O ônibus sacolejou durante quinze horas até chegar a Montes Claros, fedendo a suor quente e diesel. Eu bem que teria gostado que a viagem terminasse ali para mim também, como para a maioria dos passageiros que desceram amarrotados. Mas, eu ainda teria que encarar mais duas horas e meia, no mínimo, para chegar ao meu destino. No guichê da rodoviária fui informado que os dois ônibus seguintes já estavam lotados. Consolei-me com o terceiro e uma espera de mais quatro horas antes do embarque. Para espairecer e não sentir as horas passando, fui até a calçada em frente à rodoviária. Inicialmente pensei em dar uma volta pelos arredores, mas estava exausto demais para isso e, um céu carregado de nuvens cinza-chumbo anunciava uma chuva se aproximando. Na rotatória que ladeia a rodoviária entrou um caminhão, o motorista desacelerou assim que me viu caminhando a esmo, acionou uma buzina escandalosa por duas vezes e reduziu ainda mais. Olhei à minha volta para ver se havia uma garota por perto, pois aquela era uma atitude típica de cafajestes. Não havia ninguém. Fiquei puto. Não levou nem cinco minutos e o caminhão entrou novamente na rotatória, na mesma lentidão e com o mesmo buzinaço escroto. A única diferença, é que desta vez o motorista, um sujeito na casa dos vinte e poucos anos, sem camisa, berrou na minha direção – BUNDUDO DO CARÁIO – acompanhado de um sorriso de escárnio. Lenta e bem visivelmente, ergui meu braço e estirei o dedo médio com a mão fechada para o alto. O caminhão rolou uns duzentos metros adiante e estacionou. O motorista desceu, começou a caminhar na minha direção pela calçada vazia, olhei a minha volta, nenhuma alma viva à vista. Quis correr para dentro da rodoviária, pois pressenti que estava numa enrascada, mas, se o fizesse, toparia diretamente com o sujeito que vinha a passos largos. Quando estava a menos de três passos de mim, questionei-o, não para intimidá-lo, mas porque estava literalmente me cagando nas calças e a primeira coisa que me veio à mente foi isso.
- Vai me bater? É isso?
- Tá a fim de apanhar?
- A troco do que vai me bater? Porque revidei sua cafajestada!
- Já seria um bom argumento. Mas, vim mesmo conferir o tamanho dessa bunda gostosa. – afirmou, indecoroso, examinando-a dentro da calça de couro preto, o que a deixava ainda mais sedutora.
- Sai pra lá cara! Você não tem coisa melhor para fazer? Me deixe em paz. – retruquei furioso
- Até tenho! No entanto, não é todo dia que a gente se depara com um rabão enfezadinho desses. Está fazendo ponto aqui? – o olhar do atrevido brilhava.
- Cara, você é nojento! Não faço ponto em lugar algum. – respondi, olhando desesperadamente ao redor para ver se via alguém a quem pudesse pedir ajuda.
- Assustado? Não vou fazer nada contigo, se não quiser. – ousou, esboçando um risinho irônico.
- É óbvio que não quero!
- É uma pena! Tenho muitas habilidades para tratar de um rabão desses.
- Então guarde-as para quem estiver interessado. Se me deixar passar tenho um ônibus para pegar.
- Para onde está indo?
- Cara! Você é muito folgado! Não te devo satisfações.
- Se estivesse indo para Janaúba eu te daria uma carona. – engoli em seco quando ele mencionou seu destino. Ele deve notado como reagi à menção do nome da cidade.
- Não obrigado!
- Você está indo para lá, não é? Adivinhei?
- Não!
- Você está mentindo! Não está querendo aceitar minha carona, já saquei.
- Cara! Numa boa, deixe eu seguir meu caminho, por favor?
- Aceita, vai! Gostei do seu jeito, sabe se defender com classe. Posso parecer um tarado, e até sou, mas como eu disse, só se você quiser. – ele riu de sua própria fala. No mesmo instante, um ônibus com destino a Janaúba deixou a rodoviária. – Ou você acaba de perder seu ônibus, ou não havia passagens, estou certo?
- Não havia passagens! – não sei porque respondi, pois a última coisa que eu queria era dar trela para o sujeito.
- Quando é o próximo?
- Também está lotado, só vou no seguinte, às 13:45. – desgraçado, sabia ser persuasivo, e eu, um idiota que nunca aprendia a lição.
- Prefere ficar esperando por quatro horas a vir comigo? Tô fodido, minhas cantadas vão me deixar na secura. – ele riu novamente. Por pouco não esboço um risinho tímido, achando graça da expressão e da maneira como falou.
- Te agradeço, mas já estou com a passagem comprada. – tentei, para ver se me livrava dele.
- Isso não é problema, vamos lá dentro e cancelamos a compra. – esses verbos, conjugados na primeira pessoa do plural do presente do indicativo, eram de uma intimidade escrachada. Sem me dar chance de esboçar uma resposta, ele me pegou pelo braço e me acompanhou até os guichês.
Àquela altura, eu já sabia o que tinha paralisado meu cérebro, aquele tronco musculoso despudoradamente nu e, o volume avantajado debaixo do jeans apertado, que ele mesmo estava tendo dificuldade de disfarçar enquanto admirava minha silhueta encostada ao guichê.
Não foi à toa, nem uma gentileza, o fato de ele abrir a porta do caminhão e me ajudar a subir minha bagagem. Foi tão somente mais uma chance de apreciar aquelas nádegas roliças de um ângulo mais favorável, aliada à oportunidade de colocar as mãos nelas, a título de me ajudar a subir na boleia. Ao colocar o caminhão em movimento, ele deu uma ajeitada no saco, uma vez que todo aquele equipamento estava ainda mais confinado. Foram as mais longas duas e meia horas que passei. Tadeu, depois das apresentações, não se cansou de tentar uma trepada na boleia. Alguns argumentos conseguiram me fazer rir, o que para ele, parecia ser uma questão de tempo para eu cair na lábia dele. Em outros tempos, quando não via a hora de dar o cu para o Viny, eu não teria hesitado um segundo sequer diante aquele tesão de macho. Contudo, muita água havia rolado por baixo da ponte, e meu cuzinho estava mais seletivo do que nunca.
