Eu vivia um sonho ao lado do Carlão. Desde que os hormônios despertaram em mim a vontade de pertencer ao um macho, ser sua fêmea, viver uma vida de paixão e amor irrestrito, gozar das coisas simples que o destino oferece, ser grato por isso, e usufruí-las em sua plenitude, jamais havia imaginado que isso poderia ser tão maravilhoso. Era essa a nossa vida comum, sem pôr ou tirar. No entanto, quando sonhava com uma vida dessas eu sempre acordava no melhor do sonho, e tudo ficava registrado apenas na minha memória, camuflado pela realidade. O momento de acordar desse sonho atual também chegou, da maneira mais abrupta e cruel.
Há tempos vinha acontecendo de forma sorrateira uma disputa de facções pelo território dominado pelo Aristides. Isso aconteceu por que ele estava envelhecendo e perdendo aquela energia necessária para exercer seu domínio como era exigido. O Carlão, seu potencial sucessor, estava ficando a desejar, desde que virei seu foco principal, segundo diziam os mais próximos do Aristides. Apesar de concordar com o ponto de vista deles, de exercer pressão sobre o filho, não era capaz de alguma atitude mais drástica contra o filho ou contra o que traria a sua infelicidade se lhe fosse subtraída. No caso, eu.
Valendo-se desse calcanhar de Aquiles, a facção rival armou uma cilada para o Carlão. Nesses subterrâneos da criminalidade, as informações valem ouro. E essa facção tinha uma que não apenas garantiria sua supremacia como também poderia ser usada a seu favor. Tratava-se da aquisição de um respeitável montante de armamento pesado que o Aristides havia negociado com fornecedores no Paraguai. Como sempre, eu desconhecia a transação, bem como todo e qualquer pormenor. Contudo, a inquietação do Carlão nos últimos dois dias me indicava que algo importante estava para acontecer. Ele, como de costume, negou. Disse apenas que não se tratava de nada ilegal, pois sabia que eu ficava apreensivo temendo que lhe acontecesse algo de ruim.
- Deixe os outros fazerem seja lá o que for, mas não você pessoalmente. – disse eu, sem nenhuma base para aquilo que estava dizendo.
- Do que você está falando?
- Do que você está para se meter.
- Você sabe que eu não gosto quando você se intromete no que não lhe diz respeito! – censurou ele.
- Você me diz respeito, por que eu te amo! Fico com o coração na mão toda vez que você fica assim, pois sei que estão tramando coisa pesada. – eu sabia que ele podia ficar seriamente zangado comigo, mas por ele valia correr o risco.
- Vai sobrar para você se não parar de falar besteiras! – revidou irado.
Na noite da véspera eu o chupei muito, luxuriosa e demoradamente. Ele gostava de ficar me observando com sua verga enrijecida na boca, mamando e lambendo seu sexo com uma devoção quase sagrada. Isso tinha o poder de afastar momentaneamente todos os problemas que ocupavam seus pensamentos. Gozou duas vezes na minha boca deleitando-se com a maneira suave pela qual eu deglutia sua virilidade. Penetrou-me com um desejo que parecia não ter fim, instigado pelos meus gemidos lascivos, e só sucumbiu ao sono quando a madrugada já corria alta, embalado pelos afagos dos meus dedos percorrendo sua cabeleira.
- Entra em mim, morzão! – provoquei, apesar de estar com a mucosa anal completamente assada, me movendo sensualmente na cama quando ele retornava da ducha na manhã seguinte, nu e hercúleo como um macho deve ser.
- Você já viu o estado do seu cuzinho? Ainda quer mais? Não pense que não conheço suas artimanhas, sei muito bem onde quer chegar empinando esse rabão do caralho só para me provocar. – devolveu ele, com o mais tesudo dos sorrisos na cara.
- Não estou fazendo nada! Coloca em mim, coloca? Acordei morrendo de vontade de sentir você aqui dentro. – instiguei, erguendo a pelve e as ancas para exibir meu ânus marcado por sua voracidade. Golpe baixo ou não, eu precisava me valer de qualquer subterfúgio para que ficasse comigo, para que não se expusesse; pois em meu peito, há dias, se oprimia uma angustia premonitória.
Ele me fodeu, porque a comichão no caralho sobrepujou sua determinação em resistir aquele rabo que se oferecia promiscuamente. Não consegui chegar ao clímax, pois a impetuosidade com que me arregaçou o cu já totalmente esfolado só me fez ganir de dor. Não me importei com nada daquilo, eu só o queria nos meus braços, onde sabia que estaria longe de qualquer perigo. Mas, ele partiu mesmo assim, me deixando num desassossego aquebrantador.
A emboscada aconteceu num posto de combustíveis à beira de uma rodovia a poucos quilômetros da entrada da cidade, onde estava combinado de entregarem o armamento e receber o pagamento. A polícia federal havia sido alertada e monitorava as redondezas desde aquela madrugada. Um comboio de três carros, pelos quais o armamento estava distribuído entrou no posto cerca de meia hora depois de o Carlão e alguns homens estarem a espera. Um dos capangas do Aristides sacou a emboscada e deu o alarme. Parte do armamento já estava na camionete do Carlão, enquanto ele passava uma valise abarrotada de dólares para o chefe da entrega. Um intenso tiroteio pôs em polvorosa todos que estavam no posto e no restaurante anexo. Salvaguardado por alguns homens do Aristides, o Carlão tentou empreender uma fuga pela contramão da rodovia, mas viaturas da polícia rodoviária e um helicóptero ajudaram a interceptá-lo. Um dos capangas morreu alvejado quando tentou sair da camionete disparando uma rajada de metralhadora que atingiu fatalmente dois policiais. O outro e o Carlão foram presos sem maiores dificuldades.
Do inquérito constavam não apenas o flagrante de receptação, mas os homicídios dos policiais, a formação de quadrilha, que já vinha sendo monitorada há cerca de seis meses, a ligação com assassinatos como queima de arquivo e, mais um tanto de acusações que a promotoria levou ao júri. Tanto o Aristides quanto o Carlão, enquanto seu braço direito, estavam no topo de uma lista de procurados pela polícia que nunca havia conseguido provas suficientes para um inquérito. Depois da emboscada, tinham material suficiente para a condenação.
Nunca senti tanta dor quanto no momento em que vieram me contar da emboscada, antes mesmo de todos os canais de televisão exibirem matérias extensas sobre a apreensão. Eu só conseguia pensar no Carlão, na possibilidade de o matarem, na possibilidade de ficar sem meu homem, do qual eu ainda estava galado quando recebi a notícia. Fiquei sem acesso a ele por meses, até que a sentença da condenação saiu e ele foi transferido para um presídio de segurança máxima no interior do estado. Fui proibido pelo Aristides de visita-lo. Ele também me tirou do novo apartamento, mais amplo e confortável que o anterior, que o Carlão havia adquirido para vivermos nosso amor. De uma hora para outra eu estava na rua da amargura, desesperado pelo destino do homem que amava e, sem um chão que me desse guarida.
- Já sei o que vai me dizer. Eu te avisei! – disse à Cleide quando fui procurar, mais uma vez, abrigo em sua amizade.
- E você não me ouviu! – retrucou ela, sem mais tripudiar sobre a minha desgraça.
