Estou de volta ao banheiro. Tomo banho e de repente o encanamento dá pau. A água acumula no ralo e começa a me assustar. O chuveiro parece uma cachoeira e o recinto não é muito arejado ou largo. Bastava poucos minutos pra que o nível de água começasse a subir. Corro em direção à porta, pra evitar o acúmulo de água, mas ela emperra quando eu tento abri-la. Grito várias vezes em desespero, até Gilberto, meu tio, gritar do outro lado.
“Calma! Vou tentar arrombar!”
E ele dá um chute.
Nada.
“Se afaste. Pode se machucar.”
Eu procuro pela minha toalha, mas ela está completamente encharcada devido a agressividade com que a água se derrama do chuveiro até o aguaceiro que se forma abaixo. Tentar me enrolar nela seria completamente inútil.
Mais um chute e a porta já desgastada dá certa vacilada
Outro impulso e uma poeirinha escapa do batente da porta.
Em seguida, um chute mais certeiro e a porta despenca.
Tio Gilberto parece o homem mais forte do mundo. Ele tem a pele bronzeada, quase caramelo e um começo de calvície. Os olhos dele são expressivos e semicerrados, a boca é bem feita, lembra a de um ator americano, lábios finos, mas bem desenhados. O peitoral dele é avantajado, a barriga um pouco saliente e os braços dele são grossos e peludos. Um chumaço de cabelo se encontra no espaço entre um mamilo e outro e eu posso afirmar que tio Gilberto se fosse enquadrado em alguma categoria de pornô gay seria um misto de “bear" e “daddy".
Tio Gilberto avança até mim e me beija na boca. Ele passeia as mãos pelo meu quadril e vai se aproveitando de mim e agarra minha bunda com as mãos. O aperto é forte, quase agressivo e eu gosto. Eu retribuo o beijo e apesar de tio Gilberto ainda estar vestido com a bermuda, nos esfregamos. A água circula pelos nossos pés até que eu acordo.
São três da manhã e eu esfrego os olhos.
Pouco a pouco minha memória retorna. O sonho bizarro vai se esvaindo na escuridão do quarto (o tipo de sonho que é gostoso no momento, mas completamente inapropriado depois). E então são outras imagens que vagam minha mente.
Eu em cima de Felipe. Nossa luta infame pra ver quem conseguiria derrotar o outro e ficar com a nota de cem. Minha proposta sem fundo de verdade nenhuma. Ele chupando meu peito. Depois guardando o dinheiro no bolso. Ele sorrindo e virando-se para o quarto de hóspedes. Eu acordado até mais tarde sem conseguir pensar em outra coisa, até cair no sono.
Vai lá no quarto de hóspedes e termine o que vocês começaram, meus desejos falavam na minha cabeça. Mas eu sabia ignorá-los muito bem e sabia que se Felipe realmente quisesse terminar de fato o que quer que tivéssemos começado ali, ele o faria. Até o final. Mas assim como ele iniciou (ele poderia ter torcido o nariz pra minha proposta), foi ele também quem deu por encerrado.
Por mais que eu quisesse de verdade ir atrás dele e transar até o dia raiar (a imagem dele caindo de boca no meu mamilo não saía da minha mente), eu não queria estragar as coisas. Parecer desesperado e não saber jogar o jogo da discrição safada. Ou Felipe poderia de fato estar zoando. Aquela chupada de peito não era diferente das minhas agarradas no volume dele de vez em quando. Ou das nossas lutas idiotas. Mas algo naquele gesto, algo naquela língua me dizia o contrário. Ao menos era o que eu queria acreditar, no ápice dos meus desejos mais incontroláveis.
Felipe tinha me pego de surpresa. Das vezes em que fantasiei com ele na adolescência eu me via sendo agressivo, aceitando ser penetrado e esculachado conforme ele preferisse. Transaríamos selvagemente entre tapas, estocadas no meu ânus profundas e uma jorrada de esperma na minha boca.
Quando um deus grego cai de boca no seu mamilo as coisas são bem diferentes. É tão louco ver o rosto de um homem sugando seu peito. É excitante de uma maneira difícil de entender. Não é como os caras que eu tinha transado dos aplicativos de pegação. Eles sempre eram preguiçosos e ruins de cama. Eu fazia todo o trabalho, chupava, dava, fazia malabarismos e suava feito um atleta do sexo. Isso tudo enquanto eu observava um quarentão pai de família deitado, me olhando como se ele estivesse assistindo um jogo de futebol, só pra depois tirar a camisinha gozada e me levar pra casa sem sequer um beijinho de despedida.
Quando um homem por conta própria experimenta te acariciar com a boca, fechando os olhos como para se concentrar melhor na tarefa... é simplesmente...
Lindo.
Feito meus dias de adolescente, naquela noite eu me masturbei fantasiando com meu primo.
