No Anoitecer - Capítulo 2 (Toquinho)

Um conto erótico de Kimi
Categoria: Homossexual
Contém 1631 palavras
Data: 23/04/2020 21:58:01

[3h33, Felipe]

Estou acordado até agora. Morrendo de cansaço, mas não consigo dormir, meu sono foi derrotado por meras palavras. A cara dele estava num tom melancólico, coisa que eu nunca tinha visto, seu rosto tinha perdido a cor rosada que eu estava acostumado a ver todos os dias. Carlos mudou. E eu sei o porquê. Só não sei o que fazer. Isso me incomoda pra cacete.

Me lembra quando éramos muito pequenos, eu era muito egoísta, Carlos era totalmente o contrário, gostava de doar, ajudar, gastar tempo pra fazer os outros felizes. Quando eu brigava com ele, ficava triste, cabisbaixo, perdia a cor. Igual o que vejo agora. Ele sentia isso porque eu era um dos poucos amigos que ele tinha, talvez sempre sentisse tristeza quando ficávamos mal um com o outro. Minha vó me ensinou os bons modos tempos depois, o famoso “você tem que cuidar de quem você ama”, mas eu era preconceituoso demais pra deixar esse tipo de ensinamento entrar na esfera das minhas amizades. Pra mim tudo foi sempre muito grosseiro, sem ter que dar carinho e atenção pra muita gente ou mostrar que eu me importo. Foi só de uns anos pra cá que eu de fato aprendi a demonstrar mais meus sentimentos pelas pessoas. Talvez esse lado tenha despertado uma certa aproximação entre nós... A verdade é que eu me importo. Eu decidi me importar com você, Carlos. Será que dá pra você parar de ficar bolado comigo?

Eduardo estava apagado feito um urso, hibernado, desligado. Talvez olhar para o seu rosto virado pra mim, com suas bochechas rosadas e um cabelo bagunçado me fizessem entrar num sono relaxante e profundo. Minhas mãos lentamente se dirigiram para sua cabeça e ele se entregou ao meu cafuné, suave e gostoso. Como eu gosto disso, sentir seu cabelo preto, liso e macio. Acariciei seu rosto, quentinho e relaxado, numa respiração quase que silenciosa, mas conseguia ouvir e sentir o quão tranquilo ele estava naquele momento. Foi impossível não conseguir dormir depois de entrar no clima de sono.

Mas não durou muito minhas horas de sono tranquilo e suave, Eduardo fez questão de me acordar logo cedo pra fazer o café da manhã. Ele estava de cueca, uma coisa insuportável aos meus olhos de manhã, porque me dá um tesão que eu não posso me render porque tem gente em casa... Que homem é esse! Fazer o que né? Lá vamos nós! Assim que eu levantei, meu celular começou a tocar, o toque era dos Beatles, esse é meu pai.

- Oi pai, bom dia – atendi com aquela voz de sono mais cansada que você pode imaginar

- Bom dia! Filho! – disse animado – Tá tudo bem? Onde você tá?

- Eu tô com o Carlos, eu te disse ontem – menti mas logo logo isso não seria mais uma desculpa – Por que?

- Uhum, é que a mãe do Carlos não o viu em casa hoje, ficou preocupada, aonde vocês estão exatamente?

- Opa! Desculpa, a gente apagou total ontem, estamos na casa de um amigo

Eduardo apareceu na porta do banheiro escovando os dentes, balançando a cabeça ironicamente, dando risada da minha maracutaia em ficar arranjando desculpas o tempo todo.

Minha voz de repente ficou risonha no telefone enquanto eu olhava pra ele e não me continha.

- Filho, por favor, manda o Carlos ir pra casa, ele já é homem velho mas a mãe dele é chata com ele, você sabe

- Eu sei pai – disse e Eduardo começou a dar risada, fez gesto me imitando ao falar no telefone, um verdadeiro bobão – Para! – sussurrei pra ele, lógico que meu pai ouviu

- O que? – perguntou

- Nada, to falando com o meu amigo aqui – respondi – Olha pai, ta tudo bem, já já ele vai pra casa, avisa a dona Cristina

- Tabom – suspirou – Filho, por favor, não arruma problema

- Okay, Lorde Sr. Comandante

- Tchau – se despediu

Desliguei o telefone e Eduardo se aproximou pra me agarrar, me beijou e me jogou na cama.

- Você é o meu mentiroso preferido! – continuou me dando cócegas e me mordendo

- Para! – rir era inevitável – Você sabe que é preciso, para!

- Lindo! – disse e saiu de cima de mim, deitou-se do meu lado – Vai logo comprar pão antes que o Carlos acorde!

- Tô indo, seu debochado!

- Não, espera aí! – ele levantou e veio até mim – Eu gosto do seu cabelo loiro

- Você diz isso toda hora

- Eu sei, mas você fica maltratando ele, todo bagunçado

Perfeccionista como sempre

- Ele não tá bagunçado!

- Está sim!

- Não tá!

- TÁ!

- Não está Eduardo Oliver!

- Ó, vou te dar um socão!

- Babaca

- Você que é! Pronto, cabelo arrumado, vai, antes que eu te aperte!

- Bobão

Ele sorriu e me deu um beijo, nada menos do que debochado esse meu namorado. Fui até o quarto do Carlos, ver se estava dormindo ainda, e adivinha só?! Estava! Eu sempre soube do sono pesado que ele tinha, não sei porque pensei que seria diferente hoje. É tão fácil a gente recuar quando está esse clima estranho, mas vai passar, certeza que vai.