- Como eu podia te ouvir se nesse homem é tudo na minha vida, Cleide. Explica para mim, como eu podia abrir mão dele? – argumentei.
- O seu grande mal sempre foi raciocinar com esse coração que vive a sonhar e esse rabão que nunca soube te dar bons conselhos. – afirmou ela.
- Você está sendo impiedosa! Ponha-se no meu lugar. Nasci bicha, pobre, zoada desde criança pela molecada no colégio, por esses malandros que viviam ao meu redor na favela, só querendo tirar uma casquinha do mais proeminente atributo que Deus me deu. Meu destino já estava traçado assim que saí da buceta da minha mãe, um viado que não ia chegar a lugar algum, independente do esforço que fizesse. E, de repente, como por milagre, esse homem entra na minha vida, me protege, cuida de mim, se torna a razão do meu viver. Vem você e me pede para deixa-lo, para esquecer que ele existe. Não posso, Cleide. Não posso! – eu chorava feito uma criança abandonada.
- Por enquanto, esquece o que falei. Chora! Chora tudo que tem para chorar. Se bem que te garanto que chorar por homem é pura perda de tempo. Mas, vá lá, agora isso não vem ao caso. – ela me abraçou e me deixou chorar até não haver mais lágrimas.
O mundo sempre desaba logo após uma tragédia, mas bastam algumas semanas para que voltemos e escalar as paredes daquele poço profundo em que caímos. Com ou sem veto do Aristides, eu me pus a caminho de uma visita ao Carlão. Ele havia passado pelo regime de reclusão total sem comunicação, exceto com o advogado, quando fui visita-lo. Amarguei umas horas numa fila de visitantes após ter chegado à cidadezinha na qual ficava o presídio na noite anterior. Fazia muito calor e, até para facilitar a revista, coloquei uma bermuda e uma camisa branca ligeiramente folgada. Com certeza propositalmente, fui deixado para ser o último a passar pela revista na entrada do presídio. Dois policiais militares faziam a revista, pois havia uma escassez de carcereiros no presídio. Eles me estudavam desde o momento em que os portões se abriram e os visitantes começaram a entrar, feito bois, por uma passagem estreita que conduzia a uma ampla sala onde ocorria a revista. Eu não trazia nada na mochila além de alguns chocolates e guloseimas que sabia que o Carlão adorava. Restava apenas eu na sala quando coloquei todo o conteúdo da mochila sobre o balcão, como fizeram os demais. Os policiais se entreolharam. Fiquei ali parado sem saber se podia recolocar as coisas na mochila, pois ninguém dissera nada.
- Nos acompanhe! – disse o que tinha – FABIANO – bordado no bolso da camisa, enquanto abria uma porta que dava numa saleta sem janelas.
- Deixa ver, vai visitar o condenado Carlos Fragoso de Albuquerque, é isso? – disse o que pude identificar como – CASTRO – e nos seguiu fechando a porta atrás de si.
- Sim, senhor! – eu estava nervoso, suava, o que espalhava o perfume cítrico que estava usando.
- Senhor está no céu! – devolveu ele. Odiei-o.
- O detento é seu parente? – perguntou o Fabiano.
- Sim. – respondi afoito, percebendo que não falava a verdade. – De certo modo. – emendei ligeiro.
- Como é que se é parente de certo modo? Ou é ou não é! – retrucou o policial. – Seu sobrenome é diferente do dele, se essa carteira de identidade for verdadeira. – observou.
- É teu macho, é isso? – inquiriu o Castro. Tímido, acenei afirmativamente com a cabeça.
- Sujeito de bom gosto o senhor Carlos Fragoso de Albuquerque, não é Fabiano? – aquela maneira de pronunciar por inteiro o nome do Carlão não passava de uma forma de tripudiar sobre a minha condição.
- Sem dúvida! – respondeu o Fabiano. – Não são permitidas visitas íntimas aos condenados. – afirmou, em seguida, dirigindo-se a mim.
- Sim, eu sei. – devolvi, encolhido na minha vergonha.
- Mas podemos quebrar o seu galho, Rosivaldo! – insinuou o Castro, pegando um cassetete que se encontrava num armário de portas de vidro preso à parede.
Tive vontade de sair correndo dali mas, sabia que ia ser inútil, pois minhas pernas não queriam se mover e, nem eles o permitiriam, estava estampado em seus olhares.
- Já experimentou um desses? – perguntou o Castro, afastando um pouco a minha camisa, com o cassetete, cujos primeiros botões abertos permitiram que meu mamilo ficasse exposto.
- Não senhor, nunca! – balbuciei apavorado.
- Se tornar a nos chamar de senhor, vou enfiar isso aqui todinho no seu cu! – repentinamente sua voz cresceu e ganhou ousadia.
- Desculpe, só quis ser respeitoso. – respondi.
- Já te falaram que você é muito gostoso? - foi a vez do Fabiano se impor.
- Não se.... Não, nunca! – menti
- O que você fez para ficar com uma bundinha tão tesuda? Colocou silicone? – perguntou o Castro. Ambos me espreitavam feito lobos.
- Não se.... Fiz balé por muitos anos. – não devia ter dito a verdade, mas meu estado de nervos não me deixava pensar direito. Eles se entreolharam e riram.
- Balé! A bichinha faz balé! – exclamou exuberante o Fabiano, como se eu lhe estivesse atirando o combustível para me queimar. Passagens dos primeiros anos de colégio pareciam estar voltando à minha memória e, me deixando na mesma situação humilhante que a daqueles tempos.
- Como é que se chama mesmo.... Ah! Plié. Sabe o que é um plié, não sabe? – tripudiou o Castro, ordenando que eu fizesse o movimento.
- Por favor, estou com vergonha. – só não desatei a chorar porque não queria dar esse gosto àqueles canalhas.
- Você tem vergonha de fazer um plié, mas não tem vergonha de dar o cu, seu panasca rabudo! – exclamou o Castro. – Anda! Abre essas pernocas lisinhas e me mostra como se faz. – ordenou, passando a ponta do cassetete entre as bandas da minha bunda. Fiz o que ele mandou, como me mataria se ele tivesse ordenado. Eu não podia acreditar que estava vivendo esse tipo de pesadelo novamente.
Os dois se aproximaram de mim ao mesmo tempo, me encurralando feito um sanduiche. Ao mesmo tempo em que Castro enfiava o cassetete pelo cós da bermuda, o Fabiano apertava com força um dos meus mamilos. As ereções sob suas calças estavam escandalosamente projetadas duras como pedras, quando me obrigaram a tocá-las. O Fabiano, que estava cara a cara comigo, foi enfiando a mão na minha bermuda até alcançar minha nádega quente e lisa, enquanto seus dentes mastigavam o biquinho do meu mamilo. O Castro havia aberto a braguilha e tirado o caralhão de chapeleta rosada babando para fora. Alguém bateu na porta como por um milagre da divina providência, quando estava prestes a desmaiar de tanto pavor.