Ao entrarmos na cidade, ele pediu que eu indicasse onde queria ficar, mencionei o nome da rua, ele riu.
- Falei alguma coisa engraçada?
- Não! Não, claro que não. – mas um sorrisinho safado não saiu da cara dele até chegarmos diante da casa do meu tio.
- Valeu! Obrigado pela carona! Desculpe se fui grosseiro com você no início, mas é que você também não foi lá muito cavalheiresco. – disse, ao descer.
- Isso não sou mesmo, especialmente diante de uma bunda tesuda perdida na calçada. – sentenciou, sacana.
- Cara! Você não toma jeito! Estou muito grato pela carona, caso contrário, te mandava tomar no cu. – revidei, sincero.
- Tadeu! Não vai esquecer, Tadeu! Faço mais o tipo botar no cu, lembra disso. Tchau! Beijão molhado nessas nádegas! – exclamou rindo, antes de colocar o caminhão novamente em movimento. Movimento esse, que foi percorrido por uns trezentos metros, quando ele estacionou, desceu e, cheio de empáfia acenou na minha direção. O sacripanta era praticamente vizinho do meu tio. Rosivaldo, seu panaca, só mesmo você para entrar numa dessas.
Como era de se esperar, meu tio não ficou nem um outro contente com a minha chegada e, muito menos com aquela hospedagem sem data para terminar. Minha mãe havia se encarregado de pintar o capeta de forma mais bonita do que a mim. Ele e eu já nunca nos bicamos muito. As poucas vezes em que esteve em nossa casa em São Paulo, lembro-me de como me censurava, e até me adjetivava com palavras que até eu desconhecia, por eu ser o tipo de bicha reconhecível a quilômetros de distância. Enquanto meus meio-irmãos recebiam um tratamento afetuoso, para mim sobravam umas encaradas duras, um palavreado chulo e um escárnio declarado. Boa parte da rejeição da minha mãe havia sido plantado por ele em sua cabeça influenciável. O conselho para me levar ao pastor da igreja para curar aquela viadagem, fora ideia dele, assim como tantos outros. Às vezes, eu tinha a impressão, pela maneira como ele ficava olhando para mim, que, se ele pudesse, me mataria na base da porrada para que a irmã se visse livre da aberração que tinha parido. Por isso, desde então, eu tinha receio de ficar a sós com ele. Ao me cumprimentar secamente, sem me dar a mão, foi impressionante notar que mesmo agora, passados tantos anos e eu adulto, que esse receio ainda persistia.
Minha avó se debulhou em lágrimas assim que veio me abraçar. Eu tentei ser forte, mas não consegui, e a acompanhei. O que eu entendia por carinho foi essa mulher, de estrutura frágil e temperamento rígido, quem me ensinou. Ela sempre me amou, na infância por ser o primeiro neto, na adolescência por me aceitar como a divina providência havia estabelecido e, agora, por ser a única a sentir saudade de mim. Não fosse ela a dona da casa, talvez meu tio não tivesse permitido a minha vinda. Mas, como ele nunca foi de se empenhar em nada que lhe custasse algum esforço, aos cinquenta e tantos anos ainda dependia do teto da mãe para se abrigar, e à família, da chuva. Ele sobrevivia de um pequeno comércio de conserto de eletrodomésticos, numa portinha alugada na mesma rua onde minha avó residia. Por aí dá para ter uma ideia do esforço que esse homem está disposto a fazer para trabalhar, não mais que uma dezena de passos. A esposa, uma roceira captada num sítio da região, não tinha vida própria. Tudo se resumia aos dois filhos, que parira com grande dificuldade e que lhe custaram o útero e, as exigências descabidas do marido, que há tempos buscava o prazer em carnes alheias. Meus dois primos eram ligeiramente mais novos do que os meus dois meio-irmãos. Para desespero futuro do meu tio e flagelo para o mais velho, no período que passei com eles, notei que os primeiros sinais de uma bicha em gestação estavam começando. De que a culpa, quando isso fosse desabrochar, iria recair sobre mim, eu não tinha a menor dúvida. O período que estava por passar com eles, seria a razão alegada para o moleque ter se perdido na viadagem.
Inicialmente, fui trabalhar com o meu tio, embora não entendesse nada de conserto de eletrodomésticos, por que faltava quem ficasse na loja quando ele precisava atender um chamado na casa de um cliente, bem como para não deixar atrasar a entrega dos aparelhos que estavam no conserto. Confesso que aprender a lidar com o que se escondia no ventre daqueles aparelhos não foi tão difícil quanto imaginei. Tanto a agilidade na entrega dos aparelhos consertados, quanto o fato dos clientes se depararem com alguém menos carrancudo que meu tio, rapidamente aumentaram o movimento da loja. Não ter procurado um emprego num salão de beleza, única coisa que eu sabia fazer, além de dar um trato aos machos, acabou se mostrando providencial, pois eu ganhava mais e não ficava sujeito ao deboche. Muito embora, não tivesse demorado a perceber que alguns clientes entravam na loja tão somente para ter algum tipo de contato comigo, talvez querendo abrir caminho para atitudes mais impudicas.
- Bom dia, dona Laura! Como vai o neto? Já se adaptou à cidade? Soube que até morou na Europa, será que vai se acostumar a viver aqui. – a voz que interpelava minha avó no jardim entre suas roseiras e dálias, me era perturbadoramente conhecida.
- Dia, Tadeu! – Vai tão bem que está trabalhando com o tio. É um menino de ouro. – devolveu minha avó, naquele seu jeitinho simples de enaltecer a família.
- Diga a ele que estou esperando uma visita dele. – atreveu-se o biltre.
