tudo se acalmar. - Não vai comer? - Ele pergunta vendo o marmitex intocado.
- O que aconteceu? Porque está me tratando assim? Eu fiz alguma coisa?
- Fez, fez sim, coma, preciso ir.
- Me explica isso - Peço me aproximando dele - Você mesmo disse que aprendo rápido, não vai te atrasar. O que foi? Foi por causa do boquete, você se arrependeu? Não gos... - Seu dedo cobre minha boca, me silenciando.
Pela primeira vez tenho dificuldade de fazer o que preciso fazer. Ele dá um passo em minha direção.
- Você tinha mesmo que ser tão gostoso? Tinha que ter essa cabecinha boa, esse coração nobre? Porque não é só mais um filho da puta metido a besta? Um idiota cheio de dinheiro? - E chega pertinho de mim - Teria sido tão fácil se você fosse só mais um mauricinho babaca, enquanto eu sentia só pena estava fácil - Ele continua dizendo e seus dois dedos, indicador e polegar passando pelo meu rosto, contornando-o. - Precisava ganhar meu respeito? - Ele passa seu dedo polegar em meus lábios, passo a pontinha de minha língua nele e ele já está encostado em mim, levanta o capuz um pouco e posso ver sua boca chegando, seus lábios úmidos, sua boca entreaberta, sua língua molhadinha, posso ver que engole a seco olhando minha boca. - Precisava... - Ele sussurra e não termina, e simplesmente me beija, me dá um beijo fabuloso.
Sua mão pega meu corpo, posso sentir sua força, seus músculos, o calor de seu corpo me excita e chego a ficar sem ar. Seu beijo não é suave, mas faminto, ele chupa o ar do meu corpo, morde meus lábios, sua língua não me invade grosseiramente, mas sim me conquista, cada pedacinho da minha boca é tocado por ela, que me pega com tesão, esfregando seu pau no meu, os dois completamente duros, mas tinha mais, tinha ansiedade, ele não enfiava a mão, ele apertava como se quisesse um pedaço para ele, sua mão entra por baixo da minha blusa e aperta meu corpo, sem dor mas com força, não doía mas era doloroso, porque seu toque era angustiado, como se quisesse nos fundir, minhas mãos procuram seu corpo, por alguns segundos toco seus ombros largos, mas ele se separa tão logo o toco.
- Cuidado, não deixe eles te pegarem - Digo com as lágrimas escorrendo
- Não vão, meu príncipe, e se cuida, não adianta nada ter tanto e não ter nada. Pensa nisso. Você só tem que dar as ordens certas. Pare de obedecê-las, passe a dar essas ordens, cada um deles é SEU empregado, procure se lembrar disso.
- Hum rum
- Você é a coisinha mais linda que já vi, quase desisto achando que não ia resistir, e quase não resisto mesmo, não viva a vida de seus pais - Ainda ouço.
- Vou tentar - Digo sinceramente
- Não é o que esperava ouvir daquele que ainda será o melhor empresário desse país - Ele diz sério.
- Não vou viver a vida deles - Digo e vejo que seus olhos brilham
- Agora sim - Posso ouvi-lo dizer. - Quer um último conselho?
- Você gosta de dá-los - Digo rindo
- Não, não gosto, você me faz fazer coisas impensáveis. Mas se quiser mesmo um sanduíche que presta vá no shopping (diz o nome), procure a loja (diz o nome da loja) e peça o duplo da casa. Aquilo é sanduíche, não essa porcaria do Mcdonalds.
- Não vou esquecer, cuidado com oferecimentos repentinos de meus desejos, provar o duplo da casa da "repito o nome da loja". Ah, vou pedir a Silvinha, vou receber um book novo.
Ele fica me olhando um tempo, brinca com meus cabelos um pouco e quando está saindo eu o chamo.
Ele volta e fica pertinho de mim
- Que foi? - Ele pergunta
- Te conhecer foi do caraaaaaaaaalho.
Posso ver que ele dá uma piscadinha gostosa, mas posso ver principalmente seus olhos, completamente negros, se enchendo d’água, ele pisca, se vira e sai pela porta.