Na manhã seguinte achei que tudo seria bem estranho. Eu contornava o quarto, sem saber se meu primo estaria desconfortável, arrependido até a alma em ter feito uma brincadeira tão ousada. Eu podia vê-lo constrangido no quarto de hóspedes, decidido a ir pra casa e nossa amizade escorrendo pelo ralo. Tudo por conta de uma piada sem graça, minha incontrolável sede pelo proibido, por preferir uma transa quente a uma relação amistosa e verdadeira.
Quando me sentei à mesa do café com meus pais, Felipe estava com um dos pijamas do armário do quarto de hóspedes. Ele parecia adorável com o shorts e a camiseta de botões listrada, senti vontade de beijá-lo no rosto. Até que nossos olhos se encontraram.
“Bom dia.”
“Bom dia", só meus pais responderam.
Puxei a cadeira e senti o estômago embrulhar. Fingindo naturalidade, me servi de café e comecei a bebericar a xícara. Eu sentava em frente a Felipe e meus pais de frente um ao outro, à mesa.
“Felipe você está um rapaz tão bonito”, minha mãe segura a mão de Felipe. “Lembra quando aquele olheiro ficou obcecado por você naquele dia no shopping?”
Felipe abaixou o olhar e sorriu, sem graça.
“Ele deu o cartão dele e tudo. Pena você não ter se interessado, vai ver uma hora dessas estaria fazendo novela", minha mãe sorriu até aparecerem rugas ao redor das narinas dela e seus olhos ficarem espremidos.
“Uma hora dessas estaria namorando uma atriz ou uma modelo da Victoria... Se... Victoria...”
“Victoria's Secret, pai", eu acrescento.
“Isso. O Hélio entende dessas coisas”, meu pai sempre falava isso.
“Fazia tempo que você não passava um tempo aqui em casa, Felipe. Antes vocês dois ficavam juntos nas férias da escola até tarde fazendo bagunça.”
Tomo um gole de café sentindo a cafeína piorar meus nervos. Aquela reunião de parentes era super desconfortável depois do ocorrido na madrugada. Eu podia sentir que Felipe estava profundamente perturbado com que tínhamos feito e eu só queria que aquele papo tivesse fim, ele finalmente fosse embora e não nos víssemos por um longo e bom tempo. Estava começando a me sentir culpado e envergonhado com todo o episódio. Me amaldiçoava por nutrir tantos desejos ocultos por Felipe e toda aquela fantasia e minhas falsas boas intenções agora tinham sido desmascaradas. Ele sabia que eu o desejava e não só sabia, como brincou com meus desejos e acabou confundindo nós dois, numa aventura descabida e desmedida.
Aquilo era uma tortura e eu só queria que tivesse fim.
“Eu viria mais vezes, tia. Bastava o Hélio me chamar mais vezes", Felipe me olha e sorri.
Eu, ainda mais confuso, não entendia.
Ele realmente levava na naturalidade o que tinha acontecido antes? Estaria fingindo (muito bem por sinal) uma tranquilidade e eu é quem estava mergulhado em suposições paranóicas?
“Hélio gosta de andar com as amigas dele", meu pai diz dando uma golada em sua xícara.
“Só garotas lindas, as amigas dele”, minha mãe volta-se a Felipe. E então a mim: “Bem que você podia apresentar uma amiga sua pra ele.”
“Mãe!”
“É, sério. A sua mãe me contou que você e a Ana Júlia terminaram. Uma pena, meu filho, você gostava muito dela, não é?”
“Mãe, isso foi na sétima série!”
Eu e Felipe controlamos o riso.
“Foi? Deus do céu, comi o tempo passa. E eu lembro de vocês no natal juntos.”
“Isso tem mais de oito anos, mãe.”
Agora todos caem na risada.
Passado o café da manhã e minha neurose, eu e Felipe vamos até meu quarto. Ele troca de roupa na minha frente (uma casualidade que eu tinha começado, mas nunca iria me acostumar) e se despede.
Antes que ele atravesse a porta eu sinto vontade de perguntar se estava tudo bem entre a gente. Se aquela brincadeirinha lasciva não afetaria nossa amizade, se as coisas iam continuar na mesma.
Mas me contive.
Tinha que aprender a domar minhas inseguranças. Caso Felipe estivesse de fato desconfortável não teria sido tão natural após o ocorrido. Talvez nem sequer tivesse ficado para o café. Mas o tratamento diferente que eu esperava antes de vê-lo naquela manhã, não aconteceu. Do contrário, se não fosse minha memória do que tínhamos feito, tudo aquilo era mais comum e normal do que poderia ser.
Mas a imagem de Felipe lambendo meu mamilo surgia em flashes na minha mente.