- Você o conhece? Não sabia.
- Veio de carona comigo de Montes Claros, pois não tinha encontrado passagem. – forjou, omitindo parcialmente a verdade e os fatos sórdidos.
- Agradecida! Vou leva-lo até lá, assim aproveito e faço uma visita para a sua mãe. – devolveu minha avó, na inocência.
Esse cara vai conseguir me enrabar, já pressinto isso, pensei comigo mesmo, ao ouvir aquela conversa pela janela aberta do meu quarto. Ele está rondando, me cercando, até conseguir dar o bote, no momento, só está testando o quanto a carne é fraca. Ri sozinho. Machos sabem ser criativos quando se trata de satisfazer seus instintos primitivos, ele não era exceção e, tinha seu charme ao fazê-lo.
A nova investida aconteceu alguns dias depois, quando minha avó foi cumprir a promessa que lhe havia feito, ao ir visitar sua mãe. Alguns subterfúgios haviam retardado essa visita, mas, por fim, minha avó conseguiu me arrastar para aquela visita. As duas eram vizinhas e amigas de longa data, por isso a insistência em me apresentar como o neto lindo que até já havia morado na Europa. Questão irrelevante que, contudo, ainda fazia boa impressão em cidadezinhas como aquela.
- É bonito mesmo! Até parece um daqueles artistas da televisão. – afirmou a mãe do Tadeu, ao me cumprimentar, passando a mão em meu rosto daquele modo bonachão de gente simples. O Tadeu surgiu imediatamente após ouvir a voz da minha avó, chegando a tempo de ouvir a observação da mãe e me flagrar naquela situação. O mesmo risinho sarcástico que esboçou quando me assediou em frente da rodoviária surgiu naquela cara deslavada.
As duas logo entabularam uma conversa como se há séculos não se vissem. O Tadeu usava apenas um short e não perdeu tempo em se insinuar, achando que estava providencialmente trajado para isso, uma vez que a peça não escondia que estava sem cueca, uma vez que a jeba pendia visível, descarada e impudicamente ao lado da perna esquerda. Um novo risinho se formou no entorno da sua boca quando percebeu que eu notara a dimensão de seu falo.
- Fica mais atraente quando molhado! – exclamou. Num primeiro momento não atinei com a observação, até ele levar a mão à rola e a coçar dentro do short.
- Sorte de quem gosta. Para mim não faz diferença alguma. – desdenhei. O primeiro passo para ele ter certeza de que eu estava interessado. Novo risinho.
- Quem desdenha quer comprar! – exclamou.
- Chavão no qual nem todos acreditam. – devolvi. Ele já tinha conseguido o que queria, me instigar a responder cada uma de suas investidas. O jogo de gato e rato comigo o excitava.
- Ou fingem não acreditar, só para valorizar a negociação. – eu tinha que admitir, ele era sedutor e parecia ter uma resposta para cada um dos foras que levava.
- Mais uma vez, não se aplica a mim.
- Sua avó disse que você morou na Espanha, o que fazia por lá? – perguntou curioso.
- Dava o cu! – respondi de supetão, para ver se isso o desestimularia a continuar investindo.
- Deve ter deixado uma legião de felizardos só na punheta. – devolveu, sem perder o interesse e, se não me enganava, mais aguçado.
- Não creio! Nesse ramo, o que não falta é mão-de-obra. Vai um, vem dezenas.
- Uma pena eu não ter conhecido essa mão-de-obra antes.
- E, pelo que me consta, continuará a lamentar a posteriori.
- Disso já não tenho tanta certeza! – outra escandalosa coçada no saco serviu de isca.
- Não existem puteiros nessa cidade? Você está precisando urgentemente de um. Não tem outro assunto que não essa sua tara malsatisfeita? – questionei, pois aquela pressão sobre mim, já estava me deixando aborrecido.
- É o que não falta! Nem precisa procurar muito, pois o que tem de putinha andando por aí não é brincadeira. Mas, meu interesse não é exclusivamente esse. Sou bem eclético quanto aos meus gostos.
- Cara! Você é um mala! Vou ser bem objetivo, desse mato não sai coelho. – ele conseguiu chegar onde pretendia, me irritar. Agora, era inverter o jogo, e se fazer de bonzinho.
- Tenho uma mala! É bem diferente! E sei que você já se ligou nela. Mas, não vou ficar te chateando. Não quero você bravo comigo, justo pelo contrário. – a voz tinha ganho um tom meloso, vitimado, excelente para desarmar o oponente. Tremendamente eficaz.
- Tá, então muda de assunto.
- Você já conhece a região em volta da cidade? – eu sabia onde essa nova conversa ia dar, mas ele foi sensível o suficiente para atender ao meu pedido.
- Não. Quase não saio de casa, só para o trabalho e para algumas entregas. – respondi.
- Aceita dar um passeio comigo até o Bico das Pedras? Conhece? É uma represa que margeia a Serra do Espinhaço, tem uns lugares incríveis. Gostaria de te levar para conhecer. – melosinho, querendo aparentar indiferença e tentando esconder suas reais intenções, haveria de funcionar dizia sua cara, onde a boca sensual me fazia sentir arrepios, justamente onde eu não os deveria sentir.
- Sim, podemos marcar um dia desses. – minha resposta tão desinteressada, tão corriqueira como se estivesse respondendo ao oferecimento de alguma guloseima eram sinais de que ele estava a um passo de se dar bem.
- Um dia desses?
- É
- No sábado à tarde, duas horas, passo na casa da sua avó! Não se esqueça de levar uma sunga e toalha, vou te levar numa prainha que você vai adorar. – a coisa já estava arquitetada, talvez desde o dia da carona.
- Tá, eu topo! – se não fosse dar tanto na vista, ele teria serrado o punho, dado um salto e um soco no ar, celebrando a vitória.
