— Porra! — eu grito, derramando meu café na calça jeans limpa que eu havia acabado de trocar.
O fim de mais um infame dia de trabalho. Enfim, férias. Tudo que eu mais preciso. Todo mundo no ônibus, acho. Perco-me em pensamentos vazios e disformes enquanto o ônibus extremamente quente e fedorento me leva ao meu destino intermediário. Vinte minutos. Pensamentos infames e sórdidos. Olho meu relógio. O tempo voa. Pessoas entram e saem. Minha ereção dura, pungente, firme, se mantém. Escondida sob o grosso tecido da calça ensopada do odor ocre e fétido de suor intenso e café com leite.
Leite. Leite. Leite branco. Leite puro. Forte. Leite de macho. É o que preciso. Descarregar toda a minha ânsia e irritação com uma bela noite de foda dura e sem clemência.
Preciso ir ao banco. Encontro à agência mais próxima. Necessito que haja algum dinheiro em minha conta. Não há. Xingo todos os deuses e demônios existentes contra meu chefe cretinamente imbecil. Nada. Zero. Vazio.
Desço rumo à praça, observando que não há mais nada aberto aquele horário. Estranho. Mas real. E isso me irrita ainda mais. Furor é a palavra correta.
Chego. E peço meu ardoroso e mortífero remédio sabático.
—cigarros, por favor.
Pago.
Sinto aquela fumaça inebriante me tomar, e levar junto consigo toda a minha irritação e estresse de todo um dia de trabalho causticante em um mercado. Sento no mesmo velho e quebrado banco de praça. Sempre a mesma costumeira ponta esquerda.
Observo.
Sua pele moreno-acastanhada nos braços e pernas. Provavelmente proveniente de um sol ininterrupto, apesar de se manter sempre sob o mesmo toldo abominável em seu ínfimo quiosque de praça.
Músculos a se desenvolver, sempre sendo movimentados. Bermuda caída. Uma sexy e sensual cueca vermelha a se mostrar, orgulhosa de vestir um homem. Box. Imagino. Ergue a camisa, a pegar seu celular escondido rente ao ventre modelado e sem exageros. Quase glabro. Somente leve penugem aloirada próxima ao limite entre a razão e o prazer. E seus grandes cachos negros caídos levemente à testa. Tesão. Pernas peludas. Frutos de sua descendência racial negra que é impossível ser escondida. Nova ereção.
Relógio: 17h05min. Meu cigarro se consome rapidamente em virtude do vento a soprar meus cabelos. Saco meu celular do bolso. Olho minhas redes sociais, procurando eliminar o tempo que ainda resta. Tédio.
Roupas bregas, de gosto duvidoso e origem ainda pior, são compradas a cerca de dois metros de mim. Grande merda ficou essa praça depois da maldita enchente.
Volto meus olhos ao moreno impossível à minha frente. Compras são feitas. Trocos passados. Pele úmida. Lábios úmidos. Olhar malicioso. Piscadas maliciosas são trocadas entre nós. Meios sorrisos. Promessas vazias. Olhares cheios.
Seu cheiro púbere se achega ao meu nariz. Não há perfume, senão o que vem de sua pele. Pele. Cheiro. Pureza. Prazer.
Imagino minhas mãos a tocar seu corpo, deslizando por todo ele. Sua língua se entrelaçando à minha. Mãos fluindo. Sem limites. Sem barreiras. Camisas suadas saem de corpos ainda mais suados.
Troco meia dúzia de palavras com sua mãe, enquanto o observo sugar maldosamente um picolé de uva, sugerindo um sexo oral profundo, molhado e delicioso. Camisa novamente levantada, na busca de um vento que já não mais vem. Silencio cheio de promessas.
— isso! Caralho! Chupa gostoso esse pau! Ahhh — tapas seguidas são dadas. Seu olhar servil, de viadinho submisso que gosta de estar ajoelhado aos pés de seu macho me excita cada vez mais.
— de quatro, pra eu te fazer aprender quem manda! Rápido! — seus movimentos rápidos demonstram a volúpia e a vontade em que deseja ser enrabado pelo meu falo pulsante e extremamente lubrificado.
Grossas gotas de prazer que sinto escorrer e se chegar à minha cueca. O molhar incessante me causa um prazer quase divinal. Fecho os olhos. Músculos se contraem. Meu pau pulsa, cada vez mais duro ao ritmo do coração acelerado. Novo cigarro aceso, como se a mais que esperada foda chegasse cavalgando em meu colo dominador e necessitadamente vago.
Meus devaneios são interrompidos pelo barulho incessante de um mendigo a me pedir algum dinheiro, uma música e a TV ligada acima do som, gerando insuportável balbúrdia.
No hay nada más difícil que vivir sin ti
Sufriendo en la espera de verte llegar
El frío de mi cuerpo pregunta por ti
Y ¿no sé dónde estás?
Si no te hubieras ido sería tan feliz
Sinto vontade de chorar por causa da musica. Mas essa é a ultima ideia que me perpassa a mente. Sonhos me tomam. Ares me levam de um completo céu divino a um podre e infeliz inferno pessoal.
- maldição! maldição!
Vagos barulhos metálicos são ouvidos, longe dos meus pensamentos. Ideias, em prosa e verso me passam. Noite rapidamente chega. Olho meu relógio: 18h. Impaciente. E por fim, chega o momento em que sua voz de barítono chega aos meus ouvidos.
— já é hora, amor. Vamos pra casa. — Olho minha esquerda, e vejo meu moreno lindamente suado, que exala o perfume de homem-adolescente. Fixando seus lindamente olhos negros, me convidando, subjetivamente, para o amor que nos une noite após noite.
E mais uma sexta-feira se passa, em que eu deixo o velho banco quebrado de uma praça imunda com aquele que toca minha alma, e me acalma. Meu corpo, e me satisfaz. Meu espírito, e me leva mais próximo da súbita compreensão.
A noite chega. Logo estamos em casa. Energia física é sentida entre nós, mesmo que não pareça ao longe.
Pressiono seu corpo cruamente sujo, cheio de toda podridão que o cercava, dominando, contra a porta. O beijo. Seu hálito fresco me faz esquecer todo um dia duro. Literalmente.
Minha garganta vibra de prazer, com a língua conhecida a provocá-la e reconhecê-la. Seus pelos se eriçam o toque da minha barba rala contra seu pescoço, com minha boca o mordendo e sugando.
Cabelos são puxados. Línguas secas. Camisas arrancadas com pressa e prazer sem precedentes. Mamilos mordidos, sugados, lambidos. Marcas feitas em ombros. Sangue escorre. E não há nisso preocupações.
Segundos (ou seriam minutos apressados?) se passam, e sua boca se encontra me chupando. Forte. Fundo. Saco. Bolas. Dor. Prazer. Amor. Ali mesmo. Sua bunda grande e de tom chocolate é usada sem qualquer pudor ou preparação. Seco. Mas eu sei que é assim que ele gosta. Tanto o é, que sem outro toque, senão o quase estupro consentido que o faço, ele exala seu prazer, gritando meu nome.
Banho juntos. Nus. E novamente somos apenas duas crianças, que se descobrem. Sem malícia. Sem rancor. Somente amor. E as eternas marcas disso estarão sempre em suas costas. Para sempre.