Cheguei ao encontro com o Carlão transfigurado. Ele me questionou sobre aquela pele lívida, aquela respiração acelerada, aquela agitação que havia colocado meu corpo todo a tremer. Aleguei ser efeito do calor, ele não acreditou. Ralhou comigo diversas vezes durante nossa conversa, dizendo que não era mais para eu visita-lo, contradizendo o que estava estampado na felicidade de me ter a seu lado outra vez. Contei o que seu pai tinha feito comigo, mas ele pareceu já estar a par de tudo.
- Deixei uma grana na sua conta, não é muito, pois não sabia que ia ser preso, mas dá para você se virar por uns tempos. – disse ele.
- Nunca mexi naquela conta, e não vou fazê-lo agora. Não é sua grana que eu quero. Eu quero você. – não consegui segurar o choro.
- Nada de chiliques! – sua voz não tinha o tom de uma reprimenda, mas de quem estava louco para me apertar em seus braços e me assegurar que tudo acabaria bem.
- Não estou tendo chilique! Só estou sentindo sua falta, aqui dentro. – retruquei, colocando a mão sobre o peito.
- Só aí? Achei que estava sentindo falta de mim noutro lugar. – afirmou, depravado.
- Também, mas onde mais dói é aqui. – devolvi, repetindo o gesto. – Lá só dói quando estou com você. – ele pareceu se deliciar com minha fala ousada, por que notei que estava tendo uma ereção, cuja vontade de satisfazer não me seria possível. Ambos sofremos por isso.
- Nunca mais volte aqui! Você entendeu, nunca mais! – ele havia ficado circunspecto, o tom jocoso de antes havia se transformado naquele tom em que costumava dar ordens quando ficava zangado.
- Por que? Eu preciso te ver. – aleguei.
- Porque estou mandando! Aqui não é lugar para você. Só eu sei do que seriam capazes se você entrasse numa dessas celas. – sentenciou. Eu imediatamente revivi o pesadelo da revista. Ele pareceu adivinhar que eu sabia exatamente do que ele estava falando.
- Nem para você.
- Mas é assim que as coisas acontecem! Trate de tocar a sua vida! E repito, nunca mais me apareça aqui!
- Não fale assim comigo. Eu vou te esperar pelo tempo que for, juro.
- Não jure nada! Vou passar anos aqui dentro e nem vou me lembrar mais da sua existência quando puder sair daqui.
- Por que está falando assim comigo? Não faz isso, Carlão, por favor.
- Não tenho mais como comer o seu rabo, portanto, você não tem mais serventia alguma para mim. – ele queria parecer duro, mas não conseguia. Não conseguia porque eu não queria entender as coisas daquela maneira.
- É mentira! Se você pudesse eu sei que ia me apertar contra o seu peito, me beijar e tirar todo esse sofrimento do meu coração.
- Vai! Os guardas já estão acenando para cá, a visita acabou.
- Amo você, Carlão, como nunca amei ninguém! É com essa certeza que você vai dormir todas as noites, nem que viva cem anos. Ao olhar para trás uma última vez, pude ler no olhar dele o que nunca teve coragem de me dizer – eu também te amo muito.
Ao passar pelos portões, na saída, o Fabiano e Castro me propuseram um encontro para aquela noite, para terminar aquilo que começou na saleta de revista, disseram. Meu ônibus para São Paulo só partiria no alvorecer do dia seguinte, e eu não consegui pregar o olho a noite toda temendo que viessem até o hotel e me forçassem a satisfazer seus instintos animalescos. Era essa a realidade de um homossexual desamparado. E, sem o Carlão, era assim que eu estava.
Depois de tudo o que aconteceu, eu praticamente havia me esquecido daquele cartão do Gutierrez. Ouvi-o dizendo – se necesitas algo en cualquier momento, solo buscáme – quando encontrei o cartão numa caixa com as coisas que tirei do apartamento antes de ser expulso de lá. Parecia uma profecia, e estava se cumprindo, sem que eu deixasse de me preocupar com o fato de pedir ajuda àquele sujeito. Mas eu estava ficando sem opções. Não podia continuar explorando a boa vontade da Cleide, não podia voltar para casa da minha mãe que nunca mais me procurou ou se lembrou da minha existência. Meus parentes em Minas Gerais também já deviam estar contaminados pelo veneno que minha mãe havia destilado sobre mim. O que mais podia fazer se a pouca instrução me desqualificava para um emprego que pudesse me sustentar, a não ser recorrer às benesses daquele homem de caráter duvidoso?
Fui com a cara e coragem! Ele me atendeu, apesar de saber que não estava ali por conta de seus negócios com o Aristides. Provavelmente já farejara que podia tirar proveito daquela visita inesperada. Recebeu-me como das vezes anteriores, com o olhar cobiçoso de um leão sobre uma gazela, que foi acompanhado por seu fiel escudeiro, sentado no mesmo sofá, parecendo fazer parte da mobília. Meio acanhado, recorri à oferta que havia me feito. Ele se prontificou a resolver qualquer questão para mim e a me oferecer um emprego. Mencionou sua amiga Pilar, que ficaria encarregada de pôr as coisas em prática. Deixei o escritório não tão feliz quanto alguém que acabara de conseguir um emprego numa época de crise, pois sabia que ele não viria de graça. Toda aquela história de rostinho lindo, corpo escultural, e outras observações descabidas eram a chave daquele emprego, eu só não sabia como isso seria usado. Encontrei-me com a Pilar naquela mesma semana, para ouvir a proposta.
- Tienes un pasaporte valido? – questionou ela, a certa altura da conversa quando já havia me acenado com a proposta de virar modelo fotográfico na Espanha.
- Sim, tenho! – ela pareceu surpresa com a resposta, devia achar que um sujeito sem eira nem beira como eu nunca tivesse visto um passaporte na vida. Precisei apertar os olhos quando a imagem do Carlão surgiu na minha frente.
- Bien! Eso hace las cosas más fáciles. Solo tenemos que preocuparnos con los passajes. – disse ela, pedindo minha identidade para copiar o nome. – Tambien tenemos que proporcionar un book. Cuando podemos programar una sésion de fotos? - emendou.
- Quando for mais conveniente para a senhora. Estou disponível.
- Maravilloso! Llamo mañana o después para decir la hora.
Fiz as fotos com um sujeito esquisito dois dias depois. A sunga que me deram para as fotos de praia era escandalosamente sumária. Em outros tempos eu até ficaria deslumbrado com ela, mas esse tipo de roupa deixara de fazer meu estilo há muito tempo. Outra vez aquela imagem do Carlão surgiu como um flash diante dos meus olhos, e meu peito se apertou doído. Antes de cada tomada, o fotógrafo veio me posicionar, num melhor ângulo segundo ele, coisa que não tinha feito com as demais roupas, aproveitando a oportunidade para me apalpar nas intimidades.
Respirei fundo quando olhei para o céu claro na calçada onde esperávamos o taxista guardar nossas bagagens no porta-malas, naquela manhã um pouco fria de Madri, após um voo de pouco mais de dez horas. Na partida, em São Paulo, me surpreendi com a presença de mais duas garotas e um carinha com idade e preferência sexual semelhantes às minhas, ao me encontrar com a Pilar em um de seus indefectíveis tailleurs, aquilo parecia uma espécie de uniforme, mais do que um estilo de se vestir. Nós quatro tínhamos em comum a idade, os atrativos físicos e, mesmo não os conhecendo, podia jurar que a mesma falta de perspectivas e de dinheiro. Apesar de viajarmos no mesmo avião, a Pilar se acomodou na classe executiva, e nós quatro na econômica.