O lugar era realmente deslumbrante! Água límpida que permitia ver os pés no fundo, areia branquinha e fina, o entorno cercado por colinas baixas cobertas de relva, pequenas ilhas que afloravam na superfície lembrando que eram o topo de colinas inundadas pelas águas quando da construção da barragem. Havia pouca gente, apesar do calor e do sol convidativo. Um vento contínuo tombava a vegetação das margens numa única direção, como se fossem fiéis orando ajoelhados e inclinados. O Tadeu não tirou o short que vestia quando entrou na água. Eu hesitei ante aquele olhar fixo e cobiçoso que só esperava o momento de me ver arriando a bermuda, para contemplar a sunga cavada que deixava mais de meia nádega exposta. Ele tinha razão, o short molhado marcava o tamanho privilegiado daquela rola, que tinha o poder de incendiar a gente por dentro. Brincamos de perseguição na água rasa e morna, pretexto para ele me tocar e me fazer sentir seus músculos vigorosos. Funcionou para ambos. Ele logo teve uma ereção, e eu sentia o cu piscando alucinadamente. Ele nadava no meu encalço avançando sobre mim e me agarrando, me encoxava despudoradamente até outras pessoas se aproximarem o suficiente para forçá-lo a se controlar, quando então, pegava na minha mão e ficávamos boiando numa inocência disfarçada. Precisou se segurar poucas vezes, pois as pessoas estavam tão dispersas e distantes que esses momentos foram raros. Numa das retomadas, depois de conferir se estávamos a salvo de olhares indiscretos, ele arriou minha sunga e me encoxou com a pica à meia-bomba fora do short. A verga, deliciosamente grossa e reta, boiava sobre a água, enquanto seus pentelhos se moviam como que penteados pela água em movimento.
- Gostou? – perguntou, orgulhoso
- Muito! – balbuciei, naquela falsa timidez infalível, capaz de deixar os homens ensandecidos.
- Pode ser toda sua, se você quiser. – declarou, certo de que teria seu desejo atendido.
- Tá maluco! Se alguém nos vir estamos ferrados, vamos ser presos por atentado ao pudor. – argumentei, para disfarçar minha vontade de cair de boca naquela rola cabeçuda.
- Nessa distância ninguém nem vai se tocar. Você já trepou dentro d’água? Estou morrendo de tesão de te enrabar todo molhadinho. – sussurrou na minha nuca, de onde partiu um arrepio ligeiro como um raio em direção ao meu cuzinho.
- Não, nunca! – respondi, e era verdade. Uma bicha puta que nunca trepou dentro d’água em anos de profissão, há sempre uma primeira vez para tudo, pensei comigo mesmo. E, porque não? O risco de ser flagrado tornava o proposta ainda mais excitante.
- Vou ser o primeiro? – sussurrou, ainda mais excitado, esfregando a pica ao longo do meu rego.
- Vai. – deixei escapar um gemido lascivo, enquanto empinava a bunda contra sua virilha.
O vento carregou meu gritinho quando a cabeçona distendeu meus esfíncteres e entrou no meu cu. Ele soltou o ar por entre os dentes e mordeu meu cangote. Moveu a pelve e enterrou o cacete na minha carne quente e receptiva. Precisei colocar as mãos sobre as coxas dele para tentar contê-lo, pois a estocada foi bem dolorosa.
- Dói! – gemi. A sequela da estenose nunca mais me permitiu manter um intercurso sem dor, a menos que pinto do cara fosse pequeno, o que afortunadamente englobava a maioria dos homens que se valeu dos meus serviços, por constituir a maior porcentagem deles. No entanto, o Tadeu estava longe de se enquadrar nessa categoria, e meu lamento não era apenas um fingimento para me fazer de pudico, mas de expressar o que realmente sentia.
- Faz parte. – murmurou ele, junto ao meu ouvido. – Tesão de bunda do caralho! – emendou, antes de dar outra estocada.
Se alguém desconfiou do que estávamos fazendo, resolveu não nos molestar. Sem a ameaça de um flagrante, o Tadeu me fodeu variada e lentamente, procurando extrair daquele coito o máximo de prazer possível. Com a água na altura das nádegas, as pernas ligeiramente abertas para conseguir apoio e, o rabo empinado eu me entregava feito uma cadela de rua, habituada a ser coberta a cada novo cio. O caralhão mantinha aquele vaivém cadenciado, entrando e saindo do meu cuzinho apertado, e trespassando meu corpo de espasmos de prazer. Quando gozei, a porra coagulou em contato com a água, e grumos esbranquiçados foram carregados pelas marolinhas que o vento produzia na superfície da água. O mesmo aconteceu com o excesso de porra do Tadeu que escorreu do meu cuzinho quando ele terminou de me galar com seu néctar quente e viscoso.
- Não é de admirar que tenham pago para foder essa bunda! Eu não hesitaria em fazer o mesmo, só para sentir esse cuzinho mastigando minha pica. – afirmou, depois de tirar o caralho das minhas entranhas.
- Viu como você é sortudo? Aquelas suas cantadas baratas conseguiram tudo de graça. – devolvi.
- Eu soube que você ia dar o cuzinho para mim no momento em que me mostrou aquele dedo em riste diante da rodoviária. – sentenciou ele, com um risinho malicioso.
- Convencido!
- Convencido, não! Confiante! Confio no meu taco. Bastou você pôr o olho nele para ficar doidinho para colocar ele aqui dentro. – exclamou, passando a mão na minha bunda numa libertinagem explícita. O pior, é que ele estava coberto de razão.
Ao entardecer, com as margens do lago sem viva alma à vista, apenas nós dois sentados tão próximos que nossos ombros se tocavam, ele me disse que queria passar a noite comigo, que eu tinha que provar seu esperma. Dizia isso através de frases atrevidas e safadas que soltava entre a conversa gostosa, falando de nossas vidas, expectativas e fatos do passado que rolava num tom mais sério. Ora eu o beliscava, ora dava-lhe um soco sem convicção nas coxas musculosas e peludas, em sinal de protesto por essas afrontas. Ele apenas ria, se esquivava dos socos e soltava um – AI – antes de massagear o local dos beliscões. Depois me agarrava e apertava meu tronco contra a areia fofa e ainda quente, sequestrando minha boca para beijos vorazes carregados de volúpia, até me fazer perder o fôlego.
