~ continuando ~
O mês de novembro foi perfeito para nós. Depois das aulas eu ia pra casa de Higor quase todos os dias e passávamos o dia todo juntos. Eu o ajudava a se preparar para mais provas de vestibular que estavam por vir e, apesar de ficar um pouco triste por não estar fazendo vestibular também, estava muito feliz por ele, que parecia animado com a ideia de passar para uma faculdade federal. Apesar de toda a felicidade que eu estava sentindo com a nova situação, a cada dia ficava mais claro pra mim que eu teria que ir embora. Mesmo que os pais de Higor me convidassem para morar lá, como ele sempre dizia, eu acabaria tendo que arrumar um emprego para ajudar nas contas, pois nunca ia me sentir confortável sendo sustentado por eles.
Dezembro já havia começado e nós tínhamos chegado na casa de Higor depois do último dia de aula. Ele estava muito feliz, me deixou em seu quarto, ou talvez fosse melhor chamar de nosso quarto, e foi ao banheiro. Comecei a olhar tudo ao meu redor, prestando atenção em cada pequeno detalhe. Agora havia duas cadeiras em sua mesa de estudos, uma parte de seu armário estava cheia de roupas, sapatos e outras coisas minhas, seu porta-CDs agora tinha vários CDs das bandas que eu gostava e na mesinha de cabeceira havia uma foto nossa. A cama nunca estava feita, até a empregada da casa desistira de fazê-la e as janelas sempre bem abertas, para ventilar enquanto eu dormia. Eram pequenas mudanças que deixavam claro que aquele quarto se tornara tão meu quanto dele durante aquelas semanas, e aquilo parecia ser mais do que certo. Sentei na cama, pegando o porta-retratos e observando o grande sorriso de Higor, que me abraçava, enquanto eu sorria de canto, como sempre faço, nunca estando muito confortável com a câmera apontada pra mim. Ouvi Higor entrar no quarto, mas não desviei o olhar da foto.
H: O que você acha de prepararmos uns sanduíches e... Kim, por que você está chorando?
Me dei conta das lágrimas que escorriam por meu rosto e tentei secá-las rápido, mas ele já estava se ajoelhando na minha frente e retirando o porta-retratos de minhas mãos. Segurou meu rosto, secando as lágrimas e me perguntou qual era o problema.
K: Eu estive pensando muito, Higor... Não acho certo ficar aqui as custas de seus pais, e acredito que também não seja o que eles querem. É muito difícil pra mim dizer isso, mas... eu decidi que vou embora. Vou morar com a minha tia. Vai ser melhor assim.
Higor ficou me olhando por um tempo, e quando as lágrimas começaram a cair ele me abraçou a cintura e escondeu o rosto em meu peito, repetindo muitas vezes que não queria que eu fosse. Eu estava tão triste com aquilo que não respondi, chorei abraçado a ele, sabendo que as batidas aceleradas do meu coração demonstravam o quanto aquilo era difícil pra mim também. Algum tempo depois ele se levantou, sem nada dizer, e limpou as lágrimas de qualquer jeito, agarrando minha mão e me puxando para fora do quarto, ignorando minhas perguntas.
A mãe de Higor já havia chegado e estava na cozinha, preparando algo, quando entramos. Ela se assustou com nossas caras de choro e foi logo nos levando pra sala. Sentamos no sofá e ela pediu que Higor contasse o que estava acontecendo. Ele falou de toda a minha situação com minha mãe, as vezes me olhando, como se perguntasse se podia continuar a falar, e eu apenas concordava. A mãe dele se mostrou bastante chocada com o que ouvia, mas deixou que ele contasse tudo. Ele terminou falando sobre minha decisão de deixar a cidade.
H: Mãe... quero que o Kim venha morar aqui com a gente. Por favor, deixa. Eu preciso dele aqui comigo.
MH: Higor... eu entendo que é uma situação muito complicada e que você deve estar sofrendo, meu filho... mas eu acho que a decisão do Kim é a mais acertada. Se ele continuar aqui, quem sabe o que a mãe dele pode fazer pra prejudicá-lo? E eu acho que essa separação também vai ser boa pra vocês saberem se é isso mesmo que querem, um relacionamento tão sério numa época de tantas mudanças.
H: Por que você tá fazendo isso, mãe? Você é contra o nosso namoro?
MH: Se eu fosse contra vocês não estariam aqui na minha frente nesse momento. Kim, espero que você entenda que eu não quero te ver pelas costas, mas quero o melhor pro meu filho... e pra você também.
K: Eu entendo a senhora...
H: Kim!
K: Só queria saber se vai permitir que Higor e eu nos vejamos depois que eu for. Que vai apoiar se essa mudança apenas provar que nosso namoro é a coisa certa.
MH: É claro que vocês poderão se ver, e eu darei todo o apoio que precisarem.