- Oi! – Mickael, prazer. – disse o carinha ao se apresentar.
- Oi! – Rosivaldo, prazer.
- Oi! Larissa, prazer. – disse a garota de cabelo longo caindo em grandes ondulações sobre os ombros.
- Oi! – Karina, prazer. – disse a garota de cabelo tão curto que de longe podia ser confundida com um rapaz.
Viajei na poltrona ao lado do Mickael. Ele era muito mais falante do que eu. Assim que a aeronave alçou voo, ele se pôs a fazer um resumo de sua vida, sem que eu tivesse perguntado nada. Atribuí a verborragia incontrolável ao pavor de voar, pois além emendar uma frase na outra, ele transpirava a ponto de o suor escorrer por suas têmporas. Lembrei-me do meu primeiro voo, não me encontrava no mesmo estágio de nervosismo que ele, mas acho que o fato do Carlão estar segurando minha mão fez toda a diferença. Por isso, tentei acalmá-lo, sem sucesso. Ele ainda não havia passado por um processo de burilamento, mostrava-se um pouco afetado demais quando interpelado pelos comissários de bordo, ignorava que sua voz esganiçada não apenas chamava a atenção, mas se tornava insuportável depois de um tempo, embora alegasse que essas características sempre lhe trouxeram muito sofrimento. Concordei com ele, pois tinha vivido exatamente a mesma experiência, antes do Carlão me colocar na linha, como gostava de chamar o fato de me convencer a mudar algumas atitudes, sem modificar a minha essência, apenas para tornar o convívio social menos agressivo e tumultuado. Eu falei pouco, estava cansado, havia dormido muito mal na noite anterior, agitado com a guinada que minha vida estava dando, limitando-me a responder às suas perguntas de forma sucinta. Ele deve ter me achado um pedante, pois a certa altura, desistiu de ficar puxando assunto. Os dois sujeitos que ocupavam as poltronas do outro lado do corredor sentiram um alívio quando ele se calou, o que ficou evidente quando um deles acenou na minha direção fazendo um sinal de enfado. Respondi com um sorriso amarelo, pois se aquele sujeito soubesse como é a vida de um homossexual pobre que tenta a todo custo encontrar o rumo da felicidade, não agiria daquela maneira. Mas, eu não estava ali para consertar o mundo, nem para erguer bandeiras do que quer que fosse, estava preocupado com meu futuro, só isso.
A Pilar nos deixou num edifício de quatro andares de paredes amareladas desbotadas pelo tempo, o que não prejudicava a arquitetura de estilo clássico com gradis de ferro rebuscados nos janelões que davam para a rua movimentada. No térreo, onde passamos sem nos deter, ficava algo que me pareceu ser uma casa noturna, embora não houve uma placa de indicação como nos demais estabelecimentos da rua. Entramos por uma ampla porta em arco, depois de um pequeno vestíbulo, subimos a escadaria com corrimão de ferro até o primeiro andar. Lá, ela nos apresentou ao señor Fajardo, um sujeito corpulento apesar da barriga proeminente e de seus cinqüenta e poucos anos, o dono do lugar. As apresentações e os primeiros diálogos se deram numa sala de móveis escuros, cortinados pesados e um cheiro de mofo disfarçado por algum aromatizante de ambientes que estava me provocando engulhos, talvez porque não houvesse ingerido praticamente nada durante o voo, além de dois copos de água.
O señor Fajardo nos explicou brevemente, num portunhol precário, como seria o trabalho de cada um. Mencionou o agenciamento que fazia com empresas de publicidade, de mídia televisiva, de empresas de moda e daí por diante. Explicou como funcionava o esquema de pagamento e da sua porcentagem nos trabalhos que faríamos. Também se ateve pormenorizadamente ao esquema de moradia e seus custos, o que de cara, me deixou apreensivo ao ouvi-lo mencionar a cifra de 600€/mês pelos aposentos que ocuparíamos, nada mais que quitinetes individuas distribuídas ao longo de um corredor no quarto andar, onde passaríamos a residir.
- Para dar início ao processo de legalização da situação de vocês na Espanha, vou precisar dos passaportes. – disse ele, ao final da explanação.
- Pensei que nós mesmos fossemos fazer esses trâmites burocráticos. – observei.
- Disse bem, burocráticos! Aqui na Espanha a burocracia é enorme e confusa, vocês não estão acostumados e nem familiarizados com o idioma, quanto mais com esse tipo de coisa. – interveio a Pilar, ao notar que o señor Fajardo havia cerrado o cenho com a minha observação.
- Seria uma forma de nos familiarizarmos mais depressa. – devolvi. Desta vez até a Pilar se irritou com minha insistência.
- É o señor Fajardo quem vai cuidar disso! – exclamou, ponto fim ao assunto.
Não demoramos a perceber que jamais teríamos os passaportes de volta, que o aluguel consumia praticamente tudo que os parcos trabalhos intermediados pelo señor Fajardo remuneravam, que nos foi imposta uma vigilância diuturna que mal nos permitia ir às ruas sem sermos seguidos por uma leva de cupinchas que fomos conhecendo já nas primeiras semanas após nossa chegada, que estávamos sendo vítimas de trabalho escravo.
O que foi mais aterrador, foi descobrir quais eram os reais negócios do señor Fajardo, dos quais não tive a menor dúvida que o señor Gutierrez fazia parte, casas de prostituição. O que funcionava no térreo do edifício onde residíamos era uma casa noturna, onde rolavam shows performáticos de prostitutas, drag queens e gayzinhos mal saídos dos cueiros, e onde os clientes eram induzidos a fazer uso dos artistas. O señor Fajardo também era um cafetão que mantinha um site na Internet onde oferecia os serviços de acompanhantes de luxo.
O Mickael e eu ainda conseguimos alguns serviços em peças publicitárias, uma vez que o mercado para rapazes oferecia menos concorrentes. Já a Larissa e a Karina não tiveram outra opção a não ser cair na prostituição após decorrido o quinto mês sem nenhuma proposta de trabalho. Fiquei tão abalado quando a Larissa veio me contar que tinha aceitado o primeiro cliente para aquela noite, chorando desesperadamente diante da iminência de entrar a vagininha a um desconhecido completo, quando relutou por meses liberá-la para o próprio namoradinho.
- Não sou puta, Rosi! Juro, não sou puta! – soluçava ela, agarrando-se a mim quando o taxi que a levaria para o encontro já esperava lá embaixo.
- Eu sei querida, eu sei! Pense melhor e aceite a minha oferta, talvez em breve surja algum trabalho honesto. – respondi.
- Não surgiu nada nesses meses todos, e não vai surgir. Já saquei qual é a desse velho safado, ele jamais vai vir com uma proposta de trabalho verdadeira. A Karina e eu fomos trazidas para cá com o único objetivo de sermos putas. – devolveu ela, ao se recusar a aceitar um pouco do dinheiro que eu havia conseguido juntar, após saldar minhas dívidas com o señor Fajardo. – Ademais, já estou devendo cinco meses de aluguel e alimentação, não é justo para com você eu aceitar uma grana que vai te fazer falta e não vai resolver o meu problema. Vou ganhar livre 250€ só esta noite, segundo me garantiu o velho, já dá para começar a saldar minha dívida. – a impotência em poder ajudá-la me consumiu por semanas.
