Eu com 19 anos, descobrindo a vida na internet, aprendendo o que era e-mail, teclar e tudo mais... Meus amigos já eram mais avançados nessa área e eu nem computador tinha direito.
Me apresentaram os famosos MSN e Orkut. Ferramenta que me fazia conectar com amigos e as demais pessoas ao meu redor e até as que eram do outro lado do mundo. E não demorou muito para eu aprender e dominar tudo aquilo. Afinal, passava noite a fora conversando com amigos que já tinha e os que a internet me dara.
Um dos meus amigos, o Lucas (meu melhor amigos) me apresentou um amigo internauta, o Luciano. Luciano era 1 anos mais novo que a gente, mas tinha uma postura muito legal, sempre ciente do que queria, falava de futuro, já trabalhava numa empresa legal, seus pais eram bem mente aberta, assim como seus outros amigos mais chegados (os quais fui conhecendo ao longo do tempo).
Todas as noites a gente se encontrava on line, sempre falando sobre estudos, trabalho, amizades, namoros... coisas de adolescentes. Papos bem legais!
Sempre, depois das 22h, Luciano ligava sua webcam (não era um objeto barato na época, poucos tinham). Ele branco, nariz fino, boca bem desenhada vermelhinha, olhos esticados, olhar bem expressivo, daqueles que falam enquanto conversam... Luciano era sempre simpático ao ligar a cam e ficávamos por horas conversando... todas as noites!
Comentei com meu amigo Lucas (que já sabia que tinha meus deslizes com os caras) que Luciano era um cara legal, que sempre se apresentava com um bom papo, que sempre ficávamos por horas conversando via MSN e que perdíamos a hora rindo, trocando ideias, falando sobre facul, sobre o futuro e tudo mais... Comentei tbm que Luciano ligava a cam depois das 22h, foi quando o Lucas na mesma hora me interrompeu dizendo que somente comigo ele ligava a cam e, mesmo eles se conhecendo a mais tempo, nunca o viu ligar a cam, nem para os outros amigos que já tinham bem antes de eu aparecer...
Isso me deixou com a “pulga atrás da orelha”. Queria saber pq comigo ele ligava a cam e com os demais não fazia o mesmo, mas o medo de achar que estava me sentindo demais, falou mais alto e não perguntei nada... só curtia cada vez mais nossa conversa, nossas trocas de ideias, nossos sonhos...
Alguns meses se passaram. Frequentávamos a mesma ordem religiosa, só que em cidades diferentes. Mas combinávamos sempre de um dia nos encontrarmos para nos conhecermos de vdd.
Enfim, tivemos um encontrão de Jovens e era nossa oportunidade. O que me era estranho é que eu estava eufórico com nosso encontro, como se isso definiria todo nosso futuro. Eu mega empolgado, escolhendo a melhor roupa, melhor perfume, tênis mais da hora, parecia como se fosse um encontro de casal.
E no meio daquele encontro de jovens, já quase no final, apareceu ele, era o que morava mais longe, por isso o último a chegar. E, por incrível que pareça ele era bem diferente pessoalmente. Tinha 1,85, enquanto eu só tinha 1,70. E como só conversávamos sentados, não imaginava que ele fosse tão alto. Alto demais, branco demais, magro demais, mas muito, muito cheiroso. Ele usava um perfume da Natura “Sintonia” que combinava perfeitamente com a personalidade que eu já havia criado ao longo dos meses que a gente conversava. Seu cabelos era lindo, escovado de lado e com um leve brilho do spray capilar que ele sempre usava. Usava um camisa de malha azul da Cristal Graffiti, calça jeans escura e tênis branco da Nike. Estilo mauricinho... Estava lindo! Não conseguia parar de admirá-lo e, ao mesmo tempo, tentava disfarçar para os demais amigos presentes que estava apaixonado pelo cara que acabara de chegar! Mas o via como amigo. Amigo mesmo ou uma amizade mais forte! Sei lá!
Mas, ao contrário do que eu imaginava, ficamos muito tímidos ao nos conhecermos, as conversas não vinham, não desenvolvíamos um papo legal, sustentável e que nos prendesse como era na net... Ficávamos trocando olhares, enquanto os demais colegas lançavam outras conversas e meu coração palpitando como se eu quisesse ficar sozinho com ele. De certa forma, os olhares que Luciano me lançava parecia estar pensando o mesmo que eu. Só riamos de canto de boca um para o outro o tempo inteiro... o perfume dele tava dominando todo ambiente, eu já pensando em tudo e no que poderia rolar (sempre fui estrategista quando queria algo, lembras do meu caso com meu tio. Meu primeiro conto).
O tempo ali foi passando, já queria ir embora, queria sozinho com ele, abraçar como amigo, sentir de perto sua respiração, sentir a quentura do seu corpo, saber como seria nossos corpos juntos, mas como amigo, até então! E conseguimos! Todos foram indo e nós tbm.
Como Luciano morava em outra cidade, levava mais ou menos umas 2h pra chegar em casa e nossos pais controlavam bem nossos horários... Levei-o no ponto do seu ônibus e ficamos ali batendo papo. Ao contrário do de antes, a conversa voltou a rolar, mas bem giratória... Ficávamos falando o tempo inteiro do pq estávamos sem graça, do pq ficamos sem papo ao nos conhecermos pessoalmente, etc. O Luciano gostava de conversar olhando dentro dos olhos, falava firme, sem muito rodeio (dependendo do assunto) e esperada a resposta... e não adiantava tentar enrola-lo!
O ônibus chegou (que ódio me deu). Expressei resmungando que a chegada do ônibus me fez ficar chateado, como se teríamos oportunidade de fazer algo a mais do que só conversarmos. Ele retribuiu o sentimento de frustração com a chegada do transporte, mas o avançar das horas não nos permitíamos esperar por outro... e logo o bus anunciou a saída e com isso ele teria que ir embora.
Olhávamos profundamente dentro dos olhos, um do outro. Era como se os olhos gritassem um para o outro que não queria ir, que faltava algo nessa despedida, a respiração ofegante, os perfumes envolvidos, os olhares cada vez mais fixos, faziam meu coração bater aceleradamente e dava pra perceber o mesmo com ele. E o motorista gritou: - Saindooo! Um balde de água fria foi jogado em todo aquele clima. Ele me deu um abraço bem forte, retribui, é claro! Me olhou fixo nos olhos e disse, te espero no MSN.
Fui pra casa com a sensação conflito. Sem entender o que estava sentindo, se estava maluco, se era coisa da minha cabeça, se estava vendo algo que não existia...
Até que meu MSN tocou, aliás, ele chamou minha atenção pelo programa, a tela tremia de todo computador quando faziam isso. Era pra chamar a atenção mesmo! E começamos a conversar e questionar agora o pq estávamos tão envergonhados quando nos encontramos... A conversa foi ficando melhor...
Aí tudo começou a fazer sentido... 😉