Olá, como vai? Espero que bem!
Me chamo Junior, atualmente tenho 24 anos, e esta foi parte da minha história durante uma fase bem complicada da minha vida.
Meados de 2015, eu estava com uns 18/19 anos, no segundo ano na faculdade de Arquitetura e Urbanismo, experimentando uma vida completamente diferente da que eu conhecia até então. Isso se dá pelo fato de que eu havia mudado por completo (física e mentalmente) no período de um ano. Entenda, para quem foi uma criança e um adolescente extremamente introvertido, acima do peso, sem nenhuma experiência de vida e imerso em um mundo fantasioso criado para afastar a realidade, a simples ideia entrar para a faculdade, conhecer pessoas, viver... era fascinante e ao mesmo tempo aterrorizante, mas os receios se dissiparam quando eu mudei. Estava experimentando uma nova vida, um novo eu, com um corpo que eu sempre desejei (certo, em vista do que era, eu estava me achando um príncipe, conheci uma auto estima que nunca pensei que fosse possuir), eu amava ir à faculdade, amava meus amigos, meus professores, sair para aproveitar a minha vida.
Poderia dizer que as coisas estavam praticamente perfeitas, tirando um aspecto da minha antiga vida que nunca havia sido alterado: a solidão do gay.
Entenda, como eu cresci em um mundo criado por mim, eu tendia a fantasiar demais sobre romances, esperar a pessoa certa para embarcar em uma jornada de amor comigo. E era apenas isso o que eu fazia: esperava, como se fosse surgir milagrosamente um cara, nos padrões que eu idealizava, se declarando para mim da noite para o dia. (Felizmente com o passar dos anos eu desconstruí essa visão tola e extremamente romantizada que eu possuía).
Até o momento eu nunca havia tido um namorado; embora já tivesse transado (o que diga-se de passagem, nunca me foi satisfatório, não conseguia entender qual era a mágica do sexo que fazia com que as pessoas o desejasse), nunca provei do real sentimento de se possuir um amor correspondido. Até então, nutri amor por diversos caras, mas tudo ficou guardado comigo, alguns por serem héteros, outros por eu simplesmente saber que aquele tipo de relacionamento seria mais como um acordo: eu te dou prazer, você me dá prazer, e assunto encerrado. Enfim, é complicado quando você começa a idealizar essas coisas, porque no final quem sofre é você. Ainda mais se você não possui um cenário familiar amigável, digo, poder conversar sobre essas dores com algum parente ou até mesmo a sua mãe, porque eles simplesmente não podem saber quem você realmente é, então tudo isso acaba se tornando um grito abafado no escuro, ainda mais em certas situações.
Bom, aquele era o que parecia ser mais um dia normal, estávamos em Outubro, em alguns dias eu faria aniversário, eu estava saindo da faculdade à tarde, dirigindo até a minha casa. Eu e meu grupo de amigos havíamos recebido um convite para o aniversário de dois aninhos do filho de uma amiga que estudava conosco, ela morava dois quarteirões da minha casa, então seria lá que o “rolê” daquele dia seria feito, mesmo que à contragosto, pois no mesmo horário haveria uma das festas temáticas da Cultura Inglesa, esta era uma festa dedicada ao tema St. Patrick’s Day, uma comemoração irlandesa regada a cerveja, música tradicional, entre outras coisas dessa cultura que eu sou simplesmente apaixonado, mas eu não podia negar o convite da minha amiga, então acabou que os planos foram mudados mesmo.
Ao chegar em casa, agi normalmente, retirei a minha roupa, liguei meu computador e fui jogar um pouco de World of Warcraft (algumas coisas não mudam, confesso!). Estava com um grupo de amigos que conheci no jogo (já há alguns anos) fazendo uma dungeon particularmente complicada quando chega uma notificação em meu celular: Olho rapidamente sem tirar muito a minha atenção do jogo, pois eu era o suporte e precisava garantir que todos continuassem vivos, e vejo o já tão conhecido ícone do Grindr, um aplicativo de encontros gays. A esta altura, eu nem dou tanta atenção, pois sei que ou deve ser mais uma conversa que não vai resultar em nada, ou mais um cara sem foto, desesperado por sexo, querendo ver a minha bunda. Volto a minha atenção para o jogo.
As horas se passam, eu me despeço dos meus amigos da internet, e vou tomar um banho, pois antes de ir ao aniversário, havia combinado com um amigo para irmos comprar as bebidas (eu não tinha tanta certeza se haveria cerveja, ou álcool na festa, então decidi prevenir haha). Tomo o meu banho tranquilamente, afinal, não havia nada de anormal naquele dia. Seria como qualquer outro dia em que marcamos de sair: saio, bebo, começo a ficar animado, viro o palhaço da turma fazendo piadas com tudo e depois volto de madrugada para casa curtir a ressaca no dia seguinte. Saio do banho, visto uma roupa, a que eu já iria para a festa, e envio uma mensagem ao meu amigo, que aqui vou chama-lo de Ricardo.
- Ow, tu tá pronto? – Eu pergunto.
- Tô sim, pode vir! – Respondeu Ricardo.
Pego as chaves do carro, dou um grito na sala, me despedindo da minha mãe, e sigo em direção à casa do Ricardo, que na realidade ficava um pouco longe da minha, então teríamos que dar uma baita volta para o rolê que seria praticamente do lado de casa, mas enfim...