A padaria do Seu Jorge estava inspirada naquele tão singular e ensolarado, tudo no condomínio me deixava embasbacado. Muitos detalhes que eu jamais esperaria ver na minha própria cidade, seria demais pedir logo pra mim casar com Eduardo só pra ter o prazer de viver aqui e olhar pra essa obra de arte todos os dias da minha vida. Bom, com certeza o seu Jorge não queria saber muito dos meus sonhos, toda hora ficava varrendo aquela padaria como se não houvesse amanhã!

Quando voltei para o apartamento, Eduardo já havia feito o café e a mesa, muito útil esse homem, rápido feito um carro de F1. Imagino como vai ser quando esse homem for minha companhia todos os dias, literalmente me abraça e me beija o tempo todo, não para nunca. Sabe o pior? Eu amo isso! Adoro receber carinho o tempo todo, não me canso, sou grudento como pessoa, gosto de tudo isso.

- Seu amigo dorme, hein – disse Eduardo

- Sim – sorri – Ele sempre dormiu mais que todo mundo que eu conheço

- Será que vai demorar muito? – perguntou – Quero ser hospitalar o bastante pra não comer antes dele acordar – disse dando risada

- Se quiser, eu o acordo

- Seria muita babaquice, amor

- Sei lá, só uma ideia

- Seu safado! – brincou – Não, vamos deixar ele dormir coitado, ele trabalhou pra caralho ontem

- Sério? – me surpreendi

- Sim, ele chegou aqui naquele horário, né? Umas 14 horas

- Sim, foi.

- Só parou às 22h, isso porque eu ajudei em algumas coisas

- Uau! Sinto muito por ter demorado tanto

- É verdade! – ele lembrou que estava puto – Aonde é que você estava? Se não me engano você saiu pra comprar apenas um chuveiro, Sr. Felipe!

- Eu sei! Mas quando eu estava saindo, adivinha quem apareceu?

- Quem?

- Meu pai!

- Mentira! Tá falando sério? Nossa que ironia do destino você, hein!

- Pois é, aí ele falou pra eu ir com ele pois a minha tia estava lá, eu fui achando que não ia demorar, bom, viu que não foi bem como eu pensava

- Nossa amor, e você deixou seu celular aqui

- Sim

- Que coisas – ele se aproximou e pegou na minha cintura – O que importa é que eu te amo – me beijou novamente e eu novamente o amei mais ainda.

Um som de tosse ecoa no lado das escadas do apartamento e eu fico vermelho. Carlos estava super envergonhado, coçando a cabeça e parado no mesmo lugar. Constrangedor.

- Opa, bom dia, não vimos você aí – disse Eduardo sorrindo, tentando disfarçar e se afastou – Venha, tem café!

- Eu não vi nada! – disse Carlos ironizando com as mãos pra trás do corpo

- Claro que não! – eu respondi no mesmo tom

- Nossa, não sabia que eu era tão bem cuidado assim – disse olhando pra mim

- Aproveite, nem o Felipe é!

- Te odeio!

Carlos deu risada.

- Sua mãe ligou pra meu pai, Cadu

- Puta merda! – ele disse – Eu esqueci de mandar mensagem pra ela

- Tá tudo bem, eu falei pro meu pai acalma-la

- Como se fosse adiantar – disse preocupado – Depois cê me leva lá?

- Claro, vamos comer e depois a gente vaza

- Okay

Eduardo e Carlos começaram a se dar muito bem, ao meu ver. Conversavam sobre tudo e qualquer coisa, pareciam ter os mesmos interesses e gostos, fica difícil acreditar que o primeiro encontro dos dois foi na pancadaria, guerra, caos! Não sentia mais tanto conflito naquela mesa, isso me deixava muito feliz. Até eu fechar a porta e sair de casa. A feição de Carlos mudou da água pro vinho. Toda minha aparente felicidade sumiu.

- Vamos – disse ele – Minha deve estar muito puta

- Hey! – eu o chamei – O que aconteceu? Você estava tão feliz lá dentro.

- Feliz? – ironizou – Porra, eu não tô feliz! Eu tô fazendo tudo o que eu posso pra tentar suportar vocês dois e não deixar o Eduardo triste por causa de mim, não estou feliz, eu só não quero deixar isso pior ou chato pra ele.

- Carlos, eu não sei o que fazer mais, sério mesmo, eu já tentei e você não deixa isso pra lá

- Não faz nada, Lipe, só seja meu amigo, só isso que eu quero – disse e foi andando pro carro, completamente decepcionado.

Foi um silêncio total durante o trajeto, ele mexia no celular pra evitar conversa e eu só não conseguia sentir uma aproximação pra tentar resolver a situação. Quando estacionei o carro, ficamos vários segundos ali, parados, sem dizer nada, mas parecia que uma bomba estava querendo explodir bem ali no nosso meio. Ele virou a cabeça bem levemente para o lado do vidro da porta e suspirou. Mas não disse nada. Abriu a porta do carro e foi embora sem olhar pra trás.

O toquinho, ele esqueceu de dar o nosso toquinho. Ele esqueceu.

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Ai, até eu estou com dó do Carlos.

Kimi

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Comentários

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Tadinho do Cadu, deve ser tenso passar por isso! Amor não correspondido principalmente de um melhor amigo deve ser horrível. Nota 10!

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Nossa agora me deu pena do Carlos

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Amar e não ser ama do triste

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Nossan, que barra deve ser pro Carlos, gostar do amigo que está com o outro e que está perdidamente apaixonado. Isso costuma estragar a amizade. Eu não queria estar na pele do Carlos e nem do Felipe, acabarem uma amizade linda e duradoura como essa. Na real, se o Carlos sente algo pelo Felipe, ele deveria falar logo, antes que seja tarde e o Felipe ter que decidir entre ele e o Edu. Os próximos capítulos devem ser “os capítulos” caras pálidas hahahah muito show mano, adorando como sempre.

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