Conversamos mais um pouco e voltamos para o quarto. Higor estava muito triste, olhava para todos os lados com uma expressão perdida, que me fazia sentir como se estivessem arrancando meu coração do peito. Fiz com que ele se sentasse na cama e retirei sua camisa, fazendo o mesmo com a minha. Nos deitamos e eu o abracei por muito tempo. Ele não disse nada, parecia perdido em pensamentos e eu respeitei. Quando já estava escuro a mãe dele entrou no quarto, mas eu pedi que ela fizesse silêncio, pois Higor finalmente dormira. Ela me perguntou se eu estava com fome, mas a ultima coisa em que queria pensar naquele momento era em comer. Passei a noite com ele, velando seu sono até que não consegui mais lutar contra e me deixar levar também. Novamente sonhei com Higor e Rapha, como vinha acontecendo há meses.
Acordei no dia seguinte procurando pelo corpo de Higor, que já não estava mais na cama. Já era relativamente tarde, eu sabia que seus pais não estavam mais em casa, então fui procurar por ele. Ouvi o barulho do chuveiro e abri a porta devagar. Ele estava parado sob a água, olhos fechados, lindo. Eu adorava observar como a água deixava seus cachos negros mais pesados, fazendo com que eles caíssem por seu rosto. Era tentadora a visão dos filetes de água correndo pela pele clara, passando sobre as sardinhas que eu tanto gostava de acariciar e beijar, mas a visão se tornava muito menos erótica quando se olhava para seu rosto. Olhos, nariz e boca estavam inchados por causa do grande tempo que passara chorando, os olhos principalmente, que ainda estavam muito avermelhados.
Retirei o resto de minhas roupas em silêncio e entrei no box, abraçando-o por trás, sentindo a água morna escorrer por meus braços. Ele se sobressaltou por um momento, mas em seguida relaxou e encostou a cabeça no meu ombro. Ficamos assim por um tempo, beijei seus ombros, o ensaboei e enxaguei, até que lentamente o virei de frente pra mim. A água disfarçava, mas dava pra ver pelo brilhos dos seus olhos que ele voltara a chorar. Beijei sua boca devagar, com o máximo de carinho que consegui colocar no gesto, depois encostei nossas testas. Falei com ele, sua voz era baixa e rouca.
K: Você já está aqui há muito tempo?
H: Não sei... talvez.
K: Que tal sairmos então? Ou você vai ficar todo enrugadinho.
Ele riu de leve e saiu comigo do box. Nos secamos, vestimos e fomos para a cozinha tomar café. Nenhum dos dois conseguiu comer muito, e também não havia muito do que falar. Eu tinha tomado minha decisão e sabia que era o melhor, apesar de ambos sofrermos com ela. Sugeri que fossemos ao shopping, mas ele não quis, então passamos a tarde assistindo TV e com o tempo começamos a conversar.
Dormi na casa dele quase todos os dias de dezembro. Higor ia se acostumando com a ideia de eu ir embora, mas continuava ligeiramente triste. Ele sempre ia a casa dos gêmeos conversar com o Daniel, o que parecia fazer muito bem a ele. Mesmo estando tristes, nós tentávamos aproveitar ao máximo cada segundo que tínhamos juntado. Fizemos trilhas, nadamos em cachoeiras lindas, tomamos muito sorvete e tudo isso sempre acompanhado de muitos beijos e carinhos.
Era fim de dezembro e o Natal se aproximava. Higor ia celebrar com a família na casa dos avós e queria que eu fosse junto, mas eu achei melhor não. Toda a sua família estaria lá e eu não queria que ele tivesse nenhum tipo de problema ou passasse por algum constrangimento devido a minha presença. Ele não gostou, mas depois de uma longa conversa ficou combinado que ele voltaria no dia 26, que era o dia do meu aniversário de 18 anos, e então ficaríamos juntos até o ano novo, pois dia 2 de janeiro eu pegaria o avião para encontrar minha tia. Aproveitei os dias que Higor ficou longe para arrumar minhas coisas e pensar em como comemoraríamos as festas. Tinha que ser algo especial, único, pois seria também nossa despedida.
O Natal não foi em nada especial. Minha mãe foi a missa e nós mal nos vimos o dia todo. Não pude conter as lembranças de quando era pequeno. Eu sempre achei ruim fazer aniversário logo depois do Natal, pois eu nunca ganhava dois presentes, coisa de criança. A comemoração era sempre durante a ceia, já que toda aquela comida estava pronta, pra que fazer outra festa no dia seguinte? Rapha era o único que diferenciava as duas coisas, sempre aparecendo em minha casa no dia 26 com um bolinho e um presente, dizendo que um dia tão especial não podia se deixar de comemorar. Senti um frio na barriga ao pensar que em alguns dias eu estaria na mesma cidade que ele, e que provavelmente o encontraria, mas logo espantei isso. Higor estava para chegar, e o que eu mais queria era que aqueles últimos dias fossem inesquecíveis.
Higor chegou bem cedo no dia 26. Eu estava terminando de prepara algumas coisas parar almoçarmos quando ele me ligou avisando que já estava em casa. Tomei um banho e me arrumei o melhor que consegui para encontrá-lo. Cheguei em sua casa carregado de potes e sacolas, então, antes de qualquer coisa, ele teve que me ajudar a levar tudo para a cozinha. Mal colocamos as coisas sobre a mesa e ele já estava me abraçando com vontade, fazendo com que eu me virasse para beijá-lo.