Passo aquela noite tentando entender aquilo tudo, entender com alguém com a vida tão diferente da minha pode estar tão certo, como posso ter me sentido tão próximo dele, como um marginal pode ter atitudes tão corretas e coerentes, como será minha vida a partir do dia seguinte? Em algum momento durmo e acordo com a porta abrindo, vejo uma latinha de suco, outro pão com manteiga, um sanduíche e um copo de coca e como ele orientou, como só o pão com o suco.
O que estaria acontecendo? Penso com o ouvido na porta, silêncio absoluto. Tenho fome algumas horas depois e como um pedaço do sanduíche e tomo um pouco da coca, algum tempo ainda se passa até que a porta se abre violentamente, arrombada por um policial que entra aflito.
- Você está bem rapaz? Ele está bem, tudo limpo, ele está bem - Posso ouvi-lo dizendo no rádio.
O policial me leva até o carro me oferecendo um cobertor. Posso ver mais carros chegando, mas, rapidamente sou levado dali e algum tempo depois estou vendo minha casa de longe e quase peço que não me levem para lá.
- Por favor - Digo embrulhado no cobertor, sozinho no banco de trás do carro dos policiais - Outro cativeiro não, digo com as lágrimas escorrendo.
- Fica tranquilo rapaz, você só está confuso, esta é sua casa, daqui a pouco estará bem - Ele diz gentil, mas não acredito.
Já posso ver as cercas elétricas, posso ver em minha mente as grades nas janelas, as câmeras de circuito fechado em todos os cômodos e depois disso, tudo deve ter sido triplicado, me deito no banco e começo a chorar, mas não era de medo, eu sabia o que era, era saudade, eu já sentia falta dele, a cada metro, mais distante ficava dele e a certeza de nunca mais vê-lo queimava meu peito, pesava meu coração, a incerteza de sua segurança me apavorava.
O carro para, mas nem quero sair, um dos seguranças abre a porta e começa a me carregar.
- Não, eu posso andar - Digo inutilmente.
Sou carregado e logo vejo minha mãe aos prantos, meu pai tenta parecer tranquilo, mas está nervoso também, afinal, seu herdeiro, seu único herdeiro havia corrido um grande risco.
Lembro dele.
- Me ponha no chão - Falo enérgico e o segurança me olha surpreso, me põe no chão e entro andando em minha casa. "- É verdade", penso lembrando de suas palavras, "- Eu mando aqui.".
- Meu Deus, o que fizerem com meu menino? - Ouço a mãe dizer, vendo meu rosto ainda inchado.
- Está tudo bem agora - Ouço o pai.
“Tudo bem”, continuo pensando: “Deveria estar, não é mesmo?! Então porque não sinto isso?”
Aquela semana foi uma loucura, exames de corpo de delito, médicos, policiais perguntando e tornando a perguntar.
- Vocês têm alguma esperança de pegá-los? - Pergunto ao delegado. - Tem alguma ideia de quem possam ser?
- Contamos com você para isso, nos ajude meu rapaz, só assim poderemos pegá-los. Você não se lembra de ouvir nenhum nome, algum apelido talvez?
- Não - Eu repito.
- Alguma característica? Procure se lembrar de qualquer detalhe - O investigador insiste - Olhos, cabelo, boca, talvez alguma cicatriz na mão, nos braços.
- Já disse, um negro grande de olhos escuros, um branco de olhos escuros, um parrudinho branquelo de mau hálito e estavam todos encapuzados - Respondo pela enésima vez.
- Falaram como souberam de você?
- Eles não falavam comigo, só me bateram, o negro quando perguntei alguma coisa e entendi que era melhor ficar calado.
- A comida, lembra de alguma sacola, nome no guardanapo?
- Não me davam guardanapo, recebia um marmitex aberto. Pai, já chega, não quero repetir tudo, não sei de nada, não vi nada, quero acabar com isso.
E assim, com a influência de meu pai, acabaram os interrogatórios policiais, “infelizmente” eu não de sabia que pudesse ajudá-los. Lembro de seus olhos lindos toda hora, o queixo quadrado, quando tirou o capuz, ele de costas, vi seus cabelos encaracolados, pretos, e quando me beijou, sua boquinha carnuda, rosada, seus dentes clarinhos, tão certinhos, seu hálito tão bom, seu corpo saradinho, seu cacete furando a calça.
