- Ahhhhhhhh! Não, não, não... o que você fez!? Eu vou te matar, eu juro que te mato seu desgraçado! Isso vai terminar com as minhas mãos no seu pescoço! Vou ver seu sangue nelas! – Kaique gritou em estado de agonia, eu só ouvi entre o forte zumbido e a dor que sentia na perna, porque estava olhando para ele enquanto caia no chão.
Kaique se sacudiu forte na cadeira, se levantando ainda amarrado. O irmão foi pra cima dele e os dois começaram a brigar. Kaique girou a cadeira acertando as costelas do mais velho. Thiago gritou e se virou agarrando a perna da cadeira. Nesse momento, quatro capangas cercaram Kaique com armas na mão. Eu estava no chão sangrando. Avistei minha mãe chorando muito. Alguém havia levantado sua cadeira. Parecia ainda mais amarrada e amordaçada. Seu rosto estava vermelho e os cabelos uma bagunça. Assistia tudo em desespero, e com certeza, ainda sem entender o que se passava ali.
- Não dá mais para esperar, senhor! Temos que eliminar todos eles. A situação já está saindo do controle. – Parecia a voz de Pezão, lembro bem daquele tom nojento. – Administrador, tome uma decisão! – Thiago ainda estava parado, olhava para o chão. No que estava pensando? Minhas vistas ficaram ainda mais embaçadas. A dor era constante. Levei um tiro na perna e sangrava muito. Por um momento tudo se apagou.
Ainda em meio a uma espécie de transe, abria os olhos e fechava. Não copiava bem os momentos, mas conseguia entender parte deles. Kaique estava no chão. Thiago com uma arma mirada na cabeça dele. Apaguei.
Mais uma vez eu desperto. Alguém pediu que Thiago andasse logo:
- Vai Thiago, acaba com ele! Anda logo, cara. Ninguém sabe quem pode aparecer. A polícia tá te procurando e a gente tá aqui faz muito tempo. – Pezão gritava perto do amigo. Parecia muito preocupado com o tempo. – O avião já está pronto e a gente precisa logo sair daqui! – Finalizou.
-Tá bom, Pezão. Nós vamos sair, me dá um minuto com meu maninho. Preciso que ele passe um recado para o capeta. Vai esvaziando tudo! – Thiago ordenou e o figura saiu chamando alguns caras que estavam embaixo e saindo das outras salas. Novamente tudo ficou escuro.
De repente um barulho. Gritos e vidros quebrando. Ouço várias vozes. Tiros pra todo lado. Uma fumaça estava fechando o ambiente. Lasers verdes passavam de um lado para o outro. As luzes estavam apagadas. Avistava alguns caras de preto. Usavam máscaras. Escutei:
– Parados! Mãos na cabeça! – Alguém mandou. Apaguei.
“Olha só se não é destino batendo na sua porta de novo, meu caro amigo Adriano. Já dizia sei lá quem que ‘a morte vem na hora certa’, pois bem, aquela não era sua hora. Talvez um piedoso e bom ser tenha lhe dado mais um tempo para acabar com a vida novamente. Sabe de uma coisa?! Você merece tudo isso pelo que está passando. Agora vê se me escuta só dessa vez e... ACORDA! ACORDA! ACORDA!”
Abri os olhos e levantei rapidamente. Respirava fundo. Vi que estava sentado. Alguns barulhos de bipe do meu lado. O excesso de claridade ofuscou minhas vistas. Aos poucos comecei a enxergar. A cabeça parecia querer explodir. Quando a imagem finalmente se formou, eu estava em uma maca com uma das mãos algemada num ferro na lateral do leito. Era um hospital ou uma delegacia? Por que eu estava algemado? O que aconteceu? Eu apaguei no meio daquela bagunça? Espera... cadê minha mãe? O Kaique, meu Deus o Kaique! Ele deve estar morto... não, não, não!
A minha mente trabalhava rapidamente. Busquei entender o que tinha acontecido enquanto tentava quebrar aquela merda que me prendia ali. Precisava achar minha mãe e o Kaique. Saber se estavam bem. Mas pelo visto não sairia dali tão fácil. A porta se abriu no exato momento que me debatia na maca resmungando e iniciando um grito feroz enquanto ouvia os sons dos bipes ficando mais intensos. Era um homem de terno. Havia um emblema da bandeira do país em seu colarinho. Se aproximou e sentou-se numa cadeira que ainda nem tinha notado que habitava o mesmo espaço que o meu. Era novo, aparentava ter uns 28 anos, cabelo castanho um pouco liso e penteado para o lado. Os olhos eram bem azuis e seu semblante era de absoluta calma. Me encarou mais um pouco e suspirou. Começou a falar:
- Senhor Adriano, espero que esteja melhor! Me chamo Augusto e faço parte da ABIN, Agência Brasileira de Inteligência. Estou aqui para conversarmos sobre o senhor Thiago Costa. Um dos criminosos mais procurados pela nossa agência e que o senhor denunciou e ficou sobre ameaça. – Sua voz era firme e grave. A calma e tranquilidade ficavam estampadas na cara dele. Eu não queria falar de Thiago agora, tomara que ele esteja morto. Agora eu quero é saber o porquê de estar algemado.
- Por que estou algemado nessa porra de maca? Eu não fiz nada! Na verdade, eu só quase morri mesmo... e acho que deveria ter morrido, só assim pra não passar por esse sofrimento de novo... a minha família deve estar toda morta... minha mãe, o que ela tinha a ver com isso tudo!? – Fui interrompido.