Alguns meses depois, foi a vez do Mickael se encontrar na mesma situação. Ele logo aceitou participar de um dos espetáculos deprimentes que aconteciam no térreo. Ao menos, as noites passadas entre os depravados e bêbados que vinham assistir ao show, haviam lhe permitido pagar as contas em dia.
Fui o último a ter que me submeter a algo que nunca tinha feito antes. O velho Fajardo vinha avaliando essa possibilidade há tempos, talvez desde o primeiro em que me viu, colocar-me à disposição de bem-pagantes e executivos no site de acompanhantes. Resisti o quanto pude, vendo, a cada mês, zerarem minhas economias juntadas por um modo espartano de viver. Nunca fui um moralista, sempre gostei de dar o cu, mas até então fui seletivo em minhas entregas, até certo ponto romântico e, principalmente porque eram as minhas escolhas e não a imposição do dinheiro que me fazia liberar a toba.
- 400€ livres, é um executivo inglês que costuma vir à Espanha a trabalho e já é nosso cliente regular, um dos melhores. Vou te substituir pelo rapaz que o atendia, porque ele me pediu novidades. É sua chance! – disse o velho, com um risinho de triunfo resplandecendo naquela cara tosca.
- Posso pensar mais um pouco, señor Fajardo? Não estou habituado a ficar com homens. – respondi. Ele não precisava saber que eu havia sido a fêmea de dois machos e me divertido com o próprio padrasto.
- Se não quiser perder a oportunidade que estou lhe dando, pense rápido. E, não se esqueça que no final do mês as contas vencem. – cretino! Já havia calculado tudo. Estávamos em suas mãos, sem ter como recorrer à ajuda.
Ele me pressionou durante os dois dias seguintes. Uma sessão de fotos foi cancelada de véspera, pois o cliente havia repensado e optado por outra peça publicitária. Não havia mais nenhum trabalho em vista e, rapei minhas economias para ajudar o Mickael a comprar uns medicamentos depois de ter pego uma gripe que o deixou uma semana de cama.
- Que tipo de serviço de acompanhante esse executivo quer, señor Fajardo? – perguntei, apesar da obviedade, numa manhã em que também acordei um pouco indisposto. A entrada do outono havia mudado radicalmente o clima e meu corpo sentiu os efeitos da mudança. O velho abriu um largo e vitorioso sorriso.
- O trivial! Ele deve te levar para um jantar, depois para a suíte do hotel em que está hospedado e, a partir daí fica pela imaginação e desejos dele. Não sou nenhum experto no assunto, por isso é tudo que posso te adiantar. – respondeu ele, se fazendo de probo quando conhecia muito bem a libertinagem de seus clientes.
Trivial. Sujeitinho asqueroso. Talvez para ele seja trivial levar uma rola no cu de um sujeito que se acaba de conhecer. Eu sabia por experiência própria o quanto um macho podia ser exigente quando estava a fim de se satisfazer e, até então, sempre estive numa posição onde podia impor certos limites ou, pelo menos, pedir para pegarem leve. Mas, um macho que precisava pagar para fazer sexo, haveria de ter taras que só o dinheiro podia satisfazer.
Culligham, o executivo, esperava por mim no balcão de um bar sofisticado na região boêmia da cidade. Trajava um terno elegante que realçava seu corpo atlético, na faixa dos cinquenta anos, embora aparentasse menos, não fossem as costeletas bem aparadas estarem permeadas de fios brancos. Pronunciei discretamente seu nome ao me aproximar, orientado pela descrição que o señor Fajardo havia me feito, ele pareceu aprovar minha atitude, pois abriu imediatamente um sorriso caloroso. Ofereceu-me uma bebida, que recusei e foi substituída por um copo de água aromatizada onde flutuavam três cubos de gelo e duas rodelas de toranja, enquanto me examinava como se estivesse comprando um cavalo.
- Muy guapo! – arriscou, num espanhol que ainda não dominava completamente.
- Gracias! – retruquei, num sorriso tímido e tenso.
Ao terminar sua bebida, sugeriu um restaurante do qual nunca ouvi falar, mas que elogiei para deixá-lo satisfeito com a escolha e, para não demonstrar o quão chucro eu era naquela cidade. Eu havia me acostumado a deixar o Carlão fazer as escolhas quando saíamos juntos, por pura preguiça de decifrar o cardápio, deixei que o Culligham fizesse o mesmo. Estava tão sem apetite, por conta da minha indisposição, que qualquer coisa estaria a contento, pois ia mesmo apenas ciscar um pouco pelo prato para não decepcioná-lo. Retribuí seus elogios à maneira delicada como eu segurava os talheres, à coloração âmbar dos meus olhos que lhe pareceram exóticos, ao modo como eu lançava olhares languidos e sedutores pelo salão, sempre com um sorriso que oscilava entre o recatado e o juvenil. Encarei-o amistosamente quando senti sua perna tocar a minha debaixo da mesa. Seu olhar se iluminou e ele me mandou discretamente um beijo invisível pelo ar. Ao menos é galanteador, pensei comigo mesmo, embora minha tensão só fizesse aumentar à medida que pressentia a chegada do momento de ficar a sós com ele entre quatro paredes. Ao final do jantar ele observou que eu havia comido feito um passarinho, e sugeriu que fossemos tomar um café no piano-bar do hotel em que estava hospedado e, que ficava a poucas quadras dali. A noite estava um pouco fria e, enquanto caminhávamos pelas calçadas ainda apinhadas de transeuntes, eu constatei que havia me vestido de maneira inapropriada para aquele clima.
Ele pediu uma mesa e o café expresso diretamente à moça da recepção do piano-bar. O local estava cheio e dominado pelas conversas animadas nas mesas. Ninguém prestava atenção ao pianista, sem dúvida latino, provavelmente colombiano ou venezuelano, de olhos ligeiramente puxados, tez escura e face arredondada que dedilhava Moon River numa interpretação melancólica e lenta. Precisei levar um guardanapo de papel aos olhos, justificado com a alegação de que o ar-condicionado intenso me provocava secura nos olhos, para disfarçar a formação de lágrimas repentinas pela lembrança de assistir ao filme Bonequinha de Luxo numa noite chuvosa nos braços do Carlão. Naquele momento eu soube que ainda teria que me libertar de muitas lembranças do passado para conseguir sobreviver aos dias atuais.
O instante fatídico chegou quando o Culligham acenou para o garçom pedindo para assinar a papeleta da conta. Já não havia mais como recuar. O elevador chegou, abriu as portas e o ascensorista nos sorriu profissionalmente, assim como eu devia agir dali em diante. Sentimentos, emoções, pudores e tudo o mais teriam que ficar aquém da porta que ele destrancava com o cartão da fechadura.
A suíte era ampla e luxuosamente decorada, ele devia exercer uma função importante na multinacional onde trabalhava, talvez fosse o CEO. Perguntou-me se eu estava bem de um jeito cortês. Eu apenas sorri. Ele deixou o paletó e a gravata sobre o espaldar de uma poltrona e veio ao meu encontro, minhas pernas tremiam, por alguns segundos pensei que não segurariam meu peso. Deixei que me despisse, pois notei que isso lhe dava prazer ao ver cada parte do meu corpo nua e acessível. Também evitava de ele notar como as minhas mãos tremiam.