- Não me façam repetir pela milésima vez, não vi nada, não sei de nada, e esta será a última vez que falarei sobre isto - Digo para o chefe dos meus seguranças - Essa conversa acabou aqui e agora.
Começando a segunda semana estou em casa, no sábado, chamo o Tomás.
- Quero sair, vou ao shopping (digo o nome).
- Filho, diga o que quer que mando buscar - A mãe diz.
- Quero sair, mãe, estou me sentindo preso aqui, preciso dar uma volta, quero ver gente.
- Filho... - A mãe começa
- Deixa ele ir - O pai diz, ele chama a matilha e em dois carros vou atrás do tal duplo da casa.
Encontro o lugar facilmente, é onde está a moçada, lugar animado, gente bonita, barulhenta.
- Vou entrar com a casa cheia - Digo quando vejo um dos seguranças querendo esvaziar uma parte da casa.
- Mas senhor... - Ele começa a dizer
Eu vou entrando sem esperar e logo arrumam uma mesa e peço o duplo da casa.
Putz nunca vi nada igual, aquilo era fabuloso, cinco andares do melhor sanduíche que já vi ou comi na vida. Mal consigo comer tudo, simplesmente deliciado.
- Bom, senhor?! - Um dos seguranças pergunta
- Bom pra caralho - Digo e ele me olha surpreso. - Pede para vocês - Digo para ele, que sacode a cabeça, agradecendo.
Tomei duas cocas e começa a voar aviãozinho de papel para todo lado. Me divirto vendo aquilo e logo um avião pousa na minha mesa. Um dos seguranças tenta pega-lo, mas eu o pego primeiro.
- Fique tranquilo, não tem nenhuma bomba - Digo balançando o aviãozinho e só eu vejo que tem algo escrito nele. Continuo comendo e brinco com meus seguranças - Vamos ver qual de vocês consegue fazer um avião voar, peguem guardanapos - Digo e eles me olham - Vamos rapazes, estou esperando - Digo vendo cada um pegar um guardanapo e tentar fazer um avião, enquanto disfarço e como se quisesse aprender, abro o avião em minha mão.
Claro que com o papel de guardanapo nenhum avião deles voou, mas eu os ocupei e pude ler:
"- Meu príncipe, ficou ótimo o novo corte de cabelo e vejo que já tem voz de comando na matilha. Parabéns, é um grande progresso. Sei que vai voltar, esse sanduíche é demais, não falei?!
Seu súdito apaixonado."
Sinto meu coração bater acelerar, minhas mãos ficarem suadas, olho em volta, será que ele é o dono? Um dos fregueses? Estaria em alguma loja ao lado? A praça de alimentação estava cheia, podia ser qualquer um...
Não importa, dobrei de novo o avião e o guardei no bolso. “Eu voltarei aqui, disso eu tenho certeza.”
Saindo da casa vejo, à frente uma sex shop. "- Será????????"
Volto uns poucos passos e fico olhando a loja e posso jurar que vi alguém se afastando rápido da vitrine pela parte de dentro.
Olho em volta como que procurando algo e comento com um dos rapazes.
- Gostei daqui, vamos voltar!
No dia seguinte, domingo.
- Pai, gostaria de ver aquele book das garotas?
- Claro, filho, estava mesmo pensando nisso, está na hora de voltar a viver. Quer que peça ao Tomás para mandar alguém?
- Não, eu mesmo quero escolher - Vejo que ele me olha surpreso e logo o Tomás vem com o book, passo os olhos e mostro a Silvinha.
- Quero essa, quando a chamar peça um novo book, diga que quero algumas outras opções. Quero ver alguns dos rapazes.
O segurança intervém.
- Talvez devêssemos conversar a respeito.
- Não me lembro de lhe perguntar nada. Estou lhe dando uma instrução, cumpra, por favor. Quem eu ponho na minha cama não lhe diz respeito.
- Ele está certo, Tomás - O pai diz - Depois dessa experiência ele vai querer se divertir um pouco. Faça o que ele lhe pediu.
- Outra coisa - Digo – Mãe, como se chama nossa cozinheira?