- Tu é uma bichinha muito da gostosa! Você me deixa maluco, safado! – rosnava, enquanto mordia meus peitinhos.
Eu sabia que não seria uma boa ideia passar a noite com ele quando saímos a procura de uma das inúmeras pousadas que havia na região. Não tinha dito nada em casa de que passaria a noite fora, e a certeira preocupação da minha avó, colocaria a família em polvorosa, municiando meu tio com argumentos para me massacrar. O Tadeu me venceu pelo cansaço, garantiu que teria uma história convincente na ponta da língua para justificar a noite fora de casa. O torso maçudo, aquele rosto másculo e a rola intrépida já tinham mais poder sobre as minhas decisões do que minha razão. Escolhemos o mais distante dos chalés de uma pousada que margeava o lago. Ficamos enrolados na rede da varanda apreciando a noite silenciosa e quente. As mãos estavam atarefadas em deslizar sobre nossos corpos nus, explorando curvas, texturas e anatomias. Falávamos pouco, deixando o imaginário encher nossas mentes de indecências, que íamos pondo em prática quando o tesão o determinava. Foi assim que ele uma hora colocou as pernas abertas para fora da rede, o cacetão pesado caído sobre o sacão providencialmente exposto, seu olhar fogoso me intimidando, eram mais do que um convite a colocar aquele membro na boca e saborear aquele macho até ensandecê-lo. Minha mão deslizou sobre sua coxa, entrando devagarinho na virilha, enquanto meu sorriso pecaminoso arrancava outro dele. Ele chegou a inspirar fundo, como se fosse precisar de todo o ar para enfrentar aquele embate. Soltou-o prontamente ao sentir meus dedos roçando delicadamente a cabeçona da rola. Ela estava molhada e seu cheiro almiscarado me atraiu. Os lábios se fecharam, úmidos e quentes ao redor dela, e eu sorvi aquele sumo aquoso. Ele grunhiu, pronunciando uma única palavra – caralho. A carne flácida e pesada foi enrijecendo na minha boca, empinando aquela haste e fazendo o intrincado desenho de veias que o circundavam ficar nitidamente delineado. O sumo brotava com mais abundância, eu o sorvia, ele não perdia aquela boca gulosa de vista. A ponta da minha língua tentava seguir o desenho daquelas veias por onde fluía o sangue quente, e mantinha a tora tão dura quanto pedra; seguindo decidida e lentamente em direção àqueles testículos imensos. Minha língua trabalhava habilidosamente sobre aquele sacão, lambendo-o e fazendo as bolas deslizarem dentro dele.
- Tesão da porra! Você vai acabar me matando desse jeito. – grunhiu ele, enquanto me agarrava pelos cabelos.
Percorri o caminho inverso, em direção à glande, com os mais lentos e torturantes movimentos que as mordiscadas suaves permitiam. Ele se agitava na rede, tentando sublimar o tesão que levava num caminho sem volta em direção ao gozo. Eu o impedi, segurando a rola latejante com as duas mãos e chupando a cabeçona num vaivém curto. Ele estremeceu, o primeiro jato foi direto para a minha garganta, temendo me engasgar, criei espaço para que os demais eclodissem na minha boca, enquanto eu os deglutia com o olhar fixo em seu rosto extasiado.
- Puta que pariu! Tu tava doido para tomar esse leitinho, não estava? Agora toma, sua safada! Toma o leitinho do teu macho! – resmungava ele, despejando seu esperma quente na minha boca.
- Acha que é só você que consegue botar lenha na fogueira? – inquiri, encarando sua expressão de total delírio, quando terminei a engolir sua última gota de porra.
- Juro que vou te deixar todo assadinho. Brincou com fogo, vai-se queimar. – ironizou.
- Valeu cada gota! – sussurrei no ouvido dele. No mesmo instante ele me girou até eu ficar de bruços sobre a rede com as pernas pendendo de cada lado e meteu o cacetão em mim. Meus ganidos eram respondidos pelos piados de uma coruja vigilante pousada no galho de uma árvore próxima, única espectadora daquele bacanal a dois.
Desde aquele final de semana não nos desgrudamos mais, éramos como sombras um do outro. Eu pensei ter reencontrado uma razão para viver, arrisquei minha felicidade naquela relação, achando que estava tendo outra chance de ter um macho que pudesse chamar de meu.
Ninguém viu com bons olhos aquele estreitamento de relações com o Tadeu, nem mesmo minha avó.
- Por que vó, ele não é filho da sua velha amiga? – perguntei, na única vez em que ela expressou seu descontentamento.
- Esse Tadeu não puxou nada da mãe! Contam um monte de histórias sobre ele, e eu preferiria que você não se metesse com ele. – respondeu ela.
- Que histórias vó? Você está me assustando, até parece que ele é um bandido. – retruquei.
- Ninguém nunca provou nada do que falam sobre ele, mas não quero que você arrisque.
- Deve ser gente invejosa! Sempre tem alguém tentando derrubar quem está se dando bem. – argumentei.
- É bem provável! A mãe é uma santa, não tenho isso aqui para falar dela. Já o marido e os filhos, não sei não.
Como ela não se abriu, nem levou adiante as fofocas, resolvi não dar atenção às maledicências, mesmo porque começava a me apaixonar pelo Tadeu. Meu tio foi menos sutil.
- Você devia ter vergonha nessa cara! Expõe toda família ao ridículo. Aqui não é como em São Paulo, onde ninguém se conhece e as tuas sem-vergonhices não afetam ninguém. Devia ter cuidado com esse sujeito, antes de ficar queimando a rosquinha na pica dele. – sentenciou, chulo e mordaz, num dia em que o Tadeu passou pela loja para um papo curto.