H: Feliz aniversário, Kim.
Eu o beijei mais, como agradecimento. Estava tão feliz de, após tantos anos, passar uma data importante com alguém tão especial.
K: Obrigado. Que tal arrumarmos tudo pra gente almoçar?
Higor concordou e começou a me ajudar a retirar tudo das sacolas. A cada exclamação que ele soltava ao ver ou sentir o cheiro das comidas que eu preparara, meu sorriso ficava cada vez maior. Como seríamos só nos dois, resolvi fazer pouca quantidade, mas bastante variedade. Nossa mesa ficou linda com as travessas de arroz com bacalhau, farofa colorida, presuntinho com cravos, salada de legumes diversos e um enorme prato de rabanadas que, para Higor, eram a melhor parte do Natal. Sentamos para almoçar e eu não poderia me sentir mais feliz vendo a carinha boa que Higor fazia cada vez que levava a comida a boca. Passamos quase 3 horas sentado à mesa, comendo, conversando, namorando. Ele me contava como fora o Natal na casa dos avós, mas sempre dava uma pequena pausa para me dar um beijinho e dizer que aquela era a melhor ceia fora de hora que já tivera.
Depois de limparmos e arrumarmos tudo o melhor possível, fomos para a sala cansado e saciados. Nos acomodamos no sofá e Higor me abraçou, acariciando meus cabelos até que acabei pegando no sono. Algumas horas mais tarde, acordo com ele me chamando baixinho, passando a mão em meu braço.
H: Acorda, dorminhoco. Eu sei que deve estar cansado, mas agora que já comemoramos o Natal, temos que comemorar seu aniversário.
Sentei, morrendo de preguiça, e me espreguicei devagar. Higor estava sentado na mesinha de centro, de frente pra mim, e tinha nas mãos uma caixa. Logo reparei que fora ele mesmo quem embrulhara o presente, pois o papel estava amassado e bastante remendado. Percebendo que eu reparara na caixa, ele me estendeu, um pouco envergonhado.
H: Quase não consigo embrulhar, não repare. O que vale é o que está dentro.
Peguei o pacote com um sorriso no rosto e rapidamente rasguei o papel, acabando em segundos com o que ele levara muito tempo para fazer. Me deparei com a caixinha de celular e, sem acreditar, a abri, achando que talvez fosse só uma brincadeira e eu fosse encontrar outra coisa ali dentro. Peguei o celular, boquiaberto.
K: Higor, eu não posso aceita isso.
H: Vai recusar seu presente de aniversário?
K: Vou! Isso não é presente que se dê!
H: Claro que é, Kim. Sabe por que escolhi esse presente? Porque você está indo embora e eu quero poder falar com você sempre que eu tiver vontade, sempre que a saudade bater. E assim você também vai poder me achar a qualquer momento.
O abracei, comovido, e agradeci pelo presente. Busquei sua boca e assim ficamos até ele se afastar de mim.
H: Vamos tomar um banho e partir pra segunda comemoração do dia?
Concordei e ele me levou para o banheiro, retirando nossas roupas e entrando comigo debaixo da água morna. Banhamos um ao outro em meio a beijos e carícias e depois de secos fomos para seu quarto.
H: Está com fome?
K: Não! Depois de tudo o que comemos no almoço você ainda está pensando em comer?
Ele riu da minha cara de espanto.
H: Tenho certeza que você vai querer comer o que eu trouxe pra você.
E dizendo isso saiu do quarto, voltando alguns minutos depois com uma garrafa de espumante em uma mão e uma tigela cheia de cerejas na outra. Dei um pulo da cama e fui direto em direção à tigela, levando uma cereja a boca e fechando os olhos para apreciar seu sabor. Desde que me entendo por gente, essa é minha fruta favorita. Eu sempre pensei no fato de eu só poder comê-la uma vez por ano, no Natal, como um presente de aniversário. Higor riu de meu deleite e me entregou a tigela, me mostrando a garrafa.
H: Peguei no estoque para o ano novo dos meus avós.
K: Está tentando me embebedar, Sr. Higor?
H: Não era minha intenção, mas se acontecer não vou reclamar... Ah, esqueci os copos.
K: Não precisa. Vem aqui.
Puxei-o para a cama, beijando sua boca. Higor abriu a garrafa e tomamos todo o seu conteúdo no gargalo, enquanto comíamos as cerejas e nos beijávamos. Colocamos a tigela quase vazia e a garrafa no chão, e Higor deitou seu corpo todo sobre o meu, passando as mãos por minhas coxas, subindo pelas laterais de meu tronco. Distribuiu beijos por todo o meu corpo, demorando-se em meus pontos mais sensíveis, que ele já conhecia tão bem. Em pouco tempo ele já me tomava em sua boca, fazendo com que eu sentisse dificuldade em manter meus olhos abertos, por mais que quisesse observá-lo. O toque de sua boca somado à sensação quente das palmas de suas mãos passeando pelo interior de minhas coxas me fazia perder o fôlego. Dessa vez, quando pedi a ele que parasse, acariciando seus cabelos, ele não me obedeceu. Entrelaçou seus dedos nos meus, intensificando os movimentos até que eu já não conseguisse conter os gemidos produzidos por minha garganta e me derramasse em sua boca.