- Polla pequeña, nalgas grandes! Me gusta mucho! – sussurrou ele, quando ariou minha cueca e notou que eu não era bem dotado e, que a bunda era ainda maior do que aparentava dentro das calças.
Seus dedos traçaram desenhos imaginários sobre a minha pele, de onde ele não desgrudava o olhar, como eu queria que aquele compromisso se resumisse àquilo. Mas, logo percebi que estava pedindo demais. Ele se livrou da camisa e dos sapatos, mas fez suspense e levou minha mão até o cinto querendo que eu prosseguisse dali em diante. Desabotoei-o lentamente, vendo crescer dentro das calças uma ereção colossal. Saquei-a assim que minha mão teve acesso a sua virilha pentelhuda. Eu já tinha ouvido falar que irlandeses tinham picas cavalares, por isso estava apreensivo desde o instante em que ele me confirmou ser irlandês e não inglês como dissera o señor Fajardo. O que pendia entre suas pernas peludas confirmava a fama. O cacetão tinha bem mais que um palmo, reto e coberto por veias calibrosas, devia pesar entre 300 e 400 gramas se o feeling da minha mão não estivesse enganado. No entanto, o que mais impressionou foi aquela chapeleta no formato de um enorme cogumelo do tamanho de uma bola de golf. Senti um arrepio só de pensar no estrago que aquele troço faria na minha rosquinha. Era um equipamento para se orgulhar, e era isso que estava estampado na cara dele, quando notou que fiquei impressionado. Ele pegou na pica daquele jeito másculo, pincelou-a na minha cara e ordenou que eu a chupasse. Coloquei a cabeçorra na boca e comecei, mas de tão imensa, eu mal conseguia mover a musculatura bucal, obviamente não alcançando a ficção necessária para estimulá-lo a contento. Impaciente, ele forçou a verga na minha garganta, me sufocando. Eu estava com a boca tão distendida que meus músculos faciais começaram a doer, numa espécie de tetania que a contraia involuntariamente aumentando aquela sensação de sufoco. Minha boca foi se enchendo do melzinho salgado que o tesão o fazia liberar, não me restando outra opção que não o engolir. O cacete ficou tão rijo que mal consegui manipulá-lo, por isso me ative aos seus testículos, afagando-os entre as pontas dos dedos. Ele grunhia e verbalizava frases em inglês, cujo significado me era totalmente indiferente. Em seguida, ele me mandou ficar de quatro na beirada da cama. Isso apartou ligeiramente as bandas carnudas da minha bunda, mas não o suficiente para que ele vislumbrasse o cuzinho. Ele terminou de abri-las, devassando meu rego e se deliciando com o botão rosado tão bem escondido por aquelas carnes rijas. Não perdeu tempo e enfiou um dedo no meu cu. Gemi de tesão, pois havia mais de um ano que nada entrava por aquele orifício. Ele se encantou com meu gemido sensual e enfiou um segundo dedo. Voltei a me sentir um mero objeto nas mãos de um macho, quando ele invade sua intimidade, te usa depravadamente só para te mostrar que é ele quem dita as regras. O corpo masculino é inviolável, já o das mulheres e homossexuais vive sob um regime de controle diferente do macho. Por isso, a ideia de homem estuprado praticamente inexiste. Seu corpo está além da objetificação. A noção de corpos mais fáceis, mais frágeis, mais disponíveis, mais vulneráveis e mais excitantes só se aplica às mulheres e gays. Era exatamente isso o que aquele macho estava fazendo comigo naquele momento, ao enfiar soberanamente os dedos no meu cu, movendo-os em círculo para que eu sentisse seu poder, ele me impingia sua supremacia. Essa percepção não era nenhuma novidade para mim, mas ficava mais tangível quando o macho estava pagando por isso. Após firmar-se sobre as pernas ligeiramente afastadas, ele me puxou pela cintura e encaixou sua virilha na protuberância quente das minhas nádegas. Esfregou seu falo nelas, como um animal se esfrega deixando seus hormônios para demarcar o território. Meu rego foi se umidificando com seu pré-gozo e, a cada passada que aquela chapeleta dava sobre as minhas preguinhas, eu segurava a respiração e soltava um gemido. Ele voltou a segurar o caralhão e o forçou contra meu orifício anal. Foi tão incisivo e bruto ao fazê-lo que a pica entrou rasgando tudo que encontrava pela frente. Eu gritei. Há tempos sem levar no rabo, meu cuzinho havia se fechado e perdido a elasticidade que me fazia suportar com menos sofrimento a invasão predatória de um macho. O Culligham foi ao delírio com meu grito pungente e submisso. Ele tirou o pau e voltou a enfiá-lo em mim. Repetia isso sucessivamente, sabendo que estava me arregaçando, mas tirando o máximo proveito daquela rosquinha apertada que se amoldava ao seu cacete, e se regozijando com meus gemidos, que nada mais eram do que estímulos para sua tara. Quando ele resolveu me bombar o rabo, eu já estava no limiar das minhas forças. O vaivém animalesco daquela jeba nas minhas entranhas me deu a sensação de que, a qualquer momento, eu a veria aflorar à minha boca. Ele socava em mim sem dó nem piedade, como um pistão se movendo dentro do cilindro. Eu não fazia outra coisa senão implorar para que as forças daquele homem se extinguissem, pois nunca imaginei que um cinquentão ainda pudesse ser tão vigoroso e detonador. Não ter me alimentado adequadamente durante todo o dia por conta daquele mal-estar que me acompanhava desde o despertar, me fez sentir algumas vertigens. Por duas ou três vezes, pensei que não continuaria a me sustentar mesmo estando de quatro feito uma cadela em posição de cópula. Formavam-se breus diante dos meus olhos, que duravam alguns segundos antes que voltasse a ter consciência de onde estava. Na volta de uma dessas vertigens, senti que o Culligham estava montado em mim já todo retesado, a dor na minha pelve indicava que ele estava todo dentro de mim, um ligeiro tremor abalou a rigidez daquele cacetão e, um urro gutural me fez saber que ele estava gozando. Ainda atordoado, vi quando ele tirou a rola do meu cu encapada na camisinha cheia de porra. Meu corpo tremia e precisei de um tempo para me aprumar e conseguir juntar as pernas, uma vez que tinha a nítida impressão de que haviam cavado um túnel no meu cu. Ele aproveitou esse tempo para ir ao banheiro tirar a camisinha esporrada e lavar o caralhão na pia. Quando regressou ao quarto, agradeceu-me polidamente pelo serviço, colocou umas cédulas em minhas mãos para o taxi e me desejou boa noite. Pasmo e ligeiramente paralisado, levei alguns minutos para me recompor e me despedir. A sensação de vazio que ficou em mim era indescritível, nenhum abraço, nenhum beijo, nenhuma troca de afagos que até então sempre haviam seguido cada coito que sofri era algo muito mais humilhante e doloroso do que o cu dilacerado. Ele me levou até a porta e tornou a se despedir, fechando-a assim que saí. O corredor que percorri com dificuldade pela pungência que cada passo provocava me pareceu mais longo do que na vinda. Ao se abrirem as portas do elevador, a mesma cara sorridente do ascensorista me encarou. O avançado da noite era a razão de estarmos apenas eu e ele na cabine que descia provocando um frio na minha barriga. O rapaz agarrou minha bunda com uma das mãos e a apertou descaradamente, ciente de que eu não passava de um objeto do qual se podia tirar proveito sem consequências. Fiz-me de indignado, embora não houvesse me sobrado um pingo de dignidade. Ele esboçou um risinho de escárnio, talvez porque soubesse muito bem o que eu fui fazer ali. Chorei praticamente o tempo todo que restou daquela noite. Homossexual e agora prostituto escravizado, não era o destino com o qual sonhara.