- Não sei filho, quer pedir algum prato especial?
- Sim, quero falar com ela, peça que venha aqui. - Digo ao segurança. - Como ela chama?
- Tereza, senhor.
Logo chega a Tereza.
- Boa tarde senhor.
- Como vai, Tereza? Quero lhe pedir algo. A partir desta semana quero um dia de comida nacional simples.
- Como? - Ela pergunta junto com minha mãe.
- Mãe, lembra daquele japonês, imundo, com aquela comida horrível. A senhora me ensinou que quanto pior a experiência, mais se tem a aprender com ela. Lembra-se?
- Claro, filho - Ela responde, ainda surpresa.
- Não acho que passarei por nada pior na minha vida - Digo sabendo que era mentira, mas que ela entenderia como eu queria, então tenho que aprender algo. - Comi coisas interessantes e quero conhecer o que mais existe. Não é a comida que meus pais gostam - Digo olhando para a Tereza - Então fazemos somente uma vez por semana... Tereza, comi uma coisa chamada abobrinha, gostei muito, também mostarda. Mãe é uma verdura escura apimentadinha, muito bom. Se tiver dificuldades com esse tipo de culinária podemos contratar mais alguém - Digo para a Tereza.
- Não, senhor. Eu farei.
- Então é isso e não quero que complique a comida. Comi todos esses dias, se não for igual mandamos buscar em um restaurante popular. Ah, comi carne moída, achei ótimo, e uma carne cozidinha com batata, também gostei muito. Gostei também do feijão com uma carne nela, parece linguiça, não é feijoada, nem o feijão é o preto é mais simples e não é aquela linguiça de churrasco.
- Sei do que fala senhor, deve ser paio, vou providenciar.
- Obrigado, Tereza. Ah, outra coisa... - Digo e ela volta.
- Quero pão no meu café da manhã. Aquele pão comum que vendem em padaria, ponha um ou dois na mesa. Por favor.
- Pão francês? - Ela pergunta
- Acho que é isso, e manteiga. - Ela me olha curiosa. - Algum problema? - Pergunto
- Não senhor, vou providenciar - E ela volta para a cozinha.
- Você está certo, filho - O pai diz - E estou te achando diferente, mais dono do seu nariz, mais certo do que quer. Essa experiência foi terrível, mas você cresceu com ela.
- É quando me bateram, devem ter colocado meu nariz no lugar - Digo brincando, mas estava percebendo que estava tomando a rédea, assumindo o comando e estava gostando muito disso.
Silvinha vem à noite, logo que chegou ela traz um envelope fechado.
- É um novo book, com quem deixo? - Ela pergunta ao segurança.
- Comigo - Digo - Sou eu que uso e fui eu quem pediu. Venha comigo, por favor - Digo levando-a para o meu quarto.
Foi muito melhor que das outras vezes e ela parecia ter recebido alguma instrução, nem cuspiu minha gala, caprichou mais, na verdade foi realmente bom.
- Mandaram algum recado para mim? - Pergunto para ela deitada em meu peito.
- Não, somente o novo book - Ela diz
- Quer sorvete? - Pergunto compreendendo como ele soube da minha paixão por eles.
Ela sorri concordando. Sempre tenho no frigobar do meu quarto, tomamos, transamos mais uma vez e ela vai embora.
Logo que ela sai, me sirvo de mais um pouco de sorvete e deitado em minha cama vou ver o novo book. Como nunca vi aquele pequeno beija flor no alto de cada página?
Passei rapidamente pelas meninas, notando que tinham mesmo algumas caras novas e parei no primeiro rapaz. Meu pau logo acorda, cada homem mais gostoso que o outro.
"- Hoje não, mas o próximo final de semana será muito bom" - Penso brincando com meu pau duro.
Naquela semana voltei à faculdade. Na segunda cedinho, chamo o Tomás e aviso que o segurança dentro de sala não entra mais.
- Mas senhor!!!
- Tomás, não quero mais ninguém na sala comigo e acho que só um na porta, vamos tentar com um e depois voltamos a conversar. Se quiser deixar mais algum no carro é com você.
- Senhor tenho ordens de sua mãe.
- Estou mudando essas ordens, Tomás.