Higor distribuiu leves beijinhos por minha barriga, esperando que eu me acalmasse e depois se deitou ao meu lado, sorrindo. Retribui o sorriso e acariciei seus cabelos, em seguida descendo minha mão por seus pescoço, peito e barriga, até tomá-lo em minha mão, acariciando-o entre meus dedos. Ele fechou os olhos para sentir meu toque e não pude resistir a beijá-lo novamente, nunca me cansaria de sentir sua boca na minha. Desci meu corpo pelo seu, substituindo meus dedos por meus lábios, sentindo toda a maciez e o calor de sua pele. Quando Higor chamou meu nome, fingi não escutar, querendo proporcionar a ele o mesmo tipo de prazer que ele acabara de me proporcionar. No entanto, ele se afastou, sorrindo travesso e pegando uma camisinha em sua mesinha de cabeceira. Colocou-a em minha mão e deitou-se de bruços, me chamando. Subi sobre seu corpo, beijando seus ombros, deslizando minha boca por seu pescoço até encostá-la em sua orelha. O senti tremer sob mim ao ouvir minha proposta.
K: Vamos fazer diferente hoje?
Higor se virou tão rápido debaixo de mim que acabou me derrubando na cama. Ri dos seus olhos arregalados e da boca que abria e fechava enquanto ele tentava formular algo para dizer.
H: Kim... Eu entendi direito? Você quer mesmo? Tem certeza?
K: Sim, sim... e sim!
Sua expressão era mais descrente ainda, mas assim que comecei a rir novamente ele abriu um sorriso. Praticamente atacou minha boca, beijando e rindo ao mesmo tempo. Ficamos nessa brincadeira boa por um tempo, até que o clima voltou a esquentar. Os beijos ficaram mais demorados e intensos, os toques mais íntimos. Higor pegou o tubinho de gel que guardava sempre ao lado da cama e mais uma vez beijou todo o meu corpo, me tomando em sua boca. Eu já começava a perder a noção do espaço ao meu redor, quando ele segurou minhas coxas, elevando-as, e sua boca trilhou um caminho mais para baixo. Minha primeira reação foi travar todos os músculos do meu corpo, mas Higor disse para eu não me preocupar com nada, e foi isso que fiz. A sensação de sua língua quente me tocando tão intimamente, de uma forma que nunca fizéramos, me deixava extremamente envergonhado, até um pouco incomodado, mas acabei me acostumando e aproveitando o momento. Senti um de seus dedos, já envolto no gel frio, se juntar à sua língua, forçando passagem por meu corpo. Ao perceber que eu retesara novamente, Higor me acomodou inteiro em sua boca, distraindo-me, e continuou, conseguindo me adentrar. A principio foi estranho, um pequeno desconforto tomou conta de mim, mas nada que não fosse suportável. Quando já aproveitava as sensações de sua boca e dedo trabalhando juntos, sinto mais um de seus dedos dentro de mim, e outro algum tempo depois, fazendo aquela dor aguda e irritante aumentar.
Higor foi muito paciente comigo, me acariciando, beijando meu corpo e falando baixinho palavras de amor e encorajamento. Pedi que ele prosseguisse quando me senti mais confortável e o observei vestir a camisinha com um pouco de dificuldade pelas mãos tremulas. Ele ajeitou os travesseiros e me virou de lado, colando seu corpo no meu, correndo seus lábios por meu pescoço. Segurou uma de minhas pernas, levantando-a um pouco e se posicionou, começando a penetrar meu corpo. Fechei os olhos e cerrei os dentes, tentando controlar a dor que sentia. Higor acariciou minha barriga, pedindo que eu respirasse.
H: Respira fundo, gatinho. Não para de respirar.
Obedeci, e ele continuou devagar, sempre parando quando notava que a dor estava demais para mim. Eu tentava com todas as forças me ater as suas mãos e boca me tocando, mas naquele momento a dor era maior do que o prazer daqueles pequenos atos. Higor estava totalmente dentro de mim no que me pareceu muito tempo depois e esperou pacientemente enquanto eu me acostumava a senti-lo ali, pensando em como ele conseguia suportar aquilo toda vez que fazíamos amor. Me dei conta de sua respiração ofegante e seu corpo trêmulo atrás de mim, então respirei fundo e virei a cabeça, olhando-o e pedindo que continuasse. Ele começou a se mover lentamente, e a principio foi muito difícil. Eu fazia de tudo para transparecer o menos de dor possível, mordendo o lábio inferior e escondendo meu rosto no colchão para que ele não visse algumas lágrimas que teimavam em cair. No entanto, sua boca junto a minha orelha, soltando gemidos roucos, seu corpo todo colado ao meu, nos movendo em sincronia, sua mão me estimulando lentamente, tudo isso começou a fazer efeito e eu me permiti aproveitar mais o momento. Comecei a participar, movendo meu corpo sem sua ajuda e sentindo suas carícias e ritmo aumentarem em resposta. Ao sentir que não aguentaria muito mais, Higor acelerou o movimento de sua mão, me fazendo gemer alto e chegar ao ápice pouco depois dele.