Na faculdade minhas amigas me perguntavam o motivo de eu estar tão sorridente. Pensei bastante se devia falar o motivo, não queria de alguma forma comprometer a reputação do meu primo e até estragar a chance dele com outras garotas (ele poderia ser considerado “gay").
Mas nenhuma delas o conhecia e eu não precisava citar nomes. Além do mais, dois motivos me faziam querer compartilhar minha experiência: a evidente satisfação de ter uma fantasia realizada e a dúvida: será que aquilo teria continuação?
“Amigo, que... esquisito”, uma franziu o cenho, comi quem tenta resolver uma equação. “Ele não é gay, mas pra quê ele faria isso?”
“Somos bem íntimos”, justifico.
“Também somos íntimas de você, mas você nunca tentou chupar nossos peitos", outra acrescenta e caímos todos na gargalhada.
“Talvez ele estivesse bêbado”, uma deduz.
“Não, não estávamos bebendo", esclareço.
“E se ele for enrustido?”, uma indaga.
“Vai ver ele é bi", outra sugere. “Todo mundo é bi hoje em dia.”
A conversa com as meninas é divertida e é gostoso compartilhar o que ti há acontecido, sabia que o assunto estaria seguro entre nós. Mas ainda assim as dúvidas só aumentavam. Eu não queria pensar tanto, enquanto eu estava a enlouquecer, mergulhado em indagações, era bem provável que Felipe sequer se ocupava em pensar nisso.
E por minha parte eu também estaria pouco me importando e ocupando a cabeça com outras coisas.
No estágio os advogados mencionavam meu bom humor e um deles até brincou que alguém tinha conquistado meu coração. Corei e senti vontade de fazer as mesmas perguntas praqueles homens que fiz pras meninas. Uma opinião masculina do assunto seria esclarecedora e até bem mais direta.
Felipe estava só de zoação? Aquela mamada era sinal de uma atração mútua? Eu devia me sentir mal por ter envolvido dinheiro naquela situação?
Ao encerrar o expediente eu sorria, cansado da minha própria neurose. Pedi um Uber e em casa tomei um banho demorado.
Demoraria, mas eu iria acabar esquecendo aquilo tudo. Deixei o celular descarregado e me forcei a dormir naquela noite. Minha mente estava exausta.
Duas semanas se passaram e no estágio recebi uma mensagem de Felipe.
Tinha tido uma briga com a mãe e precisava conversar. Nas sextas eu saía mais cedo, às cinco da tarde, sugeri que passássemos numa venda e comprássemos cigarros. Tinha um morro próximo à orla da praia que era deserto. A vista era bonita e podíamos ficar conversando enquanto o sol se pusesse.
Felipe pareceu adorar a ideia e não demorou muito pra chegar.
Compramos os cigarros e nos dirigimos ao tal morro.
O lugar era composto de grama e morros de barro. Era bem afastado, apesar de se poder olhar a orla embaixo e as pessoas correndo ou caminhando com seus cachorros na coleira. A luz de fim de tarde iluminava tudo e o céu era alaranjado.
Os olhos de Felipe se comprimiam conforme ele desabafava, mas do contrário do habitual eu não conseguia prestar atenção. Quando eu olhava pro meu primo tudo o que eu conseguia ver era sua boca. O flash, agora mais apagado devido ao tempo, surgia como um pensamento intrusivo: minha cama, eu deitado, Felipe abocanhando meu mamilo direito.
E se eu o beijasse agora?
Ele reclamaria?
Ou retornaria?
O beijo?
“... é por isso que eu preciso sair de casa, primo.”
“Entendo”, eu tentava simular atenção.
“Eu tô sendo chato, não é?”
“Não, não! De forma alguma!”
“Eu pareço estar te cansando.”
“Ei!”
Eu aperto a mão de Felipe e o encaro fixamente:
“Você é meu primo. Tô aqui pra isso, deixa de bobagem.”
Muito dramático. Retiro minha mão da dele e me arrependo em ter sido exagerado. Até que sinto o braço de Felipe me envolver num abraço.
“Valeu, primo. De verdade. Eu não sei o que seria de mim sem você.”
O cheiro dele. Olho pro sol se pondo no horizonte. Um avião vaga nos céus e uma ave voa ao longe. Quero distrair minha atenção do óbvio, mas não consigo. Minha atração por Felipe não diminuiu desde do nosso último encontro. Talvez até aumentou de proporção. O abraço dele não parece mais o mesmo. Ele tem esse cheiro, cheiro de homem, mas não qualquer homem.
Não é o mesmo cheiro dos homens com que dormi. Felipe não tem cheiro de mediocridade, desleixo. Não tem cheiro de cecê, testículo mal lavado, pênis malcheiroso. Felipe tem um cheiro bom, um cheiro que vem de dentro dele e transpira na pele. É cheiro de homem, homem bonito, homem que sabe transar, talvez até amar. Homem que carrega a gente, segura nossa mão e beija. Homem que a gente se sente seguro em estar por perto, que faz a gente sorrir, mesmo que por dentro.