Naquele primeiro dia, claro que todos na sala estranharam a falta do segurança e estava com uma tala no nariz, que apesar de não ter quebrado foi imobilizado pelo médico.
O primeiro professor a entrar me vê na sala e vem falar comigo.
- Bom dia - E diz meu nome - Está tudo bem rapaz? Estava no exterior de novo? Assim vai prejudicar seus estudos, já está quase acabando, só mais um pouco de paciência.
- Não, senhor - Digo falando com ele, mas vejo que todos estavam atentos. - Sei que meus pais disseram que viajei, mas na verdade fui sequestrado, é que precisavam manter a imprensa afastada. - E ouço um burburinho. Alguns ali já haviam tido algum parente ou amigo nessa situação.
- O que foi isso no seu nariz? - Ele pergunta
- Um crioulo de 2 por 2, me sentou a mão, mas antes de casar sara - Digo brincando.
- Deixe ver se entendo - Ele diz - Sempre teve segurança ostensiva, logo depois de um sequestro, ela diminui? Eu entendi direito?
- Sim, fiquei tanto tempo preso que tive tempo para entender que aquilo tudo era um grande exagero. E também vou fazer os trabalhos em grupo, se algum grupo me aceitar - Digo um pouco mais alto olhando para a classe.
Logo um rapaz, bonito umas duas cadeiras atrás, pula para a cadeira vazia logo atrás de mim e me estende seu braço.
- Sou Pietro, tem um lugar no meu grupo.
- Obrigado - Digo sorrindo, aceitando sua mão e oferecendo a minha.
- Meu irmão foi sequestrado tem uns dois anos, é barra né?! Posso te emprestar meu caderno ou revemos a matéria juntos - Diz uma garota loirinha na fileira ao lado. E aquela semana, devagar, fui sendo aceito pela sala.
Toda hora um chegava perto e falava algo comigo. Perguntavam sobre o sequestro, sobre minha vida.
Cheguei uma manhã e tinha um bombom sobre minha cadeira. Comi devagar e ao terminar levanto a mão com o papel e agradeço em voz alta. Mais tarde recebo um bilhetinho que havia sido passado de mão de mão, onde pude ler:
“- De nada, lindeza”, definitivamente uma letra masculina.
Aquilo nunca teria acontecido com o segurança nas minhas costas. Pode parecer tolice, mas jamais havia recebido um único bilhetinho, me senti parte de um grupo, pela primeira vez em muitos anos.
Me enturmei rapidamente com o grupo do Pietro, infelizmente hétero e com uma namorada supersimpática, nem tudo podia ser como em meus sonhos!!!!!! A garota, que ofereceu o caderno, a Fernanda, também fazia parte do mesmo grupo, no intervalo, pedia para um dos seguranças para comprar algo para nós e ficávamos conversando. Cheguei a tomar uma cerveja no bar, ao lado da faculdade, claro que tinham dois seguranças na mesa conosco, mas estava adorando aquela novidade, toda aquela “liberdade”.
Mamãe veio conversar e tentar me convencer a voltar com os seguranças.
- Mãe, essa fase acabou, no ano que vem estarei fora do país fazendo meu mestrado, está na hora de aprender a viver.
- Vou pedir para pesquisarem sobre o pessoal do seu grupo - Ela diz.
- Não precisa mãe, mesmo que ache alguma coisa teremos que estudar juntos. Então não gaste tempo ou recursos com isso. Irei na casa do Pietro na sexta - Digo para o Tomás - Acho que dois seguranças são suficientes. Ah, também vou trazê-los aqui no próximo trabalho, preciso de mais dois computadores na sala de leitura, coloque-os em rede, Tomás.
Vejo o Tomás olhando para a mãe, que balança os ombros.
- Meu menino cresceu, Tomás, faça como ele quer.
“Puta que pariu, nem acredito que é tão fácil”, penso. Ele está certo, eu simplesmente aceitava.
Descobri que não eu tinha que pedir como costumava fazer, eu tinha que determinar. Se pedisse eles poderiam recusar, uma ordem minha não podia ser negada e isto se aplicava até na minha mãe. Minha educação era de sua responsabilidade até eu ser adulto, o problema é que eu não me mostrava adulto e ela continuava dando as ordens, até que eu tomei o controle, fiquei realmente surpreso quando entendi.