Deitei de costas, virando devagar ao sentir um choque correr vindo da base de minha coluna, que eu arqueara tanto e com tanta força. Olhei para Higor, que mantinha os olhos fechados e um sorriso bobo no rosto, que acariciei com cuidado. Ele abriu os olhos, virando um pouco para beijar a palma da minha mão e então me olhou, fazendo com que eu perdesse o fôlego ao ver seus olhos tão azuis e brilhantes. Apesar da dor ter me acompanhado durante todo o momento naquela nossa primeira vez, eu me sentia muito bem porque valera a pena sentir todo o prazer que acompanhara a dor e principalmente por poder ver que Higor estava feliz. Ficamos na cama, dizendo um para o outro “eu te amo” incontáveis vezes, como dois bobos. Ele sugeriu que tomássemos outro banho, mas eu sentia que minhas pernas não teriam condições de me sustentar por um tempo. Ele ficou pensativo, dizendo que me levaria no colo, mas que também estava esgotado, e riu depois. Nos aconchegamos um ao outro e pegamos no sono. Naquela noite não tive sonhos confusos envolvendo Rapha. Aquela noite era só nossa, eu e Higor, naquela cama, e nada mais importava.
Higor me acordou durante a madrugada, chamando meu nome baixinho. Resmunguei, pedindo que ele me deixasse dormir, mas ouvi meu nome mais algumas vezes até que desisti e abri os olhos. O quarto estava escuro, iluminado apenas por uma vela que estava sobre um pequeno bolo de chocolate.
H: Acabei esquecendo do bolo. Vem, vamos cantar parabéns.
Cantamos, ou melhor, Higor cantou sozinho enquanto eu ria dele, e eu assoprei a velinha desejando que ele sempre fizesse parte da minha vida. Comemos mais da metade do bolinho enquanto conversávamos, fazendo planos para o ano novo. O que eu sentia ali, com as costas recostadas em seu peito, sua mão acariciando de leve meu estômago, era simples e pura felicidade. Eu não sabia o que Higor tinha visto em mim para querer me namorar, mas eu me beneficiava muito disso. Depois de anos de tristeza ele aparecera em minha vida espantando a infelicidade e me proporcionando momentos únicos e uma sensação que eu já estava prestes a esquecer, a de ser amado. Virei um pouco o corpo, encostando meus lábios em seu maxilar e fiquei assim, observando-o, e as vezes movendo os lábios num beijinho suave. Percebi que ele também aproveitava muito o momento, mas tinha um olhar curioso, típico dele. Não me contive e sorri. Talvez ele não tenha visto, devido a nossa posição, mas com certeza sentiu o movimento de minha boca, pois sorriu de volta e se moveu para ficarmos cara a cara.
H: No que é que você está pensando, hein?
K: Em nós. Em como eu te amo e no porque de você ter escolhido justo a mim.
H: Como assim porque de eu ter te escolhido? Eu não escolhi, gatinho... Foi involuntário. Me apaixonei quando bati meus olhos em você.
K: Mas eu não entendo... Eu era quase um morto-vivo na sala de aula, quando você se aproximou eu mal falava com você e fiz de tudo pra dificultar sua intenção de se aproximar e me ajudar.
H: Pois não é assim que eu penso. Eu vi um garotinho triste, mas que tinha um brilho especial nos olhos que me fez querer saber mais sobre ele. E cada palavra que você trocava comigo, mesmo que fosse só um resmungo, pra mim era uma enorme conquista. Você não faz ideia do quanto eu te amo.
K: Eu também te amo.
E ficamos assim, entre palavras de amor e carícias, até que o sono nos venceu mais uma vez.
Os dias que se seguiram foram perfeitos, e ficarão pra sempre marcados na minha memória como uns dos mais especiais de minha vida. Eu passava todo o tempo com Higor, fomos visitar os gêmeos, passeamos muito e também ficamos muito em casa. Como eu já tinha arrumado quase tudo para a viagem, não tivemos que nos preocupar com isso, e sempre que batia aquela tristeza por eu estar indo embora logo, a espantávamos com muito beijos e carinhos. Passamos o ano novo com seus pais. Jantamos juntos e depois fomos pro centro ver os fogos, que foram lindos, uma pena não podermos ter assistido abraçados como todos os casais ali. Voltamos logo para casa e tivemos nossa própria comemoração, muito bonita, cheia de amor e inesquecível.