O señor Fajardo só veio falar comigo ao anoitecer do dia seguinte. Revelou que o cliente havia feito muitos elogios ao me desempenho e que esperava contar comigo na próxima vez que viesse à Madri. Também me disse que havia abatido os 400€ do aluguel que estava para vencer, o que me deixou revoltado. Nós mal víamos a cor do dinheiro nesse tipo de trabalho, pois, ao contrário do que acontecia com o trabalho de modelo free lancer, quando o pagamento era feito diretamente a nós, aqui era o cliente quem pagava antecipadamente pelos serviços de acompanhante no momento em que registrava seu pedido no site. O señor Fajardo demorava propositalmente alguns dias para nos pagar, isso quando não havia dívidas a serem quitadas. Propôs ainda, um novo encontro para o dia seguinte, pois os pedidos no site não paravam de chegar. Pensei em recusar, com o cu naquele estado não estava pronto para mais uma rola destemperada, mas o olhar incriminador com o qual ele me fitava, não me deixou outra saída.
Curiosamente, à medida em que me vi obrigado a aceitar os programas sexuais, foram escasseando os trabalhos como modelo. Eu saía praticamente todas as noites, atendendo dois, às vezes mais clientes por noite. Minhas pregas anais nunca mais souberam o que é não estarem assadas, e meu espírito ia lentamente aceitando a derrota como algo inevitável. Eu me sentia um trapo velho e roto, que depois de muito usado, é atirado ao lixo. Enquanto isso, o señor Fajardo faturava às custas do meu corpo. Entre os gays que trabalhavam para ele, passei a ocupar o lugar de destaque, uma vez que a requisição pelos meus serviços não parava. O único privilégio que me foi concedido por essa posição, foi o de atender os clientes mais abastados o que, de certa forma, nunca me deixou sem dinheiro. Precisei, no entanto, fazer vistas grossas para muita coisa, sublimar outras tantas e me submeter sem muito queixume. Eu já não precisava me deslocar de taxi pela cidade para atender os clientes, um dos cupinchas do señor Fajardo se encarregava de me levar e esperar até que o cliente me dispensasse. Mesmo quando algum cliente me levava para uma pequena viagem, na cola, como uma espécie de escolta, seguiam um ou dois deles tão discretamente quanto possível. Era o granjeiro protegendo sua galinha de ovos de ouro.
Aquele era para ser mais um dos programas regiamente recompensados. O señor Fajardo me poupou por duas noites antes da data agendada, para que eu estivesse em meu pleno esplendor, pois o cliente queria me levar em seu jatinho até Valência na costa mediterrânea para um final de semana prolongado. Eu não teria a escolta de seus cupinchas, o que o deixou relutante de início, mas o cliente aceitou a absurda quantia que ele cobrou para ceder o pedido. A caminho do encontro, pensei tratar-se de mais um velho, provavelmente sexagenário, com uma conta bancária imensa e uma pica que mal se conseguia encontrar debaixo da barriga enorme e flácida. Porém, fui surpreendido ao constatar que quem me aguardava na saleta privada da viação executiva do aeroporto de Madri era um molecão parrudo de vinte e tantos anos, a mesma idade que eu, Guilhermo. Ele estava ansioso e um pouco agitado, foi rude com o pessoal do aeroporto e ríspido com o piloto que nos aguardava com uma saudação exagerada na escada do jatinho, algo típico de um imaturo que se julga superior aos menos abastados e no direito de trata-los como pessoas de segunda classe. A primeira impressão foi se desfazendo durante o voo, quando ele puxou conversa comigo e afirmou estar muito contente pelo señor Fajardo ter lhe enviado alguém tão – hermoso y encantador – como eu. Viajava conosco um amigo dele, León, não menos atraente em seu corpo atlético e bronzeado e, certamente tão abastado quanto ele, pois estava tão à vontade naquele jatinho como se estivesse em sua própria casa. Do aeroporto de Valência seguimos diretamente para a marina, onde uma lancha branca imensa reluzindo ao sol daquela manhã me fez ter noção da minha insignificância. No píer fomos recepcionados por mais seis amigos dele que nos aguardavam fazendo uma algazarra que estava deixando o pessoal da marina em alerta. Tive um péssimo pressentimento quando vi aquele bando de molecões dando asas aos seus delírios.
- Preciso fazer uma ligação, já os acompanho. – disse ao Guilhermo quando todos começaram a embarcar.
- Não demore! Temos que zarpar para aproveitar melhor o dia. – respondeu secamente.
- Señor Fajardo? Rosi! Estou na marina de Valência prestes a embarcar numa lancha com oito rapagões descontrolados, o senhor sabia disso? Eu nunca teria aceito o programa sabendo que se tratava de uma orgia dessa magnitude. – minha voz tremia de raiva.
- Não! Não está aí o senhor Guilhermo? O programa é com ele. – respondeu o velho
- Ele está. Porém, acompanhado de mais sete amigos! Eu já lhe adianto que não vou me prestar a esse papel. – ameacei.
- Claro! Claro! Mas não se preocupe, atenha-se a fazer seu serviço para o Guilhermo. – revidou.
- Que garantias eu tenho de que a bordo da lancha e em pleno Mediterrâneo não vão me obrigar a coisas inimagináveis? Eu não vou embarcar, estou avisando! Vou procurar a polícia. – eu tremia tanto que mal conseguia raciocinar.
- Não seja estúpido! Você bem sabe o que vai te acontecer se procurar a polícia. Coloque o Guilhermo no telefone. – ordenou.
Os dois conversaram rapidamente e ouvi o Guilhermo dando todas as garantias sobre a minha integridade física. Ao desligar, ele me lançou um olhar de desprezo e ódio.
- Deviam ter me mandado um profissional e não um amador cagão! – disse ele, antes de me apontar a escada para subir na lancha. Não tive mais um segundo de despreocupação, pois algo me dizia que estava embarcando num caminho sem volta, talvez até em relação a minha vida.
A lancha deixou o píer da marina para trás numa velocidade espantosa, cortando as ondas baixas do Mar das Baleares rumo a um destino que talvez apenas o piloto soubesse. Os rapazes se colocaram à vontade no deque principal, vestindo roupas de banho, minutos depois de zarparmos. O Guilhermo levou-me para a parte de baixo da lancha onde havia três cabines, pelo que vi de relance.
