Perdão, padre. Pois eu pequei. Muitas vezes, na verdade. Por isso, espero contar com sua paciência e, principalmente, com sua compreensão.
Vim aqui, antes de tudo, pois nunca me abri com alguém. Nunca falei de mim mesmo, pois sei que haveriam uma série de barreiras que impediriam meu interlocutor de entender. E acredito que o senhor, um homem de fé, talvez possa ter ser mais crente com as coisas que irei revelar. Não é comum para os de minha espécie se abrirem para homens como o senhor.
Não, o senhor não ouviu mal. O senhor já deve ter ouvido falar de mim. Durante séculos seus antecessores lutaram e caçaram os de minha espécie. Mas não se preocupe, não estou aqui atrás de vingança ou algo do tipo. Até por que, sei que o senhor não foi responsável pelo desaparecimento de meus irmãos. Mesmo vocês tendo perdido todas as batalhas, acabaram por vencer a guerra. O mundo moderno cuidou disso muito bem.
Vou direto ao ponto para que o senhor possa entender de uma vez. Meu nome é Fabio Mendes, e eu sou um Incubus.
Sim, escutou bem e sei que o senhor já leu sobre mim em textos antigos. E não se surpreenda, pois sei que não sou tão feio como nas iluminuras. Os religiosos da idade media tinham a tendência de querer retratar nós demônios como criaturas horrendas, mas a verdade é bem diferente. Até por que, sendo eu um ligado diretamente ao pecado da luxúria, não faria sentido não ser atraente.
O senhor ri, mas confesse, não viu ainda meu rosto, mas está curioso. Minha voz, por si só esta lhe atraindo. Pode não confessar, mas algo nela lhe atrai. Por isso me escuta tão atentamente, por isso, apesar de ainda se manter cético, não me repreendeu. Essa é uma das minhas inúmeras habilidades, padre. Sou um sedutor por natureza. É praticamente impossível para qualquer humano, mesmo um homem de fé, resistir. E quando eu quero seduzir alguém, sou implacável. Por isso optei por esse confessionário, onde não possamos ter contato visual, assim será mais fácil para o senhor resistir e, para ser sincero, para mim também.
Vou ser honesto com o senhor, um dos motivos para o qual o escolhi , dentre tantos padres em tantas igrejas e tantas cidades, foi que te achei muito atraente. É muito jovem e veio cedo ao celibato. Apesar de sua fé pregar o contrário, é vaidoso e cuida de seu corpo. Essa batina não é capaz de esconder por completo o corpo bem feito que abriga.
Apesar de ser o demônio que divulga os prazeres, eu não os controlo. E também sou um escravo desse desejo carnal que acomete toda e qualquer pessoa. Talvez até mais. Se estivéssemos frente a frente, talvez eu não resistisse a travessura de lhe seduzir e desnudar sua batina dentro deste confessionário mesmo, coisa que com certeza o senhor também está desejando, ao julgar pela sua respiração ofegante. Não se sinta culpado, padre. Nem com vergonha. Nenhum humano é capaz de resistir a mim.
Se o senhor tiver coragem e paciência, narrarei todas as minhas habilidades, assim como minha história. Na verdade, vou revelar um de meus dons agora mesmo, só para quebrar o que resta de seu ceticismo.
Eu sou capaz de ler os segredos mais obscuros da carne humana. É como se fosse uma telepatia, mas só funciona a curta distância e quando a pessoa já esta envolvida comigo. Quanto mais atraída ela está, mais nítido fica . E não se sinta mal padre, mais o senhor está claro como água pra mim.
Consigo ver com clareza sua juventude, e o que fez o senhor, um jovem de classe media alta, escolher o celibato. Apesar de estarmos no século 21, crescer em um lar extremamente conservador pode acovardar todos nós. Sei que na adolescência o senhor já sabia sua preferência por homens e que lutou para esconder isso. Sabia que seria o fim do mundo em sua casa, com sua mãe extremamente religiosa.
Estou vendo sua primeira vez com seu padrinho, aos 15 anos. E não adianta me enganar, embora você diga para si mesmo que foi abusado, sabe que você queria aquilo. Você já tinha percebido os olhares dele antes e não falou nada. Fez questão de naquele verão passar na casa de campo dele, mesmo sabendo que não haveria mais ninguém da familia, como de costume. Sei que você ficou acordado madrugada a dentro, esperando em seu quarto, até a porta se abrir e ele entrar. Fingiu dormir enquanto ele mexia contigo, tirava sua cueca e lambia todas as partes íntimas de seu corpo. Ele também sabia que você estava acordado. Afinal, não era nenhum idiota, mas gostou de simular que não. Era divertido ao fim, sentir estar abusando do afilhado sonolento.
Nossa, consigo até sentir a lingua dele entrando em seu orifício. O prazer que você sentiu.
O gosto do sêmen dele está na minha boca, assim como está na sua, trazido pela doce lembrança potencializada pelo meu poder.
Quando ele se ergueu e passou o pênis em seus lábios, abriu delicadamente sua boca e o introduziu. Foi quando você revelou estar acordado e o chupou. Você era jovem, padre, não se envergonhe. Aquele era seu primeiro homem, sua primeira chance. Os desejos são assim mesmo, são como... Como poderia explicar?
Como o ar em um balão. Eles sopram, inflam. E se você não os soltar de vez em quando, as paredes rompem e você explode.
Ele não lhe penetrou aquela noite. Mas você queria que tivesse feito.
Imagino como deve ter ficado confuso no dia seguinte, com raiva, mas também culpado. Esse conflito se perdurou por todo o verão, mesmo que oportunamente só se manifestava após os contatos. Enquanto ele estava contigo, lhe beijando, lambendo ou... Penetrando por trás, você convenientemente calava essas vozes de culpa.
Eu lhe entendo. Deve ter sido imensamente prazeroso ter um homem tão grande por cima de você no banheiro daquela casa vazia. Foi tão prazeroso que você sequer sentiu a dor de ser deflorado pela primeira vez. Nossa...
Foi um verão verdadeiramente intenso. Você foi violado muitas vezes. Hora ele visitava seu quarto, hora você o dele... Eu quase... Não...
Padre, perdão, acho que me empolguei.
Está difícil para mim conter meus próprios instintos. Imagino como esteja sendo dificil pra você. Preciso parar, ou nao consegurei conter meu impeto de lhe visitar em sua cajine agora, ou em seu quarto nesta madrugada. O que vou fazer agora, pode lhe assustar. Vou controlar meus impulsos e em um instante, toda essa atração que você está sentindo por mim ira desaparecer. Por favor, não fuja quando eu...
Padre? Padre, por favor. Droga...
Continua
Minha primeira tentativa na literatura fantástica. Espero que gostem