Acordei no dia primeiro com Higor abraçado a minhas costas com força. Tentei me virar na cama, mas ele não deixou. Por um minuto, em meio a sonolência, me perguntei o porque de ele estar se escondendo, mas então a realidade caiu sobre mim com um peso enorme. Aquele era nosso ultimo dia juntos, pois no dia seguinte, logo pela manhã, eu iria embora. Pensar naquilo era tão insuportável que eu sentia dificuldade de respirar. Toda vez que puxava o ar, ele entrava queimando por minha garganta e meu peito doía, espalhando um enorme angústia por meu corpo. Com alguma resistência de Higor, consegui me virar na cama, já com lágrimas nos olhos, que logo trilharam seu caminho por meu rosto ao ver que ele também chorava. Beijei seu rosto, tentando capturar cada gotinha, sem saber o que dizer. Ele me abraçou novamente, com uma força quase desesperada que chegava a machucar, mas não me importei, eu também precisava daquilo. Naquele momento a única vontade que eu tinha era de me fundir ao seu corpo, me apertar tanto a ele até que fossemos um só e não precisássemos mais nos afastar. Eu sentia um nó em minha garganta que doía, tanta era a minha vontade de gritar. Afundava meus dedos na pele de Higor com tanta força que logo as marcas apareceriam. Não sei dizer quanto tempo ficamos assim, mas definitivamente não foi o suficiente, nunca seria. Um soluço alto abriu passagem por minha garganta, me fazendo cair num choro desesperado.
H: Shhh... Não chora meu amor. Olha pra mim... eu quero ver um sorriso nesse rostinho. Vai querer passar nosso último dia juntos chorando?
Neguei com a cabeça, tentando me controlar, mas era muito difícil, vendo que ele dizia tudo aquilo enquanto lágrimas rolavam de seus olhos. Foi ele quem se recompôs primeiro, sorrindo pra mim depois de secar o rosto e me acalmando novamente. Eu não tinha forças pra me levantar da cama, até o movimento de meus braços que o enlaçavam era difícil pra mim. Mesmo assim, ele insistiu que nos levantássemos e tomássemos um banho para “lavar aquela cara de choro”. Higor me escorou até o box e me amparou durante o banho, que foi lento, quase preguiçoso. Nossa intenção era mais de tocar um ao outro, mapear cada pedacinho de nossos corpos, do que realmente nos lavar. Ele também me ajudou a me vestir, cheirando meu pescoço quando terminou de baixar minha camisa e brincando comigo.
H: Humm... Que cheiro gostoso, Kim.
K: É só sabonete, Higor...
Respondi com a voz baixa e rouca, relembrando a primeira vez que saímos juntos só nós dois e que eu estragara tudo aquele dia. E mesmo assim ali estava ele, comigo. Fomos para a sala, almoçar, e a mãe de Higor ao ver nossas caras ficou muito preocupada, insistindo que nós comêssemos bem e não nos deixássemos levar pela tristeza. Até o pai dele parecia penalizado com a situação, mesmo que não gostasse nem um pouco de nosso namoro.
Mais tarde, fui até minha casa, pegar a mochila que preparara e me despedir de minha mãe, eu ainda não havia contado que ia embora. Higor quis ir comigo, preocupado, mas assegurei a ele que tudo ficaria bem e que achava melhor ir sozinho. Entrei em casa e encontrei a sala vazia. Fui até meu quarto, pegar a grande mochila com as coisas que achei necessário levar comigo, que não eram muitas, algumas roupas e livros. Coloquei-a nas costas e segui para o quarto de minha mãe, encontrando-a deitada. Chamei por ela e vi seus olhos se abrirem rapidamente.
K: Mãe, eu estou indo embora.
M: O que? Vai me dizer que está se mudando para a casa daquele outro? Como é que mãe desse menino permite que você se infiltre na vida dele e o leve para o mau caminho?
K: Não... Eu vou morar com a tia. Ela está me esperando.
M: Então agora que já destruiu a vida de mais um você vai voltar correndo para o seu primo? Tenho certeza que ele não vai te querer. Ninguém comete o mesmo erro duas vezes.
K: Bom, eu só vim aqui te avisar que eu não vou mais voltar. Boa sorte na sua vida, mãe.
M: Já vai muito tarde! Eu sabia que você era um erro desde o momento em que nasceu. Sabia que só me traria desgosto e que um dia me abandonaria. Você com esses seus feitiços, sempre atraindo os homens. Eles apareciam aos montes, perguntando quantos anos tinha a minha “garotinha”, querendo fazer um carinho. Como eu demorei pra entender que o problema não era com eles, mas sim com você, fingindo não saber o que estava se passando, sorrindo e deixando-se ir com qualquer um. Você sempre quis aquilo. É um bem que me faz, indo embora e me poupando da vergonha de ter um demônio no lugar de um filho.
Levei algum tempo para me situar. Eu não me lembrava de nada parecido com o que ele estava descrevendo, então ela devia estar falando da época em que eu era muito pequeno. Ela, depois de muito tempo, conseguira me surpreender novamente. Culpando um bebê pelos atos que ela desaprovava, vindos de desconhecidos. Depois do choque, me veio apenas a calma e a certeza de que, apesar de todo o sofrimento por deixar Higor, eu estava fazendo a coisa certa. Infelizmente, eu aceitara que minha mãe era doente e que aquilo era tudo que eu teria dela.
M: Eu tenho muita pena de você, mãe. Vive uma vida miserável, me perseguindo, enquanto eu estou tocando a minha para a frente, estou feliz e vou continuar assim. Eu espero, realmente, que a minha partida te traga algum contentamento. Pode ter certeza que eu não volto aqui nunca mais.
E dizendo isso saí daquela que fora minha casa desde que nasci, o lugar onde passei os melhores e piores momentos da minha vida. Higor me aguardava no portão, com uma expressão ansiosa.