- Minha amizade com ele não é da sua conta! – respondi.
- É, quando atinge a minha mulher e os meus filhos! E isso que você chama de amizade não passa de uma putaria descarada. Todos nós sabemos muito bem até onde vai a sua viadagem, nem o marido da sua mãe você deixou escapar. – despejou rancoroso.
- Só eu tive culpa nisso, o João é só uma vítima inocente, não é isso? Só que foi ele quem correu com o cacete de fora atrás de mim, isso ninguém vê. – revidei.
- E você não perdeu tempo, tratou logo de enfiá-lo no rabo! Se eu fosse sua mãe tinha te matado de porrada, já que nem o pastor conseguiu curar sua safadeza. – devolveu.
- Pois eu quero que você e sua opinião se fodam! Vai contar para o seu pastor as bucetas que anda frequentando nas costas da sua mulher, seu pervertido de merda! – ele perdeu o controle por eu saber de seus deslizes e atirou o alicate que estava em suas mãos na minha direção. Esquivei-me para não ter uma cicatriz no rosto. Depois disso, ruminava seu ódio pelos cantos temendo que uma palavra minha pudesse cair nos ouvidos da mulher.
De qualquer forma, achei prudente investigar qual era a ocupação do Tadeu. Algumas perguntas aqui, outras acolá, foram matando minha curiosidade. As respostas podiam não justificar plenamente a boa situação que a família da amiga da minha avó tinha, mas também não se podia dizer que a loja de autopeças que o pai do Tadeu tinha no centro da cidade, nem que seus fretes como caminhoneiro autônomo e a revenda de produtos de informática não os tivessem colocado nessa situação. Até a ele próprio eu perguntei sobre seu trabalho. Ele respondeu sem pestanejar, o que me deixou tranquilo até para entender que a situação tinha melhorado bastante depois que passou a exportar produtos de informática para países africanos.
- Por que as empresas não exportam elas mesmas diretamente para lá? – quis saber.
- É que nem sempre a origem dos produtos é totalmente legal. – eu mal acreditei que ele estivesse se expondo dessa maneira.
-Como assim? É contrabando?
- Não dá para chamar assim, além disso, isso é crime. É que eu adquiro os produtos nos Estados Unidos, por isso viajo para lá de tempos em tempos, e eles entram pelo Paraguai, pagando menos impostos. – declarou. Era nesse – menos impostos – que se abria uma lacuna na verdade, mas eu não tinha instinto investigativo e nem pretendia ser um moralista. Além disso, me interessavam mais os seus culhões produtores do melhor sêmen que já provei, do que os negócios que não me diziam respeito.
Um dia fui surpreendido com o pedido para morarmos juntos. Ele fez o pedido no dia em que regressou de uma viagem louco para me enrabar, mas que se frustrou porque havia visitas em sua casa. Eu estava novamente flutuando nas nuvens. Só de pensar em voltar a repartir o mesmo teto com um macho me deixou alucinado. Eu já andava mesmo cheio daquelas tiradas constantes, sarcásticas e preconceituosas que meu tio não perdia a chance de lançar na minha cara e, que se intensificavam quando ele tomava umas cachaças, quando então nem os freios impostos pela minha avó tinham o poder de segurá-las. Por isso, resolvi aceitar a proposta do Tadeu. Encontramos uma casinha não muito distante de onde estávamos, ele me instigou a fazer uma pequena reforma para que ficasse como eu queria. Tudo caminhava como se um céu azul houvesse se aberto e eu deixei me levar por esse sonho. Até uma viagem para comemorar nossa futura casa e nossa futura vida juntos estava nos planos dele. Dediquei cada minuto da minha vida a cobrir aquele macho de carinho e satisfazer seus desejos, realizando meu sonho de ser sua fêmea, pois esse era meu instinto natural.
Ele acenou com duas semanas nos Estados Unidos antes de oficializarmos nossa união. Uma sensação de dèjá vu se materializou em mim. Os dias mais maravilhosos da minha vida, aquele país e o Carlão tinham sido o mais próximo da felicidade que já cheguei. E, pelo visto, algo semelhante estava para acontecer. Eu não cabia em mim de tanta felicidade.
Por orientação dele, deixei minha mala pronta na casa de seus pais, isso manteria meu tio longe de nossos planos, alegou o Tadeu. No que eu estava de pleno acordo, pois em ele sabendo dessa viagem, logo teria mais assunto para me difamar. À minha avó disse que apenas acompanharia o Tadeu numa de suas costumeiras viagens. Ela não ficou feliz, como eu já esperava, mas conformou-se me desejando dias alegres. Viajamos de caminhão à São Paulo, onde ele havia combinado de deixar um amigo fazer alguns fretes quanto estivéssemos fora. Foi no minúsculo apartamento, um verdadeiro pardieiro, desse amigo que pernoitamos antes de embarcar no dia seguinte. Apesar do amigo estar na cama ao lado, do cômodo abafado e malcheiroso, o Tadeu não tirava a pica do meu cu, me fodendo a noite toda para saciar aquela tara incomum. Era impossível não gemer com aquele mastro entalado no cu, e eu não conseguia compreender aquela necessidade de me expor diante do amigo, que me ouvia servindo meu macho no maior constrangimento.
Seguimos até o aeroporto num carro de aplicativo. Meu cuzinho estava encharcado e dolorido quando no banco de trás, o Tadeu me beijava sem se importar com os olhares do motorista pelo espelho retrovisor. Apesar do rabo machucado, eu ardia de tanto tesão. Havíamos feito o check-in pela internet, isto é, o Tadeu se encarregou dessa tarefa. Nos bastou despachar as malas no balcão da companhia. O Tadeu despachou as malas e seguimos na direção da sala de embarque, quando alegou que precisava mijar e foi em busca de um banheiro. Os portões foram abertos e os passageiros começaram a embarcar. Eu angustiado, olhava na direção que ele havia tomado esperando seu retorno. A funcionária da companhia me abordou quando faltava meia dúzia de pessoas para entregar as passagens.