Isto ficou realmente claro quando o pai me chama na biblioteca. Raramente entrava lá, chamávamos de biblioteca, mas era o escritório dele, quando estava em casa. Pude perceber que muita coisa havia mudado desde a última vez que estive por lá.
Havia agora um escritório montado em um dos lados, com computador, impressora, fax, escâner, uma mesa de reuniões grande, um bar circular muito bonito e uma sala de visitas confortável e foi para lá que o papai me levou.
- Filho, soube que mudou o trajeto do carro. Lembre-se, da última vez que fez isso o problema que nos trouxe. Preciso que pense melhor antes de dar uma ordem. Nesse caso poderia ter consultado o segurança sobre uma possível alteração na rota e não se veriam naquela situação.
- Desculpe realmente pai, estava com a cabeça quente, minha monografia está me deixando quase louco e quis dar uma arejada. Vou tomar mais cuidado - Digo sem graça.
Explicando: Voltando da faculdade, simplesmente mandei o motorista entrar em uma rua e nos vimos no meio de uma manifestação. Demoramos um tempão para sair de lá, o carro foi cercado, meu motorista precisou solicitar ajuda. Levou cerca de duas horas para conseguirmos sair em segurança.
- Filho, te trouxe realmente aqui por causa de sua mãe. Ela está ansiosa. Sua mãe te adora e preciso que vá com calma com ela.
- Não me lembro de ter feito nada - Digo rapidamente.
- Você cancelou todas as ordens dela e nem a consulta para mais nada.
- Pai não sou mais criança, nem preciso...
- Eu sei - Ele me interrompe - Concordo plenamente com você, mas algumas vezes temos que fazer de conta que obedecemos. Quando se casar vai entender do que falo. Filho, estou adorando todas essas mudanças em você, ainda acho que deveria ir mais devagar, mas estava com medo de não conseguir assumir seu lugar ao meu lado. Peço que me perdoe pelo que vou dizer e jamais repita isso para sua mãe, mas bendita seja a hora que te levaram daqui. Não me odeie por isso filho, eu te amo, sei que não lhe disse isso muitas vezes, mas sempre achamos que o obvio não precisa ser dito, mas nunca duvide de meu amor, sei que se machucou e que deve ter sido terrível tudo que passou - E eu o interrompo e nos abraçamos.
- Não diga nada pai, nem se desculpe, eu entendo perfeitamente e concordo com o senhor. Só fui entender realmente como era inútil e vazia a minha vida, preso naquele quartinho. Irei com mais calma sim e que sugestão me dá sobre a mãe? - Pergunto sentindo seu carinho, seu interesse.
- Só posso lhe dizer como eu faço. Eu a consulto algumas vezes, deixo que ela fale o que pensa, como acha que deve ser e faço do meu jeito. Tomás sabe que a última palavra é minha, e antes de cumprir qualquer ordem, me consulta longe dela e a maior parte das vezes ela nem sabe como tudo se resolve, e mais importante, se for algo da casa, deixe que ela resolva, se precisar mudamos depois, com jeitinho, sem magoá-la. Por exemplo: Vai trazer os colegas para um trabalho, avise-a, peça que ela cuide do lanche de vocês, parece tolice, mas ela vai se sentir responsável, ocupada com alguma coisa que lhe diga respeito. Pergunte o que ela acha do seu mestrado, mesmo que já tenha resolvido. Peça sua opinião quando o alfaiate estiver provando algum terno, ou uma camisa nova. E filho, poderá se surpreender com a opinião dela. Sua mãe não é uma tola, só é um pouco fútil, mas acho mesmo que é da própria criação, ela nunca trabalhou, nunca teve que tomar decisões. Você era sua única responsabilidade e agora simplesmente você não precisa mais dela. Sua mãe se sente perdida. Soube que pediu para trocar alguns quadros no seu quarto. Porque não pede a opinião dela? Ela tem muito bom gosto e a mão muito mais aberta que a minha - Ele brinca. - Às vezes peço que ela me ajude na escolha do tecido do novo terno, que nem estou precisando, ou a redecorar alguma sala e passo meses sem entrar nela depois, mas precisamos fazer com que ela se sinta necessária em nossas vidas. Que se sinta tranquila, e se possível, feliz ao nosso lado. - Ele continua - Sua mãe não é só a mulher que me deu meu herdeiro, não quero trocar de esposa a cada ano como fazem meus amigos. Nem tenho saco para isso. Sua mãe é educada, bonita, uma dama, exatamente do que eu preciso, gosto dela, não temos essa paixão louca como se vê em filmes, mas nos respeitamos, procuro nunca a magoar e se possível tento tornar a vida dela agradável. Não pense que sou um mau marido, tomo todo cuidado para que ela nunca veja o meu book. - E ele me dá um sorriso sem graça. – Filho, espero que entenda o que estou tentando te dizer, não quero uma amante, que possa estragar meu casamento, não quero ninguém além dela para me envolver, mas também gosto de um pouco de diversão, pago por ela e volto para a minha esposa, por favor, procure não me julgar.