K: O que veio fazer aqui?
H: Fiquei preocupado. Como você está?
K: Bem. Acabou, Higor. Eu estou aliviado. Agora... já que você veio até aqui, me ajude a carregar essa mochila, que está pesada.
Ele ainda me olhou por um tempo, desconfiado, mas acabou sorrindo e tomando a mochila de minha mãos. Chegando em sua casa tive um deliciosa surpresa, um enorme pirex de pavê me esperava. Não me fiz de rogado e comi do doce até não aguentar mais, dividindo as colheradas com Higor. Ele limpou um pouquinho do chocolate da ponta de meu nariz e suspirou.
H: Já estou com saudades...
K: Eu também... mas que tal aproveitarmos esse restinho do dia?
Assistimos um DVD abraçadinhos e depois jantamos com seus pais. Aquela noite eu me entreguei a Higor novamente, sentindo a dor física se misturar a dor que sentia no peito por saber que aquela era nossa despedida. Eu não consegui desgrudar meus olhos de seu rosto, querendo a todo custo decorar cada uma de suas sardinhas enquanto meu corpo decorava cada sensação, cada reação diferente quando nos tocávamos. Fizemos amor durante toda a madrugada, dormindo apenas quando a exaustão nos tomou.
Descansamos algumas horas, até que a mãe de Higor veio nos chamar. Tomamos um banho e comemos com o silêncio nos fazendo companhia. Procuramos não nos olhar até que voltamos para o quarto, onde, assim que fechamos a porta, nos abraçamos com força e Higor me encostou na parede, beijando minha boca com fúria. Me agarrei a seus cabelos e correspondi com tanta ou mais intensidade, mas, ao contrário do comum, que seria um beijo partir do carinhoso para o desejoso, nosso beijo foi ficando cada vez mais suave, até nossas línguas se tocavam vagarosamente, como que com preguiça de se separarem. Apartamos nossas bocas e eu afundei o rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro, o calor de seu corpo enquanto me abraçava, eu me sentia tão seguro ali. Higor se afastou um pouco de mim, sério, e me chamou para sentarmos na cama.
H: Lembra que eu te disse que você não faz ideia do quanto eu te amo?
K: Eu também te amo, Higor.
H: Eu sei, gatinho. E é por isso que eu não quero que você se mude estando preso a mim.
K: Como assim?
H: Kim... ontem, antes de você acordar, eu tomei a decisão de te deixar ir livre. Assim você vai poder escolher o que realmente quer depois de...
K: Depois de?
H: Depois de reencontrar o Raphael.
K: Higor, por favor, para de bobagem. Não acredito que você está querendo terminar comigo por causa do meu primo. Eu te amo.
H: Você me ama sim, mas ele ainda está ai no seu coraçãozinho, Kim. Eu não estou terminando com você, nunca farei isso. Eu sou seu pra sempre, independente do que acontecer. Mas eu quero que você vá livre para que depois não sofra ao ter de escolher entre um novo relacionamento ou um que ainda está mal resolvido. Você entendeu?
K: Sim, mas eu não quero isso, Higor. Por favor, não termina comigo, não me deixa agora.
H: Não vou te deixar nunca, meu amor. Vamos fazer assim, quero que você apenas mantenha em mente isso que eu te disse. Eu só quero a sua felicidade, independente de quem for te fazer feliz. Lembra disso, tá?
Assenti e o abracei, beijando sua boca e repetindo em meio ao beijo que eu o amava. Depois de algum tempo, ele me soltou e entrelaçou seus dedos nos meus, me chamando para ir embora. Dei uma ultima olhada no quarto em que passei os momentos mais especiais daquele ano e não resisti a beijá-lo mais uma vez, já chorando, pois aquele seria nosso ultimo beijo. Os pais de Higor nos levaram até o aeroporto, e durante todo o caminho fui deitado em seu peito, sem conseguir parar de chorar. Já no aeroporto, me despedi de seus pais e Higor foi comigo até mais a frente, me abraçando com força e falando em meu ouvido.
H: Se cuida, meu amor. Liga quando chegar lá, tá? Senão fico preocupado... Vai dar tudo certo. Tenho certeza. Eu te amo muito.
K: Eu também te amo, Higor, muito, muito, muito. Vou sentir saudades a cada segundo.
H: Não esquece que você está levando uma parte minha com você.
Disse puxando o cordão que me dera para fora de minha camisa e beijando o pingente.
H: Meu coração.
Passei a mão por seus lábios, sofrendo por não poder beijá-lo. Ele selou a ponta dos meus dedos e me abraçou. Não consigo deixar de chorar ao reviver toda a dor que senti com aquela separação. Soltar sua mão e virar as costas foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Mas eu fui, entrei naquele avião com o coração sangrando. Durante o pouco mais de uma hora de viagem, não consegui pensar em outra coisa que não fosse nele e em como seria minha vida sem sua presença. Desembarquei desolado e totalmente perdido.
Não demorei a encontrar minha tia. Ela continuava a mesma, sensível e chorona, já estava com lágrimas nos olhos quando me aproximei. Me abraçou com força, passando a mão por meu rosto e braços, como se quisesse conferir que eu estava inteiro.