Felipe é cheiroso.
“Você anda distante.”
“É o trabalho", minto.
“O que foi?”
“Acho que vão me demitir", mentira de novo.
Agora é Felipe quem tenta me consolar. E ele é genuinamente fofo. Em seu esforço busca as melhores palavras, os melhores conselhos e tenta emanar a minha própria energia quando sou eu a tentar acalmá-lo. Eu poderia ouvi-lo se não fosse o rosto dele, a boca dele me hipnotizando. A luz começa a se esvair e então caminhamos até o carro.
Paramos próximo a um fast food que ficava em um posto de gasolina. Comemos, eu pago nossos lanches e antes de irmos percebo o sinal do carro da falta de gasolina. Ofereço a pagar o combustível e desconcertado, Felipe aceita.
Na porta de casa Felipe dispara:
“Primo, me sinto envergonhado por tudo isso.”
“Felipe, deixa disso.”
“Você tem sido tão legal comigo e eu me sinto mal em não ter como te recompensar.”
“Não se trata disso. Eu te amo", mais uma vez eu soo mais dramático do que previ.
“Eu sei, mas... tem que haver alguma coisa que eu possa fazer.”
Silêncio.
“Quer que eu te deixe na faculdade?”
“Mas daí você não teria dinheiro pra gasolina.”
A feição esmorecida de Felipe me corta o coração. Falei depressa demais, devia ter aceitado.
Até que um ímpeto de coragem me toma o íntimo.
O desejo volta a tomar conta de mim e num acesso de pura falta de vergonha eu disparo:
“Chupa meu peito.”
Felipe olha em direção ao para-brisa do carro. Seus braços estão cruzados sob o volante. É noite e nossos corpos estão mal iluminados. Eu posso sentir o gosto do arrependimento vindo, mas era tarde demais para choro. Só cabia a mim lidar com as consequências.
No silêncio do carro, o som de Felipe se virando a mim lembra os diálogos de cinema. Quando tudo soa como sussurro e qualquer farfalhar de roupa, movimento produz um som arrastado e suave.
“Você gosta disso.”
“Sim".
Felipe ergue uma mão até minha blusa. Seus dedos a suspendem e a mão dele adentra o tecido, tocando meu tronco. Todos os pelos do meu corpo se erguem, feito espinhosa brotar dos meus poros.
Felipe segura meu mamilo esquerdo com as pontas dos dedos indicador e polegar. E belisca, repuxa de um lado e para outro.
“Gosta, não é?”
Eu só consigo respirar. Meu corpo agora é dele. Todo dele.
A camiseta ameaça cair, mas eu a suspendo. Meu tronco todo está à mostra e Felipe vem com a outra mão. Ele brinca com meus dois mamilos.
“E se eu fizer isso?”
Ele leva o polegar até a boca e o umedece.
“Gosta?”
Eu arrepio de novo. Não consigo responder.
O dedo de Felipe cheio de saliva toca meu peito. Meu pênis está duro feito rocha, mas na escuridão não se nota. Não tenho coragem de me mover.
Felipe, dotado de uma maldade sem igual, se aproxima e beija meu pescoço. Eu estremeço. Meu pênis dói de tão ereto, amassado na calça jeans justa. Não me atrevo a ajustá-lo. Logo a cabeça de Felipe, aquele deus do sexo, está abaixo do meu pescoço. Eu posiciono minha mão no cabelo dele e ele começa a chupar meu mamilo esquerdo. No mesmo esquema de duas semanas atrás.
Eu vou ao delírio, principalmente quando ele percebe meu êxtase e ao mesmo momento que me mama, belisca meu mamilo direito. Molha o indicador e torna a brincar com seu botão particular. Eu aperto meu lábio inferior numa tentativa de controlar um gemido, mas ele escapa em grunhidos que eu dou devido a pressão de tanto tesão.
Então ele me segura pelas costelas e chupa um peito, depois o outro. Um peito, depois o outro. Direito e esquerdo. Esquerdo e direito. Pelo espelho do carro só de enxergar nosso reflexo eu tremo, a imagem mais erótica que vi na vida. Felipe se demora nas carícias e dessa vez tudo demora ao longo de uns quinze minutos. Pra mim parecem cinco, talvez menos. É muito intenso e sinto estar alucinando.
Ele então volta ao seu posto de motorista e eu não demoro a sair do carro, meus peitos molhados de saliva, como se tivesse esfregado molho no peito e um animal tivesse devorado o líquido de mim e deixado a baba no lugar.
Quando deito na cama, toco na saliva deixada e finalmente gozo depois de me tocar. No escuro do meu quarto eu falo pra mim mesmo:
“É assim que você vai me recompensar.”