- Meu amigo foi até o banheiro e até agora não voltou, deve ter acontecido alguma coisa, não posso embarcar sem ele. – expliquei à funcionária.
- Temos que fechar os portões, se ele não aparecer, lamento, mas perderão a viagem. – disse ela.
Mal ela havia terminado a frase, outra funcionária da companhia aérea, que estava ao telefone, a abordou, cochichando algo em seu ouvido. Eu estava tão agitado que mal percebi a aproximação de dois agentes da polícia federal que me abordaram.
- Queira nos acompanhar, senhor. – disse um deles, hesitando antes de pronunciar a palavra senhor.
- Posso saber do que se trata, estou esperando o regresso de um amigo para embarcarmos. – retruquei.
- Isso fica para depois, no momento o senhor precisa nos acompanhar. – a voz irritada me intimidou e eu o segui. Fui parar numa sala da polícia dentro do aeroporto. Para minha surpresa, reconheci nossas duas malas sobre o balcão.
- Essas malas são suas? – perguntou o agente.
- Sim. Quer dizer, uma é minha a outra é do meu na..... amigo. – respondi.
- Onde está o seu amigo? Estranho, por que ambas estão com o seu nome e aqui está uma cópia do recibo de pagamento pelo excesso de bagagem.
- Ele foi ao banheiro e não voltou. Como assim? Eu não paguei nenhum excesso de bagagem, e a minha mala está dentro dos limites. – afirmei.
- O senhor poderia abrir as malas, por obséquio? – o sujeito me encarou petulante.
- A minha posso, é claro, mas o do meu na....amigo, não tenho a chave. – respondi.
A chave que estava no meu bolso não abriu a mala. Os agentes me encaravam como quem sabia de muito mais coisas do que eu.
- Vamos abri-las diante do senhor, e proceder a uma revista, ok? – eu tremia só de pensar que mais uma vez podia estar metido numa enrascada sem tamanho.
As malas foram abertas. Não continham uma única peça das minhas roupas, no lugar delas, pacotes no formato de um tijolo, envoltos em fita adesiva, permeados por uma manta de plástico-bolha. Tanto os agentes quando eu olhávamos perplexos para a quantidade de pacotes.
- Essas malas não são minhas! Não tem nada meu aí dentro. – apressei-me a afirmar.
- É o que todos sempre dizem! – disse um dos agentes, sorrindo por poder mostrar serviço.
- Mas é verdade! Eu mesmo fiz a minha mala, onde estão as minhas roupas? – eu questionava incrédulo a minha inteligência.
- Estas identificações nas malas, colocadas pela companhia aérea, não conferem com os tickets que o senhor tem nas mãos? – questionou irônico outro agente.
- Sim, mas .... Eu não sei como isso pode ter acontecido.
- Nós vamos verificar o conteúdo desses pacotes, o senhor pode nos dizer do que são?
- Claro que não! Eu repito, isso não é meu.
Acompanhei, atento e tremendo feito uma vara verde, um agente perfurar um dos pacotes com um canivete, extrair um pouco de uma substância branca e colocá-la num tubo de ensaio.
- Isso que está aqui dentro é um reagente, se a coloração se tornar azul em contato com a substância que o senhor está transportando, podemos afirmar que se trata de um alcaloide. – explicou o agente que, imediatamente após agitar o tubo diante dos meus olhos, me encarou como se tivesse ganho na loteria. – O senhor está preso por tráfego internacional de drogas! – exclamou, comemorando com os parceiros a apreensão.
- Eu não fiz nada! – balbuciei em pranto, ciente de que mais uma vez tinha sido usado para fins escusos.
- Isso o senhor vai explicar a um juiz! Vou lhe perguntar uma única vez, o senhor está transportando mais alguma coisa ilegal em seu corpo? – questionou o agente.
- Não. – minha voz quase não saiu.
- Vamos fazer uma revista, se o senhor estiver transportando mais alguma coisa é bom que diga agora. – eu neguei, e fui encaminhado para um equipamento de raios-X a fim de escanearem meu corpo. Apesar das imagens mostrarem que eu não transportava nada, fui levado novamente à sala de revista.
- Tire as roupas e coloque-as sobre o balcão! – havia uma satisfação mórbida embutida na ordem.
Eu me despi diante de meia dúzia de agentes, com os olhares fixos no meu corpo. Adiei o quanto pude a descida da cueca, mas logo fui achacado com uma admoestação – NÃO TEMOS O DIA TODO, TIRE TUDO – que não me deixou opção. O mais incisivo e bruto dos agentes começou a calçar um par de luvas de borracha azuis, minha intuição já sabia no que isso ia resultar.
- Debruce sobre a mesa e abra as pernas! – mal a ordem havia chegado aos meus ouvidos, e aquela mão veio parar entre as bandas da minha bunda, eu me retraí momentaneamente, e um dedo entrou obstinadamente no meu cuzinho lanhado pelo Tadeu. Eu contraí os esfíncteres aprisionando aquele intruso facínora que se movia em círculos lentos e calculados dentro da minha ampola retal. O dedo enluvado foi retirado depois de um tempo, sem nenhuma pressa, sob o olhar pérfido e debochado daquela plateia cínica. Saiu molhado de porra e laivos de sangue para corroborar minha natureza sexual.
- O macho fez um belo estrago aqui dentro, não foi? – perguntou o agente, ao descalçar as luvas, com um risinho sarcástico imitado pelos demais.
- Você tem direito a uma ligação. Quem deseja contatar para comunicar sua prisão? – questionou outro, ainda deleitado com a perfídia perpetrada pelo parceiro no meu cuzinho.