T: Você está enorme! E pensar que quando fui embora você era só um garotinho.
Fiquei sem graça, como a maioria das pessoas fica ao ser relembrado por um parente de como era quando menor. Apesar disso, eu estava feliz por reencontrá-la.
K: Como é que você está, tia?
T: Muito bem, querido. E você? Fez boa viagem?
K: Foi um pouco... cansativa.
T: Você parece mesmo abatido. Venha, vamos colocar suas coisas no carro e almoçar.
Fomo até seu carro, no estacionamento, e minha tia me levou para almoçar num restaurante não muito longe dali. Eu olhava para tudo com muita curiosidade, era a minha primeira vez naquela cidade. Melhor dizendo, era a minha primeira vez em outra cidade. Nos acomodamos e quando meu prato chegou eu notei o quanto estava faminto. Comi tudo, sendo observado por minha tia. Ela tinha um olhar carinhoso, mas notei que estava preocupada com algo. Esperou que eu acabasse de comer e começou a falar.
T: Kim... precisamos conversar sobre uma coisa.
K: Pode falar, tia. Você parece preocupada.
T: E eu estou... um pouco. Querido, quando eu te disse que eu tinha um quarto aqui pra você, eu omiti um pequeno detalhe. Há sim um quarto esperando por você, mas não na minha casa, e sim no apartamento onde seu primo mora.
Fiquei parado, sem reação, olhando para seu rosto preocupado. Eu não sabia o que pensar. Quer dizer que eu saíra da minha cidade para morar com ela e agora ela estava me jogando para o apartamento do meu primo?
K: A senhora me enganou, tia!
T: Desculpe, Kim, mas foi necessário. Eu precisava te tirar de perto da sua mãe e imaginei que se soubesse que iria para o apartamento do Rapha você não aceitaria.
K: Tia, ele não vai me querer lá.
T: É claro que vai, querido. Que bobagem!
K: E agora, eu faço o que? - Disse mais para mim mesmo do que para ela.
T: Ao menos tente ficar lá por um tempo. Se você for para a minha casa vai ter que ficar na sala e não terá a menor privacidade, enquanto lá você terá seu próprio espaço. Se não der certo eu te levo comigo, mas as vezes pode ser melhor do que você esperava. Kim, você e seu primo sempre foram tão unidos, tenho certeza que podem recuperar isso.
K: Ele me abandonou, tia. Não acredito muito que esteja disposto a recuperar nada.
Ela pressionou os lábios numa expressão angustiada, parecia muito nervosa.
T: Vocês dois precisam conversar. Ele ficou tão feliz quando soube que você viria. Por favor, Kim, não julgue o seu primo tão rapidamente. Tente por um tempo, é só o que estou pedindo.
Minha cabeça girava com toda a confusão que se instalara dentro dela. Como se já não bastasse eu ter tido de tomar a decisão de deixar Higor, agora eu tinha que decidir morar ou não com meu primo. Pensei na possibilidade de pegar o primeiro avião de volta, mas o que eu faria, então? Voltar para a casa de minha mãe não era uma opção, e os pais de Higor deixaram bastante claro que achavam melhor eu mudar de cidade mesmo. Eu estava perdido. Suspirei resignado e concordei.
K: Tudo bem, tia... eu vou tentar.
Ela sorriu aliviada e chamou o garçom, pagando a conta e me levando até o carro novamente. Pouco tempo depois estávamos no segundo andar de um prédio largo e relativamente baixo, em frente a uma porta branca. Minha tia tocou a campainha, mas nada aconteceu e por um tempo não ouvimos nenhum barulho lá dentro. Eu estava aliviado com aquilo, secretamente desejando que ele não estivesse em casa e que pudéssemos adiar aquela situação. Infelizmente, alguns segundos depois, o som da chave virando fez meu coração quase sair pela boca de nervosismo. E lá estava ele, o rosto vermelho e marcado indicava que acabara de acordar, e olhos arregalados em minha direção, que ele estava tão perdido com aquele reencontro quanto eu. Meu primo desviou os olhos para sua mãe.
R: Mãe, não sabia que vocês chegariam tão cedo!
T: São quase duas horas da tarde, meu filho.
Ele fez uma expressão confusa, olhando para dentro, provavelmente para um relógio e coçou a cabeça. Usei esse tempo para reparar no quanto ele havia mudado. Seu rosto ainda era o mesmo, apesar do queixo estar um pouco mais largo e coberto por uma barba rala, e as feições mais marcadas. Ele estava definitivamente mais alto e forte, a pele queimada de sol. Acho que ele percebeu que eu o observava, pois também me olhou por um tempo, até se dirigir a mim.
R: Kim! Há quanto tempo! Nossa, como você cresceu, priminho.
E dizendo isso, ele se adiantou e me abraçou com força. Senti uma tensão enorme tomar conta do meu corpo e não me movi, esperando que ele me soltasse, o que ele fez um pouco sem graça.
K: Oi, Raphael.
-
~ oi, pessoal. desculpem não aparecer ontem, eu estava morto de cansaço. e agora, como será essa convivência entre os dois? hahah... até amanhã ~