- Sua mãe está bem, senhor Adriano. Ela se encontra em repouso em outra sala. – Nesse momento eu respirei fundo aliviado. Meu coração parecia ter um pouco mais de vida. Lagrimas saíram. A melhor notícia em dias. Mas ainda havia alguém de quem eu precisava saber.
- E o Kaique? Onde ele está? Ele tá bem? Cadê ele? – Perguntei desesperado. Não podia perde-lo, eu o amava demais.
- Senhor Adriano, quando nossos homens entraram no galpão, havia um grande número de pessoas. Nós já havíamos identificado grande parte delas. Nossos satélites fizeram uma varredura por sensor de calor e haviam mais 30 dentro do recinto. A operação foi complexa e durou cerca de uma hora. Quando invadimos, vimos que o procurado Thiago Costa estava com uma arma apontada para a cabeça do irmão, ele estava agachado e o senhor Kaique preso em uma cadeira, deitado no chão. No quebrar dos vidros e no lançamento das granadas de fumaça, não foi possível identificar de onde veio o disparo. Nossa equipe de investig... – Interrompi. Meus batimentos começaram a subi. A máquina parecia um micro-ondas quando termina de aquecer.
- Como assim disparo? Do que você tá falando? Cadê o KAIQUE??? – Gritei chorando. Ele não pode ter... não!
- Senhor Adriano, é importante que mantenha a calma. Preciso que fique consciente para que possamos conversar. O Senhor Kaique Costa levou um tiro na parte lateral do crânio. A bala se alojou próximo ao córtex e ele está na sala de cirurgia há 5 horas. Seu estado de saúde é extremamente crítico. – Não... por quê? Meu Kaique...
- ME TIRA DAQUI! AGORA! Eu quero ver ele. – Tentava arrancar meu braço das algemas.
- Peço novamente que mantenha a calma. Não é possível acessar a sala de cirurgia. Vamos aguardar até que tudo seja conduzido e os médicos deem um parecer. Mas se isso pode te tranquilizar um pouco, o Doutor Zavique é um dos melhores cirurgiões do país, vai fazer o melhor pelo senhor Kaique, tenha certeza!
- Eu quero ver minha mãe então, me tira daqui! – Ordenei. Ele se levantou e veio até mim. Falou:
- Sua mãe vai vir assim que a gente terminar de conversar, mas você vai ter que colaborar comigo se quiser vê-la hoje. Vamos, senhor Adriano, já deixamos a situação sobre controle, apenas colabore. – Desgraçado chantagista. O que ele quer de mim? Acha que eu matei alguém ou fazia parte daquela merda? Só pode...
- Bom, como ia dizendo antes de ser interrompido – voltou a conversa sobre a noite passada – a operação foi conduzida com sucesso e aprendemos o senhor Thiago Costa e o Senhor Carlos Perez, ambos em flagrante. Mais 24 homens foram presos na operação e dois morreram. O senhor Thiago encontra-se em transferência para um presídio em Roraima, onde ficará por 28 anos sem condicional. Já o senhor Carlos foi para o presídio da Papuda, no interior do Distrito onde ficará por 16 anos. O restante do distribuído pelo país. Agora resta esperar que a justiça não sacaneie e eles cumpram a pena por inteiro. Só há um problema, um dos homens fugiu. Identificamos que se trata do senhor Carlo Dibrio. Ele é procurado em 14 países e entrou pela fronteira do Uruguai. Estava lá, só não sabemos onde exatamente. Ele fugiu com um carro esportivo assim que invadimos e seguiu rumo à uma pista de pouso perto da divisa. Antes que a Força Aérea interceptasse a aeronave eles sumiram do mapa. Achamos que o senhor junto com sua família e a família do senhor Kaique deverão entrar no programa de proteção. Vão ter que se mudar daqui para outra cidade. O que é importante para o senhor entender é que não se tratam apenas de uma gangue ou homens maus que vendem drogas e armas, mas sim de uma facção criminosa que tem um conglomerado enorme de distribuidores ao redor do planeta, gerindo várias indústrias através da Deep Web com hackers profissionais e muita, mas muita gente envolvida. – Sua feição mudará, ele me olhou fixo e sério. Eu ainda estava nervoso com tudo aquilo. Acabei me envolvendo com uma coisa enorme. Não sei se teria volta.
- Enfim, o que preciso do senhor é que nos ajude com o que souber sobre onde a equipe da Tasus pretendia ir. Por que eles estavam naquele galpão e qual era a intenção de Thiago? Peço que tente se lembrar o máximo que puder. – O Agente terminou de falar e ficou me encarando por um tempo. Não falei nada. Fiquei distante até ele me chamar. Voltei.
- A única coisa que sei é que Thiago veio fugido do Sul e que administrava um grande negócio do mal. Guardava seus dados em uma mochila e estava morando com os pais, mas provavelmente vocês já devem saber disso tudo...
- Sim, nós já sabemos. Do que mais se lembra? Eles falaram algo no galpão?
- Ouvi apenas o Pezão, quer dizer, o senhor Carlos Perez alertar o Thiago sobre um avião e que já estava na hora de ir. Só disso que me lembro.
- Bom, já é o suficiente!
-Agora vai me soltar daqui? – Perguntei ansioso.
- Ainda não, precisamos do senhor aqui até que a cirurgia termine. – Merda. Eu sabia! – Te vejo novamente, senhor Adriano. Por enquanto é isso! Entraremos em contato.
Continua...
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