Chegando na casa do Ricardo, vejo que ele já está me esperando no portão, arrumado. Ricardo é bonito, da minha altura mais ou menos, 1.75, cabelos curtos e castanhos, olhos da mesma cor, branco, corpo normal, nem atlético, nem muito magro, e também é gay.
- Eita Ju, veio voando foi? – Disse ao entrar no carro e bater a porta.
- Migo, eu quero é comprar isso logo e começar a beber. – Ele riu e nisso seguimos para a conveniência comprar as coisas.
Inconscientemente acabei passando na frente da Cultura Inglesa, local onde momentos mais tarde iria acontecer a festa que eu tanto queria ir. Saindo de uma van, músicos e auxiliares transportam vários equipamentos, tambores, guitarras, microfones. Sem dúvida seria um excelente evento. Um detalhe bacana, é que todos esses caras (e mulheres) já estavam vestidos à caráter, um traje típico irlandês. E eu fiquei babando, pois eu os achei todos maravilhosos.
A conveniência não ficava muito longe dali, então estacionei o carro e seguimos de entrada para comprar nossas bebidas. Enquanto o Ricardo decidia o que iria levar, eu já com as minhas coisas na sacola, resolvi dar uma olhada no Grindr, sabe, ver quem estava por perto, se algum funcionário da conveniência estava ali (não me pergunte o porquê, eu acho interessante saber que existe mais de um espectro na vida das pessoas, e saber como elas são e o que nos apresentam pessoalmente... loucura minha). Um perfil me chamou a atenção, a foto não dava para ver muita coisa, mostrava a boca, o pescoço e parte do peito, estava com o efeito branco e preto, eu normalmente teria passado reto, não fosse por aquela barba (sim, eu amo pelos, barbas...), aquele queixo meio quadrado e aquela boca carnuda... Eu fiquei besta quando vi, e logo já senti meu corpo ficar quente. Decidi entrar no perfil e ver se havia mais alguma coisa que pudesse me revelar. Ele estava marcando uma distância de 500m do local onde eu estava, perto da Cultura Inglesa.
O Ricardo havia finalizado a sua compra, então fechei o aplicativo e seguimos para o carro. Durante todo o caminho eu fiquei com aquela imagem na minha mente, não entendia porque fiquei tão impressionado com uma foto que sequer mostra o rosto inteiro, mas fazer o que... Provavelmente não daria em nada de qualquer forma.
Chegamos no horário combinado na festa, e ficamos escorados no carro em frente à casa, esperando o restante do pessoal.
Tudo ocorreu normalmente, uma típica festa infantil, os amigos da mãe do pequeno aniversariante já bêbados (sim, estou me referindo à mim e ao meu grupo doido), brincando na cama elástica como um bando de bobalhões, rindo alto, fazendo piadas, correndo atrás das crianças, fazendo as coreografias das músicas, e principalmente bebendo e comendo. Naquela altura eu já havia até esquecido a festa que queria ir, a do St. Patrick’s Day, da Cultura Inglesa.
Fato é que quando estou com meus amigos, me divertindo dessa forma, não importa o lugar. Só preciso deles, e claro, de um combustível porque não sou de ferro.
Já estava perto das 2:30 da manhã, as pessoas estavam começando a ir embora, e nós estávamos todos deitados na cama elástica. O Ricardo já havia apagado, estava dormindo do meu lado. Sem ter muito o que fazer, pego o meu celular, me lembrando daquele perfil que tanto me chamara atenção, e vou até o aplicativo, e para a minha surpresa, uma notificação. Sim, exatamente, DAQUELE perfil!
A mensagem só dizia um Olá, coisa que eu achei novidade, porque é raro ver alguém iniciando conversa dessa forma, sem uma foto de pau, ou um “eae brother”, e haviam se passado várias horas desde que ela fora enviada. O dono do perfil não estava com o indicador de online assinalado, devido ao horário também, imaginei que devia estar dormindo ou algo do tipo. Mas eu estava inquieto demais, um simples “olá”, de uma pessoa que eu nunca vi na vida, deixou meu coração acelerado.
Decidi responder.
“Oi, como vai? Perdão pela demora haha.” – Respondi tentando ser descontraído, mas o meu nervosismo é explanado quando o que é para ser uma conversa informal, eu a transformo escrevendo as mensagens de forma culta, bem pontuada, etc.
Nenhuma resposta.
Não me admiro com isso, afinal, o que eu deveria esperar desse aplicativo?
Quando dão aproximadamente 10 para as 3, eu acordo o Ricardo e o levo para a minha casa, eu não iria ficar dirigindo bêbado e de madrugada. Meus pais são policiais, então já viu. Muita falação na minha cabeça se algo acontecesse.
Trocamos de roupa, ele dorme na cama comigo (nunca vi problema nenhum nisso), e eu logo me pego, mais uma vez, com a mente voltada para aquele perfil. E com esse pensamento, na expectativa de um início de conversa com aquela pessoa, eu pego no sono.
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Continua! - Espero que tenham gostado dessa breve introdução à minha história. Muito do que detalhei aqui precisava ser contado para que você, leitor, possa entender como funciona a minha mente, e como é o aspecto geral de toda essa relação.
Até o próximo capítulo! =)