- Entendo sim, pai, e não o estou julgando. O senhor encontrou a sua maneira de ser feliz sem magoá-la, faz sentido para mim
- Sobre os seus seguranças, veja como eu faço... - E fica um bom tempo me explicando como ele comandava sua própria matilha. Uma hora chama o Tomás e ficamos os três conversando.
O pai ia fazer uma viagem e precisava acertar como seria a segurança e eu acompanhava suas ordens, cheguei mesmo a dar um ou outro palpite acertado.
Naquele dia eu entendi em sua plenitude, eu dava as ordens, e seria obedecido, qualquer que fosse ela, por isso nos metemos em confusão aquele dia, o motorista não podia simplesmente dizer que não iria fazer o que eu havia pedido.
O pai me contou, que ainda adolescente se desentendeu com um colega de faculdade e pediu a um de seus seguranças que desse um susto nele. O segurança excedeu-se e o rapaz ficou paraplégico.
- Filho, convivo com essa minha ordem até hoje, ele não sabe que fui eu que lhe conseguiu um excelente emprego, e muito menos que no ano passado sua esposa foi contratada por uma indicação minha, não interessa o quanto eu tente ajudá-lo, sempre que o vejo naquela cadeira, sei que está lá por uma leviandade minha. Você será obedecido, seja qual for a ordem que der, tome cuidado, aquele rapaz aparece até hoje em meus pesadelos, não faça isso com sua vida. Cerque-se de pessoas competentes, para que possa pedir e confiar em sua orientação, e conte comigo se tiver dúvidas. O poder encanta, mas pode dominá-lo também. Veja seus primos, na dúvida, pense se quer isso para sua vida.
Aquela conversa com o pai foi ótima e refletiu em nosso relacionamento pessoal e profissional.
Naquela semana participei de uma reunião empresarial, não fiquei ao seu lado como ouvinte ou aprendiz.
Pela primeira vez, enquanto ia para a reunião me foi apresentada a pauta da mesma com algumas informações preliminares e manuscrito, pude ler sua opinião e o que esperava dela e cheguei sabendo do que trataríamos e com quem, e mais de uma vez ele me consultou, como faria a um assessor, ou explicou suas ideias, como faria ao seu vice presidente.
Voltando desta mesma reunião, que ocorreu as 14 horas, eu voltei de helicóptero para a aula, tinha uma prova as 16h e tem heliponto na faculdade.
Entrei e prova já havia começado, mas o professor permite minha entrada.
Estava de pé ao lado de minha cadeira, tirei o paletó do terno colocando no encosto e quando estava soltando a gravata ouço um assobio:
- Fiu fiu.
Tirei a gravata, a rodei no ar e dei uma reboladinha, girando o corpo rindo. A sala adorou, saiu assobio de todo lado e rimos todos, nos divertindo com aquilo.
- Parece que foi ótima a sua reunião - Brinca o professor - Mas prefiro que deixe o resto da roupa. - E ouvimos um "- ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh" geral.
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~ olá, pessu!!! obrigado pelos comentários, vim mais cedo hoje também heheh, final de semana ainda consigo vir mais cedo, mas de semana é foda... espero que gostem deste capítulo, até amanhã <3 ~