- Tire a roupa! – ordenou, enquanto tirava as dele e vestida uma sunga. Segui sua ordem pensando que iria iniciar meu serviço ali mesmo. Ao pretender colocar uma sunga ele me interrompeu. – Nada de roupas para você, quero contemplar sua nudez. – Obedeci.
- Ok! – respondi. Estava ali recebendo para isso mesmo, pensei.
- Bela bunda! Nunca vi um pederasta com uma tão bem torneada e grande! As coxas também são deliciosas. – murmurou ao deslizar a mão sobre mim.
- Obrigado! – devolvi, meio tímido, pois nesse tempo todo aprendi que os homens gostavam dessa timidez, dava-lhes a sensação poder.
Eu coloquei minhas mãos sobre seus ombros e deslizei uma delas, suavemente, sobre os bíceps de um de seus braços, para que ele achasse que aquilo o tornava mais atraente como, inegavelmente, deixava mesmo. Ele agarrou-me pelas nádegas e me trouxe para junto dele, beijou minha boca lasciva e cobiçosamente, o que me surpreendeu, pois normalmente os clientes não curtiam beijos. Acariciei o caralho dele durante o beijo e ele deixou a ereção acontecer. Ao afastar-se alguns centímetros de mim, quis exibir seu membro duro, que havia distendido o tecido da sunga e permitia uma visão parcial de sua virilha pentelhuda.
- Delícia! – sussurrei, para que se sentisse o maioral e, para que pensasse que sua ferramenta me impressionava, embora fosse o tipo mais banal de rola.
- É toda sua! Está cheia de leitinho. Quero que tome tudo como um bom menino, sua bicha vadia! – grunhiu, forçando minha cabeça para o meio de suas pernas.
Lambi e chupei o pau e o saco com a destreza que a experiência havia desenvolvido. Ele fodeu minha boca, agarrando-me pelos cabelos e bufando alto feito um touro bravo. Não demorei a notar duas cabeças deliciando-se com a cena, enquanto mãos ocupadas se incumbiam de manipular os cacetes dentro das sungas. Talvez era isso que o Guilhermo pretendia, ter seus amigos como voyeurs apreciando sua habilidade de macho, pensei, para tentar entender a presença deles nesse passeio. Logo constatei que nesse quesito ele também não tinha do que se vangloriar, pois gozou tão rápido que até me assustei quando o primeiro jato atingiu meu rosto. Vendo a porra se perder, ele socou a pica na minha goela e quis me forçar a engolir seu néctar. Eu me recusei e dei um jeito de cuspir aquela gosma pegajosa. Não engolia sêmen de clientes, por mais atraentes e sedutores que fossem.
- Engole, viado! Porra de macho não pode ser desperdiçada! – rosnou.
- Eu não engulo! – respondi com firmeza
- Ah! Engole sim, estou te pagando muito bem para ser um viado muito obediente. – afirmou. Na página do señor Fajardo na Internet constavam algumas regras que os clientes deviam observar, uma delas tratava exatamente disso, o acompanhante sempre usaria camisinha e não era obrigado a ter contato íntimo com os fluidos corpóreos do cliente. Apelei para essas regras, ele nem me deu ouvidos.
Como tornei a cuspir os outros jatos, já ralos e fracos, apesar da força que ele fazia para manter a rola entalada na minha boca, ele se descontrolou.
- Desgraçado! Bicha desperdiçadora de porra! – berrou colérico. Um bofetão atingiu meu rosto com tanta força que perdi o equilíbrio e despenquei no chão. – É de vocês, façam o que quiserem com essa bicha. – disse aos amigos, antes de subir ao deque.
Os dois partiram para cima de mim como gaviões esfomeados. Fui dominado e forçado a satisfazê-los, sob a ameaça de apanhar outra vez. Os meus temores se materializaram. Sem ter para onde fugir, a menos que me atirasse ao mar, fui estuprado seguidamente pelos oito durante os dois dias. Meu corpo estava tão entorpecido depois da primeira rodada de picas no cu, entre as quais cheguei a desmaiar pela violência com que me foderam, que eu mal saberia dizer onde me encontrava. Quando a lucidez voltava, como curtos intervalos comerciais no meio de um filme, sentia que colocavam bebidas alcoólicas na minha boca, as quais não estava acostumado. O céu estava escuro e coalhado de estrelas e eu nem me lembrava de como isso aconteceu, meu corpo estava entre dois rapazes, cujos músculos rijos eu podia sentir quando tentava me agarrar à alguma referência; ao longe a costa formava uma linha sinuosa onde brilhavam as luzes, a lancha oscilava parada sobre as ondas me provocando vertigens, dois caralhos estocavam simultaneamente o meu cuzinho, enquanto outro descia pela minha garganta. Eu quis gritar, embora soubesse que seria em vão, mas o que ecoou pela vastidão do mar, não foi nada além de um ganido dando a falsa impressão de que eu estava me deliciando com aquelas jebas cravadas em mim. Todo aquele mal-estar com o qual despertei na manhã seguinte, estirado nu no deque, ao lado de dois rapazes, não podia ser efeito apenas do álcool que me obrigaram a ingerir. Eu estava zonzo, mas podia jurar que também haviam me drogado, pois sem isso, seria impossível sobreviver àquela orgia. Minhas coxas tinham sangue e, a dor lancinante que me fez soltar um gemido quando tentei me levantar, deu-me a certeza de que era meu.
Minha ligação tinha deixado o señor Fajardo preocupado. Ele acabou mandando dois capangas no meu encalço, com ordens de fazer o que fosse preciso para que eu não fosse parar num pronto-socorro, ou pior, numa chefatura de polícia. Eles estavam habituados a demover clientes que haviam quebrado as regras com uma lição que levariam por toda a vida, se ela ainda existisse. No entanto, eles nada puderam fazer depois das quase quatro horas de viagem de carro, pois a lancha ainda estava em mar aberto, e as mensagens de rádio enviadas pela chefia da marina não obtiveram sua localização exata, apenas um aceno de que tudo estava em ordem. No entardecer do domingo, uma mensagem via rádio à marina, deu conta de informar que um passageiro da lancha estava na praia de La Devesa, à espera de uma carona. De início, o chefe da marina pensou tratar-se de um trote mas, convencido do contrário, indicou o local aos dois homens que desde o dia anterior vinham buscar notícias do paradeiro dos ocupantes. Eu havia sido deixado nu e drogado entre a vegetação rasteira das dunas. Ao me tocarem para me levar até o carro, comecei a me debater e gritar o quanto pude, pensando que ia começar mais uma rodada de cacetes perfurando meus orifícios. Os dois capangas me contiveram e, apenas quando os reconheci, desmaiei em seus braços. Fui levado a Madri, inconsciente, por quase todo o percurso, ou pela exaustão, ou pelo efeito das drogas. Através de seus contatos, o señor Fajardo conseguiu que eu fosse atendido num hospital afastado, sob um nome falso, onde me reconstruíram os esfíncteres anais dilacerados. Penei por uma semana me recuperando na solidão da minha quitinete, somente interrompida pelas breves visitas do Mickael, da Larissa e da Karina e, alimentando um ódio contra o señor Fajardo que só se abrandava com a visão de seu corpo inerte sendo levado à sepultura. Desde então, eu via na vingança a única forma de voltar a encontrar paz.