- Cleide? Sou eu. Acabo de ser preso no aeroporto de Guarulhos. – desabei num choro convulsivo. Ela não parava de dizer – Rosi do céu! Onde foi que você se meteu? – Não sei o que vai ser de mim agora, Cleide. Cleide, reza por mim, por favor, Cleide. – o agente se aproximou e tirou o telefone da minha mão. Desvalido, ninguém mais podia fazer algo a meu favor, nem mesmo aquela mulher que nem ao menos rezar sabia.
Os pacotes somaram cinquenta e oito quilos de cocaína pura da mais alta qualidade que, nas ruas dos Estados Unidos, alcançariam o valor de milhares de dólares. Do centro de detenção provisória fui encaminhado para um juiz alguns dias depois. Um inquérito foi aberto dando início a um processo judicial. Nenhuma informação sobre o Tadeu que eu havia dado pode ser comprovada. Um julgamento foi marcado alguns meses depois, tendo como veredicto final, uma sentença de vinte e cinco anos e oito meses de reclusão por tentativa de deixar o país de posse de grande quantidade de substâncias ilícitas e, tráfego internacional de drogas. Com isso, eu estava adicionando mais alguns adjetivos à minha pessoa. Além de homossexual, prostituto, eu agora também podia ser qualificado como traficante.
No terceiro dia, depois de adentrar ao presídio, um moreno parrudo me disputou com um negão no pátio, durante o banho de sol. Eu só fiquei sabendo que era o troféu da briga quando ele, Gabriel, veio me informar que eu era sua fêmea.
- Quando eu sair do confinamento, tu vai servir essa rola como uma boa mulherzinha. – afirmou ele, debatendo-se nas mãos de cinco carcereiros. – Se algum filho da puta tocar na minha fêmea nesse tempo, podem escrever, é um filho da puta morto. – berrou, na direção dos outros presidiários que vibraram com mais uma briga, uma distração sempre emocionante naquele lugar.
A primeira coisa que o Gabriel fez ao ser libertado do confinamento e sair da sala do diretor, onde foi aconselhado a não criar mais confusão e, ser informado que aquele incidente seria acrescido a já enorme lista por má conduta no presídio, foi ter comigo na cela. A superlotação confinava mais quatro presos conosco. Eles se afastaram para os cantos quando o Gabriel entrou e o carcereiro trancou a porta atrás dele. Aquele homem me deu medo, comecei a tremer quando ele tocou meu queixo com aquela mão que provavelmente já havia feito de tudo que não prestava. Ele me encarou e sorriu, depois encarou os demais. Cada um baixou o olhar. Dois minutos depois, eu estava deitado de bruços sobre o colchão apoiado sobre uma laje chumbada à parede que fazia papel de cama, sendo enrabado por uma jeba cavalar que não era saciada há semanas. Os outros presos assistiam à cena como se estivessem refestelados em suas casas sobre um sofá confortável, distante da realidade que passava numa tela. Minhas súplicas, meus vagidos não encontravam eco naquelas almas insensíveis. Ao terminar de encher meu cuzinho de porra, o Gabriel esperou o caralhão amolecer e o guardou nas calças, com a mesma naturalidade de quem o faz ao acabar de mijar. Soluçando, eu puxei minha calça para cima, fechei as pernas sentindo o esperma quente se esparramando nas entranhas, e permaneci cabisbaixo sentado sobre catre imundo.
Logo me acostumei aos gracejos e aos adjetivos com os quais me qualificavam. Para o Gabriel eu não passava de um depósito de porra que lhe dava status perante os demais. Servi de moeda de troca para seus interesses na prisão, sendo oferecido como uma mercadoria para outros presos se divertirem com os meus serviços, quando isso atendia a seus negócios. Eu não tinha querer, não tinha objetar, não podia afrontá-lo, o que aprendi a duras penas numa surra que ele me deu diante de todos no pátio, a título de mostrar quem é que mandava ali. Fui parar na enfermaria, com um dente quebrado e o rosto transfigurado por hematomas gigantes. Desde então, adotei a postura submissa de uma gueixa, como única maneira de continuar vivo aqui dentro.
Estou há cinco anos cumprindo minha pena. Há dois testei positivo para o HIV, legado deixado pelo meu segundo marido aqui dentro. Atualmente, estou no terceiro, Pedro, cumprindo pena por assassinato de dois PMs e assalto a carro-forte. Nesses anos, percebi que mudam os nomes, mas não muda a relação que tenho com eles. Minha única vantagem nessas relações, é ter quem cuide de mim aqui dentro. Enquanto fêmea de um desses machos alfa, nenhum outro ousa mexer comigo. E, quando, de tempos em tempos, surge algum desafiante, a briga é certa e a morte uma possibilidade. Foi o que aconteceu com o último que tentou destronar o Pedro.
Nunca penso no que será de mim no dia em que sair daqui, mesmo porque a chance de isso acontecer é remota. E, se vier a acontecer, serei um quinquagenário, uma bicha velha sem ter para onde ir, sem ter quem o aguarde do outro lado dos portões. Não vale à pena se preocupar e sofrer com isso por antecipação. Com sorte, a providência se encarregará de me guiar a um fim decente, coisa que até hoje nunca aconteceu na minha vida.
- Bem! Acho que é isso. Espero que tenha material suficiente para sua tese. E, que não esteja chocada demais com meu depoimento. – disse à Debora, ao término daquela enxurrada de fatos que o celular dela registrou.
- Sim, sim. Eu te agradeço muito por ter se disposto a me receber. Tenho certeza que não deve ter sido bom para você relembrar tudo isso. – ela estava certa. A despeito de nada mais me afetar, eu estava cansado, queria voltar para minha cela, e torcer para que o Pedro não estivesse com aquela comichão no caralho.
Fiquei olhando pelo quadrado das grades enquanto ia anoitecendo no céu sem brilho. O Pedro me perguntou se eu estava de TPM, os outros presos riram, eu não. Eu sentia como se todas as minhas chagas estivessem novamente abertas, sem, contudo, sentir a dor que elas causam. Dessa, há muito, eu era imune.